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    Revista Aproximando v. 1, n. 2 (2015)

    O QUE MOTIVA O PROFESSOR NO O DINHEIRO

    Marcus Brauer1

    1. Introduo

    Se a instituio quer formar alunos

    competentes, primeiro deve ter professores

    competentes. Competncia o conjunto dos

    conhecimentos, habilidades, atitudes e valores,

    mobilizadas para uma entrega (Ruas e outros,

    2010). Em outras palavras, no basta ter

    talentos, eles tm que dar resultado.

    Algo comum o professor ter slidos

    conhecimentos tericos, talvez desenvolvidos

    em um bom curso de doutorado. No raro

    professores terem bons conhecimentos obtidos a partir de anos de experincia

    prtica. Mas o que adianta ter conhecimentos de sua disciplina se no possuir a

    habilidade de ensinar?

    Infelizmente, ainda comum ouvir nos corredores de renomadas instituies de

    ensino que o professor sabe a matria, mas no sabe ensinar. Se o professor no

    sabe ensinar, o aluno poder ter srias dificuldades para aprender. Cursos de

    mestrado e doutorado preparam seus alunos para serem bons pesquisadores, para

    avanar o conhecimento cientfico de um determinado assunto. Mas capacitar os

    alunos para ensinar com qualidade, algo raro no s no Brasil, mas como no

    exterior.

    E o que basta ter amplos conhecimentos e habilidades para ensinar, mas se no

    houver amor, vontade, motivao, pr-atividade, dedicao, tica? Com o perfil de

    1Professorda Faculdade de Administrao e Finanas da UERJ (FAF/UERJ) , do Mestrado em Administrao e

    Desenvolvimento Gerencial da Univ. Estcio de S (MADE/UNESA), e da Escola de Administrao Pblica(EAP) da UNIRIO. [email protected]

    O objetivo desse artigo discutira motivao dos professores e,mais especificamente, relatar aexperincia de ser indicado aoprmio Ansio Teixeira, na UERJ.A partir de um depoimentopessoal, constatou-se que otrabalho em equipe, o estudo dadidtica e principalmente o amorpelos alunos foram consideradosfatores motivacionais queimpactam mais nos resultados, aoinvs do dinheiro, emboranecessrio.

    Palav ras -ch aves: Mo ti vao.Reconhecimento. Amor.

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    alunos da UERJ, a atitude do professor um dos itens mais importantes, e ao

    mesmo tempo o mais difcil de mudar.

    Algumas instituies de ensino criaram centros de ensino e aprendizagem para

    capacitarem seus professores nas tcnicas e na arte do ensino, como por exemplo

    as universidades de Berkeley, Stanford, Pennsylvania, Brown, FGV-EAESP, dentre

    outras. Fazer um bom plano de ensino, estudar quem so seus alunos, selecionar

    boas referncias, ensinar a pensar e no transmitir informaes, como na

    educao bancria criticada por Paulo Freire elaborar boas avaliaes de acordo

    com os objetivos do curso, so contedos complexos at para os especialistas na

    rea.

    A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) uma instituio

    reconhecida em diversas reas, e sua primeira nota 7 na CAPES nota mxima na

    avaliao de programas de ps graduao stricto sensu foi em Educao.

    Entretanto, tal instituio ainda no tem um centro de ensino e a aprendizado para

    auxiliar suas centenas de docentes. Entretanto, a UERJ tem uma iniciativa de

    vanguarda no pas que uma breve capacitao em didtica para os seus novos

    professores, por meio de Educao a Distncia.

    Outra empreitada da instituio premiar seus melhores professores. Difcilescolha, pois seu corpo docente altamente qualificado mais de 80% possuem o

    doutorado, mas ningum melhor do que o aluno para selecionar os docentes a

    serem premiados. Tal prmio um reconhecimento do professor, e isso pode

    estimular mais o docente do que sua remunerao. O objetivo desse artigo discutir

    a motivao dos professores e, mais especificamente, relatar a experincia de ser

    indicado ao prmio Ansio Teixeira.

    2. Motivao nas organizaes

    A motivao nas organizaes um tema complexo e bastante pesquisado,

    mas ainda no h um consenso. O pesquisador canadense Gary Latham escreveu

    um livro possivelmente o mais respeitado atualmente que discute a histria das

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    pesquisas desse tema, bem como os principais conhecimentos tericos e prticos

    (Latham2, 2012).

