O QUE EU APRENDI COM E.L.A.

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Bernardo Pinto Coelho O QUE EU APRENDI COM E.L.A. Amar, aceitar, acreditar e lutar

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Bernardo Pinto Coelho

O QUE EU APRENDI COM E.L.A.

Amar, aceitar, acreditar e lutar

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ÍNDICE

9 Dedicatória

13 Prefácio de Pedro Santana Lopes

I 17 Amar, Aceitar, Acreditar e Lutar

23 Mensagens de Apoio

27 Depoimento de Manuel Pinto Coelho, médico e pai

II 37 O Poder da Mente

45 Mensagens de Apoio

49 Depoimento de Filipa Pinto Cardoso, terapeuta

III 57 Resolver o Stresse Interno

67 Mensagens de Apoio

71 Depoimento de Carlos Fugas, psicólogo

IV 93 A Alimentação Faz Toda a Diferença

100 À Mesa Lá em Casa

105 Mensagens de Apoio

109 Depoimento de Mamede de Carvalho, neurologista

V 119 A Vida Trata-nos como Nós nos Tratamos

133 Mensagens de Apoio

137 Depoimento de Catarina Guedes, fisioterapeuta

VI 139 Deus Escreve Direito Por Linhas Tortas

147 Mensagens de Apoio

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VII 151 Família e Amigos 155 O Que Pensam do Bernardo

155 Depoimento de Fiô, mãe

156 Depoimento de Francisco, marido da mãe

157 Depoimento de Daiana, mulher do pai

159 Depoimento de Filipa, irmã

160 Depoimento de Marta, irmã

162 Depoimento de Manel, irmão

163 Depoimento de Francisco, irmão

165 Depoimento de Maria Helena, tia, irmã do pai

166 Depoimento de João, primo

167 Depoimento de António, primo

169 Depoimento de Cristina, amiga

170 Depoimento de Nuno, amigo

173 Mensagem de Apoio

VIII 175 O Mais Importante É o Coração

178 Depoimento de Joana, namorada

IX 183 O Meu Trabalho no Facebook

187 Mensagens de Apoio

191 Informação

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PREFÁCIO DE PEDRO SANTANA LOPES

1. Este livro é um monumento à condição humana. É um tra-tado sobre várias facetas do ser humano: como reagir à adversi-dade; como dar valor ao que é bom na vida; como ser humilde e procurar analisar as responsabilidades individuais face a uma situação muito penalizadora; como partilhar, em família, comba-tes de vida; como enaltecer os melhores sentimentos, o amor e a amizade; como partir à procura de respostas que a ciência ainda não tem; como investigar e combater uma perigosa enfermidade sem preconceitos em relação à chamada medicina convencio-nal ou às chamadas medicinas alternativas; como ter esperança, mesmo quando seria de admitir que fosse um sentimento impos-sível; como ver contrariedades pelo lado bonito e por um ângulo positivo; como trabalhar em equipa e, com método, distribuir tarefas; como hierarquizar prioridades; como ser perseverante; e, muito importante, como viver a fé.

2. Há cerca de dois anos, o Bernardo telefonou-me e pediu-me ajuda: queria ir para os Estados Unidos ou para Israel, como cobaia, na fase ainda muito embrionária dos testes de investigação para a cura da Esclerose Lateral Amiotrófica. Impressionaram-me muito as palavras de alguém ainda novo, que eu conhecia há décadas, palavras ditas com um misto de determinação e deses-pero mesclados com muito realismo. Dizia-me que, não havendo ainda cura, estava disposto a arriscar tudo.

