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O QUE É TRABALHO? – ANÁLISE DA VISÃO DE UM TRABALHADOR DA ESFERA PÚBLICA FEDERAL SOB A ÓTICA DA
PSICODINÂMICA DO TRABALHO - TEIXEIRA, Andreia; NUNES, Sylvia da Silveira
Salvador BA: UCSal, 8 a 10 de Outubro de 2014, ISSN 2316-266X, n.3, v. 2, p. 100-112
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O QUE É TRABALHO? – ANÁLISE DA VISÃO DE UM
TRABALHADOR DA ESFERA PÚBLICA FEDERAL SOB A ÓTICA DA
PSICODINÂMICA DO TRABALHO
TEIXEIRA, Andreia
Estudante de mestrado do Programa de Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade
NUNES, Sylvia da Silveira
Professor do Programa de Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade [email protected]
RESUMO Este artigo busca levantar reflexões acerca dos conceitos de trabalho, saúde do trabalhador, serviço
público federal, prazer e sofrimento no trabalho, considerando como referência para as discussões estudos da Psicodinâmica do Trabalho de Christophe Dejours. Será realizada uma entrevista
semiestruturada com um trabalhador de uma instituição pública federal do estado de Minas Gerais com
o objetivo de compreender qual sua visão sobre trabalho, como interpreta seu trabalho no interior deste modelo de organização e quais seriam os fatores de prazer e sofrimento no trabalho. Posteriormente,
será feita a análise qualitativa dessa entrevista. Os pontos negativos do trabalho fazem com que os trabalhadores se unam e reivindiquem a conquista ou ampliação de seus direitos, o que acaba tornando
esta luta positiva. Assim, a saúde é vista como uma responsabilidade de todos e de cada um de nós, não
apenas dos outros, das instituições, dos profissionais da saúde ou do Estado.
Palavras-chave: Trabalho. Saúde. Psicodinâmica do Trabalho.
ABSTRACT This article seeks to raise reflections on the concepts of the work, worker health, federal public service,
pleasure and suffering at work, taking as reference for discussions studies Psychodynamic of Work by Christophe Dejours. There will be a semi-structured interview with a worker at a public institution in the
state of Minas Gerais with the objective of understand what your vision of work, and interprets their
work inside this model of organization and what are the factors of pleasure and suffering at work . Later, there will be a qualitative analysis of this interview. The negatives are that workers unite and claim the
conquest or expansion of their rights, which ultimately makes this fight positive. Thus, health is seen as
responsibility of each and every one of us, not only from others, institutions, health professionals or the state.
Key-words: Work. Health. Psychodynamic of Work.
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1. INTRODUÇÃO
Este artigo procura, a partir da visão da Psicodinâmica do Trabalho de Christophe
Dejours, identificar as raízes do sofrimento no trabalho em uma instituição pública federal e
compreender a relação do trabalhador com esse sofrimento, se o mesmo tem conseguido
transformá-lo em fator de prazer e equilíbrio.
Inicialmente, faz-se oportuno o levantamento de conceitos sobre o que é trabalho na
visão da Psicodinâmica de Dejours. Para ele, trabalho é:
Aquilo que implica, do ponto de vista humano, o fato de trabalhar: gestos, saber-fazer, um engajamento do corpo, a mobilização da inteligência, a
capacidade de refletir, de interpretar e de reagir às situações; é o poder de
sentir, de pensar e de inventar, etc. Em outros termos, para o clínico, o trabalho não é em primeira instância a relação salarial ou o emprego; é o
‘trabalhar’, isto é, um certo modo de engajamento da personalidade para
responder a uma tarefa delimitada por pressões (materiais e sociais) (DEJOURS, 2004, p. 28).
O trabalho não se limita ao tempo de dedicação, a ele implicam-se todos os aspectos da
personalidade do sujeito que o pratica. A Psicodinâmica do Trabalho encara o trabalho como
agente transformador da subjetividade humana, ao passo que esta se torna enaltecida, diminuída
ou até mesmo mortificada após o processo de trabalho. “Trabalhar não é somente produzir; é,
também, transformar a si mesmo e, no melhor dos casos, é uma ocasião oferecida à
subjetividade para se testar, até mesmo para se realizar” (DEJOURS, 2004, p.30).
