O Que e Filosofia Deleuze

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    Gilles Deleuze Flix Guattari

    O QUE A FILOSOFIA?Traduo Beto !rado "r# e Al$erto Aloso %uoz

    &oleo T'A(S

    Editora )*+

    Talvez s possamos colocar a questo O que a filosofia? tardiamente, quando chega a velhice, e ara de falar concretamente. De fato, a bibliografia muito magra. sta uma questo que enfrentamosma agita!o discreta, " meia#noite, quando nada mais resta a perguntar. $ntigamente ns a formul%vamos,o dei&%vamos de formul%#la, mas de maneira muito indireta ou obl'qua, demasiadamente artificial, abstratamais( e&p)nhamos a questo, mas dominando#a pela rama, sem dei&ar#nos engolir por ela. *ot%vamos suficientemente sbrios. T'nhamos muita vontade de fazer filosofia, no nos pergunt%vamos o quea era, salvo por e&erc'cio de estilo( no t'nhamos atingido este ponto de no#estilo em que se pode dizerfim+ mas o que isso que fiz toda a minha vida? % casos em que a velhice d%, no uma eterna -uventudeas, ao contr%rio, uma soberana liberdade, uma necessidade pura em que se desfruta de um momento dea!a entre a vida e a morte, e em que todas as pe!as da m%quina se combinam para enviar ao porvir um

    !o que atravesse as eras...Gilles Deleuze e Flix Guattari

    ode#se falar, ho-e, de um profundo mal#estar na filosofia. /m pouco por toda parte encontramos apresso de uma espcie de desencanto+ como se a filosofia passasse, como um todo, por um processo denaliza!o. rocesso que no indiferente " hegemonia crescente da filosofia escolar ou universit%ria, "viliza!o do papel0 que fustigavam, nela identificando sintoma de decad1ncia, pensadores to diferentesmo 2ittgenstein e 3erleau#ont4. or contraste, tanto maior o prazer, cada vez mais raro, de ler um beloro de filosofia, como o caso desta obra de 5illes Deleuze e 6li& 5uattari.

    $ qualidade do livro transparece -% na originalidade de seu estilo alegre. $ gravidade da questo, queo uma questo preliminar ou retrica, no e&clui o humor 7 antes o e&ige. *em poderia ser de outra

    aneira, quando abandonamos a esfera tcnica da an%lise conceituai, para mergulhar na tarefa propriamenteosfica da constru!o conceituai.

    8% no primeiro cap'tulo, o leitor tem acesso ao ponto de vista cr'tico que est% na raiz da virul1ncia destancep!o e desta pr%tica da filosofia. $rrisquemos uma frmula+ no h% nenhum solo pr#filosfico,scept'vel de determina!o positiva, se-a a linguagem comum, se-a o 9ebens:elt, que possa servir de panofundo ou de guia para a an%lise conceituai. $ inven!o ou a produ!o dos conceitos remete " instaura!oum 0plano de iman1ncia0 que, podendo embora ser caracterizado como 0pr#filosfico0, no dei&a de ser

    ntempor;neo e indissoci%vel dessa inven!o e dessa produ!o. De alguma maneira e inesperadamente, a

    fera do pr#filosfico se revela como pos'#filosfica. O cho se abre sob nossos ps e e&perimentamos artigem do pensamento.

    3as, sobretudo, essa radiografia da filosofia, atravs das no!

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    O que este livro nos oferece a compreenso do que h% de vertiginoso na filosofia 7 mas tambm, eguindo o mesmo movimento de pensamento, do que h% de vertiginoso na ci1ncia e na arte. 6ilosofia,

    1ncia e arte so planos irredut'veis, mas podem ser e&plorados segundo uma mesma estratgia( "s tr1sst;ncias da instaura!o filosfica, correspondero inst;ncias simtricas da instaura!o art'stica e cient'fica+ano de iman1ncia da filosofia, plano de composi!o da arte, plano de refer1ncia ou de coordena!o da

    1ncia( forma do conceito, for!a da sensa!o, fun!o de conhecimento( conceitos e personagensnceituais, sensa!vens, por e&emplo,stura seu riso com o da bru&a no vento solto. O mesmo ocorre na filosofia, a r'tica do -u'zo de =ant uma

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    ra de velhice, uma obra desatada atr%s da qual no cessaro de correr

    f. /oeuvre ultime, de zanne " Dubuffet, 6ondation 3aeght,

    ef%cio de 8ean#9ouis rat.

    Farbris, hateaubriand, d. 9arousse+ 0Cance, livro sobre a velhice como valor imposs'vel, um livrocrito contra a velhice no poder+ um livro de ru'nas universais em que s se afirma o poder da escrita0.

    G H

    us descendentes+ toil.is .is faculdades do esp'rito ultrapassam seus limites, estes mesmos limites que =antha fi&ado to cuidadosamente em seus livros de maturidade.

    *s no podemos aspirar a um tal estatuto. Iimplesmente chegou a hora, para ns, de perguntar oe a filosofia. *unca hav'amos dei&ado de faz1#lo, e -% t'nhamos a resposta que no variou+ a filosofia ate de formar, de inventar, de fabricar conceitos. 3as no seria necess%rio somente que a respostaolhesse a questo, seria necess%rio tambm que determinasse uma hora, uma ocasio, circunst;ncias,isagens e personagens, condi!

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    neralizado+ o agPn@Q. J prprio da amizade conciliar a integridade da ess1ncia e a rivalidade dosetendentes. *o uma tarefa grande demais?

    O amigo, o amante, o pretendente, o rival so determina!dias, mas tinha sido necess%rio, antes, que ele criasse o conceito de >dia. ue valeria um

    sofo do qual se pudesse dizer+ ele no criou um conceito, ele no criou seus conceitos?Bemos ao menos o que a filosofia no + ela no contempla!o, nem refle&o, nem comunica!o,

    esmo se ela pPde acreditar ser ora uma, ora outra coisa, em razo da capacidade que toda disciplina temengendrar suas prprias ilus

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    vez dos gregos, mas estes dela desconfiavam de tal maneira, e a faziam sofrer um tratamento to rude,e o conceito era antes como o p%ssaro#solilquio#irPnico que sobrevoava o campo de batalha das opinidia filosfica, mas tambm

    m que consistem as outras >dias criadoras que no so conceitos, que pertencem "s ci1ncias e "s artes,e t1m sua prpria histria e seu prprio devir, e suas prprias rela!

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    rque a cidade, ao contr%rio dos imprios ou dos stados, inventa o agPn como regra de uma sociedade demigos0, a comunidade dos homens livres enquanto rivais @cidados. J a situa!o constante que descreveato+ se cada cidado aspira a alguma coisa, ele encontra necessariamente rivais, de modo que neces#

    AV H

    rio poder -ulgar acerca do bem#fundado das pretens

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    chelling e egel. egel definiu poderosamente o conceito pelas 6iguras de sua cria!o e os 3omentos dea autoposi!o+ as figuras tornaram#se perten!as do conceito, porque constituem o lado sob o qual onceito criado por e na consci1ncia, por meio da sucesso de esp'ritos, enquanto os momentos erigem otro lado, pelo qual o conceito se p

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    contr%rio. $ ordem mudou, do mesmo modo que a natureza dos conceitos ou que os problemas aos quaissup

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    rnariam incompreens'veis, e no cessar'amos de nos chocar contra as coisas, o poss'vel tendosaparecido. Ou ao menos, filosoficamente, seria necess%rio encontrar uma outra razo pela qual ns nos chocamos... J assim que, a partir de um plano determin%vel, se passa de um conceito a um outro, por

    ma espcie de ponte+ a cria!o de um conceito de Outrem, com tais componentes vai levar " cria!o de umvo conceito de espa!o perceptivo, com outros componentes, a determinar @no se chocar, ou no seocar demais, far% parte de seus componentes.

    artimos de um e&emplo bastante comple&o. omo fazer de outra maneira, -% que no h% conceitomples? O leitor pode partir de qualquer e&emplo, a seu gosto. *s acreditamos que dele decorrero asesmas conseqX1ncias concernentes " natureza do conceito ou ao conceito de conceito. m primeiro lugar,da conceito remete a outros conceitos, no somente em sua histria, mas em seu devir ou suas cone&

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    O conceito , portanto, ao mesmo tempo absoluto e relativo+ relativo a seus prprios componentes, aostros conceitos, ao plano a partir do qual se delimita, aos problemas que se supa *ature, [AE.

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    osofia. 3edem#se os conceitos por uma gram%tica 0filosfica0 que os substitui por proposi!

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    nsist1ncia. uanto ao outro aspecto, enuncia!o de cria!o ou de assinatura, certo que as proposi!

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    0provas0 da e&ist1ncia de Deus como acontecimento infinito, a terceira @prova ontolgica assegurando ochamento do conceito, mas tambm lan!ando, por sua vez, uma ponte ou uma bifurca!o na dire!o de umnceito de e&tenso, porquanto garante o valor ob-etivo de verdade das outras idias claras e distintas dee dispomos.

    uando nos perguntamos+ h% precursores do cogito?, queremos dizer+ h% conceitos assinados porsofos anteriores, que teriam componentes semelhantes ou quase id1nticos, mas onde faltaria um, ou entoe acrescentariam outros, de tal maneira que um cogito no chegaria a cristalizar#se, os componentes noincidindo ainda em um eu? Tudo parecia pronto e todavia algo faltava. O conceito anterior remetia talvez a

    m outro problema, diferente daquele do cogito @ preciso uma muta!o de problema para que o cogitortesiano apare!a, ou mesmo se desenrolava sobre um outro plano. O plano cartesiano consiste emcusar todo pressuposto ob-etivo e&pl'cito, em que cada conceito remeteria a outros conceitos @por e&emplo,homem animal#racional. le e&ige somente uma compreenso pr#filosfica, isto , pressupostos impl'citossub-etivos+ todo mundo sabe o que quer dizer pensar, ser, eu @sabe#se fazendo#o, sendo ou dizendo#o. J

    ma distin!o muito nova. sse plano e&ige um conceito primeiro que no deve pressupor nada de ob-etivo.e modo que o problema + qual o primeiro conceito sobre este plano, ou por qual come!ar para determinarverdade como certeza sub-etiva absolutamente pura? Tal o cogito. Os outros conceitos poderonquistar a ob-etividade, mas com a condi!o de serem ligados por pontes ao primeiro conceito, desponderem a problemas su-eitos "s mesmas condi!

