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O PROJETO DO DR. SMITH

Com o propósito de reviver os fanzines dos anos 80’s, a Fan’sTale busca na essência das produções independentes daquela época o ar de liberdade para a criação dos textos e do visual gráfico desta pequena revista.

A Fan’sTale pretende lançar uma série de dez contos, e cada edição trará um conto bizarro.

As referências são os fanzines, mas é lógico que os recursos são atuais, as ferramentas: o computa-dor e a internet.

Obrigado a todos e boa leitura.

TextoProjeto Gráfico

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Todos os direitos reservados © Pop Munster 2016.

O PROJETO DO DR. SMITH

Edição nº 0São Paulo, Maio de 2016

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4 • Contos Bizarros

Fan’sTale Pop Munster

Adrian era um homem trabalhador e pacato ao extremo, aceitava tudo de forma muito passiva, cumpria rigorosamen-te suas obrigações, ele nunca faltou com as necessidades bási-cas na sua casa, o mercado estava em dia, à escola das crian-ças estava paga, as crianças estavam bem vestidas, e no mais, tudo bem. Apesar de Adrian ser um homem muito correto, tinha algo que o incomodava muito, ele não agüentava mais a esposa, tinha vontade de matá-la ou fugir para um lugar onde não pudesse vê-la nunca mais. Mila só reclamava que Adrian era isso, que ele era imprestável, que ele tinha que trabalhar mais, que aquela vida não era boa, e isso, e aquilo, e blá-blá--blá. Ela não estava satisfeita com aquele padrão de vida e culpava o pobre Adrian. Os amigos de Adrian sabiam que ele era um homem esforçado e trabalhador, eles ficavam loucos com a forma como ele era tratado. Aquela senhora tinha a alma miserável, alma sem nenhum conceito de moral.

Os filhos de Adrian o amavam, era o menino mais velho e o menino mais novo, o menino mais velho tinha dez anos e o mais novo uns cinco. Os dois admiravam o pai, eles sabiam que o pai fazia de tudo para eles, Adrian sabia dessa admira-ção porque sentia o afeto dos filhos. Sabia que se um dia fosse embora, nunca deixaria de procurar os filhos, porque quando fossem maiores poderiam ser mais próximos.

Cansado da mesma pressão de todos os dias, voltando

O PROJETO DO DR. SMITHTexto: Fabio Moreira

para a casa depois de um dia intenso no escritório, Adrian tinha vontade de beber, no caminho pensou em parar para tomar umas e outras, ele sabia que aquela parada lhe custa-ria alguns xingamentos quando chegasse em casa. Sabia que Mila estaria esperando para deferir alguns gritos, “Adrian onde é que você estava, já encheu a cara bebum?”.

Entretanto, como de costume, Adrian havia se preparado psicologicamente para essa situação.

Adrian esqueceu os problemas e foi beber. Por volta das oito da noite, entrou num bar próximo à estação de metrô da Barra Funda, que ficava em uma rua deserta, bem característi-ca da região (era uma portinha que se não soubesse, não seria possível identificar o bar). Entrou, sentou no balcão daquele lugar pequeno e de luz atenua, abafado, porém úmido, ba-rulhento e cheio de bêbados exaltados, olhou no sentido de cento e oitenta graus para as mesas, divagando sobre os seus próprios pensamentos, fez isso muitas vezes, entre muitos go-les, quando percebeu que em uma mesa no fundo do bar do lado direito, tinha um homem elegante lhe fitando, era bem vestido e parecia que estava sóbrio demais para uma pocilga como aquela. Aquele homem não parava de olhar um ins-tante, a partir do momento que Adrian percebeu que estava sendo observado, sentiu-se incomodado, era como um olhar psicótico que o buscava.

Constrangido com a situação, Adrian levantou e foi na direção do homem para perguntar se era conhecido, ele achou que fosse algum cliente da seguradora, o homem per-cebeu e levantou-se rapidamente, estendeu-lhe a mão e num

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O Projeto Do Dr. Smith

gesto educado, disse: “muito prazer senhor, eu percebi que o senhor está sozinho, e pelo seu semblante me parece que está com algum problema que o incomoda. Estou certo?”.

Adrian percebeu que o homem falava com um sotaque Inglês muito forte, e respondeu.

“Sim, o senhor está correto”. “Mas por que me olhava fixamente daquela maneira?”.

