O que saber sobre saúde oral de pacientes adolescentes?...2Cirurgião-dentista do Núcleo de...

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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 59-63, out/dez 2011 Adolescência & Saúde 59 RESUMO Introdução: Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, a Adolescência corresponde ao período de vida de 10 a 19 anos. No que diz respeito à saúde oral, corresponde a uma fase de transição da dentição mista para a implantação da dentição definitiva. Ocorre o crescimento oro-crânio-facial, com modificação intensa da fisionomia facial, afetando as várias funções do sistema estomatognático: deglutição, fala, estética, imagem corporal e relacionamentos afetivos. Objetivo: Apresentar informações sobre saúde oral e adolescência, com ênfase na prevenção/diagnóstico precoce para fins de referência adequada para tratamento; verificar e orientar a higienização oral. Métodos e resultados: Consiste na abordagem da anamnese, na avaliação clínica (inspeção visual de face, de pescoço e de boca, na palpação de tecidos moles e duros de face, pescoço e boca), nos principais sinais e sintomas, além de noções preventivas em saúde oral. São apresentadas várias informações sobre saúde oral e adolescência. Conclusão: Portanto, é importante que o profissional de saúde adquira habilidades e competên- cias no campo da saúde oral e adolescência, contribuindo, assim, para a saúde e para a qualidade de vida desta população. PALAVRAS-CHAVE Adolescentes, saúde oral, profissionais de saúde. ABSTRACT Introduction: According to the Brazilian Ministry of Health, adolescence is the period of life between 10 and 19 years of age. In terms of oral health, this is a transition phase, from mixed dentition to the establishment of permanent teeth. Oral and craniofacial growth triggers massive changes in physiognomy, affecting various stomatognathic system functions: swallowing, speech, appearance, body image and relationships. Objective: The purposes of this paper are: to present information on oral health and adolescence, particularly prevention and early diagnosis for proper treatment referrals, in addition to overseeing and guiding oral hygiene. Methods and results: The method consists of anamnesis, with clinical evaluation of the main signs and symptoms (visual inspection of the face, neck and mouth; palpation of hard and soft tissues of the face, neck and mouth), and basic information on preventive oral healthcare, presenting assorted data on oral health and adolescence. Conclusion: It is consequently important for healthcare practitioners to acquire skills and competences in the field of oral health and adolescence, thus contributing to the health and quality of life of this population. KEY WORDS Adolescents, oral health, healthcare practitioners. O que saber sobre saúde oral de pacientes adolescentes? What should be known about oral health among adolescent patients? Célia Regina de Jesus Caetano Mathias 1 Mario Eliseo Maiztegui Antunez 2 1 Cirurgiã-dentista do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Odontologia Social e Preventiva - Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil. 2 Cirurgião-dentista do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Célia Regina de Jesus Caetano Mathias ([email protected]) - Avenida 28 de Setembro, 109 fundos - Vila Isabel, Rio de Janeiro-RJ – CEP: 20551-030 Recebido em 27/09/2011 - Aprovado em 20/10/2011 > > > > ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO

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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 59-63, out/dez 2011 Adolescência & Saúde

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RESUMOIntrodução: Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, a Adolescência corresponde ao período de vida de 10 a 19 anos. No que diz respeito à saúde oral, corresponde a uma fase de transição da dentição mista para a implantação da dentição defi nitiva. Ocorre o crescimento oro-crânio-facial, com modifi cação intensa da fi sionomia facial, afetando as várias funções do sistema estomatognático: deglutição, fala, estética, imagem corporal e relacionamentos afetivos. Objetivo: Apresentar informações sobre saúde oral e adolescência, com ênfase na prevenção/diagnóstico precoce para fi ns de referência adequada para tratamento; verifi car e orientar a higienização oral. Métodos e resultados: Consiste na abordagem da anamnese, na avaliação clínica (inspeção visual de face, de pescoço e de boca, na palpação de tecidos moles e duros de face, pescoço e boca), nos principais sinais e sintomas, além de noções preventivas em saúde oral. São apresentadas várias informações sobre saúde oral e adolescência. Conclusão: Portanto, é importante que o profi ssional de saúde adquira habilidades e competên-cias no campo da saúde oral e adolescência, contribuindo, assim, para a saúde e para a qualidade de vida desta população.

PALAVRAS-CHAVEAdolescentes, saúde oral, profi ssionais de saúde.