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    nstatar que um conceito se esvanece, perde seus componentes ou adquire outros

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    vos que o transformam, quando mergulhado em um novo meio. 3as aqueles que criticam sem criar,ueles que se contentam em defender o que se esvanesceu sem saber dar#lhe for!as para retornar " vida,

    es so a chaga da filosofia. Io animados pelo ressentimento, todos esses discutidores, essesmunicadores. les no falam seno deles mesmos, confrontando generalidades vazias. $ filosofia temrror a discussdias, e h% >dia de me se h% uma me que no outra coisa seno me @que noria sido filha por sua vez, ou p1lo, que no outra coisa seno p1lo @e no cilicium tambm. st%tendido que as coisas, ao contr%rio, so sempre diferentes daquilo que elas so+ no melhor dos casos, elaso possuem portanto a qualidade seno secundariamente, no podem seno aspirar " qualidade, e somente medida em que elas participam da >dia. nto o conceito de >dia tem os seguintes componentes+ aalidade possu'da ou por possuir( a >dia que possui primordialmente, como imparticip%vel( o que aspira "alidade, e no pode possu'#la a no ser secundariamente, terciariamente, quatern%ria#mente...( a >diarticipada, que -ulga as pretensdia+ uma pretenso no estar% fundada a no ser por uma vizinhan!a, uma maior menor pro&imidade que se 0teve0 com rela!o " >dia, no sobrevPo de um tempo sempre anterior,cessariamente anterior. O tempo sob esta forma de anterioridade pertence ao conceito, ele como que suana. Ieguramente no neste plano grego, sobre este solo platPnico, que o cogito pode eclodir. nquanto

    bsistir a pree&ist1ncia da >dia @mesmo " maneira crist dos arqutipos no entendimento de Deus, o cogitoder% ser preparado, mas no levado a cabo. ara que

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    escartes crie este conceito, ser% necess%rio que 0primeiro0 mude singularmente de sentido, tome um sentidob-etivo, e que toda diferen!a de tempo se anule entre a idia e a alma que a forma enquanto su-eito @dondemport;ncia da observa!o de Descartes contra a reminisc1ncia, quando diz que as idias inatas no sontes0, mas 0ao mesmo tempo0 que a alma. Ier% necess%rio que se chegue a uma instantaneidade donceito, e que Deus crie at as verdades. Ier% necess%rio que a pretenso mude de natureza+ oetendente cessa de receber a filha das mos de um pai para dev1#la apenas a suas prprias proezasvalheirescas..., a seu prprio mtodo. $ questo de saber se 3alebranche pode reativar componentes

    atPnicos num plano autenticamente cartesiano, e a que pre!o, deveria ser analisada deste ponto de vista.as quer'amos apenas mostrar que um conceito tem sempre componentes que podem impedir a apari!o dem outro conceito, ou, ao contr%rio, que s podem aparecer ao pre!o do esvanecimento de outros conceitos.ntretanto, nunca um conceito vale por aquilo que ele impede+ ele s vale por sua posi!o incompar%vel ea cria!o prpria.

    Iuponhamos que se acrescente um componente a um conceito+ prov%vel que ele estoure, ouresente uma muta!o completa, implicando talvez um outro plano, em todo caso outros problemas. J o

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    so do cogito Yantiano. Iem d)vida =ant construiu um plano 0transcendental0 que torna a d)vida in)til euda tambm a natureza dos pressupostos. 3as em virtude desse plano que ele pode declarar que se 0eunso0 uma determina!o que implica a este t'tulo uma e&ist1ncia indeterminada @0eu sou0, nem por issobemos como este indeterminado se torna determin%vel, nem portanto sob qual forma ele aparece comotermina#

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    . =ant 0critica0, pois, Descartes por ter dito+ eu sou uma subst;ncia pensante, -% que nada funda uma taletenso do u. =ant e&ige a introdu!o de um novo componente no cogito, aquele que Descartes tinhacusado+ precisamente o tempo, pois somente no tempo que minha e&ist1ncia indeterminada se torna

    termin%vel. 3as eu no sou determinado no tempo, a no ser como eu passivo e fenomenal, sempreet%vel, modific%vel, vari%vel. is que o cogito apresenta agora quatro componentes+ eu penso e, por isso,u ativo( eu tenho uma e&ist1ncia( portanto esta e&ist1ncia no determin%vel seno no tempo como aquela um eu passivo( eu sou, pois, determinado como um eu passivo que se representa necessariamente suapria atividade pensante como um Outro que o afeta. *o um outro su-eito, antes o su-eito que se torna

    m outro... J a via de uma converso do eu em outrem? /ma prepara!o do 0u um outro0? J uma novanta&e, com outras ordenadas, outras zonas de indiscernibilidade asseguradas pelo esquema, depois pelaec!o de si por si, que tornam insepar%veis o u @8e e o 3im @3oi. ue =ant 0critique0 Descartes significamente que tra!ou um plano e construiu um problema que no podem ser ocupados ou efetuados pelogito cartesiano. Descartes tinha criado o cogito como conceito, mas e&pulsando o tempo como forma deterioridade para fazer dele um simples modo de sucesso que remete " cria!o cont'nua. =ant reintroduz o

    mpo no cogito, mas um tempo inteiramente diferente daquele da anterioridade platPnica. ria!o denceito. le faz do tempo um componente de um novo cogito, mas sob a condi!o de fornecer por sua vez

    m novo conceito do tempo+ o tempo torna#se forma de inferioridade, com tr1s componentes, sucesso, masmbm simultaneidade e

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    rman1ncia. O que implica, ainda, um novo conceito de espa!o, que no pode mais ser definido pelamples simultaneidade, e se torna forma de e&terioridade. J uma revolu!o consider%vel. spa!o, tempo, unso, tr1s conceitos originais ligados por pontes que so outras tantas encruzilhadas. /ma saraivada devos conceitos. $ histria da filosofia no implica somente que se avalie a novidade histrica dos conceitosados por um filsofo, mas a pot1ncia de seu devir quando eles passam uns pelos outros.

    m toda parte reencontramos o mesmo estatuto pedaggico do conceito+ uma multiplicidade, umaperf'cie ou um volume absolutos, auto#referentes, compostos de um certo n)mero de varia!

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    nceitos secund%rios, por si mesmos e&angues. O conceito filosfico no se refere ao vivido, pormpensa!o, mas consiste, por sua prpria cria!o, em erigir um acontecimento que sobrevoe todo o vivido,m como qualquer estado de coisas. ada conceito corta o acontecimento, o recorta a sua maneira. $andeza de uma filosofia avalia#se pela natureza dos acontecimentos aos quais seus conceitos nosnvocam, ou que ela nos torna capazes de depurar em conceitos. ortanto, necess%rio e&perimentar emus m'nimos detalhes o v'nculo )nico, e&clusivo, dos conceitos com a filosofia como disciplina criadora. Onceito pertence " filosofia e s a ela pertence.

    5illes#5aston 5ranger, our >a connaissance philosophique, d. Odile 8acob, cap. B>.

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    !lao de I-a30ia

    Os conceitos filosficos so totalidades fragment%rias que no se a-ustam umas "s outras, -% que suasrdas no coincidem. les nascem de lances de dados, no comp

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    ano no tem outras regi

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    solvida progressivamente.

    J essencial no confundir o plano de iman1ncia e os conceitos que o ocupam. todavia os mesmosementos

    Iobre estes dinamismos, cf. 3ichel ourthial, 9e visage, no prelo.

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    dem aparecer duas vezes, sobre o plano e no conceito, mas #-amais sob os mesmos tra!os, mesmoando se e&primem nos mesmos verbos e nas mesmas palavras+ -% o vimos quanto ao ser, ao pensamento, /no( eles entram em componentes de conceito e so eles mesmos conceitos, mas de uma maneira to

    erente que no pertencem ao plano como imagem ou matria. >nversamente, o verdadeiro sobre o planoo pode ser definido seno por um 0voltar#se na dire!o de...0, ou 0aquilo em cu-a dire!o o pensamento selta0( mas no dispomos assim de nenhum conceito de verdade. Ie o prprio erro um elemento de direitoe faz parte do plano, ele consiste somente em tomar o falso pelo verdadeiro @cair, mas s recebe umnceito se so determinados seus componentes @por e&emplo, segundo Descartes, os dois componentes de

    m entendimento finito e de uma vontade infinita. Os movimentos ou elementos do plano no parecero poisno defini!

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    condidos, pouco percept'veis, inerentes " empresa. recisamente porque o plano de iman1ncia pr#osfico, e -% no opera com conceitos, ele implica uma espcie de e&perimenta!o tateante, e seu tra!adocorre a meios pouco confess%veis, pouco racionais e razo%veis. Io meios da ordem do sonho, dosocessos patolgicos, das e&peri1ncias esotricas, da embriaguez ou do e&cesso. orremos em dire!o aorizonte, sobre o plano de iman1ncia( retornamos dele com olhos vermelhos, mes#

    6ran!ois 9aruelle desenvolve uma das tentativas mais interessantes da filosofia contempor;nea+ invocam /no#Todo que qualifica de 0no#filosfico0 e, estranhamente, de 0cient'fico0, sobre o qual se enra'za aeciso filosfica0. ste /no#Todo parece pr&imo de spinosa. f. hilosophie et non#philosopbie, d.ardaga.

    tienne Iouriau publicou em AGKG /instauration pbilosophique, d. $lcan+ sens'vel " atividade criadoram filosofia, ele invoca uma espcie de plano de instaura!o como solo desta cria!o, ou 0filosofema0,imado de dinamismos @pp. E#K.

    MU H

    o se so os olhos do esp'rito. 3esmo Descartes tem seu sonho. ensar sempre seguir a linha de fuga doo da bru&a. or e&emplo, o plano de iman1ncia de 3ichau&, com seus movimentos e suas velocidadesinitas, furiosas. O mais das vezes, esses meios no aparecem no resultado, que deve ser tomado em siesmo e calmamente. 3as ento 0perigo0 toma um outro sentido+ trata#se de conseqX1ncias evidentes,ando a iman1ncia pura suscita, na opinio, uma forte reprova!o instintiva, e a natureza dos conceitosados ainda vem redobrar a reprova!o. J que no pensamos sem nos tornarmos outra coisa, algo que no

    nsa, um bicho, um vegetal, uma molcula, uma part'cula, que retornam sobre o pensamento e o relan!am.O plano de iman1ncia como um corte do caos e age como um crivo. O que caracteriza o caos, com

    eito, menos a aus1ncia de determina!a pense grecque, ./.6., pp. ANM#AEM.