    O livro mostra que no incio do sculo passado, a motivao tinha explicaes

    com nfase na biologia e posteriormente no dinheiro, com estudos de Sigmund

    Freud e Frederick Taylor, respectivamente. No ano de 1968, Frederick Herzberg

    publicou uma pesquisa na revista Harvard Business Review argumentando que os

    fatores intrnsecos ou motivacionais, como alcance de metas e reconhecimento,

    influenciava muito mais do que fatores externos ou higinicos, como o salrio. Em

    outras palavras, o salrio no era um fator que explicava adequadamente a

    performance de trabalhadores (Herzberg, 1968)

    Ceclia Bergamini, pesquisadora da USP e FGV-EAESP, bem como Daniel Pink

    mais recentemente, afirmam que a motivao intrnseca, ou seja, ningum motiva

    ningum.

    Muitos executivos ainda acreditam que possvel gerar motivaocondicionando os comportamentos por meio de prmios e punies.Mas a verdadeira motivao nasce das necessidades interiores e node fatores externos. No h frmulas que ofeream solues fceispara motivar quem quer que seja. O lder no pode motivar seusliderados. Sua eficcia depende de sua competncia em liberar a

    motivao que os liderados j trazem dentro de si.(Bergamini, 2002,p. 63)

    Alguns autores so usam afirmaes mais fortes, dizendo que bnus,

    recompensas, participao nos lucros so formas de suborno (Kohn3, 1998). Por

    outro lado, algumas organizaes, como a AbInbev, utilizam basicamente o dinheiro

    como forma de estimular seus funcionrios, e isso atrai um grande nmero de

    candidatos, visto que a relao candidato-vaga para trainne geralmente de mais

    de 3000 por vaga (Pati, 2014).Embora difcil comprovar que o dinheiro motiva ou que no motiva, ser

    professor em uma instituio pblica de ensino superior, que raramente oferece

    infraestrutura e remunerao adequada, est mais para vocao do que

    simplesmente profisso. O prazer de ensinar, a alegria de ver o aluno aprender e

    adquirir empregabilidade e capacidade de melhorar o mundo em que vivemos, mais

    2LATHAM, Gary.Work motivation: history, theory, research and practice. 2. Ed. London: Sage, 2012.

    3KOHN, Alfie. Punidos pelas recompensas. So Paulo: Atlas, 1998.

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    o reconhecimento de um esforo so ingredientes que devem ser considerados com

    mais ateno.

    3. A indicao ao prmio Ansio Teixeira 2014

    Iniciativa da Sub-reitoria de Graduao por meio da Coordenadora de

    Avaliao, Projetos Especiais e Inovao, o prmio Ansio Teixeira 2 edio teve

    como objetivo valorizar o trabalho dos docentes cuja dedicao vem transformando

    o ensino e incentivando a formao discente. Tal reconhecimento no avaliado por

    uma banca de especialistas, mas pelos alunos de graduao, que so a razo deser de qualquer instituio sria de ensino.

    Cada centro setorial selecionou um professor. No caso do Centro de Cincias

    Sociais que tem mais de 300 professores e que engloba a Faculdade de

    Administrao e Finanas (FAF), a Faculdade de Cincias Econmicas (FCE), a

    Faculdade de Direito (DIR), a Faculdade de Servio Social (FSS), o Instituto de

    Cincias Sociais (ICS), O Instituto de Estudos Sociais e Polticos (IESP), o Instituto

    de Filosofia e Cincias Humanas (IFHC), o escolhido pelos alunos fui eu, ProfessorMarcus Brauer.

    Figura 1. Marcus Brauer, Professor de Adm. Geral e RH da FAF/UERJ

    Do Centro de Cincias Tecnolgica (CTC) foi escolhido o professor Nilo ndio do

    Brasil, do Instituto de Qumica. O professor Jayme da Cunha Bastos, do Instituto de

    Biologia Roberto Alcntara Gomes foi o professor escolhido no Centro Biomdico. O

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    professor Henrique Marque Samyn, do Instituto de Letras, representou o CEH

    Centro de Educao e Humanidades.

    Ao ser perguntado sobre o que representou o reconhecimento de minhas aes

    por parte do corpo discente desta universidade por meio desse prmio, vrias

    respostas vieram, mas a trs mais importantes foram:

    Tal reconhecimento melhor do que dinheiro, o que confirma a tese de

    Herzberg. Entretanto, no me julgo melhor do que meus colegas. Se estou

    fazendo um trabalho que os alunos esto gostando no todos, pois

    impossvel agradar a todos o reconhecimento deve ser dividido entremeus gestores e colegas da FAF, que me auxiliam desde que comecei a

    lecionar na UERJ em 2004, como professor substituto. Sinto pertencer a

    uma equipe cooperativa, e no competitiva. Me sinto bem em ajudar meus

    colegas e sinto o mesmo da parte deles. Fiquei muito feliz mesmo ao saber

    que a professora novata da FAF, Maria Ceclia Trannin, ficou um primeiro

    lugar em uma avaliao do centro acadmico da faf (CAFAF) neste ano e

    eu fiquei em terceiro.