Disse Adrian.“Porque percebi que o senhor é um homem de presença

e tem uma aparência que me chamou muito a atenção pelo porte físico, os traços do seu rosto, as suas sobrancelhas, todo o conjunto me chamou muito a atenção”. Disse o homem.

E Adrian perguntou ingenuamente, “o senhor é gay?”.“Não, não, é que eu tenho um projeto promissor e estou

procurando por um candidato que esteja dentro dos parâme-tros exigidos pela minha empresa, quando olhei para o se-nhor, logo imaginei que poderia ser a pessoa que procuro.”

“Ah, desculpe, deixe-me apresentar, eu sou o Dr. Smith, Carl Smith, sou médico e trabalho na área das cirurgias plás-ticas. Moro em Londres e vim para o Brasil à procura de uma pessoa que possa se congregar a mim num projeto que digo; vai transformar a vida do escolhido”.

Então, o médico perguntou: “Posso pagar uma bebida?”. “Sim, é claro”, respondeu Adrian. “Garçom, dois uísques, por favor.”. Adrian gostou do que ouvia e se interessou sobre o assunto, deixou o Dr. Smith prosseguir com a conversa, escu-tou-o por horas sem interrompê-lo. Mas no âmago da alma, Adrian achou aquilo muito estranho. A primeira coisa que

No monótono emprego numa empresa conhecida de seguros, que apesar de tudo, pagava todas as suas despesas.

Depois de um dia intenso no escritório, Adrian ti-nha vontade de beber, no caminho pensou em parar para tomar umas e outras.

Constrangido com a situação, Adrian levantou e foi na direção do homem para perguntar se era conhecido.

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lhe veio à mente foi que aquele homem era um louco queren-do mostrar que tinha certos dotes, e estava ali como todos os outros que não tem o que fazer em casa, e precisavam de um ouvinte passivo que os escutassem.

E o doutor disse com o olhar penetrante e malicioso: “preciso de um braço direito na clínica, um modelo de bele-za para manter a imagem da empresa e corajoso a ponto de transformar a própria vida dedicando-se ao trabalho”.

A proposta do Dr. Smith envolvia muito dinheiro, era uma quantidade bem satisfatória para um começo, o Dr. Smith nem o conhecia, mas a quantia o deixou tão pasmo que nem deu atenção aos detalhes importantes, aquele valor se-duziria qualquer ser ambicioso.

Dr. Smith percebeu certo inquietamento em Adrian e para não causar ainda mais desconforto resolveu ir embora para não assustá-lo, deixou o cartão de visitas, e disse: “caso você fique interessado em ligar, estarei por aqui até a próxi-ma semana”. Disse que estaria esperando o contato e que po-deria adiantar setenta mil reais caso ele precisasse, disse que proposta como esta é única na vida de alguém como Adrian. Pegou os seus pertences, levantou e foi embora.

Adrian pegou o cartão e guardou no bolso, e conversan-do com os seus pensamentos, e achando que aquele homem poderia ser um tarado sexual (assim dizia os seus instintos), virou o copo de uísque como se estivesse tomando um chá gelado com limão, limpou os lábios com o pulso, e emitiu um grunhido como o de um animal. Levantou-se e saiu pela mes-ma portinhola por onde entrou. Enfiou as mãos nos bolsos

procurando pelo ticket do Valet e lembrou-se que não tinha carro. Adrian não morava muito longe do local, resolveu vol-tar andando pra casa e no caminho pensou, pensou e pensou que quando chegasse em casa, a mulher o esperava com a artilharia pronta para alvejá-lo.

Mais uma vez teria que agüentar o que não queria para a sua vida. E foi o que aconteceu. Deprimido, deitou-se e dor-miu desejando que aquilo fosse só um pesadelo passageiro.

Acordou novamente ouvindo a xingação que exalava da boca da megera, levantou e seguiu a rotina diária, tomou seu imerecido café da manhã feito por Mila e tornou ao monótono emprego numa empresa conhecida de seguros, que apesar de tudo, pagava todas as suas despesas. Sua insatisfação com o trabalho nunca o fizera deixar de cumprí-lo da forma correta, porém, infeliz.

