O que teria acontecido - Paulos Netos

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O que teria acontecidoO que teria acontecidocom o corpo de Jesus?com o corpo de Jesus?

“O espírita esclarecido repele esse entusiasmocego, observa com frieza e calma, e, assim,evita ser vítima de ilusões e mistificações.”(ALLAN KARDEC)

“O nosso objetivo não é convencer incrédulos,se não se convencem pelos fatos, menos ofariam pelo raciocínio: seria perdermos onosso tempo.” (ALLAN KARDEC)

Paulo Neto

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Copyright 2021 byPaulo da Silva Neto Sobrinho (Paulo Neto)Belo Horizonte, MG.

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Revisão:

Hugo Alvarenga NovaesRosana Netto Nunes Barroso

Diagramação:

Paulo Netosite: www.paulosnetos.nete-mail: [email protected]

Belo Horizonte, janeiro/2021.

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ÍndiceIntrodução.......................................................................5Textos do Novo Testamento.............................................6As várias hipóteses que surgem.....................................19O que disseram alguns estudiosos.................................28Como Allan Kardec abordou a questão...........................48Conclusão......................................................................51Referências bibliográficas..............................................52

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Introdução

Os relatos bíblicos sobre o desaparecimento docorpo de Jesus do sepulcro ainda é fato que vemdespertando uma certa curiosidade, bem comosendo levantadas várias hipóteses para o seusumiço.

Esse assunto é, por demais, polêmico, todos osabemos, vamos ver se conseguimos contribuir comalguma coisa.

Inicialmente, devemos apresentar os textosBíblicos, que se relacionam ao nosso tema, para quevocê, caro leitor, possa se situar e nós termos comodesenvolver análises e comentários.

Nas transcrições e no texto normal os grifosem negrito são nossos, quando for avisaremos.

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Textos do Novo Testamento

Vamos transcrevê-los pela ordem em queaparecem no Novo Testamento, tomando como fontea Bíblia de Jerusalém:

1) Evangelho Segundo Mateus

Cap. 27: “45 Desde a hora sexta até ahora nona, houve treva em toda a terra. 46Lá pela hora nona, Jesus deu um grandegrito: ‘Eli, Eli, lemá sabachtáni?’, isto é: ‘Deusmeu, Deus meu, por que me abandonaste?’[…] 50 Jesus, porém, tornando a dar umgrande grito, entregou o espírito.”

Cap. 27: “57 Chegada a tarde, veio umhomem rico de Arimateia, chamado José, oqual também se tornara discípulo de Jesus. 58E dirigindo-se a Pilatos, pediu-lhe o corpode Jesus. Então Pilatos mandou que lhe fosseentregue. 59 José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo 60 e o pôs em seutúmulo novo, que talhara na rocha. Emseguida rolando uma grande pedra para aentrada do túmulo, retirou-se.”

Cap. 28: “1 Após o sábado, ao raiar doprimeiro dia da semana, Maria Madalena e aoutra Maria vieram ver o sepulcro. 2 E eis que

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houve um grande terremoto: pois o Anjo doSenhor, descendo do céu e aproximando-se, removeu a pedra e sentou-se sobre ela.[…] 5 Mas o Anjo, dirigindo-se às mulheres,disse-lhes: ‘[…] 6 Ele não está aqui, poisressuscitou, conforme havia dito. Vinde ver olugar onde ele jazia. […].’ 8 Elas, partindodepressa do túmulo, com medo e grandealegria, correram a anunciá-lo aos seusdiscípulos. 9 E eis que Jesus veio ao seuencontro e lhes disse: ‘Alegrai-vos’. Elas,aproximando-se, abraçaram-lhe os pés,prostrando-se diante dele.”

2) Evangelho Segundo Marcos

Cap. 15: “25 Era a terceira hora quando ocrucificaram.”Cap. 15: “33 À hora sexta, houve trevas sobretoda a terra, até a hora nona. 34 E, à horanona, Jesus deu um grande grito, dizendo:‘Eloi, Eloi, lemá sabachtháni’ que, traduzido,significa: ‘Deus meu, Deus meu, por que meabandonaste?’ […] 37 Jesus, então, dandoum grande grito, expirou.”

Cap. 15: “42 E, já chegada a tarde, sendo diade Preparação, isto é, a véspera de Sábado, 43Veio, José de Arimateia, […] ousando entraronde estava Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus.44 Pilatos ficou admirado de que Ele já

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estivesse morto, e, chamando o centurião,perguntou-lhe se fazia muito tempo quemorrera. 45 Informado pelo centurião, cedeuo cadáver a José, 46 o qual, comprando umlençol, desceu-O, enrolou-O no lençol e o pôsnum túmulo que fora talhado na rocha. Emseguida, rolou uma pedra, fechando a entradado túmulo.”

Cap. 16: “1 Passado o sábado, Maria Madalenae Maria, mãe de Tiago e Salomé compraramaromas para ir ungir o corpo. 2 Demadrugada, no primeiro da semana, elasforam ao túmulo ao nascer do sol. 3 E diziamentre si: ‘Quem rolará a pedra da entrada dotúmulo para nós?’ 4 E erguendo os olhos,viram que a pedra já fora removida. Ora, apedra era muito grande. 5 Tendo entrado notúmulo, elas viram um jovem sentado à direitavestido com uma túnica branca, e ficaramcheias de espanto. 6 Ele, porém, lhes disse:‘Não vos espanteis! Estais procurando Jesus deNazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não estáaqui. Vede o lugar onde o puseram.’”

Cap. 16: “9 Ora, tendo ressuscitado namadrugada do primeiro dia da semana,Ele apareceu primeiro a Maria Madalena, dequem havia expulsado sete demônios. 10 Elafoi anunciá-lo àqueles que tinham estado emcompanhia dEle e que estavam aflitos e

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choravam. 11 Eles, ouvindo que Ele estavavivo e que fora visto por ela, não creram.12 Depois disso, Ele se manifestou deoutras formas a dois deles, enquantocaminhavam para o campo.”

3) Evangelho Segundo Lucas

Cap. 23: “44 Era já mais ou menos a horasexta quando houve treva sobre a terra inteiraaté a hora nona, 45 tendo desaparecido o sol.O véu do Santuário rasgou-se ao meio, 46 eJesus deu um grande grito: ‘Pai, em tuas mãosentrego o meu espírito’. Dizendo isso, expirou.”

Cap. 23: “50 Eis que havia um homemchamado José, membro do Conselho,homem bom e justo, 51 que não concordaranem com o desígnio, nem com a ação deles.Era de Arimateia, cidade dos judeus, eesperava o Reino de Deus. 52 Indo procurarPilatos, pediu o corpo de Jesus. 53 E,descendo-o, envolveu-o num lençol e colocou-o numa tumba talhada na pedra, ondeninguém ainda havia sido posto. 54 Era o diada Preparação, e o sábado começava a luzir.55 As mulheres, porém, que tinham vindo daGalileia com Jesus, haviam seguido a José;observaram o túmulo e como o corpo de Jesusfora ali depositado. 56 Em seguida, voltarame prepararam aromas e perfumes. E, nosábado, observaram o repouso prescrito.”

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Cap. 24: “1 No primeiro dia da semana,muito cedo ainda, elas foram à tumba,levando os aromas que tinham preparado.2 Encontraram a pedra do túmuloremovida, 3 mas, ao entrar, nãoencontraram o corpo do Senhor Jesus.”

Cap. 24: “13 Eis que dois deles viajavamnesse mesmo dia para um povoado chamadoEmaús, a sessenta estádios de Jerusalém; 14 econversavam sobre todos essesacontecimentos. 15 Ora, enquantoconversavam e discutiam entre si, o próprioJesus aproximou-se e pôs-se a caminharcom eles; 16 seus olhos, porém, estavamimpedidos de reconhecê-lo. 17 Ele lhesdisse: “Que palavras são essas que trocaisenquanto ides caminhando?” E eles pararam,com o rosto sombrio. 18 Um deles, chamadoCléofas, lhe perguntou: ‘Tu és o únicoforasteiro em Jerusalém que ignora os fatosque nela aconteceram nestes dias?’”

Cap. 24: “28 Aproximando-se do povoado paraonde iam, Jesus simulou que ia mais adiante.29 Eles, porém, insistiram, dizendo:‘Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia jádeclina’. Entrou então para ficar com eles. 30E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão,abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-oa eles. 31 Então seus olhos se abriram e oreconheceram; ele, porém, ficou invisível

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diante deles.”

