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43 ARTIGO ORIGINAL Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016 Adolescência & Saúde RESUMO Objetivos: O presente estudo foi realizado a fim de identificar as percepções e o conhecimento de adolescentes sobre as principais parasitoses intestinais que acometem este período de desenvolvimento humano (ascaridíase, giardíase e tricuríase). Este visa também avaliar o conhecimento sobre as formas de transmissão, prevenção e os principais veículos de informação utilizados por esses adolescentes para obtenção de conhecimento a respeito das referidas parasitoses. Métodos: Para a coleta de dados foi aplicado aos alunos um questionário investigativo, o qual buscou avaliar o nível de conhecimento dos discentes sobre as parasitoses mencionadas, formas de transmissão, medidas preventivas e as fontes de informação sobre as parasitoses investigadas. Resultados: 160 alunos do ensino médio de cursos técnicos de uma escola da rede federal de educação, em Urutaí, GO, participaram da pesquisa. A análise mostrou que, em geral, os adolescentes desconhecem ou conhecem muito pouco sobre as parasitoses investigadas. Os estudantes apresentaram baixos níveis de conhecimento tanto para as formas de transmissão, quanto para medidas preventivas. Quanto às fontes de informação, os conteúdos trabalhados por professores ao longo da vida e casos vivenciados e socializados na família, entre parente e/ou amigos foram mais citados. Conclusão: O estudo sugere a necessidade do desenvolvimento de ações educativas entre os estudante que promovam a importancia do conhecimento em prol da saúde. PALAVRAS-CHAVE Saúde pública, educação em saúde, estudantes, doenças parasitárias. ABSTRACT Objective: The present study was carried out to identify perceptions and knowledge of adolescent about the major intestinal parasites that affect this period of human development (ascariasis, giardiasis and trichuriasis). It also aims to assess their knowledge about the modes of transmission, prevention and the main vehicles of information used by these adolescents to obtain knowledge about the refered parasitosis. Methods: For data collection it was applied an investigative questionnaire to the students , which sought to evaluate the level of their knowledge about the mentioned parasitosis, ways of transmission, preventive measures and the sources of information about the investigated parasitosis. Results: 160 high-school students from technical courses of a federal education institute in Urutaí (Goiás State - Brazil) participated in the research. The analysis showed that, in general, adolescents are unaware or have little knowledge about the investigated parasitosis. The students presented low levels of knowledge about the forms of transmission, as well as for preventive measures. Regarding the sources of information, the contents dealt by the teachers throughout their life and cases experienced and socialized among family, relatives and / or friends were the most cited. Conclusion: The study suggests the need to develop educational activities among students that promote the importance of knowledge for health. KEY WORDS Public health, health education, students, parasitic diseases. O que adolescentes de uma instituição de ensino sabem sobre parasitoses intestinais? What adolescents from an educational institution know about intestinal parasitic infections? Solange Aline de Carvalho 1 Guilherme Malafaia 2 Guilherme Malafaia ([email protected]) - Instituto Federal Goiano - Câmpus Urutaí. Rodovia Geraldo Silva Nascimento 2,5 km, s/n, Zona Rural. Urutaí, GO, Brasil. CEP: 75790-000. Recebido em 02/07/2014 – Aprovado em 29/08/2014 1 Licenciada em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano). Ceres, GO, Brasil. 2 Pós-Doutorando de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiânia, GO, Brasil. Professor e Coordenador Geral dos cursos de Graduação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano). Urutaí, GO, Brasil. > > > >

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43ARTIGO ORIGINAL

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016Adolescência & Saúde

RESUMOObjetivos: O presente estudo foi realizado a fi m de identifi car as percepções e o conhecimento de adolescentes sobre as principais parasitoses intestinais que acometem este período de desenvolvimento humano (ascaridíase, giardíase e tricuríase). Este visa também avaliar o conhecimento sobre as formas de transmissão, prevenção e os principais veículos de informação utilizados por esses adolescentes para obtenção de conhecimento a respeito das referidas parasitoses. Métodos: Para a coleta de dados foi aplicado aos alunos um questionário investigativo, o qual buscou avaliar o nível de conhecimento dos discentes sobre as parasitoses mencionadas, formas de transmissão, medidas preventivas e as fontes de informação sobre as parasitoses investigadas. Resultados: 160 alunos do ensino médio de cursos técnicos de uma escola da rede federal de educação, em Urutaí, GO, participaram da pesquisa. A análise mostrou que, em geral, os adolescentes desconhecem ou conhecem muito pouco sobre as parasitoses investigadas. Os estudantes apresentaram baixos níveis de conhecimento tanto para as formas de transmissão, quanto para medidas preventivas. Quanto às fontes de informação, os conteúdos trabalhados por professores ao longo da vida e casos vivenciados e socializados na família, entre parente e/ou amigos foram mais citados. Conclusão: O estudo sugere a necessidade do desenvolvimento de ações educativas entre os estudante que promovam a importancia do conhecimento em prol da saúde.

PALAVRAS-CHAVESaúde pública, educação em saúde, estudantes, doenças parasitárias.