Outro dia se arrasta e entre o almoço e o café da tarde, Adrian procurou no bolso o cartão do Dr. Smith, olhou e teve muitas idéias, então à dúvida começou a devorar seus senti-mentos. “O que devo fazer meu Deus? O doutor disse que se eu aceitasse poderia me adiantar setenta mil reais, que pode-ria ser pago com o meu futuro trabalho, e disse que era só pra começar.”

Então, voltou a sua mesa, pensou que essa poderia ser a oportunidade que ele precisava para mudar tudo. Crédulo resolveu ligar para aceitar a proposta, o Dr. Smith recebeu a resposta e não se conteve de tanta satisfação, porém, Adrian fez uma exigência, pegar o adiantamento para deixá-lo com Mila, em razão de evitar problemas ainda maiores. Logo o

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Dr. Smith acatou a exigência e mandou um moto boy levar--lhe dois cheques, um de sessenta mil para Mila e outro de dez para cobrir as despesas locais quando Adrian chegasse a Londres. Em seguida marcou um encontro para o outro dia de manhã em frente ao guichê da companhia que costumava voar, mesmo sem saber se conseguiria uma passagem para Adrian, marcou o encontro.

Apressado o médico acessou a internet imediatamente, fez uma busca da passagem para o mesmo vôo e conseguiu. Remarcou seu vôo e retornou para Adrian solicitando todos os dados necessários para fazer a reserva, reafirmou o encon-tro para o próximo dia pela manhã. E disse.

“Temos muito a fazer, quero chegar a Londres e começar a trabalhar o mais rápido possível.”

Adrian chegou à sua casa e contou aos filhos, explicou a situação, eles ficaram tristes, mas com as promessas utópicas feitas pelo pai, gostaram e acreditaram que era algo muito importante para suas vidas. Depois chamou a esposa na sala em particular e disse que não a amava mais e precisava da se-paração, mostrou-lhe um cheque de sessenta mil reais e disse que iria providenciar o divórcio e estaria viajando no outro dia pela manhã a negócios, e tal negócio o motivou a tomar aquela atitude. Mila que segurava um vaso que abastecia com água no momento em que Adrian a chamou, quebrou-o na cabeça do marido que caiu desfalecido.

A vida de Mila acabou! Ela parou e pensou por um momento em tudo o que o

marido havia dito. “Acabou nada”, disse de si para si, então,

ela abaixou e puxou o cheque, que ainda estava preso nos de-dos do marido, logo percebeu que não amava mais aquele molengão, olhou para o cheque novamente, e pensou: “dê onde veio esse, outros mais virão.”

“Deixa essa besta ir, espero que ele ache o que procura. Deus o ajude”. Disse Mila.

Arrancou todas as roupas de Adrian dos armários e ga-vetas e colocou-as na sala onde Adrian estava caído, pegou os meninos, se fechou no quarto, e deixou um bilhete dizendo que não os incomodassem mais, e que estariam dormindo até tarde. Nem mandou as crianças para escola no dia seguinte pela manhã.

Adrian acordou com a cabeça inchada e doendo, leu o bilhete, chorou de tristeza, arrumou a sua humilde mala e foi para o aeroporto encontrar o Dr. Smith. No caminho teve muitas dúvidas e sabia que se voltasse atrás, Mila não o acei-taria novamente, ele conhecia a mulher.

No aeroporto a recepção foi calorosa, Adrian recebeu um abraço apertado e um beijo no rosto (tipo de mafioso). Parecia que eles se conheciam há muito tempo. Os dois cumpriram o ritual do embarque e decolaram. Conversaram sobre o novo trabalho durante o vôo, o doutor falou um pouco sobre a em-presa e quando chegaram a Londres, Adrian seguiu para o hotel onde se hospedara. Tudo foi preparado e providenciado pela empresa do Dr. Smith. Quando chegou ao hotel perce-beu que era algo muito bem organizado, e isso o deixou mais tranqüilo, então foi dormir empolgado com o seu novo traba-lho de assistente de cirurgias do Dr. Smith.

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No dia seguinte a secretaria do doutor, que falava um pouco de espanhol e conseguia enrolar algumas palavras em português, marcou uma reunião em um restaurante conheci-do em Londres, os dois homens se encontraram para um jan-tar de negócios, no restaurante o doutor mantinha seu olhar fixo em Adrian, seus olhos brilhavam, ele o admirava como um prêmio de grande valor, uma conquista.

