O Profeta Elias

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Referente a vida de um dos profetas mais importantes do V.T.

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O Profeta Elias O nome de Elias, que significa "Yaveh Deus" ou "Yaveh meu Deus", j expressa seu carter e sua funo na histria bblica, trata-se do primaz dentro do monotesmo de Yaveh. ele quem mantm a f em Yaveh entre o povo e quem luta com vigor plos Seus direitos. Sua rdua luta contra todo sincretismo religioso e deste profeta que "parecia de fogo e cuja palavra era um forno aceso", uma figura de primeira linha na sucesso das Alianas. O Eclesistico (48,1-11) canta suas glrias e os livros dos Reis nos contam sua vida de forma ampla. Nesta narrao distinguem-se dois ciclos: "o ciclo de Elias" (I Rs17 - II Rs1), que se centra na atividade do profeta, e o "ciclo de Eliseu" (II Rs 2-13) que comea com o arrebatamento de Elias, momento em que Eliseu o sucede.

Originrio de Tesbi, Elias exerceu seu ministrio no reino do norte, no sculo IX antes de Cristo, em tempos de Acab e de Ocozias.

Primeiro descendente da famlia de Amri, Acab, que subiu ao trono no ano de 874 A.C., havia desposado Jezabel, filha de Etbaal, rei de Tiro e grande sacerdote de Astart (I Rs16, 31). Acab pagou as vantagens polticas dessa unio submetendo-se vontade de Jezabel, que demonstrou dominar seu marido impondo-lhe violentamente o culto Baal e fazendo-o matar a Nabot, que o impedia de estender suas propriedades na zona de Jezrael (I Rs 21, 1-16).

Nestas circunstncias chega Elias, enviado pelo Senhor para que anuncie a Acab a lei da Compensao (I Rs 21, 21-24), lei que depois, pr causa da penitncia pblica do rei, ficou limitada sua mulher e aos seus filhos (I Rs21, 29; II Rs 9, 7-10, 26, 36-37). A ira de Jezabel contra Elias se desenrolou com a matana dos profetas de Yav (I Rs 18, 4, 13; 19, 10). Elias respondeu anunciando uma seca de trs anos, durante os quais ele se refugiou primeiro na torrente de Carit, na Transjordnia, onde os corvos o alimentaram, e depois em Sarepta, 15 quilmetros ao sul de Sidnia onde uma viva lhe deu de comer; Elias multiplicou milagrosamente o azeite e a farinha dessa viva e tambm ressuscitou seu filho (I Rs 17).

A prova indiscutvel de que "o Senhor o verdadeiro Deus" faz com que Elias desafie Baal de Jezabel, em um lugar que uma antiga tradio situa em El-Muhraqah, a sudeste do monte Carmelo. Ante a splica de Elias, um raio queima o holocausto oferecido a Yav, enquanto que os gritos, as danas e as mutilaes dos 450 profetas de Baal no obtinham resultado algum, e como conseqncia disto os profetas do dolo so degolados junto torrente Quisn (I Rs18). Para evitar a vingana de Jezabel, Elias vai para o sul, milagrosamente alimentado pr um anjo e alcana o monte Horeb. J no cume de Gebel Musa, recebe em uma teofania a misso de uma tripla investidura: a de Jazael como rei de Damasco, a de Jeh como rei de Israel e a de Eliseu como profeta (I Rs 19). Morto Acab (852 a. C.) em um combate em Ramot de Galaad, (I Rs 22, 1-40), lhe sucede seu filho Ocozias. E quando este, aps sofrer um grave acidente, envia mensageiros para que consultem a Baal-Zebub, deus de Acaron, se ir sarar, Elias sai ao seu encontro e lhes anuncia a morte do rei (II Re 1, 2-4).

Chegando ao fim de sua vida, Elias deixa Glgala e seguido de Eliseu e de um grupo de profetas, fazendo paradas em Betel e Jeric, chega at o Jordo atravessando o rio a p enxuto, ao dividir as guas com seu manto. Apenas Eliseu, destinado a suced-lo, quem o acompanha. O fim misterioso de Elias se descreve como um arrebatamento por um carro de fogo (II Rs 2-13). Desta descrio se originou a antiga crena hebraica de que o profeta haveria de regressar antes do "Grande dia de Yav" o da "parusa" do Messias, crena que encontrou eco inclusive entre os padres da igreja e entre os autores eclesisticos (Mc 6, 14-16; 9,11; Lc 9, 7 sgs.; Jn 1,21; Enoc etope 89, 52; 90, 31; IV Esd 6, 26; Justino, Dial. 8, 4; 49,1).

O prudente parecer expressado por Flavio Josefo (Ant. IX, 2, 2: "Elias desapareceu dentre os homens e, at o dia de hoje, nada se sabe sobre sua morte"), e sobre tudo a atitude de Jesus que nos relata os Evangelhos, nos leva a considerar a descrio do arrebatamento de Elias como um caso de xtase proftico de Eliseu para significar a especial assistncia divina na morte do profeta. Na realidade, o fim de Elias est descrito tal como apareceu aos olhos de Eliseu (cf. I Mac 2, 58) que foi o nico que presenciou: Elias desapareceu em um turbilho. O mesmo verbo Iagah (=tomar), usado para indicar o arrebatamento de Elias, expressa em outros lugares a interveno de Deus na morte serena do justo (Gen 5, 24; Salmo 49, 16; Is 53, 8). Os demais elementos so simblicos: pinsese, p. e., na viso que teve S. Bento da alma de sua irm, Sta. Escolstica, que voava ao cu como uma pomba, no mesmo dia de sua morte.

Em Malaquias 3, 1, 23-24 (hebr. 4, 5-6) se diz que Elias vir como precursor do Messias. Esta profecia se realiza em So Joo Batista (Lc 1, 17), que o precursor profetizado (Mt 11, 10; 17, 10-13) e que encarnou o "carter forte" de Elias, o qual foi to s sua figura. Tambm Jeremias (23,5) e Ezequiel (34, 23) preanunciaram o Messias chamando-o "meu servo (de Yav) Davi".