ABSTRACTIntroduction: According to the Brazilian Ministry of Health, adolescence is the period of life between 10 and 19 years of age. In terms of oral health, this is a transition phase, from mixed dentition to the establishment of permanent teeth. Oral and craniofacial growth triggers massive changes in physiognomy, affecting various stomatognathic system functions: swallowing, speech, appearance, body image and relationships. Objective: The purposes of this paper are: to present information on oral health and adolescence, particularly prevention and early diagnosis for proper treatment referrals, in addition to overseeing and guiding oral hygiene. Methods and results: The method consists of anamnesis, with clinical evaluation of the main signs and symptoms (visual inspection of the face, neck and mouth; palpation of hard and soft tissues of the face, neck and mouth), and basic information on preventive oral healthcare, presenting assorted data on oral health and adolescence. Conclusion: It is consequently important for healthcare practitioners to acquire skills and competences in the fi eld of oral health and adolescence, thus contributing to the health and quality of life of this population.

KEY WORDSAdolescents, oral health, healthcare practitioners.

O que saber sobre saúde oral de pacientes adolescentes?What should be known about oral health amongadolescent patients?

Célia Regina de Jesus Caetano

Mathias1

Mario Eliseo Maiztegui Antunez2

1Cirurgiã-dentista do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente – Universidade do Estado do Rio de Janeiro.Mestre em Odontologia Social e Preventiva - Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil.2Cirurgião-dentista do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Célia Regina de Jesus Caetano Mathias ([email protected]) - Avenida 28 de Setembro, 109 fundos - Vila Isabel, Rio de Janeiro-RJ – CEP: 20551-030Recebido em 27/09/2011 - Aprovado em 20/10/2011

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ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO

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Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 59-63, out/dez 2011

INTRODUÇÃO

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, a Adolescência corresponde ao período de vida de 10 a 19 anos1,2,3. No que diz respeito à saú-de oral, corresponde a uma fase de transição da dentição mista para a implantação da dentição defi nitiva. Ocorre o crescimento oro-crânio-fa-cial, com modifi cação intensa da fi sionomia fa-cial, afetando as várias funções do sistema esto-matognático: deglutição, fala, estética, imagem corporal e relacionamentos afetivos4,5,6,7,8.

OBJETIVO

Apresentar informações sobre saúde oral e adolescência que propiciem a prevenção/diag-nóstico precoce para fi ns de tratamento, visan-do à referência adequada, além de verifi car e orientar a higienização oral.

MÉTODOS

O método consiste na abordagem da anam-nese, na avaliação clínica (inspeção visual de face, de pescoço e de boca, palpação de tecidos moles e duros de face, pescoço e boca), nos principais si-nais e sintomas, além da prevenção em saúde oral.

Durante a anamnese, observar alterações na fala. Em caso afi rmativo, deve-se referir para tratamento fonoaudiológico4,5,6,7,8.

Na avaliação clínica, durante a inspeção visual de face, deve-se, em relação ao paciente:A) Observar de boca fechada – de perfi l, de

frente e seu tipo predominante de respi-ração (nasal ou bucal). Em caso de alte-ração de arcada dentária, assim como de respiração bucal, deve-se encaminhar ao cirurgião-dentista, que fará interconsul-ta com as áreas de Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia para avaliação e possível futuro tratamento, abrangendo estas três vertentes do conhecimento.

B) Realizar o movimento de “abrir” e “fechar” a boca: observar alterações de articulações

têmporo-mandibulares (desvios, dor, esta-lido). Caso haja estas alterações, deve-se encaminhar ao cirurgião-dentista.

Durante a inspeção visual do pescoço, ob-servar presença de nódulos, lesões, aumento de volume, coloração. Em caso de existência de qualquer alteração, referir para investigação diagnóstica geral e odontológica.

Durante a inspeção visual da boca, obser-var o estado dos dentes, gengivas, glândulas sa-livares, língua, mucosa jugal, palato duro, palato mole, úvula, assoalho bucal, lábios, papilas gusta-tivas. Havendo qualquer alteração, faz-se neces-sária a referência para avaliação odontológica.

Durante a palpação de tecidos moles e du-ros da face, pescoço e boca, deve-se observar a consistência, volume, aderência, contorno, quantidade. Havendo qualquer alteração, faz-se necessária a referência para investigação diag-nóstica geral e odontológica.

Em relação aos dentes, deve-se observar a cronologia dental comparada à idade do adolescente, visando o diagnóstico de norma-lidade ou de alterações de crescimento e de desenvolvimento.

As pigmentações escuras nos dentes po-dem sugerir cárie crônica; porém, nem toda pigmentação é sinônimo de cárie. As manchas brancas nos dentes sugerem hipoplasia/hipocal-cifi cação, fl uorose leve e, mais frequentemente, início de cárie dental. As cavidades abertas em dentes podem ser fonte de dor e/ou infecção e/ou alteração da estética (dentes anteriores). Caso haja qualquer alteração, é necessário refe-rir para tratamento odontológico para a realiza-ção de diagnóstico e, se necessário, intervenção.

