O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO BRASILEIRA*

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573 estudos, Goiânia, v. 37, n. 5/6, p. 573-585, maio/jun. 2010. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO BRASILEIRA* CLEUTON CLENES, LUCIMAR CRISPIM VAZ CARDOSO, VÂNIA CRISTINA DOURADO Resumo: o texto discute o processo de urbanização brasi- leira, ressaltando o papel da industrialização na configuração dos espaços urbanos. Onde a relação campo/cidade passa por constantes mudanças, interagindo na transformação e distribui- ção dos espaços. A partir do século XX as cidades começam a evidenciar os primeiros problemas urbanos provenientes da re- produção do capital, nova forma de constituição da sociedade e de consumo. As cidades crescem e consolidam as periferias, que se tornam áreas segregadas, o estudo apresenta a ação e importancia do estado no processo de urbanização e o impac- to da modernização no processo de urbanização, que ocorre de forma diferenciada nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Evidencia a semelhança dos problemas nas cidades, que surgem em decorrencia da expansão do capitalismo e as tendencias de urbanização, evidenciadas no censo de 2000 e 2010. Palavras-chave: Processo de Urbanização. Estado. Cidades. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO BRASILEIRA E ntende-se como urbanização, a concentração da popula- ção urbana em algumas cidades, metrópoles e aglomera- ções urbanas. Para entender a cidade, é preciso compreen-

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CLEUTON CLENES, LUCIMAR CRISPIM VAZ CARDOSO,VÂNIA CRISTINA DOURADO

Resumo: o texto discute o processo de urbanização brasi-leira, ressaltando o papel da industrialização na configuração dos espaços urbanos. Onde a relação campo/cidade passa por constantes mudanças, interagindo na transformação e distribui-ção dos espaços. A partir do século XX as cidades começam a evidenciar os primeiros problemas urbanos provenientes da re-produção do capital, nova forma de constituição da sociedade e de consumo. As cidades crescem e consolidam as periferias, que se tornam áreas segregadas, o estudo apresenta a ação e importancia do estado no processo de urbanização e o impac-to da modernização no processo de urbanização, que ocorre de forma diferenciada nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Evidencia a semelhança dos problemas nas cidades, que surgem em decorrencia da expansão do capitalismo e as tendencias de urbanização, evidenciadas no censo de 2000 e 2010.

Palavras-chave: Processo de Urbanização. Estado. Cidades.

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

E ntende-se como urbanização, a concentração da popula-ção urbana em algumas cidades, metrópoles e aglomera-ções urbanas. Para entender a cidade, é preciso compreen-

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der a complexidade das atividades econômicas, a concentração e a dispersão territorial e a dinâmica da população.

O processo urbano é o resultado de industrialização e ur-banização que atinge tanto as áreas urbanas quanto rurais, pois grande parte da população brasileira exerce atividade primária.

As atividades rurais estão cada vez mais vinculadas às áre-as industriais, ao comércio os serviços e com o setor financeiro. O espaço urbano extrapola os limites da cidade, como por exem-plo, o agronegócio, o turismo ecológico. A relação campo/ cidade se dinamiza, recriando novos espaços. É preciso compreender o campo e a cidade como espaço que se interagem, não como opo-sição.

A cidade deve ser entendida como um espaço de transfor-mações territoriais, sociais políticas e econômicas, como espaço de concentração da produção, circulação, edificações, consumo de bens e serviços e centro de decisões políticas.

A urbanização é um fenômeno que atinge praticamente toda sociedade, espaço de compreensão da dinâmica e concen-tração da riqueza, da desigualdade social e também econômica.

Existe uma grande disparidade na distribuição da popu-lação urbana nas metrópoles e nas cidades menores, mas mes-mo assim no Brasil, predomina a população urbana, sendo assim o governo precisa implementar políticas públicas para atender a população mais carente que vive no entorno das metrópoles, para evitar problemas relacionados a moradia, o desemprego e o transporte.

A produção de café (séc. XIX) o estado de São Paulo,torna--se o pólo mais dinâmico do país, abrangendo também o Rio de Janeiro e Minas Gerais, com implantação de ferrovias, melhoria dos portos, criação dos meios de comunicação, comércio inter-nacional, consumo, trabalho, formas capitalistas de produção. É uma integração limitada, sendo São Paulo o estado polarizador.