    E H

    lado da sociedade dos amigos tal como ela se apresenta atravs de suas rivalidades mais loucas, maisolentas. estas duas determina!

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    mpdocles, 6ilia que o tra!a, mesmo se ela no retorna sobre mim sem dobrar o ^dio como o movimentornado negativo que testemunha uma sub#transcend1ncia do caos @o vulco e uma sobre#transcend1ncia dem deus. ode ser que os primeiros filsofos, e sobretudo mpdocles, tenham ainda o ar de sacerdotes ouesmo de reis. les se apropriam da m%scara do s%bio, e, como diz *ietzsche, como a filosofia no sesfar!aria em seus primrdios? mesmo, poder% ela -amais prescindir dos disfarces? Ie a instaura!o daosofia se confunde com a suposi!o de um plano pr#filo#sfico, como a filosofia no tiraria proveito dissora pPr uma m%scara? Cesta que os primeiros filsofos tra!am um plano, que movimentos ilimitados nossam de percorrer, sobre duas faces, das quais uma determin%vel como h4sis, na medida em que d%

    ma matria ao Ier, e a outra como *oXs, enquanto d% uma imagem ao pensamento. J $na&imandro queva ao maior rigor a distin!o das duas faces, combinando o movimento das qualidades com a pot1ncia de

    m horizonte absoluto, o $peiron ou o >limitado, mas sempre sobre o mesmo plano. O filsofo opera um vastoqXestro da sabedoria, ele a pE%!LO III

    ode#se apresentar toda a histria da filosofia do ponto de vista da instaura!o de um plano dean1ncia? Distinguir#se#iam ento os fisicalistas, que insistem sobre a matria do Ier, e os noologistas,bre a ima#

    A H

    m do pensamento. 3as um risco de confuso surge muito r%pido+ em vez de o plano de iman1ncia, eleesmo, constituir esta matria do Ier ou esta imagem do pensamento, a iman1ncia que seria remetida a

    go que seria como um 0dativo0, 3atria ou sp'rito. J o que se torna evidente com lato e seuscessores. m vez de um plano de iman1ncia constituir o /no#Todo, a iman1ncia est% 0no0 /no, de tal modoe um outro /no, desta vez transcendente, se superp

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    zendo isso, =ant encontra a maneira moderna de salvar a transcend1ncia+ no mais a transcend1ncia dem $lgo, ou de um /no superior a toda coisa @contempla!o, mas a de um Iu-eito ao qual o campo dean1ncia atribu'do por pertencer a um eu que se representa necessariamente um tal su-eito @refle&o. Oundo grego, que no pertencia a ningum, se torna cada vez mais a propriedade de uma consci1ncia crist.

    3ais um passo ainda+ quando a iman1ncia se torna imanente 0a0 uma sub-etividade transcendental, seio de seu prprio campo que deve aparecer a marca ou a cifra de uma transcend1ncia, como ato quemete agora a um outro eu, a uma outra consci1ncia @comunica!o. J o que se passa com usserl e comuitos de seus sucessores, que descobrem no Outro ou na arne o trabalho de toupeira do transcendente napria iman1ncia. usserl concebe a iman1ncia como a de um flu&o do vivido na sub-etividade, mas comodo este vivido, puro e mesmo selvagem, no pertence inteiramente ao eu que a representa para si, nasgi

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    H

    movimento infinito de uma matria que no p%ra de se propagar e a imagem de um pensamento que nora de fazer proliferar por toda parte uma pura consci1ncia de direito @no a iman1ncia que iman1ncia0 consci1ncia, mas o inverso.

    >lus

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    constituir uma espcie de caos? esta a razo pela qual cada plano no somente folhado, masburacado, dei&ando passar essas n#voas que o envolvem e nas quais o filsofo que o tra!ou arrisca#seqXentemente a ser o primeiro a se perder. ue ha-a tantas nvoas que sobem, ns o e&plicamos pois deas

    E Firan, Ia vie et ses penses, d. *aville @ano AUEK, p. KMV.

    G H

    aneiras. $ntes de mais nada porque o pensamento no pode impedir#se de interpretar a iman1ncia comoanente a algo, grande Ob-eto da contempla!o, Iu-eito da refle&o, Outro su-eito da comunica!o+ fatalto que a transcend1ncia se-a introduzida. se no se pode escapar a isso, porque cada plano dean1ncia, ao que parece, no pode pretender ser )nico, ser O plano, seno reconstituindo o caos que devian-urar+ voc1 tem a escolha entre a transcend1ncia e o caos...

    E>E%!LO I

    uando o plano seleciona o que cabe de direito ao pensamento para fazer dele seus tra!os, intui!

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    infinito, a legitimidade ou a ilegitimidade. ertamente, encontraremos em =ant muitos desses tra!osrdados de ume, mas ao pre!o de uma profunda muta!o num novo plano ou segundo uma outra imagem.

    o sempre grandes aud%cias. O que muda de um plano de iman1ncia a um outro, quando muda a reparti!o que cabe de direito ao pensamento, no so somente os tra!os positivos ou negativos, mas os tra!os

    mb'guos, que se tornam eventualmente cada vez mais numerosos, e que no se contentam mais em dobrargundo uma oposi!o vetorial de movimentos.

    Ie tentamos, tambm sumariamente, tra!ar as linhas de uma imagem moderna do pensamento, no

    VE H

    uma maneira triunfante, mesmo que se-a no horror. *enhuma imagem do pensamento pode contentar#sem selecionar determina!.

    Q Tinguel4, cat%logo Feaubourg, AGUG.

    VQ H

    ta to grandioso, parece que a tentativa no est% ainda no ponto. *ada dan!a no *ietzsche, enquanto quenguel4 soube to bem, em outro lugar, fazer dan!ar as m%quinas. O Ichopenhauer nada nos revela decisivo, quando as quatro Ca'zes, o vu de 3a4a parecem inteiramente prontos para ocupar o plano bifacial

    3undo como vontade e como representa!o. O ei#degger no retm nenhum velamento#desvelamentobre o plano de um pensamento que no pensa ainda.

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    Talvez tivesse sido necess%rio prestar mais aten!o ao plano de iman1ncia tra!ado como m%quinastrata, e aos conceitos criados como pe!as da m%quina. oder#se#ia imaginar, neste sentido, um retrato

    aqu'nico de =ant, ilus

  • 7/26/2019 O Que e Filosofia Deleuze

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    orienta!o que s podem ser situadas diretamente sobre a imagem anterior @e mesmo para o conceito, onto de condensa!o que o determina sup

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    nceitos ensinados @o homem#animal racional, enquanto o pensador privado forma um conceito com for!asatas que cada um possui de direito por sua conta @eu penso. is um tipo muito estranho de personagem,uele que quer pensar e que pensa por si mesmo, pela 0luz natural0. O idiota um personagem conceituai.

    odemos dar mais preciso " questo+ h% precursores do cogito? De onde vem o personagem do idiota,mo ele apareceu, seria numa atmosfera crist, mas em rea!o contra a organiza!o 0escol%stica0 dostianismo, contra a or#

    UK H

    niza!o autorit%ria da >gre-a? ncontram#se tra!os dele -% em santo $gostinho? J *icolau de usa queme d% pleno valor de personagem conceituai? J a razo pela qual este filsofo estaria pr&imo do cogito, mas

    m poder ainda faz1#lo cristalizar como conceito@A. m todo caso, a histria da filosofia deve passar pelotudo desses personagens, de suas muta!

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    rdadeiros su-eitos de sua filosofia. Os personagens conceituais so os 0heterPnimos0 do filsofo, e o nome filsofo, o simples pseudPnimo de seus personagens. u no sou mais eu, mas uma aptido donsamento para se ver e se desenvolver atravs de um plano que me atravessa em v%rios lugares. Orsonagem conceitual nada tem a ver com uma personifica!o abstrata, um s'mbolo ou uma alegoria, pois

    e vive, ele insiste. O filsofo a idiossincrasia de seus personagens conceituais. o destino do filsofo deansformar#se em seu ou seus personagens conceituais, ao mesmo tempo que estes personagens sernam, eles mesmos, coisa diferente do que so historicamente, mitologicamente ou comumente @o Icrates

    lato, o Dioniso de *ietzsche, o >diota de usa. O personagem conceitual o devir ou o su-eito de umaosofia, que vale para o filsofo, de tal modo que usa ou mesmo Descartes deveriam assinar 0o >diota0,mo *ietzsche assinou 0o $nticristo0 ou 0Dioniso crucificado0. Os atos de fala na vida comum remetem a

    os psicossociais, que testemunham de fato uma terceira pessoa sub-acente+ eu decreto a mobiliza!oquanto presidente da rep)blica, eu te falo enquanto pai... >gualmente, o d1ictico filosfico um ato de

    U H

    a em terceira pessoa, em que sempre um personagem conceituai que diz u+ eu penso enquanto >diota, quero enquanto Zaratustra, eu dan!o enquanto Dioniso, eu aspiro enquanto $mante. 3esmo a dura!orgsoniana precisa de um corredor. *a enuncia!o filosfica, no se faz algo di#. zendo#o, mas faz#se o

    ovimento pensando#o, por intermdio de um personagem conceituai. $ssim, os personagens conceituaiso verdadeiros agentes de enuncia!o. uem u? sempre uma terceira pessoa.

    >nvocaremos *ietzsche, porque poucos filsofos operaram tanto com personagens conceituais,mp%ticos @Dioniso, Zaratustra ou antip%ticos @risto, o Iacerdote, os omens superiores, o prpriocrates tornado antip%tico.... oder'amos acreditar que *ietzsche renuncia aos conceitos. Todavia ele criaensos e intensos conceitos @0for!as0, 0valor0, 0devir0, 0vida0, e conceitos repulsivos como 0ressentimento0,

    m% consci1ncia0..., bem como tra!a um novo plano de iman1ncia @movimentos infinitos da vontade det1ncia e do eterno retorno que subvertem a imagem do pensamento @cr'tica da vontade de verdade. 3as

    mais nele os personagens conceituais implicados permanecem subentendidos. J verdade que suaanifesta!o por si mesma suscita uma ambigXidade, que faz com que muitos leitores considerem *ietzschemo um poeta, um taumaturgo ou um criador de mitos. 3as os personagens conceituais, em *ietzsche e

    hures, no so personifica!