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3. Confesso que não conhecia a realidade da ELA. Nunca tinha conhecido ninguém nessa situação. Já tinha ouvido dizer que o Bernardo estava com algo de complicado e grave, mas não sabia ao certo do que se tratava. Perante o quadro que ele me descre-veu, pedi aos serviços da Santa Casa que procurassem falar com as embaixadas daqueles países por causa daquela situação con-creta. Mas, ao mesmo tempo, que começassem a desenvolver um sistema de identificação dos principais centros no mundo de investigação e tratamento das enfermidades mais complicadas. Recordo-me de termos apoiado, na mesma altura, outro homem novo que precisava de um tratamento urgente na Alemanha, entre vários casos das mais variadas idades. Há muitas pessoas – desde profissionais de saúde a voluntários – que apoiam, de modo extraordinário, as pessoas que são atingidas por essas situa-ções muito graves. Mas a grande maioria do mundo a quem, feliz-mente, essas situações «não batem à porta», vive alheada dessas realidades.

4. Como este livro bem narra, o Bernardo tem uma equipa de família e de amigos – em que se incluem profissionais de saúde como o seu pai – que estão devotados à causa de voltar a ver o Bernardo correr no Guincho. Como é notável o que têm feito o pai, Manuel (sem palavras para descrever e qualificar), e a sua mulher, Daiana. Que notáveis testemunhos tem o livro, da mãe e dos irmãos e, também, dos amigos. Permitam-me realçar, ainda, no plano técnico, a interessantíssima e magnífica exposição de Carlos Fugas e o depoimento tão valioso de Filipa Pinto Cardoso.

5. Ele, Bernardo, tem uma luz que está a iluminar muitas pes-soas no mundo. Como já disse do Salvador Mendes de Almeida, digo, também, do Bernardo: ele é um farol que ilumina a estrada que muitos seres humanos têm de percorrer. O próprio Bernardo admite no livro ter sido escolhido pela providência para essa missão simultaneamente tão dura e tão importante. Ele acredita

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em Deus. Aqueles que, como nós, acreditam e, também, os que não têm essa graça, devemos agradecer o seu testemunho de fé. Todos, independentemente da fé de cada um, acreditamos muito no Bernardo Simões de Almeida Pinto Coelho.

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AMAR, ACEITAR, ACREDITAR E LUTAR

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Eu já devia estar morto. De acordo com a estatística médica, uma pessoa com a minha doença morre entre dois a cinco anos depois de detetados os primeiros sintomas. Mas eu ultrapassei o limite estatístico. Decidi não cruzar os braços e ir além do que a medicina consegue hoje propor. Tenho espírito de guerreiro e uma fé absoluta em que vou conseguir vencer esta batalha. Com a ajuda de Deus, da minha família e dos meus amigos.

Quando resolvi aceitar que tinha ELA – e não foi fácil, demorei três anos e meio a consegui-lo – decidi, também, que ia ser feliz. Quando me apareceu esta doença degenerativa – a Esclerose Late-ral Amiotrófica – para a qual não há cura prevista pela medicina tradicional, entrei por um caminho que me levou a descobrir mui-tas verdades sobre mim mesmo. Comecei a ouvir o meu corpo e o meu coração de outra maneira. A aproveitar todos os minutos do dia, a ser mais grato com o que tenho, a viver mais o presente, a não fazer muita futurologia. Aceitar que tenho uma doença que pode ser fatal marcou um novo começo na minha vida. E muitas coisas positivas me aconteceram desde então: comecei a trabalhar no que realmente gosto (a música), confirmei de forma irrefutá-vel que tenho uma família e amigos que me amam de verdade e até encontrei a mulher da minha vida, numa altura em que achava que o amor já não ia querer nada comigo. E descobri ainda que ao partilhar com os outros a minha atitude de «guerreiro» na batalha contra a ELA estou a conseguir dar esperança a muitas pessoas que já estavam a desistir.

Tenho a sorte de ter um pai médico, que também decidiu que não ia cruzar os braços enquanto via o filho ir parar a uma cadeira de rodas e morrer. Estudou, investigou e desenhou-me

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um programa de alimentação, exercícios e suplementação que nunca foi experimentado em doentes com esta patologia. Estes três vetores assentam num pilar fundamental: a minha força de vontade, a minha energia interior e a minha fé em que vou con-seguir curar-me. Os últimos testes que fiz permitem afirmar que a doença não progrediu – e a ELA é uma doença que está sempre a evoluir. Mas quero sublinhar aqui um dado fundamental: o que fez realmente com que a ELA não progredisse foi a terapia sintó-nica, uma técnica criada e desenvolvida pelo doutor Carlos Fugas para reduzir os níveis de stresse interno.