Na transfigurao de Jesus no Tabor, Elias aparece junto a Moiss (Mc 9, 2-8; Mt 17, 1-8; Lc 9, 28-36), tambm favorecido por uma teofania no Sinai. Elias j est unido a Moiss na Antiga Aliana, da qual um o legislador que a pactua e o outro o profeta que a conserva intacta e pura. A presena de ambos no Tabor vem a testemunhar, na antecipada exaltao de Jesus, que a nova Aliana o coroamento da Antiga.

Elias, finalmente, se apresenta tambm no N. T. como modelo de prece eficaz. (Sant 5, 27).

Elias na tradio JudaicaO profeta "arrebatado" ao cu ocupa um lugar importante na haggada,, a qual ilustra e amplia com elementos legendrios, s vezes simplistas a consideraes teolgicas, os textos bblicos relativos vida terrena de Elias; porm, se detm especialmente em seu arrebatamento, sua atividade celestial, suas aparies na terra como benfeitor dos pobres e amigo dos humildes, como protetor e libertador dos fiis em toda situao extrema, como amigo dos sbios e estudiosos da Torah que tanto zelo teve e finalmente, como precursor do Messias.Quando o anjo da morte apareceu para levar Elias, este se encontrava conversando com Eliseu sobre a Torah. Como no lhe era permitido interromper estas reflexes, Satans teve que esperar; porm de pronto, um carro de fogo puxado pr cavalos de fogo se interps entre Elias e seu discpulo. Elias subiu nele e foi arrebatado ao cu em um turbilho. Satans foi ento protestar diante de Deus pela fracassada morte de Elias; porm antes de comear a falar, Deus o preveniu: "Eu criei os cus precisamente para que Elias pudesse subir a eles". O anjo insistiu e o Eterno permitiu que houvesse uma luta entre Satans e Elias. O profeta foi vencedor e pediu a Deus permisso para aniquilar a seu adversrio. A permisso lhe foi negada porque a derrota definitiva de Satans dever ter lugar no final dos tempos (Zohar hadash Ruth 1, 1; Sepher Elijahu, p. 19).

Esta idia da translao, inclusive corporal, seguiu sendo a mais comum (cf. pesiq. 9 [s. II]). " exatamente o que aconteceu com Elias porque este no pecou".

Porm em outros textos (cf. Zohar Bresit, 137; Sepher H-pardes, 24,4) se afirma que Elias deixou seu corpo material para tomar outro luminoso: "Como Elias pode subir e habitar os cus que no podem sustentar nem uma brisa?". R. Simen bar Jochai responde: "Foi escrito: entre os que nascem neste mundo haver um esprito que baixar a terra e vestir um corpo. Seu nome Elias. Ele voltar a subir ao cu, seu corpo permanecer no turbilho e seu esprito revestir um corpo luminoso para que possa habitar entre os anjos".

Recordemos a este respeito a refutao que apresenta S. Epifnio justamente contra a idia to difundida entre os judeus de que Elias era um anjo (PG, XLI, col. 976). Tampouco faltam textos que negam qualquer translao de Elias ao cu: "O segundo ano de Ocozas - dizia R. Jos b. Halaphta, discpulo de R. Aqiba - Elias foi escondido [nignaz], e aparecer de novo com a vinda do Rei Messias"(Seder Olam Rabba). Com o verbo nignaz o rabino (do s. II) insinua que Elias continua vivendo na terra, porm ocultamente. Esta parecia ser a idia de Flvio Josefo (Ant. IX, 2, 2), a das tradues dos setenta, do Targum (II Re 2. 1) e provavelmente do texto hebreu do Eclesistico 48, 9.

Sem dvida, a opinio comum coloca Elias no cu ou no Paraso, no alto, com os anjos, onde lhe esto confiados vrios trabalhos: o de escrivo celestial (escreve os nomes dos justos e suas boas aes no livro da vida), o de guia das almas (est no caminho que leva ao Paraso esperando as almas dos justos para acompanh-las ao lugar que lhe destinado), o de intercessor em favor de Israel.

Elias, alm disso, desce com freqncia terra: "Se os ces latem alegres, porque Elias no est longe; se os ces gemem tristemente, o anjo da morte se acerca" (Bab. Kam. 60b). Os relatos de suas aparies entre os mortais constituem lendas, as vezes alegres e instrutivas, que inculcam o amor justia e a f na Providncia.

O Rabi Kahana (s. III) ganhava o sustento vendendo cestos s mulheres. Um dia, ao entrar numa casa, foi convidado a pecar. Subiu escadas acima e se arrastou at o terrao. Porm Elias interveio para salvar sua vida. "Me tens obrigado a me deslocar quatrocentas lguas", lhe disse Elias. E o Rabino retrucou: "O que que me tem conduzido a esta situao se no minha pobreza?". O profeta ento lhe deu um jarro cheio de moedas de ouro (Midr. Prov.,9, 62).

Porm a funo essencial de Elias a de precursor do Messias. Esta crena, com efeito, era comum entre o povo no tempo de Jesus, como o demonstram as numerosas perguntas sobre a vinda de Elias (Mt 17,10 sgs. e lugares paralelos; Lc 1, 17; Jn 1, 21, 25). estranho que os apcrifos no continham nenhuma predio sobre a funo do precursor: unicamente se diz que ento aparecero os homens que estavam mortos (IV Esd 4, 26; II Bar 13, 3).

A tradio rabnica, pelo contrrio, atribui a Elias uma atividade considervel nos primeiros atos da restaurao (cf. a este respeito os numerosos textos oferecidos por H. Strack-P. Billerbeck, Kommentar zum Neuen Testament, aus Talmud und Midrash, IV Munich 1928, 779-98; J. Bonsirven, Le judaisme palestinien..., I, Paris 1935, 357-59; M.-J. Strassny, v. bibl.).

Para os judeus, Elias no um personagem do passado: est presente e acompanha a Israel em seu longo e penoso peregrinar; est vivo na piedade judaica individual, como o mais prximo e familiar dos patronos celestiais. No rito da circunciso, ainda hoje em dia, se deixa sempre um lugar vazio: est reservado a Elias.

