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O PÚCARO BÚLGARO

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  • O PCARO BLGARO

  • Explicao necessria

    Se a Bulgria existe, ento a cidade de Sfia ter que fatalmente existir. Este o nico ponto no qual parecem assentir os que negam e os que defendem intransigentemente a existncia daquele pas, desde os tempos antediluvianos at os dias pr-diluvianos de hoje. (p. 3)

    Prolegmenos

    Prezado Senhor.

    [... ] na sala 304-B (ala direita) deste museu existe, sem a menor sombra de dvida, um precioso exemplar de PCARO BLGARO, provavelmente do incio do sculo 13 a.C. sob a dinastia Lovtschajik.

    Atenciosamente.

    (p. 4)

  • Explicao desnecessria

    Este espantoso documento j estava para ser entregue a seu afortunado editor quando uma comisso de blgaros, berberes, aramaicos e outros levantinos, todos encapuzados, procurou certa noite o autor e ofereceu-lhe dez milhes de dracmas para que no o publicasse pelo menos at o comeo do sculo XXI, quando certamente o mundo j no ter mais sentido.

    (p. 6)

    IN MEMORIAM

  • Livro de Horas e Desoras

    OU

    DIRIO DA FAMOSA EXPEDIO TOHU-BOHU

    AO FABULOSO REINO DA

    Bulgria

    (MCMLXI - ... )

    COM O QUE SE PASSOU OU NO SE PASSOU

    DE IMPORTANTE NESSE, COM PERDO DA PALAVRA,

    INTERREGNO

  • Expedio Bulgria

    Outubro, 31

    O vento fustiga as velas, corre-me pela nuca e pelos cabelos, e volta

    para o mar alto. Aqui em cima, no alto da Gvea, as estrelas cintilam

    mais perto: (p. 9).

    Outubro, 32

    O racionamento de luz me obriga a s escrever de dia. A bruxuleante

    chama das velas me faz mal s vistas. (...) No alto da Gvea, no sei

    por que, a escurido mais espessa do que nos outros bairros (p. 10,

    11).

  • EXPEDIO BULGRIA. PROCURAM-SE VOLUNTRIOS. (p. 18)

    Radams Stepanovicinsky (Quixeramobim - CE);

    Pernacchio (Pisa);

    Ivo que viu a uva (descendia do inventor do zero);

    Expedito (incorporado expedio em funo do nome);

    Rosa (Empregada);

    Hilrio (narrador).

    [...] havia tantos nomes belos e sugestivos entre os quais pudesse

    escolher livremente, alguns mesmo belssimos e sugestivssimos, como

    Radams, Expedito, Ivo, Pernacchio, Rosa e Hilrio para s citar uns poucos exemplos? (p. 32)

  • A PARTIDA

    O desfecho no haver desfecho algum;

    A bizarra expedio no passa dos preparativos;

    Tudo termina em uma partida de pquer.

    A histria no avana;

    Perde-se em meio ao absurdo;

    Destruio da lgica;

    Destruio das noes de tempo e espao convencionais;

    O leitor enganado.

  • ATA DA PRIMEIRA OU SEGUNDA REUNIO ORDINRIA OU

    EXTRAORDINRIA DO MSPDIDRBOPMDB (MOVIMENTO

    SUBTERRNEO PR-DESCOBERTA OU INVENO DEFINITIVA DO

    REINO DA BULGRIA OU PELO MENOS DE BLGAROS)

    REALIZADA A 28 OU 26 DE OUTUBRO OU DE DEZEMBRO DE 1963

    NO ESTADO DA GUANABARA OU CIDADE DE SO SEBASTIO DO

    RIO DE JANEIRO OU SIMPLESMENTE RIO, DISTRITO OU

    MUNICPIO OU BAIRRO DO ALTO DA GVEA.

    O professor Radams Stepanovicinsky [...] iniciou suas palavras

    lembrando que o MSPDIDRBOPMDB era o nico movimento

    subterrneo no mundo que funcionava no oitavo andar de um edifcio

    situado no alto de um morro, o que provocou imediatamente

    prolongados aplausos.

    [...] tomou a palavra o expedicionrio Ivo que viu a uva, que aps tossir,

    se declarou preocupado com a tendncia da dana moderna em manter

    afastados os corpos dos danarinos, o que a seu ver poderia resultar

    um decrscimo da natalidade ou mesmo na pura e simples extino da

    espcie.

  • O expedicionrio Expedito, mais convencional do que nunca, aproveitou

    a pequena pausa nos debates para indagar por que o urubu no canta.