ABSTRACTObjective: The present study was carried out to identify perceptions and knowledge of adolescent about the major intestinal parasites that affect this period of human development (ascariasis, giardiasis and trichuriasis). It also aims to assess their knowledge about the modes of transmission, prevention and the main vehicles of information used by these adolescents to obtain knowledge about the refered parasitosis. Methods: For data collection it was applied an investigative questionnaire to the students , which sought to evaluate the level of their knowledge about the mentioned parasitosis, ways of transmission, preventive measures and the sources of information about the investigated parasitosis. Results: 160 high-school students from technical courses of a federal education institute in Urutaí (Goiás State - Brazil) participated in the research. The analysis showed that, in general, adolescents are unaware or have little knowledge about the investigated parasitosis. The students presented low levels of knowledge about the forms of transmission, as well as for preventive measures. Regarding the sources of information, the contents dealt by the teachers throughout their life and cases experienced and socialized among family, relatives and / or friends were the most cited. Conclusion: The study suggests the need to develop educational activities among students that promote the importance of knowledge for health.

KEY WORDSPublic health, health education, students, parasitic diseases.

O que adolescentes de uma instituição de ensino sabem sobre parasitoses intestinais?What adolescents from an educational institution know about intestinal parasitic infections?

Solange Aline de Carvalho1

Guilherme Malafaia2

Guilherme Malafaia ([email protected]) - Instituto Federal Goiano - Câmpus Urutaí. Rodovia Geraldo Silva Nascimento 2,5 km, s/n, Zona Rural. Urutaí, GO, Brasil. CEP: 75790-000.Recebido em 02/07/2014 – Aprovado em 29/08/2014

1Licenciada em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano). Ceres, GO, Brasil. 2Pós-Doutorando de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Goiânia, GO, Brasil. Professor e Coordenador Geral dos cursos de Graduação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano). Urutaí, GO, Brasil.

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44 Carvalho e MalafaiaO QUE ADOLESCENTES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SABEM SOBRE PARASITOSES INTESTINAIS?

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016

Nesse sentido, o presente estudo buscou identifi car as percepções e conhecimentos de adolescentes do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) – Câmpus Urutaí sobre as principais parasitoses intestinais que acometem esta faixa etária (ascaridíase, giardíase e tricuríase), bem como avaliar o conhecimento sobre as formas de transmissão, prevenção e os principais veículos de informação utilizados por esses adolescentes para obtenção de conhecimento a respeito das referidas parasitoses.

METODOLOGIA

População alvo e instrumento de coleta de dados

O presente trabalho foi desenvolvido com estudantes matriculados nos cursos técnicos in-tegrados ao ensino médio do IF Goiano – Câm-pus Urutaí, localizado na região Sudeste do Es-tado de Goiás. Estudantes dos cursos técnicos em Agropecuária, Informática e Administração do 1º, 2º e 3º anos foram investigados.

Para a coleta de dados foi elaborado um questionário investigativo, composto por ques-tões discursivas e de múltipla escolha, basea-do em Malafaia et al.9. O referido instrumento buscou identifi car o conhecimento dos discen-tes sobre a forma de transmissão e prevenção da ascaridíase, giardíase e tricuríase e quais os veículos de informação utilizados pelos mesmos para obtenção de conhecimento. Além disso, o questionário continha algumas questões sobre o perfi l dos participantes.

Para a determinação do número de estu-dantes que participariam da pesquisa, levou-se em consideração o número de estudantes de todas as turmas dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio da instituição na época em que o estudo foi realizado (curso técnico em Agro-pecuária: n=278, Informática: n=139 e Admi-nistração: n=39) e o critério psicométrico. Este último é usado para escalas de atitude e busca identifi car o número de respondentes necessá-rios para gerar um grau de saturação do fenô-meno ou característica medida, ou seja, quando

INTRODUÇÃO

As parasitoses intestinais estão entre as pa-tologias mais frequentemente encontradas nos seres humanos, constituindo-se um importante problema de saúde pública1. No Brasil, um es-tudo multicêntrico realizado em escolares de 7 a 14 anos em 10 estados da federação mostrou que 55,3% dos estudantes foram diagnostica-dos com algum tipo de parasitose, sendo que a ascaridíase, tricuríase e a giardíase apresentaram uma distribuição mais homogênea. Esse dado confi rma que as parasitoses intestinais ainda se encontram muito disseminadas e com alta pre-valência em nosso país2.

Alguns trabalhos têm sido publicados so-bre doenças parasitárias em crianças e adoles-centes3-5. Estes estudos, de um modo geral, confi rmam a tendência observada por Rocha et al.2 que mostram que as doenças ascaridíase, tri-curíase e giardíase ainda são muito prevalentes nos adolescentes. Visto que essas enfermidades além de propiciar maior vulnerabilidade a outras doenças podem também causar desnutrição, anemia e infl uenciar o rendimento escolar6, é necessário que noções básicas sejam bem assi-miladas na fase escolar, momento onde crianças e/ou adolescentes estão aprendendo a tratar do corpo e da saúde. Nesse sentido, o conhecimen-to sobre doenças parasitárias tornam-se essen-ciais sob o ponto de vista de saúde pública.