Elias nas obras dos SacerdotesO lugar que o profeta Elias ocupa no s no A. T. e na tradio judaica, como tambm no N. T., o faz ser recordado nas obras dos Sacerdotes com freqncia. Alguns deles insistem na relao existente entre Elias e So Joo Batista (cf. Gregrio de Nisa, De Virginitate, VI, em PG, XLVI cols. 349-52); outros fixam sua ateno no arrebatamento de Elias e no seu retorno ao final dos tempos (neste sentido de se notar a clara afirmao de Origenes que, contra a opinio comum, assegura a morte de Elias e nega que haja sido arrebatado ao cu em carne mortal (In Ps., 15, 9, em PG, XII, col. 1216); outros (S. Justino, S. Ireneu, etc.) pe de relevo a personalidade do profeta e o apresentam como modelo de vida de perfeio.

Origenes apresenta o exemplo de Elias para a confiana que devemos colocar na orao (In Ps., 37; Hom., 2, 3, em PG, XII, col. 1384) e para estarmos seguros de sua eficcia (De Oratione, 13, em PG, XI, cols. 458 sgs); Atansio, na Vita Antonii, refere a mxima de Antnio: "Todos os que professam uma vida solitria devem tomar pr regra e pr patrono o Grande Elias e concentrar-se em suas aes como em um espelho para saber qual deve ser seu comportamento" (em PG, XXVI, col. 752); So Joo Crisstomo, em fim, elogia a pobreza de Elias (Hom. In s. Eliam, 3, em PG, LXIII, col. 464): "Elias nada possua e, sem dvida, nada o impediu de alcanar o cume da virtude; Elias um oceano sem limites" (cf. Bardy, Le souvenir dElie chez les Pres Grecs, em lie, I, 131- 58).

Os textos de Sacerdotes latinos que se referem a Elias tambm so numerosos. S. Isidoro (De ortuet obitu patrum, 25, em PL, LXXXIII, col. 140) o chama de o "grande sacerdote e profeta" e deduz o sacerdcio de Elias do sacrifcio que havia oferecido a Yav no Horeb. S. Ambrsio diz dele: "Foi o mais importante de todos os profetas" (De viduis 1, 3, em PL, XVI, col. 235). De sua misso de denunciar o pecado e evitar penitncia, se destaca o primeiro dever, la increpatio, junto com a dureza de sua vida e o ardente zelo pela glria de Deus (cf. Jernimo, Contra Joo. Hieros., 2/ Comm. In Ez., 11, 35, em PL, XXIII, col. 356; XXV, col 334 sg). comum a crena de que Elias no est morto; porm morrer junto com Enoc, no final dos tempos, lutando contra o Anticristo (cf. Agustn, Ep. 193, 3, 5; De Genesi ad litt., 9, 5, em CSEL, LVII, p. 170; XXVIII, 274 sg.). Santo Agostinho (De civitate Dei, 20, 29, em CSEL., XL, 2, 503) atesta que " muito celebrada nos sermes e nos coraes dos fiis" a idia da volta de Elias como precursor da segunda vinda de Cristo, como So Joo Batista o havia sido da primeira. Os Sacerdotes procuram ver no Apocalipse 11 os detalhes desta misso proftica de Elias, uma das mais importantes dentre as muitas que realizou durante sua vida. Nos dois testemunhos do apocalipse vem a Enoch e a Elias (Tertuliano, Ambrosister, S. Gregrio Magno). "O mesmo que h de vir na segunda vinda do Salvador em sua realidade corporal, vem agora na pessoa de Joo em virtude e em esprito", escrevia S. Jernimo (Comm. In Ev. Mt., 3, 57, em PL., XXVI, col. 124).

O movimento monstico do s. IV tomou a Elias como seu modelo, pondo em relevo sua continncia, sua pobreza e sua solido no deserto, sua abstinncia, sua orao: nosso chefe Elias (cf. Casiano, Conlatio, 14, 4 em CSEL., XIII, p. 400).

A mesma importncia e relevo lhe do os Sacerdotes srios (cf. M. Hayek, v. bibl.).

Elias no IsloEm torno da figura de Elias se formaram numerosas lendas judaicas e crists que tiveram amplo influxo tambm no Islo. O prprio Coro (VI, 85 e XXXVII, 123-30) menciona o "profeta" Ilys (cf. Y. Moubarac, Le prophre Elie dans le Coran, em lie, II, 256-68). Por isso, muitos historiadores e comentaristas mulumanos fizeram comentrios sobre Elias. Do mesmo modo, algumas manifestaes a cerca da figura legendria de Elias so atribudas pelo islamismo ao mtico personagem al-Khadir ou al-Khidr (cf. L. Massignon, lie et son rle transhistorique, Khadiriya, en Islam, em lie, II, 269-90).No monte Carmelo existem lugares venerados, ao mesmo tempo, pr cristos, judeus e muulmanos; Carmelo em rabe Gebel Mar Ilyas ou "o monte de So Elias". (cf. para as lendas muulmanas A. J. Wensinck, na voz Ilyas, em Encyclopdie de lIslam, II, Leiden-Pars 1927, com a bibliografia que ali se d [G. Ricciotti].)

Elias e o ideal monsticoO tema do aspcto proftico de sua prpria vida sempre inspirou o mais vivo interesse aos monges (cf. Jean Leclercq, La via parfaaite, Points de vue sur lessence de ltat religieux, Turnhout-Pars 1948, cap. 2, La vie prophtique, 57-81). De fato a espiritualidade da vida de perfeio se enuncia j no A. T. (cf. Soeur Jeanne dArc, Les prparations bibliques de la vie religieuse, VS, XXIV [1956], 474-494). Os grandes profetas Elias, Eliseu e So Joo Batista foram considerados, junto com outros, como prottipos da vida religiosa.Antes do comeo da vida monstica, os Padres apenas se apresentam ao profeta Elias como exemplo de vida contemplativa e modelo de vida perfeita. Gustavo Bardy conclui um estudo bastante consciencioso sobre os Padres gregos com estas palavras: "Com certeza, para os leitores, preparados neste sentido, ser uma surpresa comprovar que raramente os Padres gregos do sculo IV propem Elias como um modelo a ser imitado" (Le souvenir dlie chez les Pres grecs, em lie, I, 137). O mesmo ocorre entre os latinos (cf. Herv de lIncarnation, lie chez les Pres Latins, ibid., 206-7).

