O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de...
Transcript of O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE … DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da População de...
ANDERSON DE FREITAS VIETRO
O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA:
A CAPITAL NACIONAL DO BONÉ
Monografia apresentada ao Curso de
Geografia da Universidade Estadual de
Londrina, como requisito para a obtenção do
título de Bacharel em Geografia.
Orientadora: Profa. Dra. Tânia Maria Fresca
Londrina
2006
ANDERSON DE FREITAS VIETRO
O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA:
A CAPITAL NACIONAL DO BONÉ
Monografia apresentada ao Curso de
Geografia da Universidade Estadual de
Londrina, como requisito para a obtenção do
título de Bacharel em Geografia.
COMISSÃO EXAMINADORA
Dra. Tânia Maria Fresca (Orientadora – UEL)
Dra. Ideni Terezinha Antonello (UEL)
Dra. Márcia Siqueira de Carvalho (UEL)
Londrina, 08 de dezembro de 2006.
Àqueles que ousam perguntar:
Onde? Como? E por que aí?
VIETRO, Anderson de Freitas. O processo de industrialização de Apucarana: a capital nacional do boné. 2006. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina.
RESUMO Objetiva analisar o processo de industrialização do município de Apucarana entre 1970 e 2004, levantando os setores industriais existentes; explicar a concentração de determinados tipos de indústrias no referido município, analisando processos de gênese e evolução. Realizaram-se levantamentos bibliográficos, consultas a endereços eletrônicos de entidades empresariais, empresas e instituições públicas, além de entrevistas com proprietários e funcionários de empresas e representantes de entidades do setor industrial. Foram utilizados dados do Ministério do Trabalho e Emprego, dos censos industriais e demográficos do IBGE e do cadastro de empresas da Prefeitura Municipal de Apucarana. Descreve a evolução industrial do município, mediante a análise dos dados relativos à evolução da população (IBGE) e do número de estabelecimentos industriais e de empregos formais (BRASIL), destacando os setores industriais mais representativos. Explica a industrialização do município de Apucarana, inserindo-o nos contextos estadual e nacional. Discute a gênese e evolução dos quatro principais setores industriais: a confecção de artigos de vestuário, a moagem de milho e nutrição animal, o curtimento de couro e a produção de acessórios em couro e a indústria de produtos têxteis. São setores cujas origens se deram através de iniciativas locais, de pequena produção mercantil rural e urbana (artesanal) e de atividades ligadas ao comércio. São caracterizados pelo uso intensivo de mão-de-obra. Porém, são setores dinâmicos, responsáveis pela inserção de Apucarana em redes regionais, nacionais e internacionais de produção e comercialização de diversos produtos. Adjetivada de Capital Nacional do Boné, Apucarana é uma cidade especializada na produção de bonés, cuja produção corresponde a 70% da produção nacional. Palavras-chave: industrialização, Apucarana, Capital Nacional do Boné, especialização produtiva.
VIETRO, Anderson de Freitas. The industrialization process in Apucarana: the national capital of the cap. 2006. Monograph (Bachelorship in Geography) – State University of Londrina.
ABSTRACT Objectifies to analyze the industrialization process of the municipality of Apucarana between 1970 and 2004, raising the existent industrials sectors; to explain the concentration of determinates kinds of industries at the reported municipality, analyzing process of genesis and evolution. Had being done bibliographical surveys, consultations to eletronic addresses of enterprise entities, enterprises and public institutions, yonder interviews with owners and enterprise employees and representatives of entities of the industrial sector. Were utilized data from the Ministry of Labor and Employment, of the industrial census and demographical of IBGE and of the Municipal Prefecture of Apucarana’s enterprises cadastre. Describes the industrial evolution of the municipality, by means of the analysis of the data relative to the evolution of the population (IBGE) and the number of industrials establishments and the formal employments (BRASIL), detaching the more representatives industrials sectors. Explains the industrialization of the municipality of Apucarana, inserting it at the contexts of the state and national. Discuss the genesis and the evolution of the four principal industrial sectors: the confection of clothing articles, the maize milling and animal nutrition, the leather tanning and the production of accessories in leather and the industry of textiles products. These are sectors whose origins became through local initiative, of small mercantile production rural and urban (artisans) and of activities joint to the commerce. They are characterized by the use intensive of manual work. But, they are dynamical sectors, responsible by the insertion of Apucarana in regional nets, nationals and internationals of production and commercialization of several products. Qualified as National Capital of the Cap, Apucarana is a city specialized on the cap production, whose production corresponds to 70% of the national production. Key-words: industrialization, Apucarana, National Capital of the Cap, productive specialization.
LISTA DE MAPAS
Mapa 01 - Localização do Município de Apucarana - PR 13
Mapa 02 - Arranjos Produtivos Locais do Paraná 48
Mapa 03 - Arranjo Produtivo Local de Bonés de Apucarana 62
Mapa 04 - Fluxos do setor confeccionista de Apucarana 64
Mapa 05 - Fluxos da cadeia produtiva do milho de Apucarana 74
Mapa 06 - Fluxos da cadeia produtiva do couro de Apucarana 83
Mapa 07 - Fluxos do setor têxtil de Apucarana 88
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana 17
Gráfico 02 - Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana: 1985-2004 24
Gráfico 03 - Evolução do Pessoal Ocupado na Indústria em Apucarana: 1985-2004 24
Gráfico 04 - Distribuição dos estabelecimentos segundo os setores econômicos e os
segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e 2002 26
Gráfico 05 - Distribuição do pessoal ocupado segundo os setores econômicos e os
segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e 2002 27
Gráfico 06 - Evolução dos estabelecimentos nos setores industriais mais
representativos de Apucarana: 1985-2004 28
Gráfico 07 - Evolução do pessoal ocupado nos setores industriais mais expressivos de
Apucarana: 1985-2004 29
Gráfico 08 - Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de confecção de
vestuário e acessórios em Apucarana: 1985-2004 50
Gráfico 09 - Evolução do pessoal ocupado no setor de confecção de vestuário e
acessórios em Apucarana: 1985-2004 51
Gráfico 10 - Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos
alimentícios e bebidas em Apucarana: 1985-2004 65
Gráfico 11 - Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos alimentícios e
bebidas em Apucarana: 1985-2004 66
Gráfico 12 - Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de preparação de
couros e fabricação de artefatos de couro em Apucarana: 1985-2004 75
Gráfico 13 - Evolução do pessoal ocupado no setor de preparação de couros e
fabricação de artefatos de couro em Apucarana: 1985-2004 76
Gráfico 14 - Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos têxteis
em Apucarana: 1985-2004 86
Gráfico 15 - Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos têxteis em
Apucarana: 1985-2004 86
LISTA DE TABELAS, QUADROS E FIGURAS
Tabela 01 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e pessoal ocupado
em Apucarana: 1985-1990 19
Tabela 02 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e de pessoal ocupado
em Apucarana: 1996-2004 21
Quadro 01 - Empresas Selecionadas do Setor de Vestuário de Apucarana 52
Quadro 02 - Origem de matérias-primas, máquinas e equipamentos do setor
confeccionista de Apucarana-PR 57
Figura 01 - Processo de moagem de milho a seco 72
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................
10
1 - APUCARANA E O QUADRO ATUAL DA INDÚSTRIA............................................. 12
1.1 - EVOLUÇÃO DO PROCESSO INDUSTRIAL............................................................. 16
1.2 - OS SETORES INDUSTRIAIS MAIS REPRESENTATIVOS.....................................
25
2 - EM PERÍODO DE CRISE E PESSIMISMO, A AÇÃO LOCAL PROMOVE A
INDUSTRIALIZAÇÃO: INTERPRETAÇÃO ANALÍTICA.........................................
30
3 - A INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA: EM DIREÇÃO À
ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA................................................................................ 49
3.1 - CONFECÇÃO DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS............................ 49
3.2 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS E NUTRIÇÃO ANIMAL.......... 65
3.3 - PREPARAÇÃO DE COURO E FABRICAÇÃO DE ARTEFATOS DE COURO...... 75
3.4 - FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS.................................................................
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................
89
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................
91
INTRODUÇÃO
O Norte do Paraná tornou-se famoso pela fertilidade do tipo de solo predominante -
terra roxa - e pela excelente produção de gêneros agrícolas: o café, o milho, o trigo e a soja.
Apucarana, cidade localizada no centronorte paranaense, colonizada pela CTNP e elevada à
condição de município em 1944, é conhecida desde a década de 1990, como “capital nacional
do boné” , mas foi também importante centro de produção de feijão, milho, arroz e café.
A idéia geral que se faz do norte do Paraná é que tal região, grande produtora
agrícola, possui apenas, ou grande parte de indústrias tradicionais, notadamente nos ramos
alimentícios, confeccionistas, agroindustriais. No entanto, uma rápida observação nos dados
do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 1985-2004) mostra que há grande
diversidade produtiva na região e, especialmente em Apucarana. Embora as indústrias
tradicionais sejam as mais significativas em termos de número de estabelecimentos e geração
de empregos, há números significativos de indústrias nos mais diversos gêneros/ramos, como
de produtos químicos, indústria moveleira, de equipamentos, de metalurgia, de couro, de
calçados, de material elétrico e de transportes, de borracha e produtos plásticos etc. Assim,
com este trabalho pretende-se analisar a dinâmica industrial numa escala local: o município de
Apucarana, buscando explicar a diversidade e as razões que permitiram o rápido e importante
desenvolvimento industrial em Apucarana.
Assim, o objetivo do trabalho é analisar o processo de industrialização do município
de Apucarana entre 1970 e 2004, procurando levantar os setores industriais existentes, em
termos de número de estabelecimentos e de empregos, bem como explicar a concentração de
determinados tipos de indústrias no município de Apucarana, analisando processos de gênese
e evolução, de produção e políticas setoriais.
A realização desta pesquisa justifica-se pela escassa produção bibliográfica sobre a
dinâmica industrial do Norte do Paraná, sobretudo em municípios como Apucarana, além da
curiosidade do autor em saber porque Apucarana tornou-se especializada na produção de um
produto tão específico como o boné. Afinal, não é em qualquer lugar que se produz boné.
Além disso, intrigava o autor, nascido e criado em Apucarana, a presença de estabelecimentos
industriais pouco comuns, como frigorífico de eqüinos e curtumes, e grandes empresas como
Caramuru Alimentos de Milho e Kowalski Alimentos, moageiras de milho.
Para a realização deste trabalho foram realizados levantamentos bibliográficos,
consultas a endereços eletrônicos de entidades empresariais, de empresas e de instituições
públicas de pesquisa. Utilizou-se dados do Ministério do Trabalho e Emprego, dos censos
11
industriais e demográficos do IBGE e do cadastro municipal de empresas da Prefeitura
Municipal de Apucarana. Houve coleta de dados e informações primárias, com a realização de
entrevistas com proprietários e funcionários de empresas e com representantes de entidades
representativas do setor industrial em Apucarana. Além disso, a participação em congressos e
eventos organizados por entidades empresariais permitiu conhecer a dinâmica industrial
paranaense e apucaranense.
Assim, no primeiro capítulo é apresentado o quadro atual da economia do município
de Apucarana. Descreve-se a evolução industrial do município, mediante a análise dos dados
relativos à evolução da população (IBGE) e do número de estabelecimentos industriais e de
empregos formais (IBGE, BRASIL), destacando os setores industriais mais representativos ao
longo do período 1970-2004.
O capítulo seguinte dedica-se a explicar a industrialização do município de Apucarana,
inserindo-a nos contextos estadual e nacional. Para tanto analisa-se o processo de
industrialização brasileiro com base nas formulações teóricas de Ignácio Rangel, referentes ao
desenvolvimento cíclico do capitalismo mundial, ao dinamismo do processo de
desenvolvimento econômico brasileiro como resposta às transformações ocorridas no centro
dinâmico do capitalismo mundial. O processo de industrialização paranaense é discutido
mediante a sua inserção na divisão territorial do trabalho em escala nacional e à dinâmica
industrial paranaense a partir de iniciativas locais, da pequena produção mercantil, sobretudo
no norte do Estado.
No terceiro capítulo são discutidas a gênese e a evolução dos quatro principais setores
industriais de Apucarana: a confecção de artigos de vestuário, a moagem de milho e nutrição
animal, o curtimento de couro e a produção de acessórios em couro e a indústria de produtos
têxteis.
1 – APUCARANA E O QUADRO ATUAL DA INDÚSTRIA
Para se discutir o processo de industrialização de um município, parte-se da
consideração de que o mesmo possui um número significativo de indústrias de transformação.
Em outros termos, o setor secundário deve possuir papel importante e considerável na
economia municipal. Assim, cabe mencionar informações relativas à economia de Apucarana
na atualidade. Quais as características dessa economia? Qual a participação do setor
secundário na economia de Apucarana? Como é constituído esse parque industrial?
Apucarana é adjetivada de capital nacional do boné, título este que adveio da
participação da produção local de bonés no total da produção nacional (60 a 70% atualmente)
no início da década de 1990, após sucessivas aberturas de empresas a partir dos anos 1980 e
1990, “conformando um setor especializado na produção de bonés promocionais que
futuramente promoveram diversificação da produção, incluindo outros brindes com camisetas,
porta CD’s, etc.” (FRESCA, 2005, p. 5558).
O município (mapa 01), cuja população estimada em 2005 era de 115.823 habitantes,
possuía no ano 2000 índice de urbanização de 92%, com 55.153 habitantes economicamente
ativos e população ocupada de 48.500 habitantes, o que indica uma taxa de desemprego de
12,06% (IPARDES, 2006). Dessa população ocupada, 28,6% encontrava-se na indústria de
transformação, 17,7% no comércio, reparação de veículos e objetos pessoais, 9,4% nas
atividades agropecuárias e extrativas vegetais e animais, 7,1% nos serviços domésticos e 7%
na construção civil.
No entanto, o setor formal da economia empregava em 2004, 24.664 trabalhadores em
2.696 estabelecimentos. A indústria de transformação representava 23,1% dos
estabelecimentos e correspondia a 44,2% dos empregos gerados; as atividades agropecuárias e
extrativas correspondiam a 9,1% dos estabelecimentos e apenas 2,1% dos empregos e, as
atividades administrativas, de serviços e construção civil respondiam por 67,8% dos
estabelecimentos e 53,7% dos empregos (BRASIL, 2004). Constata-se que um quarto dos
empregos formais era gerado pela indústria têxtil, do vestuário e artefatos de tecidos,
responsável por 58% dos empregos na indústria e 53% desses estabelecimentos. Destacam-se
ainda os setores da borracha, couro, peles e indústrias diversas com 9,5% dos empregos e 6%
dos estabelecimentos na indústria e; a indústria de produtos alimentícios com 10,2% dos
estabelecimentos industriais e 12,1% dos empregos.
Mapa 01 – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE APUCARANA
14
O PIB de Apucarana em 2003 foi de R$ 763.173.325, assim constituído: agropecuária
8,1%, indústria 46% e serviços 45,9% (IPARDES, 2006). Observa-se a importância do setor
secundário para a economia do município, tanto pelo valor gerado quanto pelos empregos
gerados.
Em 1996, 40,7% dos estabelecimentos agropecuários destinavam-se a lavouras
temporárias, 20% a lavouras permanentes e 20% à pecuária. O município contava em 2004,
com uma produção primária diversificada com predominância tanto em área colhida, quanto
em quantidade produzida de lavouras de milho, soja e trigo, destacando-se também café,
aveia, cana-de-açúcar, feijão e arroz, além de diversos produtos hortifrutis. Possuía em 2004,
efetivo de 704.990 galináceos, 150.000 codornas, 29.877 bovinos, 9.100 suínos, 3.056 vacas
ordenhadas e 1.200 eqüinos, com produção significativa de casulos de bicho-da-seda, leite,
mel de abelha, ovos de codorna e de galinha. No município ocorre a extração mineral de água
mineral e de basalto.(IPARDES, 2006).
O parque industrial de Apucarana é bastante diversificado, contando com indústrias de
capital local, de capital nacional e minimamente de capital estrangeiro. Possui indústrias que
empregam mais de 300 funcionários e indústrias informais de confecções – as chamadas
facções. A indústria de transformação de Apucarana é composta por laticínios, abatedouros,
frigoríficos, indústrias moageiras, fabricantes de bebidas, óleos, alimentos e rações animais,
fabricantes de fios, tecidos, acessórios do vestuário, uniformes, malharia, calçados, bolsas e
cintos, madeira, mobília, papel, papelão, produtos químicos, fertilizantes, produtos de
limpeza, higiene e cosméticos, tintas e vernizes, produtos farmacêuticos, artigos de borracha,
plástico, artefatos de concreto, fundição, estruturas metálicas, ferramentas, máquinas e
equipamentos, caldeiras, pilhas, baterias e acumuladores elétricos, cabines e carrocerias,
equipamentos de transportes, reciclagem de sucatas e produtos diversos (BRASIL, 2002).
A produção industrial apucaranense destina-se ao mercado local, regional, nacional e
internacional. Através de suas indústrias, Apucarana insere-se em diversas redes, e não só em
função de ser uma cidade especializada na produção têxtil e de vestuário, mas por ter
alcançado uma complexificação produtiva. Os dados da Secretaria de Comercio Exterior
(BRASIL, 2006) indicam que dos quarenta principais produtos de Apucarana que são
exportados, predominam aqueles de origem agroindustrial, principalmente carnes, couro e
preparados, derivados de milho e soja e calçados. Entre 2004 e 2005, apresentaram as maiores
taxas de crescimento, em termos percentuais, os acumuladores elétricos de chumbo
(804,97%), couros e peles de bovinos, inclusive búfalos, úmidos (720,73%) e tecidos de
algodão 85% tinto (480,15%).
15
Quanto às importações, predominam máquinas e equipamentos e produtos químicos,
notadamente para os setores têxteis, de couro e materiais plásticos. As variações mais
significativas entre 2004 e 2005 se deram com papéis para fabricação de papel higiênico
(975,61%) e sulfato de cromo (573,8%). Embora os produtos importados possuam alto valor
agregado, Apucarana possui balança comercial historicamente favorável e crescente. As
exportações apresentam valores sempre superiores a 38 milhões de dólares anuais, ao passo
que as importações foram menos constantes, variando entre pouco mais de 2 milhões de
dólares anuais (2003 e 2004) a pouco mais de 14 milhões de dólares anuais em 1998. Em
2005, o saldo comercial foi de US$50.882.739 (BRASIL, 2006).
A pauta de exportações de Apucarana em 2005 era composta predominantemente por
bens intermediários (69,41%) - com destaque para insumos industriais (produtos
industrializados que servem de matéria-prima para outras indústrias) (60,2%), e alimentos e
bebidas destinados à indústria (8,73%) - completada por bens de consumo não duráveis
(30,23%) e bens de capital (0,36%). E quais são os destinos desses produtos?
Observa-se que 43,19% vai para a Ásia, 30,04% para a União Européia, 7,59% para a
África, 6,83% para a Europa Ocidental e 5,78% para o Mercosul. Os principais países
importadores são Coréia do Sul (23%), Itália (13,01%), Hong Kong (8,55%), Espanha,
Turquia e Angola (7% cada). As variações mais significativas entre 2004 e 2005 apresentam-
se para a Venezuela (621%), Tunísia (461%), Chile (389%) e Turquia (343%). Para este
último, o valor de exportações aumentou de US$877.451 para US$3.888.500 (BRASIL,
2006).
Apucarana possui ainda uma diversificação de atividades comerciais, administrativas e
de serviços, que reforçam sua centralidade ao atrair uma população consumidora regional.
Oferece serviços educacionais de ensino superior em 3 instituições e mais de 20 cursos,
atendimento clínico-hospitalar de pronto socorro e especialidades, serviços jurídicos. Possui
10 agências bancárias, mais de 1000 estabelecimentos comerciais e de serviços. É bem
servida em transporte rodoviário de cargas e pessoas. Constitui-se importante entroncamento
rodoferroviário do Norte do Paraná.
Como se vê, Apucarana apresenta uma forte economia urbana, com atividades
comerciais e industriais, estas últimas bastante expressivas. Mas como se chegou a esta
situação?
1.1 – EVOLUÇÃO DO PROCESSO INDUSTRIAL
Apucarana teve sua gênese em 1938, como centro urbano criado pela Companhia de
Terras Norte do Paraná (CTNP), destinado a atender as necessidades da população rural em
seu entorno e para comercialização da produção agrícola (baseada na pequena produção
familiar de café e de culturas intercalares, notadamente, arroz, feijão e milho). Com o êxito
alcançado e, devido a movimentações da sociedade local, Apucarana é elevada à condição de
Município e sede de comarca em 1944, fato que reforçará sua centralidade, por passar a
disponibilizar de serviços administrativos complexos, acrescentando-se a importância de seu
comércio varejista e atacadista incipiente, para o escoamento da produção agrícola e
fornecimento de artigos manufaturados provindos de São Paulo e outros centros, como
Londrina e atividades de reparo e manutenção de equipamentos.
A partir de 1960, Apucarana assume nova configuração econômica com a implantação
pelo Estado de infra-estrutura básica que, juntamente com a diversificação das atividades
agrícolas propicia um incipiente processo de industrialização (APUCARANA, 1967, p. 69).
A infra-estrutura montada pelo Estado a partir de 1961, com a ligação de Apucarana ao sistema energético da Usina de Salto Grande e a construção da Rodovia do Café, foi a circunstância determinante, contudo, do reforço da posição da cidade, permitindo-lhe experimentar considerável desenvolvimento, com um maior fluxo de inversões no setor secundário (APUCARANA, 1967, p. 81).
Alia-se a isso a intensa dinâmica populacional, tendente à urbanização que se acentua
a partir de 1960-1970, período em que a população urbana supera a população rural, em
função tanto da migração campo-cidade intramunicipal, como da migração de pessoas de
outros municípios menores para a cidade de Apucarana (Gráfico 01). Em 2000, Apucarana
apresentou índice de urbanização de 93%, ao passo que em 1950 esse índice era de 36%,
caindo para 34% em 1960, passando para 62,8% em 1970, 83,6% em 1980 e 90,5% em 1991.
A diminuição no índice de urbanização entre 1950 e 1960, é reflexo da consolidação
da colonização do Norte do Paraná, uma vez que esta região recebia milhares de migrantes
que adquiriam seus lotes na zona rural, devido à expansão cafeeira pós –1940. Após 1960,
com as alterações na agricultura da região, em função da modernização agrícola, com
alterações nas relações de trabalho no campo e alterações da estrutura fundiária, ocorre a
inversão de tendência, passando a zona rural a se configurar como expulsora de mão-de-obra
e, conseqüentemente de habitantes.
17
Gráfico 01 - Evolução da População de Apucarana
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
1950 1960 1970 1975 1980 1985 1991 1996 2000
População Total População Urbana População Rural
Fonte: IBGE, 1950-2000. Org. Anderson Vietro
Dados do levantamento industrial realizado pela Codepar para a confecção do Plano
Diretor de Desenvolvimento de Apucarana de 1967, revelam que anteriormente a 1960, nove
indústrias haviam sido fundadas e que, trinta e quatro haviam sido fundadas entre 1960 e
1966, representando um crescimento de 278% no período. O referido trabalho apresenta um
prognóstico favorável ao crescimento e à complexificação das estruturas de beneficiamento e
comercialização de cereais, destacando a existência em Apucarana de 105 empresas do setor
em 1967, com destaque para o aumento da participação de culturas que não a do café na pauta
de produção, principalmente milho, arroz e feijão.
Além das empresas de beneficiamento e comercialização, existiam ainda 75 indústrias
de transformação (equivalente a 42% dos estabelecimentos do setor secundário do município).
O parque de indústrias de transformação, formado predominantemente por indústrias de tipo
doméstico, era assim constituído: 11 indústrias alimentícias, 16 de material de construção, 13
de móveis, 9 mecânicas, 6 de equipamentos domésticos, 6 de madeira, 4 de bebidas, 4
gráficas e de papel, 3 de óleos vegetais, 2 de couros e calçados e 1 de fios de algodão. Há que
se destacar o raio de ação das indústrias de couro, óleos e têxtil, que enviavam 70% de sua
produção para fora do Estado, destinando 25% para a região e apenas 5% para o mercado
local (APUCARANA, 1967, p. 87). Foram criadas entre 1950-1969 indústrias como:
Metalúrgica Lampe (1951), Metalúrgica Condor (1966), Indústria Têxtil Apucarana (1967),
Curtume Apucarana (1967) (APUCARANA, 2005).
18
De acordo com os censos industriais do IBGE (1970, 1980), em 1970 Apucarana
possuía 150 estabelecimentos industriais empregando 1569 pessoas, destacando-se as
indústrias alimentícias com 67 estabelecimentos (44,6% do total), indústrias de mobiliário e
da madeira, com 13 (8,6%) e 12 (8%) estabelecimentos respectivamente. Em termos de
pessoal ocupado, os setores mais significativos eram a indústria têxtil (25,5% e apenas 2%
dos estabelecimentos), alimentícia (25%) e de mobiliário (8%). O aumento do número de
estabelecimentos industriais mais expressivo em 1980 ocorreu no setor de vestuário, calçados
e artefatos de tecidos, passando de 5 em 1970 para 21 (320% de aumento) representando um
salto no número de empregados de 23 para 325 (aumento de 1300%). Porém, o setor
alimentício apresentou o maior incremento absoluto em número de trabalhadores: 1187 (30%
dos empregos na indústria em 1980 e 202% de aumento em relação a 1970). A indústria de
couros, peles e produtos similares era a quinta maior empregadora, responsável pela geração
de 6% dos empregos industriais em 1980.