Porém, poucos trabalhos deram ênfase ao conhecimento e noções de adolescentes sobre parasitoses intestinais, com destaque para os es-tudos mais recentes de Lima et al.7 e Moreira et al.8 acerca do conhecimento e profi laxia de zoo-noses, e Malafaia et al.9 sobre as doenças intesti-nais responsáveis pelo maior número de interna-ções hospitalares de adolescentes no município de Urutaí, GO. Assim, nota-se a necessidade da condução de mais estudos sobre o conhecimen-to e/ou percepções das populações sobre essas doenças, considerando principalmente que in-vestigações dessa natureza podem subsidiar a implementação de ações/atividades em prol da saúde pública e da promoção da saúde.

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os dados capturados pelo instrumento de pes-quisa começam a se repetir ou reduzir signifi -cativamente sua variabilidade10. O processo de saturação se inicia quando a quantidade de itens de um questionário é multiplicada por uma es-cala que varia de 6 (mínimo) a 10 (ótimo). Para a presente pesquisa, utilizou-se a escala máxima (10) multiplicada pela quantidade de questões do questionário (n=8), prevendo a necessidade de entrevistar um total de 80 alunos.

Porém, considerando a existência de 16 turmas dos cursos mencionados anteriormente e um total de 388 alunos, decidiu-se por convi-dar aleatoriamente 10 estudantes de cada turma para participarem do estudo, totalizando 160 participantes, número correspondente a 41,2% da população total discente dos cursos técnicos integrados ao ensino médio em 2013.

Aplicou-se o instrumento avaliativo de for-ma coletiva em sala de aula, com a colaboração do professor regente que se encontrava na sala. Salienta-se que não foi realizada nenhuma ação interventiva prévia para a aplicação do questio-nário, visando assim, obter dados que refl etis-sem o verdadeiro conhecimento de cada aluno sobre os aspectos pesquisados.

Análise dos dados

Para a análise do conteúdo das respostas discursivas foram utilizadas planilhas para ca-tegorização das mesmas por similaridade, de acordo com as formas corretas de transmissão e medidas profi láticas das doenças, descritas por Neves et al.11. A análise das respostas deu-se conforme o método de contagem por incidên-cia de determinadas respostas, sendo apresenta-da a frequência de ocorrência em que a mesma resposta foi observada.

Questões éticas

Considerando que este estudo envolveu diretamente seres humanos, foram seguidas to-das as recomendações éticas preconizadas na resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Mi-

nistério da Saúde12 e o projeto de pesquisa que originou esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do IF Goiano sob o parecer consubstanciado nº 019/2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de discentes participantes do estu-do, 50% (n=80) estavam matriculados no cur-so técnico de Agropecuária, 31,3% (n=50) no curso técnico de Informática e 18,7% (n=30) no curso técnico de Administração. 66,9% (n=107) dos participantes era do sexo masculino, na faixa etária de 13 a 21 anos, sendo que 53,1% (n=85) tinham entre 15 e 16 anos; outros 20,6% (n=33) tinham 17 anos e 8,8% (n=14) não res-ponderam à essa questão.

Inicialmente buscou-se identifi car o conhe-cimento dos discentes acerca das parasitoses intestinais. Em relação ao conhecimento dos estudantes sobre ascaridíase, observou-se que a maioria assinalou a opção “não conhece nada” (32,0%) ou “conhece muito pouco” (38,1%) (Tabela 1). Quando analisado o conhecimento das turmas por série, observou-se que o percen-tual dos estudantes que assinalaram conhecer um pouco a doença foi maior no segundo ano que em relação as demais séries. Destaca-se que o 2º ano do curso técnico em Informática foi aquele que apresentou maior percentual para a classifi cação “conhece pouco” (70,0%) (Tabela 1). Tais resultados podem estar relacionados ao fato dessas patologias normalmente serem tra-balhadas nesta série do ensino médio.

No que se refere ao conhecimento dos estudantes sobre giardíase, observou-se que a maioria alegou que “não conhece nada” (68,4%) sobre a referida parasitose. Destaca-se que o 3º ano do curso técnico em Agropecuária foi aquele que apresentou maior percentual para a classifi cação “não conhece nada” com 90,0%, ao passo que o 3º ano do curso técnico em In-formática apresentou um menor percentual (50,0%) para essa mesma classifi cação em rela-ção às outras turmas de 3º ano e se equiparou

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aos valores encontrados nas turmas de 2º ano do curso técnico em Informática e em Adminis-tração (Tabela 1).

Quanto o conhecimento dos adolescentes sobre a tricuríase, os resultados foram semelhan-tes aos encontrados na giardíase, uma vez que a maioria dos discentes assinalou a opção de resposta “não conhece nada” (71,7%). O maior percentual para essa classifi cação foi encontrado no 1º ano do curso técnico em Administração com 90,0% (Tabela 1). Quanto ao conhecimen-to por turmas, apenas as turmas de 1º e 2º ano do curso técnico em Agropecuária assinalaram a

opção “conhece bem” a patologia, representan-do 2,5% e 5,0% respectivamente.