Adiante, será realizada a análise qualitativa de uma entrevista semiestruturada realizada
com um trabalhador de uma instituição pública federal do estado de Minas Gerais. Nela, o
entrevistado descreve sua visão do que é trabalho e como vê os reflexos de prazer e sofrimento
inseridos nesta realidade. Vale destacar a dificuldade encontrada em colher informações
relevantes na fala do entrevistado a respeito desta temática.
2. PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO
O estudo dos efeitos do trabalho surgiu após a Revolução Industrial, se intensificou após
a Segunda Guerra Mundial e resultou na Psicopatologia do Trabalho. Foi a partir do início dos
anos 80 que a Psicopatologia do Trabalho se preocupou em fundamentar a relação psíquica com
o trabalho, as pressões cotidianas que põem em xeque o equilíbrio psíquico e a saúde mental, na
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organização do trabalho. Depois disso, aparece a contribuição de Dejours sobre as
consequências mentais do trabalho.
Dejours, Abdoucheli e Jayet (1994) buscaram responder como os trabalhadores não
adoecem diante de situações de trabalho precário. A maioria deles consegue se manter na
normalidade, buscando defesas para superar o sofrimento advindo da atividade laboral. O
sofrimento não pode ser eliminado, mas pode ser transformado em criatividade, e quando isso
ocorre, o próprio sofrimento contribui para beneficiar a identidade. O trabalho, então, se
transforma em mediador para a saúde, ao passo que aumenta a resistência do trabalhador ao
risco eminente de desestabilização psíquica e somática.
A Psicodinâmica do Trabalho tenta responder como a subjetividade dos trabalhadores é
solicitada e mobilizada no trabalho. Segundo Dejours (1992), as relações de trabalho, dentro
das organizações, frequentemente, privam o trabalhador de sua subjetividade, excluindo o
sujeito e fazendo do homem uma vítima do seu trabalho. Essa situação deu-se com maior
intensidade após a década de 1960, quando houve uma aceleração desigual das forças
produtivas, das ciências, das técnicas e das máquinas, associadas às novas condições de
trabalho, o que facilitou o aparecimento de sofrimentos na vida operária. No século XIX, a luta
pela saúde era identificada como a luta pela sobrevivência: viver é não morrer, o que era
chamado de miséria operária.
Dejours vai enfocar as vivências subjetivas do trabalho, traçando a história da saúde dos
trabalhadores. No livro, “A Loucura do Trabalho”, Dejours (1992) objetiva formar grupos de
discussões de trabalhadores para falarem sobre o livro, e externalizarem o sofrimento físico e
mental que passam no dia a dia laboral. O autor destaca a especificidade da vivência operária ao
buscar compreender cada experiência de trabalho, diferenciando uma das outras e
aprofundando suas singularidades. Outro ponto que ganha relevância em seus estudos sobre a
Psicodinâmica do Trabalho é a evolução das condições de vida e saúde dos trabalhadores,
alcançadas graças a uma luta perpétua entre trabalhadores e patrões.
O pesquisador categorizou o sofrimento como uma vivência subjetiva mediadora entre
doença mental e o bem-estar psíquico. Assim, o sofrimento deixa de ser representado como
algo negativo e passa a significar também criatividade, uma maneira que o trabalhador encontra
de criar formas defensivas para lidar com as opressões da organização do trabalho.
Considerando a centralidade do trabalho e sua relação com a saúde, as manifestações
patológicas de sofrimento são a expressão do fracasso de mobilizações subjetivas. O sofrimento
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então passa a ser confrontado com as opressões da organização do trabalho, como a
preocupação com erros, o retrabalho e o ritmo, o que gera esgotamento mental (DEJOURS,
1992).
Ao mesmo tempo em que traz retornos favoráveis aos homens, no sentido pessoal
(consumo) e material, os chamados “jogos da concorrência econômica” (DEJOURS, 1996, p.
150), também podem trazer problemas sociais e humanos na vida e saúde dos trabalhadores.
O paradoxo que o autor aponta é no sentido de que quando o sujeito está fora da
organização, há a promessa de felicidade e, quando adentra este universo contraditório, se
depara com a promessa da infelicidade. Assim, Dejours (1996) diz que um dos golpes mais
cruéis golpes que o homem sofre com o trabalho é a frustração de suas expectativas iniciais, o
que pode desencadear, então, o sofrimento humano no trabalho.