Os padres do deserto imitam de bom grado o exemplo de nossos antigos padres quanto a f, sobretudo o de Elias como se percebe na carta aos hebreus (11, 37-38); um exemplo que inspira sua vida espiritual. Um primeiro testemunho, bastante explcito, de imitao do ideal proftico extramos da vida de Santo Antnio, patriarca dos anacoretas. Santo Antnio realmente se propunha um progresso contnuo no caminho da perfeio:

Com freqncia repetia a si mesmo as palavras do Apstolo: "esquecendo-me do que fica para trs e avanando para o que est adiante (fl., 3, 13). Recordava tambm o lema do profeta Elias: O Senhor vive e necessrio que tu compareas hoje em sua presena ("ante cuius conspectu hodie sto"); sublinhava o emprego da palavra hoje, pois o tempo passado no era mais nada, e considerando que apenas comeava a servir a Deus, se esforava a cada dia pr alcanar a perfeio necessria para se apresentar diante Dele, isto significa ter uma conscincia pura e um corao bem preparado para obedecer a Sua vontade e s a Ele servir "Dizia a si mesmo que convm ao asceta ir ajustando sua vida, a cada dia (=sempre), ao modelo de vida do grande Elias, como quem se olha num espelho" (PG 26, col. 854b).

Era justamente a contnua presena de Deus o que Santo Antnio se propunha como ideal. O jovem Onfre que vivia em uma comunidade cenobita da Tebaida, ouvia aos ancios louvarem a vida eremita de Elias; "Meus venerveis irmos, vocs tm, muitas vezes, me ouvido louvar a vida de nosso santo padre Elias, que procurou se mortificar no deserto com to grande abstinncia e orao que mereceu alcanar do Senhor grandssima virtude" (PL 73, col. 213). Os irmos fugiam da vida fcil do mundo para poder chegar a ser cidados do cu (cf. Vita Antonini, PG 26, col. 865b) e formar "algo assim como um pas escolhido de piedade e de justia" (col. 907b). Santo Ambrsio afirma que os profetas Elias, Eliseu e So Joo Batista realizaram esta feliz retirada do mundo para o deserto:

Elias fugiu da mulher Jezabel, isto , do cmulo da vaidade e se refugiou no monte Horeb, que significa "desecamento", para que o rio da vaidade carnal se secasse nele e podendo assim, conhecer a Deus em toda plenitude. E assim se encontrava junto ao rio Chorrad, que como dizer torrente do conhecimento, onde podia alcanar a abundncia da divina sabedoria, fugindo do mundo at o ponto de no buscar outro alimento alm do que os corvos lhe levaram; ainda que comum, seu alimento no era desta terra. Passou, em fim, durante quarenta dias sustentado to s com o alimento que havia recebido. No fugia certamente de uma mulher, um profeta to grande ... seno do sculo; fugia da seduo do mundo, do contgio de seu veneno, dos sacrilgios de uma nao rebelde e mpia" (De fuga saeculi 6, 34, PL 14, col. 614 bc).

Herv no "LIncarnation" faz notar: "Fugir do mundo para apagar sua sede nas fontes do conhecimento de Deus: Elias podia servir de maravilhoso exemplo e de guia neste ideal, que era o de Ambrsio e o do movimento monstico do sculo IV (l. c., 193).

Viver na ao e na contemplao, viver nas duras fadigas do corpo e do corao, encorajando-se constantemente em Cristo: esta a mais simples maneira de um ermito adquirir a paz celestial. Anmonio, primeiro sucessor de Santo Antnio, escreve a seus monges: "Este foi o caso de Elias" (Carta 8, PO X, p. 587; citado por Michel Hayek, lie dans la tradition syriaque, em lie, I, 165). Pr isso, no de se estranhar que em torno dos principais lugares elianos encontremos ermitos preparados, que veneravam e imitavam ao santo profeta.

No sculo IV, Heteria nos fala da existncia de um monastrio junto a Tesbe e de um solitrio que morava no vale de Corra, onde Elias habitou nos tempos do rei Acab (Peregrinatio Sylviae 4 e 16, em Itinera Hierosoymitana, CSEL, XXXIX, 1898, 41 e 59). Um sculo depois Teodosio menciona uns monges que habitavam em Sarepta (De situ Terrae sanctae, 23, ibid., 147) e o pseudo-Antonino afirma a presena de ermitos no vale do Jordo (Itinerarium, 9, ibid., 165; cf. lie, I, 211).

Tambm o gnero de vida estabelecido por Pacomio tem certa analogia com o do profeta:

Os cenobitas de Tabenna se vestem com peles, a exemplo de Elias tesbita, acredito que com a finalidade de que o uso destas peles lhes faam recordar a virtude do profeta e possam assim resistir animosamente aos desejos vergonhosos e enaltecer a esperana de recompensas semelhantes" (Sozomeno, Histria eclesistica, III, 14, PG 67, col. 1069b). Na Vita Pachomii, junto a Eliseu e a Joo Batista se faz ressaltar a Elias como o grande modelo de Santo Antnio (PL 73, col. 231a).

Sem dvida, Baslio, fundador de uma vida verdadeiramente cenobita, apenas lembra o grande solitrio do A. T. Se Gregrio Nacianceno e Gregrio Niseno, em seus panegricos, comparam Baslio ao profeta, mais que nada como lugar comum literrio. Notemos, pr outro lado, que como ponto de comparao se toma a solido (Gregrio Nacianceno, In laudem Basilii, PG 36, col. 536b). O mesmo se l num escrito pseudo-basiliano: "Tambm foi assim Elias, o qual fugia da confuso dos homens e se comprazia em viver no deserto... Fixa-te em Elias: depois de quanto retiro, de quanto silncio, de quantos suores mereceu ver a Deus?" (Commentarium in Isaim, proemium 7, PG 30, col. 129b).