Devido a grande quantidade de conteúdos curriculares a serem trabalhados nas escolas, muitas dessas doenças parasitárias são abor-dadas rapidamente (superfi cialmente) ou até mesmo passam despercebidas. Tais doenças intestinais são tão importantes como qualquer outra doença que não é diagnosticada e tratada precocemente, por isso o conhecimento sobre as formas de transmissão e prevenção tornam-se essenciais no ponto de vista de saúde pública. Em relação às doenças investigadas na institui-

Tabela 1. Conhecimento de estudantes de cursos técnicos integrados ao ensino médio do IF Goiano – Câmpus Urutaí acerca da ascaridíase, giardíase e tricuríase. Urutaí, 2013.

Classificação

Técnico

Integrado em

Agropecuária

(%)

Técnico

Integrado em

Informática

(%)

Técnico

Integrado em

Administração

(%)

Subtotal

(%) Total

(%)

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Ascaridíase

Conhece bem 0,0 5,0 0,0 5,0 10,0 0,0 0,0 0,0 10,0 1,4 5,0 2,0 2,8

Conhece muito pouco 20,0 20,0 20,0 20,0 10,0 30,0 20,0 20,0 20,0 20,0 17,5 24,0 20,5

Conhece pouco 10,0 65,0 15,0 35,0 70,0 60,0 50,0 30,0 20,0 22,9 57,5 34,0 38,1

Não conhece nada 60,0 10,0 55,0 30,0 10,0 5,0 30,0 30,0 50,0 47,1 15,0 34,0 32,0

Não sabe responder 7,5 0,0 5,0 0,0 0,0 5,0 0,0 20,0 0,0 4,3 5,0 4,0 4,4

Não respondeu 2,5 0,0 5,0 10,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,3 0,0 2,0 2,1

Giardíase

Conhece bem 2,5 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,4 2,5 0,0 1,3

Conhece muito pouco 5,0 15,0 0,0 10,0 0,0 25,0 20,0 20,0 0,0 8,6 12,5 10,0 10,4

Conhece pouco 0,0 5,0 5,0 5,0 10,0 5,0 10,0 0,0 20,0 2,9 5,0 8,0 5,3

Não conhece nada 82,5 65,0 90,0 65,0 50,0 50,0 70,0 50,0 80,0 75,7 57,5 72,0 68,4

Não sabe responder 5,0 5,0 5,0 15,0 30,0 15,0 0,0 30,0 0,0 7,1 17,5 8,0 10,9

Não respondeu 5,0 5,0 0,0 5,0 10,0 5,0 0,0 0,0 0,0 4,3 5,0 2,0 3,8

Tricuríase

Conhece bem 2,5 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,4 2,5 0,0 1,3

Conhece muito pouco 7,5 10,0 0,0 10,0 0,0 20,0 0,0 0,0 20,0 7,1 5,0 12,0 8,0

Conhece pouco 2,5 5,0 5,0 0,0 10,0 5,0 0,0 0,0 0,0 1,4 5,0 4,0 3,5

Não conhece nada 80,0 70,0 85,0 65,0 70,0 50,0 90,0 70,0 70,0 77,1 70,0 68,0 71,7

Não sabe responder 5,0 5,0 5,0 15,0 10,0 20,0 10,0 30,0 10,0 8,6 12,5 12,0 11,0

Não respondeu 2,5 5,0 5,0 5,0 10,0 5,0 0,0 0,0 0,0 4,3 5,0 4,0 4,4

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ção em que ocorreu o presente estudo, apenas a ascaridíase foi trabalhada em sala de aula nas turmas de segundo ano dos cursos técnicos em Agropecuária e Informática. Subentende-se que o 2º ano do curso técnico em Administração não estudou nenhuma doença. Este fato pode ser a explicação para os percentuais apresentados pe-los discentes da referida série.

O conhecimento dos estudantes sobre as-caridíase e giardíase é muito limitado onde a maioria dos estudante marcaram as categorias “conhece nada” e “conhece pouco” (Tabela 1). O mesmo padrão de respostas que refl etem o baixo conhecimento sobre as doenças parasi-tárias foi demonstrado com a tricuríase, onde todos os alunos do segundo ano mantiveram o mesmo percentual para a categoria “conhe-ce nada”, sendo que os alunos dos cursos de Agropecuária e Informática também aponta-ram as demais categorias, enquanto os alunos do curso de Administração indicaram apenas as categorias “conhece nada” e “não sabe respon-der” (Tabela 1). Deste modo, torna-se relevante a realização de ações educativas, como palestras e/ou atividades lúdicas a fi m de proporcionar es-clarecimentos sobre as doenças intestinais, uma vez que tais medidas podem contribuir enorme-mente para o controle/prevenção dessas doen-ças em nível local e/ou regional9.

Outro ponto importante é o conhecimen-to acerca do modo de transmissão das doenças parasitárias. Malafaia et al.9 salientam que a compreensão do ciclo de contágio de uma de-terminada doença auxilia o estabelecimento de atitudes profi láticas favoráveis ao combate da parasitose, como por exemplo, cuidados básicos de higiene pessoal e doméstica, cuidados com alimentos, água e o ambiente.