O número de estabelecimentos industriais cresceu 34% entre 1970 e 1980 e o número
de empregos no setor industrial cresceu 151%. A população urbana nesse período passou de
43.573 para 67.161 habitantes (aumento de 54%), ao passo que a população total passou de
69.302 para 80.245 habitantes (aumento de 15,8%), reflexo da intensificação da migração da
população rural do município que apresentou variação negativa de 49%.
No período de 1970-1980 surgiram importantes indústrias no município, tais como
Agasalhos Vaniltex (1971), Caramuru Alimentos (1972), Moinho Primor (1974), Baterias
Eletran (1976), Titu’s Jeans (1978), Kowalski Alimentos (1978) (APUCARANA, 2005).
A análise dos dados pós-1985 é realizada com base em dados do Ministério do
Trabalho e Emprego. Os dados disponíveis para análise foram separados em duas tabelas, a
tabela 01 para os dados de 1985 a 1990 e a tabela 02 para os dados de 1996 a 2004 em função
da diferenciação de agrupamento dos setores industriais.
Em 1985, a indústria de transformação gerava 28% dos empregos formais em 17% do
total de estabelecimentos. Os setores industriais que mais empregavam eram o de alimentos e
a indústria têxtil e do vestuário, com 35% e 27% dos empregos, respectivamente. Quanto à
participação no número de estabelecimentos, destacava-se o setor de alimentos com 28%, o de
madeira e mobiliário com 21% e o têxtil e do vestuário com 16%. O agrupamento das
indústrias da borracha, couro e indústrias diversas respondia por 10% do total de
estabelecimentos e pessoal ocupado na indústria de Apucarana.
19
Tabela 01 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e pessoal ocupado em Apucarana: 1985-1990
1985 1987 1990 Setores Industriais Nº. Estab.
Nº. Empregos
Nº. Estab. Nº.
Empregos Nº. Estab.
Nº. Empregos
Indústria de produtos minerais não metálicos 7 185 7 182 6 169 Indústria metalúrgica 14 162 24 217 25 181 Indústria mecânica 4 27 6 48 10 39
Indústria do material elétrico e de comunicações 2 46 3 58 4 106
Indústria do material de transporte 4 25 7 51 5 43 Indústria da madeira e do mobiliário 36 389 40 412 43 400 Indústria do papel, papelão, editorial e gráfica 8 182 8 297 12 322 Ind. da borracha, fumo, couros, peles, similares, ind. diversas
17 373 26 725 29 1.148
Ind. química de produtos farmacêuticos, veterinários, perfumaria
3 11 8 57 11 101
Indústria têxtil do vestuário e artefatos de tecidos 28 1.025 39 1.455 61 1.269 Indústria de calçados 3 4 7 43 5 117 Indústria de produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico
48 1.332 56 1.534 50 1.314
TOTAL 174 3.761 231 5.079 261 5.209 Fonte: BRASIL, 1985-1990. Org.: Anderson Vietro
Em 1987, as indústrias de transformação embora tenham aumentado o número
absoluto de estabelecimentos, tinham participação estável em termos percentuais (17%),
tendo ampliado a participação no total de empregos formais (32%) em relação a 1985. O setor
industrial que mais empregava e contava com o maior número de estabelecimentos era o
alimentício (35% e 28% respectivamente). O setor têxtil e do vestuário respondia por 29% do
pessoal ocupado e 17% dos estabelecimentos. As indústrias da madeira e do mobiliário
diminuíram sua participação tanto em relação aos estabelecimentos e pessoal ocupado.
Entre 1985 e 1987 ocorreu uma variação no total de empregos formais no município
de 20% e de 31% nos estabelecimentos. No entanto, a variação da indústrias de transformação
nesse período foi de 35% (pessoal ocupado) e 32% (estabelecimentos), portanto, mais
expressiva do que as demais atividades econômicas. As variações industriais mais
significativas ocorreram com o agrupamento da borracha, couro e indústrias diversas, no qual
os estabelecimentos cresceram 53% e o pessoal ocupado cresceu 94%. O setor têxtil e do
vestuário teve um incremento de 39% no número de estabelecimentos e de 42% de pessoal
ocupado. Importa destacar que no período nenhum dos setores industriais do município teve
redução no número de estabelecimentos e o número de empregos cresceu em praticamente
todos os setores, exceto o de produtos minerais não metálicos que perdeu três empregos, nada
significativo.
20
Já em 1990, o quadro não é tão favorável assim: o número total de empregos formais
no município teve queda de 7% embora os estabelecimentos tenham aumentado 9%; quatro
setores industriais apresentaram redução no número de estabelecimentos – minerais não
metálicos, material de transporte, calçados e alimentos e bebidas – e sete setores reduziram o
número de empregos – minerais não metálicos, metalúrgica, mecânica, material de transporte,
madeira e mobiliário, têxtil e do vestuário e de alimentos e bebidas. Os dois últimos, maiores
empregadores, demitiram 186 e 220 funcionários, respectivamente. O crescimento no período
foi de 13% para os estabelecimentos e 2,5% para os empregos industriais. Os setores
eliminaram em média 13% dos empregos no período.
No entanto, a indústria de calçados aumentou o número de empregos em 172% , o de
material elétrico e de comunicações em 82%, o de produtos químicos, farmacêuticos e
cosméticos em 77%, o de borracha, couro e diversas em 58%, gerando 423 novos empregos,
sendo o terceiro maior setor empregador. Juntos, os setores de alimentos, têxtil e do vestuário
e da borracha, couro e diversas, geravam 72% dos empregos na indústria. Quanto aos
estabelecimentos, o setor têxtil e do vestuário cresceu 56% em relação a 1987 e o de
alimentos diminuiu 10%.
Ao compararmos os dados de 1985 e 1990 observamos uma evolução significativa no
total de estabelecimentos industriais que cresceram 50%, com destaque para o crescimento de
117% no setor têxtil e do vestuário e 70% no agrupamento da borracha, couro e diversas.
Quanto aos empregos, nesse período cresceram 38% na indústria e apenas 11% na economia
municipal como um todo. O setor industrial que mais ampliou o número de vagas foi o da
borracha, couro e indústrias diversas que cresceu 207%, empregando 775 novos trabalhadores
e o setor alimentício teve queda de 1% no número de empregados nesse período.
A tabela 02 apresenta um agrupamento dos setores industrial bem mais detalhado do
que os dados até 1990, com modificações feitas pelo MTE/RAIS (BRASIL, 1996-2004), as
quais impedem a comparação direta entre determinados setores como a indústria de móveis
que até 1990 encontrava-se agrupada com a indústria da madeira e de 1996 em diante
encontra-se agrupada com as indústrias diversas, as quais estavam agrupadas anteriormente
com a da borracha e do couro. Esta última passou a compreender a indústria de calçados antes
separada. Houve ainda um desmembramento do setor têxtil e do vestuário, passando a
constituir dois setores distintos. No entanto com estes dois últimos setores é possível fazer
comparação direta com os dados até 1990, apenas somando valores dos dois setores.
21
Tabela 02 - Evolução do número de estabelecimentos industriais e de pessoal ocupado em Apucarana: 1996-2004
1996 1998 2000 2002 2004
Setores Industriais Nº. Estab.
Nº. Empre
gos
Nº. Estab.
Nº. Empre
gos
Nº. Estab.
Nº. Empre
gos
Nº. Estab.
Nº. Empre
gos
Nº. Estab.
Nº. Empre
gos Fabricação de produtos alimentícios e bebidas
54 1.042 52 1.153 65 874 58 1.117 63 1.293
Fabricação de produtos têxteis 22 819 27 496 29 691 44 906 47 898 Confecção de artigos do vestuário e acessórios
113 2.578 162 2.321 222 3.518 272 4.452 281 5.413
Preparação de couros e fabrç. de artefatos de couro, artigos de...
22 1.079 22 1.007 25 903 26 786 29 793
Fabricação de produtos de madeira 13 104 10 87 12 132 11 118 13 126 Fabricação de celulose, papel e produtos de papel
2 132 8 109 11 119 10 148 12 185
Edição, impressão e reprodução de gravações
6 110 9 129 12 139 12 140 18 140
Fabricação de produtos químicos 7 108 7 140 10 213 13 161 16 201 Fabricação de artigos de borracha e plástico 17 247 23 217 28 285 31 302 35 368 Fabricação de produtos de minerais não metálicos
3 9 8 39 10 75 12 86 15 142
Metalurgia básica 2 16 2 2 2 1 1 1 Fabricação de produtos de metal - exclusive maquinas e equipamentos
18 82 21 113 20 92 17 127 18 160
Fabricação de maquinas e equipamentos 9 75 10 71 14 72 17 100 14 85 Fabricação de maquinas, aparelhos e materiais elétricos
2 109 3 118 3 117 2 122 2 130
Fabrç. de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de com....
1 50 4 57 6 65 7 118 8 195
Fabrç. de equipamentos de instrumentação para usos medico-hospital....
3 22 2 17 1 3 1 6 1 4
Fabrç. e montagem de veículos automotores, reboques e carroceri...
3 44 10 71 11 126 11 149 12 254
Fabricação de outros equipamentos de transporte
1 0 1 31 1 41
Fabricação de moveis e indústrias diversas 26 255 31 265 23 158 25 320 34 441 Reciclagem 1 0 2 7 2 20 3 9
TOTAL 324 6.881 411 6.412 507 7.590 573 9.210 622 10.878 Fonte: BRASIL, 1996-2004. Org. Anderson Vietro.
Em 1996, a indústria de transformação compreendia 18% do total de estabelecimentos
e 42% do pessoal ocupado. Quanto aos estabelecimentos, a distribuição no setor industrial
ocorria assim: alimentos e bebidas 16%, produtos têxteis 7%, artigos do vestuário 35%, couro
7%, borracha e plástico 5% e móveis e indústrias diversas 8%. Em relação ao pessoal
ocupado, o setor de alimentos e bebidas tinha 15% de participação, produtos têxteis 12%,
artigos do vestuário 37%, couro 15%, borracha e plástico 3%, móveis e indústrias diversas
4%. Em relação a 1990, a indústria de transformação apresentou 24% de aumento no número
de estabelecimentos e 32% no número de empregos, ao passo que o número total de empregos
22
formais no período cresceu 8% e o número de estabelecimentos total cresceu 21%, o que
significa que a indústria foi mais dinâmica que o restante da economia.
Em 1998 a participação no setor industrial em relação a estabelecimentos e pessoal
ocupado, respectivamente, era a seguinte: alimentos e bebidas 12% e 18%, produtos têxteis
6% e 7%, artigos do vestuário 39% e 36%, couro 5% e 15%, borracha e plástico 5% e 3%,
móveis e indústrias diversas 7% e 4%. A variação entre 1996 e 1998 foi de 27% nos
estabelecimentos industriais e –7% no pessoal ocupado. O setor de alimentos e bebidas
diminuiu em 3% o número de estabelecimentos, mas aumentou 10,6% o pessoal ocupado. O
setor de produtos têxteis aumentou os estabelecimentos em 22% e reduziu em 39% o pessoal
ocupado. O setor de artigos de vestuário foi o que mais cresceu no período, com incremento
de 43% no número de estabelecimentos, embora o pessoal ocupado tenha diminuído 10%.
Enquanto isso, a economia do município como um todo apresentava crescimento de 11% no
número de estabelecimentos e de 5% no pessoal ocupado. Observa-se que nesse período os
desempenhos da indústria e da economia são relativamente fracos e semelhantes.
Em 2000, o setor industrial respondia por 22% dos estabelecimentos e 38% dos
empregos totais. O setor industrial que mais cresceu entre 1998 e 2000 foi o de artigos de
vestuário - 37% no número de estabelecimentos e 51% no pessoal ocupado - representando
44% e 47% dos estabelecimentos e empregos industriais respectivamente. A indústria têxtil
teve aumento de 39% no número de empregos e 7% no número de estabelecimentos e, o setor
de alimentos e bebidas embora tenha crescido 25% em relação a estabelecimentos, teve queda
de pessoal ocupado em 24%. A indústria da borracha e do plástico cresceu 21%
(estabelecimentos) e 31% (pessoal ocupado) enquanto a indústria do couro teve aumento de
13% no número de estabelecimentos e queda de 10% no pessoal ocupado. Entre 1998 e 2000,
a indústria apresentou crescimento de 23% (estabelecimentos) e 18% (pessoal ocupado).
Enquanto isso, o setor formal como um todo cresceu 14% nas duas variáveis consideradas.
Já em 2002, os estabelecimentos industriais respondiam por 22% do total e o pessoal
ocupado na indústria equivalia a 41% do total de empregos formais de Apucarana. Os setores
industriais que mais cresceram em relação a 2000 foram o têxtil (51% - estabelecimentos;
31% - pessoal ocupado), do vestuário (22% e 26% respectivamente), e, embora tenha
diminuído em 10% o número de estabelecimentos, o setor de alimentos apresentou alta de
28% no número de pessoas ocupadas. A indústria do couro apresentou nova redução no
número de empregos (13%) e os estabelecimentos cresceram apenas 4%. A variação do setor
industrial no período foi de 14% nos estabelecimentos e 21% no pessoal ocupado. O setor de
artigos do vestuário consolida-se como o maior empregador do setor industrial (48%) e com
23
maior participação no número de estabelecimentos (47%). O setor alimentício é o único a ter
mais de 10% dos estabelecimentos e pessoal ocupado (12%).
Em 2004, os empregos na indústria de transformação representavam 44,1% do total,
enquanto os estabelecimentos industriais respondiam por 23% do total de estabelecimentos
formais de Apucarana. O setor de vestuário respondia por 45% dos estabelecimentos
industriais e 49,8% dos empregos formais na indústria de Apucarana. A este setor seguiam-se:
alimentos e bebidas (10% dos estabelecimentos e 12% dos empregos), indústria têxtil (7,55%
dos estabelecimentos e 8,3% dos empregos) e indústria do couro (4,6% dos estabelecimentos
e 7,3% dos empregos). Estes quatro setores eram responsáveis por 67,35% dos
estabelecimentos industriais e por 77,3% dos empregos formais industriais. Destacavam-se
ainda os setores da borracha e plástico (5,6% dos estabelecimentos e 3,4% dos empregos) e
móveis e indústrias diversas (5,4% dos estabelecimentos e 4% dos empregos).
Em comparação a 2002, destaca-se o aumento em 12% no número de
estabelecimentos na indústria do couro e redução de 1% no pessoal ocupado, aumento de 23%
na indústria de produtos químicos e 36% na indústria de móveis e indústrias diversas. Quanto
ao número de pessoal ocupado, destaca-se o aumento em 15,75% no setor de alimentos e
bebidas, 22% na indústria do vestuário (embora o número de estabelecimentos tenha
aumentado apenas 3,3%), 22% na indústria da borracha e plástico, 25% na indústria de
produtos químicos e 37% na indústria de móveis e indústrias diversas.
No período de 1996 a 2004 a indústria teve aumento de 76% nos estabelecimentos e
34% no pessoal ocupado. Caiu o número de pessoas ocupadas na indústria do couro (-27%),
embora os estabelecimentos tenham aumentado 32%. Os estabelecimentos do setor têxtil
dobraram entre 1996-2004, enquanto os empregos aumentaram apenas 10%. O setor de
artigos de vestuário teve o crescimento mais significativo: 148% em relação a
estabelecimentos e 109% em relação a pessoal ocupado. A indústria da borracha e do plástico
aumentou 105% o número de estabelecimentos e 49% o de pessoal ocupado.
O gráfico 02 retrata a evolução absoluta do número de estabelecimentos industriais
entre 1985 e 2004. Houve crescimento de 257%. No mesmo período, o mercado formal de
Apucarana apresentou 164% de aumento no número de estabelecimentos.
Já o gráfico 03 mostra a evolução no número de empregados no setor industrial: 189%
de crescimento. Enquanto isso o número de empregos no mercado formal de trabalho
aumentou 85%. No entanto, enquanto os estabelecimentos apresentaram evolução crescente
no período, os empregos apresentaram involução entre 1996-1998 (-7%).
24
Gráfico 02 – Evolução dos Estabelecimentos Industriais em Apucarana: 1985-2004
174
231261
324
411
507
573622
0
100
200
300
400
500
600
700
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Estabelecimentos Industriais
Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.
Gráfico 03 – Evolução do Pessoal Ocupado na Indústria em Apucarana: 1985-2004
3761
5079 5209
68816412
7590
9210
10878
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Pessoal ocupado
Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.
1.2 – OS SETORES INDUSTRIAIS MAIS REPRESENTATIVOS
Confrontando-se os dados do MTE/RAIS (BRASIL) para Apucarana em 1985 e 2002
(para os quais dispõe-se de informações detalhadas de todos os segmentos do mercado formal
de trabalho de Apucarana), identificou-se que a indústria de transformação aumentou sua
participação tanto em relação a pessoal ocupado como em relação ao número de
estabelecimentos. Em 1985, a agropecuária e o extrativismo respondiam por 3% dos
estabelecimentos e 4% do pessoal ocupado. A indústria de transformação era responsável por
17% dos estabelecimentos e 28% do pessoal ocupado. Destacavam-se como setores
industriais mais significativos, o de alimentos e bebidas com 5% dos estabelecimentos e 10%
do pessoal ocupado e, o de produtos têxteis e artigos do vestuário com 3% dos
estabelecimentos e 7% do pessoal ocupado. A administração, os serviços e a construção civil
respondiam por 80% dos estabelecimentos e 68% do pessoal ocupado. Destaque para o
comércio varejista, com maior número de estabelecimentos e de empregos (35% e 19%,
respectivamente), comércio atacadista (8% dos estabelecimentos e 4% do pessoal ocupado) e
administração pública com 1% dos estabelecimentos e 12% do pessoal ocupado.
Em 2002 a agropecuária e o extrativismo eram responsáveis por 9% dos
estabelecimentos formais e 2% do pessoal ocupado. A indústria de transformação respondia
por 23% dos estabelecimentos e 42% do pessoal ocupado, sendo que só o setor de produtos
têxteis e artigos do vestuário detinha 13% dos estabelecimentos totais e 24% do pessoal total
ocupado. A fabricação de alimentos e bebidas respondia por 2% dos estabelecimentos e 5%
do pessoal ocupado. O setor administrativo, de serviços e construção civil era responsável por
60 % dos estabelecimentos e 56% dos empregos formais. O comércio varejista respondia por
25% dos estabelecimentos e 13% do pessoal ocupado, o comércio atacadista 3% e 5%
respectivamente e a administração pública 3% dos estabelecimentos e 9% do pessoal
ocupado.
O gráfico 04 expressa os números absolutos de estabelecimentos dos setores
econômicos e dos segmentos mais representativos de cada setor. Pode-se observar que o
número de estabelecimentos industriais é menor que o de estabelecimentos do setor terciário,
com destaque para o comércio varejista que sozinho, supera os estabelecimentos industriais.
Isso significa que Apucarana é uma cidade de serviços e não industrial? O setor secundário foi
o que mais ampliou sua participação no período, passando a contar com quase um quarto dos
estabelecimentos. E o segmento industrial de produtos têxteis e artigos de vestuário é o
26
segundo maior com 316 estabelecimentos, ficando atrás apenas do segmento do comércio
varejista que possui 638 estabelecimentos.
Gráfico 04 – Distribuição dos estabelecimentos segundo os setores econômicos e os segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e
2002 30
174
818
11
363
83
23
6
57
3
58
31
6
16
96
5
63
8
86
2848
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Ag
rop
ecu
ári
a e
extr
ativis
mo
Ind
ustr
ias d
e
Tra
nsfo
rma
çã
o
Alim
en
tos e
be
bid
as
Pro
du
tos
têxte
is e
ve
stu
ári
o
Ad
min
istr
açã
o,
se
rviç
os e
co
nstr
uçã
o c
ivil
Ad
min
istr
açã
o
pú
blic
a
Co
mé
rcio
va
rejis
ta
Co
me
rcio
ata
ca
dis
ta
1985 2002
Fonte: BRASIL, 1985 e 2002. Org. Anderson Vietro.
O gráfico 05 fornece dados absolutos do mercado formal de trabalho de Apucarana em
1985 e 2002. Sua análise permite afirmar que Apucarana definitivamente é uma cidade
industrial, mais especificamente, Apucarana é uma cidade industrial especializada na
produção de produtos têxteis e artigos do vestuário (boné, principalmente). Quase a metade
dos empregos formais de Apucarana é gerada na indústria. Um em cada cinco trabalhadores
formais trabalhava em indústrias têxteis e do vestuário em 2002. O número de empregos nessa
indústria cresceu mais de 5 vezes, enquanto os empregos no comércio varejista praticamente
ficaram estáveis. Pode-se afirmar que em 1985 o setor terciário era o mais importante da
economia, mas ao longo dos anos e em 2002 esse papel passou ao setor secundário.
Os setores industriais mais significativos de Apucarana variaram pouco de 1985 até
2002. Quanto ao número de estabelecimentos, até 1987 o setor alimentício e de bebidas era o
principal, seguido pela indústria da madeira e mobiliário, pela indústria têxtil do vestuário e
artefatos de tecidos, pelo agrupamento das indústrias da borracha, couro e indústrias diversas
e pela indústria metalúrgica. Em 1990 a mudança desse quadro se dá apenas pela troca de
27
posição entre os três primeiros setores: 1º têxtil e do vestuário, 2º alimentos e bebidas e 3º
madeira e mobiliário.
Gráfico 05 – Distribuição do pessoal ocupado segundo os setores econômicos e os segmentos mais representativos de Apucarana: 1985 e
2002 5
14
37
61
13
32
10
25
90
83
16
50
25
05
53
5
47
7
92
10
11
17
53
58
12
34
1
19
94
28
32
11
12
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
Ag
rop
ecu
ári
a e
extr
ativis
mo
Ind
ustr
ias d
e
Tra
nsfo
rma
çã
o
Alim
en
tos e
be
bid
as
Pro
du
tos
têxte
is e
ve
stu
ári
o
Ad
min
istr
açã
o,
se
rviç
os e
co
nstr
uçã
o c
ivil
Ad
min
istr
açã
o
pú
blic
a
Co
mé
rcio
va
rejis
ta
Co
me
rcio
ata
ca
dis
ta
1985 2002
Fonte: BRASIL, 1985 e 2002. Org. Anderson Vietro.
Entre 1996 e 2002, embora tenha ocorrido o desmembramento do setor têxtil e de
artigos do vestuário, o setor de vestuário se manteve e se consolidou em primeiro, seguido
pelo setor de alimentos e bebidas. Entre 1996 e 1998 o terceiro setor era o de móveis e
indústrias diversas e o quarto o de produtos têxteis, seguido pelo de couro. Entre 2000 e 2002
o setor têxtil era o terceiro maior, seguido pelo de borracha e plástico e pelo de couro.
Como já foi exposto, em virtude de diferentes agrupamentos de dados posteriores a
1990, o gráfico 06 representa a evolução dos três setores industriais mais significativos entre
1985-2004, reagrupando os dados pós-1990 dos setores têxtil e do vestuário e agrupando os
segmentos do couro, borracha e plástico
O setor alimentício apresentou-se o mais estável dos três, mantendo praticamente o
mesmo número de estabelecimentos, porém foi o único a apresentar redução (entre 1987 e
1990). O setor têxtil e do vestuário apresentou a evolução mais significativa passando de 28
estabelecimentos em 1985 para 328 em 2004. O agrupamento do couro, borracha e plástico
teve um crescimento mais moderado passando de 17 para 64 estabelecimentos.
28
Gráfico 06 – Evolução dos estabelecimentos nos setores industriais mais representativos de Apucarana: 1985-2004
0
50
100
150
200
250
300
350
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas
Fabricação de produtos têxteis, artigos do vestuário e acessórios
Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, calçados,
borracha e plástico
Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.
Em relação ao número de empregos, até 1990, os principais empregadores eram: 1º a
indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico; 2º a indústria têxtil do vestuário e artefatos de
tecidos; 3º a indústria da borracha, fumo, couro, peles, similares e indústrias diversas (quarto
em 1985) e; 4º indústria da madeira e mobiliário (terceiro em 1985). De 1996 para cá a
indústria de artigos do vestuário é a maior empregadora, seguida pelas indústrias do couro e
artefatos de couro, produtos têxteis e alimentícia que trocavam de posições entre si. Os
maiores empregadores em 2004 eram: 1º a indústria do vestuário; 2º alimentícia; 3º têxtil; 4º
preparação de couro e artefatos; 5º móveis e indústrias diversas e; 6º borracha e plástico.
O gráfico 07 apresenta a evolução de empregos formais nos três setores industriais
mais expressivos. O setor alimentício sofre baixa de 1987 a 1996, cresce em 1998, caindo em
2000 se recuperando em 2002. O setor têxtil e do vestuário crescente até 1987, cai em 1990,
teve extraordinário crescimento em 1996, tendo redução em 1998 e voltando a crescer a partir
de 2000. O setor do couro e da borracha cresce até 1996, apresentando sucessivas quedas até
2002, voltando a apresentar crescimento em 2004.
29
Gráfico 07 – Evolução do pessoal ocupado nos setores industriais mais expressivos de Apucarana: 1985-2004
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Fabricação de produtos alimentícios e bebidas
Fabricação de produtos têxteis, artigos do vestuário e acessórios
Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, calçados,
borracha e plástico
Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.