Cap. 24: “36 Falavam ainda, quando elepróprio se apresentou no meio deles e disse: ‘Apaz esteja convosco!’ 37 Tomados de espantoe temor, imaginavam ver um espírito. 38Mas ele disse: ‘Por que estais perturbados epor que surgem tais dúvidas em vossoscorações? 39 Vede minhas mãos e meuspés: sou eu! Apalpai-me e entendei queum espírito não tem carne, nem ossos,como estais vendo que eu tenho’. 40Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés.41 E como, por causa da alegria, não podiamacreditar ainda e permaneciam surpresos,disse-lhes: ‘Tendes o que comer?’ 42Apresentaram-lhe um pedaço de peixeassado. 43 Tomou-o, então, e comeu-o diantedeles.”

4) Evangelho Segundo João

Cap. 19: “31 Como era a Preparação, osjudeus, para que os corpos não ficassemna cruz durante o sábado – porque essesábado era um grande dia! – pediram a Pilatosque lhes quebrassem as pernas e fossemretirados. 32 Vieram, então, os soldados equebraram as pernas do primeiro e depois dooutro, que fora crucificado com ele. 33Chegando a Jesus e vendo-o já morto, nãolhe quebraram as pernas, 34 mas um dos

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soldados, traspassou-lhe o lado com alança e imediatamente saiu sangue eágua.”

Cap. 19: “38 Depois, José de Arimateia, queera discípulo de Jesus, mas secretamente, pormedo dos judeus, pediu a Pilatos que lhepermitisse retirar o corpo de Jesus. Pilatos opermitiu. Vieram, então, e retiraram seu corpo.39 Nicodemos, aquele que anteriormenteprocurara Jesus à noite, também veio,trazendo cerca de cem libras de umamistura de mirra e aloés. 40 Eles tomaramentão o corpo de Jesus e o envolveram empanos de linho com os aromas, como osjudeus costumam sepultar. 41 Havia umjardim, no lugar onde ele fora crucificado e, nojardim, um sepulcro novo, no qual ninguémfora ainda colocado. 42 Ali, então, por causa daPreparação dos judeus e porque o sepulcroestava perto, eles depositaram Jesus.”

Cap. 20: “1 No primeiro dia da semana,Maria Madalena vai ao sepulcro, demadrugada, quando ainda estava escuro, e vêque a pedra fora retirada do sepulcro. 2Corre então e vai a Simão Pedro e ao outrodiscípulo, que Jesus amava, e lhes diz:‘Retiraram o Senhor do sepulcro e nãosabemos onde o colocaram’. 3 Pedro saiu,então, com o outro discípulo e se dirigiram aosepulcro.”

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Cap. 20: “19 À tarde desse mesmo dia, oprimeiro da semana, estando fechadas asportas onde se achavam os discípulos, pormedo dos judeus, Jesus veio e, pondo-se nomeio deles, lhes disse: ‘A paz estejaconvosco!’ 20 Tendo dito isso, mostrou-lhes asmãos e o lado. Os discípulos, então, ficaramcheios de alegria por verem o Senhor. […] 24Um dos Doze, Tomé, chamado Dídimo, nãoestava com eles, quando veio Jesus. 25 Osoutros discípulos, então, lhe disseram: ‘Vimoso Senhor!’ Mas ele lhes disse: ‘Se eu não virem suas mãos o lugar dos cravos e se nãopuser meu dedo no lugar dos cravos e minhamão no seu lado, não crerei’. 26 Oito diasdepois, achavam-se os discípulos, de novo,dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio,estando as portas fechadas, pôs-se no meiodeles e disse: ‘A paz esteja convosco!’ 27 Dissedepois a Tomé: ‘Põe teu dedo aqui e vêminhas mãos! Estende tua mão e põe-nano meu lado e não sejas incrédulo, mascrê!’”

5) Atos dos Apóstolos

Cap. 15/16: “41 Paulo atravessou a Síria e aCilícia, confirmando as Igrejas. 1 Alcançou emseguida Derbe, depois Listra. Ora, havia lá umdiscípulo chamado Timóteo, filho de umamulher judia, que abraçara a fé, e de pai

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grego. […] 6 Atravessaram depois a Frigia e aregião da Galácia, impedidos que foram peloEspírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. 7Chegando aos confins da Mísia, tentarampenetrar na Bitínia, mas o Espírito deJesus não lho permitiu.”

Tudo quanto grifamos são detalhesimportantes, para os quais chamamos a atenção detodos os que nos leem.

Observa-se que há vários pontos que não seligam, além de divergências nas narrativas que nãose justificam, caso fossem, de fato, todas elas deinspiração divina.

Resumindo os pontos principais que serelacionam aos nossos comentários:

– Mateus, Marcos e Lucas informam que Jesusmorreu na “nona hora”, que corresponde às 15horas, João é omisso.

– Mateus, Marcos, Lucas e João disseram queJosé de Arimateia pediu o corpo de Jesus,sepultando-o num túmulo de sua propriedade semacrescentar maiores detalhes.

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– Mateus não diz por qual motivo as duasmulheres foram ao túmulo no domingo de manhã.Em Marcos temos que três mulheres compraramaromas para ungi-lo, provavelmente após às 18horas, quando termina o dia de sábado, e, namadrugada de domingo, dirigiram-se ao local onde ocolocaram para realizar esse serviço. Lucas informaque, depois do sepultamento, as mulheres, que nãoforam identificadas, voltaram e prepararam aromas eperfumes. No sábado nada foi feito, porquanto eradia de descanso, conforme a Lei mosaica. Nodomingo de manhã, as mulheres foram ao túmulo,levando os aromas e perfumes que haviampreparado, mas não encontraram o corpo de Jesus.Em João, após descerem o corpo da cruz José deArimateia e Nicodemos envolve-o em panos efizeram-lhe os curativos – cerca de cem libras deuma mistura de mirra e aloés. Ainda em João, quemvai ao túmulo foi apenas Maria Madalena, nãodizendo o motivo, que ao ver o túmulo vazio, correue foi ao encontro de Pedro e um outro discípulo, aosquais ela disse: “Retiraram o Senhor do sepulcro enão sabemos onde o colocaram.”

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– Em Mateus, à vista das mulheres um anjorolou a pedra que fechava a sua entrada do túmulo.Para Marcos, Lucas e João, ao chegarem, as mulheresencontraram a pedra removida.

– Em Mateus, o anjo diz a elas que Jesus haviaressuscitado, pouco depois, o Mestre vem aoencontro delas. Marcos assevera que foi um jovemquem disse às três mulheres que Jesus haviaressuscitado, mas ele apareceu somente a MariaMadalena.

– Marcos, Lucas e João noticiam que José deArimateia foi até Pilatos pedir-lhe o corpo de Jesus.Especificamente em Marcos, tem-se também queesse pedido causou estranheza a Pilatos, pois aindanão o tinha como morto, razão pela qual mandouseus soldados conferirem a informação.

– Marcos diz que Jesus apareceu primeiro aMaria Madalena, que foi avisar aos outros, dizendo-lhes que “ele estava vivo e que fora visto por ela ”,mas não acreditaram nessa história. Em Joãotambém foi Madalena quem o viu primeiro, porémconfundiu Jesus com o jardineiro (João 20,15-16). EmMateus, foram Maria Madalena e outra Maria e,

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unicamente em Lucas, Jesus pôs-se a falar com doisdiscípulos que se dirigiam para Emaús, que não oreconheceram de pronto, só o fazendo quando ele“tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o edistribuiu-o a eles”.

– Conforme Lucas, depois Jesus apresentou-seno meio dos discípulos, que imaginaram ver umespírito. O Mestre mostra-lhes as mãos e os pés, ediz-lhes “Apalpai-me e entendei que um espírito nãotem carne nem ossos, como estais vendo que eutenho”. Depois ele comeu um pedaço de peixeassado que lhe fora oferecido.

– Em João, lemos a história de que os judeusnão queriam que os corpos dos executados ficassemna cruz durante o sábado, então pediram a Pilatosque desse ordem quebrar-lhes os ossos das pernas.Os soldados lá chegando, viram que Jesus já estavamorto, um deles, como que para confirmar,trespassa-lhe um lado com a lança, o que provocousaída de sangue e água.

– João faz aparecer novo personagem, trata-sede Nicodemos, que trazia cerca de cem libras deuma mistura de mirra e aloés e junto com José de

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Arimateia baixam o corpo de Jesus e envolvem-noem panos de linho com os aromas, conformecostumavam os judeus sepultar seus mortos. Jesusfoi depositado num sepulcro que estava perto dolocal onde fora crucificado, mas não diz que era deJosé de Arimateia.