Desde as primeiras décadas do século XX, o processo de urbanização passa a ser predominante no Brasil, este é o caminho para a modernização e o início da industrialização do país, para superar a ideia de atraso, devido a hegemonia da economia agro-exportadora (MARICATO, 2002).

Em 1930, acontece a organização da indústria brasileira, impulso dado pelo poder público, que ativa o processo de urba-

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nização e crescimento demográfico. Porém o centro da economia ainda era agrária. O Estado passa a investir em infra-estrutura para o desenvolvimento industrial, visando a substituição de im-portações, fortalecimento do mercado interno com diversificação das forças produtivas e com crescente modernização da sociedade.

A partir de 1940, houve um intenso crescimento urbano, surgiram inúmeras cidades e serviços para atender essa popula-ção, ainda que não tenha sido suficiente para suprir essas necessi-dades do povo, assim o território brasileiro foi sendo construído. Após a Segunda Grande Guerra, há um significativo controle do capital estrangeiro, a indústria cada vez mais passa a sofrer influ-ência externa, se distanciando da produção dos produtos de ex-trema necessidade da população. Passando a produzir produtos para restritas camadas da sociedade, provocando mudanças no padrão de consumo e no estilo de vida da população.

O forte movimento de urbanização após a Segunda Guer-ra é resultado de altas taxas de natalidade e queda nas taxas de mortalidade, devido aos progressos sanitários e relativa melhoria na qualidade de vida, o que pode ser chamado de explosão de-mográfica.

A cidade é o espaço, onde o homem reproduz o capital, para satisfazer suas necessidades como o consumo, lazer, moradia, trabalho. A cidade representa trabalho materializado. É também um campo de lutas de classe e de movimentos sociais e de divisão social. Na cidade fundem-se diferentes os interesses: do capital, a ação do Estado e os interesses dos moradores na luta pelo direito à cidade, é nesse sentido, que aparecem as relações contraditórias no espaço urbano,podendo causar profundos conflitos.

O espaço urbano é o local onde as classes sociais vivem e se reproduzem, manifesta relações complexas, numa sociedade de classes distintas e com direitos à cidadania plena e igual, porém o acesso é diferenciado, pois depende do poder aquisitivo de cada um. A cidade pode ser expressa como construção humana, como produto histórico-social, a cidade aparece como trabalho mate-rializado, resultado do acúmulo ao longo do tempo, produto da construção histórica e realização humana. Caso seja uma cons-trução problemática, no plano teórico, a produção da cidade e do urbano terá como resultado uma prática também problemática, podendo revelar as contradições do espaço urbano.

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O que diferencia o campo da cidade é justamente o uso de técnicas que o homem passa a dominar, a inovação tecnológica, que implica na divisão do trabalho e de classes e mais tarde, na divisão entre campo e cidade. Com o processo de industrializa-ção, as cidades passam a crescer rapidamente, na medida em que se aplica capital consequentemente, o desenvolvimento das forças produtivas, que provocam mudanças rápidas no espaço, na vida das pessoas e nas relações da sociedade com o espaço.

A maioria das cidades brasileiras demonstra problemas semelhantes, tanto de ordem social como econômica, como pro-blemas de desemprego, carência de transporte e de moradias, de acesso a educação e saúde e de moradia. Esses fatores podem ser vistos como fatores desestruturantes do sistema capitalista, na qual está inserida a sociedade, onde se pode ressaltar a contradi-ção que existe entre as classes sociais. Observa-se o agravamento da segregação sócio-espacial, que resulta em prejuízo para a po-pulação carente.

O espaço urbano é produto da materialização das relações urbanas, do produto do trabalho e da divisão social. A cidade é a subjugação do homem às necessidades de reprodução de re-produção do capital, onde o homem se instala e satisfaz suas ne-cessidades de consumo e lazer, palco também de desigualdades e contradições.

A cidade se reproduz rapidamente, passa por uma trans-formação diária, trechos da cidade são comercializados. O espaço urbano não é homogêneo, há diferenças tanto, nos valores, quanto nas relações entre as pessoas da sociedade e no padrão arquitetô-nico da cidade, que segrega e expulsa o homem de menor posse. Segundo Carlos, ‘vivemos uma crise na cidade, em decorrência do aprofundamento dos processos de segregação urbana’.

A cidade passa por uma transformação imposta pela cres-cente urbanização que ocorre nas grandes cidades, deixando pro-fundas consequências, como grandes áreas muito bem estrutura-das, outras com pouca ou sem infra-estrutura alguma.

