O Que Significa a Filiação a Sociedade Teosofica

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O Que Significa A Filiação à Sociedade Teosófica

Radha Burnier-Presidente Internacional

Esta é uma pergunta que deveríamos fazer-nos a cada momento, pois a filiação acarreta muito mais do que aparenta na superfície. Para descobrir seu real significado vamos recordar a origem da Sociedade. Teve ela em seus começos, pessoas sentindo um profundo interesse pela "humanidade orfã" e que desejavam fazer tudo ao seu alcance para melhorar essa condição. A causa teosófica não é, portanto, nem pequena nem profana, pois não pode haver trabalho mais significativo ou sagrado que trazer luz à um mundo perdido na ignorância.

Platão disse que um homem comete atos errados não por um desejo deliberado de fazer o mal. Os filósofos orientais concordam em que é a ignorância com relação ao que é certo ou errado, o que é verdadeiramente benéfico para si mesmo e para os outros, que faz as pessoas agirem perniciosamente. Somente no homem existe o mal, porque apenas ele age por ignorância. Os animais não são cônscios do que é certo ou errado e suas ações são inocentes, não ignorantes; mas a ignorância do homem é a causa do mal, assim como do sofrimento.

A Sociedade Teosófica foi fundada por aqueles que sentiam um irresistível anseio de libertar a humanidade de sua ignorância e do sofrimento que ela inevitavelmente traz. O lema da Sociedade, "Não há religião superior à Verdade", é profundamente significativo porque, descobrir a verdade e libertar a mente da dor é a mais elevada atividade religiosa que se possa estar engajado.

H.P. Blavatsky disse que a Teosofia é religião, não 'uma religião', porque cada uma das fés vinculou a si dogmas e crenças, tradições e convenções sociais, autoridades e escrituras. Mas religião, per se, não possui nenhuma dessas coisas. É um puro voltar-se para cima em direção à luz da verdade. A Sociedade Teosófica deve estar preocupada em criar o tipo de consciência religiosa que pode liberar o mundo da dor. O membro que está consciente disso pensará, agirá e trabalhará de um modo diferente do que faria se considerasse a Sociedade meramente como uma das muitas outras, de natureza semelhante. Muitas idéias que eram novas quando a Sociedade foi fundada são hoje comuns. Nos seus primeiros dias, karma e reencarnação eram ensinamentos radicais para o ocidente; agora, estas palavras aparecem sem itálico nos dicionários porque se tornaram parte do vocabulário de todo dia. Uma outra idéia única dentro da Sociedade naqueles dias era a unidade de toda a vida, mas agora já muitas pessoas falam nela.

Esta sociedade deve ser diferente de outras organizações devido ao forte e claro senso do caráter sagrado de seu trabalho, o qual é nada menos do que a libertação da mente humana. Se os membros tiverem um verdadeiro sentido disso, tudo o que fizerem em nome da Teosofia e da Sociedade Teosófica terá força espiritual. Algumas vezes surge a pergunta sobre o que é teosófico. Muitas coisas, de fato, podem ser teosóficas; depende do estado de ser do qual uma ação particular surge. Podemos ser professores, escritores ou donas-de-casa e, se há uma pureza interna e um real interesse para com os outros, nossos pensamentos, sentimentos e ações -cada relacionamento nosso- tornam-se teosóficos e não podemos deixar de influenciar o mundo para o bem. Em um de seus primeiros escritos, H.P.Blavatsky disse que, sendo a consciência humana una, tudo o que fazemos auxilia ou perturba os outros, enquanto que nós próprios somos afetados pela condição geral da humanidade. Krishnamurti freqüentemente diz que a consciência humana é a consciência individual e assim o modo como vivemos e o que fazemos deve afetar a consciência total. É como se uma gota de cor fosse posta na água: ela espalha-se imediatamente e a água muda na proporção da quantidade dessa cor.

Carreguemos em nossos corações um sentido do grande propósito para o qual a Sociedade foi fundada. Numa obra vedantina é dada a analogia de uma mulher apaixonada. Ela pode estar cozinhando, lavando ou fazendo outras coisas e, se ela está

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profundamente apaixonada, a presença do amado estará nela o tempo todo. O que quer que ela possa estar fazendo, a presença está lá como uma luz interna. Enquanto sua mente exterior está atenta a vários deveres, dentro há um apercebimento da alegria e do amor com o qual suas ações externas não interferem; os dois, de fato, vão juntos. Tudo o que ela faz é iluminado pelo calor do seu sentimento interior. Este faz com que até mesmo o mundo pareça diferente para ela.