– Na tarde do domingo, continuou informandoJoão, estavam eles reunidos a portas fechadas eJesus se põe no meio deles. Tomé, não estava nessedia, ao tomar conhecimento do que viram, disse quesó acreditaria se visse e tocasse em Jesus. Em outraaparição, Jesus o fez tocar o seu corpo e orepreendeu por ser incrédulo.

– Em Atos dos Apóstolos, foi narrado que Jesusapareceu a Paulo e Timóteo, não lhes permitindo ir àBitínia.

Há dois pontos que não comentaremos, porestarem fora do tema: 1º) quais foram as mulheresque voltaram no domingo de manhã, e 2º) se foramvistos: um anjo, um homem, dois homens ou doisanjos.

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As várias hipóteses que surgem

A única coisa em que não há divergência nostextos dos Evangelhos é quanto ao fato do túmuloestar vazio, porém, diversas hipóteses surgem paraexplicar o desaparecimento do corpo de Jesus.Apresentaremos algumas delas.

1) Teria Jesus ressuscitado fisicamente

Essa é a tese favorita da maioria dos cristãos,que acredita na “ressurreição da carne”, e, em razãodisso, não lhes é difícil aceitar que Jesus foi “decorpo e alma” para o Céu, onde sentou-se à direitade Deus.

O episódio de Tomé, em que Jesus lhe disse“Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos!” (João 20,27),como também essa fala de Jesus “um espírito nãotem carne nem ossos como estais vendo que tenho ”(Lucas 24,39), e o fato dele comer “um pedaço depeixe assado” (Lucas 24,42), podem ser apenasacréscimos para justificar a tese da ressurreição dacarne.

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Acrescente-se o fato de que Madalenainformou aos discípulos que Jesus estava vivo, noque eles não acreditaram (Marcos 16,11) e omomento em que Jesus “tomou o pão, partiu-o edistribuiu-o aos discípulos” (Lucas 24,30). Sim, hojesabemos que em um fenômeno de materializaçãoum Espírito pode agir sobre a matéria.

Três passagens bíblicas, isoladamente ou emconjunto, podem ser usadas contra essa ideia deressurreição física: 1ª) “O espírito é que vivifica, acarne para nada serve.” (João 6,63), 2ª) “a carne e osangue não podem herdar o Reino de Deus. ” (1Coríntios 15,50) e 3ª “o Espírito de Jesus não lhopermitiu” (Atos 16,7)

2) Jesus ressuscitou em Espírito

O entrar em ambiente fechado (João 20,19 e26), embora hoje saibamos isso ser possível pelofenômeno de transporte, bem como a manifestaçãode Jesus a Paulo e Timóteo (Atos 16,7), corroboram aressurreição de Jesus como sendo em Espírito,porém, ainda fica sem explicação o desaparecimentodo corpo.

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Há uma outra questão que ficaria semresposta: Como o relato diz que Jesus ressuscitou namadrugada do primeiro dia da semana, ou seja, nodomingo de manhã (Marcos 16,9), então, por quedemorou cerca de umas 42 horas ( 1) pararessuscitar? Ao que nos parece, isso é relatado paraatribuir o fato a essa suposta profecia; vejamos:

“Tomando consigo os doze, disse-lhes: ‘Eis quesubimos a Jerusalém e se cumprirá tudo oque foi escrito pelos Profetas a respeitodo Filho do Homem. De fato, ele seráentregue aos gentios, escarnecido, ultrajado,coberto de escarros, depois de o açoitar, eles omatarão. E no terceiro dia ressuscitará.’”(Lucas 18,31-33)

Os tradutores bíblicos não informam a qualprofecia se relaciona essa fala atribuída a Jesus, mas,o fato é, que não existe nenhuma previsão especí ficade que o Messias, deveria ressuscitar no terceiro dia.Aliás, Mateus (20,17-19) e Marcos (10,32-34),quando relatam esse episódio não estabelecemrelação com nenhuma profecia.

Geza Vermes (1924-2013), em Ressurreição:História e Mito, diz o seguinte:

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[…] É preciso concluir que as predições deJesus sobre sua morte e ressurreição e suareferência a profecias bíblicas sobre seusofrimento e glorificação são inautênticas . […].(2)

Paulo, o apóstolo dos gentios, em uma de suasepístolas aos coríntios, deixou bem claro a questãode qual corpo é ressuscitado:

I Coríntios 15,35-44: “Mas, dirá alguém, comoressuscitam os mortos? Com que corpovoltam? Insensato! O que semeias nãoreadquire vida a não ser que morra. E oque semeias não é o corpo da futuraplanta que deve nascer, mas um simplesgrão de trigo ou de qualquer outra espécie. Aseguir, Deus lhe dá corpo como quer; a cadauma das sementes ele dá o corpo que lhe épróprio. Nenhuma carne é igual às outras, masuma é a carne dos homens, outra a carne dosquadrúpedes, outra a dos pássaros, outra a dospeixes. Há corpos celestes e há corposterrestres. São, porém, diversos o brilho doscelestes e o brilho dos terrestres. Um é o brilhodo sol, outro o brilho da lua, e outro o brilhodas estrelas. E até de estrela para estrela hádiferença de brilho. O mesmo se dá com aressurreição dos mortos; semeadocorruptível, o corpo ressuscita

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incorruptível; semeado desprezível,ressuscita reluzente de glória; semeadona fraqueza, ressuscita cheio de força;semeado corpo psíquico, ressuscita corpoespiritual. Se há um corpo psíquico, hátambém um corpo espiritual.”

Paulo tinha como óbvio a existência de doiscorpos: um o físico e outro o espiritual; e afirma queé com este último que herdaremos o Reino de Deus.

3) O corpo de Jesus foi levado para otúmulo da família

O corpo de Jesus foi colocado num túmulonovo, que Mateus diz ser de propriedade de José deArimateia (Mateus 27,58); Marcos, Lucas e João nadadizem sobre isso.

Lemos, em João, que:

“No lugar onde Jesus fora crucificadohavia um jardim, onde estava um túmulo, emque ninguém ainda tinha sido sepultado.Então, por causa do dia de preparativospara a Páscoa e porque o túmulo estavaperto, lá colocaram Jesus.” (João 19,41-42)

Portanto, dois foram os motivos pelos quaiscolocaram Jesus naquele túmulo – preparação para a

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Páscoa e porque o túmulo estava perto –, que,certamente, não era o de sua família.

No domingo de manhã, mulheres foram aolocal levando aromas para ungir o corpo de Jesus(Marcos 16,1; Lucas 24,1). Mateus diz que mulheresforam ao túmulo (Mateus 28,1), porém, não informao motivo. João, por sua vez, faz o mesmo (João 20,1).A ida das mulheres ao sepulcro só teria sentido sefosse necessário algum procedimento posterior nocorpo para se completar o sepultamento definitivo,porquanto o depositaram provisoriamente naquelelocal.

Quando as mulheres lá chegaram, o túmulo jáestava aberto (Marcos 16,4; Lucas 24,1; João 20,1) oque nos induz a supor que outros seguidores já otinham levado para um outro local, informação essaque ficou guardada a “sete chaves”. Isso fica maisclaro no que Maria Madalena disse a Pedro:“Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemosonde o colocaram.” (João 20,2) e a Jesus, que elasupôs ser o jardineiro, disse-lhe: “Se fosse tu que otiraste, dize-me onde o puseste.” (João 20,15)

4) Jesus era um agênere

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Recorremos à definição de Allan Kardec (1804-1869), contida no Vocabulário, em O Livro dosMédiuns:

AGÊNERE (do grego a, privativo, e geine,geinomai, gerar; que não foi gerado.) – Variedadede aparição tangível; estado de certos Espíritos,quando temporariamente revestem as formasde uma pessoa viva , ao ponto de produziremcompleta ilusão. (3)

A nosso ver, é a hipótese mais improvável,porquanto, se Jesus, de fato, tivesse sido umagênere, supomos que ele teria aparecido nacondição de adulto, não lhe seria necessáriopercorrer todo o processo de desenvolvimento:concepção, gestação, nascimento, infância,adolescência e, finalmente, fase adulta, condiçãototalmente aplicável a seres humanos encarnadosnum corpo físico, pois é somente este que passa poresse processo.

Ademais, supondo-o um agênere, que é um serfluídico ou uma entidade espiritual, nada físicopoderia afetar o seu corpo. Assim, seu flagelo achicotadas, a coroa de espinhos fincada na cabeça, o

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carregar o madeiro da cruz, a sua morte e,finalmente, o correr do sangue e água por conta dalança enfiada num dos flancos, nada disso teria sidorealidade, mas vergonhosamente falso, o que nãoseria compatível com o seu nível evolutivo, que nãoseria outro senão o de Espírito puro.