Desta forma, foi avaliado o conhecimento dos participantes sobre o modo de transmissão da ascaridíase, giardíase e tricuríase. Conforme pode ser observado na Tabela 2, quase metade dos alunos (49,0%) não soube responder a essa questão. No que se refere a ascaridíase, a respos-ta mais apontada pelos discentes foi a “ingestão de alimentos contaminados com ovos” (38,7%),

tendo sido uma classifi cação considerada corre-ta, conforme descrito por Neves et al.11. Exem-plo de categoria mencionada pelos adolescentes tida como incorreta é “andar descalço”, aponta-da por alguns estudantes das turmas de 1º ano do curso técnico em Administração (10,0%) e 2º ano do curso técnico em Agropecuária (15,0%). No que se refere as demais classifi cações, apenas as turmas de 2º ano não mencionaram nenhu-ma vez “ingestão de ovos presentes debaixo das unhas ou mãos”. Entretanto, de modo geral, as turmas de 2º ano apresentaram melhores resul-tados acerca do conhecimento sobre a dinâmica de transmissão da referida parasitose, além de apresentarem o menor índice de estudantes que não souberam responder (30,0%) (Tabela 2).

Em relação ao conhecimento dos estudan-tes sobre os modos de transmissão da giardíase causado pela Giardia lamblia, como destacado anteriormente, a grande maioria não soube res-ponder esta questão (88,5%). Resultado seme-lhante aos obtidos por Malafaia et al.9, onde a maioria dos participantes também alegou não conhecer nada sobre a doença. A maioria da-queles que responderam a pergunta eram do 1º ano do curso técnico em Administração e assi-nalaram a classifi cação “ingestão de alimentos contaminados com cistos” (30,0%), e somente 0,7% das turmas do 3º ano do curso técnico em Informática mencionaram a classifi cação “inges-tão de água contaminada com cistos”, também considerada correta (Tabela 2).

Em se tratando do conhecimento sobre a transmissão da tricuríase, os valores encontrados superam os encontrados sobre ascaridíase e na giardíase. Para a tricuríase, o percentual de dis-centes que não soube responder a questão foi de 94,4% (Tabela 2). Quando analisado o conheci-mento por turmas, observou-se que apenas o 1º e o 3º ano do curso técnico em Informática e 1º ano do curso técnico em Administração in-dicaram, formas corretas para a transmissão da tricuríase, mencionando “ingestão de alimentos contaminados com ovos” e “ingestão de água contaminados com ovos”, representando 2,3% e 1,1% respectivamente (Tabela 2).

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Tabela 2. Conhecimento de estudantes de cursos técnicos integrados ao ensino médio do IF Goiano – Câmpus Urutaí acerca das formas de transmissão da ascaridíase, giardíase e tricuríase. Urutaí, 2013.

Classificação

Técnico Integrado em Agropecuária

(%)

Técnico Integrado em

Informática (%)

Técnico Integrado em Administração

(%)

Subtotal (%) Total (%)

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Ascaridíase

Ingestão de alimentos contaminados com ovos

15,0 65,0 10,0 45,0 70,0 70,0 40,0 20,0 10,0 27,1 55,0 34,0 38,7

Ingestão de água contaminada com ovos

2,5 10,0 0,0 5,0 0,0 10,0 30,0 30,0 0,0 7,1 12,5 4,0 7,9

Ingestão de ovos presentes debaixo das unhas ou nas mãos

0,0 0,0 0,0 15,0 0,0 0,0 10,0 0,0 10,0 5,7 0,0 2,0 2,6

Andar descalço 0,0 15,0 0,0 0,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0 1,4 7,5 0,0 3,0

Resposta incoerente/incorreta

5,0 5,0 20,0 45,0 20,0 10,0 10,0 40,0 10,0 17,1 17,5 14,0 16,2

Não soube responder 85,0 15,0 70,0 30,0 30,0 25,0 40,0 60,0 80,0 62,9 30,0 54,0 49,0

Giardíase

Ingestão de alimentos contaminados com cistos

2,5 0,0 0,0 5,0 0,0 5,0 30,0 10,0 0,0 5,7 2,5 2,0 3,4

Ingestão de água contaminada com cistos

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,0 0,7

Ingestão de cistos presentes debaixo das unhas ou nas mãos

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Contato com animais contaminados

0,0 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0 5,0 0,0 1,7

Resposta incoerente/incorreta

5,0 25,0 0,0 15,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7,1 12,5 0,0 6,5

Não soube responder 95,0 70,0 100,0 80,0 100,0 90,0 70,0 90,0 100,0 87,1 82,5 96,0 88,5

Tricuríase

Ingestão de alimentos contaminados com ovos

0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 10,0 10,0 0,0 0,0 2,9 0,0 4,0 2,3

Ingestão de água contaminados com ovos

0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 5,0 0,0 0,0 0,0 1,4 0,0 2,0 1,1

Ambientes contaminados sem saneamento básico

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

continua

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49Carvalho e Malafaia O QUE ADOLESCENTES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SABEM SOBRE PARASITOSES INTESTINAIS?