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    ofundamente a e&ist1ncia de personagens conceituais no cora!o da filosofia( mas ele os define numgodrama0 ou numa 0figurologia0 que p

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    pirituais 7 no somente relativas, mas absolutas, num sentido a determinar mais tarde? ual a %tria ouho *atal invocados pelo pensador, filsofo ou artista? $ filosofia insepar%vel de um ho *atal, do qualo testemunho tambm o a priori, o inato ou a reminisc1ncia. 3as por que esta p%tria desconhecida,rdida, esquecida, fazendo do pensador um &ilado? O que que vai lhe devolver um equi#

    GA H

    lente de territrio, como valendo um lar? uais sero os ritornelos filosficos? ual a rela!o donsamento com a Terra? Icrates, o $teniense que no gosta de via-ar, guiado por arm1nides de liaando -ovem, substitu'do pelo strangeiro quando envelheceu, como se o platonismo tivesse necessidade dois personagens conceituais pelo menos@. ue espcie de estrangeiro h% no filsofo, com seu ar de

    tornar do pa's dos mortos? Os personagens conceituais t1m este papel, manifestar os territrios,sterritorializa!diota,uele que quer pensar por si mesmo, e um personagem que pode mudar, tomar um outro sentido. 3as

    mbm um 9ouco, uma espcie de louco, pensador catalptico ou 0m)mia0 que descobre, no pensamento,ma impot1ncia para pensar. Ou ento um grande man'aco, um delirante, que procura o que precede onsamento, um 8%#$', mas no seio do prprio pensamento... Tem#se freqXentemente

    GK H

    ro&imado a filosofia e a esquizofrenia( mas, num caso, o esquizofr1nico um personagem conceituai queve intensamente no pensador e o for!a a pensar, no outro um tipo psicossocial que reprime o vivo e lheuba seu pensamento. os dois, por vezes, se con-ugam, se enla!am como se, a um acontecimento forte

    mais, respondesse um estado vivido por demais dif'cil de suportar.% tra!os relacionais+ 0o $migo0, mas um amigo que s tem rela!o com seu amigo atravs de uma

    isa amada portadora de rivalidade. Io o 0retendente0 e o 0Cival0, que disputam a coisa ou o conceito,as o conceito precisa de um corpo sens'vel inconsciente, adormecido, o 08ovem0 que se acrescenta aosrsonagens conceituais. *o estamos -% sobre um outro plano, pois o amor como a viol1ncia que for!a ansar, 0Icrates amante0, ao passo que a amizade pediria somente um pouco de boa vontade? comopedir uma 0*oiva0 de assumir, por sua vez, o papel de personagem conceituai, com o risco de perd1#la,

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    as no sem que o prprio filsofo 0se torne0 mulher? omo diz =ierYegaard @ou =leist, ou roust, no valema mulher mais do que o amigo competente? que acontece se a prpria mulher se torna filsofa, ou entom 0casal0, que seria interior ao pensamento e faria de 0Icrates casado0 o personagem conceituai? $enos que se-amos reconduzidos ao 0$migo0, mas depois de uma prova!o forte demais, uma cat%strofediz'vel, portanto em mais um novo sentido, num m)tuo desamparo, numa m)tua fadiga que formam umvo direito do pensamento @Icrates tornado -udeu. *o dois amigos, que comunicam e se relembramn-untamente, mas passam ao contr%rio por uma amnsia ou uma afasia capazes de fender o pensamento,dividi#lo em si mesmo. Os personagens proliferam e bifurcam, se chocam, se substituem...@V.

    *o se busque aqui seno alus

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    nascemos como -ardim p)blico ou zoolgico.

    E>E%!LO I

    3esmo as ilus

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    bre o plano, como para tra!ar o prprio plano, mas as duas opera!magina!o " inven!o dos personagens, ntendimento " cria!o de conceitos, o gosto

    arece como a tripla faculdade do conceito ainda indeterminado, do personagem ainda nos limbos, do planonda transparente. J por isso que necess%rio criar, inventar, tra!ar, mas o gosto como que a regra derrespond1ncia das tr1s inst;ncias que diferem em natureza. *o certamente uma faculdade de medida.

    o se encontrar% nenhuma medida nestes movimentos infinitos que comp

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    *o original, aplat @*. dos T..

    ANE H

    o tempo, o respeito necess%rio a sua apro&ima!o, a longa espera pela qual necess%rio passar, masmbm a cria!o sem limite que as faz e&istir. O mesmo ocorre com o gosto dos conceitos+ o filsofo s sero&ima do conceito indeterminado com temor e respeito, hesita muito em se lan!ar, mas s podeterminar o conceito criando#o sem medida, um plano de iman1ncia tendo como )nica regra que tra!a emo )nico compasso os personagens estranhos que ele faz viver. O gosto filosfico no substitui a cria!oconceitos, nem a modera, , ao contr%rio, a cria!o de conceitos que faz apelo a um gosto que a modula.

    livre cria!o de conceitos determinados precisa de um gosto do conceito indeterminado. O gosto esta

    t1ncia, este ser#em#pot1ncia do conceito+ no certamente por raz, p. KM. *ietzsche invoca freqXentemente um gosto filosfico, e fazrivar o s%bio de 0sapere0 @0sa#piens0, o degustador, 0sis4phos0, o homem de gosto e&tremamente 0sutil0+ 9aissance de >a philosophie, 5allimard, p. Q.

    ANK H

    omo os conceitos no so proposicionais, eles no podem remeter a problemas que concerniriam "sndi!

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    m Descartes, em 9eibniz..., -% que o problema somente decalcado das proposi!

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    rsonagem que valha a pena. I os professores podem pPr 0errado0 " margem, e...( mas os leitores podemr ainda assim d)vidas sobre a import;ncia e o interesse, isto , a novidade do que se lhes d% para ler. Iotegorias do sp'rito. /m grande personagem romanesco deve ser um Original, um nico, dizia 3elville( umrsonagem conceituai tambm. 3esmo antip%tico, ele deve ser not%vel( mesmo repulsivo, um conceito dever interessante. uando *ietzsche constru'a o conceito de m% consci1ncia, podia ver nele o que h% de maisqueroso no mundo, nem por isso gritava menos+ a' que o homem come!a a se tornar interessante, ensiderava, com efeito, que acabava de criar um novo conceito para o homem, que convinha ao homem, ema!o com o novo personagem conceituai @o sacerdote e com uma nova imagem do pensamento @antade de pot1ncia apreendida sob o tra!o negativo do niilismo...@AK.

    $ cr'tica implica novos conceitos @da coisa criticada, tanto quanto a cria!o mais positiva. Osnceitos devem ter contornos irregulares, moldados sobre sua matria viva. ue desinteressante portureza? Os conceitos inconsistentes, o que *ietzsche chamava de os 0informes e fluidos borra morale, >, [ .

    ANU H

    ra? Os conceitos mais universais, os que so apresentados como formas ou valores eternos so, destento de vista, os mais esquelticos, os menos interessantes. *o fazemos nada de positivo, mas tambmda no dom'nio da cr'tica ou da histria, quando nos contentamos em agitar velhos conceitos estereotipadosmo esqueletos destinados a intimidar toda cria!o, sem ver que os antigos filsofos, de que so

    mprestados, faziam -% o que se queria impedir os modernos de fazer+ eles criavam seus conceitos e no sententavam em limpar, em raspar os ossos, como o cr'tico ou o historiador de nossa poca. 3esmo astria da filosofia inteiramente desinteressante se no se propuser a despertar um conceito adormecido, aan!%#lo numa nova cena, mesmo a pre!o de volt%#lo contra ele mesmo.

    ANG H

    eo,8iloso8ia

    O su-eito e o ob-eto oferecem uma m% apro&ima!o do pensamento. ensar no nem um fiotendido entre um su-eito e um ob-eto, nem uma revolu!o de um em torno do outro. ensar se faz antes naa!o entre o territrio e a terra. =ant menos prisioneiro que se acredita das categorias de ob-eto e de-eito, -% que sua idia de revolu!o copernicana p

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    rticalmente, segundo um componente celeste da terra. O territrio tornou#se terra deserta, mas umstrangeiro celeste vem refundar o territrio ou reterritorializar a terra. *a cidade, ao contr%rio, asterritorializa!o de iman1ncia+ ela libera um $utctone, isto , uma pot1ncia da terra que segue ummponente mar'timo, que passa por sob as %guas para refundar o territrio @o recteion, templo de $tena eoseidon. J verdade que as coisas so mais complicadas, porque o strangeiro imperial tem ele prprio

    cessidade de autctones sobreviventes, e que o $utctone cidado apela a estrangeiros em fuga 7 mas,stamente, no so de modo algum os mesmos tipos psicos#sociais, do mesmo modo que o polite'smo deprio e o po#lite'smo da cidade no so as mesmas figuras religiosas@A.

    Dir#se#ia que a 5rcia tem uma estrutura fractal, to pr&imo do mar est% cada ponto da pen'nsula, eo grande o comprimento das costas. Os povos egeus, as cidades da

    3areei Detienne renovou profundamente estes problemas+ sobre a oposi!o do strangeiro fundador e doutctone, sobre as misturas comple&as entre estes dois plos, sobre rectia, cf. 0uSest#ce quSun site?0, inaces de fondation, d. eeters. f. tambm 5iulia Iissa e 3areei Detienne, 9a vie quotidienne des dieu&ees, achette @sobre rectia, cap. R>B, e sobre a diferen!a dos dois polite'smos, cap. R.

    AAQ H

    rcia antiga, e sobretudo $tenas a autctone, no so as primeiras cidades comerciantes. 3as so asmeiras a ser ao mesmo tempo bastante pr&imas e bastante distantes dos imprios arcaicos orientais paraderem aproveitar#se deles sem seguir seu modelo+ em lugar de se estabelecer em seus poros, elasnham num novo componente, fazem valer um modo particular de desterritorializa!o, que procede por

    an1ncia, formam um meio de iman1ncia. J como um 0mercado internacional0 nas bordas do Oriente, queorganiza entre uma multiplicidade de cidades independentes ou de sociedades distintas, mas ligadas umasoutras, onde os artesos e os mercadores encontram uma liberdade, uma mobilidade que os imprios lhes

    cusam@E. sses tipos v1m da borda do mundo grego, estrangeiros em fuga, em ruptura com o imprio elonizados por $poio. *o somente os artesos e mercadores, mas os filsofos+ como diz 6a4e, preciso

    m sculo para que o nome 0filsofo0, sem d)vida inventado por er%clito de Jfeso, encontre seu correlato nalavra 0filosofia0, sem d)vida inventada por lato, o $teniense( 0sia, >t%lia, frica so as fases odisseanaspercurso que religa o philsophos " filosofia0@K. Os filsofos so estrangeiros, mas a filosofia grega. O

    e que estes emi#

    hilde, /urope prhistorique, d. a4ot, pp. AAN#AAM.

