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1 O PROCESSO GRUPAL E A DESNATURALIZAÇÃO DA MATERNIDADE EM UM GRUPO DE PREPARO DE CANDIDATOS A ADOÇÃO RESUMO O presente relatório tem por objetivo apresentar o estágio realizado na área de Psicologia Social Comunitária (PSC) como requisito parcial para a obtenção do título de Psicólogo. Escolhemos como estágio a atuação com grupos de adoção, pois era um tema de nosso interesse, de grande relevância para a área de PSC e por já existir um projeto mais amplo na Universidade sobre o tema. Realizamos o estágio durante todo o ano de 2011, no 1º semestre nos instrumentalizamos sobre o tema e propusemos a formação de um grupo com pais que adotaram crianças acima de 2 anos de idade (adoção tardia). Como não conseguimos formar um grupo com esse perfil, modificamos nosso objetivo para a formação de um grupo de preparo de candidatos a adoção. O grupo aconteceu no 2º semestre de 2011 e teve 10 sessões de duração. Participaram 4 casais heterossexuais e 1 homoafetivo que procuraram o grupo devido a um convênio entre a Universidade e o Fórum do Tatuapé em São Paulo. Em cada uma das sessões diferentes atividades foram realizadas objetivando discutir temas relevantes e sensibilizar os futuros pais para a situação que estariam vivenciando. Todas as atividades objetivavam também desconstruir o mito da maternidade, bem como desconstruir outras ideologias. Registros de observações e de falas manifestadas durante as sessões foram analisados e categorizados com o objetivo de avaliar o impacto do grupo. Observaram-se muitas transformações dos participantes ao longo da intervenção e destacou-se o importante papel do sentimento de pertença grupal como facilitador das discussões promovidas e da cooperação intergrupal. Palavras-chave: adoção, processo grupal; desnaturalização da maternidade

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O PROCESSO GRUPAL E A DESNATURALIZAÇÃO DA MATERNIDADE EM UM GRUPO DE PREPARO DE CANDIDATOS

A ADOÇÃO

RESUMO

O presente relatório tem por objetivo apresentar o estágio realizado na área de

Psicologia Social Comunitária (PSC) como requisito parcial para a obtenção do título de

Psicólogo. Escolhemos como estágio a atuação com grupos de adoção, pois era um tema de

nosso interesse, de grande relevância para a área de PSC e por já existir um projeto mais

amplo na Universidade sobre o tema. Realizamos o estágio durante todo o ano de 2011, no

1º semestre nos instrumentalizamos sobre o tema e propusemos a formação de um grupo

com pais que adotaram crianças acima de 2 anos de idade (adoção tardia). Como não

conseguimos formar um grupo com esse perfil, modificamos nosso objetivo para a

formação de um grupo de preparo de candidatos a adoção. O grupo aconteceu no 2º

semestre de 2011 e teve 10 sessões de duração. Participaram 4 casais heterossexuais e 1

homoafetivo que procuraram o grupo devido a um convênio entre a Universidade e o

Fórum do Tatuapé em São Paulo. Em cada uma das sessões diferentes atividades foram

realizadas objetivando discutir temas relevantes e sensibilizar os futuros pais para a

situação que estariam vivenciando. Todas as atividades objetivavam também desconstruir o

mito da maternidade, bem como desconstruir outras ideologias. Registros de observações e

de falas manifestadas durante as sessões foram analisados e categorizados com o objetivo

de avaliar o impacto do grupo. Observaram-se muitas transformações dos participantes ao

longo da intervenção e destacou-se o importante papel do sentimento de pertença grupal

como facilitador das discussões promovidas e da cooperação intergrupal.

Palavras-chave: adoção, processo grupal; desnaturalização da maternidade

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O PROCESSO GRUPAL E A DESNATURALIZAÇÃO DA MATERNIDADE EM UM GRUPO DE PREPARO DE CANDIDATOS

A ADOÇÃO

RENAN DE ALMEIDA SARGIANI

REGIANE MARTINS FORONI

SUPERVISORA: PROFA. DRA. REGINA CÉLIA DO PRADO FIEDLER

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1. Introdução

A realidade social da América Latina é muito diferente do que a dos países norte-

americanos e europeus. No entanto, a Psicologia utilizada na América Latina, de modo

geral, sempre foi apenas importada e traduzida dos países desenvolvidos e pouco adaptada

à realidade latino-americana (MARTÍN-BARÓ, 1987). Muitas críticas a essas teorias pouco

adaptadas foram feitas, desde os anos 1960, o que promoveu outras formas de se pensar em

Psicologia como na abordagem que é chamada de Psicologia Social Comunitária.

A proposta da Psicologia Social Comunitária (PSC), de acordo com Montero (2002),

surge para preencher o vazio criado por uma Psicologia eminentemente subjetivista e de

uma visão eminentemente macrossocial das demais ciências sociais. De tal modo, que a

PSC propõe desde o seu início uma perspectiva crítica das experiências e práticas

psicológicas e do mundo ao redor que as possibilita e com o qual deve lidar.

Montero (2002) salienta que a PSC veio se constituindo desde a década de 1970, muito

lentamente, uma vez que foi necessário delimitar melhor o que era uma nova forma de se

pensar e atuar em Psicologia. E assim a PSC aos poucos, se construía a partir de práticas e

novas formas de intervir que contribuíam para a construção do conhecimento e, por

conseguinte reformulavam as novas práticas.

Nessa perspectiva, o tema da adoção é de relevante importância para à PSC, uma vez

que envolve de diferentes maneiras abrigos, famílias, políticas públicas e menores

institucionalizados. Configurando-se, deste modo, em um importante assunto com o qual

nos deparamos de diferentes maneiras todos os dias. Ainda se destaca a relevância deste

tema no campo da PSC, uma vez que esta área objetiva uma transformação pessoal e social

de forma crítica (FIEDLER, 2007, p.114) e que, portanto, pode contribuir para uma visão

diferenciada sobre a temática da adoção.

Na Universidade Cruzeiro do Sul, o Núcleo de Estudos e Atendimento Psicológico –

NEAP, com a parceria do curso de Psicologia e das Varas da Infância de São Miguel,

Itaquera, Tatuapé e Penha, realizam o Programa Abrigo e Adoção. O Programa, em 2009,

recebeu do Conselho Regional Psicologia (CRP) de São Paulo, o Prêmio Madre Cristina de

“Práticas Inovadoras na Área da Psicologia”, sendo avaliado pelo CRP como um projeto

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pioneiro na área da adoção e da defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Nesse

programa são oferecidos atendimentos psicológicos grupal e individual para famílias

adotivas e pessoas em processo de adoção.

Como alunos do 5º ano do curso de Psicologia nós podíamos escolher um estágio a ser

realizado na disciplina de Psicologia Comunitária. Assim, optamos pelo trabalho com

adoção, devido a nosso interesse pelo tema. Inicialmente, o foco de nosso trabalho foi à

adoção tardia que designa toda e qualquer adoção em que o adotando tenha dois anos ou

mais na ocasião em que foi adotado. Em geral, é o caso da maioria das adoções, já que

antes dos dois anos poucas são as crianças aptas para a adoção, segundo a Cartilha Adoção

Passo a Passo (FERREIRA et. al, 2007).