O que ocorria com o Brasil e o Paraná neste período de intenso desenvolvimento
industrial de Apucarana? Como foi possível tal desenvolvimento? De onde vieram os recursos
necessários? Isso será abordado no próximo capítulo.
2 – EM PERÍODO DE CRISE E PESSIMISMO, A AÇÃO LOCAL PROMOVE A
INDUSTRIALIZAÇÃO: INTERPRETAÇÃO ANALÍTICA
Inúmeras são as teorias que tentam explicar determinados aspectos da realidade, de
uma forma racional e supostamente objetiva. Com os fatos econômicos e geográficos não
poderia ser diferente. Neste trabalho importa estudar a industrialização de Apucarana. Para
tanto é necessário entender o processo de industrialização brasileiro e paranaense, recortes,
nos quais o processo apucaranense insere-se.
Mamigonian (2000) afirma que a industrialização brasileira é tema recorrente de
debate entre os intelectuais brasileiros desde a década de 1920, e que tanto as esquerdas
brasileiras quanto a burguesia industrial defendiam o processo de industrialização. Entre os
intelectuais de esquerda, destaca a hegemonia de três teorias acerca da industrialização
brasileira: a teoria da Cepal que popularizou a expressão “industrialização por substituição de
importação” dominante de 1955 a 1964; a teoria da dependência e do desenvolvimento do
subdesenvolvimento que enfatizava a subordinação da industrialização aos interesses do
centro do sistema capitalista, dominante no período seguinte ao golpe militar de 1964; e a
teoria dos ciclos econômicos, com aceitação recente e que reconhece o dinamismo do
processo de acumulação capitalista brasileiro, e sua reação ativa às transformações ocorridas
no centro dinâmico do capitalismo mundial, ao contrário das teses anteriores tidas como
estagnacionistas, e que teve como principal expoente Ignácio Rangel (1998; 2005).
O desenvolvimento econômico do capitalismo se dá de forma cíclica e não-linear,
através de flutuações das atividades econômicas, com a sucessão de períodos de forte
crescimento ou de boom e períodos de crescimento reduzido, depressivo ou de crise profunda.
Rangel interpretou o desenvolvimento econômico brasileiro a partir das teorias de Marx,
Lênin, Schumpeter, Kondratieff, elaborando um arcabouço teórico próprio e original para o
Brasil.
Silveira (2003) afirma que a idéia dos ciclos de acumulação tem origem em Marx,
tendo se desenvolvido com contribuições de diversos estudiosos com destaque para Juglar,
Schumpeter e Kondratieff. Dos diversos ciclos conhecidos do desenvolvimento econômico
capitalista, destacam-se dois: os ciclos longos ou de Kondratieff e os ciclos médios ou de
Juglar.
Os ciclos longos ou de Kondratieff são ciclos de aproximadamente 50 anos divididos
em duas fases de aproximadamente 25 anos cada: a fase A ou ascendente, marcada por
investimentos crescentes, expansão e euforia; e a fase B ou depressiva marcada por queda no
31
nível de investimentos, depressão e pessimismo. Nas fases ascendentes, são colocadas em
práticas invenções tecnológicas, as quais elevam a produtividade do trabalho e que ao serem
difundidas por toda a economia acabam rebaixando a taxa de lucro, desestimulando
investimentos e provocando uma fase de depressão na qual novas mudanças tecnológicas são
gestadas e, ao serem postas em prática elevam a taxa de lucro, gerando novo ciclo expansivo
pela retomada de investimentos, que ao se generalizarem reduzirão novamente a taxa de lucro,
desestimularão os investimentos culminando em nova fase depressiva (MAMIGONIAN,
1987, p. 66).
Durante a fase descendente dos ciclos longos, ocorrem muitas e importantes descobertas e invenções, na técnica da produção e do comércio, as quais, não obstante, somente costumam ter aplicação em larga escala na vida econômica prática, quando começa nova e persistente fase ascendente (KONDRATIEFF apud RANGEL 2005b, p. 259).
Rangel (2005a, p. 510) afirma existirem múltiplas formas de inovação tecnológica,
seja pelo emprego de recursos naturais (novos, de novas formas), qualificação da mão-de-
obra, novo instrumental, novas e melhores combinações desses fatores. A inovação
tecnológica causa a expansão da capacidade produtiva. Sempre haverá unidades produtivas
mais modernas ao lado de outras mais primitivas.
O progresso econômico – como expressão final do processo de efetivação da inovação tecnológica – tende, historicamente, a assumir caráter cíclico, sucedendo-se épocas de expansão e de estagnação. Um crescimento econômico sem ciclos, ou, reduzidos estes a uma expressão secundária, supõe considerável medida de planejamento, que regule o processo de renovação tecnológica, tendo em vista a durabilidade dos recursos produtivos comprometidos na função de produção inovadora (RANGEL, 2005b, p. 292).
Os ciclos longos possuem seu centro dinâmico nas economias capitalistas do centro do
sistema mundial. Nas fases expansivas, o centro do sistema capitalista amplia sua necessidade
de matérias-primas, alimentos e mercados consumidores da periferia, aprofundando a divisão
internacional do trabalho, e os recursos são alocados tanto no centro quanto na periferia. Nas
fases depressivas diminui o ritmo de crescimento do centro do sistema, ocorrendo uma
retração no comércio mundial, queda nos preços dos produtos exportáveis e superproduções
relativas, ampliando/aprofundando a crise nos países periféricos. Tais ciclos influenciam de
forma diferenciada as economias nacionais. O desenvolvimento periférico brasileiro ocorre
em resposta ao centro dinâmico do capitalismo mundial – cada país responde de uma maneira
e o Brasil responde ativamente. Nas fases expansivas, o Brasil aprofunda sua participação na
divisão internacional do trabalho ampliando as importações e exportações.
32
Entretanto, quando a economia mundial entra em fase recessiva, a economia brasileira volta-se sobre si mesma – o crecimiento hacia adentro dos cepalinos – adotando uma forma de substituição de importações, que também pode ser e o tem sido, uma forma de crescimento, adequada ao seu nível de desenvolvimento econômico e social: diversificação da produção das unidades econômicas básicas, na fase B do primeiro Kondratieff; diversificação da produção nacional, pela proliferação de unidades artesanais e excepcionalmente manufatureiras, voltadas para o mercado nacional, no segundo Kondratieff; aprofundamento desse movimento pela substituição de unidades pré-industriais por outras, de caráter propriamente industriais, no movimento estudado como industrialização, desencadeado na fase B do terceiro Kondratieff. Esse movimento de substituição industrial de importações, contrariamente aos seus predecessores, não se interrompeu com o advento da fase expansiva do quarto ciclo longo (1948-73) (RANGEL, 2005a, p. 698, grifo do autor).
Os ciclos longos exercem influências também na manutenção e alteração dos pactos de
poder entre as classes dirigentes brasileiras, as quais formam aquilo que Rangel identifica
como a dualidade básica da economia brasileira. Segundo o autor (1998, p.149), o poder no
Brasil é exercido por uma coalizão entre interesses de duas elites nacionais, as quais
representam interesses diversos e até complementares, em que a classe hegemônica possui
poder político e a classe subalterna, mais dinâmica, possui poder econômico. Quando os
interesses tornam-se divergentes entre as classes e no interior da classe hegemônica, há o
rompimento da dualidade, e um novo pacto de poder passa a existir com a ascensão da classe
subalterna ao poder, amadurecendo sua capacidade política e um setor dissidente e
progressista da antiga classe hegemônica passa à condição de sócio menor ou subalterno.
As respostas dadas pelo Brasil aos efeitos dos ciclos longos levaram ao
desenvolvimento no interior da economia brasileira de seu centro dinâmico próprio,
contribuíram para o surgimento dos ciclos médios ou de Juglar na economia brasileira.
A terceira dualidade engendrava um fato novo, numa economia periférica, isto é, produzia seu próprio ciclo, coisa antes prerrogativa dos países industrializados integrados no centro dinâmico. Não se tratava, por certo do ciclo longo, que é inerente ao centro dinâmico mundial, como reflexo que é dos processos de gestação e propagação de tecnologia nova, mas de ciclos médios, aparentemente da família dos ciclos de Juglar, aparentemente inerentes à fase de construção do capitalismo industrial (RANGEL, 1998, p. 165).
Os ciclos médios ou de Juglar, duram entre 8 e 11 anos, e são marcados por fases de
expansão dos negócios, seguidas de crise e anos de depressão. Rangel identificou a ocorrência
desses ciclos na economia brasileira a partir da década de 1920. São ciclos decenais
endógenos, ou seja, têm origem e abrangência nacional, apenas nos países que se
industrializaram – que internalizaram o seu centro dinâmico, que desenvolveram o seu
capitalismo industrial. Assim, os primeiros qüinqüênios de cada década, desde 1920 foram
recessivos, enquanto os qüinqüênios subseqüentes foram expansivos. Os juglarianos
33
brasileiros foram marcadamente setoriais, haja vista que estão relacionados ao processo de
substituição industrial de importações (MAMIGONIAN, 1987, p. 68).
Desde que teve início a industrialização do Brasil, esses ciclos breves se têm sucedido de regularmente. Primeiramente, foram criadas condições para a implantação da indústria leve, mas, a cada volta do parafuso cíclico, prosseguia a marcha no sentido de indústrias menos leves e, partindo da indústria de bens de consumo, no sentido geral da indústria de bens de produção. A meio caminho, tivemos as indústrias de bens duráveis de consumo, as quais são uma categoria híbrida, visto como, geralmente, são máquinas para as atividades produtivas da casa de família (RANGEL, 2005a, p. 702).
Os juglarianos brasileiros apresentam uma dinâmica expressa por Rangel, como a
dialética da capacidade ociosa. Na fase expansiva do ciclo médio, que precede a recessão, um
setor ou grupo de atividades econômicas expande-se, recebendo investimentos, criando uma
capacidade produtiva além do necessário. Durante a mesma fase expansiva, outro setor
produtivo ou conjunto de atividades revela-se estrangulada, com carência de investimentos,
por alteração na estrutura de demanda do sistema. A superação dos setores estrangulados
(antiociosos) exigirá investimentos, utilizando a capacidade ociosa do setor superinvestido,
que ao realizar a inversão levará a economia para outro período expansivo, que ao seu término
apresentará outro pólo com capacidade ociosa e um outro pólo estrangulado.
Durante a fase recessiva tenta-se superar tal problema, superação esta que só ocorre
com a mudança do aparelho de intermediação financeira, porém, encontrando resistências.
Enquanto o problema não se resolve, o Estado é chamado a intervir, orientando os fluxos
financeiros do pólo de poupança para o pólo de investimento, culminado em grave crise das
finanças públicas, cuja superação implica uma nova redistribuição das atividades econômicas
entre setores públicos e privados. Trasnferindo-se os recursos de uma área superinvestida para
uma subinvestida uma nova fase expansiva se apresenta.(RANGEL, 2005a, p. 704-5)
A industrialização brasileira se deu de forma escalonada, setor após setor. Com a
depressão do terceiro Kondratieff (1920-1948) e conseqüente diminuição do comércio
mundial e da capacidade de importar, o Brasil foi obrigado a se voltar para o mercado interno
– crescer hacia adentro – e produzir os bens que anteriormente eram importados, a saber, os
bens de consumo simples.
Para Rangel (2005a, p. 700), os ciclos endógenos conferem novo sentido aos ciclos
longos mundiais, agravando-os ou amenizando-os, colocando em evidência o papel relevante
do Estado. A revolução de 1930 é caracterizada por Mamigonian (2000, p. 47), como uma
aliança autoritário-reformista que empreenderia a modernização industrial pelo alto, a “via
prussiana” através do uso seletivo das divisas geradas pela cafeicultura paulista (e
34
posteriormente paranaense), através de políticas de transferência setorial, rompendo com a
política de sustentação do café e subsidiando a importação de máquinas e equipamentos para
as indústrias. A revolução também eliminou as resistências à acumulação capitalista tanto da
direita quanto da esquerda.
O Estado passou a incentivar as atividades industriais com medidas fiscais, tributárias
e creditícias, favorecendo a tomada de empréstimos bancários, diminuindo impostos sobre
bens de capital, favorecendo a importação de equipamentos, máquinas, matérias-primas e
insumos industriais. A partir de 1937, o Estado passa a atuar de forma direta com a criação de
empresas estatais de bens de capital e de base para o desenvolvimento industrial nacional. É
nesse contexto, que o Governo Vargas inicia em 1941 a construção da Companhia Siderúrgica
Nacional – CSN – em Volta Redonda, com capital público nacional e recursos financiados
pelo governo dos Estados Unidos, e que começou a produzir em 1946 diminuindo a
importação de ferro e aço. Seguiu-se a inauguração da Companhia Vale do Rio Doce (1942),
da Fábrica Nacional de Motores e da Companhia Nacional de Álcalis em 1943 e da
Companhia Hidrelétrica do São Francisco em 1945, concomitante ao aperfeiçoamento do
transporte marítimo de carvão e do transporte ferroviário para garantir a infra-estrutura básica
para o funcionamento dessas indústrias e garantir o desenvolvimento industrial.
Cada ciclo médio brasileiro corresponde a construção de um degrau do edifício
industrial brasileiro, através da substituição de importações: indústrias de bens de consumo
simples, materiais de construção, indústrias de base, bens de consumo duráveis, indústrias
mecânicas e química pesada. Tal processo se deu através da iniciativa privada nacional, da
participação ativa do Estado, com a criação de indústrias de base e a concessão de serviços
públicos a empresas públicas e de economia mista, e do capital estrangeiro, principalmente a
partir da década de 1950, com a substituição de importações de bens de consumos duráveis
(principalmente automóveis) (MAMIGONIAN, 1990, p. 82).
A partir de 1948, a economia mundial entra em nova fase expansiva, inaugurando o 4º
ciclo de Kondratieff cuja fase “a” se estende até 1973 (primeiro choque do petróleo). No
Brasil, o Estado se destaca como o principal investidor na indústria com recursos oriundos da
agricultura e empréstimos estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos, criando empresas
estatais em setores estratégicos como as indústrias de base e serviços públicos de infra-
estrutura (Petrobrás, CSN, Vale do Rio Doce, Eletrobrás etc.).
O período 1948-1952 é caracterizado por Bielschowsky (2000), como um período de
estabilidade econômica e política, no qual a economia brasileira apresentou taxa média de
crescimento de 7% ao ano e de crescimento industrial de 11% entre 1948 e 1950, e de 6% no
35
biênio 1951-52. Os setores industriais com maiores taxas de crescimento foram a metalurgia,
mecânica, materiais elétricos, materiais de transporte e minerais não metálicos. Em 1952 foi
criado o BNDE - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – (posteriormente
BNDES), para promover a melhoria da infra-estrutura industrial e dar suporte financeiro às
iniciativas industriais privadas nacionais, além de uma intensificação de importações de
equipamentos e matéria-prima mediante adoção de taxas variáveis de câmbio para setores
diversos. Entre 1953-55 a produção siderúrgica cresceu com vigor na CSN, o produto
industrial cresceu 9,5% ao ano, ocorreu a criação da Petrobrás e de vários fundos públicos
(impostos especiais) vinculados a investimentos em infra-estrutura, como o Fundo de
Reaparelhamento Econômico.
O período entre 1957-1962 foi de grande desenvolvimento econômico,
conjunturalmente favorável. Foi um período de grandes realizações como a construção de
Brasília, a implantação das indústrias automobilísticas no Brasil. O Plano de Metas proposto
por JK para o período de 1956-1960 continha um conjunto de 31 metas, culminando com a
meta-síntese: a construção de Brasília. Os setores de energia, transporte, siderurgia e refino de
petróleo receberam a maior parte dos investimentos do governo. Foram concedidos subsídios
e estímulos para expansão e diversificação industrial, com a produção de bens de consumo
duráveis, produção de equipamentos e insumos intensivos em capital. A produção industrial
cresceu numa média 11,2% entre 1958-1962 (RANGEL, 2005b, p. 703). Foi nesse período
que ocorreu a substituição industrial de importações de bens de consumo duráveis, vistos por
Rangel, como uma categoria híbrida entre o departamento II (bens de consumo) e o
departamento I (bens de capital). No triênio subseqüente, um período recessivo, as taxas de
crescimento industrial reduziram drasticamente, com taxas negativas de crescimento de 5%
em 1965, fruto da instabilidade política nacional e da necessidade de novas substituições de
importações, de eliminação de antiociosidades, de aumento da inflação redução de salários e
desemprego, causado principalmente pela adoção de técnicas produtivas supridoras de mão-
de-obra, ampliando o exército industrial de reserva e agravando a crise no campo.
O período compreendido entre 1968 e 1973, durante o regime militar, além de ficar
marcado pela violenta repressão e supressão dos direitos civis, também ficou marcado pelo
excelente desempenho econômico alcançado: a produção industrial cresceu cerca de 13% ao
ano e o PIB brasileiro apresentou crescimento de mais de 9% entre 1968-70 e mais de 10,5%
entre 1971-73. (RANGEL, 2005b, p. 714). A reforma bancária de 1965 criou a estrutura
básica do sistema financeiro nacional, instituindo o Banco Central e o Conselho Monetário
Nacional, e permitiu a especialização desse sistema com a divisão em financeiras, bancos
36
comerciais e bancos de investimento. Com a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro
Nacional (ORTN), foi instituída a correção monetária, o que possibilitou a convivência com
taxas elevadas de inflação durante muitos anos. O governo militar estimulou investimentos de
empresas estrangeiras em associações com empresas nacionais e com o Estado em obras de
infra-estrutura, com a construção de rodovias para integrar o território brasileiro, a construção
de usinas hidrelétricas, investiu em telecomunicações, na indústria petroquímica, estimulou a
construção civil com a criação do Sistema Financeiro da Habitação, utilizando recursos do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Entre 1970 e 1973 as exportações cresceram ao
ritmo de 40% ao ano, possibilitando o equilíbrio da balança comercial.
Paralelo ao desenvolvimento industrial brasileiro no pós-guerra – e até por exigência
do mesmo - ocorreu a integração nacional do território e dos mercados, graças à construção de
estradas de rodagem, ampliação da capacidade de armazenagem, crescimento no número de
portos, investimentos nas ferrovias (pelo menos até a década de 1970), da implantação de
redes de comunicação e da ampliação no fornecimento de energia elétrica (Complexo Paulo
Afonso em 1955, Furnas em 1963, Tucuruí e Itaipu pós-1975) e saneamento. (SANTOS;
SILVEIRA, 2003).
A pavimentação dos principais eixos rodoviários se deu entre 1950-1970. Data desse
período também a construção de Brasília (1957-1960) que, segundo os autores em tela:
Foi um passo importante, pois a rede de estradas, indispensáveis à afirmação do Estado sobre o conjunto do território, também era imprescindível para a expansão do consumo do que era produzido internamente. Aliás, a própria construção de Brasília teria sido impossível se a indústria já não se houvesse desenvolvido em São Paulo. Como resultado, cada um desses movimentos reforça os demais, e enquanto a economia e a sociedade se renovam, levando o país a crises políticas sucessivas, as bases materiais também se transformam, mediante a possibilidade de circular mais depressa e através de uma superfície muito maior que no período anterior. (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p.45-6).
A partir dos anos 1970 “impõe-se um movimento de desconcentração da produção
industrial”, concentrada, sobretudo em São Paulo, como manifestação do “desdobramento da
divisão territorial do trabalho no Brasil”. Entre 1970 e 1980 o número de estabelecimentos
industriais no Brasil cresceu 184,52%, enquanto o valor da transformação industrial aumentou
537,7% e o pessoal ocupado 98,39%.(SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 106)
A produção industrial torna-se mais complexa, estendendo-se, sobretudo para novas áreas do Sul e para alguns pontos do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte (Manaus). Paralelamente, as áreas industriais já consolidadas ganham dinamismos diferentes dos que definiram a industrialização em períodos anteriores. (SANTOS; SILVEIRA, 2003. p.106)
37
Os “milagres” econômicos brasileiros correspondem a coincidências entre as fases
ascendentes do ciclo longo mundial e dos juglarianos brasileiros.
A fase A do ciclo breve da década de 1960 (geralmente essas fases ocorrem no segundo lustro do decênio) coincidiu com a etapa final da fase ascendente do ciclo longo e não é improvável que esse fato tenha gravitado sobre o nosso ciclo breve, retardando por alguns anos a passagem da fase A para a fase B (o notório milagre do Delfim). Assim, a fase B ou recessiva do nosso ciclo endógeno na década de 1970 foi não apenas mais curta, como mais amena. (RANGEL, 2005b, p. 431)
A partir de 1973 a economia mundial adentra a fase “b” do 4º Kondratieff, ou seja, um
período recessivo mundial. Entre 1974 e 1979, durante o Governo Geisel, o Brasil apresenta
em plena crise mundial (entremeada pelos choques do petróleo de 1973 e 1979), um
crescimento industrial significativo, com o coroamento do edifício industrial, pela indústria
pesada, através de endividamento externo (as taxas de juros eram baixas, pela grande oferta
de petrodólares pelos bancos norte-americanos e europeus), ampliando sua participação na
DIT. Tal período ficou conhecido como “marcha forçada”.
Entre 1938 e 1980 a produção industrial brasileira cresceu cerca de 26 vezes enquanto
a produção industrial japonesa cresceu 14 vezes e a mexicana 12 vezes. “Nenhuma outra
economia capitalista apresenta desempenho comparável” (RANGEL, 2005b, p. 431).
Faz-se aqui um novo recorte têmporo-espacial necessário para entender a
industrialização da região Sul do Brasil, do Paraná especificamente e, entender o que
acontecia no Paraná enquanto o país se industrializava.
Silva (2006) analisa o processo de industrialização da região Sul em função
principalmente da pequena produção mercantil e subdivide tal processo em três fases
distintas:
A primeira delas, correspondente ao período que vai do último quartel do século XIX a I Guerra Mundial, se caracterizou pela gênese industrial propriamente, a formação de economias externas de aglomeração ligadas às infra-estruturas, e as precoces economias internas de escalas, formadas (ao final do período) por firmas que se habilitavam a concorrer no mercado nacional. A segunda fase dizendo respeito ao período do entre Guerras, marca a expansão da indústria leve e os primeiros passos da indústria metal-mecânica. A terceira, concernente ao pós II Grande Guerra, é consoante com a abertura das economias regionais, o crescimento industrial do tipo bola de neve, e a efetiva emergência de políticas públicas voltadas para o apoio ao capital industrial. (SILVA, 2006, p.57).
O Paraná era em 1960 o menos industrializado dos Estados sulinos e o 2º maior
importador nacional de produtos manufaturados paulistas. Até a década de 1930 as indústrias
paranaenses estavam ligadas a atividades extrativas de recursos naturais como a erva-mate e a
madeira. As indústrias localizavam-se nos arredores de Curitiba e Paranaguá. Entre 1939 e
38
1949, o Paraná apresentou um crescimento industrial em função da ocupação do Norte do
Estado e das atividades de beneficiamento do café. As demais regiões não apresentavam
indústrias dinâmicas e o Estado apresentava condições de transporte e energia precárias. A
indústria paranaense até então era rudimentar e pautada apenas no beneficiamento agrícola e
na extração vegetal, importando artigos manufaturados de São Paulo. (BRAGUETO, 1999).
Até a década de 1950 o território paranaense não havia sido totalmente ocupado,
povoado e incorporado à produção. Desde o início do século XX, inúmeras concessões de
terras no Norte do Paraná haviam sido feitas para fins de colonização dirigida. A maior dessas
concessões foi feita para a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), de capital inglês. A
oferta de pequenas propriedades rurais, com facilidades de financiamento e a criação de
inúmeros centros urbanos para dar suporte à produção rural, possibilitou a concretização da
pequena produção mercantil no norte do Paraná. As famílias produziam café (produto
destinado à exportação), gêneros alimentícios (as culturas intercalares), destinados ao
abastecimento local e regional, e matéria-prima para as indústrias localizadas em São Paulo.
(FRESCA, 2004a).
Para a autora em tela, a estruturação da rede urbana norte-paranaense, vinculava-se ao
sistema de transporte, cuja existência era vital para uma “economia orientada para o mercado
e desenvolvida sob a forma de pequena produção mercantil” (2004a, p. 64). Assim, em 1960
predominavam nos centros urbanos da rede o comércio varejista (de capital local) para
abastecer a população rural, o qual era abastecido por atacadistas de Londrina e Maringá ou
por indústrias paulistas (FRESCA, 2004a, p.70).
Fresca (2004b, p.2) afirma que a industrialização norte-paranaense até os anos 1960
era praticamente inexistente em virtude do processo de ocupação do território paranaense e a
efetiva incorporação de terras à produção se concluir no final dos anos 1950. Destaca, no
entanto, a existência de iniciativas industriais locais, com a presença de inúmeras unidades
produtivas artesanais e industriais para atendimento de necessidades imediatas da população
ou que não eram importadas de São Paulo, em razão dos custos.
Havia uma industrialização assentada em pequenas unidades, de capital local atrelada à agricultura, ao aproveitamento de recursos naturais e a outros produtos, visando ao abastecimento do mercado local e regional. Mas foi a presença de grandes grupos paulistas, que se expandiram para o norte do Paraná, desde a década de 1930, montando filiais para atendimento dos consumidores, que relativizou a emergência de empresas industriais de maior importância. (FRESCA, 2004a, p. 77-8)
39
Os estabelecimentos industriais presentes nas cidades da rede urbana norte-paranaense
eram, predominantemente, indústrias alimentícias (43%), indústrias de minerais não-metálicos
(15,87%), indústrias de madeira (14,47%), indústrias de mobiliário (8,27%) e indústrias de
bebidas (3,2%). Os municípios que possuíam os maiores números de estabelecimentos
industriais eram Londrina, Maringá, Campo Mourão, Apucarana, Arapongas, Cornélio
Procópio, Cianorte, Jacarezinho entre outras (FRESCA, 2004a, p.75).