A cidade começa a demonstrar seus problemas a partir do século XX, aliado à reprodução do capital, que se integrou ao espaço urbano,determinando relações de dominação e de consumo.

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Para Carlos (2008), ‘espaço natural é reduzido e transfor-mado em um produto social pelo conjunto de técnicas, da física à informática; deste modo, o espaço se de um lado reproduz ati-vamente as relações de produção,de outro, contribui para a sua manutenção e consolidação’.

Os novos padrões determina nova forma de constituição da sociedade e de consumo, impondo padrões universais, im-posto pela mídia, o que pode aproximar os homens ou também isolar. Isso constitui a base da transformação das cidades, onde o espaço se integra, mas também pode se fragmentar, de acordo com a reprodução do capital e das relações sociais. Problemática urbana citada por Lefebrve (apud CARLOS, 2004, p. 30) como resultado do processo de industrialização, período em que hou-ve uma produção econômica qualitativa e quantitativa e também toda problemática urbana, característica própria da reprodução do capital, que possui tendências contraditórias.

O uso diferenciado da cidade demonstra que esse espaço se constrói e se reproduz de forma desigual e contraditória. A desigualdade espacial é fruto da desigualdade social. A cidade aparece como produto apropriado pela população, que passa a ser o espaço da luta de classes, pois existe uma contradição nas necessidades de grupos diferentes da sociedade. Existe uma luta pelo espaço urbano, de um lado as classes privilegiadas e de outro as classes empobrecidas que se anulam nesta luta, que não parti-cipam do processo produtivo.

O processo de urbanização das grandes cidades, segue o padrão de crescimento urbano, consolidando as periferias, mar-cadas pela heterogeneidade em termos de ocupação e crescimento econômico. Paralelamente, o poder público prioriza os investi-mentos nos setores mais ricos da cidade. Existe uma contradição nesse processo de desenvolvimento das metrópoles e a expansão da periferia, excluindo grande parte dos moradores e negando os direitos sociais básicos, como possuir uma moradia e ter acesso a equipamentos públicos e infra-estrutura. É expressão da desi-gualdade social, destinando os mais pobres aos piores lugares da cidade. Problema agravado devido a precarização do mercado de trabalho, o desemprego, que afeta as camadas mais pobres e menos escolarizada da população, sendo levada a uma migração constante, processo associado a especulação imobiliária.

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Nas áreas segregadas, há marcante ausência da ação do Es-tado, gerando uma estrutura urbana precária, com equipamentos sociais e infra-estrutura insuficientes, o que compromete a quali-dade de vida, a mobilidade e o acesso da população aos serviços e ao mercado de trabalho. Nesse caso o Estado deveria produzir a infra-estrutura necessária para as novas atividades produtivas e residenciais. Nesse aspecto, o Estado tem uma presença con-traditória nas periferias, pautada no controle social e repressão, o Estado passa a ser um elemento de dominação, permitindo mudanças na legislação e transformações na lei de zoneamento urbano. Quanto à segregação não se deve esquecer, que ela está relacionada a ação do Estado, pois ele deve promover melhoria dos serviços urbanos. Ele utiliza estratégias de renovação ur-bana, que pode ser entendida como o conjunto de estratégias políticas,imobiliárias e financeiras, que nada mais é do que a re-produção do capital, na reorganização do espaço, que segrega a população de baixa renda, expulsando-a para a periferia.

Nesse sentido, o Estado é agente do espaço urbano, que age como mediador entre os diferentes segmentos da sociedade, a classe dominante e as classes subordinadas. Em outras palavras, o Estado produz uma política segregadora dos equipamentos ur-banos, sendo omisso, visando beneficiar grupos hegemônicos da economia, apoiando-se nos interesses das classes hegemônicas. E nem o Estado se utiliza de um discurso de ‘‘interesse público’’, com o discurso da modernização necessária ao crescimento, des-locando a população residente de baixa renda para áreas, onde os terrenos possuem menor valor. É na verdade a mercantilização do espaço ou pode-se chamar de reprodução do capital, interfe-rindo assim na reprodução espacial. Assim o espaço passa a ser um instrumento político intencionalmente manipulado pelo Es-tado e pela classe dominante.

Por um lado, muitas vezes a reorganização do espaço se faz necessário (revitalizar ou reestruturar), o fato é que é preciso “planejar o espaço”, pensar na reorganização do espaço visando atender não somente os interesse do capital.