A justificativa para a escolha do tema da adoção tardia se deu principalmente pelo

conhecimento de que a literatura aponta para as resistências em pretendentes à adoção

optarem por crianças mais velhas, ainda que essas constituam a maioria das crianças em

condição de serem adotadas (FERREIRA et al, 200&). O que justifica igualmente o

objetivo de trabalhar com as famílias que adotaram, pois poderíamos discutir e promover a

desnaturalização da maternidade, a desmistificação do chamado mito do amor materno, o

que poderia auxiliar em relacionamentos familiares mais saudáveis.

Nesse sentido, Elizabeth Badinter (1985), realiza uma extensa pesquisa histórica

sobre a maternidade, mais especificamente sobre o chamado “amor materno”. Este é visto,

ainda nos dias atuais, muitas vezes como uma condição sine qua non para ser mãe. O amor

materno seria algo natural, instintivo, despertado nas mulheres pela própria condição de

maternidade. Entretanto, Badinter questiona algumas dessas verdades tão ideologicamente

naturais como: é mesmo normal que uma mulher ame o seu filho incondicionalmente?

Todas as mulheres independente de seu contexto sócio-histórico-cultural têm amor

materno? Se uma mãe se separa durante anos de seu filho, e se existiu um amor materno

por ocasião do nascimento, ele não se enfraquece com a falta de cuidados e a distância?

Uma mulher que não deseje ser mãe: trata-se de uma anormal, uma doente, já que contraria

as leis da natureza?

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Badinter (1985) afirma que ao revistarmos a história das atitudes maternas, podemos

constatar que o instinto materno é um mito. Não existem evidências de que este se trate de

uma conduta universal e comum a todas as mães. No entanto, a crença nesse mito

comumente divulgado na sociedade, implica principalmente na angústia daquelas mulheres

que gostariam de ser mãe e não podem por algum motivo. Ressalta-se que a

desnaturalização dos fenômenos sociais, consiste em um importante objetivo da Psicologia

Social Comunitária (MARTÍN-BARÓ, 1987; FIEDLER, 2007).

Embora, tenhamos construído todo o caminho para esse tipo de trabalho, que seria

realizados com casais que já tivessem adotado, não houveram casais suficientes para formar

um grupo com essa temática. Assim, mudamos nosso foco para o trabalho com pessoas que

se preparavam para a adoção. Essas pessoas foram indicadas pelo Fórum do Tatuapé,

devido ao convênio estabelecido com a Universidade Cruzeiro do Sul. Os casais

procuraram o NEAP para participarem de atendimento psicológico, que consiste em um

requisito legal para concluir o processo de adoção, e assim foram encaminhados ao grupo.

É importante destacar que quando as pessoas optam pela adoção são muitos e diversos

os motivos que os levam a tomar essa decisão. Alguns optam pela adoção por não poderem

ter filhos biológicos, outros por que têm uma visão de que estão fazendo uma caridade aos

filhos adotados, além de outros diversos motivos. No entanto, muitas dessas escolhas são

marcadas, na cultura ocidental, por uma tradição judaico-cristã, isso é, permeadas pelo ideal

de (re)constituir uma família no modelo biológico, mas também no modelo idealizado pela

religião (WEBER, 1998; COSTA & CAMPOS, 2003; COSTA & ROSSETTI-FERREIRA,

2007).

Assim, os filhos desejados para serem adotados, são aqueles que são mais jovens, mais

próximos de bebês e que poderiam, então, preencherem a lacuna de filho biológico. Isso

nos leva a números alarmantes de crianças institucionalizadas que passam muitos anos em

abrigos sem serem adotadas, inclusive atingindo a maioridade nesses locais (WEBER,

1998). E por outro lado, ainda que crianças mais velhas sejam adotadas, as famílias que as

recebem muitas vezes também, mesmo que implicitamente, carregam consigo as marcas

dessas crenças no amor materno e natural que surgiria com uma gestação biológica e o

momento do parto. Esse fato pode ser observado a partir de relatos de casos em que as

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crianças são devolvidas, porque tinham “sangue ruim” ou porque “eram muito diferentes de

nós, nunca iria dar certo”. Esses relatos normalmente indicam, em uma análise mais

minuciosa, que as famílias não tiveram a abertura ou tempo suficiente de convívio com as

crianças para que o vínculo fosse formado. E como acreditavam implicitamente que o amor

por um filho biológico seria natural, também pensavam que com o filho adotivo seria,

portanto impossível de ser desenvolvido (WEBER, 1998; COSTA & CAMPOS, 2003;

COSTA & ROSSETTI-FERREIRA, 2007).

Essa crença do amor materno, enraizada em nossa sociedade permeia de maneiras

distintas todas as relações, desde mães que superprotegem àquelas que abandonam seus

filhos por diferentes variáveis. Crescemos em um meio social que desde a infância apregoa

um crescimento entendido como “normal” aquele que é esperado no sentido biológico que

segue o ciclo de nascer, crescer, se reproduzir e morrer. O normal é confundido com o

natural em nossa sociedade (MARTÍN-BARÓ, 1987; FIEDLER, 2007). E juntamente com

esse ideal também seguem “recomendações” que são transmitidas de modo direto e indireto

sobre como cada fase da vida deve ser, o que intensifica e consolida ainda mais o mito do

amor materno e tantos outros.

Quando os pais adotam uma criança, convivem então com as incertezas de uma relação

que não é entendida como natural por fugir ao modelo biológico e intensificam todas essas

incertezas que em uma relação de filiação biológica, não seriam tão agravadas. Como, por

exemplo, quando um filho faz uma cena de “birra” os pais biológicos interpretam como

apenas uma birra, mas os adotivos podem imaginar se aquele comportamento é algo

referente à relação “não-normal” que tem com a criança; uma características dos pais

biológicos; podem achar que a criança não os ama ou que não quer viver com eles mais.

Isso tudo faz com que pequenos problemas no cotidiano dessas famílias sejam vivenciados

como muito mais graves e angustiantes nas famílias adotivas (WEBER, 1998).

Nos últimos anos, surgiu um movimento no Brasil por uma nova cultura de adoção

na qual preconiza-se que se deve buscar uma família para uma criança e não uma criança

para uma família. Essa nova cultura da adoção comporta um novo projeto de família, de

maternidade e de paternidade e atribui novos sentidos ao ser pai e mãe. Pressupõe uma

família que aceite o diferente, a alteridade, que não só lide com projetos de filiação

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alternativos, mas que efetivamente adote o diferente (COSTA & ROSSETTI-FERREIRA,

2007). Tais mudanças são o reflexo das modificações legislativas de 1987 e 1998 que

passaram a priorizar mais o interesse da criança; e que as decisões sobre medidas de

proteção à criança precisam ser tomadas por uma equipe de profissionais (psicólogos e

assistentes sociais), desvinculada do Judiciário.