O sistema bancário não só se fazia presente como era “elo crucial do caráter dinâmico
da rede urbana” (FRESCA, 2004a, p. 81). O excedente econômico era drenado pela diferença
de preço entre produtos primários paranaenses e manufaturados de São Paulo e aplicados em
investimentos em áreas mais industrializadas (parte da renda cafeeira era retida pelo Governo
Federal para tais investimentos) (FRESCA, 2004a, p 77).
É importante destacar que a rede norte-paranaense possuía vínculos mais fortes com
São Paulo do que com o “Paraná Tradicional”, ou seja, com Curitiba e o Sul do Estado, pela
ausência de redes de transportes tão eficientes entre o norte e o sul do Estado, quanto às que
existiam entre o Norte do Estado e São Paulo. Isso porque o Paraná era um Estado
territorialmente não integrado, existindo três formações sócio-espaciais distintas: o Paraná
Tradicional onde predominavam o latifúndio, a pecuária e o extrativismo; o Sudoeste onde
predominava a pequena produção mercantil de cereais e de suínos; e o Norte do Paraná onde
predominava a pequena produção mercantil de cereais e a cafeicultura. O poder político era
exercido hegemonicamente por grupos latifundiários do Paraná Tradicional, “enquanto a
pequena produção mercantil do Norte do Estado ocupava posição muito marginal” (FRESCA,
2004b, p. 3).
A partir da década de 1960, o Norte do Paraná passou por significativas alterações
produtivas “inseridas nas freqüentes mudanças na divisão territorial e internacional do
trabalho, tanto em âmbito nacional como paranaense” (FRESCA, 2004a, p. 167). Foi nesse
período:
Que emergiu com mais vigor a consciência política de eminentes crises locais face as sucessivas alterações na cafeicultura, tanto pelo esgotamento das frentes pioneiras como pela perda dentre outros, de obtenção de impostos; [...] a consciência de que as rendas geradas no Estado eram duplamente escoadas para São Paulo, por inversão em outros locais e extração das rendas via bancos extra-regionais e por consumo; [...] e emergia internamente ao poder estatal paranaense, a busca de alternativas de romper com o empobrecimento relativo que o Estado sofria – na percepção do executivo e dos políticos – por ter na divisão territorial do trabalho papel de ser unicamente agrícola, quando em nível nacional destacava-se a industrialização como sinônimo de desenvolvimento. (FRESCA, 2004b, p. 3).
40
Assim, o poder Executivo paranaense elaborou um projeto de desenvolvimento
pautado na “industrialização via substituição de importações”. Chamado de “modelo
paranaense” tal projeto representava a assunção efetiva pelo Estado, de suas funções como
promotor do desenvolvimento, numa conjuntura nacional de perda de ritmo de crescimento
(1962-1967), o qual procurava repetir processos que ocorreram no Brasil, adotando medidas
em direção à industrialização do Paraná. (FRESCA, 2004a, p. 169-70).
Para executar e alcançar o objetivo de industrialização do Estado, foi criada a
CODEPAR – Companhia de Desenvolvimento do Paraná – que funcionaria com recursos do
Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE). A Codepar deveria desempenhar três papéis:
“dotar o Estado de infra-estrutura, viabilizar a implantação de indústrias e gerar projetos de
desenvolvimento específico, a partir do conhecimento da realidade local” (AUGUSTO apud
FRESCA, 2004a, p. 171). Para gerar condições à produção e reprodução do capital, o Estado
criou sociedades de economias mistas como a Copel, a Fundepar, Sanepar, Telepar, Celepar e
Cohapar entre 1962 e 1965.
Os recursos da Codepar privilegiaram as pequenas empresas apenas no primeiro ano,
havendo um predomínio ao financiamento de grandes empresas de forma crescente
principalmente após 1967 (BRAGUETO, 1999). Para se adequar ao processo de expansão
industrial em curso na economia brasileira, o projeto da Codepar foi “direcionado para o
grande capital de qualquer origem, em detrimento do pequeno e médio capital local e se
deslocou da substituição de importações para a tese da complementaridade na ótica da divisão
territorial do trabalho em nível nacional”, principalmente a partir de 1968 quando a Codepar
foi transformada em Banco de Desenvolvimento do Paraná (BADEP) e a forma de atuação
estatal passou a ser feita predominantemente pelo sistema financeiro.(FRESCA, 2004a, p.
172).
Foi possível ao Estado, através da Codepar, cumprir alguns objetivos: integrar o
território com a pavimentação das principais rodovias estaduais e oferecer energia elétrica
através da Copel. As medidas institucionais adotadas pelo Governo do Paraná para superar
uma crise “foram pensadas por um caminho e implantadas por outro”. A “integração maior do
Estado à economia nacional não se deu pela industrialização, mas por uma
agoindustrialização extremamente articulada a demandas do país e do mercado internacional a
partir da década de 1960” (FRESCA, 2004a, p. 173), efetivada na década seguinte com a
modernização agropecuária concretizada no Paraná. Essa modernização corresponde à
racionalização da agricultura, com a erradicação programada da cafeicultura após sucessivas
crises de superprodução e a introdução de culturas a base de máquinas e insumos; a alterações
41
nas relações de trabalho no campo, com a eliminação de postos de trabalhos, intensificação da
urbanização e crescimento da demanda por produtos agrícolas e; a subordinação da
agricultura à lógica do capital industrial com a conseqüente industrialização da agricultura.
(FRESCA, 2004a, p. 173-83).
O processo de industrialização paranaense avançou após 1960 a partir de uma nova
inserção na divisão territorial do trabalho em nível nacional. No período 1968-1977, o Paraná
apresentou forte dinamismo econômico com elevadas taxas de crescimento. A partir de 1976,
o setor industrial passou a ter predomínio sobre a agropecuária na composição da renda
interna estadual. Essa expansão se deve principalmente ao crescimento das agroindústrias,
com destaque para o processamento da soja e do trigo, da pecuária (carne e leite), do café
solúvel, sucro-alcooleiro etc., através das cooperativas de produtores rurais e de empresas
locais de iniciativa privada.(FRESCA, 2004a, p. 200-1).
Após o “milagre brasileiro” (1968-73), quando iniciou-se uma fase recessiva mundial
(fase b do 4º Kondratieff), o Paraná continuou a crescer vinculado às iniciativas industriais
espalhadas por todo o Estado, como o início de operação da Cidade Industrial de Curitiba
(com recursos do BADEP, financiando principalmente unidades de capital estrangeiro e
nacional de outros Estados), a construção da Refinaria da Petrobrás em Araucária, o
crescimento da construção civil, da indústria química, de material de transporte, de
comunicação, de material elétrico, indústria mecânica e metalúrgica, as iniciativas de capital
local em ramos da indústria tradicional no interior do Estado, com destaque para o setor
confeccionista em Cianorte, Apucarana, Maringá e Londrina, o setor moveleiro em
Arapongas e agroindustrial sucro-alcooleiro, avícola, de mandioca e derivados, de moagem de
grãos produzindo óleos e cremes vegetais, de moagem de milho, de laticínios, de torrefação
de café, fiação de algodão e seda etc. dispersas por todo interior do Estado (FRESCA, 2004a,
p.204-7).
A autora identifica semelhanças entre a gênese e a expansão de atividades industriais
(especializadas) em Arapongas, Cianorte e Apucarana. Observou o desenvolvimento de um
setor moveleiro, de um setor de confecções de blusas, vestidos, jeans, e de uma produção
confeccionista de bonés e camisetas, respectivamente. As iniciativas eram locais, com
transferência de recursos de atividades de pequena produção mercantil, rurais e urbanas, para
as atividades industriais nascentes, de forma artesanal, como a reforma de móveis, ou
produção de bonés com motivos esportivos para a venda na porta dos estádios em dias de
jogos. A expansão da produção e do número de estabelecimentos e empregados conformando
setores significativos se deu mediante um processo denominado pela autora de “contato
42
próximo”. Ou seja, “a partir da criação e expansão de algumas empresas, visíveis
empiricamente pela contratação de novos empregados, aumento da produção, enriquecimento
do proprietário, outras pessoas ligadas ou não a esta atividade, passaram a fundar indústrias”
(FRESCA, 2004b, p. 5), seja pelo caminho da separação de sociedades, pela iniciativa de
funcionários com experiência no ramo, ou por outros profissionais que estivessem procurando
um novo investimento. E essa gênese ocorreu em períodos recessivos em nível nacional
(meados dos anos 1960) e mundial (pós –1973).
O ingresso numa fase recessiva mundial inaugurada em 1973 e agravada a partir de 1980, não implicou apenas em desmonte ou não emersão de outras atividades produtivas, muito pelo contrário, no norte do Estado a força e a dinâmica da pequena produção mercantil arrefeceu os impactos da crise longa recessiva e curtas, vinculadas respectivamente ao 4º Kondratieff e Juglarismos brasileiros. (FRESCA, 2004b, p. 5).
No contexto brasileiro, a partir de 1980, segundo Rangel (2005b, p.431):
Teve início a fase recessiva do ciclo breve endógeno, e isso nas condições da persistência da fase recessiva do ciclo longo, que é exógeno, do ponto de vista brasileiro, visto como é um fenômeno de alcance mundial. Dificilmente poderemos encontrar em toda a nossa história econômica um período tão depressivo como o triênio 1980-83. Este foi um período recessivo em todo o mundo.
A década de 1980, que ficou conhecida como “a década perdida”, pelos baixos índices
de crescimento da economia nacional (crescimento do PIB no período de 16,8% e
crescimento industrial de 2,6%, segundo Araújo Jr, (2003, p. 49)), foi marcada pela
ineficiência estatal para gerar novas áreas de investimentos para setores carregados de
capacidade ociosa, como a indústria pesada, de bens de capital. Entre 1981-83, o país
apresentou uma forte recessão industrial, apresentando uma leve melhoria entre 1984-86,
aprofundando numa recessão de 1987-89, fruto de medidas político-econômicas equivocadas,
para conter a inflação. A partir de 1988 houve queda do número de empregos em
praticamente todos os gêneros da indústria de transformação.
A coincidência de períodos de crise dos ciclos longos e curtos gerou a recessão de
1980-84. Houve o agravamento da questão agrária em função da indústria e a agricultura
tornarem-se atividades poupadoras de mão-de-obra, resultando numa produção
“superdimensionada de um exército industrial de reserva” (RANGEL, 1998, p. 168). A crise
do comércio exterior com endividamento externo, para a substituição de importação do
Departamento I, e a ineficiência estatal em criar um aparelho de intermediação financeira que
viabilizasse a utilização da poupança gerada nos setores ociosos em investimentos nos setores
43
antiociosos ou estrangulados (notadamente os serviços de utilidade pública e infra-estruturais)
(RANGEL, 1998, p. 167), contribuíram para o prolongamento da crise por toda a década.
Embora o Paraná acompanhasse as grandes tendências verificadas para o Brasil, teve
reduzido os impactos da fase recessiva por continuar tendo na agropecuária e na agroindústria
a predominância produtiva e de geração de rendas (FRESCA, 2004a, p. 207). Segundo a
autora em tela:
Os municípios do norte do Paraná, que têm sua dinâmica geral atrelada à agropecuária, agroindústria e ramos industriais classificados como tradicionais – confecções, mobiliário, bebidas, outros alimentos, etc. – viram reduzidas suas participações no valor adicionado da indústria paranaense. Em 1975, concentravam 33% do valor adicionado do Estado; em 1980, 20,7%, em 1985, com 27,6% - liderado pelas inversões em suas agroindústrias – e 22,6% em 1990 (p.212).
Assim, o desempenho satisfatório do PIB paranaense na década de 1980 deve-se
apenas a alguns setores e não à economia como um todo. Segundo dados do IPARDES (2002)
o Paraná em 1985 era responsável por 4,3% da transformação industrial nacional, 5,3% em
1996 e 5,7% em 2000. Houve um forte crescimento da base industrial entre 1985 e 1990, com
a expansão de unidades de pequeno porte, com baixa escala de produção e menores índices de
eficiência. Em 1985 as empresas de pequeno porte representavam 25% da estrutura industrial
estadual. Em 1990 representavam 80%. Em meados da década de 1980 consolida-se no
Estado um núcleo de indústrias de bens de capital e insumos para energia elétrica e
intensifica-se o desempenho das cadeias agroalimentares e madeireira. A estrutura industrial
estadual encontrava-se em 1985, concentrada em poucos ramos: 42% na indústria tradicional
(beneficiamento de grãos, óleos e gorduras vegetais), 42% no grupo Fornecedor (com
destaque para a petroquímica), e 15% no Grupo tecnológico (eletroeletrônico,
telecomunicações e transporte). Em 1990 havia diminuído a participação do setor tradicional
na estrutura industrial paranaense (29,7%) e aumentado a participação do grupo tecnológico
(24%) e do grupo fornecedor (45,5%). (IPARDES, 2002, P.15-8). Entre 1990 e 1995 ocorreu
um período de estagnação, reflexo da recessão da economia nacional em função das
transformações ocorridas com a abertura comercial iniciada pelo governo Collor e
prosseguida nos dois mandatos de FHC.
A partir dos anos 1990 foram tomadas, em nível nacional, medidas de abertura e
liberalização econômica, visando “tornar as empresas nacionais mais competitivas no
mercado internacional” e “montar uma estrutura industrial e econômica que incentivasse a
indústria nacional para competir em igualdade com as indústrias estrangeiras” (ARAÚJO JR,
44
2003, p. 26), numa clara inspiração neoliberal, pautada no discurso da globalização como algo
moderno, irreversível e irresistível, e que prega o enfraquecimento do Estado. Tais medidas
levam o país a uma reinserção passiva na DIT no bojo da terceira revolução industrial. Na
década de 1990 o PIB cresceu 23,2% e a indústria de transformação cresceu 22,3% (ARAÚJO
JR, 2003, p.49).
Os anos 1990 são marcados por políticas macroeconômicas de curto prazo, como a
política de importação em 1990 que servia como instrumento para combate a inflação, em que
os preços estrangeiros mais atraentes que a indústria nacional estimulavam a redução de
preços. Araújo Jr (2003, p. 54-6) analisa as conseqüências da abertura comercial empreendida
pelo governo Collor em 1990. Como efeitos positivos, o autor ressalta a elevação da
produtividade, da qualidade dos produtos dos setores e empresas sobreviventes, uma maior
desverticalização e especialização de produção e de produtos. Como fatores negativos destaca
a velocidade excessiva de implantação (quando na realidade deveria ser feita de forma
planejada, lenta e gradual e não de forma indiscriminada como ocorreu), “levou a uma
política de comércio exterior que só prejudicou as empresas e os interesses nacionais” ao não
priorizar a produção e o mercado interno, a elevação do custo de capital de investimento para
indústrias nacionais e o aumento da participação do capital estrangeiro no mercado interno.
Assim, segundo o referido autor, o Brasil passa a ser industrialmente e comercialmente
menos atuante na DIT do que foi na década de 1980, e sua inserção se dá de forma
desequilibrada, aumentando as importações e diminuindo as exportações. Os juros altos e o
câmbio sobrevalorizado, adotados a partir de 1994 como medidas de estabilização, deprimiu a
competitividade da indústria brasileira. A participação dos produtos primários na composição
das exportações passou de 33,5% em 1992 para 38,2% em 1997.
A abertura comercial comprometeu o desempenho das empresas nacionais e tornou o país grande importador de produtos e serviços em praticamente todas as esferas da produção. Nesse sentido, houve uma grande desnacionalização de componentes que antes eram fabricados no país (ARAÚJO JR, 2003, p. 63).
Houve ainda uma grande desnacionalização patrimonial sem a criação de capacidade
produtiva adicional, com um intenso processo de aquisições e fusões intensificadas a partir de
meado da década de 1990. “A política econômica adotada pelo Brasil nesta última década,
contraria uma tendência mundial de proteção e incentivo às empresas nacionais dos principais
países industrializados” (ARAÚJO JR, 2003, p. 69).
45
Com relação à geração de empregos, a indústria nacional não conseguiu gerar novos
empregos, mantendo os mesmos níveis de empregabilidade e as taxas de emprego tenderam a
diminuir em graus muito superiores que os níveis de produção. No entanto, a produtividade
por empregado na indústria aumentou a partir de 1991, mas os ganhos de produtividade não
foram repassados aos trabalhadores e a participação dos salários no PIB caiu de 45% para
35% entre 1990 e 1999. As iniciativas para melhorar a competitividade por parte das
empresas restringiram-se a reduzir custos (com corte de mão-de-obra, de horas extras) e a
desativar plantas industriais, uma vez que “a questão primordial era a sobrevivência, e não
uma estratégia de competição e melhoria geral dos métodos de produção” (ARAÚJO JR,
2003, p. 76). Pela concorrência externa (de produtos e/ou de processos de produção), as
empresas nacionais passaram por enxugamento em seus quadros, racionalização de métodos
produtivos, aumento do número de equipamentos computadorizados e otimização de técnicas
organizacionais (just in time, kanban) e outras formas de organização industrial e
administrativa. (ARAÚJO JR, 2003, p.76)
A abertura do início dos anos 90 aumentou o desemprego estrutural e o desemprego
tecnológico (falta de capacitação). Intensificou-se a terceirização, ou seja, a contratação de
outras empresas para fornecimentos de insumos e peças, para a realização de etapas do
processo produtivo e realização de serviços como limpeza, alimentação etc. A sua utilização
possibilitou ganhos de produção com a redução de encargos trabalhistas, controle de estoques,
agilidade no transporte, possibilitou a transformação de custos fixos (investimentos) em
variáveis (compras). As empresas contratantes diminuíram o número de processos produtivos,
reduziram os custos e melhoraram a qualidade de seus produtos mediante fiscalização de
fornecedores. Concomitantemente aumentou o controle sobre a força de trabalho, pioraram as
condições de trabalho em setores com pouca organização trabalhista (ARAÚJO JR, 2003, p.
83).
O autor em tela apresenta dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (IEDI) relativos à participação do setor industrial na composição do PIB brasileiro
entre 1947 e 1997. No período 1947-1954 tal participação oscilou entre 18 e 21%,
apresentando em 1952 o menor índice histórico. Entre 1955 e 1961 houve um crescimento
contínuo, passando de 21% em 1955 para 28% em 1961. O período entre 1962 e 1967
apresenta uma certa estabilidade em torno dos 26%. Já no período subseqüente (1968-1974),
correspondente ao “milagre brasileiro” ou “milagre do Delfim” nos termos de Rangel (2005a),
a participação industrial no PIB apresentou um crescimento expressivo e contínuo, passando
de 28% para 34% (maior participação histórica) ao fim desse período. Entre 1975 e 1984 a
46
participação permanece nos patamares acima de 31%, atingindo novamente em 1985 o índice
mais alto (34%). Desde então a participação industrial no PIB brasileiro vem caindo, de forma
suave até 1990 (-3%), e de forma acentuada (-8%) até 1996 atingindo o índice mais baixo
desde 1957, no início do governo JK (22%). Em 2005 a composição do PIB em função do
valor adicionado é a seguinte: agropecuária 8,4%, indústria 40% e serviços 57%.
Segundo Fresca (2004a, p. 214-5), em 1993 e 1994 o PIB paranaense teve um
desempenho positivo com o início da integração nacional e do Paraná com os países do
Mercosul, quando aumentaram as exportações estaduais, principalmente agroindustriais e
metal-mecânicas. Entre 1991 e 1994 ocorreu aumento da produção industrial nos setores de
materiais de transporte, mecânico, do vestuário, calçadista, de artefatos de tecido e
alimentício. A partir de 1994, o Paraná iniciou nova fase de crescimento, beneficiado pelo
aumento do consumo de bens não duráveis e alimentícios com a implantação do plano real,
com destaque para a agropecuária e as agroindústrias – de grupos privados, como a avícola
Big Frango de Rolândia, e cooperativas agroindustriais verticalizadas (concentradas,
sobretudo no Norte e Oeste do Paraná) – e a conformação do parque automobilístico e de
autopeças (fornecedoras não nacionais das montadoras) na Região Metropolitana de Curitiba,
o qual, fruto de forte financiamento estatal e isenções fiscais, contribuiu para a concentração
dos investimentos em nível estadual e para o aumento da participação do capital estrangeiro
na indústria paranaense.
O governo estadual sob a administração de Jaime Lerner (1995-2002) implantou uma
política de redução da participação do Estado na economia, em compasso com a política
nacional do governo FHC para o mesmo período, mediante realização de privatizações
equivocadas, como a do Banco do Estado do Paraná (Banestado), e dos principais eixos
rodoviários do Paraná (“Anel de Integração”), cujos contratos de concessão para um prazo de
25 anos, não prevêem um cronograma de investimentos nem o controle da tarifas pelo poder
concedente, no caso o Estado do Paraná. É nesse contexto neoliberal, que ocorre a ampliação
do Parque Automotivo do Paraná, com investimentos concentrados na Região Metropolitana
de Curitiba (a Volvo encontrava-se instalada desde 1977, na Cidade Industrial de Curitiba).
Após disputas entre vários Estados brasileiros, numa verdadeira guerra fiscal, o Governo do
Paraná cedeu terrenos, isenção de impostos, e infra-estrutura para a instalação das montadoras
Chrysler (Campo Largo), Renault e Audi/Volkswagen (ambas em São José dos Pinhais), entre
1997 e 1999.
Houve ainda um grande número de falências, fusões e aquisições de empresas, por
empresas estrangeiras e nacionais de outros Estados, bem como uma reestruturação e
47
concentração de capital das cooperativas agroindustriais do Estado do Paraná, como a
Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar), Cooperativa
Agropecuária Mourãoense (Coamo) e Cooperativa Agroindustrial de Rolândia (Corol), e
transferência de unidades produtivas para o Paraná, provindas predominantemente de São
Paulo, num processo de desconcentração industrial, como as empresas Dixie Toga e
Elevadores Atlas Schindler, instaladas na cidade de Londrina em 1998.
Os anos de 1990 marcam importante momento para a industrialização norte-paranaense ligada tanto ao processo de transferência industrial como de busca de estratégias por parte dos setores consolidados para fazerem frente aos problemas oriundos das macro políticas em nível federal que afetaram diretamente esta produção (FRESCA, 2004b, p. 6).
A rede urbana norte-paranaense, composta em 1997 por 203 cidades, passou por uma
complexificação, vinculada à intensificação e ao adensamento de processos produtivos, de
circulação, distribuição e consumo (FRESCA, 2004a, p. 240). Assim, duas vertentes
explicativas permitem dar conta da dinâmica industrial do Estado do Paraná, mais
especificamente para o interior e o norte do Estado: o processo já mencionado de
transferência industrial de unidades produtivas, principalmente de São Paulo e implantação de
unidades produtivas de empresas estrangeiras, como a farmacêutica Hexal do Brasil em
Cambé, caracterizadas por concentrarem em setores intensivos em capital; e o processo de
consolidação e expansão das iniciativas locais e regionais, mais importantes do ponto de vista
local-regional pelo número de estabelecimentos e de empregos gerados, por concentrarem-se
principalmente em setores intensivos em mão-de-obra.
Diversas cidades especializaram em determinadas produções industriais como
Arapongas - mobiliário, Cianorte - confecções, Maringá - confecções, Apucarana - bonés,
Jaguapitã - mesas de bilhar. A ação dos agentes locais, com acúmulo de certa quantia de
dinheiro e, que mesmo em conjunturas de crise mundial e nacional, resolveram investir em
determinadas produções de forma artesanal, domésticas, acabaram tendo sucesso. Cresceram,
contribuíram para a difusão de certos processos produtivos, para a especialização produtiva,
fundamental para a ampliação da produção industrial no Paraná, no bojo do processo de
industrialização brasileiro.
As transformações produtivas que atingiram o país após 1990, forçaram as empresas
locais a se adequarem a um mercado mais competitivo, implementando inovações, alterando
seus sistemas produtivos para encarar a concorrência estrangeira. Como uma dessas
estratégias surge a cooperação entre empresas do mesmo ramo, beneficiadas pelas economias
48
geradas pela aglomeração de estabelecimentos em determinadas porções do território
paranaense. A concentração espacial de produções específicas, a cooperação entre os agentes
locais e institutos de pesquisa, Governos Municipais, Estadual e Federal e entidades públicas
e privadas permite a conformação de Arranjos Produtivos Locais, os APLs.
APL é o termo que se usa para definir uma aglomeração de empresas com a mesma especialização produtiva e que se localiza em um mesmo espaço geográfico. Os APLs mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si, contando também com apoio de instituições locais como Governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa. (IEL, 2006).
O mapa 02 a seguir permite identificar alguns desses arranjos produtivos locais
institucionalizados a partir de 2003 no Estado do Paraná. O desempenho dos principais ramos
industriais de Apucarana, em termos de empregabilidade e de estabelecimentos, ao longo dos
processos até aqui discutidos será analisado no capítulo seguinte.
Mapa 02 – ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS DO PARANÁ.
Fonte: IEL, 2006.