O Brasil entra no grupo de países com bai-xa prevalência de cárie. Para isso, CPO - índice que mede experiência de cárie: dentes cariados (C), perdidos (P), obturados (O) - deve ser entre 1,2 e 2,6, segundo classifi cação da Organização Mundial da Saúde. O do Brasil é 2,1 atualmente; em 2003, era de 2,89,10,11.

Em adolescentes de 15 a 19 anos, houve re-dução de 30% do CPO dessa faixa etária, entre 2003 e 2010; 18 milhões de dentes deixaram de

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O QUE SABER SOBRE SAÚDE ORAL DE PACIENTES ADOLESCENTES?

Mathias e Antunez

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ser atacados pela cárie. Caiu pela metade o nú-mero de adolescentes que sofreram algum tipo de perda dentária9,10,11.

As fraturas dentais devem ser igualmente ob-servadas. Estas podem signifi car ocorrência de aci-dentes (prática de esportes, brincadeiras, aciden-tes de trânsito) ou de violência física e/ou sexual. Em caso de suspeita ou confi rmação de violência, deve-se, sob o ponto de vista legal, proceder à notifi cação ao conselho tutelar e à Vigilância Epi-demiológica da Secretaria de Municipal de Saúde. Vale lembrar que, nas situações de violências, fre-quentemente a causa alegada é normalmente a de um “acidente”. O outro aspecto importante a ser considerado é que fratura dental não cicatriza, ao contrário das lesões em tecidos moles. Logo, a fratura dental pode ser a única “pista” remanes-cente de ocorrência atual e/ou passada de maus tratos contra crianças e adolescentes2,4.

Em caso de acidentes/traumatismos, é fun-damental a avaliação sobre a necessidade de ur-gência e o rápido encaminhamento para o setor de odontologia.

É importante ter conhecimento de como agir em situação de avulsão dentária, ou seja, em caso de saída completa do dente do alvéo-lo, até que o adolescente seja atendido no setor odontológico.

Em situação de suspeita de violência se-xual, é necessário também referir para inves-tigação/tratamento das DST/Aids. No caso de adolescentes do sexo feminino, estar atento ao risco de gravidez12.

Em relação à gengiva/periodontopatia, de-ve-se considerar que o padrão de normalidade aponta para uma gengiva de coloração rosa pá-lido, ausência de edema, ausência de exsudato, ausência de sangramento e de dor, e presença de ‘pontinhos” semelhantes à casca de laranja4,5,6,7,8.

Caso haja qualquer alteração, é necessário referir para investigação e tratamento odonto-lógico. Ressalta-se que a escovação e uso de fi o dental são fundamentais para remoção mecâni-ca da placa bacteriana, evitando a formação de tártaro ou cálculo dental.

Em relação às condições periodontais, a presença de cálculo e sangramento é mais co-

mum aos 12 anos e entre os adolescentes. O tár-taro ou cálculo calcifi cado só é removido pelo profi ssional cirurgião-dentista.

As formas mais graves da doença perio-dontal aparecem de modo mais signifi cativo nos adultos (35 a 44 anos), em que se observa uma prevalência de 19%. Quanto às diferenças regio-nais, cabe menção ao percentual de adolescen-tes sem problemas gengivais, que varia de 31% na região Norte a 57% na região Sudeste9,10,11.

A periodontite juvenil possui perda precoce de osso alveolar, com rápida progressão, principalmente na dentição permanente. A etiologia parece estar associada à presença de Actinobacillus actinomycetemcomitans e, ainda, ao fator hereditário. Há dois tipos: a) localizada - preferencialmente, os incisivos e primeiros molares permanentes de adolescentes; b) generalizada - podem estar associados a problemas/alterações sistêmicas. Atinge a maioria dos dentes4,5,6,7,8.

A pericoronarite é uma infl amação do teci-do gengival que recobre a coroa do dente (capuz gengival) devido ao acúmulo de placa bacteriana dental, estando este dente em processo de erup-ção. Na adolescência, é comum a ocorrência em 3º molares (sisos). Clinicamente observa-se no tecido gengival, ao redor da coroa do dente em erupção, edema, vermelhidão, dor e sangramen-to. Em casos mais graves - favorecendo a debili-tação dos adolescentes - pode haver abscesso e trismo, impedindo a alimentação e outras fun-ções. Para tratar esta afecção é necessário um rigoroso controle de placa dental bacteriana, limpeza local com água oxigenada, bochechos, prescrição de anti-infl amatórios e, em casos mais graves, antibioticoterapia e cirurgias. Previne-se a pericoronarite com a correta higienização do dente e da área de erupção4,5,6,7,8.