Pensando nisso, em nosso estágio objetivamos reunir em grupos de discussão casais que

são candidatos a adoção. Pressupõe-se que os candidatos a adoção se encontram em um

momento de dúvidas, angústias, possibilidades e decisões e que poderiam então se

beneficiar das discussões promovidas em grupo. Como já se evidenciou em nossas

explanações iniciais, estes pais convivem com a angústia muitas vezes de estarem em uma

relação nova, permeada por incertezas e temores de que a qualquer momento algo possa dar

errado. Vivenciam ao mesmo tempo também a angústia do conflito com as expectativas

sociais e as esperanças e desejos de que esta relação seja profícua, por que querem exercer

a paternidade e maternidade. O grupo então poderia ser um momento de discussões desses

temas, um espaço de apoio e informação que favoreceria e possibilitaria uma adoção de

forma mais crítica considerando tanto os motivos quanto as reais condições e possibilidades

de adoção.

2. Descrição do trabalho

No primeiro semestre de 2011, visitamos o Fórum Regional VIII – Vara da Infância

Juventude Juizado Especial Cível – Tatuapé e conversamos com as psicólogas responsáveis

pelos casos de adoção. Logo após, participamos de um curso de formação de candidatos a

adoção no Fórum Central Cível João Mendes Júnior (SP), para compreender melhor as

angústias dos pais, apreender mais sobre a área de adoção e as expectativas legais de

formação dos candidatos. Visitamos também abrigos para conhecer um pouco a realidade

das crianças em situação de abrigo e o modo como são cuidados enquanto não são

adotadas. Realizamos entrevistas iniciais com possíveis candidatos para o grupo de Adoção

Tardia, mas não tivemos quantidade de participantes para formar um grupo e então

encaminhamos os casais para outros atendimentos disponíveis na Universidade.

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No segundo semestre de 2011, modificamos o propósito do grupo para nos adequarmos

a demanda que era majoritariamente formada por candidatos à adoção. Assim, construímos

o projeto que tinha por objetivo principal possibilitar um espaço de escuta sobre as dúvidas,

angústias e emoções de futuros pais adotivos. Objetivávamos que nesse espaço grupal

realizado semanalmente os pais pudessem compartilhar com os demais suas angústias,

experiências e dúvidas. Ademais, o objetivo mais amplo desse grupo era o de promover

discussões e reflexões acerca dos mitos envolvidos na questão da adoção, sendo o principal

deles, para nós, o mito do amor materno.

As entrevistas iniciais e as reuniões do grupo aconteceram no Núcleo de Estudos e

Atendimento Psicológico (NEAP) da Universidade Cruzeiro do Sul, campus Anália Franco,

aos sábados pela manhã. Os pais foram convidados a participar do grupo quando

procuravam a Universidade a partir do convênio com a Vara da Infância do Fórum Tatuapé

que indicava aos casais aos locais mais próximos que ofereciam atendimento psicológico.

Os encontros dos grupos eram semanais e tinham a duração de uma hora e meia e

aconteceram entre os meses de agosto e outubro, totalizando 10 encontros.

2.1. Descrição das famílias atendidas no grupo

Realizamos entrevistas semi-dirigidas com todos os casais para a composição do

grupos a fim de que pudéssemos conhecer aspectos como: o motivo que os levou a adoção;

como os familiares perceberam essa decisão; conhecer um pouco da história de cada um

deles; como era o cotidiano deles, a vida profissional; se havia histórico de adoção na

família e quais eram as suas expectativas em relação à adoção. Entrevistamos no total 6

casais, sendo que apenas 5 casais participaram do grupo, pois um casal tinha condições

muito específicas e portanto, foi encaminhado para atendimento de casal.

1º casal: A.M e M.

A. M. (48 anos) decidiu adotar em Março de 2011, porque pela idade dela, não

conseguiram ter filhos naturalmente. Ela fez três inseminações artificiais, mas não teve

sucesso, sendo que duas delas foram em seu primeiro casamento. A.M. disse que vêm de

uma família grande de 03 irmãs, 06 sobrinhos e 3 sobrinhos-netos, e que o pai é português e

a mãe descendente de espanhóis, e que, portanto, gosta de família grande. É formada em

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Direito e hoje exerce a função de Diretora Comercial na empresa do pai. M., já foi casado

anteriormente, mas não teve filhos, tem 01 irmã e 01 sobrinho, considera sua família de

professores de matemática como pequena, é engenheiro e presta consultoria para empresas.

Desde o primeiro casamento, A.M. já pensava em adotar, mas seu ex-marido não

gostava da idéia. A. M. faz terapia há 12 anos e disse que por isso sabe que “a criança

precisa da verdade, precisa saber que não é filho biológico, mas é filho do coração.” (s.i.c.).

A. M. conheceu M. (40 anos) pouco tempo depois de se separar, mas como ambos tinha se

divorciado há pouco tempo disseram que não pensavam em casamento, embora tenham ido

morar juntos em poucos meses. Casaram-se há um ano (2010), mas moram juntos há 03

anos. Em relação ao perfil da criança, preferem crianças de 1 a 3 anos e de cor clara que

seja próxima da cor do casal, dizendo que eles não têm preconceito, mas é devido ao

preconceito da sociedade.

2º casal: M.B. e V.

M.B. (38 anos) e o marido V. (35 anos) são cozinheiros e se conheceram em 1997

na empresa em que ambos trabalhavam. Na época M.B. era casada, ficou casada por 05

anos, mas era apenas amiga de V. enquanto estava casada. Depois de algum tempo M.B.

separou-se e iniciou um relacionamento com V., que era muito seu amigo, e estão morando

juntos há 6 anos.

M.B. disse que sempre pensou em ter filhos, mas que não tinha dado certo, pois ela

teve 4 gravidezes, sendo duas no primeiro casamento, e uma delas foi ectópica na tuba

uterina. Recentemente, em novembro de 2010, teve uma gestação que foi interrompida aos

8 meses quando sua bolsa rompeu devido a hipertensão gestacional, e a criança morreu.

Essa criança chamada de G. continua sendo motivo de muita tristeza para o casal, sendo

lembrada constantemente. M.B. disse que só tem hipertensão durante as gestações e que

sempre quis adotar e mesmo se engravidar novamente quer adotar.

V. tem 02 sobrinhos de 10 anos gêmeos, e tem um ótimo relacionamento com as

crianças. M.B. tem feito tratamento por conta da pressão alta, mas como só tem hipertensão

quando está gestante, fica ansiosa e temerosa pela possibilidade de engravidar novamente e

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ter outro problema. Com relação ao perfil de criança, desejam meninos de 0 a 5 anos e cor

indiferente.

3º casal: M.F. e J.C.

M.F (47 anos) e J. C (46 anos) são um casal homoafetivo masculino. Eles dizem ter

feito o processo inverso de adoção, por optarem por adoção tardia e já terem escolhido uma

criança. Eles também disseram que foram reconhecidos como um casal e que na certidão de

nascimento irá constar o nome de ambos como os pais. A criança que estão adotando é

M.S. que tem 08 anos. J.C. disse que eles fazem visita a um abrigo frequentemente e que lá

conheceram M.S. em uma Festa junina da instituição. J.C. foi casado por 15 anos com uma

mulher, teve dois filhos B. de 13 e A.C. de 16 anos, mas, a relação com os filhos não é boa.

Separou-se em 2005, logo após conheceu M.F. e estão juntos desde então.