    Uma borboleta entrou pela janela e esvoaou sobre a cabea de Rosa e

    do professor, acabando por entrar tambm nesta ata e

    consequentemente na histria. O expedicionrio Pernacchio aproveitou a sada da borboleta para perguntar a razo por que o

    testculo esquerdo mais cado do que o direito, tendo o presidente

    respondido que provavelmente para que as esttuas antigas tivessem

    mais equilbrio, dado que o brao direito sempre mais pesado do que

    o esquerdo; razo por que tambm nas mulheres as ndegas so muito

    mais volumosas, para compensar o peso dos seios.

    Encerrou-se s pressas a inconveno com o expedicionrio Expedito

    querendo saber se para transpor o Atlntico havia necessidade de um

    transatlntico, se se pode dizer indistintamente cavalgar um boi ou um

    cavalo ou um elefante, e qual a verdadeira razo por que o

    paraleleppedo se chama paraleleppedo tendo o presidente o mandado merda. (p. 42-44)

  • HUMOR ANRQUICO

    Nonsense

    Aplicao no discurso de frmulas lingusticas que produzem:

    sensaes desconcertantes;

    absurdas;

    elementos contraditrios.

    Rosa:

    - Est a fora um sujeito que diz que no existe.

    - Mande entrar assim mesmo.

    - Lamento muito a sua inexistncia.

    - No posso sequer morrer, porque no existo e isto est me criando um problema bastante desagradvel. O Sr. j imaginou o

    que no existir e ao mesmo tempo no poder deixar de existir?

    (p.35)

  • Suspenso do juzo crtico;

    Formao de uma imagem absurda;

    Como pode estar porta uma pessoa que no existe?

    E, se no existe, como se pode mand-la entrar?

    Contradio no discurso

    O autor, profundamente sensibilizado ante as ponderaes de ordem

    moral e outras que lhe eram apresentadas, pediu um pequeno prazo

    para deliberar sobre o assunto, no sem antes ter tido o cuidado de

    verificar dentro do capuz que se dizia blgaro se havia mesmo algum

    blgaro dentro. O que havia.*. (p. 6).

    * No deixa de causar espcie afirmativa to leviana por parte do Autor.

    Se realmente havia o tal blgaro dentro, cumpria-lhe como cientista

    tomar todas as providncias cabveis no sentido de bem documentar o

    fenmeno, e nunca vir a pblico e declarar simplesmente Havia ou

  • No havia. A menos, naturalmente, que tenha ele a inteno de algum dia ainda escrever um tratado blgaro provando a inexistncia dos

    demais pases, movido pelas tais razes morais e outras a que to sub-

    repticiamente se refere. (Nota do afortunado Editor.)

    Esprito deformador

    Falar de coisas pequenas como se fossem grandiosas

    pcaro;

    automvel;

    bundas;

    expedio (anncio)

    Elementos para construir um texto absurdo com tom documental:

    Notas do afortunado Editor; revisor; tradutor;

    Dedicatria (In Memoriam); o anncio no jornal; a presena de

    um professor (bulgarologia) ;

    O registro em ata da reunio do Movimento;

    Lista de equipamentos necessrios para a expedio.

  • Jogos de palavras

    Rosa a empregada faz parte da decorao ou do mobilirio.

    [...] mal sabe que s vezes durmo com essa poltrona na cama. [...] s vezes durmo com essa gua na cama. (p.14);

    Poltrona/potrona (palavra valise).

    Expedicionrio/expedito/sem expediente;

    Ivo que viu a uva;

    Pcaro Blgaro;

    Travessia do atlntico/ transatlntico

  • Incomunicabilidade (Linguagem como um labirinto)

    Personagens imersos:

    Sem-sentido humano; Restituio da comunicao lgica impossvel

    Lingustico;

    E eu mesmo, aqui digressionando sobre o nada enquanto no atino com a

    razo deste dirio, sou bem o melhor exemplo do que digo e redigo e torno

    a dizer, s que no caso em vez de lngua eu uso a Lngua e em vez de

    tomar a palavra tomo as palavras, neste labirinto em que me engolfo, em

    que te engolfas, em que nos engolfamos, com a conivncia dos

    lexicgrafos, dos fillogos, dos semantologistas e dos decifradores de

    todas as procedncias ou improcedncias. (p.13)

  • A viagem rumo Bulgria:

    Se d somente no nvel da linguagem;

    No texto e no discurso;

    No h nenhuma ao efetiva para o intento;

    Ocorre encontros e discusses sobre temas disparatados;