O PROGRAMA DERROTADO EM 2014 VENCEU

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O PROGRAMA DERROTADO EM 2014 VENCEU Corte nos gastos com a saúde, investimentos, programas sociais como o "Minha casa, minha vida", o PAC, obras de mobilidade e saneamento, salários do funcionalismo público, cancelamento de concursos em 2016 e volta da CPMF de 0,20% (alíquota única). É fato que o governo Dilma II se aliou - ao meu ver, se rendeu - ao grande capital, visando minar o "golpismo" e o impeachment, em troca de sobrevivência até o fim de 2018. Em troca de “apoio”, os grandes empresários exigiram, através do ministro Levy, que o governo aprofunde a política de ajuste e que os cortes atinjam os programas sociais (dito e feito!). Ainda tem a redução de ministérios na próxima semana. A prova da aliança entre governo e grande capital está na reação do mercado financeiro, na bolsa de valores, no dia do anúncio, com forte alta (Bancos puxando) e queda acentuada do dólar, todas geradas pela euforia do mercado com os novos cortes e aprofundamento da austeridade. Infelizmente, o programa econômico derrotado nas urnas em 2014, foi implementado. É difícil de entender o porque do governo contemplar os derrotados. É difícil de compreender tamanho imobilismo e rendição (sim, votei em Dilma e votaria de novo se repetissem as mesmas circunstâncias como as colocadas em 2014). Entretanto, não embarco na tese do "estelionato eleitoral", pois não foi uma operação intencional. O que houve foi uma incapacidade política em não entender que o modelo econômico até 2014 havia chegado a um limite, e que era necessário abrir uma nova etapa e trazer essa discussão para a campanha eleitoral, ajudando a formar uma maioria política a favor das reformas de base (tributária, agrária, urbana, etc.). Como dizem por aí, "pior que um crime é um erro". O triste é ver como o governo Dilma II, com essa política econômica desastrosa, se parece tanto com o governo FHC II. Com isso, faço a mesma pergunta que o velho Marx: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa?" *Daniel Samam é Coordenador do Núcleo Celso Furtado.

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Artigo para o jornal Brasil de Fato

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O PROGRAMA DERROTADO EM 2014 VENCEU

Corte nos gastos com a saúde, investimentos, programas sociais como o "Minha

casa, minha vida", o PAC, obras de mobilidade e saneamento, salários do funcionalismo

público, cancelamento de concursos em 2016 e volta da CPMF de 0,20% (alíquota única).

É fato que o governo Dilma II se aliou - ao meu ver, se rendeu - ao grande capital,

visando minar o "golpismo" e o impeachment, em troca de sobrevivência até o fim de

2018. Em troca de “apoio”, os grandes empresários exigiram, através do ministro Levy,

que o governo aprofunde a política de ajuste e que os cortes atinjam os programas sociais

(dito e feito!). Ainda tem a redução de ministérios na próxima semana.

A prova da aliança entre governo e grande capital está na reação do mercado

financeiro, na bolsa de valores, no dia do anúncio, com forte alta (Bancos puxando) e

queda acentuada do dólar, todas geradas pela euforia do mercado com os novos cortes e

aprofundamento da austeridade.

Infelizmente, o programa econômico derrotado nas urnas em 2014, foi

implementado. É difícil de entender o porque do governo contemplar os derrotados. É

difícil de compreender tamanho imobilismo e rendição (sim, votei em Dilma e votaria de

novo se repetissem as mesmas circunstâncias como as colocadas em 2014). Entretanto,

não embarco na tese do "estelionato eleitoral", pois não foi uma operação intencional. O

que houve foi uma incapacidade política em não entender que o modelo econômico até

2014 havia chegado a um limite, e que era necessário abrir uma nova etapa e trazer essa

discussão para a campanha eleitoral, ajudando a formar uma maioria política a favor das

reformas de base (tributária, agrária, urbana, etc.). Como dizem por aí, "pior que um crime

é um erro".

O triste é ver como o governo Dilma II, com essa política econômica desastrosa,

se parece tanto com o governo FHC II. Com isso, faço a mesma pergunta que o velho

Marx: "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa?"

*Daniel Samam é Coordenador do Núcleo Celso Furtado.