M.F. foi casado por 06 anos com uma mulher, mas não teve filhos por opção de

ambos e se separou em 2004. M.F é atualmente diretor de uma escola de Educação infantil

(EMEI). Há 25 anos trabalha com educação infantil e é formado em Matemática. J.C é

empresário e tem uma empresa de equipamentos cirúrgicos, a sua ex-esposa era diretora

financeira da empresa. Em 2009 contratou uma empresa de auditoria e descobriu fraudes na

empresa que envolviam a ex-mulher, depois desse acontecimento sua relação com seus

filhos ficou ainda mais difícil. Posteriormente a entrevista, enquanto participaram do grupo

adotaram o M.S. e mais um menino o V.O. que era do mesmo abrigo.

4º casal: J. e FR.

J. (34 anos) disse que é filha única, tem 02 irmãos por parte de pai, mas não tinha

boa relação com os irmãos e o pai, somente voltou a falar com o pai depois de 15 anos

quando ele adoeceu. Atualmente não trabalha, mas é bacharel em direito, trabalhou em um

banco e saiu recentemente do emprego. J. está casada com F. (41 anos) há 9 anos e

tentaram fazer fertilização, pois ela parou de tomar anticoncepcional e não engravidava.

Fizeram 3 tentativas de fertilizações in vitro sem sucesso. J, repetiu várias vezes de forma

agressiva durante a entrevista inicial que o marido era infértil por ter Oligospermia Severa

(redução grave no número de espermatozoides), e que por este motivo optaram pela

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adoção. J. tem a crença que após adotar há uma grande possibilidade de engravidar e espera

que isso ocorra com ela.

F. disse que sua mãe adotou seu irmão por parte de pai e que ele tem 3 ou 4 primos

que também já adotaram. F. trabalha como vendedor em uma empresa há mais de 20 anos.

J. tem 05 afilhados que adoram ir na casa deles, um deles é um menino de 04 anos filho da

ex-empregada, e J. diz ser uma criança muito carente. O perfil para adoção do casal é uma

criança branca de “0 a 06 meses no máximo” (s.i.c.).

5º casal: F.R. e A.

F. R. (45 anos) é bombeiro militar, foi policial militar por cerca de 25 anos e foi

casado por 17 anos. Deste relacionamento teve 3 filhos (22, 18 e 17 anos), fez vasectomia

quando seu último filho nasceu e diz que se arrependeu, achando que iria ficar para sempre

com a ex mulher. O casal contou que estão casados há 6 anos e que se conheceram no

quartel. F.R. era policial no quartel e A. trabalhava na limpeza. F. disse que seus filhos

acham que A. foi a responsável pela separação, mas F. R. afirma que ele e sua ex-esposa só

moravam juntos, mas que já estavam separados há muito tempo, e que os filhos não

aceitam o relacionamento dele com A.

A. (31 anos) foi casada por 2 anos mas não quis falar sobre isso, por ter sido “uma

experiência ruim” (s.i.c.), trabalhou com limpeza e disse que atualmente é autônoma e

vende produtos de limpeza. A. disse que em Janeiro de 2011 resolveram fazer uma

fertilização in vitro, mas não tiveram sucesso, e disseram que querem adotar um bebê de até

6 meses, moreno, parecido com o casal.

2.2. Descrição sumarizada das sessões e atividades realizadas

1º Encontro – Enquadre e Apresentação do grupo

Neste encontro inicial, realizamos um enquadre do grupo e solicitamos aos casais que

se apresentassem. Os casais ficaram livres para se apresentar como quisessem e nós os

estagiários íamos somente complementando as informações necessárias e pontuando alguns

aspectos importantes.

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2º Encontro – Desenhos: 1) “Ser pai é, ser mãe é...” e 2) “Família Ideal”

Neste encontro solicitamos que os participantes desenhassem o que é ser pai e o que é

ser mãe. Para isso o casal deveria utilizar uma única folha de sulfite e compartilhar as

informações. Quando eles terminaram o desenho foi solicitado que desenhassem em outra

folha de sulfite o que o casal imaginava ser a família ideal. Novamente era importante que

o casal compartilhasse as informações entre si. Cada casal expôs os motivos pelos quais

optou pela adoção.

3º Encontro – Exibição e Discussão do Filme “O que o destino me mandar”

Neste encontro foi exibido o filme “O que o destino me mandar” (2006) que mostra

depoimentos de crianças em situação de abrigo em Santa Catarina. Em seguida, foi

promovida uma discussão com os casais acerca do filme. Dentre os diversos assuntos que

surgiram, muitos participantes associaram as histórias das crianças com sua própria

infância.

4º Encontro – Dinâmica “Construindo o filho ideal”

No 4º encontro, inicialmente foram discutidos assuntos que emergiram devido à

exibição do filme na sessão anterior. Dentre esses assuntos foram discutidos a questão de

tempos cronológico, jurídico e psicológico; a construção e reedição dos vínculos e a

possibilidade da troca de nomes das crianças adotadas. Em seguida, os casais receberam um

pedaço de argila e foi solicitado que construíssem “o filho ideal”. Após a construção do

“boneco” solicitou-se que dessem um nome a esse filho. Em seguida, nós os estagiários nos

intitulamos os “juízes” e dissemos que os filhos seriam trocados. As trocas foram feitas de

modo a atender ao sexo de criança esperada pelos casais e ao mesmo tempo frustrá-los pela

impossibilidade de ficar com o que era idealizado materializado na argila. Foram tiradas

fotos durante todo o processo que foram entregues aos casais para que eles construíssem

um de álbum de família com seus filhos adotados.

5º Encontro – Dinâmica “O que é Adoção” e “Parceiros ideais”

Neste encontro inicialmente discutimos o que significava o termo “Adoção” e

posteriormente fizemos uma dinâmica sobre os parceiros ideais, buscando discutir a

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questão do perfil de crianças adotadas. Assim, entregamos folhas sulfites aos casais que

ficaram sentados separadamente de seu par e escreveram o que seria um parceiro ideal. Em

seguida, começamos a ler os papéis individualmente a fim de que eles descobrissem de

quem era o parceiro ideal. Posteriormente foi discutido como o perfil ideal é sempre

diferente do real, assim como na adoção.

6ª e 7ª Sessão – Apresentação e Discussão do Filme “Ensinando a Viver”

Exibimos o filme “Ensinando a Viver” (2008) e interrompemos em uma cena problema,

para que os casais escrevessem como imaginavam ser o final da história. Logo após,

passamos o final do filme e discutimos com eles sobre aspectos relacionados ao filme

acerca da adoção e dos temas já discutidos anteriormente. Devido à necessidade de tempo

para atividade às duas sessões foram feitas no mesmo dia.

8ª Sessão – Dinâmica “Dar limites é, dar limites não é”

Entregamos diversas frases sobre educação dos filhos, imposição de limites e condutas

parentais pouco saudáveis. Pedimos para que em grupo, os participantes, decidissem e

classificassem as frases em “dar limites é” e “dar limites não é”. Logo após entregamos

bexigas e pedimos para que fizessem uma competição, tentando estourá-las o mais

rapidamente possível. Em seguida, relacionamos as duas dinâmicas, associados os limites

físicos da bexiga com a questão dos limites da criança e dos próprios pais. Solicitamos por

fim que lessem a Cartilha Adoção Passo a Passo para discussão no próximo encontro.