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016Adolescência & Saúde

Classificação

Técnico Integrado em Agropecuária

(%)

Técnico Integrado em

Informática (%)

Técnico Integrado em Administração

(%)

Subtotal (%) Total (%)

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Contato com animais contaminados

0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0 2,9 0,0 0,0 1,0

Resposta incoerente/incorreta

0,0 10,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 1,7

Não soube responder 100,0 90,0 100,0 85,0 100,0 85,0 90,0 100,0 100,0 94,3 95,0 94,0 94,4

*O somatório dos percentuais de cada série, subtotal ou total, ultrapassa 100% uma vez que o mesmo estudante pode ter mencionado mais de uma classifi cação de resposta.

Ainda sobre as formas de transmissão, os discentes apresentaram formas incorretas para as três parasitoses intestinais investigadas. A ta-bela 3 apresenta alguns exemplos de citações errôneas sobre as doenças investigadas. De for-ma geral, o maior percentual de respostas incor-retas/incoerentes foi referente a ascaridíase com 16,2% (Tabela 2).

Estudos mostram que a alta prevalência de parasitos intestinais na população pode es-tar relacionado ao desconhecimento das for-mas de transmissão dos parasitas, da profi laxia e dos princípios básicos de higiene, tanto por parte de crianças e adolescentes, como de suas famílias4,13,14.

Ao analisar o nível de conhecimento dos participantes quanto as formas preventivas e profi láticas das parasitoses pesquisadas, os re-sultados referentes a giardíase e tricuríase fo-ram semelhantes, onde a maioria dos discentes não soube responder a esta questão (89,0% e 95,9%, respectivamente) (Tabela 3). Entretan-to, a ascaridíase apresentou o menor percentual para essa classifi cação (39,9%) e o maior per-centual de repostas incorretas e/ou incoerentes (60,0%). Exemplos de citações incorretas po-dem ser observados no tabela 3. Entre as tur-mas, o maior índice de respostas incorretas foi observado no 3º ano do curso técnico em Infor-mática com um percentual de 100% responde-

ram errado onde ressalta-se que alguns alunos informaram mais de uma medida profi lática er-rada para cada doença.

Dentre as medidas corretas de prevenção e profi laxia da ascaridíase, apenas a classifi cação “lavar as mãos antes de tocar os alimentos” foi mencionada pelos estudantes. As turmas de 1º ano apresentaram o maior percentual (5,7%) em relação as demais séries. Apesar de serem incorretas, classifi cações como “cozinhar bem os alimentos” e “evitar andar descalço” foram apontadas em maior percentual pelos alunos do segundo ano, sendo os valores equivalentes para as duas classifi cações (12,5%) (Tabela 3). Destaca-se ainda, que apenas estudantes do 3º ano do curso técnico em Administração apon-taram o “tratamento do doente” (10%) como medida profi lática.

No que se refere à giardíase, poucas medi-das corretas foram apontadas, sendo estas “sa-neamento básico” (2,3%) e “higiene pessoal” (1,8%) (Tabela 4). Ressalta-se que nenhuma série do curso técnico em Agropecuária e ne-nhuma das turmas do 2º ano dos demais cursos indicaram alguma forma correta e ainda, 100% dos discentes do 2º ano do curso técnico em In-formática não souberam responder essa ques-tão, dado semelhante foi encontrado também no 3º ano do curso técnico em Agropecuária (Tabela 3).

continuação da Tabela 2

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Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016

Tabela 3. Exemplos de respostas incorretas apresentadas por discentes de cursos técnicos integrados ao ensino médio do IF Goiano – Câmpus Urutaí sobre os modos de transmissão e medidas profiláticas. Urutaí, 2013.

DoençasExemplos de respostas incorretas/incoerentes

Modo de transmissão Medidas profiláticas

Ascaridíase

“Contato com fezes de animais contaminados”

1º ano Informática

“Andar descalço”

1º ano Administração

“Contato com lixo e esgoto à céu aberto”

2º ano Administração

“Através de lombrigas e vermes”

3º ano Agropecuária

“Tomar vacinas e remédios”

1º ano Agropecuária

“Evitar andar descalço”

1º ano Informática

“Evitar lugares que favoreçam a doença”

2º ano agropecuária

“Evitar contato com pulgas”

2º ano Agropecuária

Giardíase

“Por bactérias”

1º ano Agropecuária

“Andar descalço”

1º ano Informática

“Contato com inseto vetor”

2º ano Agropecuária

“Tomar banho em rios infectados”

2º ano Agropecuária

“Evitar andar descalço”

1º ano Informática

“Dedetização com eliminação do transmissor”

2º ano Agropecuária

“Não defecar ao ar livre”

2º ano Administração

“Trabalho dos agentes de saúde”

3º ano Informática

Tricuríase

“Contato com fezes de animais contaminados”

1º ano Informática

“Por infecção”

2º ano Agropecuária

“Picada do parasita”

2º ano Agropecuária

“Evitar fezes de animais contaminados”

1º ano Informática

“Ser medicado”

1º ano Administração

“Eliminar o transmissor”

2º ano Agropecuária

Em relação ao conhecimento sobre as me-didas profi láticas da tricuríase, a maioria dos participantes não soube responder (95,9%) e dos que responderam, 16,2% indicaram apenas medidas incorretas (Tabela 3). Esses resultados já eram esperados visto a falta de conhecimento dos estudantes sobre as formas de transmissão desta parasitose.