Percebe-se então que a ação do Estado é de fundamental importância para a organização das cidades,que atua de forma direta na geração dos conflitos urbanos. Surgem então os mo-vimentos sociais pelo direito à cidade. Pois é no espaço urbano

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que se fundem os interesses do capital, a ação do Estado e a luta dos moradores como forma de resistência contra a segregação do espaço. Cabe ao Estado, dentro da lógica capitalista, garantir a re-produção do capital, gerenciar os conflitos e amenizar as contra-dições do sistema, reordenando o espaço em busca do equilíbrio econômico, social e político.

Uma característica comum nas metrópole é o processo de segregação, pode ser diferenciado na forma de acesso do cida-dão a moradia; podendo ser espontânea, de acordo com a renda dos moradores, que muitas vezes buscam o isolamento em con-domínios fechados (quando a renda é maior). Ou nas periferias, com moradias auto-construídas, como forma de sobrevivência, nesse caso não é se isolar da cidade. Nesse caso a segregação pode ocorrer,devido ao aumento da população e por outro lado a valo-rização dos terrenos, que deixa áreas imensas na cidade vazia. O espaço da moradia é uma das necessidades básicas do homem e está associado ao preço da terra, que é determinado pelo jogo de mercado, apoiado em valores criados pela sociedade.

Segregação é a negação do urbano e da vida urbana. Seu fundamento é a existência da propriedade privada do solo urbano, que diferencia o acesso do cidadão à moradia, pro-duzindo a fragmentação dos elementos da prática sócio--espacial urbana separando os lugares da vida, enquanto elementos autônomos... (CARLOS, 2004, p. 141).

Outra forma é o que Lefebvre chama de “segregação programada”, que se realiza através da intervenção do Esta-do que utiliza de políticas urbanas, de infra-estrutura, incen-tivando o deslocamento das atividades, valorizando ou desva-lorizando áreas.

A última forma nada mais é do que a mercantilização de terrenos, nesse caso, o espaço adquire valor de troca, modificados pelo processo produtivo, determinado pela reprodução do capital num momento histórico, apoiando-se no discurso do progresso e de desenvolvimento econômico, com a participação do Estado e do poder privado.

Na verdade, a cidade se organiza a partir de estratégias de reprodução do capital, mesmo aquelas “planejadas”, já distantes

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do seu planejamento original, pois já não comporta a população, os grandes investimentos recebidos em nome do progresso. No entanto é marcada pelos conflitos e diferenças de necessidade da sociedade e dos interesses do capital. Enquanto o capital objetiva a sua reprodução através do processo de valorização, a sociedade busca melhores condições de vida. Assim fica claro,que os inte-resses e as necessidades da população são contraditórias, expressa na necessidade da luta de classes, para se apropriar do espaço.

Um aspecto da cidade que chama atenção é o contraste que existe na paisagem urbana. Pois a cidade não passa de uma con-centração de pessoas exercendo determinada função, uma série de atividades concorrentes ou complementares. Logo, a produção do espaço tende a ser diferenciado, também pelo uso que se faz do espaço: trabalho, lazer, indústria, moradia.

Dessa forma o uso do solo se dá a partir dos interesses do capital e da sociedade como, enquanto o capital tem como obje-tivo se reproduzir, a população busca melhor qualidade de vida. A população carente procura áreas mais distantes com terrenos mais baratos, a população de melhor poder aquisitivo busca por bairros onde a infra-estrutura é melhor assistida, enquanto algu-mas áreas são reservadas ao comércio e a indústria, podendo até se misturar com as áreas residenciais. Assim, a cidade revela a sua contradição, refletida na distribuição de renda e no processo de produção, deixando claro a segregação que existe no espaço urbano, gerado pela disputa entre os diferentes segmentos da so-ciedade.

Com os impactos da globalização, houve um crescente au-mento da segregação residencial, maior organização do espaço urbano e das desigualdades de distribuição renda na sociedade.

Com o crescimento econômico acelerado do país, foi cria-do o SFH-sistema de acesso à propriedade urbana favorecendo a classe média e alta, e a população de baixa renda foi jogada para áreas distantes e sem infra-estrutura-conjuntos habitacionais--custeadas pela população e pelos governos. Mesmo assim, gran-de número de pessoas continuaram sem acesso aos direitos so-ciais. Na década de 80, houve um grande crescimento da pobreza no país,concentrada nas grandes cidades, a população carente passou a ocupar áreas irregulares das metrópoles, provocando o inchaço das cidades, relegada a trabalho informal.