Entre drinques o Dr. Smith contou sua história, e Adrian fez o mesmo, contou a sua realidade e disse o que esperava do novo trabalho. O médico olhou, e pensou com a mente cheia de malícia, “ele é a pessoa certa para estar ao meu lado”, esperou... e vendo o momento certo o doutor colocou algo na bebida de Adrian sem que ele percebesse. Depois de um monte de drinques, Adrian sentia-se estranho, mas isso não o incomodou porque eles contavam as suas histórias um para o outro e riam delas. Era um encontro muito amigável.

Derrepente; tudo se apagou.Passaram-se algumas semanas.Adrian acordou atordoado em um lugar estranho e sen-

tindo-se ainda mais estranho, olhou ao redor e viu duas en-fermeiras que o velavam, olhou mais um pouco e percebeu que estava em lugar parecido com um quarto de hospital im-provisado, e quando as enfermeiras perceberam que Adrian acordara, perguntaram: “have you woken up, sleepyhead?”.

Meio dormindo ele não entendeu as assistentes do médi-co. Adrian precisou de ajuda para se levantar, ele se olhou e viu que estava com roupas de cirurgia e algumas bandagens pelo corpo, tomou um susto e teve uma reação de pavor, logo

Os dois cumpriram o ritu-al do embarque e decola-ram. Conversaram sobre o novo trabalho durante o vôo.

Se encontraram em uma reunião em um restaurante conhecido em Londres.

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lhe passou pela cabeça que tinha sido vitima de algum tipo de roubo de órgãos.

Então, Adrian perguntou para as enfermeiras. “Onde estou?”“O que aconteceu comigo?”. Ouviram e nada compreen-

deram, também nada responderam.Ele sentiu sua voz diferente, era uma linda voz de mulher,

bem afeminada. Atordoado pediu que o levassem ao espelho do quarto, quando Adrian viu a sua imagem teve um surto de loucura, olhou para o seu órgão sexual e percebeu que esta-va operado, começou a gritar desesperadamente quando viu uma vagina no lugar do seu pênis. Seus gritos eram de uma mulher histérica e surtada, gritou várias vezes por socorro, mas foi sem efeito, ninguém o ouviu. A não ser as enfermeiras que tentavam acalmá-lo. Com socos no ar, Adrian não permi-tia que ninguém o tocasse.

Olhou novamente no espelho e viu que tinha se transfor-mado em uma linda mulher, cheia de silhuetas e curvas per-feitas, olhou seu rosto e viu que era uma beleza estonteante, tinha os lábios carnudos, o cabelo era castanho, liso e longos, que com certeza foram implantados. Não acreditava no que via, ficou sem ar, e sem poder respirar, e sem poder nada fa-zer, esperou pelo médico, que chegou logo em seguida para olhar a obra prima da sua vida. Adrian ao ver o médico, ten-tou matá-lo, tentou agarrá-lo para estrangulá-lo, mas as dores da operação o impediram de tomar qualquer medida violenta.

O Dr. Smith ao ver que o seu feito tinha sido um total sucesso, soltou uma gargalhada totalmente insana, e disse:

“você é a obra prima da minha vida, eu sabia que era você, me apaixonei por você desde a primeira vez em que o vi no bar. Agora eu te amo muito mais, eu te amo. A partir de hoje você será a minha boneca, eu o tornarei o homem operado mais perfeito e famoso do mundo”.

“Você é um louco, o que você fez comigo?”. “Seu demen-te”. “Quero voltar pra casa, quero ver os meus filhos, eu que-ro a minha vida de volta. Me leve embora.”. Gritou Adrian com a voz tremula de uma mulher acuada.

“Pode gritar. Agora você é minha boneca, eu o criei. Hahaha, hahaha. Não tem mais volta, você está nas minhas mãos e em meu poder. Vou te chamar de Frank Smith, a nova Mrs. Smith, e vamos nos amar como jamais alguém se amou nesse mundo”. Gesticulava o médico louco com os olhos vi-drados em Adrian.

Adrian sem nada poder fazer, soltou o seu corpo como quem se entrega ao fim, e pensou.

“Por que eu?”Ajoelhou-se bem meio do quarto olhando para o teto

como quem enxerga o céu através das paredes, e com os bra-ços abertos como quem pede ajuda a Deus, que se recusava ouvi-lo naquele instante, gritou.

“Nããããããããããoooooooo.”

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