A ELA pode ter origem genética e hereditária ou, então, sur-gir porque maltratamos tanto o corpo e a mente que tudo se des-regula. É o meu caso, porque na história da minha família não há nenhum episódio conhecido de esclerose lateral amiotrófica. A mim apareceu-me porque as minhas mitocôndrias ficaram tristes. Vou explicar melhor: cada célula tem um núcleo e uma mitocôndria, e é a mitocôndria que faz os neurónios enviarem as mensagens para os músculos. Na ELA, essas mensagens come-çam a chegar de forma cada vez mais fraca até não chegarem de todo. É por isso que começamos a ter falta de força muscular. Pri-meiro numa mão, depois no braço, na perna, nos pulmões... As minhas mitocôndrias ficaram tristes com todos os abanões que levei na vida e com a forma como eu as maltratei, e foi assim que a ELA apareceu. O que estou a tentar com este programa dese-nhado pelo meu pai é que as minhas células comecem de novo a sorrir. Estou convencido de que, quando elas ficarem contentes, as mensagens vão voltar a chegar a todo o corpo. A terapia sintó-nica ajudou a reduzir o stresse interno, a controlar a revolta que sentia por ter esta doença e, sobretudo, a aceitar a ELA. E isto mudou radicalmente a minha cabeça. Aceitar que tenho ELA foi o mais difícil de tudo neste processo. Mas foi o mais importante.

Hoje sou mesmo outra pessoa: calmo e controlado. Continuo sorridente, mas de outra forma, porque estou muito mais tran-quilo, estou em paz interiormente, e parece que esta atitude só

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atrai coisas boas... Arranjei uma estratégia para aceitar as coisas más que me acontecem, para pensar positivo e com bom astral e, incrivelmente, as coisas positivas acontecem mesmo, porque, de facto, o semelhante atrai o semelhante!

O segredo está mesmo em aceitar – aceitar o que nos acontece, de bom e de mau. Em acreditar – acreditar que Deus sabe de nós. E se nos entregarmos a Deus com um sorriso interior, o retorno será bem melhor do que se ficarmos revoltados e queixosos. E em lutar – nunca desistir, sem autopiedade e com amor-próprio.

Demorei muito tempo a aceitar a doença, mas quando alterei o chip, tudo mudou para muito melhor, e até me apareceu, ines-peradamente, a mulher da minha vida... Tenho a certeza de que se estivesse revoltado e com mau astral, jamais teria conhecido esta pessoa – ninguém quer estar com alguém triste e queixoso. Acredito que vou ficar curado, porque sei que estou na terra com um propósito (estou a ajudar muitas pessoas com e sem a minha doença, o que está a dar-me imenso prazer) e acredito em Deus. Lutar é o que continuo a fazer porque «parar é morrer». Por maior solidão que sinta com esta doença (e ninguém imagina mesmo) – a minha vida era fazer desporto e estar ao ar livre, dançar, rir e fazer rir – arranjei estratégias para não me deixar ir abaixo e nunca me entregar à autopiedade (por exemplo, se começo a sentir-me triste, vou para o duche e ponho música alegre, saio de casa para ir ter com amigos ou peço para virem ter comigo, vou para um bar... Enfim, não me deixo cair no desânimo e penso na sorte que tenho por contar na minha vida com pessoas que gostam de mim).

E estar bem comigo mesmo é o mais importante, porque estar sozinho não significa estar-se só! Temos de estar bem com nós próprios antes de estarmos bem com os outros. Uma das razões pelas quais acredito que vou ficar curado é porque, além de não ser um desistente, sou um lutador, tenho um espírito positivo e otimista.