O sofrimento singular, próprio de cada sujeito é contraposto com o sofrimento atual, que
aparece na situação do trabalho. Ambos se articulam e assim, surge a dicotomia: sofrimento
criativo versus sofrimento patogênico. O primeiro se caracteriza por favorecer a produção e a
saúde do trabalhador e o segundo, por prejudicá-los.
Quando Dejours fala da ambivalência bem-estar e loucura quer dizer que o sofrimento
no trabalho pode ser entendido “como o espaço de luta que ocorre o campo situado entre, de um
lado, o bem-estar, e, de outro, a doença mental ou a loucura” (DEJOURS, 1996, p. 153).
No interior das organizações de trabalho, aparecem as pressões e as condições de
trabalho, físicas, químicas e biológicas. Organização do trabalho aqui encarada como a divisão
das tarefas e a divisão dos homens e suas relações. Na luta cotidiana contra o sofrimento e a
loucura, aparecem as estratégias defensivas dos trabalhadores. Um exemplo delas são as
defesas coletivas, com a participação de todos os membros da organização. Também existem as
defesas individuais, que favorecem o surgimento das doenças do corpo (DEJOURS, 1996).
As estratégias defensivas apenas amenizam o sofrimento, mas não modificam os
adoecimentos causados pelo sofrimento no trabalho. Não há trabalho sem sofrimento. Prazer e
sofrimento originam-se internamente das situações e da organização do trabalho. São
consequências das atitudes e dos comportamentos instituídos pela organização e constitui-se
das relações subjetivas e de poder (DEJOURS, 1992). Assim, é necessário um movimento de
transformação da organização do trabalho e de dissolução dos sistemas defensivos,
favorecendo a relação saúde mental e trabalho. Constata-se que as mudanças ocorridas no
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mundo do trabalho são responsáveis pela sobrecarga elevada na produção, associadas à
exigência pelo aumento de produtividade, o que torna o sofrimento inevitável.
Não há trabalho sem sofrimento. O sofrimento adquire um sentido, conferido pela
criatividade, ao passo em que a criatividade traz reconhecimento e identidade, itens essenciais
para a saúde mental. O sofrimento é transformado em motivação, já o prazer, este é derivado do
sofrimento. O sujeito se experimenta e se transforma através de suas descobertas e invenções
(DEJOURS, 1996).
O drama do sofrimento patogênico se localiza na negação do reconhecimento da
contraposição entre trabalho prescrito e trabalho real. E isso dificulta a transformação do
sofrimento patogênico em sofrimento criativo. A questão central seria conseguir elaborar
condições nas quais os trabalhadores possam autogerir seu sofrimento, com a finalidade de
conquistar benefícios para sua saúde e consequente ampliação da produtividade.
O sofrimento patogênico, que tem consequências sobre a saúde mental, pode ser
transformado em sofrimento criativo. O autor ainda indica alguns aspectos fundamentais para
converter sofrimento em prazer: transparência; inteligibilidade dos comportamentos através
dos níveis hierárquicos; espaço da palavra; e, estabelecimento de confiança nos
relacionamentos. Ele também aponta os conceitos de cooperação entre os trabalhadores,
quando cooperação horizontal se refere à relação entre os próprios trabalhadores e cooperação
vertical, a relação dos trabalhadores com a gerência (DEJOURS, 1996).
3. SAÚDE DO TRABALHADOR
Para a Psicologia do Trabalho, o fator trabalho é essencial para o entendimento e a
análise das condutas humanas em geral e dos processos de saúde mental e de doença, o que é
chamado de centralidade do trabalho. O trabalho é colocado no centro da subjetividade e é tido
como um mediador para a construção da identidade, que é o fundamento da saúde mental, e da
saúde, promovendo-a ou causando adoecimentos e sofrimentos patogênicos. Ou seja, o trabalho
nunca é neutro, ele tem um papel fundamental na realização do sujeito, fazendo a mediação
entre o subjetivo e o social. Esta área da Psicologia foca a questão do sofrimento mental por
considerá-lo antecessor à formação de outros sintomas (DEJOURS, 1992).
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O trabalho, ao mesmo tempo em que pode ser um fator de sofrimento, deterioração e
adoecimento, pode também apresentar-se como um fator de equilíbrio, prazer e
desenvolvimento, especialmente, no que tange à saúde dos trabalhadores.
