o que pensam os estudantes da FAU

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posicionamentos quanto aos processos na usp, as cotas e ao PIMESP

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o que pensam os estudantes da fau

cotas/pimesp

Mais que um posicionamento contrário ou favorável às cotas, os estudantes acreditaram ser importante realizar uma discussão sobre seu caráter geral e salientar que, frente a tantas questões é necessário maior tempo de reflexão por parte da comunidade USP.

Segue, portanto, um relato da discussão das cotas enquanto posicionamento dos estudantes:

O primeiro ponto discutido não é apenas quanto ao que propõe o PIMESP enquanto projeto de cotas, mas a pertinência destas na Universidade e seu devir. Dentro do projeto foi colocado que este não se coloca enquanto um programa partícipe de um projeto maior de educação nacional e resolução de problemas históricos e sociais, sendo portanto, inefetivo já que não se constitui enquanto solução estrutural e nem está atrelado a uma.

Assim, mesmo colocando-se os termos da compreensão da desigualdade social e racial no brasil, aos quais a proposta de cotas seria pertinente como medida paliativa, a estrutura do próprio programa é frágil e ineficaz. Parte dos estudantes defende estas premissas de igualdade na representação social dentro da Universidade e as cotas enquanto possibilidade de reversão desse processo de exclusão. Porém, outra parte coloca esta proposta afirmativa não enquanto justiça social -no sentido de colocar a Universidade enquanto possibilidade de distribuição de oportunidades dentro da estrutura social-, mas enquanto possibilidade de mudança de mentalidade e produção de conhecimento dentro da própria Universidade, com a inclusão de pessoas de realidades históricas diversas do perfil atual dos universitários.

Como impasse a este posicionamento, foi colocado o caráter das Universidades hoje, que se promovem enquanto centros de constituição de elites culturais e econômicas, ignorando a formação dos estudantes enquanto indivíduos e seres históricos, e não utilizando suas realidades, portanto, para a construção dos saberes na Universidade. Assim ao revés de transformação do conhecimento na Universidade, haveria uma culturalização dos ingressantes no sentido da reprodução de uma cultura de elite, cujos valores deveriam ser questionados – uma vez que o papel da Universidade seria o da construção da sociedade a partir da crítica e da reflexão.

Coloca-se ainda que frente a esse caráter da Universidade e seu compromisso na construção social, ela não deve ser confundida como mera propagadora de saberes técnicos, capazes de fornecer uma profissionalização adequada às bases e valores da sociedade atual, perpetuando injustiças e desigualdades além de reproduzir a noção de que a justiça seria fornecer um lugar privilegiado na estrutura econômica. Cabería-nos, enquanto Universidade crítica, ao revés de reproduzir este juízo, indagar se seria isso realmente o bom. Dentro disso, essa noção das cotas, não poderia ser uma medida benéfica, uma vez que o caráter da própria Universidade está pervertido.

Dentro de uma Universidade realmente crítica e que busca construir a sociedade, haveria a indagação do que seria a sociedade brasileira e de que maneira diferentes segmentos econômicos e raciais a compõe. Buscando constituir-se assim a sociedade, a Universidade seria um local capaz de defender e propagar a estrutura política, social, econômica e cultural pertinentes ao país, em oposição às estruturas atuais que se colocam, aos moldes do PIMESP, como externas à realidade, conhecimento, prática e ética da sociedade.

Colocou-se, ao final das discussões, que a aculturação e a imposição dessas estruturas sociais ocorre dentro e fora da Universidade e que nos espaços desta instituição que que ainda se consolidam enquanto críticos e formadores a construção social ainda seria possível, sendo fundamental a entrada de cotistas enquanto realidades históricas diferentes. Dessa maneira tanto esse novo perfil quanto o já existente na universidade hoje, comprometidos com a construção da sociedade de forma crítica, poderiam reconduzir a Universidade a sua essência de construir criticamente a sociedade.

Por fim colocou-se que o PIMESP e o projeto de gestão das Universidades paulistas, ignora todas esta problemática envolvida na questão das cotas e da essência da Universidade. Se constituindo assim enquanto proposta política e partidária eleitoresca que busca consolidar classes médias em ascenção ou que buscam sair de situações de pobreza, ou ainda, se promover enquanto classes médias altas com a possibilidade de maiores benefícios como intercâmbios e especializações.Especificamente quanto ao PIMESP e não às cotas em geral os estudantes se posicionam contrariamente.

1. Por ter sido colocado de forma autoritária à comunidade USP sem o tempo necessário para a dicussão de sua pertinência quanto ao devir das cotas e sua forma de implementação. Fato que se denota não apenas pelo pouco tempo fornecido para sua avaliação, como pela falta de dados do documento e de especificações quanto à implementação do ICES, a origem dos fundos necessários para a implementação das políticas de inclusão e permanência desses estudantes da USP e o própio Plano Insticuional de Recrutamento de estudantes capacitados e participantes dos grupos sociais no regime de metas.

2. Pelo PIMESP consolidar o perfil de uma Universidade técnica e profissionalizante, sem compreendê-la enquanto Universidade comprometida com a construção social. No sentido de colocá-la como local para a realização de um reposicionamento econômico de partes da sociedade dentro da estrutura econômica atual, afirmando as injustiças e problemáticas atuais. Consolida portanto, um tipo de Universidade e conformação social do qual discordamos.