5) Aconteceu algum fenômeno mediúnicode efeito físico

Dentro do que conhecemos dos fenômenos deefeitos físicos, podemos admitir a possibilidade deter acontecido, por iniciativa de Espíritos superiores,pelo menos três deles: 1º) o corpo de Jesus foitransportado para algum outro local; 2º) tornou-seinvisível; e 3º) por algum motivo desconhecido,acelerou-se o processo de decomposição do corpoaté que os seus elementos retornaram à origem.

6) Jesus não morreu na cruz

A crucificação de Jesus teria acontecido “naterceira hora” (Marcos 15,25), que correspondia a“Nove horas da manhã, ou, mais, genericamente, otempo entre as nove horas e o meio dia.” ( 4)ocorrendo a sua morte às 15 horas (Mateus 27,45;

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Marcos 15,33 e Lucas 23,44). Tempo tão curto, queaté Pilatos ficou bastante admirado de que ele jáestivesse morto (Marcos 15,44)

As especiarias levadas por Nicodemos – “cercade cem libras de uma mistura de mirra e aloés ” (João19,39) –, poderiam indicar algum procedimento a serealizar mais uma cura, do que ungir o corpo parasepultamento, porquanto, 1 libra equivale a 0,45 kg(5), assim a quantidade das essências que eletransportava tinha 45 quilos, peso considerável parase ungir um cadáver.

O teor da seguinte passagem é muitosintomático:

“Ainda a eles, apresentou-se vivo depois desua paixão, com muitas provasincontestáveis: durante quarenta diasapareceu-lhes e lhes falou do que concerne aoReino de Deus. Então, no decurso de umarefeição com eles, ordenou-lhes que não seafastassem de Jerusalém, […].” (Atos 1,3-4)

É claro que esse trecho também pode servirpara justificar a “ressurreição da carne”.

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O que disseram alguns estudiosos

Nesse tópico, traremos alguns pontoslevantados por exegetas.

O teólogo Hans Küng, professor universitário,ex-padre católico, nomeado pelo Papa João XXIIIperitus (consultor teológico) para o Concílio VaticanoII, em Credo: a profissão de fé apostólicaexplicada ao homem contemporâneo, esclareceo seguinte:

4. Crer no Túmulo vazio?

Chegaremos rapidamente ao ponto fulcral, selevantarmos a seguinte questão: ao encontrar umtúmulo vazio, quem suporia que o morto teriaressuscitado? O fato puro e simples de umtúmulo vazio não significa nada por si só. Pois,para um túmulo vazio podem existir váriasexplicações, tanto hoje como outrora . São ospróprios Evangelistas, defendendo-se de rumorestendenciosos judeus, que relatam tais explicações.Senão vejamos: o túmulo estava vazio? Então,só pode tratar-se de um roubo ou de uma trocado corpo ou de uma simulação da morte porparte do supostamente falecido. Ou pior ainda,a história da ressurreição é apenas uma ficçãofraudulenta dos discípulos. Sim, ainda hoje, háquem acredite, contra todas as declarações das

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fontes autênticas, na tese da simulação da mortede Jesus. Estas teses pouco sérias são divulgadasentre nós com títulos tais como: “Jesus, o primeirohomem novo”. Uma ideia absurda tendo em contaos testemunhos históricos.

Ou seja, o túmulo vazio por si só não prova averdade sobre a ressurreição de Jesus. Isto seriauma petitio principii declarada – pressupõe-seprecisamente aquilo que tem que ser provado. Otúmulo vazio por si só apenas nos permite tirar aseguinte conclusão: “Já não está aqui” (Mc 16,6). Eacrescenta-se expressamente o que não é de todoóbvio: “Ele ressuscitou”. (Mc 16,6). Esta mesmaafirmação também pode ser feita sem a existênciade um túmulo vazio.

Com tudo isto pretendemos dizer que otúmulo vazio por si só, segundo o NovoTestamento, não conduziu à crença noressuscitado (no Evangelho de João a existênciade um túmulo vazio não leva Pedro a crer. Apenaso discípulo predilecto é levado a crer por influênciadivina). Tal como em todo o Novo Testamentoninguém afirma que presenciou ele próprio –como em Grünewald – a ressurreição ou queconhece testemunhas oculares quepresenciaram o processo da ressurreição,também não existe ninguém que afirme ter sidolevado a crer no ressuscitado pelo túmulovazio. Em passagem alguma os discípulosmencionam o facto do túmulo vazio para reforçar afé da jovem comunidade cristã, nem paradesmentir ou convencer os seus opositores.Portanto, não admira

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– que o relato mais antigo do aparecimento deJesus (1Cor 15,4) não relacione a ressurreiçãocom o episódio do túmulo vazio;

– que também Paulo nas suas cartas nãomencione o “túmulo vazio” nem testemunhas do“túmulo vazio” para corroborar a sua mensagemsobre o ressuscitado;

– e, por fim, que os textos do Novo Testamentoexteriores aos Evangelhos não mencionem otúmulo vazio.

Hoje em dia, para nós isto significa que –estando o túmulo de Jesus vazio ou não do pontode vista histórico – a fé na nova vida doressuscitado junto de Deus não depende dotúmulo vazio. O acontecimento da Páscoa não écondicionado pelo túmulo vazio, quando muito seráilustrado por este episódio. O “túmulo vazio” não é,portanto, um artigo de fé, isto é, razão ou objectoda fé na Páscoa. Consequentemente o “túmulovazio” não tem que ser mencionado no Credo.Justamente aqueles que pretendem ser fiéis àBíblia não têm que crer com base no túmulo vazio,nem têm que crer “no” túmulo vazio. A fé cristã nãonos chama para o túmulo vazio, mas sim para oencontro com o Cristo vivo, conforme consta doEvangelho: “Por que procuram entre os mortosaquele que está vivo?” (Lc 24,6).

Acresce que, já no Novo Testamento, osdetalhes das histórias à volta do túmulo vaziodivergem fortemente. Senão vejamos: os guardasdo túmulo, que em Grünewald caem para o chãoencandeados pelo seu brilho e atordoados peloseu poder, só encontramos em Mateus; a

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caminhada de Pedro para o túmulo só se encontraem Lucas e João; as mulheres só se encontramem Mateus e Maria e Madalena apenas em João.Tudo isto leva exegetas críticos da bíblia achegarem à conclusão de que as histórias sobre otúmulo vazio não são mais do que retoqueslendários da mensagem da ressurreição do mesmotipo das histórias da Epifania do Antigo Testamento,que foram registradas por escrito muitas décadasdepois da morte de Jesus.

Se observarmos com mais precisão, verificamosque no centro da história do túmulo vazio seencontra não no túmulo vazio, mas sim a seguintemensagem curta da fé na ressurreição (da bocado anjo): “(…) ele ressuscitou”. O mesmo seencontra. em documentos mais antigos do NovoTestamento, na primeira carta aos Tessalonicensesdo ano 51/52: “(…) Jesus, a quem ele (Deus)ressuscitou da morte (…)” (1 Ts 1,10). A históriado túmulo vazio não deveria, pois, serentendida como o reconhecimento de um facto,mas sim como uma elaboração lendáriacrescente da ressurreição, tal como tambémestá presente na proclamação do (ou dos)anjo(s).

Faz sentido ler justamente estas histórias sobreo túmulo no domingo de Páscoa? Sim, faz todo osentido. Aquilo que eu afirmei relativamente àshistórias sobre o Natal aplica-se também a estashistórias, ou seja, uma história concreta como ados discípulos a caminho de Emaús, um quadropreciso como o de Grünewald transmitem mais doque uma afirmação teórica, um princípio filosófico

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ou um dogma teológico. E todas estas histórias sãoum sinal clarificador e confirmativo de que paraJesus não terminou tudo com a morte, de queJesus não permaneceu morto e de que oressuscitado é nada mais nada menos do que oNazareno executado. ( 6)

Estão, aí, portanto, as considerações judiciosasde um respeitável ex-padre católico, que foiconsultor de um papa.