Constantemente, ouvimos que o trabalho envelhece precocemente, que suas condições
atuais proporcionam um desgaste, uma deterioração do ser humano. Isso acontece quando
certas organizações atacam e destroem o desejo de seus trabalhadores, provocando doenças
mentais e físicas.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde é um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença. Dejours, Dessors e
Desriaux (1993) criticam este conceito, ao questionar o que seria, de fato, um completo estado
de bem-estar e se este realmente existe. Saúde seria um objetivo e não um estado. Saúde não é
algo que se possui ou não possui, mas é um objetivo a ser conquistado e que se defende, assim
como a liberdade.
Em seu estudo “Por um trabalho, fator de equilíbrio”, Dejours (1993) aponta três áreas
de conhecimentos que podem nos auxiliar na compreensão do que é saúde: a fisiologia das
regulações, a psicossomática e a psicopatologia do trabalho.
Para a Fisiologia, o organismo está em perpétuo desequilíbrio seguido de um retorno ao
equilíbrio. Esse seria o conceito da regulação do corpo. Ou seja, nosso organismo está sempre
em movimento, não há nada fixo ou constante nele. Da mesma forma, a saúde não é um estado
calmo, estável, plano e uniforme. Constatação semelhante acontece quando falamos sobre o
trabalho. Quando ele é regular, fixo, repetitivo e não sofre alterações, ele pode oferecer perigo
aos trabalhadores que vivenciam esta realidade, pois não favorece a saúde de seus executores.
A Psicossomática diz respeito às doenças físicas desencadeadas por situações afetivas
insustentáveis impulsionadas por algum impasse psíquico. Quando algo de penoso ocorre na
vida psíquica do indivíduo, favorece a evolução das doenças. Algumas pessoas alcançam o
equilíbrio ao enfrentar o trabalho angustiante, atuando como um agente transformador da
realidade enfrentada.
A saúde mental não é, seguramente, a ausência de angústia, nem o conforto
constante e uniforme. A saúde é a existência da esperança, das metas, dos objetivos que podem ser elaborados: é quando há o desejo. O que faz as
pessoas viverem é o desejo e não só as satisfações (DEJOURS, 1993, p. 101).
O trabalho é o vetor fundamental para a saúde, tanto de forma negativa quanto positiva,
segundo a Psicopatologia do Trabalho. Ao contrário do que muitos pensam, o ócio, é sim
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produtivo. Dejours, Dessors e Desriaux (1993) afirmam que quando alguém não faz e não quer
fazer nada, geralmente, é sinal de que está doente. Por exemplo, quando alguém está com
depressão, seu corpo se defende menos, o que facilita a proliferação de doenças. Em um
trabalho onde não há muito que se fazer, mas é necessário estar de corpo presente e até se fazer
uma simulação de que está ocupado, rapidamente gera um aumento da carga psíquica, seguida
por uma intensa fadiga.
Quando Dejours (1993) levanta a questão sobre “Saúde através de qual trabalho?”,
indica algumas respostas. Uma delas seria a composição física da carga de trabalho (como
barulho, calor, desgaste, etc.). Outra resposta cabível seria a composição mental da carga de
trabalho: percepção e tratamento da informação necessária à execução do trabalho. Torna-se
essencial, recorrermos à carga psíquica, de ordem afetiva e que envolve as relações existentes
no processo de trabalho.
Há o perigo da subutilização ou repressão da carga psíquica, fantasiosas ou
psicomotoras, o que acarreta uma retenção de energia pulsional, a chamada tensão nervosa. A
excitação acumulada da origem a uma tensão nervosa, que precisa ser liberada. O trabalhador
consegue desenvolver muitas maneiras de fazer esta descarga de energias acumuladas, podendo
ser através de vias psíquicas (fantasias, por exemplo), vias motóricas (atuação da musculatura,
como a violência), ou vias viscerais (sistema nervoso, desregulação das funções somáticas). A
energia psíquica que se acumula, transforma-se em tensão e desprazer, favorecendo o
aparecimento de sintomas como a fadiga, fraqueza e, por fim, a patologia (DEJOURS, 1993).