No Ocidente, "os monges que viviam em comunidade sob a regra de So Benedito ou de So Cesreo no tinham os mesmos motivos que os solitrios do Oriente para conservar particular memria do velho profeta que viveu em seu deserto"(B. Botte, Le culte du prophte lie dans lglise chrtienne, en lie, I, 214).

Elias como inspirador da vida eremitaSe Elias no o fundador em sentido estrito da vida monstica, pode ser considerado como seu autntico precursor. um mestre, diz Santo Ambrsio, e os monges so seus discpulos (Ep. 63, 82, PL 16, 1211b). Sobre esta primazia escreve So Jernimo: "Nosso prncipe Elias, e o Eliseu, e nossos chefes so os filhos dos profetas que habitavam no deserto, na solido e construam suas tendas junto ao rio Jordo"(Ep. 58, ad Paulinum, PL 22, col. 583). E na Vita sancti Pauli representa como opinio de alguns a origem proftica da vida monstica:Com freqncia muitos se perguntam qual foi o monge que morou primeiramente no deserto. E alguns, remontando-se mais longe, encontraram seu comeo no santo Elias e em Joo" (PL 23, col. 17a). A mesma idia nos repete Sozomeno como opinio corrente: "Os mestres desta excelente filosofia foram, como dizem alguns, Elias profeta e So Joo Batista" (l. c., I, 12, PG 67, col. 894a). Santo Nilo de Ancira chamara a Elias "iniciador de toda a vida asctica" (Ep. 181, PG 79, col. 152c). "Eles fundamentaram as primeiras bases desta profisso", disse Casiano falando de Elias e de Eliseu ("fundavere primordia") (De institutis coenobiorum, I, 2, PL 49, col. 61a; cf. o comentrio de Herv de lIncarnation, l, c., 194-195).

A pureza do coraoA pureza do corao o ideal monstico. Seguindo uma tradio hebraica, desde o princpio se atribuiu a Elias a virgindade, como o atesta So Ambrsio (PL 16, col. 192a). So Jernimo atribui a virgindade tambm aos filhos dos profetas: "Virgem foi Elias, virgem Eliseu, virgem muitos dos filhos dos profetas"(Ep. 22, 21, ad Eustochium, PL 22, col. 408). So Gregrio Magno (Hom. In Evangelia II, 29, 6, PL 76, col. 1217b) e So Nilo (Ep. 181, PG 79, col. 152c) vm no arrebatamento de Elias a recompensa de sua pureza, que deve ser entendida no sentido da pureza monstica, da "aptheia". Elias, amando "os segredos da solido e a pureza do corao" realizou o ideal de um monge: "se sabe que ele se uniu intimamente a Deus atravs do silncio associado solido. (Casiano, Collationes 14, 4, PL 49, col. 957a). A respeito desta plena disposio de um corao puro remetemos ao belssimo texto de Afraates, de inspirao eliana, citado em lie (t. I, 165-166). Alm do mais, encontramos na vida de Elias os principais exerccios atlticos do ermito: a solido, o jejum (cf. S. Ambrsio, De Elia et ieiunio, PL 14, cols. 697-728), e a orao.A vida de oraoElias era sobretudo o inspirador da vida de orao. Ele exorta a se praticar a plenitude do amor divino. "At quando vais estar mancando?", com estas palavras do profeta Orsiesio exorta a seus monges (Doctrina de institutione monachorum 28, PG 40, col. 882c). A orao de Elias, um homem como os outros, foi poderosssima, por isso se constitui num exemplo acabado. O vidente do Horeb e do Tabor assim, modelo de grande intimidade com o Senhor. Para Mximo, o Confessor, a viso do glorioso Elias na gruta um smbolo da mstica apoftica:O Horeb representa... um exerccio habitual das virtudes num esprito em graa. A cova o mistrio da sabedoria escondida na alma, e seu santurio. Quem nela penetra ter a intuio profunda e mstica do saber "que transcende toda cincia" e na qual se manifesta a presena de Deus. Pois se algum, como o grande profeta Elias, busca verdadeiramente a Deus, deve no somente "subir ao Horeb"(e evidente que quem se consagrou ao deve tambm aplicar-se virtude), como tambm "penetrar o interior da cova" situada sobre o Horeb, isto , estar completamente dedicado contemplao, na obscuridade e no mistrio mais profundo da sabedoria fundada no exerccio contnuo da virtude" (2 Centuria, citado por Franois de Sainte-Marie, em Les plus vieux textes du Carmel, 47 sg.). Convm tambm citar um famoso texto mstico de So Gregrio Magno (In Ezequielem, II, 1, 17, PL 76, col. 948a).

A mstica hesicasta, que descobre o lugar mstico na luz do Tabor (cf. art. Contemplation, Ds, II, cols. 1851-1854), pode igualmente acolher-se no exemplo de Elias. Pedro o Atonita (s. VIII) , talvez, o primeiro dos hesicastas a quem se elogia com estas palavras: "Tu tens decidido habitar no monte Athos como Elias no Carmelo, para buscar a Deus no silncio" (citado por Thodosy Spasky, Le culte de prophte lie et as figure dans la tradition orientale, em lie, I, 222).

Na liturgia do Oriente se aplica a Elias o ttulo que se d aos monges santos: "anjo terrestre e homem celestial" (ibid., p. 221). No Ocidente apenas se encontra rastro de um culto litrgico tributado ao Santo Elias (B. Botte, Le culte du prophte lie dans lglise chrtienne, em lie, I, 213-6). Entre os prprios Carmelitas a festa de Elias bastante tardia (Pascal Kallenberg, Le culte liturgique dans lOrdre du Carmel, em lie, II, 138). O prprio prefcio da festa de Santo Elias dizia (antes da ltima reforma litrgica): "coloquei os fundamentos da vida monstica".