Achei que devia partilhar com os outros este caminho que estou a descobrir. E fiz um vídeo, com a ajuda de amigos, sobre

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a forma como estou a lutar contra esta doença e que está no YouTube. Esse vídeo existe em português e inglês – «Bernardo’s ALS Cure: The Power of Your Mind (Part I)» ou «O Poder da Tua Mente (Parte I)» – e já tem milhares de visualizações, já passou diversas vezes na televisão, em telejornais e em programas para os quais fui convidado para contar como vivo com ELA e o que faço para a tentar vencer. E trata-se apenas da Parte I, porque quero fazer ainda a Parte II quando estiver tão melhor que já con-siga correr no Guincho.

O número de visualizações do meu vídeo aumentou exponen-cialmente desde que o Cristiano Ronaldo resolveu partilhá-lo na sua página do Facebook – ele, para mim, é um ídolo, e ainda mais desde que teve este gesto que me permitiu partilhar com tanta gente a força e a fé que descobri desde que aceitei a doença. Mas o verdadeiro pontapé de saída para o meu vídeo aconteceu muito antes, com uma entrevista que a Laurinda Alves me fez para o Observador. A partir dessa entrevista, recebo dezenas de men-sagens por dia na minha página de Facebook. De pessoas com a minha doença, de pessoas com outras doenças neurológicas, doenças crónicas, depressões, cancros, ou de familiares e ami-gos desses doentes que procuram desesperadamente formas de ajudar. E também me escrevem pessoas que não têm nenhum problema específico, mas gostaram de sentir a minha força de vontade, o meu espírito de guerreiro, a minha energia – não estou a inventar nada, escrevem-me, de facto, coisas como estas. Conhecidos e pessoas de quem nunca ouvi falar. De Portugal e de outros países.

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MENSAGENS DE APOIO

Cristiano Ronaldo20 de novembro de 2014Many people around the world embraced the # icebucketchallenge

to create awareness to #ALS. It’s with great joy that I share the inspira-tional story of Bernardo, a story of success in fighting #ALS

Bernardo’s ALS Cure - The Power of your Mind (Part 1)Five (5) strategies for your cure: 1) Mind; 2) Food; 3) Exer-cise; 4) Advanced supplementation; 5) Psychotherapy. The purpose of this video is to help people…vimeo.com|De BernardoPintoCoelho

Fogo, Bernardo. Soube agora pelo wall da Laurinda Alves... Que inspirador! Venho agora de um internamento por causa de uma embolia pulmonar e de um outro achado, talvez Doença de Chron (falta resultado da biópsia)... a juntar ao reumático que me foi diag-nosticado aos 22 anos. Eh, pá, dás-me alento. Estava aqui na fase do «porquê a mim?».

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E zás.Vamos embora!Desculpa a ousadia, Bernardo.Grande abraço.C.S.

Olá, BernardoGrande exemplo!!! Vi o vídeo, comovi-me de alegria, por ver um

grande testemunho de quem ama a vida. É verdade: fé, otimismo, exercício, força da mente e alimentação são mesmo a nossa salvação.

Sei que em nada se compara, mas em junho deste ano foi-me diagnosticada uma leucemia aguda. Nunca perguntei a mim mesma «porquê eu?» e no mesmo dia só pensei na cura. Nunca perdi a fé e a esperança, adotei todos esses trunfos, exceto a alimentação, que não é tão rigorosa como a tua. Mas se Deus quiser, em novembro acabo a quimioterapia e depois restam dois anos de controlo.

Acredito mesmo que tudo vai passar e que esta é uma etapa da vida que nos faz crescer e mudar muita coisa à nossa volta. Somos escolhidos porque temos a capacidade de ultrapassar estes desafios.

Obrigada pela força e coragem que passas no vídeo.Continua a lutar, acredita, e nunca percas a fé.V.

«Do not go where the path may lead, go instead where there is no path and leave a trail...» Parabéns por fazer exatamente isso! Não o conheço pessoalmente, mas ontem à noite vi a entrevista que deu à Laurinda Alves e não posso deixar de enviar um beijo sincero para um grande homem. Essa luz que irradia é contagiante e merece ser reconhecida! Muito obrigada. E continue a ser maravilhosamente forte, lindo, corajoso, divertido, inteligente, sensível, brilhante e luta-dor! O mundo precisa de mais Bernardos! Um beijo e desculpe esta invasão mas tinha de o dizer!!

