O Processo de Bolonha em Portugal: Princípios, Práticas e Actores · 2007. 7. 25. · Educação...

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Síntese Reflexiva: O Processo de Bolonha em Portugal: Princípios, Práticas e Actores Introdução Com a frequência do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, área de especialização Pedagogia Universitária da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, e como estudante nesta instituição fui convidada a participar nas comemorações dos “30 anos da Licenciatura em Psicologia na Faculdade”. Nestas comemorações estava integrado um ciclo de conferências nos dias 11 e 12 de Junho (2007), sendo este intitulado de: “Licenciatura em Psicologia da FPCE- UC: três décadas de ensino, investigação e serviço à comunidade”. No âmbito da área do Mestrado e também da disciplina de Recursos e Tecnologia Educativa fomos convidados a assistir ao primeiro dia de conferências alusivas ao tema: “O Processo de Bolonha em Portugal: Princípios, Práticas e Actores”. Este trabalho surge assim por sugestão da professora. E tem como objectivos a reflexão sobre as conferências, analisando o processo de Bolonha, e a forma como o mesmo tem sido implementado em Portugal. Em anexo a esta síntese encontra-se o “programa das conferências”, permitindo assim uma melhor e mais fácil compreensão das reflexões que vão sendo desenvolvidas. Processo de Bolonha em Portugal O primeiro dia de conferências apresentou, dentro de um tema tão vasto, comunicações bastante divergentes, e com perspectivas diferentes de um mesmo tema: o Processo de Bolonha. No entanto todos os oradores evidenciaram a mesma ideia de fundo: esta evolução/revolução no Ensino Superior é algo de inevitável, que se deve avaliar cuidadosamente. Ana F. C. Gomes O Processo de Bolonha em Portugal: Princípios, Práticas e Actores

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Síntese Reflexiva: O Processo de Bolonha em Portugal: Princípios, Práticas e Actores

Introdução

Com a frequência do Curso de Mestrado em Ciências da Educação, área de

especialização Pedagogia Universitária da Faculdade de Psicologia e Ciências da

Educação da Universidade de Coimbra, e como estudante nesta instituição fui convidada

a participar nas comemorações dos “30 anos da Licenciatura em Psicologia na

Faculdade”. Nestas comemorações estava integrado um ciclo de conferências nos dias

11 e 12 de Junho (2007), sendo este intitulado de: “Licenciatura em Psicologia da FPCE-

UC: três décadas de ensino, investigação e serviço à comunidade”. No âmbito da área do

Mestrado e também da disciplina de Recursos e Tecnologia Educativa fomos convidados

a assistir ao primeiro dia de conferências alusivas ao tema: “O Processo de Bolonha em

Portugal: Princípios, Práticas e Actores”. Este trabalho surge assim por sugestão da

professora. E tem como objectivos a reflexão sobre as conferências, analisando o

processo de Bolonha, e a forma como o mesmo tem sido implementado em Portugal.

Em anexo a esta síntese encontra-se o “programa das conferências”, permitindo

assim uma melhor e mais fácil compreensão das reflexões que vão sendo desenvolvidas.

Processo de Bolonha em Portugal

O primeiro dia de conferências apresentou, dentro de um tema tão vasto,

comunicações bastante divergentes, e com perspectivas diferentes de um mesmo tema:

o Processo de Bolonha. No entanto todos os oradores evidenciaram a mesma ideia de

fundo: esta evolução/revolução no Ensino Superior é algo de inevitável, que se deve

avaliar cuidadosamente.

Ana F. C. Gomes

O Processo de Bolonha em Portugal: Princípios, Práticas e Actores

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As sessões iniciaram-se com a abertura oficial destas comemorações no auditório

da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, onde estiveram presentes o vice-

reitor, presidentes dos Conselhos Cientifico e Pedagógico da Faculdade, entre outras

pessoas responsáveis pela coordenação e gestão da Faculdade, e o representante dos

estudantes. Nesta abertura estiveram presentes várias entidades de outras universidades

representadas.