Elias e os CarmelitasNo tempo das cruzadas, alguns soldados se retiraram ao Monte Carmelo, atrados pela beleza do lugar, pela sua situao geogrfica e tambm pela lembrana do profeta. Jacobo de Vitry, a princpios do sculo XIII, traou um quadro retrospectivo do renascimento espiritual da Terra Santa depois das cruzadas dos sculos XI e XII:Devotos peregrinos e homens santos de diversas partes do mundo, compareciam a Terra Santa... Vares santos, renunciando ao sculo, impulsionados pr vrios sentimentos, desejos e tomados pelo fervor religioso, escolhiam os lugares mais aptos para seu santo propsito e devoo... Alguns, a exemplo e imitao do santo e solitrio varo Elias profeta, no Monte Carmelo e particularmente naquela parte que domina a cidade de Porfiria que hoje se chama Caifa, junto fonte chamada de Elias e no longe do monastrio da virgem Santa Margarida, levavam uma vida solitria em alvolos de pequenas celas, elaborando qual abelhas do Senhor o mel da doura espiritual" (Histria orientalis sive hierosolymitana, I, caps. 51-52; ed. J. Bongars, Gesta Dei per Francos, Hanoviae 1611, 1075).

Entre os anos 1206-1214, um grupo de monges latinos que viviam "junto fonte no Monte Carmelo", receberam das mos de Alberto, patriarca de Jerusalm, "uma norma de vida" confirmada depois pelo papa Honorio III em 1226. Viriam a ser os Carmelitas, os irmos de Nossa Senhora do Carmelo, os filhos de Elias. No certo que fora a venerao do profeta Elias o que atraiu estes ermitos ao Monte Carmelo. A Regra no fala de uma inspirao eliana da vida carmelitana. Mais tarde, Nicols Glico, ao expressar seu desejo de que os Carmelitas recobrassem a pureza da vida eremita, no invoca em sua Ignea sagitta o exemplo do grande solitrio do A. T. mais provvel que o nascimento e desenvolvimento da devoo a Santo Elias tenha surgido do fato de se habitar o Monte Carmelo e, mais tarde, ter ali conservada a sua lembrana. To s com o transcurso do tempo o tema de Elias veio a ser "parte integrante" da espiritualidade carmelitana. Alguma aluso lenda sobre uma vida eremita contnua no Monte Carmelo desde o tempo de Elias at as Cruzadas, se encontra na rbrica prima das Constituies do Captulo de Londres do ano 1281:

E assim dizemos, dando testemunho da verdade, que desde os tempos dos profetas Elias e Eliseu que viveram santamente no Monte Carmelo, alguns santos padres tanto do velho como do novo testamento, realmente apaixonados pela solido daquele monte, to adequada contemplao das coisas celestiais viveram ali, sem dvida, louvavelmente, junto fonte de Elias, em santa penitncia praticada sem interrupo com santos resultados. E nos tempos de Inocncio III, Alberto patriarca da igreja de Jerusalm reuniu em uma s comunidade ("collegium") a quem lhes haviam sucedido e lhes escreveu uma regra confirmada depois com grande devoo, como o atestam suas bulas, pelo papa Honrio, sucessor de Inocncio, e por muitos outros sucessores seus que aprovaram esta Ordem. E pela profisso desta regra, nos seus seguidores servimos ao Senhor at o dia de hoje em diversas partes do mundo" (texto latino em AnalOC, XV [1950], 208).

Porm havia uma diferena entre os primeiros ermitos do Antigo e do Novo Testamento e seus sucessores da poca de Inocncio III. Na primeira rubrica das Constituies de 1324, os sucessores aparecem j em tempos de Cristo, e assim como se forma a idia de uma ininterrupta sucesso hereditria da Ordem do Carmelo. Esta convico desembocar no to penoso litgio entre os Carmelitas e Daniel Papenbroek. Entretanto, a figura de Elias se foi fazendo cada vez mais significativa na espiritualidade da Ordem. No sculo XV Toms Waldense escreve, sem ulteriores correes: "nosso ofcio nos obriga a adaptarmos a seu esprito" (Mhc, 446).

Tudo indica que foi Joo Baconthorp, morto em 1346, quem pr primeira vez uniu a devoo mariana da Ordem do Carmelo com a lembrana do profeta Elias:

Segundo os profetas, os Frades do Carmelo nasceram especialmente para venerar Santssima Virgem Maria... E posto que [a Virgem Maria] honrada e pregada atravs do Carmelo a ela consagrado, convm que ali se encontrem Carmelitas que a venerem de um modo especial. E assim foi na antigidade. Na realidade as profecias se compreendem luz dos acontecimentos... Quantos profetas e reis estiveram no Carmelo rendendo honras Senhora deste lugar, a bem-aventurada Maria, com suas faanhas! Para continuar dando culto Virgem Maria em seu Carmelo nasceu a Ordem dos Irmos do Carmelo. Porque o culto celebrado nos lugares dos santos se tributa, primeiro a Deus, e depois aos prprios santos... Assim, todos aqueles que haviam de se salvar na poca dos profeas honraram ao futuro Filho da Virgem Maria..., os religiosos do Carmelo, que nos tempos de Elias e Eliseu veneravam tambm o que havia de vir, alm disso, fundaram no Carmelo sua Ordem de Santa Maria... Consequentemente deram origem a este culto (speculum de institutione Ordinis, cap. I; texto latino tambm em lie, II, 42-43).

A exposio mais completa desta espiritualidade eliana e proftica mencionada num escrito do sec. XIV, o Liber de institutione primorum monachorum (texto assim mesmo em AnalOC, II [1914-16], 347-49).