C.M.

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Grande Bernardo! Ando para te escrever estas palavras há já algum tempo. Apesar de nos conhecermos mal, aliás do género «Olá, estás bom?», desde o tempo dos Salesianos, e agora mais recentemente de me cruzar contigo na missa. Desde sempre que conheço a tua família, o meu pai foi um grande amigo do teu. Desde que soube da tua doença, não há muito tempo, fiquei incrédulo, mas de facto ou o destino prega grandes partidas ou, de facto, Deus tem um desígnio muito maior para pessoas como tu. Queria dizer-te que a tua força e vontade de viver têm sido verdadeiramente importantes para mim. Há cerca de um ano, fui diagnosticado com um tipo de cancro que para já não tem cura, e com um desenvolvimento algo imprevisível. Pode ser controlado, mas tenho uma longa caminhada pela frente. Deixa-me muito reconfortado encontrar alguém que em condições muito complicadas e adversas consegue transmitir o pra-zer de estar vivo e de querer viver. Acabei de ver a reportagem do Observador e fiquei mesmo contente por ver como estás! Desculpa esta minha mensagem, desculpa se as minhas palavras por qualquer razão foram pouco oportunas, mas acho importante o exemplo de alguém, que pode ter imensa influência na vida de outro, neste caso, da minha, e acho que é bom e importante sabê-lo. Tudo o que puder ajudar, conta comigo. Forte abraço.

C.S.C.

Olá, BernardoVi a tua entrevista com a Laurinda Alves e adorei, agora vi o teu

vídeo e achei fantástico. Parabéns por tudo. De todos lá de casa podes contar com a nossa oração diária.

Obrigada por seres este exemplo para nós e, principalmente, para as nossas filhas.

BeijinhosF.

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Olá, Bernardo. Como pouco sei de si diretamente permita-me dizer-lhe que desejo de coração que se sinta bem, forte na luz espe-rançosa que tem em si e da alma grande que transporta. Como Natália Correia dizia: «Creio nos anjos que andam pelo mundo...» e, assim, creio em si, anjo humano, sem necessitar de asas para voar, porque o que lhe alimenta a alma leva-o onde quiser... Para mim, o Bernardo é uma inspiração de vida. Porque a vida pode ser muito cruel, no entanto, como você diz «valerá sempre a pena!». Sofro muito na minha vida, mas nada como ter uma doença... Por isso, o seu sorriso é um sol que cada dia nasce para dar força a quem ainda, como você, tem tanto de belo para viver. Tentemos ser felizes hoje, agora, é tudo o que temos. Muito obrigada, menino lindo, que a luz o acompanhe sempre e o amor seja o seu bem maior para dar e ter como precisa e merece. Força, menino anjo, que Jesus o ajude a caminhar. E se não for Ele, que seja então o amor que tem em si. Beijinho e abraço do tamanho do mundo, meu e do meu adorado filhinho (autista severo) que gosta de ver a sua foto, e sabe a luz que você irradia... Quando não se consegue falar, as manifestações de amor são sublimes. Muita luz, querido anjo!

L.L.

Tenho lúpus há 34 anos, já fiz várias cirurgias e estou encami-nhada. Trabalho, também, na Associação de Doentes com Lúpus já há 20 anos. Vi uma reportagem sua na televisão e fiquei emocionada. Acho que é um homem com muita força. Continue assim, porque é um exemplo para muitos doentes. Se me permite, deixo-lhe aqui um grande beijinho de amizade. Bem-haja.

A.M.