James D. Tabor, em A dinastia de Jesus: ahistória secreta das origens do cristianismo, nocap. 14, intitulado “Morto, mas sepultado duasvezes”, faz as seguintes considerações:

Uma sepultura temporária

Os evangelhos relatam que José de Arimateia,um rico e influente membro do Sinédrio judaico,ofereceu-se para ajudar. José dirigiu-se aogovernador romano, Pôncio Pilatos, e, usando suainfluência e posição como membro do Sinédrio,obteve autorização para remover o corpo deJesus da cruz e sepultá-Lo em carátertemporário. Presumivelmente, José não tinha sidochamado, na noite anterior, para o “julgamento”convocado, às pressas, na casa de Anás e Caifás.Arimateia pertencia a uma minoria de influenteslíderes judaicos que apoiava Jesus. Ele recrutara aajuda de um homem chamado Nicodemos,

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também membro do Sinédrio, que compartilhavasua simpatia pelo movimento messiânico. Aquestão que se punha era onde enterrar Jesus,temporariamente, em circunstâncias tãodifíceis.

É crença generalizada que o túmulo em queJesus foi posto naquele fim de tarde pertencia aJosé de Arimateia. Não é o caso. Esse erro sedeve a uma breve glosa editorial do evangelhode Mateus, e nenhuma outra fonte queconhecemos sustenta essa teoria (Mateus27:60). (1) Os evangelhos de Marcos e Lucasdizem apenas que “levaram o corpo e ocolocaram em uma tumba talhada na rocha” . Oevangelho de João nos fornece um importantedetalhe adicional: “No local em que Jesus foracrucificado havia um jardim, e no jardim havia umatumba, onde ninguém ainda tinha sido sepultado”(João 19:41). É improvável que uma tumbarecém-talhada, convenientemente localizadaperto do local onde Jesus tinha sidocrucificado, por casualidade pertencesse aJosé de Arimateia. Fato é que não temos a menorideia de quem era o dono dessa tumba. Tinha sidorecentemente talhada na rocha e ainda não forausada, resolvendo, portanto, a situação deemergência que José e Nicodemosenfrentavam. Podiam colocar, temporariamente,o corpo de Jesus nessa tumba, até depois daPáscoa dos hebreus e dos feriados do Sabbath,quando a família voltaria e daria a Jesus umenterro de acordo com os costumes judaicos .

A mãe de Jesus, Maria, e sua companheira,

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Maria Madalena, seguiram José e Nicodemos àtumba, fixando sua exata localização. Já nãohavia tempo para preparar o corpo de acordocom os costumes judaicos, que incluíam lavá-Lo e ungi-Lo, e passar vários tipos deespeciarias e perfumes para controlar o cheiroda decomposição. José e Nicodemossimplesmente enrolaram o corpo em um pano delinho, e o colocaram em uma laje de pedra, queserviria como local de descanso temporário, entreo fim da tarde de quinta-feira, a Páscoa, na sexta,e o semanal Sabbath, no sábado. Fecharam apequena entrada do túmulo com uma pedra,cortada à medida, para afastar os animais ou osdesconhecidos que pudessem passar por ali.

_____

(1) A afirmação de Mateus, de que José de Arimateiadepositou Jesus em “sua tumba nova, que havia abertoem rocha”; é um acréscimo editorial aparentementesem qualquer base histórica. Sabemos que a únicafonte de Mateus sobre a morte e o sepultamento deJesus foi o evangelho de Marcos. Como Marcos nadadiz sobre José ser dono da tumba, e Lucas, que tambémusa Marcos como fonte, não possui essa alegação, ficaclaro que Mateus acrescentou essa ligação,provavelmente por razões teológicas. Décadas apósa morte de Jesus, quando Mateus escreveu seuevangelho, os cristãos estavam dispostos a provar queJesus era a figura do “servo sofredor” de Isaías 53. Umadas coisas que diz Isaías sobre essa figura é que“puseram sua sepultura com os ímpios e com o rico nasua morte” (Isaías 53:9). Aparentemente, Mateusembarcou na ideia de um “homem rico” e queriaatribuí-la a José de Arimateia, como forma dedemonstrar que Jesus cumpria a profecia. Mateustinha como característica editar suas fontes, na tentativade inserir cumprimentos de profecias na vida de Jesus.Ele o faz dezenas de vezes. Mateus parece estar tão

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sequioso para extrair essa citação de Isaías 53:9, queparece ignorar o fato de que esse texto, caso aplicado aJosé de Arimateia, iria caracterizá-lo não só como “rico”;como também “ímpio”. (7)

O que aconteceu ao corpo de Jesus?

A própria disciplina dos historiadores os obriga atrabalhar dentro dos parâmetros de uma visãocientífica da realidade. As mulheres nuncaengravidam sem um homem. Portanto, Jesustinha um pai humano, quer consigamos identificá-lo, quer não. Os corpos mortos não ressuscitam –se considerados clinicamente mortos – como foraseguramente o caso de Jesus depois dacrucificação romana e de três dias em uma tumba.Portanto, se a tumba estava vazia, a conclusãohistórica é simples – o corpo de Jesus foraremovido por alguém e possivelmentesepultado em outro local. Os historiadorespodem se referir ao que foi dito por Paulo ou aosrelatórios sobre as aparições que circulavam naaltura em que os evangelhos foram escritos, masesses escritos, feitos décadas depois doacontecimento, testemunham mais odesenvolvimento das crenças teológicas doque o que teria acontecido. Alguns estudiososquestionaram a veracidade histórica da própriahistória da tumba vazia, argumentando ter sidodesenvolvida para sustentar a alegação teológicade que Jesus tinha sido ressuscitado dos mortos.

Mas dada a natureza apressada e temporáriado sepultamento de Jesus, era de esperar que atumba estivesse vazia. Nunca houve a intençãode que Jesus permanecesse naquela tumba. A

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questão que se põe é: o que aconteceu com seucorpo? Onde e por quem poderia ter sido sepultadopermanentemente? A resposta mais curta é quenão sabemos, e qualquer sugestão é especulativa.

Mas temos, ainda assim, algumas pistas emnossas fontes que nos permitem reconstruiralgumas possibilidades plausíveis. Existemalgumas histórias alternativas aos evangelhos donosso Novo Testamento. Tertuliano, um autorcristão do século III, nos fala de uma polêmicaem voga nessa época: o corpo de Jesus foraremovido pelo jardineiro do cemitério , que temiaver suas plantas pisoteadas pelas multidões emvisita à tumba. (8) Em um antigo texto medievalchamado Toledot Yeshu, o jardineiro leva o corpoe o sepulta em um riacho próximo , temendo queos discípulos se antecipassem e levassem o corpo,alegando que ele havia sido ressuscitado dosmortos. Há um texto copta do século VI d.C. queaté nos diz o nome do jardineiro, Filógenes. Nessaversão, o jardineiro planeja levar o corpo parasepultá-lo condignamente, mas, à meia-noite,quando fora buscá-lo, a tumba estava rodeada deanjos e ele testemunhara Jesus ressuscitando dosmortos. (9). Todas essas histórias sobre umjardineiro parecem ser embelezamento aoevangelho de João, em que Maria de Madalena,confundindo Jesus com o jardineiro, ao encontrá-lona tumba, pergunta-lhe: “Se fosse tu que o tiraste,dize-me onde o puseste” (João 20:15). ( 10)

No tópico “Uma sepultura temporária”,

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optamos por deixar no corpo da transcrição a notade rodapé do autor, pela importância dasinformações nela contida, pois poderia não ser lidase estivesse no pé da página.

Nessas transcrições acima, temos pontos quemerecem reflexão. E de alguma forma corroboram ouderrubam as hipóteses levantadas.

Em Ressurreição: História e Mito, GezaVermes, apresenta-nos o seguinte:

O túmulo vazio e as aparições nunca sãoassociados para formar um argumento conjunto.Para alguns intérpretes modernos dosEvangelhos, a saga do túmulo vazio é umalenda apologética (R. Bultmann), uma tentativasecundária de produzir algum suporte factual paraapoiar visões individuais ou coletivas. […]. ( 11)

Vermes manifesta-se contrário a essa hipótese.

Em Jesus, a Verdade e a Vida, o prof. FidaHassnain, traz informações importantes que nosajudarão na compreensão do tema. No tópicoGólgota, diz: “As vítimas da crucificação nãomorriam por dois dias ou até mais.” e “A ideiaoriginal desse tipo de punição não era matar

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rapidamente a vítima, e sim mantê-la agonizante porvários dias.” (12)

Hassnain explica-nos:

No ritual judaico, o corpo do morto é lavadoantes do enterro. No caso de Jesus, não háevidências de que o corpo tenha sido lavado .Os evangelhos relatam que José de Arimateia,Nicodemos e outros aplicaram bálsamo em seucorpo. Se ele estivesse morto, eles teriamlavado o cadáver.