Em relação à necessidade de prótese den-tária, “Entre os adolescentes 13% necessitam próteses parciais em um maxilar (10%) ou nos dois maxilares (3%). Não houve registro para necessidade de próteses totais. Em 2003, 27% dos adolescentes necessitavam algum tipo de prótese. Assim, constata-se importante redução de 52% nas necessidades de prótese entre ado-lescentes9,10,11.

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Em relação à oclusão dentária, “Aos 12 anos, 38% apresentam problemas de oclusão. Em 20% dessas crianças, os problemas se ex-pressam na forma mais branda. Mas 11% têm oclusopatia severa e 7% apresentam oclusopatia muito severa, sendo esta a condição que requer tratamento mais imediato, constituindo-se em prioridade em termos de saúde pública. Nos adolescentes, as proporções são semelhantes, com 35% apresentando algum tipo de problema e, destes, 10% correspondem à forma mais seve-ra da doença. Em termos absolutos, isso signifi ca que cerca de 230 mil crianças de 12 anos e 1,7 milhões de adolescentes precisam de tratamento ortodôntico (tratamento corretivo)9,10,11.

Em relação à mucosa jugal, observar a ocor-rência de hábitos viciosos que podem provocar lesões do tipo “mordedura” (pelo/a próprio/a adolescente se morder) ou a presença de lesões leucoplásicas (esbranquiçadas) ou eritroplásicas (com pontos avermelhados). Além de referir para o cirurgião-dentista, é importante referir para avaliação de Saúde Mental4,5,6,7,8.

A ocorrência de lesões de aftas deve ser ob-servada, além da identifi cação de fatores causais, da frequência, do tamanho e profundidade das lesões. Caso haja qualquer alteração, é necessá-rio referir para a confi rmação do diagnóstico e o tratamento médico e odontológico pertinentes.

Em relação às glândulas salivares, observar a “lubrifi cação” interna da boca, presença de tu-mefações, de cálculos salivares, Caso haja qual-quer alteração, é necessário referir para inves-tigação diagnóstica e seu posterior tratamento odontológico4,5,6,7,8.

Uma das medidas de prevenção preconiza-da é a necessária avaliação periódica de Saúde Bucal pelo cirurgião-dentista (a cada seis meses).

Na caderneta da saúde do adolescente (Mi-nistério da Saúde do Brasil), existem algumas in-formações sobre saúde da boca para adolescen-tes, na seção: “Nós usamos a boca o tempo todo, certo? Para comer, falar, beijar e sorrir. E para ter um sorriso bonito e saudável, o que é preciso?”1,3.

É fundamental incentivar a dieta não ca-riogênica, ou seja, aquela que não favoreça a produção de ácidos pelas bactérias responsá-

veis pelo início do processo de cárie. Quando os carboidratos (sacarose: balas, doces em geral, arroz; frutose: maçã, etc.) são metabolizados pelas bactérias, há produção de ácidos. Logo, há a diminuição do pH. A diminuição do pH favorece a saída de íons da matriz do esmalte, ocorrendo a desmineralização, acarretando cli-nicamente, inicialmente, o aspecto de mancha branca nos dentes e, posteriormente, se o pro-cesso não for interrompido, a formação de cavi-dades nos dentes envolvidos. Portanto, deve-se evitar o “beliscar” entre as refeições (normal-mente são carboidratos facilmente fermentáveis e produtores de ácidos), evitar grandes quanti-dades de carboidratos, evitar, também, os car-boidratos que apresentem características físicas de aderência (“pegajosos”) 4,5,6,7,8.

Incentivar a realização de higienização oral (uso de escova e de fi o dental) para remoção da placa/biofi lme dental nos três horários principais: depois do café da manhã, depois do almoço e principalmente antes de dormir. Isto porque à noite, há a diminuição de produção salivar. Para um melhor entendimento, é necessário mencio-nar que a saliva exerce efeito tampão ao neutrali-zar os ácidos produzidos na placa (difi cultando a desmineralização do esmalte). À noite, portanto, este efeito tampão estará alterado, impedindo a ação total protetora da saliva. Neste sentido a conjugação da higiene oral e a ação da pasta fl u-oretada reduzirão o risco à dissolução do esmalte, diminuindo o risco de cárie4,5,6,7,8.