9ª Sessão e 10ª sessão – Discussão da apostila “Cartilha Passo a Passo” e de casos;

Dinâmica das flores de seda; devolutiva e encerramento do grupo

Neste encontro, primeiramente discutimos um pouco sobre a cartilha Adoção Passo a

Passo. Em seguida, apresentamos um caso que atendemos no semestre anterior, do casal S.

e F., que adotaram 3 crianças e depois devolveram duas. Logo após, fizemos uma dinâmica

das flores de seda, em que uma folha de papel é amassada e depois se transforma em uma

flor. Associamos essa dinâmica com as experiências de vida e experiências do grupo e

fizemos uma devolutiva da sessão. Logo após, fizemos um coffe break e os casais

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conheceram V.O. e M.S. que são as crianças adotas por M.F. e J.C.. As duas sessões

aconteceram no mesmo dia devido ao tempo necessário para as atividades.

2.3 Análise dos dados

Durante todas as sessões realizávamos anotações sobre comportamentos, dúvidas,

angústias, emoções, acontecimentos, falas que revelassem aspectos importantes da

evolução do grupo e que pudessem ser utilizados nas sessões seguintes. Esses dados foram

analisados à luz da Psicologia Social Comunitária e categorizados como está explicitado a

seguir.

2.3.1. Motivos da adoção

Foi possível perceber que como descrito na literatura, muitos casais optam pela

adoção como uma forma de reparar a impossibilidade de terem filhos biológicos. Assim

pudemos ver falas que ilustram o sofrimento pelo qual os pais passam e o luto que

vivenciam. Também observamos o próprio questionamento dos casais acerca de sua

motivação para a adoção, como nos seguintes relatos:

“temos que ter muito claro se você está adotando por você ou pela

criança.”

“depois que cuidei das feridas, estou bem melhor agora e me sinto

preparada e decidida a adotar.

Conforme Weber (1998), a adoção tem sua imagem exclusivamente associada aos

interesses dos adotantes. O que faz com que pensemos também sobre as reais motivações

de quem adota, evidenciando a importância de pensar nos interesses das crianças. Em

alguns relatos podem-se evidenciar elementos nesse sentido como:

"adotar é um ato de coragem do casal em acolher uma criança”.

“[adoção é uma] Forma de fazer a constituição de uma nova

família, amor, carinho, nova chance para a criança que vai ter

uma família.”. [grifo nosso]

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No entanto, com o avanço das intervenções, pudemos perceber outros relatos que

evidenciaram outro modo de enxergar a adoção como:

“´Não importa o perfil ou o passado. Eu quero um filho para

amar”

“Adoção é um ato de amor, doação, troca recíproca de

experiência”.

Em um estudo feito por Costa (2003), mostrando quais são os principais motivos

para adoção, o que ficou em primeiro lugar na pesquisa foi o “desejo de exercer a

maternidade/paternidade”, seguido por “ajudar o próximo”. Além disso, foram apontados

outros motivos como; substituir um filho natural falecido; preencher a solidão, dentre

outras. Nos relatos obtidos em nosso grupo, pudemos evidenciar algumas falas que vão ao

encontro dos resultados encontrados por Costa. Assim:

“quando eu perdi o nenê, nós tivemos que enterrar porque já tinha

oito meses. E eu não tinha nem forças para levantar da cama.”

"Eu agora desisti [de tentar engravidar], o que não era para ser

não vai ser, vou ter um filho de qualquer jeito, não vai ser da minha

barriga, mas vai ser do coração".

Nessas falas de M.B. e V. pudemos evidenciar que durante as intervenções no grupo

eles foram vivenciando o luto e refletindo sobre como ao adotarem ou até mesmo terem um

filho biológico teriam uma nova criança e não o filho falecido. Esse caminho que eles

percorram de elaborar essa experiência foi em grande parte também compartilhado pelos

demais membros do grupo, tanto no que se refere a ajudarem ao casal M.B. e V. como

também de elaborarem suas próprias experiências, o que discutiremos mais adiante sobre o

sentimento de pertença grupal.

2.3.2. Mito do amor materno

Acreditamos que a discussão sobre o mito do amor materno, foi importante neste

trabalho, pois em todos os encontros tivemos angústias com relação à maternidade

biológica e a maternidade “não-natural”. Por diversas vezes observamos falas que iam ao

16

encontro da maternidade ideologizada, como se o amor materno e paterno fossem naturais e

só pudessem ocorrer com um bebê. Assim, trabalhamos ativamente sobre esse assunto sob

diferentes formas que proporcionaram mudanças de ideologia, manifestas pelo discurso

oral dos participantes, e uma compreensão maior sobre as ideologias nas quais se

fundamentam aquilo que julgamos como “natural”. A tentativa de naturalizar o amor

materno se manifestou nas falas em diferentes momentos, mas principalmente no início das

atividades em que ouvíamos falas como as seguintes:

"Amor é incondicional, os filhos tem que amar os pais, amor é

primeira vista”.

"[durante a sessão em que realizaram o filho de argila] me senti

na sala de ultra-som. É como se cada dia aqui fosse um pré-natal."

Em outras situações nos deparamos com a idéia que se tem que adotar bebê, para

ensinar os hábitos, valores da família desde pequeno, se não pode vir com problemas da

outra família. Nesse sentido são muitas as frases que escutamos em vários encontros e

geralmente eram ditas por J., que manteve essas ideias até no último dia de encontro,

seguem algumas frases:

“tem que adotar bebê, é muito mais fácil”

“Depois de grande já é mais difícil, vem com manias”

Com o avanço das intervenções pudemos observar falas que evidenciavam como o

amor e, sobretudo o amor materno se trata de um processo e é uma construção social. Nesse

sentido:

“O amor é como uma plantinha tem que regar sempre, se regar

demais morre, se regar de menos também morre”

2.3.3. Diferenças entre filhos biológicos e adotivos

Podemos perceber que em situações típicas de uma criança como o fato de uma cena de

birra os pais biológicos interpretam como apenas uma birra, mas os adotivos podem pensar

se é algo referente à relação “não normal” que tem com a criança que gerou aquilo; podem

17

achar que a criança não os ama ou que não quer viver com eles mais. No entanto segundo

Weber (1998), isso tudo faz com que pequenos problemas no cotidiano dessas famílias

sejam vivenciados como muito mais graves e angustiantes nas famílias adotivas.

Com isso enfatizamos a importância da participação em grupos após a adoção para que

os casais continuassem a discutir suas dúvidas. E realizamos diversas discussões sobre

como os filhos adotivos não são diferentes dos filhos biológicos, a não ser pela condição já

evidente de cunho biológico. A seguir alguns exemplos de falas dos participantes:

"os filhos são bem diferentes um do outro e dão muito trabalho,

independente se é adotivo ou biológico".

"fica claro que nós iremos moldar a criança com os nossos

costumes, não importa se é biológico ou adotivo”.

Um momento marcante foi o da troca dos filhos na atividade da argila no 4º encontro.