Culto de EliasNo se tem dvida quanto a antigidade do culto tributado a Elias nas Igrejas orientais. Os cristos que visitavam a Terra Santa paravam para rezar nos lugares que evocavam aos santos do A. T. O Iter Burdigalense recorda como lugares elianos, o monte Carmelo, a montanha da Transfigurao e a colina de onde Elias foi arrebatado ao cu (B. Botte, Le culte du prophte lie dans lglise chrtienne, em lie, I, 210). O santurio mais conhecido o de Sarepta. So Jernimo, ao narrar a viagem de Paula, a apresenta entrando para rezar na pequena torre da viva de Sarepta (Ep. 108, 18, em PL, XXIV, col. 882). Elias venerado tambm como taumaturgo pr ter ressuscitado o filho da viva.Heteria, ao final do sculo IV, nos fala de outro santurio situado sobre o Horeb. O culto de Elias, como o de outros santos do A. T., no tardou em transpassar os confins da Palestina. A epigrafia nos permite verificar sua irradiao. Assim, pr exemplo, na provncia da Arbia as inscries atestam que Elias o santo mais popular do Ledgaa (cf. Devreese, Le christianisme dans la providence dArabie, em Revue Biblique, II [1942], 110-46). Na Sria uma inscrio da f de que os habitantes de Ezra construram as suas custas, no ano 542, uma igreja dedicada a Elias. Em Bizncio uma tradio atribui a fundao de um Santurio de Elias s legies do imperador Zenn, depois de sua campanha da Prsia, como ao de graas pr uma apario do profeta ao exrcito. No Petrion de Constantinopla se celebra sua festa o 20 de Julho (Synax. Constantinop., col. 832). E na mesma data celebravam a memria do Santo as Igrejas siracas, desde o sculo XV. Entre os Maronitas esta data figura somente a partir de 1673. Antigamente a festa de Elias era comemorada junto s festas que celebravam as manifestaes de Cristo ao mundo. Assim a festa da Circunciso que a Igreja Jacobita do Egito celebrava o dia 1 de Janeiro era acompanhada de uma ampla memria de Elias; e o mesmo ocorria no dia 6, solenidade da Transfigurao em que Elias aparece junto a Moiss. As vezes a lembrana de Elias se repetia no dia seguinte, como entre os Melquitas (PO, X, 310). Os Nestorianos e os Jacobitas celebravam tambm esta solenidade no dia 2 de Outubro, ms consagrado a Moiss e considerado como o primeiro do ano. O ms de Setembro, pr tanto, encerrava o ciclo e representava o final do ano litrgico. Elias, o precursor prometido para preparar o triunfo final do Messias, especialmente recordado nos seis domingos sucessivos que vo de 6 de Agosto a 14 de Setembro.

Antigamente, nas Igrejas siracas se celebrava a festa de Elias com o nome de "Migrao" (Forget, AS, 192).

Tambm na Igreja oriental ortodoxa se celebrava a festa de Elias no dia 20 de Julho, precedida de uma viglia, festa que lembra que Elias esteve durante muito tempo associado ao culto do profeta Eliseu, cuja memria se celebrava separadamente em 14 de Junho.

Em Constantinopla prosperou igualmente a devoo a Elias. Baslio o Macednio (s. IX), alm de se restaurar o antigo santurio do Petrion ,se construiu uma igreja dedicada ao nome do Salvador, de So Miguel e de So Elias, outra em honra de S. Elias no bairro de Mangani (cf. F. Halkin, Inscriptions Grecques relatives lHagiographie, em Anal. Boll., LXXI [1935], 326-58), e incluiu uma capela em seu prprio palcio (cf. PG, CIX, cols. 336,354). Constantino Profirognito (ibid., col. 237) explica esta devoo do imperador para com Elias como motivada pr uma apario do profeta me do imperador, em que lhe predisse o destino imperial de seu filho. O Sinaxario Constantinopolitano (col. 230) marcado no dia 13 de Janeiro a dedicao de uma igreja em honra do profeta no monastrio de Batyriax.

O Oriente bizantino tem permanecido fiel a esta tradio. Em 1918, numa espcie de estatsticas das igrejas da Grcia, sobre um total de 4.637, encontramos 752 dedicadas Santssima Virgem, 196 a S. Atansio, 189 a S. Joo Batista, 75 a Elias e 69 a S. Jorge.

Se sabe que na Igreja latina os santos do Antigo Testamento tem tido um culto muito limitado. A liturgia de Roma, que muito se imps a todo o ocidente, celebrava quase unicamente aos mrtires, aos quais se agregaram depois os bispos que haviam lutado pela ortodoxia da f, aos que se chamou confessores.

Apenas uma festa de santos do A. T. penetrou na liturgia romana: a dos Macabeus, no dia 1 de Agosto, precisamente porque eram mrtires. O culto de Elias comeou no Ocidente, ao que tudo indica, em Suxerre (cf. Messes de Mone: B. Botte, Une fte du prophte lie au VI sicle en Gaule, em Cahiers Sioniens, III [1950], 170-77, provavelmente na mesma data de 20 de Julho: todo o Prefcio est dedicado a Elias.

Porm o nico testemunho que existe anterior do sculo XV. Pr influncia dos menologios bizantinos, os santos do A. T. comearam a figurar nos martirologios. Elias teve que esperar at a publicao da edio prncipe Martirologio Romano (1583). Os mesmos Carmelitas no lhe tem dado um culto seno muito tardiamente. O Ordinale carmelitano de Siberto de Beka, para 1312, ignora sua festa. Esta aparece pr primeira vez no Missal carmelitano de 1551. O Prefcio de Elias ser aprovado pela Sagrada Congregao de Ritos em 1919. O culto do Profeta no pertence portanto liturgia romana, seno que prprio dos Carmelitas. No parece que no Ocidente existam igrejas dedicadas a Elias, fora das que se encontram na Itlia bizantina. No novo Prprio dos Carmelitas, aprovado em 17 de Abril de 1972, a Sagrada Congregao para o culto Divino disse: "para dar realce ao Fundador ideal da Ordem [Carmelita], concede de bom grado que a festa de So Elias se celebre com o grau de solenidade". J se havia concedido aos Carmelitas Descalos o dia 20 de Outubro de 1971 o grau de festa.