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DEPOIMENTO DE MANUEL PINTO COELHO

médico, doutorado em Ciências da Educação, diplomado em Medicina Antienvelhecimento,

pai do Bernardo

A ELA é uma doença neuromuscular degenerativa. Depois de feito o diagnóstico, o que a medicina tradicional, alopática, diz é que o tempo médio de vida é de três a cinco anos. Existem duas formas de Esclerose Lateral Amiotrófica: a forma esporádica, que acontece em 90 por cento dos casos – aquela de que o meu filho Bernardo padece – e a familiar. Esta última é tipicamente causada por mutações em diferentes genes.

A forma esporádica tem que ver com variadíssimas circunstâncias. A investigação científica realizada até ao momento ainda não conse-guiu compreender a sua patogénese, mas tenho investigado algumas teorias, como a vigente – a da toxicidade do glutamato e ainda a da disfunção mitocondrial, a do stresse oxidativo, das toxinas ambientais e a vírica.

A teoria que a medicina clássica ocidental tem seguido até agora prende-se com a toxicidade do glutamato – a acumulação de gluta-mato no intervalo entre cada neurónio. Naquele espaço que separa os neurónios uns dos outros, há uma acumulação de glutamato que contribui para a degenerescência neuronal. A abordagem clássica da medicina tem que ver exatamente com isso, tentando evitar a acumu-lação de glutamato nesse espaço. A única intervenção médica é esta, a que preconiza a toma do Riluzol («rilutek»), a única droga aprovada para tratar esta doença, e que pouco mais faz do que prolongar em alguns meses a vida do doente afetado com ELA.

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Como é óbvio, um pai como eu, que tem um filho com um problema destes, não pode assistir impávido à deterioração do seu estado – dete-rioração exclusivamente motora que não psicológica, porque a ELA não toca na parte psicológica. O doente mantém as suas capacidades cognitivas e sensoriais. A doença é totalmente a nível neuromuscular.

Alertado pela minha filha Filipa para as dificuldades que uma existência solitária, no seu apartamento de Cascais, estavam a causar ao seu irmão, com o apoio entusiasta da minha mulher Daiana, desa-fiei o Bernardo a vir morar connosco em nossa casa, convite que de imediato aceitou, e iniciei, ato contínuo, uma investigação profunda sobre ELA. Entre as teorias pesquisadas, uma houve que destaquei por me parecer a que melhor pode conseguir retardar a evolução da ELA, ou até fazê-la regredir, que é a da disfunção mitocondrial.

Sabe-se que na ELA há sempre menor ou maior grau de sofrimento mitocondrial – a mitocôndria é uma pequena subunidade dentro da célula, uma espécie de casa das máquinas, é a central elétrica dentro da célula, responsável pela produção da sua energia – e a produção dessa energia está deficitária no caso de doenças como a do Bernardo, mas não só. Pensa-se que esta situação também se verificará noutras doenças como a Esclerose Múltipla, Parkinson e Alzheimer. A disfun-ção mitocondrial tem sido, na realidade, o alvo preferencial da minha pesquisa e da minha atenção – daí a utilização, por parte do Ber-nardo, de suplementos com o objetivo de proteger e melhor alimentar as mitocrôndias, impedindo assim que deixem de funcionar e possam provocar a morte prematura dos neurónios.

Para melhor entender esta questão, imagine o leitor que tem um carro. Ora, ele só anda se lhe puser gasolina e conseguir energia para fazer funcionar o motor. O combustível que alimenta a mitocôndria tem de ser transformado em energia e há substâncias que fazem essa transformação, à semelhança do que faz o motor no caso dos carros. Depois, há uma espécie de maestro que supervisiona todo este processo. Há um determinado tipo de substâncias que, no meu entendimento e segundo as pesquisas que realizei, intervêm nesta história. A ELA, nos casos esporádicos, é essencialmente um sofrimento da mitocôndria.

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O Bernardo diz que tem as mitocôndrias tristes, e tem uma certa razão. Estando as mitocôndrias maltratadas, há que dar-lhes o melhor combustível possível. Não pode ser um qualquer, tem de ser super. E o processo de transformação desse combustível em ATP (ácido adenosi-notrifosfórico) tem de ser bem assistido para este processo se desenrolar da melhor forma. No fundo, é isto que a intervenção visa. A alimen-tação, a suplementação, o exercício, a terapia sintónica, tem tudo que ver com este processo de fornecer bom combustível à mitocôndria. E é também a forma de ajudar a mitocôndria a tratar bem o seu com-bustível e a convertê-lo em energia, célula a célula, de forma a fazer desaparecer os sinais e sintomas da doença.