Assim, se tivermos um sentido de profunda e abarcante natureza da causa que é a da Sociedade Teosófica, uma qualidade de graça e beleza entrará em tudo o que fizermos, quer seja trabalho de Loja ou encontrando um interessado, falando com um amigo, vivendo em família ou exercendo uma profissão. Ser um membro da Sociedade Teosófica significa carregar uma luz dentro de si, a luz da compaixão pela humanidade. Podemos sentir que não somos suficientemente poderosos para trabalhar pelo todo da humanidade e nem precisamos ser ambiciosos. Podemos trabalhar onde estamos, mas o trabalho pode estar inflamado por um interesse por aquilo que é maior. Um senso de universalidade é muito importante para a filiação à Sociedade, porque quanto mais exista uma compaixão universal não pessoal, mais teosóficas nossas ações se tornam . Universalidade não é simplesmente uma questão de transcender diferenças externas de nacionalidades ou religião. É isto e muito mais.

Onde há um apercebimento de que o trabalho é de grande significação e que suas fronteiras são ilimitadas; onde há uma compreensão de sua amplitude, elevação e retidão, virá também um senso de anonimato. Não se pode ser um verdadeiro teósofo sem se estar disposto a privar-se do desejo de ser alguém distinto dos demais. Um dos mais tocantes aspectos das cartas dos Mahatmas é a grande humildade que manifestaram. Os irmãos mais velhos serviram com um espírito de simplicidade e anonimato, não tentando impor suas opiniões sobre os leitores.

Muito se pode aprender da história da Sociedade, não um conhecimento de meras datas e fatos -o que é apenas uma maneira de estudar a história- mas examinando a qualidade das vidas dos primeiros trabalhadores para ver como foram eles capazes de transmitir um senso de sua própria inspiração. As pessoas vêm à Sociedade por muitas razões. Algumas vezes por causa de alguma dor ou perda, outras por razões diversas. Mas a Sociedade tem influenciado o mundo, não por conceder consolo (embora tenha oferecido conforto e encorajamento a muitos), mas por causa dos sacrifícios que tem sido feitos por seus líderes e membros desinteressados.

Os fundadores desembarcaram na Índia em 1879. Viajaram depois por todo o país em rústicas carretas de bois com rodas de madeira. Quantos, hoje, estariam preparados para viajar em veículos menos confortáveis que um moderno jipe ? Nas cidades onde o Coronel Olcott deu palestras e nas visitas de Mme. Blavatsky, Lojas teosóficas surgiam quase de um dia para o outro. Foram elas criadas pelo sacrifício de posição, de ligações familiares e satisfações de todo tipo. Estas coisas menores foram deixadas para trás. Os fundadores lutaram sem buscar fama ou reconhecimento. Isto também é verdade a respeito de Annie Besant e de muitos outros. Podemos trabalhar, ou aprender a trabalhar, na Sociedade sem buscar apreciações, abandonando aquelas coisas que normalmente atraem a maioria das pessoas ? Nos dias antigos muitos artesãos produziam grandes obras de arte sem pôr seus nomes nelas; a beleza importava, não o eu insignificante. Que maravilhosa atitude era ! Devemos trabalhar para a Sociedade Teosófica neste espírito. A causa é o que importa; que a pessoa seja sem importância. Mesmo os teósofos algumas vezes tem suas questões: Porém as fricções insignificantes que surgem pela vaidade desaparecerão. Quanto mais enchermos nossas mentes com coisas de importância universal, menos tempo, energia e atenção teremos para as pequenas coisas que provocam diferenças e disputas. O senso de fraternidade pode crescer através desse espírito porque o que compartilhamos juntos é mais fundamental do que as coisas menores que nos separam. Dessa forma, abandonando nossas

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preferências e preconceitos pessoais, nossas simpatias, trabalhemos num espírito de cooperação e anonimato.

Tem sido dito que cada um de nós, individualmente, é responsável por toda a humanidade. Isto não necessita ser o terrível fardo que pode parecer. Quando a responsabilidade está numa afeição, quando amamos nosso trabalho, ele não é um fardo. Muitos de vocês conhecem a história da menininha que carregava o irmão. "Ele não é muito pesado para você ?" -perguntavam. "Não, -ela respondeu- ele é meu irmão." Um irmão não pode ser um fardo. Se nossa consciência despertou para um senso de responsabilidade por toda a humanidade não há um fardo pesado, mas um trabalho compreendido de boa vontade.Responsabilidade significa pensar seriamente sobre como iremos começar nosso trabalho, pois a tarefa diante de nós não é fácil. Às vezes há muita conversa acerca de como podemos levar a Teosofia a outros, que métodos devemos adotar, que tipo de publicidade devemos utilizar e assim por diante. Tudo isto é relativamente importante. O que é essencial é que nós mesmos estejamos sempre investigando e aprendendo. Um professor é bem sucedido quando ele próprio está constantemente aprendendo e mantém vivo o espírito de investigação. Ele não pode simplesmente deixar de comunicar este espírito de investigação aos seus alunos, e isto é muito mais importante do que colocar informações prontas em suas cabeças. Se o aluno é inteligente e tem ânsia de aprender, descobrirá por si mesmo; ninguém precisa ensiná-lo. O professor bem sucedido, então, é alguém que está aprendendo. Aquele que pensa que sabe e continua repetindo o que aprendeu automaticamente, é um presunçoso.