Meus amigos alemães chamaram minhaatenção para um livro chamado “Jesus nicht umKreuz Gestorben” (Jesus não morreu na cruz), deKurt Berna. Nesse livro o estudioso apresentaevidências científicas de que o coração deJesus ainda estava batendo depois que ele foiretirado da cruz. Quando Jesus foi envolvido noSudário, o sangue continuou saindo pelas feridasexistentes no corpo. O argumento que ele usa éque o corpo morto para de sangrar . Kurt Bernaacredita que Jesus sobreviveu à crucificação econsidera o Santo Sudário uma prova concreta dasua hipótese. […]. ( 13)

Um pouco mais à frente o prof. Hassnain,insere o tópico “A Versão Essênia”:

O Evangelho de João informa que José deArimateia pediu autorização de Pôncio Pilatos para

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retirar o corpo de Jesus da cruz. Como tinhamdecorrido poucas horas, Pilatos quis saber seJesus estava realmente morto. Ele chamou um deseus soldados que o informou que Jesus já tinhafalecido. Então, ele ordenou que o corpo fosseentregue para José. Esta situação é uma clarasugestão da função de ajuda dos Essênios. Aversão dos Essênios é a seguinte:

Dois de nossos irmãos, influentes e experientes,usaram toda sua influência com Pilatos e conselhodos judeus em nome de Jesus, mas seus esforçosforam frustrados pois o próprio Jesus afirmou quedeveria ser permitido ele sofrer a morte por sua fée deste modo cumprir a Lei; porque como vocêsabe, morrer pela verdade é virtude é o maiorsacrifício.

Então, agora aconteceu que, depois doterremoto, quando muitas pessoas tinham partido,José e Nicodemos chegaram no local onde estavaa cruz. Lamentaram ruidosamente o destino deJesus, embora parecesse estranho que ele tivessemorrido estando pendurado menos de sete horas.Eles não podiam acreditar e foram ansiosamenteaté o local. José e Nicodemos examinaram o corpode Jesus e Nicodemos, bastante comovido,chamou José de lado e disse-lhe: “Tão certocomo é meu conhecimento sobre a vida enatureza, certamente é possível salvá-lo”.

Depois disso, de acordo com as prescrições daarte médica, eles vagarosamente desfizeram osnós, tiraram os pregos e, cuidadosamente, odeitaram no chão. Logo depois, Nicodemosespalhou especiarias e unguentos em longos

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pedaços de tecido que ele tinha trazido e comeles envolveu o corpo de Jesus. Essasespeciarias e unguentos tinham bastante poderde cura e eram usados pelos nossos irmãosEssênios. José e Nicodemos estavam inclinadossobre a face de Jesus e suas lágrimas caíam sobreele. Eles sopraram o próprio ar deles em Jesus(respiração artificial) e aqueceram sua têmpora.

Nicodemos espalhou o bálsamo em ambas asmãos feridas pelos pregos, mas acreditava que eramelhor não fechar a ferida existente em um doslados de Jesus, pois ele considerava que o fluxo desangue e água seria útil para a respiração ebenéfico para renovação da vida.

O corpo foi posto no sepulcro de pedrapertencente a José de Arimateia. Então, elesdefumaram a gruta com aloé e outras ervas ecolocaram uma pedra grande na frente da entradapara que os vapores ficassem na gruta.

Passaram-se trinta horas desde a assumidamorte de Jesus. Nosso irmão ouviu um pequenoruído na gruta e foi ver o que tinha acontecido. Eleobservou com alegria inexprimível que os lábiosmoviam-se e que o corpo respirava. Eleimediatamente acelerou o processo para ajudá-lo.Vinte e quatro irmãos de nossa Ordem chegaramna gruta com José de Arimateia e Nicodemos, masJesus não estava suficientemente forte paracaminhar, por isso foi conduzido para a casa quepertence à Ordem, perto do Calvário no jardim.

Ainda que os evangelhos autorizados informemque Jesus perdeu a vida na cruz, a versão dos

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Essênios é similar à hindu e conclui que Jesussobreviveu e foi salvo – de acordo com a versãohindu, de maneira miraculosa, e de acordo com aversão dos Essênios, de uma maneira que épossível à luz da ciência médica . Além do mais,os esforços de José e Nicodemos para salvarJesus das dificuldades são mencionados nosevangelhos autorizados. ( 14) (itálico do original)

O escritor alemão Holger Kersten, no livroJesus Viveu na Índia, conta a desconhecidahistória de Cristo antes e depois da Crucificação, daqual destacaremos alguns trechos:

As dúvidas que surgiram, a partir das versõespopulares sobre a morte, ressurreição e aascensão do corpo de Jesus, são mais difíceis deserem resolvidas. Não existem dados queelucidem por que Jesus foi declarado mortopoucas horas após a crucificação , apesar desuas pernas não terem sido quebradas, comoaconteceu a seus companheiros, e, como erahábito, para diminuir a tortura, sem o que elapoderia prolongar por até cinco dias. Pilatosficou muito surpreendido quando lhe reclamaram ocorpo: “Pilatos ficou admirado de que já estivessemorto…” (Marcos 15,44)

Se todo o peso do corpo da vítima fossesuportado apenas pelos pulsos, a mortesobreviria após cinco ou seis horas de gradualsufocação e não de perda de sangue, pois nessa

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posição a respiração torna-se tão difícil que ocorpo não receberia oxigênio suficiente parasobreviver. A fim de evitar uma morte rápida,assentavam os pés do condenado numaespécie de suporte horizontal à cruz , para queele pudesse sustentar seu corpo, enquantoaguentasse. […]. (p. 171)

A razão para a morte aparente de Jesus podeser encontrada um pouco antes, nos versículos 27e 30 [João 19]: “Estava ali um vaso cheio devinagre. Fixando, então uma esponja cheia devinagre num ramo de hissopo, levaram-na à suaboca Quando Jesus tomou o vinagre, disse: ‘Estáconsumado!’ E, inclinando a cabeça, entregou oespírito”.

Resta saber se foi o vinagre que levou Jesus aentregar imediatamente o espírito; ou se foi umaoutra substância qualquer. O vinagre tem o mesmoefeito estimulante temporário que os saisaromáticos e era muito usado para reanimar oscondenados às galês, e para dar energia aosferidos. Com Jesus, deu-se justamente o contrário:assim que aspirou ou experimentou o “vinagre”,pronunciou suas últimas palavras e entregou oespírito. Essa reação é inexplicável, em termosfisiológicos. (p. 173)

[…] se Jesus tivesse sido enterrado deacordo com o rito judeu, o “cadáver”certamente teria sido, antes de mais nada,lavado com água quente.] Em seguida viria aunção com unguento e bálsamo, o fechamento dasferidas para retardar o processo de decomposição

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e finalmente o corpo nu seria vestido. Umaexplicação para tal negligência seria a proximidadedo sábado e a proibição da lei de prosseguir comos ritos fúnebres. […]. (p. 176)

[…] É importante notar que o golpe desferidopelo soldado foi descrito de modo diferente emtraduções feitas a partir do original grego. Até ostradutores da Vulgata interpretaram mal o texto,porque, o verbo grego ѵϋσσϵіѵ designasimplesmente uma arranhadura, ou escoriaçãosuperficial, e não um golpe violento e muitomenos um ferimento profundo. […]. (p. 182)

Na verdade, os vocábulos “sangue e água”constituem uma expressão idiomática usada paraenfatizar o acontecimento. Quando se diz quealguém suou sangue e água, não significa querealmente saiu sangue dos poros. […]. (p. 188)

[…] O uso de drogas, por exemplo, podeocasionar um estado de coma profundo, capaz deinduzir a falso diagnóstico. Um método muitoconhecido para determinar efetivamente a morteconsiste em fazer uma pequena incisão no pulsoou calcanhar. Se correr sangue arterial, é sinal deque o sistema circulatório ainda funciona.Cadáveres não sangram! No caso de Jesus, 28ferimentos continuaram a sangrar ( 15), após ele terdescido da cruz. Podemos, portanto, inferir queJesus, ao ser colocado no sepulcro, nãopoderia, absolutamente, estar morto. (p. 190)

[…] O evangelho apócrifo de Nicodemos relata

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que José de Arimateia foi mais tarde libertado deuma prisão judia pelo próprio Jesus (Evang. Nic.12,15). Nicodemos era amigo de José deArimateia, ajudou no enterro de Jesus e foi quemobteve a mistura de aproximadamente 50 quilosde mirra e aloés. […]. (p. 191)

Até hoje, tanto a mirra como o aloés, sãoconsiderados medicação eficaz no tratamentode feridas abertas. O evangelho de São João trazreferência expressa ao aloés medicinal, obtido deuma planta de folhas largas, da família dasliliáceas, e não ao tipo de aloés que é ralado paraser usado como pó de cheiro, chamado ahalim noAntigo Testamento. […]. (p. 192) ( 16)