Iconografia sobre EliasNas numerosas representaes da arte bizantina e ocidental, o Profeta Elias aparece em geral vestido como um santo ermito do deserto. Leva como atributos o corvo (que o alimentou no deserto), uma espada flamejante, uma roda de carro (alusiva a sua ascenso) e as vezes uma p. Os caracteres iconogrficos da figura do profeta respondem assim a tradicional interpretao de Elias como precursor de So Joo Batista. Como prefigura de Cristo, ao qual lhe associam bastantes episdios de sua vida, o profeta sempre representado no deserto enquanto consolado ou alimentado pr um anjo (afresco do s. XIV na Catedral de Orvieto; Tipolo, teto do Palcio arcebispal de Udine), enquanto ressuscita ao filho da viva de Sarepta (fresco do s. III) na sinagoga de Dura Europos, e do sculo XIV no convento de Emas, em Praga), ou ento arrebatado no carro de Fogo.A ascenso de Elias o tema mais difundido e tratado, pr sua referncia Ascenso de Cristo, pr outros diversos significados simblicos e sobretudo porque falava j de um modelo iconogrfico preconstitudo na figura clssica de Helios-Apolo sobre seu carro de fogo. Separado de algumas representaes medievais nas quais o profeta aparece sobre um carro sem cavalos, ou ento levado pr cavalos sem carroa, a iconografia tradicional nos apresenta Elias elevando-se ao cu sobre um carro puxado pr dois ou quatro cavalos, as vezes guiado pr um anjo, estendendo a mo direita para Deus, enquanto que com a esquerda entrega seu manto ao profeta Eliseu que fica cego com esta viso.

Com freqncia se localiza o episdio mediante a representao do rio Jordo personificado numa divindade fluvial clssica. Entre as numerosas e muito antigas representaes deste episdio podemos recordar as dos afrescos do cemitrio de Domitila em Roma, dos sarcfagos paleocristos do Louvre e da Baslica Vaticana, dos relevos das portas de madeira de Santa Sabina em Roma, de muitssimas miniaturas medievais, dos relevos da Catedral de Cremona do s. XII, etc.

Outros vrios episdios da vida e dos milagres do Profeta esto tambm representados, em geral, nas prprias igrejas da Ordem do Carmelo, como em S. Martn ai Monti em Roma, na capela dos Carmelitas Descalos de Paris e nas igrejas carmelitas de Crdoba e de Madrid. Como Patrono da Ordem, Elias aparece vestido com o hbito de religioso carmelita com os atributos e caracteres iconogrficos tradicionais. Rara vez se representa o Profeta com armadura de guerreiro (afresco de S. Elias em Nepi).

Entre os episdios mais freqentemente representados se falam como evidente o Sacrifcio no Monte Carmelo com o milagre do fogo que baixa do cu, como prefigura da vinda do Esprito Santo sobre os Apstolos (afresco do s. III na sinagoga de Dura Europos, taracea marmrea de Beccafumi na Catedral de Siena); Elias alimentado plos corvos, tema habitual nos refeitrios dos conventos do Monte Athos (outro exemplo a pintura de Rubens, no Louvre de Paris); Elias socorrido pela viva de Serepta (vitral da Catedral de Chartres do s. XIII, e pintura de Juan Lanfranco no Museu de Poitiers); a Matana dos 450 profetas de Baal, tema muito freqente na arte bizantina e russa e finalmente Elias separando com seu manto as guas do Jordo (relevo do s. XII na fachada do Monastrio de Ripoll, em Gerona).

Folclore sobre eliasA popularidade de Elias foi verdadeiramente extraordinria. A narrao bblica, nos chamados ciclos elianos do A. T. e nos textos da Transfigurao no N. T., pr sua grandiosidade e eficcia impressionava com fora a imaginao do povo, especialmente o fato de haver sido arrebatado ao cu e a crena de que ainda continua vivo e intervm em favor dos bons que caem em apuros e de que h de regressar ao final dos tempos para lutar contra o anticristo.No tempo de San Martn, um jovem que se apresentava como Elias e apoiava esta afirmao com pretendidos milagres chegou a seduzir vrias pessoas e inclusive a um bispo (Sulplicio Severo, Vita sancti Martini, 24, em CSEL, I, 133); e no tempo de S. Gregrio Magno, como refere o mesmo (Ep. 38, em PL, LXXVII, col. 635), um judeu chamado Nasas atraia na Siclia aos cristos em torno a um altar pr ele construdo em honra a Elias.

Nos costumes eslavos, a festa de Elias adquire uma particular importncia que a faz se destacar das outras festividades. Esta festa de Elias, chamado "Elias o trovo", era esperada como um dia de descanso no que se interrompiam os trabalhos do campo. Segundo a crena popular, Elias tem poder sobre o trovo e a chuva, e se ele se aborrece pode castigar com a seca. Segundo o historiador Zabelin (Les coutumes, les traditions, les lgendes. russes, Moscou 1800, 96), na conscincia popular da velha Rssia, Perun, o deus pago do trono e do relmpago, cedeu o lugar ao profeta Elias, venerado tambm - feito notvel - pelos Buriatas e os Trtaros. A vida de Elias esteve vinculada aos fenmenos celestes, ao trovo, chuva e a seca, e o povo via nele um intercessor ante Deus para o duro trabalho do campo (cf. indcios destas crenas no Eucologio, Lepolis [lww] 1695). Na campina de Novgorod, onde em 1198 se levantou a primeira igreja em honra de Elias e onde se havia transladado o culto do santo desde Kiev depois da invaso desta ltima cidade, interpretavam o rudo do trovo como o passo do carro de Elias sobre as nuvens.

Nas comunidades srias, j antes de se tornarem crists, Elias, pr influxo das lendas judias, se havia convertido em um ser misterioso, meio anjo e meio homem, coberto de plumas e capaz de voar para socorrer aqueles que o chamavam.

Nestas crenas populares se inspirou tambm Eugnio Sue, autor de "O Judeu Errante".

No dia 20 de Julho se rene no Monte Carmelo uma grande multido de devotos de Elias: cristos de distintos ritos, judeus e muulmanos. Todos sobem ali com os mais variados meios de locomoo ou a p, para cumprir seus votos, para apresentar suas crianas ao batismo e sobre tudo para cantar e danar em honra do profeta. Do interior do monastrio se escuta o rumor de uma grande feira: aquela matizada multido se rene ali cada ano em nome de Elias, o qual continua exercendo sua fascinao e sua notvel influncia na vida e nas crenas daqueles povos.

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