O Que Marx Tem a Dizer Sobre a Crise Capitalista

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O que Marx tem a dizer sobre a crise capitalista? Marcos Margarido, de Campinas (SP) Em outubro de 2008, a editora alemã Karl Dietz anunciou ter aumentado as vendas de sua edição de O Capital, de Karl Marx, em 00!" O motivo era a crise econ#mica mundial $ue assombrava o mundo com a explosão da bol%a imobili&ria" Muitos 'oram buscar num livro de ()0 anos as bases para o entendimento dos mecanismos das crises da economia capitalista e, assim, tentar compreender o mundo de %o*e" O livro Marx e a crise, lançado pela Editora +undermann, tem tudo para seuir os passos de seu -irmão maior., pois coloca ao nosso alcance os textos 'und amentais para a co mpreensão das concepç/es de Marx e En els, selecionados e oranizados por Daniel omero" Os textos apresentados variam bastante no tempo, e mostram, tamb1m, a evolução do pensamento dos dois autores" O primeiro, retirado do livro situação da classe trabal%adora na 3nlaterra, 'oi escrito por Enels em (84) e publicado por Marx no *ornal te5rico nais 6ranco7alemães, editado na 6rança"   seunda seleção de textos vem do livro 3 de O Capital, cu*o t9tulo 1 :eorias da Mais7valia" 6oi escrito entre (8;4 e (8;), como uma elaboração de apoio < sua obra principal, e publicado apenas em (=0) por Kauts>?, na 1poca o principal te5rico do @artido +ocial7democrata alemão" Ama terceira s1rie 'az parte do livro 333 de O Capital" 6inalmente, o livro nos brinda com uma pe$uena parte, in1dita em portuuBs, do livro Esboços para uma cr9tica da economia pol9tica, ou rundisse, como 1 con%ecido" Este 'oi escrito entre (8) e (8)8, mas s5 se tomou con%ecimento dele em (==, por meio da impressão de uma pe$uena edição em Moscou" Primeira abordagem das crises econômicas do capitalismo   primeira aproximação sobre u ma teoria das crises capital istas pode ser en co ntra da no texto de En e ls, $ue *& observava $u e er am crises de superprodução -Em breve tal mercado est& saciado, as vendas param, o capital permanece inativo, os preços caem e a manu'atura inlesa não tem mai s empre os par a seus braço s." :ais crises impulsionam as ten dBn cias

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7/24/2019 O Que Marx Tem a Dizer Sobre a Crise Capitalista

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O que Marx tem a dizer sobre a crise capitalista?

Marcos Margarido, de Campinas (SP)

Em outubro de 2008, a editora alemã Karl Dietz anunciou ter aumentado

as vendas de sua edição de O Capital, de Karl Marx, em 00!" O motivo era a

crise econ#mica mundial $ue assombrava o mundo com a explosão da bol%a

imobili&ria" Muitos 'oram buscar num livro de ()0 anos as bases para o

entendimento dos mecanismos das crises da economia capitalista e, assim,

tentar compreender o mundo de %o*e"

O livro Marx e a crise, lançado pela Editora +undermann, tem tudo para

seuir os passos de seu -irmão maior., pois coloca ao nosso alcance os textos

'undamentais para a compreensão das concepç/es de Marx e Enels,selecionados e oranizados por Daniel omero"

Os textos apresentados variam bastante no tempo, e mostram, tamb1m,

a evolução do pensamento dos dois autores" O primeiro, retirado do livro

situação da classe trabal%adora na 3nlaterra, 'oi escrito por Enels em (84) e

publicado por Marx no *ornal te5rico nais 6ranco7alemães, editado na 6rança"

  seunda seleção de textos vem do livro 3 de O Capital, cu*o t9tulo 1 :eorias

da Mais7valia" 6oi escrito entre (8;4 e (8;), como uma elaboração de apoio <sua obra principal, e publicado apenas em (=0) por Kauts>?, na 1poca o

principal te5rico do @artido +ocial7democrata alemão"

Ama terceira s1rie 'az parte do livro 333 de O Capital" 6inalmente, o livro

nos brinda com uma pe$uena parte, in1dita em portuuBs, do livro Esboços

para uma cr9tica da economia pol9tica, ou rundisse, como 1 con%ecido" Este

'oi escrito entre (8) e (8)8, mas s5 se tomou con%ecimento dele em (==,

por meio da impressão de uma pe$uena edição em Moscou"

Primeira abordagem das crises econômicas do capitalismo

  primeira aproximação sobre uma teoria das crises capitalistas pode ser 

encontrada no texto de Enels, $ue *& observava $ue eram crises de

superprodução -Em breve tal mercado est& saciado, as vendas param, o

capital permanece inativo, os preços caem e a manu'atura inlesa não tem

mais empreos para seus braços." :ais crises impulsionam as tendBncias

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centralizadoras do capital, $ue trans'ormam as crises individuais em crises

erais peri5dicas, $ue se repetiriam a cada cinco anos"

Mas coube a Marx dar uma explicação cient9'ica das causas reais da

crise" o contr&rio dos economistas burueses, $ue viam o trabal%o

assalariado como serviço, Marx encarava7o como a Fnica 'onte de criação de

um novo valor, durante a produção das mercadorias" Gos textos apresentados

em Marx e a crise, podemos acompan%ar a construção dos principais

elementos de seu pro*eto sobre a teoria das crises, -o mais complicado

'en#meno da produção capitalista., embora não a ten%a terminado em vida"