O fl úor é importante para a prevenção e tra-tamento da cárie. Para a prevenção, ele forma, sob ação tópica, uma camada de fl uoreto de cálcio so-bre o esmalte, tornando-o mais resistente aos ata-ques ácidos, resistindo mais à desmineralização.

Em relação à ação de tratamento, o fl úor promove o retorno dos íons perdidos na super-fície do esmalte durante a acidifi cação do meio, favorecendo a remineralização do esmalte e, consequente, cicatrização da cárie (clinicamen-te, aspecto de mancha escura nos dentes).

No Brasil, uma lei federal de 1974 garante que cidades com mais de 50.000 habitantes te-nham água fl uoretada, em condições ideais de concentração segundo a Organização Mundial

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de Saúde. As pastas dentais no Brasil são impor-tantes veículos de oferta de fl úor.

Esta combinação parece favorecer o declí-nio de cárie dental de adolescentes no Brasil.

Para os adolescentes que têm risco aumen-tado de cárie, é necessário realizar fl úor adicio-nal tópico, prescrito/indicado pelo cirurgião-dentista9,11,13.

Para os profi ssionais que atuam com pré-natal e puerpério, é importante incentivar o aleitamento materno, de acordo com o reco-mendado pelo Ministério da Saúde. Quando da introdução de outros alimentos, deve-se evitar assoprar a comida e/ou provar a comida da criança e beijar na boca da criança (“selo”). Estas ações, realizadas comumente no dia-a-dia, favo-recem a contaminação da fl ora bucal da criança por bactérias cariogênicas – o que é fator de ris-co para o aumento de propensão à cárie dental desta criança e futuro(a) adolescente4,5,6,7,8.

Durante a gravidez, é fundamental a aten-ção odontológica voltada para a mãe e o bebê.

No entanto, recomenda-se, preferencialmente, o segundo trimestre de gestação, para a realização de procedimentos considerados invasivos4,5,6,7,8.

RESULTADOS

Foram apresentadas várias informações sobre saúde oral e adolescência. Essas informações podem propiciar a oferta de atenção qualifi cada, favorecendo a prevenção/diagnóstico precoce para fi ns de tratamento (visando à referência adequada) em saúde oral, além de verifi car e orientar a higienização oral.

CONCLUSÃO

Portanto, é importante que o profi ssional de saúde adquira habilidades e competências no campo da saúde oral e adolescência, contribuin-do, assim, para a saúde e qualidade de vida da população adolescente.

REFERÊNCIAS

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3. Ministério daSaúde(Brasil). Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à SaúdedeAdolescentes e Jovens na Promoção,Proteção e Recuperação da Saúde. Brasília-DF; 2010. http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/diretrizes_nacionais_adoles_jovens_230810.pdf. Acesso em: 23/07/2011

4. Antunez MEM. Principais problemas odontológicos dos adolescentes. Adolesc. Saude. 2005;2(4):12-16.5. Ministério da Saúde(Brasil), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas

Estratégicas. Saúde do adolescente: competências e habilidades.Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008. CD ROM; 43/4 pol. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) ISBN 978-85-334-1500-3.

6. Ministério da Saúde (Brasil). A saúde de adolescentes e jovens: competências e habilidades. http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/multimedia/adolescente/textos_comp/tc_21.html. Acesso 27/07/2011.

7. Ministério da Saúde (Brasil). A Saúde de adolescentes e jovens. Conjunto de Aulas Interativas sobre Tópicos selecionados. Brasília-DF;2005http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/multimedia/adolescente/principal.swf

8. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. A Saúde de Adolescentes e Jovens. Uma metodologia de auto-aprendizagem para equipes de atenção básica de saúde módulo básico. Série F. Comunicação e Educação em Saúde. Brasilia-DF;2007http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/07_0272_M.pdf

9. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Saúde Bucal. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal. Projeto SBBrasil. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.

10. II Conferência Nacional de Saúde Bucal - Relatório Final. Brasília, DF; 1993.11. Ministério da Saúde(Brasil) Projeto SBBrasil 2010 - Pesquisa Nacional de Saúde Bucal.http://dab.saude.gov.

br/cnsb/sbbrasil/index.html12. Ministério da saúde (Brasil). Mulher Adolescente/Jovem em Situação de Violência. Brasília; 2007. http://

www.sepm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2007/mul-jovens.pdf. Acesso em: 23/08/2011.13. Ministério da Saúde (Brasil). Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Projeto Saúde Bucal Brasil 2003, Condições

de Saúde Bucal da População Brasileira 2002-2003 – Resultados Principais. Brasília: Ministério da Saúde; 2004.

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