O vice-reitor estruturou uma linha de pensamento em que abordou questões como

as Fundações, as vantagens e desvantagens das mesmas, a autonomia e suas

implicações, e a questão da separação entre a universidade e a investigação. Finalizou

deixando a mensagem de que é necessário “flexibilizar a gestão nas universidades”.

O Prof. D. Feyo de Azevedo, apresentou uma visão já conhecida, do Processo de

Bolonha e também, a mais característica e “apetecida” dada a resistência humana

existente à mudança.

Apontou algumas mudanças e forma como se processam na Faculdade de

Engenharia da Universidade do Porto.

Abordou ainda, a questão dos graus académicos. Questão sobre a qual teorizou:

referindo essencialmente que, na comparação do sistema de graus que existe

actualmente e da forma como está acontecer a implementação do sistema de graus que

preconiza a Declaração de Bolonha, o grau académico que se irá extinguir é o de Mestre.

Pois segundo o Prof. Azevedo este será então substituído pelas especializações. E este

é um dos objectivos subjacentes na Declaração como refere Crespo (2003), em que se

pretende que o ensino superior se desdobre em apenas duas etapas o ensino graduado

e o pós-graduado.

O Prof. Azevedo fornece assim a visão da mudança no ensino superior tendo em

conta sempre o ensino cada vez mais técnico, e profissionalizante: sem deixar de

transparecer a clara ideia de competitividade. Que é a ideia mais critica e mais

negativista que surge como oposição à própria Declaração.

Ana F. C. Gomes

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Apesar desta visão apresentada o Prof. Azevedo apresenta ainda as diferenças

mais significativas na aplicação da declaração ao nosso sistema binário de Ensino

Superior.

Apresenta ainda a contextualização do surgimento da própria declaração de

Bolonha. E a evolução que se tem observado nos contextos de ensino. E também na

própria sociedade.

E apesar da visão mais negativista do Processo de Bolonha, o Prof. Azevedo

terminou a sua apresentação com algumas das vantagens que este alargamento de

fronteiras no ensino superior pode trazer a Portugal. De referir a questão da avaliação do

Ensino Superior e da “adopção de critérios de qualidade europeus”, como o próprio

realçou.

“Pedagogia da Justiça”

Na segunda comunicação, com o Prof. Cassiano Reimão, foi apresentada uma

diferente visão do Ensino Superior e do Processo de Bolonha. Uma visão um pouco mais

romancista e por vezes quase desligada da realidade, mas um visão necessária.

Reimão abordou uma série de conceitos e ideias para contextualizar uma

mudança necessária. E conceitos como: a Escola, valores, educar, e humanização.

Foram centrais na sua comunicação, desligando assim a sua apresentação das

implicações directas e reais do Processo de Bolonha, e focando em vez disso a atenção

em questões que não devem ser esquecidas e devem ser objecto de reflexões profundas

por parte de que ensina. Foram focados aspectos como os princípios da educação, a

definição de Universidade, sua missão e valores.

Além disso a sua apresentação é centrada no “papel dos estudantes no processo

de formação” e no incentivo aos docentes para questões como: a criatividade, “cultura

predadora”; o humanismo, e os conceitos de “bem pensar”, “antropologia do próximo” e

“pedagogia da justiça”. Aspectos que não devem, e não podem ser esquecidos nos

Ana F. C. Gomes

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meandros de um processo de mudança tão imponente como este. Pois a apologia da

competitividade, e do ensino cada vez mais técnico deixa lacunas nos estudantes. E não

só, também no ensino e nas instituições do ensino superior pois sobre estas recaía

também a função de como referiu o Prof. Cassiano: «formar “homens” ». Ainda neste

contexto e no seguimento de ideias é ainda apresentado um conceito que me despertou

a atenção, a ideia de: “prisão mental”. Este conceito analisando todo o contexto da

sociedade actual, as exigências da mesma e do mercado de trabalho, a quem o Processo

de Bolonha aparenta servir, é de facto o conceito que encaixa na formação que será

ministrada, se não tivermos em conta todas as dimensões e mensagens veiculadas na

comunicação.

Assim apesar de não abordar as questões práticas da implementação do

processo de Bolonha o Prof. Cassiano apresenta as questões que devem fazer parte do

ensino e que não devem ser descuradas em detrimento de questões como

compatibilidades, financiamentos, etc.