As interpreta!es parciais dos economistas marxistas

De suas indicaç/es iniciais suriram duas randes -escolas. marxistas a

$ue explica as crises pelo subconsumo das massas e a $ue as explica pela

super7acumulação de capital"

Ga sociedade capitalista, a ri$ueza produzida pelos trabal%adores

sempre ultrapassa o total dos sal&rios recebidos por eles, pois a parte maior do

valor criado pelo trabal%o assalariado 1 embolsada pelos capitalistas na 'orma

de lucros" @ortanto, para os adeptos da teoria do subconsumo sempre %aver&

um excesso de bens $ue os trabal%adores não podem comprar" @arte dos

produtos não 1 vendida, erando a superprodução e a contração da economia,

at1 $ue os lucros 'i$uem tão escassos $ue os investimentos param"

@or outro lado, os de'ensores da superacumulação a'irmam $ue a evolução

t1cnica provoca um rande investimento em novas m&$uinas e instalaç/es 7 o

capital constante 7, aumentando a produção e os lucros" Mas esta

superacumulação era tamb1m uma pressão por aumento de sal&rios, devido< escassez de mão7de7obra nestes per9odos" Am aumento su'icientemente

r&pido dos sal&rios reais leva < perda dos lucros necess&rios para manter a

expansão da economia"

@or1m, estas duas teorias são parciais e não conseuem absorver o

con*unto do pensamento de Marx" Os adeptos do subconsumo s5 enxeram a

ação dos sal&rios na $ueda dos lucros, en$uanto $ue os de'ensores da

superacumulação preocupam7se apenas com os investimentos em capitalconstante"

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A lei da queda da taxa de lucro

@ara Marx, as crises eram o resultado de uma ação con*unta destes dois

aspectos da produção capitalista, cu*o ob*etivo 1 o lucro" @ara obtB7lo, cada

capitalista desenvolve uma uerra no interior da '&brica, contra os

trabal%adores, para aumentar a exploraçãoH e outra na concorrBncia com os

demais capitalistas, para ampliar seu mercado de vendas"

Gas 'ases de expansão econ#mica, os capitalistas recorrem <

mecanização para aumentar a produtividade" Com isso, resolvem v&rios

problemas" Consomem seus pr5prios produtos, compensando os e'eitos do

subconsumo da classe trabal%adora, reduzem o custo de cada mercadoria ao

produzir mais na mesma *ornada de trabal%o e, 'inalmente, aumentam a

exploração sem precisar reduzir os sal&rios, pois não paam mais pelo

aumento da produção"

Mas 1 necess&rio vender seus produtos" 3sto leva a uma disputa

desen'reada pelo mercado, com uma produção cada vez maior a preços mais

baixos $ue os concorrentes" Go in9cio da expansão, este movimento causa a

abertura de novas '&bricas e o aumento do empreo" I o $ue vimos no Jrasil

nos Fltimos anos"

Mas c%ea um momento em $ue a produção de mercadorias 1 muito

maior $ue a massa salarial dispon9vel para consumi7las a um preço $ue possa

'ornecer o lucro m1dio esperado" I a c%amada crise de superprodução" Ga

crise atual, por exemplo, ocorreu a superprodução de casas e autom5veis nos

Estados Anidos"

Marx une estes aspectos em sua lei da $ueda da taxa de lucro" Ele a

'ormulava da seuinte 'orma -o aumento radual do capital constante emrelação ao capital vari&vel tem como resultado uma diminuição radual da taxa

eral de lucros, sempre e $uando a taxa de mais7valia, ou se*a, o rau de

exploração do trabal%o pelo capital, permanecer invari&vel."

  taxa eral de lucro 1 a relação entre o lucro e o capital investido, isto 1,

o capital vari&vel mais o capital constante" massa de lucro 1 o resultado da

exploração do trabal%ador e da $uantidade de mercadorias vendidas" uando

o capital constante aumenta mais $ue essa massa de lucro, a taxa de lucrocai"

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uando a $ueda da taxa de lucro 1 tão rande $ue novos investimentos não

são mais compensat5rios, instala7se a crise econ#mica, $ue vem na 'orma de

paralisia do 'uncionamento da economia do capitalismo, com a destruição de

capital constante L 'ec%amento de '&bricas, sucateamento e barateamento de

m&$uinas L e de capital vari&vel L desempreo e redução de sal&rios" @ara

continuar existindo, o capitalismo deve destruir a si pr5prio" +ua principal

'unção, a de erar lucro, deixa de existir por um per9odo"

O que "Marx e as crises# nos traz

Como diz Marx, -o verdadeiro limite da produção capitalista 1 o pr5prio

capital." O livro publicado pela Editora +undermann a*uda7nos a con%ecer este

limite, $ue sure claramente com a crise econ#mica, e como super&7lo" partir 

da descrição da concorrBncia e da cr9tica da teoria da acumulação de icardo,

passamos pela an&lise da mais7valia e do lucro, e por textos 'undamentais para

a compreensão da lei da $ueda da taxa de lucro e do capital monet&rio" I uma

obra obriat5ria para os dias de %o*e"