Ressalta-se que há uma medida profi lática comum para todas as parasitoses intestinais in-vestigadas, a “educação sanitária” e esta não foi mencionada pelos alunos nenhuma vez. Enten-de-se por educação sanitária a prática educativa que tem como objetivo a promoção de hábitos, entre a população, que promovam a saúde e evi-tam doenças. A seguir a cópia do trecho na ínte-gra retirado de Pelicioni e Pelicioni (2007):

“A educação em saúde pública, por sua vez, ba-

seia-se na concepção de que o indivíduo aprende a

cuidar de sua saúde, que é resultante de múltiplos

fatores intervenientes no processo saúde-doença,

a partir do referencial coletivo de conhecimento de

sua realidade".(p.5).

Embora apresentem concepções diferen-tes, os dois termos são utilizados para o desen-volvimento de ações educativas na área da saú-de, sendo desenvolvidas por profi ssionais com variadas formações.

Oliveira e Chiuchetta16 consideram mar-cante a carência de educação sanitária no Bra-sil sendo necessárias decisões políticas para reverter este quadro, salientando que a cons-cientização da população quanto a prevenção

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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016Adolescência & Saúde

das doenças transmissíveis é fator indispen-sável para o sucesso de qualquer campanha profilática.

Ribeiro et al.17 salientam que a educação em saúde pode contribuir efetivamente para o controle e prevenção de parasitoses, podendo alcançar efeitos mais duradouros em compa-ração a outras abordagens, visto que uma vez adquiridos os conhecimentos necessários, os indivíduos podem evitar ou minimizar a aqui-sição das doenças parasitárias e de suas conse-quências. Além disso, os autores ressaltam que, na maioria das vezes, as ações exigem um custo menor quando comparado ao tratamento cura-tivo, e que essas atividades não sejam feitas iso-ladas, sendo fundamental a participação popu-lar, o envolvimento da comunidade científi ca e das autoridades.

Por fi m, os alunos foram questionados so-bre os meios de comunicação que eles utiliza-ram para obter conhecimento sobre as parasito-ses investigadas, onde a maioria apontou como fonte de informação os “conteúdos trabalhados por professores no ensino fundamental e/ou médio” (42,4%) (Tabela 5). As turmas de 2º ano do curso técnico em Informática e de 2º e 3º ano do curso técnico em Administração apre-sentaram os maiores índices para essa mesma classifi cação, representando 90%, 60% e 60%, respectivamente (Tabela 5).

Santos et al.18, em um estudo similar a este encontraram que 37% dos estudantes mencio-naram a televisão/rádio como principal fonte de informação sobre parasitoses, seguidos pela casa (33%) e a escola (24%). Os autores ainda refor-çam que isso é resultado da pouca atenção dada à formação do professor em educação em saúde e a importância da prevenção de doenças18.

Zancul e Gomes19 salientam que as ativida-des educativas promotoras de saúde na escola são muito importantes se considerarmos que pessoas bem informadas têm mais possibilida-des de participar ativamente na promoção do próprio bem-estar. Além disso, os autores desta-cam que a escola possui um papel educativo e social, sendo locais privilegiados para trabalhar atividades de educação em saúde.

No presente estudo, a escola representada por meio da classifi cação “conteúdos trabalha-dos por professores no ensino fundamental e/ou médio” foi mencionada como principal fonte de informação (Tabela 4). Contudo, vale salien-tar que os resultados demonstram que a maioria dos adolescentes conhecem pouco ou não tem conhecimento sobre as parasitoses investigadas (Tabela 1), assim como a maioria não soube in-formar as formas de transmissão das doenças (Tabela 2), além de um alto número de respos-tas tidas como incorretas e/ou incoerentes sobre as medidas profi láticas (Tabela 3).

Tabela 4. Medidas de prevenção da ascaridíase, giardíase e tricuríase mencionadas por estudantes de cursos técnicos integrados ao ensino médio do IF Goiano – Câmpus Urutaí. Urutaí, 2013

Classificação

Técnico Integrado em Agropecuária

(%)

Técnico Integrado em

Informática (%)

Técnico Integrado em Administração

(%)

Subtotal (%) Total (%)

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Ascaridíase

Educação sanitária 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 70,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0 3,3

Lavar as mãos antes de tocar os alimentos

0,0 0,0 5,0 15,0 0,0 5,0 10,0 10,0 0,0 5,7 2,5 4,0 4,1

Proteção dos alimentos contra insetos

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

continua

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Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016

Tabela 5. Meios de comunicação utilizados por discentes de cursos técnicos integrados ao ensino médio do IF Goiano – Câmpus Urutaí como fonte de informação sobre a ascaridíase, giardíase e tricuríase. Urutaí, 2013.