Devido à expectativa e o desejo que se cria com relação aos filhos, os casais foram

surpreendidos pela troca que realizamos. Assim, discutimos sobre como um desejo, uma

idealização são sempre da própria pessoa e que a criança adotada virá com outros aspectos

que o casal não esperavam, assim como a biológica também viria. Por isso a importância da

discussão sobre as fantasias e desejos que esperamos do outro e não sendo possível recebê-

la do modo que achávamos que seria. Nesse sentido, após a troca alguns casais disseram:

"nossa não esperava essa troca, vocês pegaram a gente de

surpresa, mas foi perfeita, porque esperamos algo que não irá vir

do jeito que desejamos”.

“mas eu tinha feito com tantos detalhezinhos, tinha enfeitado

tanto. Tudo bem agora eu vou cuidar dela do meu jeito.”

Houve uma dúvida que surgiu com relação à possibilidade de modificar o nome da

criança adotada. Essa dúvida está muito relacionada com a tentativa de reparar a

impossibilidade de se ter um filho biológico, já que a escolha do nome carrega consigo uma

série de expectativas dos pais com relação ao filho e, portanto, escolher um novo nome

18

seria o mesmo que “criar” esse novo filho do “zero”. Nesse sentido um exemplo de como

pensavam é a frase abaixo:

“se fosse bebê não teria problema, mas se fosse maior não seria

legal mudar o nome”.

Após nossas discussões sobre a essa dúvida os casais pareceram concordar que o

nome é edificante da nossa história e, portanto recomenda-se não modificá-lo. Além disso,

esse nome faz parte de um passado que não deve ser esquecido, já que todos temos

passados. Desse modo, muitas discussões foram realizadas sobre como é importante que os

filhos adotivos saibam de sua origem. A.M. contou, por exemplo, sobre um primo seu que

descobriu aos 18 anos que era adotado:

“ficou sem o chão, ele perdeu toda a história dele e nem confia

mais na mãe” (s.i.c.).

2.3.4. Crianças abrigadas

No grupo observamos que poucos casais conheciam abrigos e a situação das

crianças abrigadas. No 3º encontro em que passamos um vídeo sobre as crianças de um

abrigo em Santa Catarina, percebemos que este vídeo causou uma mal estar no grupo,

principalmente pelos discursos das crianças. Eles se espantavam porque as crianças mesmo

tendo sofrido algum tipo de violência, queriam voltar para a família, causando no grupo

muitas dúvidas. Alguns comentários nesse sentido são:

“deu para perceber o quanto essas crianças sofreram e não

entendo porque mesmo assim, ainda querem voltar para a sua

família”

“as crianças querem voltar para a família, por mais que tenham

sofrido”.

No vídeo também foram apresentadas crianças que não querem ser adotadas,

mostrando que estão felizes na instituição. Assim, J.C. comentou que como ele e o M.

visitam há algum tempo abrigos, eles sabem que as crianças de abrigo são muito bem

19

cuidadas, nem sempre as crianças querem ser adotadas e contou sobre o menino M.S. que

estavam aguardando a liberação para adotar.

"o M.S. é uma delas [crianças] e que não queria ser adotado, mas

aos poucos foi gostando da ideia”.

Discutimos essa questão conforme Arpini (2003) demonstra que nem sempre as

instituições são vistas como algo “ruim”, assim como as famílias nem sempre é o melhor

local, mais privilegiado e seguro. O que também não significa que todos os abrigos são

bons.

2.3.5. Educação dos filhos: limites e regras

Atrelado aos assuntos anteriores, um tema recorrente foi o referente à educação dos

filhos. Muito se discutiu em diversos encontros sobre como os pais devem e podem educar

seus filhos. As dúvidas foram as mais diversas, assim como as opiniões. De tal modo que

utilizamos o conceito de estilos educativos parentais (GOMIDE, 2003; SARGIANI, 2009),

dissemos que existem vários estudos sobre maneiras como os pais normalmente educam

seus filhos, e mais além de como adultos educam as crianças e os efeitos produzidos por

esse estilo de educação.

Explicamos que essas denominações (estilos educativos parentais) se referem a uma

visão macroscópica, isso é, de vários pais e não de um especifico, e que normalmente nós

acabamos misturando esses estilos, embora predomine um sobre o outro. Também

dissemos que esses estilos educativos em geral se aplicam aos pais por isso recebem esse

nome, mas que todos nós acabamos usando isso com qualquer criança, pois educamos o

tempo todo.

Apresentamos aos participantes as classificações de Gomide (2003) que divide os

estilos educativos parentais em positivos e negativos. Os positivos tendem a favorecer o

desenvolvimento de comportamentos pró-sociais, que são próprios para o bom convívio em

sociedade, enquanto os negativos favorecem o desenvolvimento de comportamentos anti-

sociais, como o de delinquência. Dentre os estilos positivos se encontram:

20

• Monitoria Positiva: estratégias de educação adotadas pelos pais que envolvem o

uso adequado de atenção, supervisão e regras bem estabelecidas e controladas;

Alguns exemplos de falas nesse sentido:

“é importante saber separar o lazer, brincando muito com seu

filho, as responsabilidades e dizer o não quando for preciso.

• Comportamento Moral: são as estratégias adotadas que envolvem a aprendizagem

de empatia, senso de justiça, responsabilidade. A transmissão de valores sociais. No

grupo apareceram relatos nesse sentido como:

“os relacionamentos são como cristais que tem que ser lapidados, é

troca e suporte”.

“criança precisa conhecer os seus limites e os limites daqueles que

estão a sua volta, tudo é novidade para uma criança, e ela tem

necessidade de conhecer tudo”

Com relação aos estilos negativos podem ser classificadas como:

• Negligência: esta se refere à posição adotada pelos pais de completa ausência de

cuidados, atenção, afeto para com os filhos;

• Abuso Físico e Psicológico: uso de práticas corporais negativas, surras, ameaças,

chantagens.

“psicotapa, às vezes é necessário, em algumas situações resolve

mais do que qualquer conversa” [essa colocação foi criticada pelos

demais membros do grupo]

• Disciplina Relaxada: o estabelecimento de regras que podem ser ou não

cumpridas; As crianças não podem fazer algo hoje, mas amanhã podem e depois

não podem novamente.

“Tudo tem que se combinado. Se falar que pode ir em três

brinquedos no parque, é só três. Até pode deixar ir no quarto, mas

daí chega, porque senão vai querer ir no quinto”

21

• Monitoria Negativa: excesso de supervisão e de regras. É o oposto da Monitoria

positiva, nessa a um excesso de controle da vida dos filhos. (SARGIANI, 2009;

GOMIDE, 2003). Alguns relatos ilustram esse excesso de monitoria:

“Pressionei muito a Valentina [boneca de argila] por isso ficou

amassada”

• Punição Inconsistente: uso de punições mais graves ou menos graves para uma

mesma infração, de acordo o humor de quem avalia;

“nem todos os dias são bons dias, tem o dia da bronca, pois amar é

também colocar limites”.

2.3.6. Relacionamento do casal

Tivemos uma atividade no 5º encontro em que o propósito foi o de trabalhar a

questão do perfil de crianças a serem adotadas, mas, além disso, também trabalhamos com

essa atividade o parceiro ideal e, por conseguinte os relacionamentos dos casais. E foi

interessante que o assunto tornou-se muito polêmico, pois evidenciamos o quanto

idealizamos alguém que não existe, buscando construir um modelo de ideal.