3 - A INDUSTRIALIZAÇÃO DE APUCARANA: EM DIREÇÃO À
ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA
A análise dos dados do Ministério do Trabalho e Emprego sobre as indústrias de
Apucarana permitiu identificar quatro setores principais, representativos em termos de pessoal
ocupado e também em número de estabelecimentos. São setores caracterizados pelo uso
intensivo de mão-de-obra e, cujas origens se deram através de iniciativas locais.
Embora outros setores demonstrem ampliação no número de empregos e de
estabelecimentos, como a indústria do mobiliário e de artefatos plásticos, não são os mais
significativos. Por isso optou-se em analisar os setores de confecções e artigos de vestuário,
com destaque para os uniformes profissionais e para a cadeia produtiva do boné, incluídas aí a
produção de camisetas promocionais, porta-cds, chapéus, além de indústrias fornecedoras de
tintas, aviamentos e de equipamentos especializados; o setor alimentício com destaque para as
indústrias processadoras de milho e indústrias de rações animais; o setor de curtimento e
preparação do couro e de calçados e artefatos de couro; e o setor têxtil com a produção de fios
de algodão, tecidos e malhas.
Além dos dados do MTE/RAIS (BRASIL, 1985-2004) para cada setor industrial
analisado, o levantamento de dados relativos ao desenvolvimento de cada setor em
Apucarana, à história de cada empresa e às interações realizadas pelas empresas deu-se
através da realização de entrevistas com empresários, funcionários de empresas e
representantes de entidades empresariais.
3.1 – CONFECÇÃO DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS
A indústria do vestuário é seguramente a atividade industrial mais importante do
município de Apucarana. O setor confeccionista é o maior empregador do município com
5.413 empregos em 2004 (ou 49% dos empregos formais na indústria), além de ser o maior
setor industrial em termos de estabelecimentos, com 45% dos estabelecimentos, com o
predomínio de pequenas e médias empresas.
A evolução comparativa dos estabelecimentos industriais do setor do vestuário com o
total de estabelecimentos da indústria de transformação de Apucarana, permite verificar que
ambos têm a mesma simetria, conforme gráfico 08.
Isto significa que do total de indústrias de transformação, o gênero com maior
representatividade é o de confecção e artigos do vestuário e sendo assim, as oscilações que
50
ocorrem neste gênero afetam diretamente o total de estabelecimentos. Outro ponto importante
é a evolução sempre positiva do número de estabelecimentos de confecção e artigos do
vestuário no período considerado, passando de 28 em 1985 para 281 em 2004, um
crescimento de 903%.
Gráfico 08 – Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de confecção de vestuário e acessórios em
Apucarana: 1985-2004 28 39 61
113 162 2
22 272
281
0
100
200
300
400
500
600
700
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Indústria do vestuário e acessórios*
Industria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004.
* Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.
O mesmo padrão evolutivo pode ser observado para o número de trabalhadores total
na indústria de transformação e no gênero de confecção e artigos do vestuário entre 1985-
2004, conforme gráfico 09. Observa-se que todas as oscilações que ocorreram neste gênero
afetaram diretamente a evolução do total de trabalhadores, já que o primeiro representa cerca
de 50% do total de trabalhadores da indústria em Apucarana.
Embora o setor confeccionista seja diversificado, com a produção de uniformes
profissionais, camisas, camisetas, jeans, toucas, agasalhos, luvas, chapéus, bonés, além de
bolsas e porta cds entre outros produtos, Apucarana tornou-se uma cidade especializada na
produção de bonés e conhecida nacionalmente por essa produção.
A gênese dessa produção ocorreu “[...] no bojo dos processos de transformações que
afetaram a agropecuária norte-paranaense nos anos 1960-1970” (FRESCA, 2005, p. 5557), a
saber a modernização e diversificação da agricultura paranaense, concentração fundiária,
51
esvaziamento demográfico do campo e aumento da urbanização e concentração populacional
nas cidades principais da rede urbana norte-paranaense.
Gráfico 09 – Evolução do pessoal ocupado no setor de confecção de vestuário e acessórios em Apucarana:
1985-2004
1025
1455
1269 2578
2321 3518
4452
5413
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Indústria do vestuário e acessórios*
Industria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004. * Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.
A produção de bonés em Apucarana iniciou-se mediante a ação de Jaime Ramos, de
origem urbana, que fabricava artesanalmente chaveiros em acrílico, flâmulas, tiaras, viseiras,
chapéus e bonés com emblemas de times de futebol e que, juntamente com familiares e
amigos comercializava na porta dos estádios em dias de jogos. Devido ao sucesso, em 1974
fundou a empresa Jaime Ramos Ltda, juntamente com um sócio local, que funcionava em sua
residência, empregando 08 funcionários, produzindo bonés “stander” ou “bonés-de-pintor”,
com máquinas de costura usadas e de uso doméstico. O conhecimento sobre o processo de
produção, corte e montagem do boné, foi adquirido através do desmonte do boné e da cópia
de suas partes em tecido.
Os negócios expandiram-se e em 1978 desfez-se a sociedade com o antigo sócio (o
qual montou uma facção de calças jeans), e foi fundada a Cotton’s Bonés, que segundo Fresca
(2005) expandiu a produção mediante ingresso de um sócio de origem nipo-brasileira e
comerciante de produtos agropecuários, passando a produzir bonés promocionais.
O rompimento da sociedade permitiu a formação de novas empresas com outros sócios e repetidamente a criação de outras unidades confeccionistas de bonés. (...) o contato próximo
52
gerou a perspectiva de criações de outras unidades produtivas: pelo caminho da separação de sociedades; funcionários com experiências no ramo vinculados aos mesmos – viajantes, representantes comerciais, profissionais outros que a partir do acúmulo de certo capital ingressam na produção de bonés. A fundação de indústrias prosseguiu em Apucarana ao longo dos anos 1980 e 1990, conformando um setor especializado na produção de bonés promocionais que futuramente promoveram diversificação da produção incluindo outros brindes como camisetas, porta-cds, etc (FRESCA, 2005, p. 5558, grifo nosso).
O quadro 01 expõe dados relativos ao ano de fundação, números de funcionários e a
produção atual das empresas pesquisadas, ligadas ao setor de vestuário em Apucarana.
QUADRO 01 – Empresas Selecionadas do Setor de Vestuário de Apucarana
Empresa Ano de
Fundação Nº de
funcionários Produtos
Produção mensal
Cotton’s 1974 18 Bonés, chapéus, toucas de lã, camisetas 30.000 Elisil 1982 120 Uniformes profissionais 30.000
Kriswill 1989 286 Bonés, camisetas, bolsas, chapéus, porta-
cds 360.000
Boneleska 1993 137 Bonés, chapéus, toucas 100.000 Jaboti Bonés 1995 28 Bonés, chapéus, camisetas, uniformes 30.000
M. Brasil 1996 12 Bonés, camisetas, bolsas, porta-cds,
uniformes 70.000
Gemellu’s 2005 50 Bonés, chapéus, camisetas e bolsas 80.000 Fonte: Levantamento de campo, 2006. Org. Anderson Vietro.
A empresa Cotton’s Artigos Esportivos e Promocionais Ltda produz atualmente
30.000 peças por mês, entre bonés, chapéus, camisetas e toucas de lã. O boné representa 80%
dessa produção e a empresa atua no segmento de bonés promocionais e no segmento moda
praia com bonés de marca própria – Cotton’s – que destinam-se majoritariamente para São
Paulo e Rio de Janeiro. Emprega atualmente 18 funcionários diretos que atuam no
acabamento e na comercialização, enquanto outros 40 funcionários de facções terceirizadas
realizam serviços de costura, bordado e serigrafia. Segundo Jaime Ramos, em entrevista
realizada, a empresa passou a terceirizar a produção em 1998, após a demissão de todos os
120 funcionários que empregava, em função da falência de seus principais clientes, as redes
Mappin e Mesbla, para as quais produzia bonés de magazines. Nas décadas de 1980 e 1990, a
empresa chegou a produzir 200 mil bonés por mês, período em que o boné promocional era o
carro chefe – quando a empresa teve grandes clientes como Arisco, Cofap, Banco Nacional
(com Ayrton Senna como garoto propaganda). Em 1990 a empresa chegou a exportar para
Argentina, Bolívia e Paraguai. Atualmente toda a produção destina-se ao mercado interno.
53
Antônio Macarrão Machado, oriundo de Ponta Grossa, onde trabalhava com o pai na
comercialização de massas alimentícias, estudou Comércio Exterior na Faculdade Estadual de
Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA) e trabalhou por 13 anos na Cotton´s Bonés,
encarregado de marketing e comércio exterior. Representava a empresa em eventos e feiras de
brindes no Brasil e no exterior. Numa dessas feiras, em 1991, “Macarrão” - como é chamado
– e Paulo Gabardo apresentaram o slogan “Apucarana Capital Nacional do Boné”, visando,
segundo Macarrão, dar uma idéia de que pela quantidade de empresas existentes, a cidade era
a maior produtora de bonés do Brasil, além de contribuir para o crescimento do setor, gerando
uma “chuva de oportunidades” ao associar a imagem do produto à cidade de Apucarana
(MACHADO, 2006). A partir de então, a adjetivação criada para a cidade passou a ser
utilizada das mais diversas formas, inclusive pelo poder público, transformando-a em um
caminho para conquistas políticas.
Em meados da década de 1990, Macarrão desligou-se da Cotton´s Bonés, passando a
atuar como prestador de serviços para as empresas do setor, através de uma pequena facção.
Surge assim, em 1996, a M. Brasil, que manteve a atividade faccionista e passou a aceitar
diretamente, pedidos de bonés promocionais, especializando-se nesse segmento. No entanto, a
empresa mantém apenas 12 funcionários, responsáveis pelo controle de qualidade dos
serviços das facções e pelo acabamento e embalagem dos produtos. O empresário estima que
180 funcionários terceirizados estejam envolvidos na produção. Ele decidiu investir no setor
como fabricante, por se tratar de “um setor adolescente, longe da maturidade, e com
perspectivas de crescimento e fortalecimento” (MACHADO, 2006). A empresa produz 70 mil
peças por mês, entre bonés promocionais (45%), camisetas, uniformes e agasalhos (35%),
bolsas (20%) e porta-cds (10%). Atua apenas no segmento promocional, produzindo 70% dos
bonés serigrafados e 30% bordados. Tem em sua carteira de clientes pequenas, médias e
grandes empresas das regiões Sul e Sudeste, além de ser responsável pela produção de bonés
e chapéus para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e para a Fórmula
Truck. Exporta apenas 1% da produção para Argentina, Chile e Uruguai, embora já tenha
atendido clientes da Suíça, Bolívia e Antilhas Holandesas.
Os bonés produzidos em Apucarana dividem-se em segmentos, de acordo com o tipo
de boné produzido, o tipo de cliente e mercado a que se destinam. Assim, existem os bonés
promocionais (nacional e de exportação) - os quais recebem logomarcas e inscrições de
empresas, entidades, instituições, marcas de produtos, eventos etc. e, geralmente são
distribuídos como brindes a seus clientes, ou são utilizados por funcionários dessas empresas
como acessório de uniforme -, bonés de grifes – produzidos por empresas locais para
54
importantes grifes nacionais e internacionais, com marcas famosas - , bonés de magazines –
produzidos por encomendas de lojas de departamento, sob marcas pertencentes a essas lojas -,
e bonés de marcas próprias, as quais são grifes próprias lançadas pelas empresas fabricantes
de bonés, geralmente destinadas a nichos de mercado específicos, como moda praia, skate
ware, etc.
As facções são empresas que prestam serviços para fabricantes de bonés. Elas atuam
em etapas como costura, serigrafação e bordagem. Geralmente, são empresas informais, que
funcionam nas residências das próprias costureiras, empregando em média cinco pessoas.
Uma facção pode realizar uma ou várias etapas da produção, para um ou mais fabricantes. Em
períodos de grande demanda, como de julho a fevereiro, ou em anos de eleições, as empresas
formais contratam o serviço de outras facções. É nesse período que novas facções são criadas
por iniciativas de ex-funcionários de facções e de fabricas de bonés, ou por iniciativas de
outros agentes, como comerciantes, profissionais liberais e desempregados.
Um dos maiores grupos empresariais ligados à cadeia produtiva do boné, o grupo
Costa e Miquelin, iniciou suas atividades no início dos anos 1990, com um atacado de
produtos, acessórios e aviamentos para bonés, adquiridos em São Paulo e revendidos em
Apucarana – a empresa Boneon. Em 1993, como início da diversificação de ações no setor de
confecções, Vado Costa fundou uma facção com 02 funcionários, a qual prestava serviços de
costura para outras empresas. No ano seguinte foi criada a Boneleska e a empresa passou a
faccionar para empresas de grande porte no segmento de confecções, especificamente bonés.
Em seguida a empresa passou a ter seus próprios clientes, produzindo bonés de grife e
promocionais.
Atualmente, a Boneleska emprega 137 pessoas e produz 100 mil peças por mês entre
bonés e toucas promocionais, de grife e de marca-própria. A empresa possui certificado ISO
9001/2000. Exporta 5% da produção para os Estados Unidos, países do Mercosul e União
Européia. Atua em todo o país com destaque para São Paulo, Paraná e Rio Grande do Norte
(onde possui representantes de vendas na cidade de Caicó, segundo maior pólo de produção
boneleira do país). Especializada também na confecção de produtos infantis, a empresa tem a
licença de comercialização das marcas “Walt Disney” e “Warner Bros”, além de possuir
marcas próprias como “Baby.com” e “Kids.com”. Conta com um departamento de criação
para o desenvolvimento dos mais variados tipos de coleções exclusivas.
A diversificação das ações do grupo se deu a partir da associação feita entre Costa e
Miquelin e a empresa Farbe Handell do Brasil, instalada em São Paulo, para a troca de
tecnologias para a produção de tintas serigráficas, com a criação da Empresa Tropicolor
55
Produtos Serigráficos em Apucarana, cuja produção iniciou-se em 1995, contando
inicialmente com um químico e um funcionário. Em 1997 iniciou-se a produção de tintas
imobiliárias, látex, acrílicas, óleo esmalte e toda linha. Contando com mais de 50 funcionários
a Tropicolor Tintas está presente em 20 Estados brasileiros, ampliando as instalações visando
atuar no mercado externo e é a principal fornecedora de tintas serigráficas para as indústrias
confeccionistas de Apucarana.
A Kriswill, uma das maiores empresas “boneleiras” de Apucarana, com 286
funcionários, foi fundada em 1989 por Wilson Makoto Yoshida, que trabalhava com revenda
de confecções e atividades agropecuárias em Apucarana. Iniciou as atividades com a
produção de bolsas promocionais, empregando 20 funcionários. Três anos depois, incentivado
pelo cunhado Auro (que foi proprietário da USA Bonés, uma das principais empresas de
bonés da cidade na década de 1980 e inicio dos anos 1990), passou a atuar nesse ramo. Em
1994, como desdobramento das atividades confeccionistas passou a produzir camisetas, que
juntamente com o boné tornou-se o carro-chefe das atividades da empresa.
No ano 2000, a Kriswill criou uma tecelagem própria para a produção de malhas de
algodão com capacidade de 50 ton/mês, para atender sua própria demanda e para revender a
outras empresas. Emprega atualmente 12 funcionários na tecelagem. A empresa possui ainda
uma unidade em Naviraí-MS, na qual produz bolsas (500/dia) e camisetas (2000/dia),
empregando 97 funcionários, mediante obtenção de incentivos públicos e de menor custo de
mão-de-obra.
Na unidade de Apucarana, a empresa tem produção mensal de 150 mil bonés e
chapéus (promocionais, grife e marca própria), 150 mil camisetas (promocionais e marcas
licenciadas) e cerca de 60 mil bolsas, porta-cds, estojos, etc. Vende para todo o Brasil, com
60% da produção destinada ao Estado de São Paulo, além de exportar para Angola, Espanha,
Estados Unidos, México e países do Mercosul. Possui certificação ISO 9001/2000 e é uma
das empresas associadas à ABRAFAB’Q (Associação Brasileira dos Fabricantes de Bonés de
Qualidade), conseguindo preço mais acessível para matéria-prima e disponibilidade de
materiais.
A empresa Jaboti Bonés foi fundada em 1995 por Tomás Manchini, então revendedor
de bonés, ex-comerciário e ex-bancário, em sociedade com seu irmão, desfeita três anos
depois. Através de um empréstimo bancário montaram um escritório de vendas e uma facção
de bonés promocionais. Produz 30 mil peças por mês, entre bonés, chapéus, camisetas
promocionais e uniformes, vendendo para empresas de todo o Brasil. É filiada à ASSIBBRA
56
(Associação das Indústrias de Bonés e Brindes de Apucarana), o que lhe garante melhor preço
de matéria-prima, armazenagem de tecidos, com estoque variado de cores e materiais.
A mais nova das empresas selecionadas, a Gemellu’s Bonés, foi fundada em 2005 por
André Luiz do Espírito Santo (recém-formado em Direito) juntamente com o pai. Produz 80
mil peças por mês entre bonés, camisetas e bolsas promocionais.
A Elisil Uniformes Profissionais, além de outras quatro empresas que atuam no
mesmo ramo em Apucarana, é especializada na confecção de uniformes profissionais (calças,
macacões, camisetas, camisas, jalecos, jaquetas). A Elisil foi fundada por Elio Pinto,
empresário de Apucarana que possuía serraria no Mato Grosso, o qual decidiu investir em
outra atividade econômica. Após pesquisa de mercado, observou que não havia na cidade
nenhuma empresa que produzisse camisas, montou então uma confecção de camisas com 05
funcionários. Pouco tempo depois passou a produzir uniformes. Produz 30 mil peças por mês,
para clientes de Apucarana e de todo o Brasil. Como a empresa não é especializada na
produção de bonés, quando recebe pedidos que incluem bonés, tal produção é terceirizada.
Elio Pinto afirmou que a concorrência com produtos estrangeiros em seu ramo de atividade se
dá apenas nos pedidos de grandes empresas e instituições estatais e privadas como o Exército
Brasileiro e os Correios.
Além de empresas fabricantes de bonés e facções terceirizadas para a produção dos
mesmos, um número considerável de empresas fabricantes de acessórios para bonés, malhas,
aviamentos em geral para bonés e confecções em geral, e de fabricantes de máquinas e
equipamentos específicos para bonés instalaram-se em Apucarana. Há que se considerar que
nem todas essas empresas se instalaram visando a produção de bonés. Empresas como a
Saneabas, surgiram de iniciativas locais e anteriormente produzia tubos de saneamento em
pvc (Sanetubos) e posteriormente passaram a atuar no fornecimento de matéria-prima para a
indústria do boné. Empresas como a Taicry Indústria e Comércio de Equipamentos Mecânicos
Ltda surgiram para atender uma demanda do setor: a produção de máquinas específicas para a
confecção de bonés. Originariamente importadas da China e da Coréia do Sul, máquinas para
passar bonés, para encapar e pregar botões foram desmontadas e as peças reproduzidas.
Atualmente, as empresas possuem tecnologias próprias para a produção de máquinas para o
setor de bonés, com máquinas seriadas e por encomendas.
Com base no levantamento de campo e nas afirmações de Fresca (2005, p. 5562), é
possível observar no quadro 02, que as matérias-primas e os equipamentos utilizados na
fabricação de bonés são oriundos de indústrias locais e de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa
57
Catarina, Minas Gerais, Bahia, além de serem importados da China, Coréia do Sul e Japão,
principalmente, através de revendedores de São Paulo, Rio de Janeiro e de Apucarana.
Quadro 02 - Origem de matérias-primas, máquinas e equipamentos do setor confeccionista de Apucarana-PR
Matérias-primas, máquinas e equipamentos
Origem
Abas Saneabas – Apucarana Acessórios em geral Boneon - Apucarana; Dicatex - Apucarana; SP; RJ; PR Botões e acessórios de metais Pandaplast - Apucarana; Eberle/SP; Cambira Carneiras Poliviés - Apucarana Entretela Cia Brasfe/SP; Cottons – Apucarana Lã São Paulo Linhas Corrente/SP; Selta/SP; Sancris - Brusque/SC Malhas Kriswill; Estação da Malha; Tecitex - Apucarana Manta de Polietileno Nova Manta - Apucarana Nylon Importado via atacadistas de RJ/SP Tecidos Santanense/MG; Rochester/SP; Horizonte Têxtil/MG; Valença Têxtil/BA;
Paranatex - Apucarana; Jacira/SP; Santista/SP; Santa Inês/CE Tecidos em Microfibra China - Importados via atacadistas de RJ/SP Tintas Serigráficas Tropicolor Tintas; Serilon - Apucarana TNT* Apucarana e Arapongas (distribuidores atacadistas) Viés Cia Brasfe/SP; Peripan – Itaúna/MG; Poliviés; Conviés - Apucarana Máquinas Bordadeiras China, Japão, Coréia do Sul via importadores SP e MAB Fortuna - Apucarana Máquinas de Costura Taicry; MAB Fortuna - Apucarana Maquinas de dublagem Taicry - Apucarana Mesas de Impressão Pr Sulmáquinas - Apucarana Passadeiras Taicry; PR Sulmáquinas - Apucarana Pregadeiras de botão Taicry; PR Sulmáquinas - Apucarana Secadores PR Sulmáquinas – Apucarana
Fonte: Levantamento de Campo, FRESCA 2005. * Tecido não tecido - nonwoven, utilizado para forração de bonés, estofados, dentre outros. Org. Anderson Vietro.
Além da diversificação de atividades de indústrias que utilizam matérias-primas em
comum, como indústrias de materiais plásticos, que passaram a produzir abas, botões,
reguladores, etc., indústrias de metais (fivelas) entre outras, a implantação de indústrias
fornecedoras também resultou de estratégias de verticalização de produção de empresas
confeccionistas de bonés como a Kriswill, com a implantação de uma tecelagem de malhas de
algodão para camisetas, e de estratégias de diversificação de atividades como o grupo Costa e
Miquelin com a produção de tintas serigráficas. Atacadistas locais e empresas especializadas
em uma etapa da produção, passaram a aceitar encomendas de bordados, de serigrafia,
passaram a oferecer serviços de cortes a laser, de modelagem, entre outros. Além disso, de
acordo com Fresca (2005, p. 5562):
Destaca-se em Apucarana a criação de duas associações de industriais que tem na obtenção de matérias-primas uma de suas funções. A primeira foi a Associação Brasileira dos Fabricantes de Bonés de Qualidade – Abrafab’q - que reúne 8 empresas do setor (Kioodai e Rytos com cerca de
58
60 empregados cada; Showa, Estação e Kicker com 100 empregados cada; SLC Bonés com 50; Christian Bonés com 170; Kriswill com cerca de 280 empregados). A segunda é a Associação das Indústrias de Bonés e Brindes de Apucarana - Assibbra - fundada em junho de 2000, reunindo em fevereiro de 2004, 17 micro e pequenas empresas do setor (2 com 6 empregados cada; 10 com 15 empregados e 5 com 30 funcionários). Ambas associações tornaram-se uma central de compras de matérias-primas como forma de rebaixar os custos pela quantidade adquirida e ao mesmo tempo criaram um estoque regulador para seus afiliados.
Ao longo da história do setor confeccionista de Apucarana, mais especificamente da
produção de bonés, inúmeras inovações foram implantadas permitindo o aumento da
produtividade, a melhoria da qualidade dos produtos, a agilidade na fabricação etc. Tais
inovações ocorreram com o desenvolvimento de novos produtos, processos produtivos, gestão
e desenvolvimento e utilização de novos materiais e equipamentos. A confecção do boné
passou por transformações significativas. Os primeiros bonés eram confeccionados mediante
a cópia das partes de um boné desmontado. Atualmente várias empresas contam com
modelistas próprios que desenvolvem novas peças, novos cortes e costuras. O boné “stander”
ou “de pintor” foi ao longo do tempo substituído pelos modelos “americano” e “seis gomos”.
As abas de papel foram substituídas por abas de pvc. O desenvolvimento de tecidos
apropriados para o boné (Santanense, Paranatex), de abas “sem memória1” e mais resistentes,
permitiu melhorias no produto final. Novos tecidos e materiais passaram a ser utilizados para
a fabricação de bonés como jeans, nylon, tactel, microfibra, couro, lona. As indústrias
serigráficas desenvolveram novos produtos, específicos para camisetas e bonés. Embora a
serigrafia não tenha evoluído enquanto processo, surgiram máquinas modernas que
permitiram reduzir o tempo de impressão, além de novos efeitos e texturas, visuais diferentes
e novos materiais. Inúmeros equipamentos e máquinas para a fabricação de boné foram
desenvolvidos e aprimorados, como passadeiras, cortadeiras de tecido, encapadeiras e
pregadeiras de botão, além do desenvolvimento de máquinas para modelar e cortar abas, etc.
Houve ampliação da participação dos bonés bordados no total produzido mediante importação
de bordadeiras computadorizadas chinesas e japonesas. Agilizou-se o processo produtivo com
a introdução de máquinas de bordar, de corte a laser, tear automático, evolução do silk manual
para o eletrônico.
Além disso, pesquisas de mercado, programas de controle de qualidade, treinamento
de mão-de-obra, automação, permitiram a melhoria da qualidade dos bonés, antecipação às
1 Aba que fica na posição em que é moldada e que não deixa resíduos no tecido. O APL Bonés de Apucarana em parceria com a Sociesc (Sociedade Educacional de Santa Catarina) conseguiu recurso de 250 mil reais junto à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) – órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia – e ao Sebrae. O APL Bonés de Apucarana foi o único do Paraná com projeto aprovado junto aos órgãos federais em 2005. (APL BONÉS, 2005).