30 Anos de Psicologia em Coimbra

À tarde a primeira conferência foi da autoria de um dos professores que estiveram

na base da criação desta Faculdade: o Prof. Catedrático Nicolau Vasconcelos Costa. O

qual dissertou de forma clara e concisa como habitual sobre as questões essenciais que

se prendem com estas comemorações como: a história da formação da Faculdade e do

curso de Psicologia (iniciado em 1976) e o seu percurso e evolução até à actualidade

(implementação do Processo de Bolonha em Psicologia).

Abordou dentro desta linha de tempo vários aspectos relacionados com as

concepções de ensino-aprendizagem; a avaliação do ensino superior; o Curso de

Mestrado em Pedagogia Universitária (onde são debatidas várias destas questões), e o

Processo de Bolonha e suas implicações.

Ana F. C. Gomes

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Foi uma comunicação linear e sem grandes rodeios, objectiva e que mostrou o

caminho percorrido nestes trinta anos de Psicologia. Que este ano (2007) iniciaram uma

nova etapa, já com o curso de psicologia adaptado, e de acordo com a Declaração de

Bolonha.

A crítica do real

A segunda e última conferência da tarde adivinhava-se à priori bastante eloquente

e algo cómica. Dada a capacidade que o Prof. D. Alberto Amaral tem de caricaturar

certas situações e acontecimentos. Sendo estes, na sua maioria, relacionados com o

ensino, nomeadamente com o ensino superior. E assim foi!

Iniciou a sua apresentação com algumas definições em torno de questões

concretas relacionadas com o processo de Bolonha, como o sistema de créditos, entre

outros. E seguidamente iniciou a apresentação de uma sucessão de dados relativos à

implementação do processo de Bolonha em instituições privadas e públicas do ensino

superior, não se contendo nas ironias relativas às “elevadas expectativas que docentes e

estudantes do ensino superior privado têm em relação à implementação de Bolonha”.

Apesar de algumas destas expectativas serem algumas demasiadamente

elevadas e outras até mesmo algo surrealistas, não devemos esquecer que foi com

impasses e incapacidade do ensino público que levou a este panorama actual: esta

expansão do ensino privado, como é referido por Costa (2001). E analisando alguns dos

pressupostos e objectivos de Bolonha as instituições privadas estão já a conseguir

promover a mobilidade dado o facto de muitas delas não possuírem segundos ciclos,

criaram protocolos de cooperação com outras instituições europeias.

Mesmo assim é bem conhecida a opinião de Alberto Amaral bem como de tantos

outros académicos que têm várias reservas em relação à qualidade do ensino superior no

sector privado. Opinião também veiculada por Costa (2001). Além disso alguns relatórios

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de avaliação externa de algumas instituições do ensino privado e cooperativo

demonstraram exactamente isso, no entanto estes não foram publicados.

Conclusão

Apesar de não ter estado presente na totalidade do tempo na última conferência,

devido a avaliações de disciplinas a decorrer simultaneamente, considero ter apreendido

bastante informação do dia todo no geral. E apesar de terem sido comunicações muito

diferentes todas contribuíram para um enriquecimento de conhecimentos, e também para

criar uma esperança/crença de que:” nem tudo tem que ser obrigatoriamente mau no

Processo de Bolonha”.

Surpreendeu-me bastante o facto de os únicos estudantes presentes serem os

estudantes do Curso de Mestrado em Pedagogia Universitária, dada a relevância e a

actualidade do tema a abordado. Leva-me a pensar e questionar a preparação destes

estudantes “de hoje” para o que lhes é exigido na sociedade actual, e nesta nova etapa

que é Bolonha.

Referências Bibliográficas

→ Costa, J. Vasconcelos. (2001). A Universidade no seu Labirinto. Lisboa: Caminho.

→ Crespo, V. (2003). Ganhar Bolonha, Ganhar o Futuro: O Ensino Superior no

Espaço Europeu. Lisboa: Gradiva.

Ana F. C. Gomes

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Ana F. C. Gomes

Anexos

Anexo I – Programa das Conferências

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