Seguindo essa mesma linha, o escritor Elmar R.Gruber (1931-2011), em A Conspiração de Jesus,na segunda parte intitulada “O Pano de linho nasbrumas da história”, informa que:

[…] É preciso que se faça uma ideia muito clarado que representa toda essa enorme quantidade.Se os aloés e a mirra estivessem secos ou naforma de pó, todo um lote de sacas seriaprovavelmente necessário para perfazer essepeso total, e Nicodemos teria necessidade deajuda para o transporte da carga. Tal transporteseria ainda mais dificultado se aquelas substânciasestivessem dissolvidas em vinho, vinagre ou óleo.[…]. (17)

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Ambas as substâncias, o aloés e a mirra,eram usadas comumente no tratamento degrandes áreas feridas , porque podiam facilmenteentrar na composição de tinturas e unções. Algunspesquisadores defendem que os judeusgeralmente misturavam a mirra com o láudano, aresina do cisto ou esteva. ( 18) Esta era usadasobretudo em emplastros e enfaixamentos. ( 19)Claramente se deve encarar tais misturas como omeio mais específico para a cura rápida e efetivade ferimentos, combinada com a possivelmentemaior eficácia contra o perigo das infecções, naépoca de Jesus. Por conseguinte não pode haverqualquer dúvida de que Nicodemos fornecesseuma tão espantosa quantidade de ervasmedicinais altamente específicas com a únicafinalidade de tratar as chagas sobre o corpo deJesus. Tais especiarias não poderiam atender aoutro propósito.

Aclara-se e ganha corpo gradualmente aconvicção de que o estilo secreto de redigir deJoão se destinava a revelar ao leitor atento, aomesmo tempo que o ocultava dos olhos doignorante, um tremendo acontecimento: Jesus nãodevia ser enterrado, porque não tinha morridona cruz! O autor do texto, ou seu informante, quefoi uma testemunha da “tumba” de Jesus e beminformado por José de Arimateia e Nicodemos,escreveu de um modo que manifestaria a qualquerum que soubesse ler nas entrelinhas o querealmente tinha acontecido durante oimediatamente depois da Crucificação. Assim eledeixa claro para nós que se apresentou aencenação de um sepultamento de acordo com

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os costumes judeus, quando na realidade elestratavam de “trazer Jesus de volta à vida”, naprivacidade da tumba, sob a direção de José eNicodemos. Eles não tentaram fazer imitando osmilagres que ele realizava, e sim mediante aaplicação da arte médica da cura. ( 20)

Curiosas observações de Kersten e Gruber,que, não sem uma certa lógica, conforme se podenotar em suas obras, dizem que Jesus, na verdade,não morreu na cruz, tiraram-no de lá para curá-locom medicação à base de aloés e mirra.

Retornemos a Jesus, a Verdade e a Vida, nomomento em que Prof. Nassnain diz:

Se Jesus não morreu na malfadada cruz,para onde ele foi? A história de sua vida após acrucificação tornou-se um mistério . A Igrejaconta para o mundo que Jesus Cristo ascendeu.Agora, nos tempos modernos, um númerocrescente de pessoas começou a achar a históriada ascensão improvável. Jesus era um ser humanoe tinha de morrer em algum lugar como serhumano. Se ele morreu em Jerusalém, ondeestá o sepulcro? Vimos antes que há bonsargumentos mostrando que Jesus não morreuna cruz. Também vimos que ele encontrou-se comos discípulos, comeu e mostrou suas feridas,depois da crucificação. Jesus tinha faladoanteriormente que deveria ir em busca das

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tribos perdidas de Israel: se tivesse morrido,sua missão estaria incompleta . Como tal, eledisse aos discípulos em termos claros: “Tenhoainda outras ovelhas que não são deste aprisco.Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minhavoz.” (21)

Jesus manteve seu destino como um segredobem guardado; ele não contaria até mesmo paraseus discípulos para onde deveria ir. Era como seele tivesse sido levado pelas nuvens. Talvez tenhasido uma fábula mitológica dos discípulos parafortalecer a ideia de que Jesus era o homem dosmilagres. (22) (23)

Pelo relato mitológico, Jesus teria ascendidopara o céu de “corpo e alma”, mesmo ele tendo ditoque “O espírito é que vivifica, a carne para nadaserve.” (João 6,63) e Paulo, por sua vez, afirmou:“Digo-vos, irmãos: a carne e o sangue não podemherdar o Reino de Deus, […].” (1 Coríntios 15,50).

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Como Allan Kardec abordou a questão

No cap. XV – Os Milagres do Evangelho, notópico “Desaparecimento do corpo de Jesus” de AGênese, Allan Kardec faz uma abordagem do tema.Vejamos o que ele disse:

64. O desaparecimento do corpo de Jesusapós sua morte tem sido objeto de inúmeroscomentários. Ele é atestado pelos quatroevangelistas, segundo a narrativa das mulheresque foram ao sepulcro no terceiro dia e não oencontraram lá. Alguns viram nessedesaparecimento um fato milagroso, outrossupuseram uma remoção clandestina .

Conforme outra opinião, Jesus não teria tidose revestido de um corpo carnal, mas somentede um corpo fluídico. Ele não teria sido, durantetoda a sua vida, mais [do que] uma apariçãotangível, em outra palavra: uma espécie deagênere. Seu nascimento, sua morte e todos osatos materiais de sua vida teriam sido apenas umaaparência. É assim, dizem, que seu corpo,retornado a seu estado fluídico, pode desaparecerdo sepulcro, e é com esse mesmo corpo que ele seteria mostrado após sua morte.

Sem dúvida, tal fato não é radicalmenteimpossível de acordo com o que sabemos hojesobre as propriedades dos fluidos . Porém, seria,ao menos, completamente excepcional e em

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oposição inequívoca com as características dosagêneres (cap. XIV, nº 36). A questão é entãosaber se uma tal hipótese é admissível, se ela éconfirmada ou refutada pelos fatos. ( 24)

Nos itens 65 a 66, Allan Kardec vemdemonstrar pontos que refutam a tese de Jesus serum agênere, que não transcreveremos, porquantofoge ao escopo do presente artigo. Sigamos para oúltimo parágrafo do item 66, onde ele deixa bemclaro que “Jesus, pois, teve, como todo mundo,um corpo carnal e um corpo fluídico,demonstrando pelos fenômenos materiais e pelosfenômenos psíquicos que marcaram sua vida.” ( 25)

No próximo item, teremos Kardecapresentando hipóteses sobre o que poderia teracontecido com o corpo de Jesus:

67. Em que se transformou o corpo carnal? Éum problema cuja solução não se pode deduzir,até nova ordem, salvo por hipóteses , pela faltade elementos suficientes para assegurar umaconvicção. Essa solução, aliás, é de umaimportância secundária e não acrescentarianada aos méritos de Cristo , nem aos fatos queatestam, de certa maneira muito categórica, suasuperioridade e sua missão divina.

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Não pode, pois, haver, sobre o modo comoesse desaparecimento aconteceu, mais queopiniões pessoais, que teriam valor se fossemsancionadas por uma lógica rigorosa, assimcomo pelo ensinamento geral dos Espíritos.Ora, até o presente, nenhuma das que foramformuladas recebeu a sanção desse duplocontrole.

Se os Espíritos ainda não resolveram a questãopela unanimidade dos seus ensinamentos, é que,sem dúvida, o momento da resolução ainda nãochegou, ou que ainda faltam conhecimentos, com aajuda dos quais possamos resolvê-la por si própria.Entretanto, sendo descartada a suposição de umrapto clandestino, poder-se-ia encontrar, poranalogia, uma explicação provável na teoria doduplo fenômeno dos transportes e dainvisibilidade. (Livro dos Médiuns, caps. IV e V.)(26)

O Codificador procura analisar o fato semapegar-se à letra e nem ser preso às interpretaçõesdogmáticas, e oferece como provável o fenômeno detransporte, pelo qual o corpo de Jesus foitransportado para algum outro local, e que tambémele tenha se tornado invisível. Faz isso dentro dosconceitos da Doutrina Espírita não procurando outrasexplicações, por absoluta falta de condições para sedefinir o que, realmente, teria ocorrido.

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Conclusão

A nossa conclusão é bem simples, pelos dadosque conseguimos levantar ainda não há como de finiro que, de fato, ocorreu com relação ao corpo deJesus; Surgem apenas possibilidades, que não devemser tomadas senão no sentido exato do termo.