    8ean#ierre 6a4e, 9a raison narrative, d. Falland, pp. AM#AU. f. lmence Camnou&, in istoire de >ailosophie, 5allimard, >, pp. QNU#QNG+ a filosofia pr#socr%tica nasce e cresce 0na borda da %rea hel1nica talmo a coloniza!o tinha conseguido defini#la por volta do fim do sculo B>> e do in'cio do sculo B>, eecisamente l% onde os gregos enfrentaram, em rela!o de comrcio e de guerra, os reinos e os imprios doriente0, depois ganha 0o e&tremo oeste, as colPnias da Iic'lia e da >t%lia, gra!as a migra!

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    mmel, Iociologie et pistmologie, ./.6., cap. >>>.

    AA H

    m os territrios que nela se desenham ou se apagam, sua rela!o geolgica com eras e cat%strofes, suaa!o astronPmica com o cosmos e o sistema estelar do qual faz parte. 3as a desterritorializa!o soluta quando a terra entra no puro plano de iman1ncia de um pensamento 7 Ier, de um pensamento 7

    atureza com movimentos diagram%ticos infinitos. ensar consiste em estender um plano de iman1ncia quebsorve a terra @ou antes a 0adsorve0. $ desterritorializa!o de um tal plano no e&clui umaterritorializa!o, mas a afirma como a cria!o de uma nova terra por vir. Cesta que a desterritorializa!osoluta s pode ser pensada segundo certas rela!

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    m que coinseri#lo? ue conceito preciso inserir ao lado deste, e que componentes em cada um? Io asest

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    orre sobre um plano de iman1ncia que pode ser povoado de figuras tanto quanto de conceitos. ste planoiman1ncia, todavia, no e&atamente filosfico, mas pr#filosfico. le afetado pelo que o povoa, e que

    age sobre ele, de modo que s se torna filosfico sob o efeito do conceito+ suposto pela filosofia, ele no enos instaurado por ela, e se desdobra numa rela!o filosfica com a no#filosofia. *o caso das figuras, aontr%rio, o pr#filosfico mostra que o prprio plano de iman1ncia no tinha por destina!o inevit%vel umaa!o de conceito ou uma forma!o filosfica, mas podia se desdobrar em sabedorias e religiE%!LO II

    vo procurar, como egel ou eidegger, uma razo anal'tica e necess%ria que uniria a filosofia "cia. orque os gregos so homens livres, so os primeiros a captar o Ob-eto numa rela!o com o su-eito+seria o conceito, segundo egel. 3as, -% que o ob-eto permanece contemplado como 0belo0, sem que suaa!o com o su-eito se-a ainda determinada, preciso esperar os est%gios seguintes para que esta rela!o-a ela mesma refletida, depois posta em movimento ou comunicada. *o dei&a de ser verdade que osegos inventaram o primeiro est%gio, a partir do qual tudo se desenvolve interiormente ao conceito. Oriente pensava, sem d)vida, mas pensava o ob-eto em si como abstra!o pura, a universalidade vazia1ntica " simples particularidade+ faltava#lhe a rela!o com o su-eito como universalidade concreta ou comodividualidade universal. O Oriente ignora o conceito porque se contenta em fazer coe&istir o vazio mais

    strato e o ente mais trivial, sem nenhuma media!o. Todavia, no se v1 muito bem o que distingue ot%gio ante#filosfico do Oriente e o est%gio filosfico da 5rcia, -% que o pensamento grego no nsciente da rela!o com o su-eito que sup

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    egel e eidegger permanecem historicistas, na medida em que tomam a histria como uma forma deerioridade, na qual o conceito desenvolve ou desvela necessariamente seu destino. $ necessidade repousabre a abstra!o do elemento histrico tornado circular. ompreende#se mal ento a imprevis'vel cria!os conceitos. $ filosofia uma geo#filosofia, e&atamente como a histria uma geo#histria, do ponto de

    sta de Fraudel. or que a filosofia na 5rcia em tal momento? Ocorre o mesmo que para o capitalismo,gundo Fraudel+ por que o capitalismo em tais lugares e em tais momentos, por que no na hina em taltro momento, -% que tantos componentes -% estavam presentes l%? $ geografia no se contenta em

    rnecer uma matria e lugares vari%veis para a forma histrica. la no somente f'sica e humana, masental, como a paisagem. la arranca a histria do culto da necessidade, para fazer valer a irredutibilidade conting1ncia. la a arranca do culto das origens, para afirmar a pot1ncia de um 0meio0 @o que a filosofia

    contra entre os gregos, dizia *ietzsche, no uma origem, mas um meio, um ambiente, uma atmosferambiente+ o filsofo dei&a de ser um cometa.... la a arranca das estruturas, para tra!ar as linhas de fuga

    e passam pelo mundo grego, atravs do 3editerr;neo. nfim, ela arranca a histria de si mesma, parascobrir os devires, que no so a histria, mesmo quando nela recaem+ a histria da filosofia, na 5rcia,o deve esconder que os gregos sempre tiveram primeiro que se tornar filsofos, do mesmo modo que os

    sofos tiveram que se tornar gregos. O 0devir0 no histria( ho-e ainda a histria designa somente on-unto das condi!

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    ropeizar cada vez mais0, de modo que a humanidade inteira que se aparenta a si neste Ocidente, como oera ou#

    f. Falazs, 9a bureaucratie celeste, 5allimard, cap. R>>>.

    3ar&, O apital, >>>, K, conclusnde, pp. ENK#ENQ.

    A Fraudel, ivilisation tnatrielle et capitalistne, d. $rmand olin, >, pp. KGA#QNN.

    AEU Hs cidades, rolet%rio autctone ou 3igrante estrangeiro, que se lan!am no movimento infinito 7 avolu!o. *o um grito, mas dois gritos que atravessam o capitalismo e vo ao encal!o da mesmacep!o+ migrados de todos os pa'ses, uni#vos... rolet%rios de todos os pa'ses... *os dois plos do

    cidente, a $mrica e a C)ssia, o pragmatismo e o socialismo representam o retorno de /lisses, a novaciedade de irmos ou de camaradas que retoma o sonho grego e reconstitui a 0dignidade democr%tica0.

    om efeito, a cone&o da filosofia antiga com a cidade grega, a cone&o da filosofia moderna com opitalismo no so ideolgicos, e no se contentam em levar ao infinito determina!

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    afadas neste meio. $ palavra empregada pelo utopista Iamuel Futler, 0re:hon0, no remete somente ao#2here0, ou a parte#*enhuma, mas a 0*o:#ere0, aqui#agora. O que conta no a pretensa distin!o de

    m socialismo utpico e de um socialismo cient'fico( so antes os diversos tipos de utopia, dentre os quais avolu!o. % sempre, na utopia @como na filosofia, o risco de uma restaura!o da transcend1ncia, e porzes sua orgulhosa afirma!o, de modo que preciso distinguir as utopias autorit%rias ou de

    anscend1ncia, e as utopias libert%rias, revolucion%rias, imanentes@AE. 3as, -ustamente, dizer que avolu!o , ela mesma, utopia de iman1ncia no dizer que um sonho, algo que no se realiza ou que s

    realiza traindo#se. elo contr%rio, colocar a revolu!o como plano de iman1ncia, movimento infinito,brevPo absoluto, mas enquanto estes tra!os se conectam com o que h% de real aqui e agora, na luta contracapitalismo, e relan!am novas lutas sempre que a precedente tra'da. $ palavra utopia designa portanto

    ta con-un!o da filosofia ou do conceito com o meio presente+ filosofia pol'ti#E Iobre estes tipos de utopias, cf. rnst Floch, 9e pr'ncipe esperance, 5allimard, >>. os coment%rios deen Ichrer sobre a utopia de 6ourier em suas rela!

  • 7/26/2019 O Que e Filosofia Deleuze

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    quecimento e um tdio fundamentais( ns no somos mais gregos, ns somos brett%lia e a

    spanha foram os dois pa'ses ocidentais capazes de desenvolver poderosamente o conceitismo, isto , o

    mpromisso catlico do conceito e da figura, que tinha um grande valor esttico, mas mascarava a filosofia,sviava a filosofia para uma retrica e impedia uma plena posse do conceito. $ forma presente se enunciasim+ ns temos os conceitos nquanto que os gregos no os 0tinham0 ainda, e os contemplavam de longe, os pressentiam+ da' decorre a diferen!a entre a reminisc1ncia platPnica e o inatismo car#tesiano ou o aori Yantiano. 3as a posse do conceito no parece coincidir com a revolu!o, o stado democr%tico e oseitos do homem. Ie verdade que, na $mrica, a empresa filosfica do pragmatismo, to subestimada naan!a, est% em continuidade com a revolu!o democr%tica e a nova sociedade de irmos, no ocorre oesmo com a idade de ouro da filosofia francesa no sculo RB>>, nem com a >nglaterra no sculo RB>>>, nemm a $lemanha no sculo R>R. 3as isto significa somente que a histria dos homens e a histria da filosofiao t1m o mesmo ritmo. a filosofia francesa -% e&ige uma rep)blica de esp'ritos e uma capacidade densar como 0a coisa melhor partilhada0, que terminar% por se e&primir num cogito revolucion%rio( a >nglaterra

    o cessar% de refletir sobre sua e&peri1ncia revolucion%ria e ser% a primeira a perguntar por que asvolu!

  • 7/26/2019 O Que e Filosofia Deleuze

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    gito. les so sempre reterritorializados sobre a consci1ncia. $ $lemanha, pelo contr%rio, no renuncia aosoluto+ ela se serve da consci1ncia, mas como de um meio de desterri#torializa!o. la quer reconquistar o

    ano de iman1ncia grego, a terra desconhecida que ela sente agora como sua prpria barb%rie, sua prpriaarquia dei&ada aos nPmades depois da desapari!o dos gregos@AM. Tambm

    M Devemo#nos remeter "s primeiras linhas do pref%cio da primeira edi!o da r'tica da Cazo pura+ 0Orreno onde se travam os combates se chama a 3etaf'sica... *o in'cio, sob o reino dos dogm%ticos, seuder era desptico. 3as, como sua legisla!o levava ainda a marca da antiga barb%rie, esta metaf'sica caiuco a pouco, em conseqX1ncia de guerras intestinas, numa completa anarquia, e os cticos, espcies demades que t1m horror de se estabelecer definitivamente sobre uma terra, rompiam, de tempos em tempos,iame social. Todavia, como no eram felizmente seno um pequeno n)mero, eles no puderam impedirus advers%rios de tentar sempre novamente, mas de resto sem nenhum plano entre eles previamentencertado, restabelecer este liame quebrado...0. sobre a ilha da funda!o, o grande te&to da 0$nal'tica dosnc'pios0, no come!o do cap'tulo >>>. $s r'ticas no comp, p. NU+ 0Dois homens que mane-am os remos de umrco fazem#no segundo um acordo ou uma conven!o, embora -amais tenham feito promessas0.