Nesse mesmo sentido para Sarti (2005) ainda que a família continue sendo objeto de

profundas idealizações, nos dias atuais, as influências pelas quais vem passando tem

tornado praticamente impossível que se possa aceitar a idéia de um único modelo

“adequado” de família. Assim:

”e o peso está tudo sobre a mulher, o homem não sofre”.

“a diferença é que não é o homem que leva as agulhadas, mas sofre

junto” (contestando a afirmação anterior)

Segundo Sarti (2005) houve mudanças muito significativas que se devem,

principalmente, as inovações tecnológicas que surgiram e que modificam a reprodução

humana. Atualmente é possível ter filhos a partir de inseminação artificial e rebuscadas

técnicas laboratoriais, por exames de DNA se obriga ao reconhecimento da paternidade etc.

O avanço dos estudos de genética já nos possibilitam estimativas futuras como soluções

para a infertilidade e escolha de características físicas dos filhos, que alteram

22

significativamente a visão natural da família. Assim, F. e J. discordaram muito nesse 5º

encontro, abaixo temos um relato de F.:

“no início eu não concordava com a fertilização, porque é algo

forçado, não é algo natural, não é coisa de Deus, preferia a

adoção”.

Este tema foi muito interessante de ser trabalhado, pois ele não estava no

cronograma, mas percebemos que o grupo precisava deste momento de escuta e discussão,

principalmente por dificuldades no relacionamento entre F. e J. Todo o grupo participou

com comentários, conforme percebiam dificuldades no entendimento do casal F. e J.

Acreditamos que abrimos um espaço de reflexão, para o grupo ter um olhar mais cuidadoso

com quem está do seu lado. No entanto trabalhar com famílias requer a abertura para uma

escuta, a fim de localizar os pontos de vulnerabilidade, mas também os recursos

disponíveis. Sendo que é importante se destacar que assim como o amor materno, a família

ideal também se trata de uma ideologia e que precisa ser desnaturalizada.

2.3.7. Sentimento de pertença grupal

No início as pessoas estavam se conhecendo, percebíamos uma fragilidade entre

alguns casais, a angústia, o medo, as dúvidas, mas, a partir do terceiro encontro houve uma

interação muito forte no grupo, que foi se fortalecendo a cada encontro. Todos

participavam das discussões e nas atividades, sempre com respeito pelo outro, independente

da classe social, todos eram iguais, com um único objetivo adotar um filho.

Assim, Lane (1984), afirma que toda ação transformadora da sociedade só pode

ocorrer quando indivíduos se agrupam. A função do grupo é definir papéis, e

consequentemente, a identidade social do indivíduo, garantir a produtividade social.

Podemos perceber a produtividade do grupo a partir das falas abaixo:

“foi a melhor coisa ter participado do grupo, nos últimos tempos eu

tenho me sentido muito emocionada, mas é bom. Antes eu não tinha

nem forças para falar sobre o que aconteceu com a gente, mas de

uns tempos para cá eu to falando mais e não tá doendo mais

tanto.”

23

“foi uma prazer vir para cá todos os sábados e é uma pena que

acabou, durante a semana eu ficava conversando com todo mundo

sobre o que discutíamos aqui, até com meus pais no almoço de

domingo. No começo eu pensei que ia ser mais uma questão

burocrática, mas quando começamos eu vi que não era isso”.

O grupo tinha diversas culturas, valores e história de vida diferente, mas como

afirma Lane (1984) quando existe um propósito em comum, podemos discutir experiências,

perceber que todos têm problemas, mas, cada um tem atitudes diferentes em lidar com

algumas situações, como nas falas que iremos mencionar abaixo:

“nosso sofrimento não é tão grande assim. Eu achava que meu

problema era o maior do mundo. Quando conheci outras pessoas

eu vi que meu problema era um grãozinho de arroz.”

Podemos afirmar, então, que o grupo se consolidou como um grupo independente

conforme mencionado por Lane (1984). Os grupos independentes são aqueles em que a

liderança é amplamente distribuída, pois o grupo já acumulou experiências e

aprendizagens. De tal modo, que os recursos materiais aumentam e as metas fundamentais

quando são alcançadas possibilitam novas metas que objetivam o desenvolvimento pleno

dos membros do grupo. Dessa forma vimos ao longo das semanas os assuntos sendo

renovados e não se esgotando permitindo sempre que um novo olhar ou uma nova

informação fosse agregada, discutida e partilhada por todos.

O sentimento de pertença ao grupo fez com que cada um dos participantes se sentisse parte

de uma unidade maior e que, portanto deveriam contribuir com esta sem se sentirem

menosprezados ou inferiores. O espaço foi rico e proveitoso, permitindo a discussão não só

de temas referentes a adoção como outros que se referiam a relacionamentos do próprio

casal. Esse sentimento de pertença grupal foi o que possibilitou a ação transformadora do

grupo.

24

3 .Considerações Finais

Como evidenciamos em nossa fundamentação teórica, várias transformações

ocorreram no decorrer da história em relação ao cuidado das crianças. Desde uma infância

negada (que não existia) até os dias atuais são inúmeras as mudanças que possibilitaram o

reconhecimento dos direitos infantis (ARIÈS, 1981). Aqui no Brasil, por exemplo, isso

culminou na promulgação do ECA (Estatuto da criança e do adolescente) e na criação dos

Conselhos Tutelares. Ainda assim, após todas essas mudanças, temos muitas crianças

sofrendo diversas violências, físicas, psicológicas, sendo uma das mais comuns, o

abandono.

Os números de crianças abandonadas são alarmantes e por outro lado também

observamos o alto número de famílias que se interessam pela adoção. Todavia, de modo

geral, essa escolha é marcada por sofrimento, angústia, dor e expectativas dos casais que

buscam a adoção por diversos motivos. Sendo, que dentre os motivos mais comuns, o

maior deles, ou pelo menos o mais comum, é a impossibilidade de ter filhos biológicos, ou

ainda, a tentativa de substituir um filho perdido (morto). O que faz com que a adoção seja,

na maioria das vezes, uma expectativa de reparação para casais que gostariam de ter um

filho e que não podem por diferentes motivos e por outro lado uma expectativa por parte

das crianças de terem uma nova família. Evidentemente que a partir de nossa perspectiva

teórica, não consideramos isso como uma regra, mas como algo que acontece de maneira

mais frequente, considerando-se o contexto sócio-histórico no qual estamos inseridos.

Nesse sentido, percebemos que muitos mitos permeiam a opção pela adoção, por

exemplo, o mito de que após a adoção torna-se mais fácil engravidar, o que gera uma

expectativa infundada. Além desse, há ainda outros mitos como o de que crianças mais

velhas não devem ser adotadas porque “já aprenderam coisas ruins, não podem mudar”.

Bem como são comuns as tentativas de se adotar um bebê parecido com o casal para evitar

que a sociedade comente que a criança é adotada, como se isso fosse algo prejudicial ou de

menor valia em uma relação entre pais e filhos. Todos esses mitos surgiram e foram

discutidos no grupo com o objetivo de desmistificá-los.