59
tendências da moda, adequação às novas exigências dos clientes, como no segmento de bonés
promocionais, cujos clientes passaram a exigir bonés de qualidade igual a bonés de magazines
- discretos, bordados, com efeitos serigráficos especiais, para que pudessem ser utilizados no
dia-a-dia e não só no trabalho. Por fim, a diversificação da produção, como a fabricação de
chapéus, camisetas, bolsas, porta-cds, brindes em geral, etc e a cooperação entre os agentes
locais permitiram a consolidação e fortalecimento do setor.
Questionados quanto às dificuldades enfrentadas por suas empresas para produzir e
comercializar, os entrevistados elencaram: curto tempo para entrega dos pedidos;
indisponibilidade de matéria-prima no prazo; cartel de fornecedores de tecidos e preços
elevados; falta de mão-de-obra qualificada; burocracia para financiamentos e juros elevados;
gastos elevados com instalações, máquinas e equipamentos; falta de incentivos
governamentais para indústrias locais; destinação de resíduos de serigrafia; concorrência com
produtos chineses; concorrência com produtores nacionais não-legalizados; baixo preço dos
produtos promocionais e a concorrência com produtos mais baratos e de baixa qualidade;
baixo preço do produto e; concorrência desleal entre empresas locais.
Com relação às dificuldades enfrentadas pelo setor confeccionista, foram unânimes em
apontar: a proibição de distribuição de bonés e brindes em campanhas eleitorais; fraco
desempenho da Seleção Brasileira de Futebol na Copa da Alemanha (para a qual gerou-se
grande expectativa de vendas que não foram concretizadas); crise no agronegócio (atividade
econômica na qual concentram-se importantes clientes, como cooperativas, agroindústrias,
bancos, fabricantes de máquinas agrícolas, etc.); a concorrência com produtos chineses (de
qualidade igual ou superior, embora utilize máquinas mais defasadas, e preço menor);
escassez de mão-de-obra qualificada; o grande número de empresas informais; elevada carga
tributária e juros elevados. Citaram ainda a falta de apoio político e de representatividade dos
interesses de todos os fabricantes; a estagnação atual da economia e das vendas de bonés; falta
de leis de incentivos fiscais e de tarifas de importação para produtos chineses; falta de
incentivos às atividades locais, em escala municipal; falta de profissionalização do setor;
rigidez das leis trabalhistas; inadimplência; atrasos na entrega de matéria-prima e; capacidade
ociosa (empresas produzem apenas 75% da sua capacidade).
Os empresários entrevistados afirmaram que já passaram por crises conjunturais,
principalmente a partir dos anos 1990. Para a empresa Cotton´s especializada na moda praia,
o período de inverno representa queda nas vendas. A falência de seus principais clientes em
1998, as redes Mappin e Mesbla, obrigou a empresa a se reestruturar, demitindo 120
funcionários, iniciando a terceirização da produção. Para a M. Brasil, especializada na
60
produção de bonés promocionais o período de fevereiro a junho, representa baixa temporada.
O ano de 2006 foi um ano ruim para as vendas da empresa e para o setor com a proibição de
distribuição de bonés e brindes nas campanhas eleitorais. Para se adequar a empresa passa a
dedicar atenção a pedidos menores, os quais geralmente não atende na alta temporada, além
de aumentar a cartela de clientes. A Empresa Boneleska enfrentou em 1994 concorrência
predatória de empresas informais, via preços baixos. Em 1997 foi necessário renovar a equipe
e adotar novas estratégias de produção. Em 2004 teve problemas com inadimplência de
alguns clientes. A. Kriswill que até 1991 só produzia bolsas, viu-se obrigada a diversificar a
produção e contratar novos vendedores. Para a Jaboti Bonés 2005-2006 foi um período
desfavorável, com redução da produção em 50% e demissão de funcionários.
A abertura econômica pós-1990 foi compreendida de maneira diferente entre os
empresários entrevistados. Houve quem afirmasse que a abertura foi benéfica, por permitir
acesso a máquinas e equipamentos importados, que foram adquiridos e copiados, passando a
ser fabricados no país, além de acesso a processos produtivos e tecnologias superiores às até
então utilizadas em Apucarana. Mas a maioria dos entrevistados destacou aspectos
desfavoráveis desse processo. A retenção de dinheiro não permitiu realizar investimentos e
muitas fábricas acabaram fechando. Resultou em diminuição de vendas, gerando a
necessidade de reestruturação das empresas concentrando a produção e demitindo
funcionários. Para Macarrão “quem teve criatividade saiu-se bem. Como não havia dinheiro
no mercado, realizávamos escambo – com pacotes sortidos de 12 bonés para vendas no varejo
nas praias (moda praia). Houve fechamento de empresas, restaram aquelas que tinham
gordura sem querer na hora certa” (MACHADO, 2006).
As estratégias adotadas pelos empresários do setor para manutenção e ampliação de
suas atividades foram elencadas por Fresca (2005, p.5569-70). São elas:
a) introdução da facção ou terceirização da mão-de-obra vinculada a sazonalidade do mercado, juntamente com a redução de custos pelo não pagamento de encargos trabalhistas. Tal estratégia permite que empresas com reduzida capacidade produtiva aceite pedidos/encomendas muito acima de sua capacidade; b) melhorias técnicas para a produção via introdução de máquinas desenvolvidas especialmente para os bonés; introdução do computer aided design - CAD; introdução de máquinas para a realização de bordados na linha de bonés promocionais (até então realizados via silk screen); c) redução de custos das matérias-primas pela aquisição das mesmas em Apucarana mediante a consolidação de fornecedores, sejam eles atacadistas e/ou produtores. A partir do final dos anos de 1990, e início dos anos 2000, a retração do mercado consumidor e aumento dos preços das matérias-primas articuladas ao contexto nacional, implicaram na adoção de outras estratégias: d) diversificação da linha de produção, até então concentrada nos bonés promocionais, foram ampliados com camisetas, bolsas/sacolas (nylon, lona, etc.), revenda de porta CD's, bolas em couro, camisas em tecidos diversos, etc.;
61
e) criação de associações de empresas para dentre outras, aquisição de matérias-primas com redução dos custos pela quantidade adquirida; f) início da verticalização da produção com implantação de tecelagem para produção de malhas de algodão; g) abertura de filiais em cidades/Estados onde os incentivos fiscais recebidos e menor custo de mão-de-obra (comparativo a Apucarana) garantem expansão nos negócios; h) busca de novos mercados, principiando a exportação mas ainda pouco significativo mediante desconhecimento da burocracia e da preferência do mercado externo; i) introdução de linha de bonés para lojas, isto é, bonés com grifes para lojistas e ampliação do segmento de brindes como canetas e chaveiros, etc.
No entanto, a estratégia mais importante adotada pelo setor foi a cooperação entre os
agentes locais, mediante a criação de três associações: ABRAFAB’Q, fundada em 1997;
ASSIBBRA, fundada em 2000; e a ANIBB – Associação Nacional das Indústrias de Bonés e
Brindes, criada em 2005, durante a realização da I Exposição Nacional do Boné, I Expoboné,
em Apucarana. É importante ressaltar que a cooperação entre os empresários do setor não
ocorre de forma harmônica, ao contrário, encontrou-se muitas resistências às associações e
entre associações.
Além disso a cooperação entre representantes do setor confeccionista e entidades
públicas e privadas gerou expectativa de solução para um dos maiores problemas enfrentados
pelo setor: a falta de mão de obra qualificada. Isso porque:
A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana (ACIA), em um esforço conjunto que envolveu os empresários do setor e a Prefeitura de Apucarana, iniciou um processo de negociação junto ao ministério da Educação/PROEP para implantar na região um centro de formação e treinamento de mão-de-obra nas áreas têxtil e de confecções. Como resultado dessas iniciativas, foi implantado no município de Apucarana o Centro Moda: uma escola técnica para formação e capacitação de profissionais para a indústria do vestuário e moda, que tem como missão ‘Formar, capacitar e requalificar profissionais necessários ao atendimento do setor da indústria do vestuário da região’. (APL BONÉS, 2005)
Em 2003, com o apoio do Sebrae/PR e entidades locais, o município de Apucarana
iniciou o processo de institucionalização do Arranjo Produtivo Local de Bonés de Apucarana.
O APL de Bonés de Apucarana foi criado em 2004, congregando empresas da cadeia
produtiva do boné de Apucarana, Cambira e Jandaia do Sul, desde fornecedores locais de
matéria-prima, fabricantes de equipamentos, fabricantes de bonés e produtos complementares,
distribuidores de bonés e acessórios, além de sindicatos, Prefeitura Municipal, faculdades
locais e a ACIA. (Mapa 03)
Os APLs têm um papel fundamental no desenvolvimento econômico, social e tecnológico de uma região, beneficiando todas as empresas e engajando comunidades locais, centros de tecnologia e pesquisa, instituições de ensino e entidades públicas ou privadas. Tudo isso possibilita a geração de maior competência às empresas, maior competitividade e inserção em novos mercados,
62
inclusive externos. As empresas instaladas em APLs exercem o aprendizado coletivo, a troca de informações, a eficiência coletiva e o aumento da competitividade (IEL, 2006).
Mapa 03 – ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE BONÉS DE APUCARANA
Fonte:REDE APL PR, 2006
O Arranjo Produtivo Local de Bonés de Apucarana objetiva, segundo André Luiz do
Espírito Santo (membro da governança do APL Bonés): o fortalecimento do setor de
confecções de artigos de vestuário, tornando Apucarana “um centro de excelência em
produção de bonés no Brasil” (ESPIRITO SANTO, 2006). Para tanto a Governança do APL
vêm realizando programas de treinamento empresarial e de qualificação de mão-de-obra,
incentivando a participação em feiras do setor. Planeja ainda fortes investimentos em
marketing, buscando gerar uma identidade territorial, associando Apucarana ao boné. Prova
disso, foi o “maior boné do mundo” construído em julho de 2006, em parceria com a
Prefeitura Municipal, e que será instalado na futura Praça do Boné.
A Governança do APL posicionou-se contra o formato da II Exposição Nacional do
Boné realizada em julho de 2006 em Apucarana, por atrair pessoas de fora para conhecer
equipamentos e processos modernos que os empresários locais demoraram em desenvolver e
alcançar este patamar. No entanto é favorável à transformação da Expoboné em exposição de
produtos de fabricantes locais, com rodadas de negociações.
O APL Bonés realizou entre 2005-2006, um censo econômico para saber a quantidade
de empresas formais e informais existentes na cidade de Apucarana, além de conhecer o
63
volume produzido, os rendimentos gerados e os destinos da produção de bonés de Apucarana.
Embora os resultados não tenham sido divulgados até a presente data, estima-se que algo em
torno de 132 empresas formais e 420 informais, estejam envolvidas na produção de bonés e
demais produtos afins. Em 2006, a Prefeitura Municipal editou medidas de isenção tributária
para a formalização das empresas informais, predominantemente micro-empresas.
A participação de Apucarana é estimada em torno de 70% da produção nacional de
bonés. Apucarana produz algo em torno de 4,5 milhões de bonés ao mês. As empresas do
APL de Bonés de Apucarana atuam nos segmentos de bonés promocionais nacionais, grifes,
lojas de departamento, institucionais, político nacional, marcas próprias, promocional
exportação e político exportação, além da produção de produtos complementares: bandanas,
bolsas, chapéus, viseiras, porta-cds, bolsas, etc.
A comercialização é realizada através de representantes comerciais, telemarketing,
lojas de varejo em São Paulo, Rio de Janeiro, atacadistas em Apucarana, São Paulo, entre
outros. O mapa a seguir, elaborado com base nas informações relativas a origem de matérias-
primas e equipamentos e os mercados consumidores destes produtos, permite observar fluxos
produtivos, as interações espaciais, que envolvem a cadeia produtiva do boné de Apucarana
Especializada na produção de bonés, Apucarana atua em todos os Estados brasileiros,
além de exportar cerca de 10% da produção para as Américas, Europa e África. Há uma
tendência de aumento nas exportações com o fortalecimento e profissionalização do setor. A
produção inicial de bonés no país concentrava-se em São Paulo. As iniciativas locais em
tempos de crise, a convivência com adversidades permitiu o desenvolvimento de um setor
dinâmico que passou a concorrer com a metrópole. O setor cresceu, se fortaleceu, passou a
dominar o mercado nacional, fazendo jus à adjetivação recebida, Apucarana consolidou-se
como a Capital Nacional do Boné.
64
Mapa 04 – FLUXOS DO SETOR CONFECIONISTA DE APUCARANA
N
China, Coréia do Sul e Japão
África
União Européia
América do Norte e América Central
Mercosul
166 0 322 Km
LEGENDA
Aquisição de matérias-primas e equipamentos
Vendas de produtos industrializados
Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002
Org.: Anderson de Freitas Vietro
3.2 – FABRICAÇÃO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS E NUTRIÇÃO ANIMAL
O segundo maior setor industrial de Apucarana é a indústria de alimentos e bebidas. O
gráfico 10 demonstra a evolução dos estabelecimentos do setor em relação à indústria de
transformação. Desde 1985 até 2004, o número de estabelecimentos pouco se alterou, tendo
reduzido o número de estabelecimentos em 1990, 1998 e 2002, anos de fraco desempenho da
economia brasileira. Entre 1985-1987, 1990-1996, 1998-2000 e 2002-2004, o setor
apresentou crescimento no número de estabelecimentos.
Gráfico 10: Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos alimentícios e bebidas em
Apucarana: 1985-2004
48 56
50 54
52 65
58 63
0
100
200
300
400
500
600
700
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Indústria de produtos alimentícios e bebidas
Indústria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.
Já a evolução dos empregos formais no setor não apresentou quadro tão favorável
assim, de acordo com o gráfico 11. Apresentou crescimento entre 1985-1987, entre 1996-
1998 e entre 2000-2004. Observa-se que a geração de empregos no setor recuou de 1985 até
2004, atingindo no ano 2000, o menor índice, que pode ser encarado como uma reestruturação
do setor após a crise econômica nacional de 1998. Comparando com a evolução dos
estabelecimentos, pode-se concluir que o número de empregos por estabelecimento diminuiu.
Analisando os dados detalhados relativos a 2002 (BRASIL), observa-se que há uma
concentração de estabelecimentos (18) e principalmente de empregos (784) no segmento de
moagem, fabricação de produtos amiláceos e de rações balanceadas para animais. Segundo a
Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Apucarana – ACIA (2006), “o município
abriga duas das oito maiores indústrias do setor no País - Kowalski Alimentos e a Caramuru
66
Alimentos de Milho. As duas juntas possuem capacidade de moagem de 372 mil toneladas de
grãos ao ano. Com essa produção, elas abastecem a maioria dos Estados brasileiros”.
Gráfico 11: Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos alimentícios e bebidas em Apucarana: 1985-
2004
1332
1534
1314
1042
1153
874
1117
1293
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Indústria de produtos alimentícios e bebidas
Indústria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004. Org. Anderson Vietro.
São indústrias de iniciativas locais/regionais que realizam a moagem de milho a seco.
“A industrialização de milho é feita através de dois processos: a seco e a úmido. No processo
a seco, o milho, após limpeza e secagem, é degerminado e separado em endosperma e germe.
O fluxo do endosperma é moído e classificado para a obtenção de produtos finais, e o germe
passa por processo de extração para produção de óleo e farelo”. (ABIMILHO, 2006)
O milho possui ampla aplicação, tanto na alimentação humana, quanto na alimentação
animal, além de sua crescente utilização como insumo industrial de segmentos como
cervejaria, mineração, indústria alimentícia, entre outros.
Além das indústrias moageiras de milho, Apucarana vem apresentando a partir da
década de 1990, um aumento de estabelecimentos fabricantes de rações para pequenos
animais (pet food – alimentos balanceados para cães, gatos e peixes), além de indústrias
produtoras de farelos de milho e rações para grandes animais, existentes desde a década de
1970 (APUCARANA, 2005). Como o milho responde por cerca de 50% da matéria-prima das
rações, pode-se afirmar que Apucarana é também uma cidade especializada na
industrialização de milho, constituindo uma cadeia produtiva do milho.
67
A empresa Kowalski Alimentos iniciou suas atividades com um armazém de
comercialização de cereais em 1935, na cidade de Curitiba, fundado por Nicolau Kowalski,
filho de imigrantes ucranianos. Em 1952, abriu uma filial em Apucarana, a qual passou a ser
administrada pelo seu filho Pedro Kowalski, atuando na comercialização de cereais,
principalmente milho e feijão. Instalou-se em Apucarana pela grande quantidade de cereais
produzidos na região nas décadas de 1950 e 1960, o que permite comprovar que no norte do
Paraná não havia só café, como muitos textos afirmam. Esse grande volume de cereais numa
região de pequenas propriedades, mostra a importância das culturas intercalares e da produção
destinada ao mercado.
Em 1964, a empresa foi transferida da Barra Funda, nas proximidades da estação
ferroviária de Apucarana (bairro caracterizado até os anos 1980 pelo grande número de
barracões destinados ao beneficiamento de cereais), para o parque industrial atual, com área
construída superior a 25 mil m², com um imenso silo vertical com 20m de altura e 14 células
de armazenamento, com capacidade para 3 mil toneladas de milho e um armazém com
terminal ferroviário atualmente desativado, financiados pela Companhia de Desenvolvimento
do Paraná – CODEPAR. (MANFREDINI, 2005, p. 52).
Em 1974, a empresa iniciou o redirecionamento de seus investimentos para
equipamentos e tecnologias, para realizar a industrialização de produtos de milho.
Selecionando os melhores grãos, atendendo às exigências dos padrões industriais do mercado
consumidor, a empresa passou a difundir e implantar, junto aos produtores uma variedade de
milho híbrido mais produtiva e resistente a pragas, desenvolvida por uma empresa de
Jacarezinho-PR.
Em 1975 a empresa passou a industrializar o milho. Para a implantação de seu parque
industrial, a empresa obteve financiamento junto ao BNDES e FINAME, no bojo das políticas
nacional e estadual de industrialização, a saber, o Segundo Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND) e a agroindustrialização paranaense, com recursos do Banco de
Desenvolvimento do Paraná (BADEP). A empresa introduziu em 1977 a primeira extrusora
de milho no Paraná (a qual cozinha o grão com vapor e água, que permite a produção de
diversos produtos alimentícios de uso instantâneo). Um dos subprodutos é o milho pré-
gelatinizado, aplicado no revestimento de poços de petróleo, atuando como agente
impermeabilizante (MANFREDINI, 2005, p.52).
As crises derivadas da elevação de preço e falta de matéria-prima são recorrentes ao
longo da história da empresa. Assim em 1977, a Kowalski, juntamente com indústrias
moageiras de milho da região, como Caramuru, Moinho Arapongas, entre outras, criam a
68
ABIMILHO (Associação Brasileira das Indústrias Moageiras de Milho), entidade responsável
pelo fortalecimento, união da classe e para dar representatividade ao setor, que passa a atuar
de maneira institucional, propondo políticas de elevação do consumo humano de milho e para
enfrentar as dificuldades em relação à disponibilidade de milho no mercado.
Devido ao encarecimento do milho na região, mediante a diminuição de área plantada,
substituída pelos cultivos de soja e trigo, e ao avanço da fronteira agrícola para o Centro-
Oeste a partir da década de 1970, a empresa implantou em 1986 uma unidade armazenadora
de cereais em Rio Verde-GO, para a comercialização de milho. A partir de 1987, mediante
incentivos fiscais, ocorreu em Rio Verde-GO a instalação de uma unidade de industrialização
de milho, executando apenas a moagem. Surgiu assim a Kowalski Armazéns Gerais –
KAGEL, com capacidade de armazenamento de 140.000 toneladas de milho, a qual
atualmente emprega 250 funcionários. Seu armazém faz parte do programa Armazém
Conveniado – Banco do Brasil, uma garantia a mais aos produtores (KOWALSKI, 2006).
Em 1993, a Kowalski instalou, uma unidade de extração de óleo de milho em
Apucarana, aproveitando o gérmen industrializado na mesma unidade industrial. Em 1996,
visualizando um mercado em expansão, iniciaram-se as atividades no setor de rações e
alimentos balanceados para pequenos animais, com a instalação de uma indústria em
Apucarana. Em 2002, a empresa inaugurou uma nova unidade para a fabricação de pet foods
totalmente automatizada e uma das mais modernas do Brasil.
Em 2003, ocorreu a modernização dos equipamentos de degerminação e moagem e
aumentou a capacidade de produção na unidade de Rio Verde. Em Apucarana é iniciada a
instalação de uma planta para degerminação semi-úmida, processo utilizado na fabricação de
canjicas destinadas a produtos industriais de primeira linha. Sua atuação no mercado é ampla,
atende as necessidades de indústrias alimentícias, refinadoras de óleo, indústrias cervejeiras,
indústrias de mineração, fundições, indústrias de rações, produz alimentos destinados a
população em geral e rações para animais.
A unidade de Apucarana processa 15 mil toneladas de milho ao mês. Produz fubás,
canjicas, óleo de milho e produtos pré-cozidos para alimentação humana com a marca
“Xodómilho”, além de fubás e canjicas especiais para indústrias alimentícias, grits para
cervejarias, óleo de milho bruto para refinadoras, milho pré-gelatinizado utilizado na extração
de petróleo e na mineração, além de farelos e rações para grandes animais e rações para a
linha pet (cães, gatos, peixes e rãs). O milho é adquirido no Paraná, além de farelo de trigo, de
soja, de arroz e farinha de peixes e carnes para fabricação de rações adquiridas no Centro-Sul
do país.
69
A unidade de Apucarana realiza a moagem a seco e semi-úmido, produção de rações
animais e extração de óleo. Os produtos de consumo humano (canjicas, fubás, etc) têm no
Nordeste do País o principal mercado, as rações destinam-se principalmente ao Centro-Sul do
país e para países do Mercosul. O óleo de milho bruto e refinado destina-se ao mercado
interno e é o produto de exportação da empresa para a União Européia, Ásia e América
Latina. As inovações tecnológicas no setor estão ligadas aos processos de moagem (a seco,
semi-úmido e úmido) e ao aperfeiçoamento de equipamentos fabricados por encomendas,
específicos para as necessidades da atividade. Com produção de 60.000 t de produto/mês, a
Kowalski Alimentos, com 350 funcionários, é uma das principais empresas fornecedoras do
mercado interno para o varejo e a indústria, de produtos alimentícios e derivados de milho.
As dificuldades enfrentadas para produzir, segundo Pedro Kowalski, são a qualidade
da matéria-prima, as intempéries climáticas, e a morosidade para liberação de financiamentos.
Já as dificuldades enfrentadas para comercializar dizem respeito à concorrência no mercado
interno, com produtos a base de trigo e mandioca, para o segmento consumo humano. A
empresa tem problemas com concorrência externa apenas na exportação de óleo. As
dificuldades elencadas pelo empresário para o setor referem-se ao dólar baixo e prejuízos para
a exportação, o baixo consumo humano de derivados de milho no mercado interno – cada
brasileiro consome em média 15 Kg de milho ao ano, enquanto em países como o México
consome-se três vezes mais – elevação do preço do milho no mercado regional. As
perspectivas para o setor são favoráveis: espera-se o aumento do consumo humano de milho
no Brasil, o aumento da área plantada, além da possibilidade do Governo Federal criar uma
linha de crédito semelhante ao FINAME (linha de crédito para financiamento de aquisição de
máquinas e equipamentos) para produtores.
A outra grande indústria moageira de milho a seco de Apucarana é a Caramuru
Alimentos de Milho, a qual possui 218 funcionários em Apucarana e 50 empregados
terceirizados. A empresa foi fundada em 1964, possui unidades em Apucarana e em Goiás.
Em Apucarana a empresa processa o milho produzindo derivados como: fubás, canjicas, grits,
sêmolas, óleo, farinhas, creme de milho, empacota pipoca nacional e importada. Exporta para
a União Européia, África, Ásia e Mercosul.
Presente nos Estados de Goiás, Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará, o Grupo Caramuru dedica-se à industrialização de grãos, desde a produção de semente, armazenagem, degerminação, pré-cozimento de milho, extração e refino de óleos especiais de soja, milho, girassol e canola como também na produção de farelos. Sua marca premium SINHÁ é reconhecida nacionalmente como líder no segmento de empacotados de milho e uma das cinco maiores marcas de óleo para consumo doméstico do país: soja, girassol, milho e canola. Uma
70
marca que também está em um segmento muito sofisticado com sua linha de azeites importados, óleos saborizados e maioneses. Nasceu também a marca Equivita, uma linha natural de produtos à base de soja. (CARAMURU, 2006)
É uma empresa familiar, fundada por Múcio de Souza Rezende, a qual já foi sediada
em Apucarana e que, com a expansão da fronteira agrícola, transferiu a matriz, mediante
exigências para a obtenção de incentivos fiscais, para Itumbiara-Go. Iniciou as atividades em
1964 com a industrialização de milho em Maringá. Em 1971 iniciou as operações em
Apucarana com a abertura de uma filial. Dois anos depois ocorreu a transferência da matriz de
Maringá para Apucarana.
Ao longo da década de 1970 a empresa iniciou um processo de expansão e
diversificação de atividades (processamento de milho e soja), com a implantação de unidades
de armazenagem em Goiás. Em 1975 deu-se a abertura de uma filial em Itumbiara-GO.