Dejours (1993) aponta três fatos inseridos no contexto do trabalho:
- o organismo do trabalhador não é um motor qualquer, ele recebe excitações exteriores
e interiores;
- o trabalhador não deve ser visto como uma máquina nova, que chega crua ao espaço de
trabalho. Cada um tem sua história pessoal de vida, que caracteriza suas aspirações, desejos,
motivações e necessidades psicológicas. Logo, cada trabalhador é único, traz consigo
qualidades pessoais e não generalistas, como certos postos de trabalho esperam;
- o trabalhador possui vias de descargas de energias preferenciais, que variam de acordo
com a história pessoal de cada um. Elas não são as mesmas para todos e participam na
construção da personalidade.
O bem-estar psíquico se dá com o seu livre funcionamento em relação à tarefa a ser
desenvolvida. Se o trabalho favorece o livre funcionamento psíquico do trabalhador, ele será
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um fator de equilíbrio, e caso ele se oponha ao livre funcionamento psíquico, ele é fator de
sofrimento e de doença (DEJOURS; DESSORS; DESRIAUX, 1993).
4. UMA ANÁLISE DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO NAS
ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS FEDERAIS
Uma pesquisa foi desenvolvida com um servidor público federal com o objetivo de
compreender qual sua visão sobre trabalho, como o interpreta no interior da instituição e quais
seriam os fatores de prazer e sofrimento. Antes da análise qualitativa dessa entrevista, faz-se
necessária a reflexão sobre como é este modelo de organização.
4.1. O serviço público federal
O termo “servidor público” nasceu com a Constituição Federal de 1988 e a própria
denominação do trabalhador no serviço público enquanto “servidor” se refere a uma postura
política que destitui o caráter de força de trabalho socialmente produtiva da categoria. Esta
designação faz referências a um vínculo de dependências e favores, no qual o trabalhador se
encontra na posição de servir ao senhor, neste caso, o Estado. Além disso, vale notar que está no
fundamento das estruturas burocráticas o não reconhecimento das experiências humanas, pois
este modelo privilegia o sistema de cargos e das regras impessoais (AMAZARRAY, 2003)
A pesquisa realizada por Nunes e Lins (2009) apresentou resultados que se aproximam
dessas afirmações e que servem como referência a outros órgãos do serviço público federal,
visto que as leis que regulamentam o trabalho são as mesmas e o modo de gestão também.
Como fator de sofrimento no trabalho foram expostos através das dificuldades impostas pelo
serviço público, o modo de gestão altamente hierarquizado e tomado pela racionalização
burocrática (o modo de gestão técnico-burocrático). Como fator de prazer, foram identificados
o sucesso reconhecido ao atingir determinadas metas, apesar de alguns obstáculos apontados, o
que demonstra uma ambiguidade vivenciada no ambiente de trabalho.
Os autores apontam que entre os servidores públicos e o Estado, as relações de trabalho
sempre foram unilaterais, pois prevaleciam os interesses da administração pública. Outro item
analisado foi o desgaste da imagem do servidor perante a sociedade, o que difama, de certa
forma, todo o funcionalismo público, geralmente, tratados com preconceito. Isso surgiu no
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final da década de 80, quando Fernando Collor e a imprensa destacaram a “caça aos marajás”,
proliferando o estigma aos servidores públicos. A pesquisa indicou como um dos seus
resultados, que estes trabalhadores acabam por assimilar a morosidade e extrema
regulamentação na dinâmica do trabalho, como consequência do estereótipo que para eles foi
criado (NUNES; LINS, 2009).
O termo “burocracia” historicamente aparece quando se trata de empresas estatais, que
primam pela racionalização e rigidez na utilização de regras. A organização burocrática é
hierárquica, objetiva e racional-legal. A burocracia é a chave que move o sofrimento, pois
impede o crescimento da autonomia, atando e frustrando os trabalhadores. A divisão vertical do
trabalho e a impessoalidade também foram apontados como fatores de sofrimento, frustração e
desânimo como resultados da pesquisa (NUNES; LINS, 2009).
Os servidores são impelidos a buscar outro emprego, à medida que a estabilidade no
emprego já não é mais certa, há a política de desvalorização do sujeito, achatamento ou
estagnação dos salários, precárias condições de trabalho, redução na quantidade e na qualidade
dos materiais de consumo, manutenção e compra de equipamentos. Outras formas de
precarização do trabalho no serviço público são citadas pelos pesquisadores, como privatização
de empresas estatais, demissões, terceirização dos serviços, deterioração das condições de
trabalho e da imagem do trabalhador do serviço público, e responsabilização deles pelas
deficiências dos serviços e possíveis crises institucionais (NUNES; LINS, 2009).