25

Nesse mesmo sentido, destacamos que a visão da psicologia por muito tempo esteve

atrelada a consolidação e divulgação de muitas ideologias que favoreceram a cristalização

desses mitos, como bem ressalta Martín-Baró (1987). Assim, desde o princípio nosso

esforço foi o de caminhar no sentido oposto ao de uma psicologia naturalizante e promover

a reflexão sobre essas ideias “naturais”. De tal modo que discutimos o papel da psicologia

de maneira crítica em todas as supervisões das quais participamos, a fim de que

pudéssemos também ao falar com o grupo tentar mostrar outro olhar da psicologia sobre a

questão da maternidade, paternidade, filiação e adoção. Tanto é que alguns relatos

manifestados no grupo foram ao encontro do que nos estávamos discutindo em supervisão,

dizendo, por exemplo, que imaginavam que a Psicologia iria falar outra coisa e ressaltar o

papel da mãe biológica e do aleitamento materno como fundamentais na constituição

humana. Embora não neguemos tal importância não lhes atribuímos papel fundamental,

indispensável e central como na abordagem psicanalítica ou ainda em uma perspectiva

rousseauniana (BADINTER, 1985), e que, portanto, seriam “prejudiciais” em caso de

adoção.

Ainda acreditamos ser importante ressaltar que a criança adotada não deve ocupar o

lugar de uma criança que partiu ou que nem chegou, e sim de uma criança que pode ser

amada e participar de uma nova família, ocupando o seu próprio lugar de filho. Por isso

ressaltamos a importância dos casais participarem do grupo preparatório de adoção, e

enfatizamos a relevância do tema dentro da perspectiva da Psicologia Social Comunitária,

bem como também enfatizamos a participação dos adotantes em grupos de

acompanhamento pós-adoção.

Nossa ênfase na participação dos grupos se explica, porque evidenciamos com esse

trabalho como o sentimento de pertença grupal foi fundamental e edificante na história de

cada um dos casais que participaram, permitindo não só que continuassem a participar dos

grupos, mas com que também se apoiassem, se compreendessem, trocassem informações e

experiências e se fortalecessem. Esse sentimento de pertença grupal também foi

fundamental para que pudéssemos realizar as discussões de maneira que todos

participassem ativamente e sem julgamentos. Principalmente ao considerarmos a

heterogeneidade do grupo.

26

Assim, podemos afirmar que o grupo foi satisfatório pela interação, respeito,

carinho e admiração que os membros tiveram uns com os outros, sem julgamentos. O que

fez com que os encontros tenham sido ricos de conteúdo e esclarecimentos para e pelo

próprio grupo. O que é também uma premissa da Psicologia Social Comunitária, já que as

comunidades devem elas mesmas construir o seu saber e o Psicólogo é apenas um

catalisador que auxilia nessa construção (MONTERO, 2002).

Por isso, um de nossos esforços foi para que os participantes do grupo percebessem

as contradições que se relacionavam com essas ideologias cristalizadas sobre a forma de

mitos, tal como o mito do amor materno. No grupo, aos poucos os membros foram

percebendo que o amor não é espontâneo e nem natural, mas sim construído. Desse modo, a

adotar não é reparar uma impossibilidade, mas é criar um novo caminho. Encerramos o

presente relatório não apenas com conclusões, mas com possibilidades também,

possibilidades de continuação e de divulgação desse conhecimento que foi de extrema

relevância para essas famílias e para nós mesmos enquanto Psicólogos.

4 . Apresentação do local e condições nas quais a atividade de estágio aconteceu

O núcleo de estudo e atendimento psicológico (NEAP), foi criado a partir da

implantação do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul, tendo em vista as

exigências da Lei nº 4119 de 27-08-62, que regulamenta a profissão de psicólogo e dispõe

sobre o curso de psicologia, no qual também se delimita a organização e oferta de serviços

clínicos e de aplicação à educação e da psicologia. Dessa maneira, o núcleo de estudo e

atendimento psicológico é um centro de estudos interdisciplinares e multidisciplinares que

agrupa projetos, mantidos em parceria com o Núcleo Jurídico e a Clínica de Odontologia.

A forma de trabalho proposta pela Universidade desenvolve estágios de atendimento

em todas as áreas. Representando 480 horas de atuação entre o 9º e 10º semestre,

distribuídos em: supervisão, pesquisa, atendimento. Todos os serviços, regras e organização

estão regulamentados por um regimento interno. Os projetos de atendimentos recebem

orientação dos professores, entre um grupo de no máximo 10 alunos, em 6 horas-aulas em

cada área, por semana. O NEAP procura oferecer aos alunos avaliação e desenvolvimento

de habilidades que vão ser utilizadas na prática quando da atuação profissional.

27

5. Referências Bibliográficas

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crianças e adolescentes. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 23, n. 1, março 2003. Disponível

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29

6. Memorial

Desde a nossa escolha do tema até a entrega do relatório final foram muitas alegrias,

preocupações, expectativas e horas de dedicação. Considerando o papel que tínhamos

enquanto estagiários de psicologia, responsáveis por vidas, por famílias, por decisões,

entendemos que nosso trabalho, desde o início, deveria ser pautado pelo rigor científico,

pelo cuidado ético e pelos nossos esforços pessoais que deveriam ir além do que era

exigido. Assim, participamos de cursos extras de preparo para candidatos a adoção, pois

queríamos vivenciar as suas angustias, medos e expectativas. Isso foi muito importante,

pois ao conduzirmos o grupo nossa experiência já era ampla em exemplos e experiências.

Nesse mesmo sentido, embora não tenhamos conseguido formar um grupo com

nosso primeiro objetivo (adoção tardia), não desistimos do tema e cada uma das entrevistas

que realizamos foi compondo, então, nosso repertório de experiências. Posteriormente esse

conhecimento adquirido foi utilizado em benefício do grupo que fizemos, como quando

utilizamos essas experiências para discutir os casos com os participantes. Durante todo o

ano, nós nos percebemos cada vez mais envolvidos com o tema da adoção, sua relevância

social e com a área da Psicologia Social Comunitária. Nosso envolvimento foi além das

horas de supervisão ou de estágio e o tema fazia parte de nosso cotidiano, nós vivemos

intensamente essa experiência e isso foi importante e notado pelos próprios participantes do

grupo.

Para finalizar gostaríamos de dizer que somos gratos pela oportunidade de ter feito

parte deste trabalho tão rico e importante. Nosso estágio foi vivo, no sentido que a demanda

se transformou diferentes vezes, como ficou evidenciado no relato, a cada semana era algo

totalmente novo e nós tínhamos de nos adaptar, pelo grupo e com o grupo. Embora nós

tenhamos nos orientado pela noção de desnaturalização da maternidade, enfatizamos em

nosso título também o processo grupal que foi sem dúvida o ensinamento que o grupo nos

proporcionou. Unidos pelo mesmo objetivo no grupo éramos uma só unidade. Esse estágio

nos enriqueceu sobremaneira em nossa formação enquanto Psicólogos. Ao mesmo tempo

em que percebemos a gratidão e a satisfação na participação pelos membros do grupo, nós

também nos percebemos muito gratos pelo carinho e pelos ensinamentos que nos

propuseram em todos os encontros, foi uma imensa satisfação fazer parte deste estágio.