    AKV H

    que universal no capitalismo o mercado. or oposi!o aos imprios arcaicos que operavambrecodifica!

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    almente heterog1neos, no so menos isomorfos em rela!o ao mercado mundial, enquanto este nop

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    aio#

    AQN H

    . J uma posi!o comple&a, amb'gua, a de muitos autores com rela!o " democracia. O caso eideggerio complicar as coisas+ foi necess%rio que um grande filsofo se reterritorializasse efetivamente sobre ozismo, para que os coment%rios mais estranhos se cruzassem, ora para pPr em causa sua filosofia, orara absolv1#la em nome de argumentos to complicados e alambicados que nos dei&am perturbados. *emmpre f%cil ser heideggeriano. Ter#se#ia compreendido melhor que um grande pintor, um grande m)sico'ssem assim na vergonha @mas -ustamente eles no o fizeram. recisou ter sido um filsofo, como se argonha devesse entrar na prpria filosofia. le quis reencontrar os gregos pelos alemes, no pior momento

    sua histria+ que h% de pior, dizia *ietzsche, do que se encontrar ante um alemo quando se esperava umego? omo os conceitos @de eidegger no seriam intrinsecamente maculados por uma reterritorializa!o-eta? $ menos que todos os conceitos comportem esta zona cinza e de indiscernibilidade, onde osadores se confundem um instante sobre o solo, e onde o olho cansado do pensador toma um pelo outro+o somente o alemo por um grego, mas o fascista por um criador de e&ist1ncia e de liberdade. eideggerperdeu nos caminhos da reterritorializa!o, pois so caminhos sem baliza nem parapeito. Talvez este

    oroso professor fosse mais louco do que parecia. le se enganou de povo, de terra, de sangue. ois a ra!avocada pela arte ou a filosofia no a que se pretende pura, mas uma ra!a oprimida, bastarda, inferior,%rquica, nPmade, irremediavelmente menor 7 aqueles que =ant e&clu'a das vias da nova r'tica... $rtaud

    zia+ escrever para os analfabetos 7 falar para os af%sicos, pensar para os acfalos. 3as que significaara0? *o 0com vistas a...0. *em mesmo 0em lugar de...0. J 0diante0. J uma questo de devir. O pensador

    o acfalo, af%sico ou analfabeto, mas se torna. Torna#se 'ndio, noAQA H

    ra de se tornar, talvez 0para que0 o 'ndio, que 'ndio, se torne ele mesmo outra coisa e possa escapar aa agonia. ensamos e escrevemos para os animais. Tornamo#nos animal, para que o animal tambm serne outra coisa. $ agonia de um rato ou a e&ecu!o de um bezerro permanecem presentes no pensamento,o por piedade, mas como a zona de troca entre o homem e o animal, em que algo de um passa ao outro. Jrela!o constitutiva da filosofia com a no#filosofia. O devir sempre duplo, e este duplo devir quenstitui o povo por vir e a nova terra. O filsofo deve tornar#se no#filsofo, para que a no#filosofia se torneterra e o povo da filosofia. 3esmo um filsofo to bem considerado como o bispo FerYele4 no p%ra dezer+ ns, os irlandeses, o populacho... O povo interior ao pensador, porque um 0devir#povo0, na medida

    m que o pensador interior ao povo, como devir no menos ilimitado. O artista ou o filsofo so bemcapazes de criar um povo, s podem invoc%#lo, com todas as suas for!as. /m povo s pode ser criado emfrimentos abomin%veis, e tampouco pode cuidar de arte ou de filosofia. 3as os livros de filosofia e as obrasarte cont1m tambm sua soma inimagin%vel de sofrimento que faz pressentir o advento de um povo. les

    m em comum resistir, resistir " morte, " servido, ao intoler%vel, " vergonha, ao presente.

    $ desterritorializa!o e a reterritorializa!o se cruzam no duplo devir. *o se pode mais distinguir otctone e o estrangeiro, porque o estrangeiro se torna autctone no outro que no o , ao mesmo tempoe o autctone se torna estrangeiro a si mesmo, a sua prpria classe, a sua prpria na!o, a sua prpriagua+ ns falamos a mesma l'ngua, e todavia eu no entendo voc1... Tornar#se estrangeiro a si mesmo, e aa prpria l'ngua e na!o, no prprio do filsofo e da filosofia, seu 0estilo0, o que se chama um galimatias

    osfico? m resumo, a filosofia se reterritorializaAQE H

    s vezes, uma vez no passado sobre os gregos, uma vez no presente sobre o stado democr%tico, uma vez porvir sobre o novo povo e a nova terra. Os gregos e os democratas se deformam singularmente nestepelho do porvir.

    $ utopia no um bom conceito porque, mesmo quando se op

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    est% fazendo 7 o novo, o not%vel, o interessante, que substituem a apar1ncia de verdade e que so maisigentes que ela. O que se est% fazendo no o que acaba, mas menos ainda o que come!a. $ histria noe&perimenta!o, ela somente o con-unto das condi!nternai. is um nome que gu4ecisou criar para designar um novo conceito, e os componentes, as intensidades deste conceito. no go de semelhante que um pensador, distante de gu4, tinha designado pelo nome >ntempestivo ou >natual+nvoa no#histrica que nada tem a ver com o eterno, o devir sem o qual nada se faria na histria, mas noconfunde com ela. or sob os gregos e os stados, ele lan!a um povo, uma terra, como a flecha e o disco um novo mundo que no acaba, sempre se fazendo+ 0agir contra o tempo, e assim sobre o tempo, emvor @eu espero de um tempo por vir0. $gir contra o passado, e assim sobre o presente, em favor @eupero de um porvir 7 mas o porvir no um futuro da hist#

    G gu4, lio, 5allimard, p. E#EG.

    AQQ H

    , mesmo utpico, o infinito $gora, o *)n que lato -% distinguia de todo presente, o >ntensivo ou oempestivo, no um instante, mas um devir. *o ainda o que 6oucault chamava de $tual? 3as como onceito receberia agora o nome de atual, enquanto *ietzsche o chamava de inatual? J que, para 6oucault, oe conta a diferen!a do presente e do atual. O novo, o interessante, o atual. O atual no o que somos,

    as antes o que nos tornamos, o que estamos nos tornando, isto , o Outro, nosso devir#outro. O presente,contr%rio, o que somos e, por isso mesmo, o que -% dei&amos de ser. Devemos distinguir no somente a

    rte do passado e a do presente, mas, mais profundamente, a do presente e a do atual@EN. *o que o atual-a a prefigura!o, mesmo utpica, de um porvir de nossa histria, mas ele o agora de nosso devir.

    uando 6oucault admira =ant por ter colocado o problema da filosofia no remetendo ao eterno masmetendo ao $gora, ele quer dizer que a filosofia no tem como ob-eto contemplar o eterno, nem refletir astria, mas diagnosticar nossos devires atuais+ um devir#revolucion%rio que, segundo p prprio =ant, no senfunde com o passado, o presente nem o porvir das revolu!nternai, o >ntempestivo, o $tual, eisemplos de conceitos em filosofia( conceitos e&emplares... se um chama $tual o que o outro chamava deatual, somente em virtude de uma cifra do conceito, em virtude de suas pro&imidades e componentes,-os ligeiros deslocamentos podem engendrar, como dizia gu4, a modifica!o de um problema @o

    emporalmente#terno em gu4, a ternidade do devir segundo *ietzsche, o 6ora#>nterior com 6oucault.

    AQ H

    II

    FILOSOFIA9

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    &I:(&IA L;GI&A

    E A'TE

    u0ti

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    nstituem a desacelera!o no caos ou o limiar de suspenso do infinito, que servem de endo#refer1ncia eeram uma contagem+ no so rela!E%!LO >

    J dif'cil compreender como o limite corri imediatamente o infinito, o ilimitado. todavia no a coisamitada que imp

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    m sistema de coordenadas composto de duas vari%veis independentes ao menos( mas estas entram numaa!o da qual depende uma terceira vari%vel, a t'tulo de estado de coisas ou de matria formada no sistema

    ais estados de coisas podem ser matem%ticos, f'sicos, biolgicos.... J bem o novo sentido da refer1nciamo forma da proposi!o, a rela!o de um estado de coisas ao sistema. O estado de coisas uma fun!o+uma vari%vel comple&a que depende de uma rela!o entre duas vari%veis independentes ao menos.

    $ independ1ncia respectiva das vari%veis aparece na matem%tica quando uma est% numa pot1nciaais elevada que a primeira. J por isso que egel mostra que a variabili#dade na fun!o no se contentam valores que se pode mudar @E`K e Q` nem com que se os dei&e indeterminados @a_Eb, mas e&ige que

    ma das vari%veis este-a numa pot1ncia superior @4E`&_. ois ento que uma rela!o pode seretamente determinada como rela!o diferencial d4`d&, sob a qual o valor das vari%veis no tem mais outratermina!o seno evanescer#se ou nascer, embora ele se-a e&tra'do das velocidades infinitas. De uma tala!o depende um estado de coisas ou uma fun!o 0derivada0+ fez#se uma ope#

    Iobre a instaura!o das coordenadas por *icolau Oresmo, as ordenadas intensivas e seu relacionamentom linhas e&tensivas, cf. Du#hem, 9e s4stLme du monde, d. ermann, B>>, cap. . 5illes h;telet, 09ale, le spectre, le pendule0, 9es en-eu& du mobile, no prelo+ sobre a associa!o de um 0espectro cont'nuo euma seqX1ncia discreta0 e os diagramas de Oresmo.