Iniciou em 1977 a fabricação de óleo bruto de gérmen de milho e farelo peletizado em
Apucarana. Dois anos depois a empresa abriu na mesma cidade uma unidade de armazéns
gerais. A década de 1980 marca definitivamente a consolidação da empresa na produção de
óleos refinados, implantação de unidades de armazenagem e ampliação de investimentos no
Centro-Oeste, principalmente no Estado de Goiás. Em 1981 foi criada em Apucarana a
empresa Caramuru Agricultura e Pecuária. Em 1982 o grupo passou a se chamar Caramuru
Alimentos de Milho. Em 1986 foi inaugurada a fábrica de óleo degomado e farelo de soja,
fábrica de pré-cozidos de milho e unidade administrativa em Itumbiara-GO. Em 1988 foi
instalada a fábrica de floculados, e no ano seguinte a empresa Caramuru Armazéns Gerais de
Cereais, ambas em Apucarana.
Em dezembro de 1991 ocorreu a transferência da matriz, Caramuru Alimentos de
Milho, de Apucarana para Itumbiara-GO, onde também passaram a ser tomadas as decisões.
Em 1999 foi implantada a fábrica de coloríficos em Apucarana. Em 2002, a unidade industrial
de Apucarana foi certificada com o ISO 9001, pela SGS do Brasil. No mesmo ano, o Grupo
Caramuru atingiu faturamento de R$ 1 bilhão, configurando no ano seguinte entre as 100
maiores empresas exportadoras brasileiras.
A unidade industrial de processamento de milho de Apucarana possui capacidade de
produção de 18.000 toneladas/mês, processa 12.000 t/mês de gérmen de trigo, industrializa
1.500 t/mês de produtos pré-cozidos, além de capacidade de armazenagem de 60.000
toneladas. (CARAMURU, 2006).
A ABIMILHO - Associação Brasileira das Indústrias Moageiras de Milho - foi
fundada em 10 de outubro de 1977 em Arapongas, por iniciativas de empresas do Norte do
71
Paraná, (dentre as quais a Caramuru Alimentos, Kowalski Alimentos e Moinho de Trigo
Arapongas), como resposta às dificuldades em relação à produção e oferta constantes de
milho, visando o fortalecimento e a união de classe. Sua abrangência é nacional, congregando
as maiores empresas processadoras de milho, majoritariamente nacionais à exceção da
multinacional National Starch. Atualmente possui 18 filiados dos Estados do Paraná, Goiás,
São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas e Santa Catarina. A sua atribuição é
institucional, representando um elo entre a indústria e o governo, não atuando em setor
comercial. As dificuldade enfrentadas pelo setor, segundo representante da ABIMILHO,
referem-se à falta de incentivo fiscal e de política agrícola para o milho, insuficiência de
estoques públicos e de redes de armazenagem, além do baixo consumo humano de milho e à
sazonalidade dos preços do produto. Há ainda insatisfação com a imposição de políticas por
parte do Governo Federal, como o decreto federal obrigando a adição de ferro e ácido fólico
(vitamina B9) nos derivados de milho para combater a desnutrição, anemia e
mielomelingocele (má formação de fetos), sem contrapartida do governo e a proibição de
repasse dos custos. Importante ressaltar que o descontentamento existe em relação à forma
como ocorreu e não à ação propriamente, que a entidade acredita ser benéfica, por ir de
encontro às necessidades básicas de alimentação humanas, além de ser produto barato. A
entidade atua propondo políticas de incentivo para o consumo humano de derivados de milho,
realizando campanhas de divulgação das qualidades nutricionais.
A entidade afirma que:
O milho é estratégico na agropecuária brasileira. Cerca de 82% de todo o milho produzido internamente é consumido sob a forma de ração, enquanto seu processamento em alimentos voltados ao consumo humano está estável desde o início da década de 80, em 13% da produção total. A maior parte do milho destinado ao aproveitamento animal vai para a criação de suínos, aves de corte, que representam 30% da disponibilidade total de carne no país (incluindo bovina e pescado) (ABIMILHO, 2006)
O Estado do Paraná é responsável por 25% da produção nacional de milho e consome
23% do milho utilizado pelas indústrias moageiras no país. A moagem a seco é responsável
pelo processamento de 35% do milho destinado á industrialização. A figura 01 a seguir
demonstra as etapas do processo a seco e os produtos obtidos.
72
Figura 01 – Processo de moagem de milho a seco
Fonte: ABIMILHO, 2006.
Além da estrutura verticalizada de produção de rações animais da Kowalski
Alimentos, outras indústrias do segmento instalaram-se em Apucarana a partir da década de
1990.
Uma delas é a Reines Alimentação Animal S/A, um empreendimento do Grupo
Sacchelli – SRM (de origem local), foi fundada em 2003 e é uma indústria voltada
exclusivamente para produção de alimentos para cães e gatos. Foram investidos R$ 2,5
milhões para a instalação da indústria, que contou com apoio da Prefeitura Municipal
mediante doação de terreno. A empresa produz em torno de 4 mil toneladas/mês, empregando
60 funcionários.O empreendimento é administrado pela área do grupo denominada "Empresas
King Meat", atuando na produção de dois tipos de rações: Premium, para cães adultos e
filhotes, com a marca "King Pet", e Clássica, denominada "Kanivita". As rações são
produzidas com matéria-prima proveniente das demais empresas do grupo, que atuam no setor
agropecuário. A distribuição dos produtos utiliza a logística existente no Grupo Sacchelli -
SRM, através das empresas Maceratti, Alpes e King Log, permitindo diminuição de custos e a
exposição em estabelecimentos já abastecidos pelo grupo nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul
do País. Parcela da produção é exportada para diversos países da Europa. A empresa foi
criada com o propósito de atender um mercado interno em expansão, com tendência de
crescimento da ordem de 50% em cinco anos (REINES, 2006).
73
A empresa Zoo Brasil Nutrição Animal foi fundada em 2003, por iniciativa de Paulo
Sérgio Gonçalves e outros três sócios, oriundos de Arapongas e que exerciam atividades
comerciais diversas. Um dos sócios era veterinário e possuía conhecimento do processo de
fabricação de rações para pequenos animais (cães, gatos e peixes). Vislumbraram um mercado
em expansão, mas que exigia investimento inicial elevado. Iniciaram com baixa produção e
enfrentando dificuldades para comercializar. Atualmente a empresa produz 8 toneladas/dia,
180 toneladas/mês (o dobro da produção inicial) e tem toda a produção vendida antes mesmo
de produzir. Instalou-se em Apucarana pelo preço reduzido de aluguel do imóvel em
comparação a Arapongas, além da infra-estrutura favorável para o escoamento da produção e
fácil acesso á matéria-prima. Utiliza milho, farelos de trigo, soja, feijão e arroz de empresas
de Apucarana, farinha de carne e de víceras de empresas do eixo Londrina-Maringá, e
corantes de empresas de São Paulo e Curitiba. Com as marcas “Hunter Dog”, “Guardian” e
“Neovita”, atua no Rio Grande do Sul, Santa Catarina (responsável por 30% do mercado),
Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Bahia, através de 12 distribuidores e
representantes. Utiliza equipamentos usados empregando 8 funcionários, mas a empresa está
em processo de implantação de nova linha de produção, com equipamentos fabricados por
encomenda junto a uma empresa de Arapongas, a qual permitirá a atuação no segmento de
ração para gatos e outros animais, além de ampliar a capacidade de produção.
Apucarana conta hoje com seis empresas produtoras de ração no segmento pet-foods
(pequenos animais), além de empresas produtoras de ração para suínos e avícolas. A
concentração de indústrias de ração para pequenos animais iniciou na década de 1990 como
diversificação de atividades de indústrias moageiras de milho como a Kowalski Alimentos, e
de ração para animais de grande porte como a Provimi Nutrição Animal e Moinho Primor.
Por exigir investimentos iniciais muito elevados, diferentemente das indústrias de confecções
ou moageiras de milho até aqui analisadas, a maioria das empresas deste segmento resulta de
estratégias de diversificação de atividades de grupos empresariais locais já consolidados e não
de iniciativas individuais.
O mapa 05 permite visualizar as interações espaciais realizadas pelas empresas
moageiras de milho e de nutrição animal instaladas em Apucarana. A existência de duas
grandes empresas de processamento de milho em Apucarana, além de outras de pequeno
porte, constitui o maior parque industrial de moagem de milho da América Latina,
responsável por 25% da moagem de milho do Brasil. A diversidade de destinações dos
derivados de milho, faz com que as empresas instaladas em Apucarana tenham como clientes
desde redes de varejo (alimentação humana) até mineradoras. Isso sem falar no fornecimento
74
de rações concentradas para os rebanhos bovinos, suínos e avícolas e de rações do segmento
pet food. Percebe-se que as empresas de Apucarana importam apenas milho de países do
Mercosul e que as máquinas e equipamentos são fabricadas por encomendas a empresas
nacionais.
Mapa 05 – FLUXOS DA CADEIA PRODUTIVA DO MILHO DE APUCARANA
América LatinaEuropa
Ásia e ÁfricaParaguai
Argentina
N
LEGENDA
Aquisição de matérias-primas e equipamentos
Vendas de produtos industrializados
Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002
Org.: Anderson de Freitas Vietro
166 0 322 Km
3.3 – PREPARAÇÃO DE COURO E FABRICAÇÃO DE ARTEFATOS DE COURO
Outro importante setor industrial em Apucarana é o setor coureiro-calçadista, com
destaque para as atividades de curtimento e outras preparações de couro, fabricação de artigos
para viagem e de artefatos diversos de couro e de fabricação de calçados. “Através das
empresas Apucacouros e Fujiwara EPI e CS Pesquisas, a cidade assumiu o posto de maior
pólo do setor no Estado. Juntas, elas geram mais de 1,7 mil empregos diretos e mais de 5 mil
indiretos” (ACIA, 2006). O gráfico 12 apresenta o número de estabelecimentos industriais do
setor entre 1985 e 2004. Considerando que os dados até 1990 agrupavam outras indústrias,
pode-se dizer que o setor apresentou uma evolução crescente no número de estabelecimentos.
Em 2002 havia 05 estabelecimentos que realizavam curtimento e outras preparações
de couro empregando 575 pessoas, 11 estabelecimentos de fabricação de artigos para viagem
e de artefatos diversos de couro empregando 123 pessoas, e 10 estabelecimentos de fabricação
de calçados empregando 88 pessoas.
Gráfico 12 – Evolução dos estabelecimentos industriais no setor de preparação de couros e fabricação de
artefatos de couro em Apucarana: 1985-2004
20 33
34
22
22 25
26 29
0
100
200
300
400
500
600
700
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro*
Indústria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004. * Os dados de 1985-1990 são relativos aos setores de calçados e de indústrias da borracha, fumo, couros, peles, similares, indústrias diversas. Org. Anderson Vietro.
Em termos de empregos, o setor apresentou queda a partir de 1990, conforme o gráfico
13 a seguir. Esta redução no número de empregos a partir de 1990, é explicada pelos
76
processos de reestruturação das empresas do setor. Em outras palavras, a partir da abertura do
mercado interno com imposição de forte concorrência, as empresas coureiras tiveram que se
readaptar às condições, sendo obrigadas a melhorar o processo e reduzir custos, que se refletiu
na redução de mão-de-obra.
Gráfico 13 – Evolução do pessoal ocupado no setor de preparação de couros e fabricação de artefatos de couro
em Apucarana: 1985-2004 377
768 1265
1079
1007
903
786
793
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro*
Indústria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004. * Os dados de 1985-1990 são relativos aos setores de calçados e de indústrias da borracha, fumo, couros, peles, similares, indústrias diversas. Org. Anderson Vietro.
Antes de discorrer sobre a gênese do setor coureiro em Apucarana vamos entender o
funcionamento do processo de curtimento de couro. Para Costa (2002, p. 34):
O ciclo de produção do couro envolve etapas distintas. Na fase de processamento conhecida como ‘ribeira’ – cujo período de produção leva em média três dias – são feitas as operações de descarne da pele e a extração de resíduos de tecidos, a depilação, a separação da flor, a secagem e o salgamento. Durante o estágio de curtimento, por sua vez, as peles são tratadas com substâncias curtentes, que podem ser de origem vegetal como o tanino, ou de procedência mineral como o cromo, de modo a preservá-las da deterioração natural. A fase de acabamento constitui-se na etapa de produção do couro em que a pele, depois de tingida, é engraxada, seca e amaciada recebendo, então, o acabamento final. Entre a entrada da pele em sua forma verde ou salgada e a saída em forma de couro acabado, o trabalho de processamento dessa matéria-prima percorre um ciclo de 10 a 12 dias. Releva mencionar que no caso do processo de curtimento, este comporta etapas seqüenciais que, inclusive, podem aparecer independizadas em estabelecimentos isolados. Em decorrência, os curtumes costumam ser classificados em dois tipos: os curtumes integrados e os não integrados. Entre os primeiros estão aquelas unidades produtivas que estão capacitadas a realizar todas as atividades de beneficiamento, desde o couro cru ao couro acabado. Já os curtumes não-integrados são aqueles que efetuam apenas algumas fases da transformação do couro: os curtumes de wet blue – primeira fase do tratamento do couro –; os curtumes que a partir do wet
77
blue processam o couro semi-acabado ou crust; e, finalmente, aqueles curtumes que se dedicam ao acabamento do couro em sua fase final. A cadeia produtiva do couro, além dos setores situados a montante – criadores e frigoríficos – relaciona-se também com setores auxiliares como fornecedores de produtos químicos que produzem corantes, resinas tanantes, óleos e graxas; bens de capital, composto pelos fabricantes de máquinas e equipamentos para couros.
As empresas atuantes no setor coureiro em Apucarana resultam de iniciativas locais,
como diversificação de atividades anteriores. As principais empresas do setor surgiram nas
décadas de 1960, 1980 e 1990 e a pioneira foi o Curtume Apucarana.
O Curtume Apucarana, hoje Apucacouros Indústria e Exportação de Couros S/A foi
fundado em 1967, resultante da mudança de atividades de uma pequena indústria de calçados
instalada em Apucarana em 1963 por Irineu Sacchelli e seus filhos, para uma indústria de
processamento de couro, aproveitando a matéria-prima decorrente de matadouros da região.
“O espírito empreendedor de um dos filhos, o então jovem Umberto Bastos Sacchelli”
permitiu a expansão dos negócios dando origem a um dos maiores grupos empresariais de
Apucarana, o Grupo Sacchelli (GRUPO SRM), o qual além do curtimento e exportação de
couros (com as empresas Apucacouros e Tannery do Brasil S/A em Cáceres-MT),
industrializa e exporta carne eqüina, “através da maior e mais moderna planta de abate,
desossa e processamento deste tipo de carne em todo o Brasil”, o Frigorífico King Meat em
Apucarana, fundado em 1991. Ainda no segmento de carnes eqüinas, o grupo possui uma
empresa em Resana na Itália, a Europe Meat S.R.L.. Possui divisão de logística, através da
K.Log, especializada no setor de alimentos, através da exclusividade na comercialização e na
logística dos produtos Perdigão para todo o Norte-Noroeste do Paraná e extremo Sul do
Estado de São Paulo. Atua no segmento de higiene e limpeza com as marca Alpes e Lazio, na
produção de água mineral, chás e sucos prontos Maceratti, além da criação e engorda de
bovinos através da Agropecuária Sacchelli e da industrialização de alimentos para cães e
gatos (pet foods) através da Reines Alimentação Animal S/A (GRUPO SRM, 2006).
Segundo Antônio Dequech (2006), engenheiro químico e funcionário há mais de 24
anos, a Apucacouros produz anualmente cerca de 420 mil peças de couro, divididas entre
couro wet blue (20%), couro semi-acabado (50%) e couro acabado (30%), sendo 85% de
couro bovino e 15% de couro de eqüídeos. Cerca de 70% da produção é exportada para a
Europa (principalmente Portugal e Itália), para a Ásia (principalmente China, Coréia do Sul e
Hong Kong), Estados Unidos, África e Oceania. O restante da produção destina-se ao
mercado interno,para São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, principalmente para
pólos calçadistas como Franca-SP, Novo Hamburgo-RS. Os couros produzidos pelo curtume
78
são comercializados no estágio wet blue, couros semi-acabados e acabados para indústrias de
estofados em couro, indústrias de sapatos de couro (masculino, feminino, infantil e esportivo),
indústrias de bolsas e artefatos de couro e para a indústria automotiva (bancos automotivos).
“A Apucacouros é uma das maiores empresas exportadoras de couro no Sul do País. (...) A
participação da Apucacouros no mercado internacional já foi destaque no cenário nacional.
Em 2000, a indústria apucaranense ficou em 43º lugar no ranking das 200 maiores empresas
exportadoras do Sul do País, com vendas ao exterior superiores a US$ 15 milhões” (ACIA,
2006). Atualmente emprega 450 funcionários.
Utiliza como matéria-prima peles bovinas - adquiridas dos frigoríficos Alecrim em
Umuarama-PR, Frigopan em Linhares-ES, Friboi no Mato Grosso do Sul e de outro
frigorífico em Rancharia-SP - e peles de eqüídeos fornecidas pelo Frigorífico King Meat de
Apucarana, empresa pertencente ao Grupo SRM. A empresa Tannery do Brasil S/A de
Cáceres-MT, segunda unidade de curtimento de couro do Grupo, com administração unificada
à Apucacouros, criada em meados da década de 1990, emprega 180 funcionários e realiza
somente o curtimento de couros até o estágio wet blue, cuja matéria-prima é adquirida de
frigoríficos da região Centro-Oeste.
As máquinas e equipamentos provêm de Novo Hamburgo-RS, principal pólo coureiro-
calçadista do Brasil, e da Itália, país com a melhor tecnologia em curtimento de couro do
mundo. Além de contar com equipamentos de última geração, a empresa mantém laboratórios
de pesquisa e análises físico-químicas, onde são desenvolvidas e testadas formulações
químicas para cada tipo de couro. Para tanto a empresa investe na qualificação de seus
técnicos, os quais já estudaram na Escola de Curtimento de Couro de Estância Velha-RS, a
única do país.
As dificuldades momentâneas, em períodos de conjuntura desfavorável, segundo
Antônio Dequech, foram superadas com adequação da produção, redução de custos, elevação
da produtividade e aumento da eficiência do processo produtivo, com utilização de novos
equipamentos. Embora a situação econômica seja turbulenta, o setor tende a crescer com a
ampliação da demanda das indústrias automobilísticas e aeronáuticas. Quanto à abertura
econômica implantada a partir dos anos 1990, para a empresa em questão foi “um advento
muito profícuo, pois aumentou o volume de exportação. As empresas do setor viviam
enclausuradas, estavam condicionadas ao mercado interno. Foram forçadas a repensar suas
ações. Puderam importar máquinas e equipamentos modernos”. (DEQUECH, 2006).
A empresa CS Industrial Ltda foi fundada em 1986, “como unidade de
desenvolvimento e pesquisa de processos para recuperação de resíduos de couro originário do
79
processo de rebaixamento do couro curtido ao cromo” cuja disposição deve ser feita em
aterros revestidos para evitar contaminação. A partir dessas pesquisas obteve-se couro
reconstituído, denominado Fibracouro, utilizado na fabricação de componentes para indústrias
de calçados e artefatos. É a única empresa que desenvolveu “tecnologia ligada diretamente à
indústria de curtumes, ou seja, utilizando matéria-prima exclusivamente de resíduos de
origem couro na sua forma curtida” (CS INDUSTRIAL, 2006). Segundo a empresa, testes
comparativos entre solados de couro natural e de Fibracouro, demonstraram que o material
possuía resistência três vezes superior e qualidade similar ou superior em todos os aspectos
analisados (CS INDUSTRIAL, 2006).
A partir de 1988 a empresa iniciou a atividade de curtimento de couro wet blue, devido
à demanda crescente do mercado exportador de couros nesse estágio. Chegou a produzir
90.000 peles por mês. Contudo, a migração da pecuária para o Centro-Oeste do país reduziu a
oferta de couros no Paraná, obrigando a empresa a ajustar sua capacidade à disponibilidade de
matéria-prima. A posição estratégica em relação a portos e principais centros de consumo do
país, além da responsabilidade ambiental contribuíram para a inserção da empresa no mercado
internacional de couro wet blue. Concomitantemente a este processo, a empresa investiu em
novos equipamentos e aprimoramento tecnológico, a partir de 2003, para ampliar a
capacidade de produção de Fibracouro. Produz couro wet blue e couros pré-curtidos com
taninos sintéticos wet white, raspas de couro, sebo animal, produtos em Fibracouro para linha
calçados: solas, palmilhas, forros, etc.; linha artefatos: cintos, forros, revestimentos; e linha
móveis e decorações: revestimentos dissipativos e revestimentos decorativos. Oferece ainda
serviços de curtimento de couros para outras empresas e processamento de efluentes de outras
indústrias em sua Estação de Tratamento de Efluentes, cuja capacidade diária é de 1.200.000
litros (CS INDUSTRIAL, 2006).
A empresa Fujiwara Equipamentos de Proteção Individual Ltda, foi fundada em 1990
por Sérgio Fujiwara, o qual vislumbrou na fabricação de calçados uma oportunidade para
agregar valor à produção de couros realizada desde a década de 1980 no curtume da família,
localizado em Apucarana. A produção de couros destina-se totalmente à produção de
equipamentos de proteção individual, como calçados, luvas, aventais, etc. Emprega 1300
funcionários, além de 500 empregos em empresas parceiras na produção de couro em diversos
Estados brasileiros. Utiliza máquinas nacionais e importadas de países da Europa. “O Sistema
Fujiwara de fabricação de calçados, cabedais, luvas e vestimentas está estruturado na forma
de cadeia produtiva verticalizada que inclui as competências e tecnologias para o
desenvolvimento do couro, solado e produtos acabados” (FUJIWARA, 2006).
80
A empresa produz 320.000 pares de calçados de segurança e 150.000 pares de luvas de
segurança por mês para diversos segmentos: administrativos, adventure, alimentícias, altas
temperaturas, automobilística, baixas temperaturas, construção civil, hospitalar, indústria de
bebidas, industrial, limpeza urbana, militar, petrolífero, químico, riscos elétricos,
sucroalcoleiros e outros.
A produção destina-se ao mercado interno e externo e a empresa possui contratos com
entidades e empresas de diversos países, a saber: Estados Unidos, Cuba, Panamá, Jamaica,
Trinidad Tobago, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai, Peru, Equador, República
Dominicana, Emirados Árabes, Kuwait, Espanha, Finlândia e Inglaterra (FUJIWARA, 2006).
A empresa produziu sapatos para o Correio Inglês e botas especiais para deserto, a pedido do
Exército Inglês em 2003. A certificação de todos os produtos Fujiwara atende os critérios das
normas brasileira, européia, norte americana e de cada país para onde a empresa exporta, além
das normas específicas para cada segmento de atuação (FUJIWARA, 2006). A
comercialização é realizada por representantes e distribuidores
De maneira geral, as dificuldades enfrentadas pelas empresas de Apucarana referem-se
à carência de mão-de-obra qualificada, elevados custos de matéria-prima (peles ou couro cru),
juros elevados e alto custo do capital de giro, encargos sociais trabalhistas elevados e a
questão ambiental, muito séria para o setor que gera efluentes altamente poluentes a base de
cromo e outras substâncias tóxicas. Na comercialização, as dificuldades são os longos prazos
para recebimento, a inadimplência no mercado interno, e o dólar baixo que afeta as
exportações.
O setor vem enfrentando nos últimos anos a concorrência com produtos chineses, com
outros materiais sintéticos, cuja utilização em substituição ao couro vem aumentando na
indústria calçadista, como o aumento da produção de tênis, na indústria do vestuário entre
outras. As sucessivas elevações no preço do petróleo têm encarecido os produtos químicos
utilizados no processo de curtimento do couro.
A disponibilidade e qualidade da matéria prima também é um problema. Embora o
Brasil possua o maior rebanho de bovinos do mundo, a taxa de produtividade na produção de
couros, a taxa de desfrute (número de cabeças abatidas em relação ao total do rebanho) é
relativamente baixa, em torno de 20%. A produção de couros brasileiros de alta qualidade é
baixa em comparação com outros países, apenas 8,56% do couro manufaturado pelos
curtumes nacionais eram de qualidade superior, enquanto nos Estados Unidos o índice chega
a 85%. Isso se deve à forma como o gado é criado nas fazendas, fase responsável por 60% dos
defeitos na pele do gado (carrapatos e berne, marcação do gado em locais inadequados, e
81
ferimentos produzidos no animal devido a cercas com arame farpado), ao transporte dos
animais das propriedades até os abatedouros, e à má conservação do couro fresco e à esfola
malfeita (COSTA, 2002, p. 46-50).
As transformações ocorridas na economia brasileira na década de 1990, como a
abertura comercial com queda das barreiras tarifárias e não-tarifárias, e políticas
macroeconômicas neoliberais de estabilização econômica e de redução da presença do Estado
como regulador da atividade econômica, aliada à presença de produtos importados com
qualidades superiores e preços competitivos, obrigaram as empresas a se adaptarem, a
modernizarem produtos e processos, além do câmbio valorizado ter dificultado as vendas
externas. As conseqüências foram a redução de custos, fechamento de empresas, eliminação
de postos de trabalho, reestruturação produtiva e demanda por proteção (COSTA, 2002, P.48-
50).