3. O ICES (college) se coloca enquanto curso que impõe disciplinas que não servem ao caráter da Universidade por nós compreendido, e nem tampouco ao currículo necessário aos vestibulares aprendido no Ensino Médio, sendo portanto uma forma de guiar estes estudantes a uma inserção dentro dos padrões do mercado de forma acrítica. Uma contraposição dentro dos próprios argumentos do documento, já que ele afirma que a intenção do ICES seria a de complementar a defasagem do ensino público o que não ocorreria com essas disiplinas.

Assim, nos posicionamos contra o PIMESP e salientamos a urgente necessidade de se estender o prazo das discussões das cotas, bem como, o seu projeto de implantação nas universidades estaduais visto o nosso devir frente à sociedade.

Estudantes da FAU, 20 de março de 2013.

processos

Frente ao cenário político atual da USP, os estudantes da FAU manifestam-se aqui a fim de explicitá-lo e estabelecer um posicionamento em relação a ele.

Percebemos um cenário de imposição de um projeto de universidade - ao qual os estudantes se colocam contra – que impede as manifestação e organização política de estudantes, professores e funcionários e coloca em xeque a Universidade. Os processos contra estudantes, professores e funcionários explicitam essa imposição e esse projeto, uma vez que visampunir quem se manifesta politicamente na Universidade.

Em primeira análise, nos colocamos contra os processos por eles atentarem contra o direito de manifestação política, a qual pode se dar através de diferentes instrumentos como as greves, ocupações, atos e etc. É importante, no entanto, salientar a discordância com o título “democracia” colocado pelo DCE e setores do ME - título que pouco se relaciona com a democracia dos cidadãos -, uma vez que compreendemos não se tratar apenas do direito de uma exposição de opinião, mas sim da manifestação política contra um cenário e a favor de uma outra construção de sociedade.

Em segundo momento, não podemos dissociar esse panorama da greve de 2011, os processos que foram a ela atribuídos, bem como o projeto de universidade colocado e a concepção de Universidade.

Um dos eixos da greve de 2011 era o “Fora PM”, que tinha como proposição uma Universidade que pudesse exercer seu papel de pensamento crítico e construção da sociedade. Isso porque a Polícia Militar é um aparelho do Estado que tem como objetivo a manutenção da ordem e das estruturas que garantem

esse modelo. A PM tem o poder de coibir o que vá contra a ordem hoje existente, e assim, se coloca contra o princípio de autonomia da Universidade: autonomia de pensamento e de proposição à sociedade de outros modelos que não os existentes na realidade.

É importante notar que o próprio Estado reconhece esse princípio, definindo as Universidades como uma “autarquia”, ou seja, conferindo-lhe autonomia frente aos seus modelos. Um exemplo disso é que a segurança dos “próprios universitários” não seja feita pela Polícia Militar como no resto do território.

Nessa perspectiva de interferência direta do Estado dentro da Universidade também se insere a denúncia do Ministério Público aos que ocuparam a reitoria em 2011.

Defendemos que os estudantes que ocuparam a reitoria em 2011 não sejam processados nas esferas administrativa da USP ou judiciária do Estado por compreender que não se tratou de uma ação individual e sim o cumprimento de uma deliberação coletiva dos estudantes da USP. Para além de tal, essa manifestação política tinha como princípio a defesa de uma Universidade que pudesse cumprir o papel social a ela conferido, e assim essa manifestação não era mais do que a defesa da própria sociedade.

O projeto de universidade no qual estão inseridas essas medidas tem também outras facetas: a profissionalização do ensino, a transformação das pesquisas em papers, a transformação da extensão em cursos pagos, a ampliação desenfreada da internacionalização, entre outras. Uma linha geral perpassa esses pontos: todos eles servem ao que é demandado pelo mercado - profissionalização do ensino, ligado à formação de

técnicos e não de críticos propositivos à sociedade; papers e internacionalização, relacionados a melhores colocações nos rankings internacionais; extensão como cursos pagos, permitindo a inserção de capital privado dentro da universidade.

Podemos inferir, nesse momento, que tanto o projeto de universidade da reitoria da USP como as interferências do Estado dentro dela têm como objetivo responder ao mercado e aos agentes privados ainda que isso signifique agir em detrimento da sociedade.

Essas medidas são implantadas pela reitoria sem que haja real direito à manifestação, uma vez que admitem quando muito “comentários” dos órgãos colegiados das unidades. Grupos e entidades que não aceitam essa política de alinhamento e troca de favores são barrados com outras formas de cerceamento: o convênio com a Secretaria de Segurança Pública, que permite a presença da Polícia Militar no campus; a punição de manifestações políticas com processos administrativos e eliminação; a criminalização de manifestações políticas com processos judiciários; a retirada dos espaços de organização de estudantes, professores e funcionários.

Defendemos a USP enquanto uma Universidade Pública que tem, por princípio, um papel frente à sociedade: o de pensá-la sob base crítica, posicionando-se e propondo construções de sociedade que estejam orientadas à própria sociedade.

Dessa forma, nos posicionamos contrários ao projeto de universidade implantado pela reitoria, à intervenção do Estado dentro da Universidade e à toda e qualquer forma de cerceamento das manifestações e organizações das categorias, entidades e grupos que compõem a USP. A título de exemplo

dos cerceamentos mais recentes: os processos administrativos e judiciários aos que ocuparam a reitoria em 2011; os processos administrativos e judiciários e eliminações aos que ocuparam a Moradia Retomada; processos por atuação em greve aos diretores do SINTUSP; processos por denúncia a improbidade administrativa pela reitoria aos diretores da ADUSP; entre outros.

Estudantes da FAU, 13 de março de 2013.