    AMU H

    !o de despotencia!o que permite comparar pot1ncias distintas, a partir das quais podero mesmosenvolver#se uma coisa ou um corpo @integra!o@Q. m geral, um estado de coisas no atualiza um virtual

    tico sem lhe emprestar um potencial que se distribui no sistema de coordenadas. le recolhe, no virtuale atualiza, um potencial de que se apropria. O sistema mais fechado tem ainda um fio que sobe at otual, e de onde desce a aranha. 3as a questo de saber se o potencial pode ser recriado no atual, se poder renovado e alargado, permite distinguir mais estritamente os estados de coisas, as coisas e os corpos.

    uando passamos do estado de coisas para a coisa mesma, vemos que uma coisa se relaciona sempre, aoesmo tempo, a muitos ei&os, segundo vari%veis que so fun!

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    n!o biolgica.

    AN H

    m sistema de coordenadas eventualmente )nico num momento dado( como para o plano de iman1ncia emosofia, preciso perguntar qual estatuto tomam o antes e o depois, simultaneamente, sobre um plano defer1ncia de dimenso e evolu!o temporais. % um s ou v%rios planos de refer1ncia? $ resposta s ser% aesma para o plano de iman1ncia filosfico, suas camadas ou suas folhas superpostas. J que a refer1ncia,plicando uma ren)ncia ao infinito, s pode montar cadeias de functivos que se quebram necessariamente

    m certo momento. $s bifurca!

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    n!o composta. Da mesma forma, o problema das tangentes @diferencia!o mobiliza tantas vari%veisantas curvas h%, e a derivada, para cada uma, a tangente qualquer num ponto qualquer( mas o problema

    verso das tangentes @integra!o no

    Iobre o sentido que toma a palavra figura @ou imagem, Fild numa teoria das fun!

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    tes. *enhuma cria!o e&iste sem e&peri1ncia. uaisquer que se-am as diferen!as entre a linguagement'fica, a linguagem filosfica e suas rela!

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    e pode ser revelado no sistema correspondente. *uma palavra, o papel de um observador parcial

    AU H

    perceber e de e&perimentar, embora essas percep!a necessite, d. du Ieuil, p. GA+ 0$s intera!

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    perf'cies que eles sobrevoam ou dos componentes pelos quais passam num s instante( a percep!o noansmite assim informa!o, mas circunscreve um afeto @simp%tico ou antip%tico. Os observadoresent'ficos, ao contr%rio, so pontos de vista nas coisas mesmas, que sup

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    odo conceito completo um con-unto neste sentido, e tem um n)mero determinado( os ob-etos do conceitoo os elementos do con-unto@A.

    f. Cussell, r'ncipes de >a mathmatique, ./.6., sobretudo ap1ndice $, e 6rege, 9es fondements dearithmtique, d. du Ieuil, [ QU e

    AVV H

    preciso ainda fi&ar condi!

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    isas, se-a a coisas, se-a a outras proposi!

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    mais apreend1#lo em suas proposi!

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    o somente vividos imanentes ao su-eito solipsista, mas as refer1ncias do su-eito transcendental ao vivido(o so vari%veis, perceptivo#afetivas, mas as grandes fun!

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    tro @e&o e endo#refer1ncia. *s destacamos uma qualidade suposta comum a v%rios ob-etos quercebemos, e uma afec!o suposta comum a v%rios su-eitos que a e&perimentam e apreendem conoscota qualidade. $ opinio % regra de correspond1ncia de uma a outra, uma fun!o ou uma proposi!o-os argumentos so percep!

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    E>E%!LO >I

    m que esta situa!o concerne aos gregos? Diz#se freqXentemente que, desde lato, os gregos

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    isa seno uma opinio emp'rica como tipo psicosso#ciolgico. J preciso pois que a iman1ncia do vivido am su-eito transcendental fa!a da opinio uma proto#opinio na constitui!o da qual entram a arte e a cultura,que se e&prime como um ato de transcend1ncia deste su-eito no vivido @comunica!o, de modo a formar

    ma comunidade de amigos. 3as o su-eito transcendental husserliano no esconde o homem europeu cu-ovilgio de 0europeizar0 sem cessar, como o grego 0grecizava0, isto , de ultrapassar os limites das outraslturas, mantidas como tipos psicossociais? *o somos ento reconduzidos " simples opinio do apitalistadio, o grande 3aior, o /lisses moderno cu-as percep!

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    do, que se acrescenta ou se subtrai ao s'tio, na transcend1ncia do vazio ou $ verdade como vazio, sem quepossa decidir sobre a perten!a do acontecimento " situa!o na qual se encontra seu s'tio @o indecid'vel.

    alvez, em contrapartida, ha-a uma interven!o como um lance de dados sobre o s'tio, que qualifica oontecimento e o faz entrar na situa!o, uma pot1ncia de 0fazer0 o acontecimento. J que o acontecimento conceito, ou a filosofia como conceito, que se distingue das quatro fun!

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    ualizados pelo mundo em seu estado anterior, ao passo que os corpos so novas atualiza!

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    erece da ci1ncia uma m% caricatura+ aul =lee tem certamente uma viso mais correta quando diz quensagrando#se ao funcional a matem%tica e a f'sica tomam por ob-eto a prpria forma!o, e no a formaabada@AK. 3uito mais, quando se comparam as multiplicidades filosficas e as multiplicidades cient'ficas,multiplicidades conceituais e as multiplicidades funcionais, pode ser sum%rio demais definir estas )ltimasr con-untos. Os con-untos, -% vimos, s t1m interesse como atualiza!o do limite( eles dependem das

    n!

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    ENQ H

    m sua produ!o e sua reprodu!o, o conceito tem a realidade de um virtual, de um incorporai, de umpass'vel, contrariamente "s fun!

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    cessariamente, cada um s sendo criado por seus meios prprios 7 em cada caso um plano, elementos,entes. J por isso que sempre desagrad%vel que os cientistas fa!am filosofia sem meio realmente

    osfico, ou que os filsofos fa!am ci1ncia sem meio efetivamente cient'fico @e ns no pretendemos faz1#.

    O conceito no reflete sobre a fun!o, nem a fun!o se aplica ao conceito. onceito e fun!o devemcruzar, cada um seguindo sua linha. $s fun!

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    m a possibilidade f'sica, e que d% "s posturas mais acrob%ticas a for!a da verticalidade. m contrapartida,ntas obras que aspiram " arte no se mant1m de p um s instante. 3anter#se de p sozinho no ter umo e um bai&o, no ser reto @pois mesmo as casas so b1badas e tortas, somente o ato pelo qual omposto de sensa!

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    tre inteiramente na sensa!o, no percepto ou no afecto. Toda a matria se torna e&pressiva. J o afecto quemet%lico, cristalino, ptreo, etc, e a sensa!o no colorida, ela colorante, como diz zanne. J por issoe quem s pintor tambm mais que pintor, porque ele 0faz vir diante de ns, na frente da tela fi&a0, nosemelhan!a, mas a pura sensa!o 0da flor torturada, da paisagem cortada, sulcada e comprida0,volvendo 0a %gua da pintura " natureza0@Q. I passamos de um material a outro, como do violo ao piano,pincel " brocha, do leo ao pastel, se o composto de sensa!

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    dos estes casos, por que dizer isso, -% que a paisagem no independente das supostas percep!

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    om efeito, o artista, entre eles o romancista, e&cede os estados perceptivos e as passagens afetivas dovido. J um vidente, algum que se torna. omo contaria ele o que lhe aconteceu, ou o que imagina, -% que ma sombra? le viu na vida algo muito grande, demasiado intoler%vel tambm, e a luta da vida com o que amea!a, de modo que o peda!o de natureza que ele percebe, ou os bairros da cidade, e seus personagens,edem a uma viso que compncluir no momento osurdo, os fatos, o srdido, mas tratados em transpar1ncia0, 0olocar a' tudo e contudo saturar0@G. or ter

    ngido o percepto como 0a fonte sagrada, por ter visto a Bida no vivente ou o Bivente no vivido, o romancistao pintor voltam com olhos vermelhos e o fPlego cur#

    *o cap'tulo >> das Deu& Iources, Fergson analisa a fabula!o como uma faculdade vision%ria muitoerente da imagina!o, que consiste em criar deuses e gigantes, 0pot1ncias semi#pessoais ou presen!ascazes0. la se e&erce inicialmente nas religi

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    A 9e lzio, $l, d. 6lammarion, p. V @0sou um 'ndio0... embora no saiba cultivar o milho nem talhar umaroga.... *um te&to clebre, 3ichau& falava da 0sa)de0 prpria " arte+ posf%cio a 03es proprits0, 9a nuitmmue, 5allimard, p. AGK.

    EEQ H

    nagens em estranhos devires#vegetais( tornar#se %rvore ou tornar#se %ster+ no , diz ele, que um sensforme no outro, mas algo passa de um ao outro@AE. ste algo s pode ser precisado como sensa!o. J

    ma zona de indetermina!o, de indiscernibilidade, como se coisas, animais e pessoas @$hab e 3ob4 DicY,entesilia e a cadela tivessem atingido, em cada caso, este ponto @todavia no infinito que precedeediatamente sua diferencia!o natural. J o que se chama um afecto. m ierre ou les ambiguits, ierre

    nha a zona em que ele no pode mais distinguir#se de sua meia#irm >sabelle, e torna#se mulher. I a vidaa tais zonas, em que turbilhonam os vivos, e s a arte pode atingi#la e penetr%#la, em sua empresa de co#a!o. J que a prpria arte vive dessas zonas de indetermina!o, quando o material entra na sensa!omo numa escultura de Codin. Io blocos. $ pintura precisa de uma coisa diferente da habilidade dosenhista, que marcaria a semelhan!a entre formas humanas e animais, e nos faria assistir " suaetamorfose+ preciso, ao contr%rio, a pot1ncia de um fundo capaz de dissolver as formas, e de impor aist1ncia de uma tal zona, em que no se sabe mais quem animal e quem humano, porque algo sevanta como o triunfo ou o monumento de sua indistin!o( assim 5o4a, ou mesmo Daumier, Cedon. Jeciso que o artista crie os procedimentos e materiais sint%ticos ou pl%sticos, necess%rios a uma empresao grande, que recria por toda a parte os p;ntanos primitivos da vida @a utiliza!o da %gua#forte e dauatinta por 5o4a. O afecto no opera certamente um retorno "s origens como se se reencontrasse, em

    rmos de semelhan!a, a persist1ncia de um homem bestial ou primitivo sob o civilizado. J nos meiosmperados de nossa civiliza!o que agem e prosperam atualmente as zonas equatoriais ou glaciais que sertam " diferencia!o dos g1#

    E $ndr DhPtel, Terres de mmoire, d. /niversitaires, p. EEM#EE.