No afã de ajudar o Bernardo e outras pessoas que padecem do mesmo problema, não tenho descurado ainda outros possíveis fatores que estejam por trás da eclosão da doença, como as infeções virais e as toxinas ambientais – metais pesados, como o alumínio, o chumbo, o mercúrio, o arsénio, o cádmio e os pesticidas existentes na relva de campos de futebol, que podem, eventualmente, explicar a invulgar alta incidência de ELA verificada em jogadores de futebol em Itália – daí o recurso à estratégia da quelação, exemplarmente executada pela doutora Maria Francisca Almeida, com o objetivo de desintoxicar o Bernardo destas substâncias poluentes que poderão ser, quem sabe, também responsáveis pela eclosão da sua doença.

Para minimizar o stresse oxidativo, o Bernardo faz ainda uso de vários suplementos antioxidantes.

A ideia que hoje se transmite é que a ELA constitui uma verdadeira sentença de morte, como o cancro. Mas, de facto, não tem de ser assim.

Estas três valências – a não acumulação de glutamato já bem contemplada pela medicina atual, mas, essencialmente, a aborda-gem ao stresse oxidativo e ao sofrimento mitocondrial – é que, na minha perspetiva, deveriam merecer mais atenção. A minha inter-venção tem-se nelas focado. Os 16 suplementos que o Bernardo toma, a atividade motora adaptada que faz, e a abordagem psicológica através de manobras de redução do seu stresse interno têm que ver com tudo isto.

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É uma realidade que nós formamos continuamente novas células, novos neurónios. O cérebro tem plasticidade, é maleável, não é uma condição estática. É um processo dinâmico, está em permanente muta-ção, e as suas conexões podem ser reconfiguradas face a novas experiên-cias e pensamentos. Esta é a força da psicoterapia, o seu fundamento lógico e a razão do seu sucesso.

É impressionante a forma como os nossos neurónios podem ser afe-tados pela nossa forma de estar na vida. O stresse, determinado tipo de vivências mais reprimidas ou grandes níveis de ansiedade, podem inibir o crescimento neuronal. Mas em 11 meses renovamos os nossos neuró-nios, ao fim dos quais temos uma massa neuronal totalmente reno-vada. Para isto acontecer tem de haver condições de tranquilidade, tem de haver total ausência de ansiedade. É uma realidade que o sofrimento bloqueia a produção de novos neurónios, muito por responsabilidade do cortisol, libertado nessas circunstâncias pelas glândulas suprarrenais, e é verdade que o stresse diminui a capacidade de o cérebro os recriar e substituir. As pessoas que se mantêm tranquilas têm outra capacidade para produzir novos neurónios. Frequentemente, há situações devasta-doras por detrás da eclosão de um fenómeno destes. Tenho verificado, na minha prática clínica, que situações de trauma emocional, mais ou menos devastadoras, estão por detrás da eclosão de uma percentagem significativa de casos de ELA.

O que o doutor Carlos Fugas faz com a sua terapia sintónica é exatamente remover o stresse interno, para permitir que esse processo decorra em boa ordem e que essa renovação neuronal se possa operar, para diminuir a deflagração de doenças como a do Bernardo. É este o fundamento da terapia sintónica que este brilhante psicólogo, hoje meu amigo, tem ministrado diligente e pacientemente, com comove-dora dedicação, ao Bernardo. Pela remoção do seu stresse interno, o meu filho tem não só evitado a morte prematura dos seus neurónios, como tem conseguido a sua renovação com menos dificuldade. Ele é um exemplo vivo que face a novas experiências, face a novas emoções, a pessoa pode reconfigurar, pode produzir de forma diferente, pode organizar de outra maneira os seus neurónios.