Segundo Costa (2002, p. 46-47) houve uma tendência de aumento na participação das
exportações diretas de couro em detrimento do consumo doméstico e exportação indireta na
década de 1990, devido ao crescimento das exportações de couro wet blue e à desaceleração
das exportações de calçados a partir de meados da década. Em fins de 2000, a Câmara de
Comércio Exterior/CAMEX brasileira estabeleceu a alíquota de 9% sobre o valor do couro
exportado na forma de wet blue com o objetivo de induzir as exportações de couros de maior
valor agregado.
Além de indústrias de curtimento de couro, fabricação de artefatos de couro e
fabricação de calçados, Apucarana possui algumas indústrias químicas que atuam na
fabricação, exportação e importação de produtos químicos para curtimento de couro, como a
empresa Quimicamil, fundada em 1996. O sulfato de cromo, principal agente utilizado no
curtimento de couro wet blue, representou 7,34% das importações de Apucarana em 2005. Os
produtos químicos, dentre os quais substâncias tanantes e preparadas para o curtimento de
couro representaram aproximadamente 29% das importações apucaranenses em 2005
(BRASIL, 2006).
Dentre os 10 principais itens de exportação de Apucarana em 2005, 07 itens inclusive
o primeiro, pertencem ao segmento curtimento de couro e fabricação de artefatos e de couro e
calçados de couro. O setor coureiro-calçadista foi responsável por 59,46% das exportações de
Apucarana em 2005. Os três principais países de destino das exportações do município nesse
ano são importantes importadores, produtores e exportadores de couro e calçados (Coréia do
Sul, Itália e Hong Kong). Os produtos do setor (couros, calçados e artefatos) são insumos
82
industriais e bens de consumo não duráveis, justamente os principais grupos de produtos
exportados (BRASIL, 2006).
Apucarana possui curtumes integrados como o Curtume Apucarana, empresas
verticalizadas como a Fujiwara EPI e curtumes não-integrados como a CS Industrial. Exporta
produtos acabados, com maior valor agregado e couro wet blue. No entanto, todas as
empresas analisadas investem em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos como
estratégia de manter e ampliar mercados seja com acabamentos diferenciados para novas
aplicações, seja com a industrialização do couro e a atuação em nichos específicos, ou com o
desenvolvimento de produtos e tecnologias próprias. Além de ser o terceiro maior setor
industrial de Apucarana em termos de emprego, é o que possui produtos com maior valor
agregado e permite a inserção de Apucarana em redes de escala internacional, conforme o
mapa a seguir.
As empresas do setor coureiro-calçadista de Apucarana atuam como fornecedoras de
matéria-prima para indústrias de calçados, artefatos de couro em geral e indústrias
automobilísticas do Centro-Sul do país e, principalmente do exterior. Através do fornecimento
de equipamentos de proteção individual para empresas e instituições nacionais e
principalmente estrangeiras, a Fujiwara EPI tornou-se a maior fabricante desse segmento no
país. O setor coureiro-calçadista de Apucarana é responsável pela produção de 25% do couro
paranaense e 5% do couro nacional.
83
Mapa 06 – FLUXOS DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO DE APUCARANA
Países Andinos
Mercosul
Estados Unidos e América Central
União Européia, Ásia e Oriente Médio
África e Oceania
N
166 0 322 Km
Países Andinos
Mercosul
Estados Unidos e América Central
União Européia, Ásia e Oriente Médio
África e Oceania
N
LEGENDA
Aquisição de matérias-primas e equipamentos
Vendas de produtos industrializados
Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002
Org.: Anderson de Freitas Vietro
3.4 – FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS
O desenvolvimento da indústria têxtil em Apucarana deve-se à iniciativa de Eros
Felipe, empresário do ramo de comercialização de café, residente em Apucarana, o qual em
1967 iniciou novo negócio, passando a produzir fios retorcidos de algodão para a indústria de
pneus e lonas. O Paraná era importante produtor de algodão, porém, segundo Eros Felipe, não
havia no Estado empresas ligadas a sua industrialização. Foi dessa iniciativa que surgiu a
Indústria Têxtil Apucarana Ltda, a qual contava inicialmente com 3 empregados e que, em
1968 passou a produzir tecidos e sacos para embalagem e, em 1970 iniciou a produção de fios
de algodão para a própria tecelagem. Em 1991 foi inaugurada a segunda unidade da empresa,
a Paranatex Indústria Têxtil Ltda, responsável pela prestação de serviços de beneficiamento
de tecidos planos, o que segundo a própria empresa é uma atividade pioneira na região e
“propicia a criação e ampliação de um pólo fabril, pois facilita a instalação de tecelagens
independentes. Essas empresas não necessitarão buscar recursos em outros Estados para o
beneficiamento de tecidos produzidos no Paraná”.(PARANATEX, 2006).
A empresa possui uma estrutura verticalizada, com produção de fios de algodão,
tecidos crus e acabados de algodão (sarjas, telas), além da já citada oferta de serviços de
beneficiamento de tecidos, bastante utilizados por empresas confeccionistas da cidade para
tingimento em cores especiais, de pequenas quantidades de tecido. Produz mensalmente um
milhão de metros de tecidos, empregando 320 funcionários. Sua produção destina-se ao
mercado interno – com destaque para o Estado de São Paulo, responsável por 25% das vendas
e para Apucarana, responsável por 20 a 25% das vendas (embora já tenha representado 50%
do mercado consumidor) – para empresas de confecções e, também é exportada para
Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e a partir de 2002 para a África do Sul (atuando num
nicho daquele mercado, por intermédio de um representante conhecedor daquele mercado).
A comercialização é realizada através de representantes e vendedores próprios e em
lojas de varejo em Apucarana, Maringá e São Paulo (que além da venda direta, permitem dar
vazão a tecidos com eventuais problemas de qualidade).
O algodão utilizado pela empresa provém principalmente de Mato Grosso, Goiás e
Bahia, com pequena quantia provinda do Paraná (que em períodos anteriores já foi o principal
produtor nacional e principal fornecedor). As máquinas e equipamentos utilizados no
processo produtivo são majoritariamente importadas, oriundas da Alemanha, Suíça, República
Tcheca e do Japão. A exceção ocorre com as máquinas de limpar e pentear algodão, as quais
são produzidas em Curitiba. A principal inovação tecnológica adotada foi a substituição dos
85
teares de lançadeiras por teares a jatos de ar, além dos investimentos em pesquisas para
acabamento de tecidos, o principal diferencial competitivo da empresa.
As dificuldades elencadas pelo empresário para a produção e comercialização no setor
têxtil, atualmente são a falta de mão-de-obra especializada, burocracia e juros elevados para a
realização de financiamentos, além, é claro, da concorrência com os produtos chineses (têxteis
e de vestuário) tanto internamente, quanto no mercado externo, além do câmbio
sobrevalorizado que obriga a empresa a trabalhar com margens negativas nos contratos
internacionais. Além da concorrência com produtos importados, o setor enfrenta forte
concorrência com produtos feitos com materiais sintéticos, os quais possuem custos mais
baixos de produção e preços mais baratos que os produtos de algodão. Outro fator de
descontentamento é a falta de uma estrutura governamental onde o setor industrial possa se
dirigir e ser ouvido.
Ao longo da história da empresa, seu fundador, afirma que houve vários períodos de
crises conjunturais que afetaram a atividade do setor, como em 1983 (num período recessivo
do 4º Kondratieff), com o Plano Cruzado em 1986-1987 numa crise inflacionária, em 1999
com o câmbio fixo e, durante todo o Governo Lula (2003-2006), com uma política
desestimulante às atividades produtivas e favoráveis às importações. Com relação à abertura
da economia a partir de 1990, com o Plano Collor, os efeitos foram favoráveis, pois
propiciaram liberdade de importação de equipamentos, o que permitiu a empresa equiparar-se
com as indústrias estrangeiras, permitiu aumento dos investimentos, aumentar a eficiência e
reduzir custos.
No entanto, os dados do MTE/RAIS (BRASIL, 1985-2004) indicam variação
significativa no número de estabelecimentos do setor têxtil em Apucarana, conforme gráfico
14. De 1985 a 1990, o número de estabelecimentos foi crescente passando de 28 para 61. a
partir de então passou por forte redução, alcançando em 1996, o menor número de
estabelecimentos, refletindo os efeitos da abertura do mercado interno, a forte concorrência
com produtos estrangeiros, dentre outros. O mesmo ocorreu com o número de trabalhadores
(gráfico 15), que evoluiu positivamente entre 1985-1987, reduziu em 1990, passou por quedas
bruscas entre 1990-1998, alcançando na última data menos de 50% daqueles empregos
gerados em 1985. A partir de 1998, volta a crescer, mas com baixas taxas, apresentando leve
redução em 2004.
86
Gráfico 14 – Evolução dos estabelecimentos industriais na indústria de produtos têxteis em Apucarana: 1985-
2004
28 39 61
22 27 29 44 47
0
100
200
300
400
500
600
700
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Indústria de produtos têxteis*
Indústria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004.
* Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.
Gráfico 15 – Evolução do pessoal ocupado na indústria de produtos têxteis em Apucarana: 1985-2004
1025
1455
1269
819
496
691
906
898
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1985 1987 1990 1996 1998 2000 2002 2004
Indústria de produtos têxteis*
Indústria de transformação
Fonte: BRASIL, 1985-2004.
* Os dados de 1985 a 1990 são relativos à indústria de vestuário e acessórios e de artefatos têxteis. Org. Anderson Vietro.
Os dados de 2002 do MTE/RAIS são os mais detalhados e que permitem identificar a
complexidade do setor têxtil em Apucarana. Nesse ano, existiam 04 estabelecimentos que
87
trabalhavam com fiação, responsáveis por 162 empregos; 04 estabelecimentos que
trabalhavam com tecelagem, incluindo fiação, gerando 330 postos de trabalho; 06
estabelecimentos ligados à fabricação de artefatos têxteis incluindo tecelagem com 133
empregos; 21 estabelecimentos de fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos –
exclusive vestuário – gerando 151 empregos; 05 fabricantes de tecidos e artigos de malha
gerando 38 empregos e 04 estabelecimentos de acabamentos em fios, tecidos e artefatos
têxteis, gerando 92 empregos, totalizando 906 empregos formais.
A empresa Estação da Malha, criada em 1990 por Azem Said, que trabalhava com
comércio de cereais, emprega 45 funcionários, produzindo 40 toneladas de malha por mês,
sendo que 95% dessa produção destina-se a empresas de confecções de Apucarana e o
restante é vendido para empresas de Mauá da Serra, Arapongas e Astorga. Os fios utilizados
na fabricação das malhas são produzidos em Mandaguari e os corantes em Blumenau. A
empresa possui 17 máquinas, adquiridas em São Paulo, Santa Catarina, além de máquinas
usadas de origem alemã, compradas no mercado nacional. Até 2002 a empresa trabalhava
apenas com tecelagem. Desde então, a empresa realiza o tingimento próprio dos tecidos,
ofertando este serviço para seus clientes.
A empresa Tecitex, também de capital local, existe desde 1996, como distribuidora de
artigos para a confecção de bonés, malhas para modinha, malhas para camisetas, lingerie e
confecções em geral. “Em julho de 2003, a Tecitex começou a industrializar malhas de
algodão, poliéster e poliamida, (com a marca registrada Malhas Marrafe), incrementando
ainda mais nosso (seu) atendimento na linha de camisetas promocionais, para grifes e lojas”
(TECITEX, 2006). Contando com 16 funcionários, além de distribuir tecidos para fabricantes
de bonés de Apucarana e de confecções de diversas cidades do Paraná, com a industrialização
e comercialização de malhas para a moda, atende os pólos confeccionistas do Paraná e desde
2003 possuiu o Certificado de Sistema de Qualidade – NBR ISO 9001/2000.
A exceção quanto à origem de capital no setor é a Empresa Paraguaçu Têxtil, com
sede em Paraguaçu – MG. “A Paraguaçu Têxtil foi fundada em 1941, e é um dos mais
tradicionais fabricantes de tecidos do país. Especializada na fabricação do Índigo Blue, desde
1982, tem sua produção voltada para os mercados do Brasil e do exterior. O Índigo Paraguaçu
Têxtil é tradicionalmente valorizado pelo padrão de tingimento e a empresa é reconhecida por
produtores, corretores e indústrias têxteis pela pontualidade e transparência em todos os seus
serviços” (PARAGUAÇU, 2006). O grupo realiza todo o ciclo do algodão em unidades nos
Estados de Minas Gerais, Paraná e Mato-Grosso, atuando do plantio até o tecido acabado,
realizando o processamento do caroço, de onde se extrai o línter, óleo vegetal e farelo para
88
ração animal. Em Apucarana é realizada a fiação. Os fios de algodão, produzidos na unidade
existente desde 2003 e que emprega 104 funcionários, destinam-se exclusivamente à
produção do índigo Paraguaçu Têxtil.
Em 2005 as exportações de artefatos têxteis de Apucarana atingiram US$ 910.625, o
equivalente a 1,6% do valor exportado. As importações de máquinas e equipamentos para o
setor foram de US$ 1.261.422 o equivalente a 20,98% do valor importado (BRASIL, 2006). O
mapa 07 apresenta as interações espaciais das indústrias têxteis de Apucarana. O setor têxtil
de Apucarana apresenta um mercado concentrado na Região Centro-Sul do país e países do
Mercosul. A procedência de matérias-primas é nacional e de máquinas e equipamentos é
nacional e de países da Europa e da Ásia.
Mapa 07 – FLUXOS DO SETOR TÊXTIL DE APUCARANA
Bolívia
Paraguai
Uruguai
Argentina
África do Sul
Japão
Alemanha, República Tcheca e Suiça
N
166 0 322 Km
LEGENDA
Aquisição de matérias-primas e equipamentos
Vendas de produtos industrializados
Fonte: Levantamento de Campo, 2006Base Cartográfica: IBGE, 2002
Org.: Anderson de Freitas Vietro
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apucarana é uma cidade industrializada. Possui indústrias de diversos setores. Os
principais setores em termos de pessoal ocupado e número de estabelecimentos são a indústria
de confecções e de artigos de vestuário; a indústria de produtos alimentícios e bebidas, com
destaque para a moagem de milho e empresas atuantes no segmento de nutrição animal; as
indústrias curtidoras de couro e fabricantes de acessórios em couro, como os equipamentos de
proteção individual e as indústrias de produtos têxteis.
Os setores industriais analisados apresentam características comuns. São setores cujas
origens se deram através de iniciativas locais, de pequena produção mercantil rural e urbana
(artesanal) e de atividades ligadas ao comércio. São caracterizados pelo uso intensivo de mão-
de-obra. Porém, são setores dinâmicos, responsáveis pela inserção de Apucarana em redes
regionais, nacionais e internacionais de produção e comercialização de diversos produtos. São
setores que surgiram e/ou se desenvolveram em tempos de crise (a partir da década de 1960)
em contextos nacional (juglarianos brasileiros) e mundial (fase b do 4º Kondratieff).
Em tempos de crise, o que Apucarana, mediatizada por agentes locais, foi capaz de
fazer? Eis seu caminho: não só foi capaz de se industrializar, como de concorrer com outros
locais, inclusive com a metrópole nacional - São Paulo.
Iniciada na década de 1970, a produção de bonés de Apucarana, desenvolveu-se na
década de 1980 – a chamada década perdida, pelos baixos índices de crescimento da
economia nacional. Foi nessa década que disseminou-se a produção de bonés. A década
seguinte, foi marcada pela diversificação da produção no interior das fábricas de bonés, pela
terceirização da produção e pela informalidade das facções. Constiuiu-se uma cadeia
produtiva do boné, com a instalação de empresas fornecedoras de matéria-prima, máquinas e
equipamentos, instalação de distribuidores atacadistas de acessórios para bonés, de
representantes comerciais de importação de máquinas, etc. Houve um aumento no número de
estabelecimentos industriais e o número de empregos formais gerados duplicou. Os anos 2000
foram marcados por crises momentâneas. Mas o setor cresceu, mediante realização de
investimentos, adoção de estratégias de cooperação entre empresários. Constituiu-se o
Arranjo Produtivo Local dos Bonés. É um setor exportador, responsável por 70% da produção
nacional, dinâmico, que passou a concorrer com a metrópole e teve êxito.
O setor coureiro-calçadista de Apucarana é responsável por 25% da produção de
couros do Paraná e por 5% da produção do Brasil (detentor do maior rebanho bovino do
mundo). É constituído por empresas exportadoras de couro nos estágios wet blue, semi-
90
acabados e acabados, destinados às indústrias calçadistas e automotivas entre outras, além de
exportadora de artefatos de couro, especificamente equipamentos de proteção individual.
Neste segmento Apucarana possui uma empresa, de iniciativa local, que é a maior produtora e
exportadora desses equipamentos no Brasil.
Conformou-se em Apucarana uma cadeia produtiva do milho, especializada na
moagem de milho a seco, produzindo derivados destinados ao consumo humano e a vasta
utilização por indústrias diversas, como cervejarias e mineradoras. As duas grandes empresas
instaladas em Apucarana são responsáveis por 25% do processamento de milho do país,
constituindo o maior parque moageiro de milho da América Latina. O desenvolvimento
dessas indústrias em Apucarana, deve-se em parte, à localização central numa região grande
produtora de gêneros agrícolas, o Norte do Paraná, e ao programa de industrialização
empreendido pelo Governo do Paraná através da agroindustrialização do Estado, nas décadas
de 1960 e 1970. A cadeia produtiva do milho compreende ainda um número significativo de
indústrias de nutrição animal, fabricantes de rações para animais de grande porte (bovinos,
suínos, etc.) e pequenos animais (cães, gatos e peixes).
A indústria têxtil de Apucarana é pioneira no Paraná e desenvolveu-se a partir da
década de 1960. O desenvolvimento de um setor confeccionista em Apucarana, favoreceu o
desenvolvimento do setor, cujas exportações embora tímidas, são crescentes.
Ressalte-se que a diversificação de atividades nesses setores analisados permitiu a
conformação de fortes grupos empresariais locais.
Há que se ressaltar que outros segmentos industriais apresentaram crescimento ao
longo do período analisado, como as indústrias de produtos químicos, indústrias de borracha e
materiais plásticos, indústrias de mobiliário e indústrias diversas.
O Paraná não é um Estado eminentemente agrícola. Possui sim, uma produção
agropecuária significativa, configurando entre os maiores produtores agrícolas do Brasil. No
entanto, o Paraná apresenta uma vigorosa dinâmica industrial. Tal dinâmica apresenta-se
dispersa de modo desigual por todo o território paranaense. Apucarana especializou-se na
produção de bonés. Outras cidades especializaram-se na produção de diversos produtos,
contribuindo para o aumento da riqueza gerada no Estado e de postos de trabalho. Essa
dinâmica precisa ser estudada, compreendida. Novos trabalhos precisam ser realizados.
REFERÊNCIAS ABIMILHO. Institucional. Disponível em <http://www.abimilho.com.br>. Acesso em: 06 out. 2006. ACIA Indústrias participam com 32% do PIB em Apucarana: as empresas geram US$ 60,1 milhões do Produto Interno Bruto municipal, que é estimado em US$ 199,2 milhões Disponível em <http://www.aciaapucarana.org.br>. Acesso em: 27 jun. 2006. APL BONÉS. Plano de desenvolvimento do arranjo produtivo local de bonés de Apucarana – Paraná. Apucarana, 2005. APUCARANA. Prefeitura Municipal. Plano diretor de desenvolvimento de Apucarana. Apucarana: Codepar, 1967. APUCARANA. Prefeitura Municipal. Cadastro. Apucarana: Secretaria da Fazenda, 2005. ARAÚJO JR., A. M. A indústria de bens de capital no Estado de São Paulo: da gênese aos problemas atuais. 2003. 257 p. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade de São Paulo, São Paulo. BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimentismo. 4ª ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. BRAGUETO, C. R. O processo de industrialização do Paraná até a década de 1970. Geografia, Londrina, v. 8, n. 2, p. 149-160, jul/dez. 1999. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 1985. Brasília, 1985. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 1987. Brasília, 1987. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 1990. Brasília, 1990. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 1996. Brasília, 1996. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 1998. Brasília, 1998. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 2000. Brasília, 2000. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 2002. Brasília, 2002. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. RAIS – Relação Anual de Informações Sociais – 2004. Brasília, 2004.
92
BRASIL, Secretaria de Comércio Exterior. Relação de exportação e importação: Apucarana, 2004 e 2005. Brasília, 2006. CARAMURU Alimentos de Milho. A empresa. Disponível em <http://www.caramurualimentos.com.br>. Acesso em: 17 set. 2006. COSTA, A. B. Estudo da competitividade de cadeias integradas no Brasil: impactos das zonas de livre comércio – Cadeia: couro-calçados. Campinas: Unicamp, 2002. COSTA, V. V. Entrevista concedida em 20 out. 2006. Apucarana, 2006. CS INDUSTRIAL. A CS Industrial. Disponível em <http://www.csindustrial.com.br>. Acesso em: 22 out. 2006. DEQUECH, A. Entrevista concedida em 31 out. 2006. Apucarana, 2006. ESPIRITO SANTO, A. L. Entrevista concedida em 03 nov. 2006. Apucarana, 2006. FELIPE, E. Entrevista concedida em 24 out. 2006. Apucarana, 2006. FRESCA, T. M. A rede urbana do Norte do Paraná. Londrina: Eduel, 2004a. FRESCA, T. M. Industrialização no Norte do Paraná na década de 1990: transferência industrial e estratégias de crescimento. Londrina, 2004b. Inédito FRESCA, T. M. A rede urbana norte-paranaense e cidades especializadas em produções industriais: Arapongas, Apucarana e Cianorte. In: ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 10., 2005, São Paulo. Anais... São Paulo: Usp, 2005. p.5554-5574. FUJIWARA Equipamentos de Proteção Individual. A Fujiwara. Disponível em <http://www.fujiwara.com.br>. Acesso em: 13 out. 2006. GONÇALVES, P. S. Entrevista concedida em 08 nov. 2006. Apucarana, 2006. GRUPO SRM. Sumário histórico. Disponível em <http://www.gruposrm.com.br>. Acesso em: 17 set. 2006. IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 1950. IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 1960. IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 1970. IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 1980 IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 1991 IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 2000
93
IBGE. Censo Industrial: Paraná. Rio de Janeiro, 1970. IBGE. Censo Industrial: Paraná. Rio de Janeiro, 1980. IBGE. Contagem Populacional. Rio de Janeiro, 1996. IEL PR – INSTITUTO EUVALDO LODI DO PARANÁ. O que é APL? Disponível em <http://www.ielpr.org.br/apl/FreeComponent1575content6086.shtml>. Acesso em: 05 nov. 2006. IPARDES. Divisão político-adminstrativa do Estado do Paraná: 2002. Disponível em <http://www.ipardes.gov.br>. Acesso em: 15 nov. 2006. IPARDES. Crescimento, reestruturação e competitividade industrial no Paraná – 1985-2000. Curitiba, 2002. IPARDES. Cadernos municipais: Apucarana. Curitiba, 2006 KOWALSKI Alimentos. Institucional. Disponível em <http://www.kowalski.com.br>. Acesso em: 17 set. 2006. KOWALSKI, P. Entrevista concedida em 16 out. 2006. Apucarana, 2006. LOPES, S. A. Entrevista concedida em 26 out. 2006. Apucarana, 2006. MACHADO, A. Entrevista concedida em 09 out. 2006. Apucarana, 2006. MAMIGONIAN, A. A industrialização brasileira. Cadernos Geográficos. Florianópolis: Imprensa universitária, nº 2, maio de 2000. MAMIGONIAN, A. A industrialização da América Latina: o caso brasileiro. Orientação. São Paulo: USP, 1990, nº 8, p.79-83. MAMIGONIAN, A. Introdução ao pensamento de Ignácio Rangel. Geosul. Florianópolis: UFSC, 1987, nº 3, p.63-71. MANCHINI, T. Entrevista concedida em 15 set. 2006. Apucarana, 2006. MANFREDINI, L. A vitória de um homem austero e madrugador. In:______. Empreendedores do Paraná: norte. Curitiba:Ipê Amarelo, 2005. p. 47-54. PARAGUAÇU Têxtil. A Paraguaçu Têxtil. Disponível em <http://www.paraguacutextil.com.br>. Acesso em: 21 set. 2006. PARANATEX. A empresa. Disponível em <http://www.paranatex.com>. Acesso em: 21 set. 2006. PINTO, E. Entrevista concedida em 15 set. 2006. Apucarana, 2006. RAMOS, J. Entrevista concedida em 15 set. 2006. Apucarana, 2006.
94
RANGEL, I. M. A história da dualidade brasileira. (1981) In: MAMIGONIAN, A.; REGO, J. M. (orgs.) O pensamento de Ignácio Rangel. São Paulo: editora 34, 1998. p. 139-170. RANGEL, I. M. Obras reunidas. v.1. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005a. RANGEL, I. M. Obras reunidas. v. 2. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005b. REDE APL PR. O APL dos bonés de Apucarana. Disponível em <http://redeapl.pr.gov.br>. Acesso em: 11 nov. 2006. REINES. Empresa. Disponível em <http://www.reines.com.br/empresa.html>. Acesso em: 16 out. 2006. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. A. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003 SILVA, M. A. O processo de industrialização no Sul do Brasil. Cadernos geográficos. Florianópolis: Imprensa Departamento de Geociências, nº 15, maio de 2006. SILVEIRA, M. R. A importância geoeconômica das estradas de ferro no Brasil. 2003. 454 p. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. TECITEX. Empresa. Disponível em <http://www.tecitex.com.br/empresa.php> Acesso em: 28 set. 2006.