    EEM H

    ros, dos se&os, das ordens e dos reinos. I se trata de ns, aqui e agora( mas o que animal em ns,getal, mineral ou humano, no mais distinto 7 embora ns, ns ganhemos a' singularmente em

    stin!o. O m%&imo de determina!o emerge como um claro deste bloco de vizinhan!a.

    recisamente porque as opini

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    tista ou mesmo de uma eventual afinidade de artistas entre si@AQ. O artista acrescenta sempre novasriedades ao mundo. Os seres da sensa!o so variedades, como os seres de conceitos so varia!

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    quanto que os acontecimentos so a realidade do virtual, formas de um pensamento#*atureza quebrevoam todos os universos poss'veis. *o significa dizer que o conceito precede de direito a sensa!o+esmo um conceito.de sensa!o deve ser criado com seus meios prprios, e uma sensa!o e&iste em seuiverso poss'vel, sem que o conceito e&ista necessariamente em sua forma absoluta.

    ode a sensa!o ser assimilada a uma opinio origin%ria, /rdo&a como funda!o do mundo ou baseut%vel? $ fenomenologia encontra a sensa!o em 0a priori materiais0, perceptivos e afectivos, que

    anscendem as percep!

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    U omo mostra 5eorges Didi#uberman, a carne engendra uma 0d)vida0+ ela pr&ima demais do caos(nde a necessidade de uma complementariedade entre o 0encarnado0 e a 0e&tenso0, tema essencial de 9ainture incarne, retomada e desenvolvida em Devant ASimage, d. de 3inuit.

    EKE H

    emplo, os planos horizontais fugidios diferem " direita e " esquerda e parecem se reunir na coisa @a carnepequena ma!, mas como uma pin!a que a pu&aria para tr%s e a faria desaparecer, se um plano vertical,qual s se v1 o fio sem espessura, no viesse fi&%#la, ret1#la no )ltimo momento, dar#lhe uma e&ist1ncia

    r%vel, " maneira de um longo alfinete que a atravessa, e a torna filiforme por sua vez. $ casa participa dedo um devir. la vida, 0vida no org;nica das coisas0. De todos os modos poss'veis, a -un!o dos

    anos de mil orienta!

  • 7/26/2019 O Que e Filosofia Deleuze

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    for!a sonora do tempo, por e&emplo com 3essiaen, ou da literatura, com roust, que faz ler e conceber ar!a ileg'vel do tempo. *o esta a defini!o do percepto em pessoa+ tornar sens'veis as for!as insens'veise povoam o mundo, e que nos afetam, nos fazem devir? O que 3ondrian obtm por simples diferen!astre lados de um quadrado, e =andinsY4 pelas 0tens

  • 7/26/2019 O Que e Filosofia Deleuze

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    restas chuvosas da $ustr%lia, faz cair da %rvore as folhas que corta cada manh, vira#as para que sua faceerna mais p%lida contraste com a terra, constri para si assim uma cena como um read4#made, e cantaatamente em cima, sobre um cip ou um galho, um canto comple&o composto de suas prprias notas e dasoutros p%ssaros, que imita nos intervalos, mostrando a raiz amarela das plumas sob seu bico+ um artista

    mpleto@EQ. *o so as sinestesias em plena carne, so estes blocos de sensa!

  • 7/26/2019 O Que e Filosofia Deleuze

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    M f. a obra#prima de 8. von /e&YXhl, 3ondes animau& et monde humain, Thorie de >a signification, d.onthier @p. AKV#AQE+ 0o contraponto, motivo do desenvolvimento e da morfog1nese0.

    EQN H

    ndo#nos " forma, a arquitetura mais s%bia no dei&a de fazer planos, e&tens

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    nfPnico@EG. /m romancista como Dos assos soube atingir uma arte inaudita do contraponto nosmpostos que forma entre personagens, atualidades, biografias, olhos de c;mera, ao mesmo tempo que umano de composi!o se alarga ao infinito, para arrastar tudo para a Bida, para a 3orte, para a cidade#smos. se retornamos a roust porque, mais do que qualquer outro, ele fez com que os dois elementosase se sucedessem, embora presentes um no outro( o plano de composi!o aparece pouco a pouco, paravida, para a morte, compostos de sensa!o que ele edifica no curso do tempo perdido, at aparecer em siesmo com o tempo reencontrado, a for!a, ou antes as

    G FaYhtin, stbtique et tborie du roman, 5allimard.

    EQK H

    r!as, do tempo puro tornadas sens'veis. Tudo come!a pelas asas, que devem todas -untar suasmens

  • 7/26/2019 O Que e Filosofia Deleuze

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    ofissionais, nacionais, territoriais, so carregados no grande Citornelo, um potente canto da terra 7 osterritorializado 7 que se eleva com 3ahler, Ferg ou FartY. sem d)vida o plano de composi!ogendra sempre novas clausuras, como na srie. 3as, sempre, o gesto do m)sico consiste emsenquadrar, encontrar a abertura, retomar o plano de composi!o, segundo a frmula que obceca Foulez+!ar uma transversal irredut'vel " vertical harmPnica como " horizontal meldica que conduz blocos sonorosindividualiza!o vari%vel, mas tambm abri#las ou fend1#las num espa!o#tempo que determina suansidade e seu percurso sobre o plano@KN. O grande ritornelo se eleva " medida que nos afastamos dasa, mes#

    N Foulez, notadamente oints de repLre, d. Fourgois#9e Ieuil, p. AMG e segs. @ensez >a musique-ourdShui, d. 5onthier, p. MG#E. $ e&tenso da srie em dura!

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    *o segundo caso, no mais a sensa!o que se realiza no material, antes o material que entra nansa!o. ertamente, a sensa!o no e&iste mais fora dessa entrada, e o plano de composi!o tcnica noais tem autonomia a no ser no primeiro caso+ no vale -amais por si mesmo. 3as dir'amos agora que elebe no plano de composi!o esttica, e lhe d% uma espessura prpria, como diz Damisch, independente dealquer perspectiva e profundidade. J o momento em que as figuras da arte se liberam de uma

    anscend1ncia aparente ou de um modelo paradigm%tico, e confessam seu ate'smo inocente, seuganismo. sem d)vida, entre estes dois casos, estes dois estados da sensa!o, estes dois plos da

    cnica, as transi!

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    es s se colocam em fun!o de problemas de composi!o esttica, que concernem aos compostos densa!

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    ografia, na mesma escala e no mesmo lugar, sua defini!o tirada do dicion%rio. *o certo, porm, que sen-a assim, neste )ltimo caso, a sensa!o nem o conceito, porque o plano de composi!o tende a se fazerformativo0, e a sensa!o depende da simples 0opinio0 de um espectador, ao qual cabe eventualmenteaterializar0 ou no, isto , decidir se arte ou no. Tanto esfor!o para reencontrar no infinito as percep!

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    erferir, de modo que as vari%veis retidas entram em rela!

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    l 5reco( o flame-amento de ouro de Turner ou o flame-amento vermelho de Ital. $ arte luta com o caos,as para torn%#lo sens'vel, mesmo atravs do personagem mais encantador, a paisagem mais encantada

    2atteau.

    /m movimento semelhante sinuoso e reptiliano, anima talvez a ci1ncia. /ma luta contra o caos parecertencer#lhe por ess1ncia, quando faz entrar a variabilidade desace#lerada sob constantes ou limites,ando a reconduz dessa maneira a centros de equil'brio, quando a submete a uma sele!o que s retm umqueno n)mero de vari%veis independentes, nos ei&os de coordenadas, quando instaura, entre essasri%veis, rela!

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    esmo tempo, a luta do pensamento contra a opinio e a degeneresc1ncia do pensamento na prpria opinioma das vias de evolu!o dos computadores vai no sentido de uma aceita!o de um sistema catico ouotizante.

    J o que confirma o terceiro caso, no mais a variedade sens'vel nem a vari%vel funcional, mas aria!o conceituai tal como aparece na filosofia. $ filosofia tambm luta com o caos, como abismo

    diferenciado ou oceano da disseme#lhan!a. *o concluiremos disso que a filosofia se coloca do lado dainio, nem que a opinio passa a ter lugar na filosofia. /m conceito no um con-unto de idiassociadas, como uma opinio. *em tampouco uma ordem de raz

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    rmas pregnantes, como as bolhas de sabo segundo a 5estalt, levando em conta os meios, os interesses,cren!as e os obst%culos. arece ento dif'cil tratar a filosofia, a arte e mesmo a ci1ncia como 0ob-etos

    entais0, simples con-untos de neurPnios no crebro ob-etivado, -% que o modelo derrisrio da recogni!o oscerra na do&a. Ie os ob-etos mentais da filosofia, da arte e da ci1ncia @isto , as idias vitais tivessem um

    gar, seria no mais profundo das fen#das sin%pticas, nos hiatos, nos intervalos e nos entre#tempos de umrebro inob-etiv%vel, onde penetrar, para procur%#

    EU H

    s, seria criar. Ieria um pouco como no a-uste de uma tela de televiso, cu-as intensidades fariam surgir oe escapa do poder de defini!o ob-etivo@G. Iignifica dizer que o pensamento, mesmo sob a forma que

    ma ativamente na ci1ncia, no depende de um crebro feito de cone&>>.

    EG H

    a percebida, mas uma forma em si, que no remete a nenhum ponto de vista e&terior, como a retina ou aea estria#da do crte& no remete a uma outra, uma forma consistente absoluta que se sobrevoadependentemente de qualquer dimenso suplementar, que no apela, pois, a nenhuma transcend1ncia, que

    tem um )nico lado, qualquer que se-a o n)mero de suas dimens

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    conserva suas vibra!, se!o AQ.

    EVA H

    smos, dos dinamismos e das finalidades+ um plano de composi!o, em que a sensa!o se formantraindo o que a comp

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    stes dois primeiros aspectos ou folhas do crebro#su#-eito, a sensa!o como o conceito, so muitogeis. *o so somente descone&

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    Q Furns, The /ncertain *ervous I4stem, d. $rnold. Iteven Cose, 9e cerveau conscient, d. 9e Ieuil, p.+ 0O sistema nervoso incerto, probabilista, portanto interessante.0

    EV H

    itos, estados caides. Iem d)vida, este caos est% escondido pelo refor!o das facilita!

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    ensamento no#pensante que se esconde nos tr1s, como o conceito no conceituai de =lee ou o sil1ncioerior de =andinsY4. J a' que os conceitos, as sensa!nternacional de studos 6ilosficos Transdisciplinares,C$*I vem propor ao p)blico brasileiro numerosas tradu!

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    anle4 avell

    sta A-ri0a o