A estrutura das empresas públicas é regida por planos políticos e econômicos do
governo vigente. Há a centralização do poder pelo governo e falta de autonomia por ele
imposta. Os resultados desta pesquisa apontaram também para o aparecimento de doenças e
transtornos gerados pelo trabalho, com destaque, para o estresse.
4.2 Entrevistando um trabalhador do serviço público federal
Foi realizada uma entrevista com um trabalhador de uma organização da esfera pública
federal, com mais de 30 anos de serviços prestados, ou seja, já tem o direito à aposentadoria,
porém optou por continuar a trabalhar, por motivos pessoais e familiares. Ele se propôs a ser
voluntário da pesquisa, e foi procurado pela pesquisadora devido ao ser histórico de trabalho na
instituição e por ser militante na luta pelos direitos dos trabalhadores, com destaque para a
participação em movimentos sindicais e grevistas. O objetivo da entrevista é compreender qual
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a visão de um trabalhador do serviço público federal sobre trabalho, como interpreta seu
trabalho no interior deste modelo de organização e quais seriam, no seu ponto de vista, os
fatores de prazer e sofrimento no trabalho.
O trabalhador entrevistado traduz trabalho como sendo uma ocupação que procura “dar
um significado na vida” das pessoas. Segundo ele, é “produzir ou pensar ou imaginar que
produz alguma coisa”. O entrevistado, apesar de reconhecer as várias interpretações sobre o
que vem a ser trabalho, não tem clareza sobre o histórico, nem o futuro do trabalho ao afirmar:
“a que realmente veio ou a que virá, eu ainda tenho dúvida, não tenho certeza sobre este
tema”.
No que tange à visão sobre o seu trabalho pessoal, o vê como gratificante, por considerar
sua atual ocupação, que é representativa junto aos outros trabalhadores. Este sentimento fica
claro na fala: “eu considero ele sim, este espaço é, é necessário e tem sido bom, pro meu
aprendizado e pra minha aplicação no dia a dia”. No caso específico deste trabalhador, a
organização de trabalho em que vivencia favorece sua criatividade, já que seu cargo lhe confere
autonomia na tomada de decisões e no próprio gerenciamento das tarefas. O trabalho
desenvolvido neste cargo, que é eletivo, permite com que o trabalhador concretize suas ideias e
seus desejos. Assim, para o cargo específico que ocupa, a instituição se mostra flexível, e o
executor tem a oportunidade de organizar o seu espaço de trabalho, de acordo com suas
aspirações. Este trabalho torna-se fonte de prazer à medida que confere ao entrevistado a
liberdade necessária para que haja diminuição da carga psíquica do trabalho.
Contra os fatores de sofrimento no trabalho, forma-se um sistema de defesas, dando
origem ao coletivo de trabalho. O coletivo de trabalho é formado por comportamentos
regulados pelo grupo em questão, baseados na cooperação e na confiança entre seus membros.
É o que acontece no caso deste entrevistado, que participa ativamente de um coletivo de
trabalho. Esta estratégia defensiva protege o trabalhador contra a loucura, ao passo que ele nega
a realidade devido à aceitação no grupo.
Este trabalhador apresenta uma visão otimista sobre o seu trabalho, ao afirmar que este
só possui pontos positivos. Logo a seguir, apresenta uma contradição, ao afirmar que os pontos
negativos do seu trabalho são o aperfeiçoamento para o positivo, ou seja, acaba por reconhecer
involuntariamente a existência de pontos negativos. Porém, não entra em detalhes sobre quais
são estes. É como se os pontos negativos fizessem os trabalhadores se unirem para
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reivindicarem a conquista ou ampliação de seus direitos, o que acaba tornando esta luta
favorável e positiva do ponto de vista dele.
Ao ser questionado sobre prazer e sofrimento no seu trabalho, o trabalhador
entrevistado nega o sofrimento ao afirmar: “o sofrimento no trabalho ele não existe, exceto é
claro, há tempos antigos haveria o trabalho escravo, o trabalho mal remunerado”. Já quanto
ao prazer no trabalho, responde que este existe sim, na medida em que ele foi eleito para
representar os outros trabalhadores da instituição, não foi um trabalho imposto. O que resta
saber é, e os trabalhadores que não são eletivos, quais são seus prazeres e sofrimentos no
trabalho?