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Enquanto o território não é unificado pelos transportes, pelas comunicações e pelo mercado, e a urbanização não se torna um fenômeno generalizado sobre o espaço nacional, a simples comparação dos seus índices, pode ser um equívoco. É preciso verificar os aspectos econômicos e relacioná-los aos índices de urbanização, a criação de empregos públicos ou privados e a cria-ção de infra-estrutura.

Mais recentemente todas as áreas do pais vem experimen-tando um revigoramento no processo de urbanização, ainda que em níveis diferentes, graças ao impacto maior da modernização sobre o território, em termos qualitativos e quantitativos.

Os mesmos números que revelam o processo de metropo-lização, pode levar ao processo de desmetropolização, definida como desagregação da maior parte da população, ou a repartição de grandes contingentes urbanos com outros grandes núcleos, de novos contingentes de população urbana. O que está se verifi-cando é a expansão da metropolização (São Paulo) com relativa diminuição no crescimento das demais áreas metropolitanas e paralelamente, o crescimento das cidades médias e das cidades com mais de 500 mil habitantes. Isto é o que chamamos de des-metropolização, que se verifica paralelamente ao fenômeno da metropolização.

Processo de migração para as áreas metropolitanas, espe-cialmente para São Paulo e Rio de Janeiro. Concentram também a pobreza, o capital, a tecnologia, os problemas sociais. Isso aponta para a desmetropolização e a dissolução da metrópole nacional (SANTOS, 2009, p. 82).

Todas as cidades brasileiras exibem problemas semelhan-tes: emprego, habitação, de transportes, lazer, água, esgotos, saú-de, educação, acesso a terra e enormes carências. Quanto maior a cidade mais visíveis os problemas. Devido a expansão capitalista devorante dos recursos públicos para investimentos econômicos em detrimento dos gastos sociais. As cidades passam por mudan-ças muito rápidas que se revelam na morfologia da cidade e nas formas de apropriação do espaço. As tecnologias aliada ao desen-volvimento dos meios de comunicação estabelecem as transfor-mações no espaço e no padrão cultural, recriando novos valores e novos comportamentos. Por outro lado, o poder público exerce seu papel, interferindo na reprodução do espaço, normatizando o

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uso do solo, através dos planos diretores, que direciona e hierar-quiza o investimento da cidade.

Os números do Censo Demográfico 2000 confirmaram a tendência crescente de urbanização no Brasil. A partir de 1950, o Brasil deixa de ser um país de características rurais para cami-nhar no sentido de um país mais urbanizado, quando a expansão do parque industrial do Sudeste, particularmente do Estado de São Paulo, passa a atrair uma grande massa de população mi-grante originária de áreas de estagnação econômica do Nordeste.

Tabela 1: Grau de urbanização, segundo as Grandes Regiões Bra-sil – 1980/2000

1980 1991 2000

Brasil 67,59 75,59 81,23

Norte 50,32 59,05 69,04

Nordeste 50,46 60,65 69,04

Sudeste 82,81 88,02 90,52

Sul 62,41 74,12 80,94

Centro-oeste 70,84 81,28 86,73

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980-2000.

A maior parcela de incremento populacional urbano cor-respondeu, sistematicamente, ao longo dos últimos anos, à Re-gião Sudeste, que, entre 1991 e2000, absorveu 38,17% desse in-cremento. É importante destacar que o nível de urbanização nas Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul atingiu patamares bastante elevados, enquanto nas Regiões Norte e Nordeste, cujos níveis ainda estão um pouco abaixo de 70,00%, o incremento vem se dando gradualmente.

As Regiões Norte e Centro-Oeste continuaram aumentan-do a representatividade no crescimento populacional, cabendo destacar a ininterrupta tendência de incremento das suas partici-pações relativas no total do País, desde a década de 50. Enquan-to isso, as Regiões Sudeste e Sul praticamente mantêm a mesma

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participação em meio século. A Região Nordeste, que possui o segundo maior contingente populacional do País, mantém a ten-dência de declínio em sua participação nacional.

Tabela 2: Grau de urbanização (%)

2010 2000

Região Norte 15.484.929 12.900.704

Região Nordeste 51.871.449 47.741.711

Região Sudeste 77.656.762 72.412.411

Região Sul 27.022.098 25.107.616

Região Centro-Oeste 13.677.475 11.636.728

BRASIL 185.712.713 169.799.170

Fonte: IBGE (2010).