O mesmo princípio certamente permanece válido no trabalho teosófico. Se queremos levar a Teosofia a outros, devemos estar infatigavelmente envolvidos em descobrir o que a Teosofia é, o que a verdade é. Aquele que tem o espírito de investigação não tem de trazer a Teosofia a outro. Tem apenas de comunicar espírito de investigação e cada um descobrirá a Teosofia por si mesmo.

Mais de uma vez Mme. Blavatsky falou sobre a importância de libertar a mente do que herdou através da educação, hereditariedade e meio ambiente e de sondar a verdade livremente e sem preconceito. O Senhor Buddha ensinou que não se devia acreditar em algo porque Ele falou, ou porque a tradição ou escrituras diziam. Cada um deve investigar e descobrir por si mesmo a verdade. O teósofo deve estar envolvido em livre e destemida investigação e, em virtude da agudeza de sua mente, seu interesse pela humanidade, sua universalidade e altruísmo, qualificará a si mesmo para auxiliar os outros.

A filiação à sociedade Teosófica significa tanto que não se pode tratar com todos os seus aspectos em breve espaço; mas há uma coisa que se segue ao qual foi dito, e é que devemos aprender a ser autoconfiantes. A maioria das religiões do mundo tem escravizado as mentes; mantêm as pessoas dependentes de um deus, de sacerdotes, gurús e escritos; os teosófos devem saber que há somente uma luz para iluminar o caminho e esta é a luz de sua própria consciência. Se a consciência não está em condições de ver, as maiores verdades podem apresentar-se ante os olhos, mas não serão percebidas. Cada pessoa pode ver somente o que é "capaz" de ver. A consciência que está desperta vê muito, a insensível, pouco. Somente a própria consciência, então, pode ser uma luz - nada mais. Deve-se ver e saber por si mesmos. Nenhum gurú, nenhuma escritura ou igreja, ou deus, pode fazer alguém ver se o olho interior é cego. Como membros da Sociedade devemos estar envolvidos em clarear e purificar nossa visão e examinar a causa de nossa cegueira, preconceitos, paixão e dependência. O "eu", em suas inumeráveis formas, é um véu sobre a visão e dessa forma nosso trabalho deve ser evocar de dentro a capacidade de ver e compreender! Devemos aprender a permanecer sobre nossos próprios pés.

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Não devemos rejeitar a ajuda de alguém que é mais sábio ou experiente e existem muitas coisas que são de grande auxílio. Talvez as pessoas tolas também possam nos auxiliar se apenas nos mostrarem o que não devemos fazer.

"Luz no Caminho" indica:"Nenhum homem é teu inimigo ou amigo. Todos são, da mesma forma, teus instrutores". Porque há um significado oculto em tudo que existe. A folha que cai, o vento soprando através dos ramos, a luz das estrelas -todas as coisas trazem uma mensagem à mente que está aberta e ao coração sensível. Em toda parte há algo que pode ser apreendido por aquele que deseja aprender, que compreende que a fonte de toda a luz está nele mesmo.

Assim, aprender a tornar-se autosuficiente (o que não é a mesma coisa que ser auto-opniático, obstinado e dominador) é muito importante para os membros da Sociedade. Ela é realmente uma maravilhosa organização porque dá muita liberdade para ser e crescer. Devemos fazer uso dessa liberdade e aprender a usá-la de maneira correta. Nossos erros não importam, é a sinceridade, o compromisso que é importante. Damodar Mavalankar uma vez usou a analogia de uma criança que está aprendendo a caminhar. Ele descreve como ela cai muitas vezes, como se machuca e chora, mas cada vez se levanta. Às vezes, a mãe oferece sua mão, mas a criança a recusa; ela prefere cambalear o menos possível, porque dentro dela está o impulso para depender apenas de si mesma. Como crianças espirituais devemos ser assim. Levantemo-nos e finalmente alcançaremos o estágio em que poderemos permanecer de pé, regozijando-nos em nossa liberdade de caminhar sem auxílio.