    Eu me dedico a estudar a didtica, embora nunca me foi solicitado fazer

    isso, ou seja, minha motivao me capacitar para o ensino, algo

    intrnseco, o que corrobora a tese de Bergamini. Uma coisa estou certo:

    depois que eu comecei a estudar didtica, vi que eu fazia quase tudo

    errado e atualmente, sei que tenho que melhorar muito ainda. Raramente,

    vejo algum professor admitir que suas aulas no so boas. O orgulho e a

    vaidade dificultam a solicitao de ajuda por parte de doutores. Engraado,

    mas o livro que mais me agregou valor foi de um professor francs

    radicado nos Estados Unidos e que tem o mesmo nome que eu (Brauer,

    2012). Tal livro me fez conhecer melhor o que uma boa aula segundo

    padres internacionais. Algumas informaes so simples, mas fazem a

    diferena: conhecer o nome dos alunos, fazer chamada, ter um bom plano

    de ensino, ter um livro texto manual de qualidade como referncia e usar

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    artigos cientficos, no dar tantas aulas expositivas, mas metodologias de

    ensino mais ativas como o mtodo dos casosmuito usada em Harvard

    e o Problem Based Learning (PBL). Usar a Tecnologia de Informao e

    Comunicao (TIC) como complemento plataforma moodle, site para

    comunicao com alunos, vdeos, vdeo-conferncias. Os alunos so muito

    conectados com as TIC, a gerao Y diferente da gerao X, os alunos

    cotistas tm suas caratersticas, ou seja, o professor tem que conhecer

    entender seus alunos.

    Tenho amor pelos meus alunos e pelo que fao. Os alunos sabem das

    minhas falhas que no so poucas mas ao mesmo tempo enxergam

    que me dedico de corao. Sylvia Vergara, minha orientadora no mestrado,

    excelente pesquisadora e professora, me ensinou que o sucesso do

    professor ver seu aluno o superar. Isso amor.

    Ainda que eu falasse as lnguas dos homens e dos anjos, e notivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos osmistrios e toda a cincia, e ainda que tivesse toda a f, de

    maneira tal que transportasse os montes, e no tivesse amor,nada seria. Quem ama paciente e bondoso. Quem ama no ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso (1 Corntios 13.)

    Sou muito exigente com meus alunos, e em vez de me odiarem, me escolhem

    dentre vrios professores. Assim, infere-se que os alunos gostam de estudar e que o

    amor o principal ingrediente de uma boa aula, que comea na elaborao do plano

    de ensino e no conhecimento da classe e que tem o auge no sucesso profissional e

    pessoal do aluno.SYLVIA VERGARA... ME

    ENSINOU QUE O SUCESSO DOPROFESSOR VER SEU ALUNO

    O SUPERAR. ISSO AMOR.

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    5. Referncias Bibliogrficas

    BERGAMINI, Ceclia. Motivao: uma viagem ao centro do conceito. GV-executivo,v. 1, n. 2, nov-jan, 2002

    BRAUER, Markus. Ensinar na universidade: conselhos prticos, dicas, mtodos

    pedaggicos. So Paulo: Parbola Editoria, 2012.

    HERZBERG, Frederick. One more time: How do you motivate employees? Harvard

    Business Review, v. 46, n. 1, p. 53-62, jan./fev. 1968.

    KOHN, Alfie. Punidos pelas recompensas. So Paulo: Atlas, 1998.

    LATHAM, Gary. Work motivation: history, theory, research and practice. 2. Ed.

    London: Sage, 2012.

    PATI, Camila. 10 programas de trainee com mais de 400 candidatos por vaga .

    Disponvel em . Acesso em 30 Set. 2015.

    RUAS, Roberto L., FERNANDES, Bruno. H. R., FERRAN, Judith E. M., DA SILVA,

    Francielle M. Gesto por Competncias: Reviso de Trabalhos Acadmicos no Brasil

    no perodo 2000 a 2008. In: ENANPAD, 34., 2010, Rio de Janeiro. Anais... Rio de

    Janeiro: ENANPAD, 2010.