Classificação

Técnico Integrado em Agropecuária

(%)

Técnico Integrado em Informática

(%)

Técnico Integrado em Administração

(%)

Subtotal (%) Total (%)

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Conteúdos trabalhados por professores no ensino fundamental e/ou médio

17,5 43,3 45,0 35,0 90,0 35,0 50,0 60,0 60,0 27,1 56,0 44,0 42,4

Classificação

Técnico Integrado em Agropecuária

(%)

Técnico Integrado em

Informática (%)

Técnico Integrado em Administração

(%)

Subtotal (%) Total (%)

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Tratamento dos doentes

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 10,0 0,0 0,0 2,0 0,7

Cozinhar bem os alimentos

5,0 10,0 0,0 20,0 30,0 10,0 0,0 0,0 0,0 8,6 12,5 4,0 8,4

Evitar andar descalço 0,0 15,0 0,0 5,0 10,0 5,0 10,0 10,0 0,0 2,9 12,5 2,0 5,8

Resposta incoerente/incorreta

22,5 75,0 30,0 65,0 70,0 105,0 10,0 80,0 40,0 32,9 75,0 62,0 56,6

Não soube responder 82,5 10,0 65,0 35,0 30,0 25,0 0,0 0,0 70,0 57,1 12,5 50,0 39,9

Giardíase

Proteção dos alimentos

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Saneamento básico 0,0 0,0 0,0 5,0 0,0 5,0 10,0 0,0 10,0 2,9 0,0 4,0 2,3

Higiene pessoal 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 5,0 10,0 0,0 10,0 1,4 0,0 4,0 1,8

Educação sanitária 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Tratamento dos doentes

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Resposta incoerente/incorreta

2,5 20,0 0,0 25,0 0,0 15,0 10,0 40,0 0,0 10,0 20,0 6,0 12,0

Não soube responder 97,5 85,0 100,0 70,0 100,0 85,0 70,0 90,0 90,0 85,7 90,0 92,0 89,2

Tricuríase

Educação sanitária 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Lavar as mãos antes de tocar os alimentos

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Proteção dos alimentos contra insetos

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Resposta incoerente/incorreta

2,5 5,0 0,0 10,0 0,0 15,0 10,0 0,0 0,0 40,0 2,5 6,0 16,2

Não soube responder 97,5 95,0 100,0 90,0 100,0 90,0 90,0 100,0 100,0 94,3 97,5 96,0 95,9*O somatório dos percentuais de cada série, subtotal ou total, ultrapassa 100% uma vez que o mesmo estudante pode ter mencionado mais de uma classifi cação de resposta.

continuação da Tabela 4

continua

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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 1, p. 43-54, agosto 2016Adolescência & Saúde

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CONCLUSÕES

Diante do trabalho realizado, conclui-se que: estudantes dos cursos técnicos integrados ao ensino médio do IF Goiano – Câmpus Urutaí, possuem conhecimento limitado sobre ascari-díase, giardíase e tricuríase, constituindo uma problemática que merece atenção por parte de gestores e professores da instituição;

o trabalho de conteúdos curriculares por pro-fessores em sala de aula mostra-se importan-te veículo de informação sobre as parasitoses intestinais, constituindo importante estratégia de educação em saúde e de prevenção da as-caridíase, giardíase e tricuríase;

Nesse sentido, sugere-se a realização de ações educativas no IF Goiano – Câmpus Uru-taí, voltadas para a promoção da saúde dos dis-centes, proporcionando esclarecimentos acer-ca das doenças intestinais e visando contribuir para a aquisição/construção de conhecimentos que possam ser úteis na prevenção, controle ou combate às parasitoses intestinais.

AGRADECIMENTOS

Oa autores agradecem o suporte fi nanceiro fornecido pelo Instituto Federal Goiano - Câm-pus Urutaí na realização do presente estudo.

Classificação

Técnico Integrado em Agropecuária

(%)

Técnico Integrado em Informática

(%)

Técnico Integrado em Administração

(%)

Subtotal (%) Total (%)

1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º

Conhecimento socializados entre parentes e/ou amigos

7,5 10,0 10,0 15,0 40,0 25,0 10,0 20,0 10,0 10,0 18,0 16,0 14,7

Informações veiculadas pela internet

2,5 16,7 0,0 5,0 10,0 20,0 10,0 0,0 0,0 4,3 12,0 8,0 8,1

Informações veiculadas por livros didáticos

5,0 13,3 0,0 5,0 0,0 15,0 20,0 0,0 0,0 7,1 8,0 6,0 7,0

Informações veiculadas por jornais e/ou revistas

0,0 6,7 0,0 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 10,0 1,4 4,0 2,0 2,5

Casos dessas doenças vivenciados na família

45,0 3,3 25,0 15,0 0,0 15,0 30,0 30,0 20,0 34,3 8,0 20,0 20,8

Outros 0,0 0,0 10,0 5,0 0,0 10,0 20,0 0,0 10,0 4,3 0,0 10,0 4,8

Não respondeu 22,5 6,7 10,0 15,0 0,0 0,0 0,0 10,0 0,0 17,1 6,0 4,0 9,0

*O somatório dos percentuais de cada série, subtotal ou total, ultrapassa 100% uma vez que o mesmo estudante pode ter mencionado mais de uma classifi cação de resposta.

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continuação da Tabela 5

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54 Carvalho e MalafaiaO QUE ADOLESCENTES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SABEM SOBRE PARASITOSES INTESTINAIS?

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