Allan Kardec disse que os Espíritos nadainformaram a respeito. Após seu desencarne, atéonde temos conhecimento, não há revelação do queocorrera. Se, porventura, você, caro leitor, souber dealgo pedimos que nos envie, pelo [email protected], para que possamosatualizar este nosso artigo.

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Set/2019.

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Referências bibliográficas

Bíblia de Jerusalém, nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.

KARDEC, A. A Gênese. São Paulo: FEAL, 2018.KERSTEN, H. e GRUBER, E. R. A Conspiração Jesus. São

Paulo: Best Seller, s/d.KÜNG, H. Credo: a profissão de fé apostólica explicada ao

homem contemporâneo. Lisboa, Portugal, 1997.TABOR, J. D. A dinastia de Jesus: a história secreta das

origens do cristianismo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.VERMES, G. Ressurreição: História e Mitos. Rio de Janeiro:

Record, 2013.Metric Conversions (site), Cálculo libras para quilogramas,

disponível em: https://www.metric-conversions.org/pt-br/peso/libras-em-quilogramas.htm. Acesso em: 19 set.2019.

Capa: https://www.luteranos.com.br/_arquivos/202004/big_e9a4d76aaad7a9d5fbba0fa40bf87a85.jpg. Acesso em: 24 jan. 2021.

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1 Cálculo matemático: 15 h de sexta-feira às 15 h de sábado,perfazem 24 horas, de 15 h de sábado até, provavelmente, às 9 hda manhã de domingo, mais 18 h, chega-se ao total de 42 h.

2 VERMES, Ressurreição: História e Mito, p. 102.3 KARDEC, O Livro dos Médiuns, cap. XXXII – Vocabulário Espírita, p.

415.4 Bíblia de Jerusalém, p. 1783.5 Metric Conversions (site): https://www.metric-conversions.org/pt-br/

peso/libras-em-quilogramas.htm.6 KÜNG, Credo: a profissão de fé apostólica explicada ao homem

contemporâneo, p. 122-124.7 TABOR, A dinastia de Jesus: a história secreta das origens do

cristianismo, p. 239-240.8 NT: Tertuliano, De Spectaculis 30.9 NT: Book of the Resurrection of Christ by Bartholomew the Apostle

1.6-7.10 TABOR, A dinastia de Jesus: a história secreta das origens do

cristianismo, p. 250-251.11 VERMES, Ressurreição, p. 165.12 HASSNAIN, Jesus, a Verdade e a Vida, p. 137.13 HASSNAIN, Jesus, a Verdade e a Vida, p. 148.14 HASSNAIN, Jesus, a Verdade e a Vida, p. 156-158.15 Essa informação baseia-se no Sudário de Turim, que o autor vem

analisando.16 KERSTEN, Jesus Viveu na Índia, p. 171-192 – passim.17 KERSTEN e GRUBER, A Conspiração Jesus, p. 333.18 Nota da transcrição (N.T.): Pétré (1948): Guamurrini (1987).19 N.T.: Evagrius (PG 86). Os escritos de Evagrius são originários do

período posterior ao ano 593.20 KERSTEN e GRUBER, A Conspiração Jesus, p. 337-338.21 Nota Transcrição (N.T.): João, 10,16.22 N.T.: The Crucifixion by an Eye-witness, p 124-125: “Surgiu a

notícia de que Jesus tinha sido levado em uma nuvem para o céu.Esse rumor foi inventado por pessoas que não estavam presentesquando Jesus partiu”.

23 HASSNAIN, Jesus, a Verdade e a Vida, p. 171.24 KARDEC, A Gênese, p. 348-349.25 KARDEC, A Gênese, p. 350.26 KARDEC, A Gênese, p. 350-351.

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Paulo da Silva Neto Sobrinho é naturalde Guanhães, MG. Formado em CiênciasContábeis e Administração de Empresas pelaUniversidade Católica (PUC-MG). Aposentou-se como Fiscal de Tributos pela Secretaria deEstado da Fazenda de Minas Gerais. Ingressouno movimento Espírita em Julho/87.

Escreveu vários artigos que foram publicados em seu sitewww.paulosnetos.net e alguns outros sites Espíritas na Web.

Livros publicados: a) impressos: 1) A Bíblia à Moda daCasa; 2) Alma dos Animais: Estágio Anterior da Alma Humana?;3) Espiritismo, Princípios, Práticas e Provas; 4) Os EspíritosComunicam-se na Igreja Católica; 5) As Colônias Espirituais e aCodificação; e 6) Kardec & Chico: dois missionários; b) E-books: 1) Espiritismo e Aborto; 2) Kardec & Chico: 2missionários. Volume II, 3) Kardec & Chico: 2 missionários.Volume III; 4) Racismo em Kardec?; 5) Espírito de Verdade,quem seria ele?; 6) A Reencarnação tá na Bíblia; 7)Manifestações de Espírito de pessoa viva (em que condiçõeselas acontecem); 8) Homossexualidade, Kardec já falava sobreisso; 9) Chico Xavier, verdadeiramente uma alma feminina; 10)Os nomes dos títulos dos Evangelhos designam seus autores?;11) Apocalipse: autoria, advento e a identificação da besta; 12)Francisco de Assis e Chico Xavier seriam o mesmo Espírito?; 13)A mulher na Bíblia; 14) Todos nós somos médiuns?; 15) Osseres do invisível e as provas ainda recusadas pelos cientistas;16) O Perispírito e as polêmicas a seu respeito; 17) Allan Kardece a lógica da reencarnação e 18) O fim dos tempos estápróximo?

Livros e e-books a publicar: 1) Espiritismo e má-fé; 2)Kardec e Chico: 2 Missionários, vol. IV; 3) Manifestação deEspíritos, a própria Bíblia é uma prova ; 4) Pedro, tu és Papa?; 5)Relendo a Bíblia, Revendo a Teologia, vol. I; 6) Relendo a Bíblia,Revendo a Teologia, vol. II; 7) Relendo a Bíblia, Revendo aTeologia, vol. III; 8) SEB – Anjos e Demônios; 9) SEB –Comunicação com os mortos; 10) SEB – Evocação de Espíritos;11) SEB – Imortalidade da Alma; 12) SEB – Imposição das mãos;

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13) SEB – Influência dos Espíritos; 14) SEB – Mediunidade; 15) AAlma Dorme no Mineral?; 16) A aura e os chakras noEspiritismo; 17) A Manifestação de Samuel a Saul (Análise dasexplicações da Bíblia Shedd) ; 18) A Morte de Jesus foi pararemissão dos pecados?; 19) Allan Kardec e a previsão de suavolta; 20) Allan Kardec foi um racista brutal e grosseiro, 21)Católicos acusam Kardec de racista; 22) Chico Xavier e suasvidas passadas; 23) Chico Xavier, afinal de contas, quem évocê?; 24) Da mediunidade e dos médiuns ; 25) EL, o verdadeirodeus dos hebreus; 26) Espírito agindo na matéria; 27) Evocar osmortos (Moisés, Emmanuel e André Luiz x Allan Kardec); 28)Falhas na Bíblia inerrante; 29) Há dogmas no Espiritismo? 30)Isaías previu algo a respeito de Jesus?; 31) Jesus é o Espírito deVerdade; 32) Jesus teve ou não irmãos?; 33) Jesus, um Espíritosuperior ou puro?; 34) O que efetivamente nos salva?; 35) Oritual do batismo; 36) Os Animais: suas percepções emanifestações; 37) Obsessão, processo de cura de casosgraves; 38) Possessão e incorporação, espíritos possuindofisicamente os encarnados; 39) Reencarnação no Concílio deConstantinopla (Orígenes x Império Bizantino); 40) Refutaçãodas Críticas contra o Espiritismo (Allan Kardec); 41) ReligiãoEspírita, é o que, de fato, é o Espiritismo; 42) Será que osprofetas previram a vinda de Jesus?; 43) Toda Escritura émesmo Inspirada?; 44) Trindade, o mistério imposto por umleigo, anuído pelos teólogos; 45) Umbral, há base doutrináriapara sustentá-lo?; 46) Os Espíritos superiores e o nosso livre-arbítrio; 47) A ação do benfeitor de Chico Xavier era igual àtécnica usada por Espírito obsessor; 48) Chico Xavier teria sidoa médium Srta. Japhet?; 49) Anjos da Guarda, a que ordem eclasse pertencem?; 50) Provas da existência e da sobrevivênciada alma; e 51) Obsessão, processo de cura de casos graves.

Belo Horizonte, MG.e-mail: [email protected]