Verifica-se que não houve a identificação da existência do sofrimento no trabalho por
este entrevistado. Segundo Dejours (2006), o reconhecimento confere sentido ao sofrimento, e
quando isso não ocorre, o sofrimento torna-se absurdo, podendo levar à desestabilização da
personalidade e à doença mental. Outro mecanismo relatado por este autor é quando o
trabalhador nega o sofrimento, demonstrando certa insensibilidade em relação ao sofrimento
alheio, o que caracteriza a estratégia defensiva descrita por Dejours como sendo de negação do
próprio sofrimento.
O que se pode perceber é que há incoerência entre o discurso do entrevistado e sua
atuação no campo de luta dos direitos dos trabalhadores. Se tudo é positivo, por que reivindicar
melhorias? Porém, o entrevistado ressalta que os pontos negativos são o aperfeiçoamento para o
positivo, ou seja, há sofrimento, e este o impulsiona a transformá-lo em prazer.
Uma evidência que ficou à mostra durante a entrevista e sua posterior análise é que o
trabalhador entrevistado não se sentiu à vontade para expor todos os seus pensamentos,
especialmente no que tange aos indícios de sofrimento e prazer no trabalho público. Há várias
hipóteses para que isso tenha acontecido e gerado dificuldade na colheita das informações, pois,
com certeza, este trabalhador tem a contribuir com a pesquisa. O entrevistado foi abordado no
próprio ambiente de trabalho, não se sentiu confortável com a presença de um gravador de voz,
ocupa um cargo eletivo e por isso se sente comprometido a zelar pelo “bem” da instituição.
Estes e tantos outros fatores não cabem ser tratados aqui, mas podem ser aprofundados em
outro estudo específico. Apesar dos esforços, a entrevista foi curta e com poucas informações
relevantes, o que deixa claro, a negação e a fuga dos relatos sobre o trabalho desenvolvido
naquela determinada organização.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As organizações de trabalho que favorecem a saúde, sejam elas públicas ou privadas,
fazem com que o trabalhador concretize suas aspirações, sua imaginação, suas ideias e seus
desejos. Isso ocorre, com frequência, nos casos em que os trabalhadores são escolhidos
livremente, e as organizações do seu trabalho são flexíveis, dando oportunidade para que o
trabalhador organize o espaço de trabalho e adapte-o aos seus desejos, às necessidades do seu
corpo e às variações do dia a dia.
Desta maneira, Dejours, Dessors e Desriaux (1993) ressaltam que para a transformação
de um trabalho fatigante e destacado pelo sofrimento, faz-se necessário a flexibilização da
organização de trabalho. Caso isso ocorra, haverá maior liberdade na organização do modo
operatório de execução do trabalho e a ampliação do uso da criatividade, além da diminuição da
carga psíquica de trabalho, transformando-o em fonte de prazer.
O autor dá grande destaque ao afirmar que saúde é uma responsabilidade de todos e de
cada um de nós, não apenas dos outros, das instituições, dos profissionais da saúde ou do
Estado.
REFERÊNCIAS
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articulações com o modo de gestão tecnoburocrático. 2003. 120 f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia) - Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2003.
DEJOURS, C. A Loucura do Trabalho: Estudo da Psicopatologia do Trabalho. São Paulo:
Cortez-Oboré, 1992.
DEJOURS, C., DESSORS, D., DESRIAUX, F. Por um trabalho, fator de equilíbrio. Revista de
Administração de Empresas, São Paulo, v. 3, n. 33, p. 98 – 104, 1993.
DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E.; JAYET, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da
Escola Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo, Atlas, 1994.
DEJOURS, C. Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações. Em: CHANLAT, J. F.
O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. Vol. 1. São Paulo: Editora Atlas, 1996.
DEJOURS, C. Subjetividade, trabalho e ação. Revista Produção, v.14, n.3, p. 27-34, set/dez,
2004.
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DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: FGV Ed., 2006.
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sofrimento no trabalho. Revista Psicologia Organizacional e do Trabalho, Florianópolis, v. 9,
n. 1, p. 51-67, 2009