Dessa forma é possível verificar que houve crescimento da população em todas as regiões do país. Observando a tabela acima, percebe-se que a região Sudeste é a que mais cresceu, em segundo lugar a região nordeste.

CONCLUSÃO

O Processo de Urbanização consiste na concentração da população em algumas cidades, metrópoles e aglomerações, sen-do resultado da industrialização que atinge tanto as áreas urbanas como rurais, dinamizando e interagindo os espaços. Através das transformações territoriais, sociais, políticas e econômicas e tam-bém problemas de concentração de riqueza, desigualdades sociais.

O intenso crescimento do agronegócios no século XIX, com ênfase para a produção do café, o processo de industrializa-ção no século XX, o intenso crescimento urbano a partir de 1940 e a segunda Guerra Mundial impulsionam processo de urbaniza-ção do Brasil.

Com a aceleração do processo de urbanização surgem tam-bém os problemas de infra-estrutura nas cidades, impulsionado pelo desenvolvimento do capitalismo, proveniente do consumo e

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especulação imobiliária. Problemas estes comuns a maioria das cidades, tais como: falta de desemprego, carência de transporte e de moradias, acesso a educação e saúde.

Em decorrência da falta de planejamento e a especulação imobiliária no uso das cidades, evidenciam os problemas sociais, tornando cada vez mais necessária a consolidação das periferias. Lugares e ao mesmo tempo, não lugares em decorrência do des-caso do estado na manutenção dos direitos sociais básicos.

Ações isoladas no sentido de revitalizar as periferias são exceções entre milhares, que são esquecidos até que tragédias ge-radas pela falta de infra-estrutura ocorram, destruindo o pouco que foi conquistado.

O processo de urbanização no Brasil, evolui no mesmo sentido do desenvolvimento econômico, tornando-se a mão e a luva. Desenvolvimento este que alimenta as desigualdades so-ciais, tanto em termos de estados para estado, como de região.

O processo de urbanização no Brasil, de acordo com o cen-so de 2010 aumenta de forma quase proporcional, com destaque para o sudeste e nordeste, que teve um crescimento acima da me-dia, o que já se evidenciada nas décadas anteriores.

A urbanização foi resultado da modernização que gerou reflexos tanto nos campos como nas cidades, dinamizando e di-minuindo as diferenças.

THE PROCESS OF URBANIZATION BRAZILIAN

Abstract: this study discusses the process of Brazilian urbaniza-tion, emphasizing the role of industrialization in the configuration of urban spaces. Where the relationship between country/city un-dergoes constant changes, interacting in the processing and dis-tribution of space contract from the cities of the twentieth century begin to show the first urban problems from the reproduction of capital, new form of incorporation and consumption. Cities grow and consolidate the outskirts, which become segregated areas, the study shows the importance of state action and the process of urbanization and the impact of modernization in the urban-ization process that occurs differently in the cities of Sao Paulo and Rio de Janeiro. Highlights the similarity of problems in cities,

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which appear due to the expansion of capitalism and urbaniza-tion trends, as evidenced in the census of 2000 and 2010.

Keywords: Process of Urbanization. State. City.

Referências

CARLOS, Ana Fani a. A Cidade. São Paulo: Conrexto, 2008.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica.

MARICATO, Ermínia. Na periferia do mundo globalizado: metrópo-les brasileiras. In: MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis, [s.n.], 2002.

RIBEIRO, Ana Clara Torres. Urbanização sem urbanidade: um cenário de incertezas. In: ENSAIOS FEE, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 556-590, 1995.

RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (Org.). As metrópoles e a questão so-cial brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 2007.

SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Enunesp, 2008.

* Recebido em: 10.12.2010.

Aprovado em: 20.12.2010.

CLEUTON CLENESMestrando em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na PUC Goiás, Professor no Centro Universitário de Goiás – Uni-Anhanguera e ensino médio. E-mail: [email protected]

LUCIMAR CRISPIM VAZ CARDOSOMestranda em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na PUC Goiás. Professora de Geografia da SEE-GO. E-mail: [email protected]

VÂNIA CRISTINA DOURADOMestranda em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na PUC Goiás, Professora e Coordenadora de Cursos na Área de Empreendedo-rismo do Centro Universitário de Goiás – Uni-Anhanguera e Consulto-ra/Instrutora do Sebrae em Goiás. E-mail: [email protected]