O Realismo

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O Realismo: a realidade desnuda

Não bastava mostrar a face sonhadora e idealizada da vida como fizeram os românticos; era preciso mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos.

A segunda metade do século XIX presencia profundas modificações no modo de pensar e agir das pessoas. No plano das idéias, surgem inúmeras correntes científicas, que procuram explicar fenômenos sociais, naturais e psicológicos à luz de teorias materialistas. No plano da ação, vive-se a segunda etapa da Revolução Industrial, cujas contradições sociais começam a aparecer.

Em lugar de fugir à realidade, os realistas procuram apontar suas falhas como forma de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar de heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações como qualquer um de nós.

Ao lado da fermentação político-social, verifica-se uma verdadeira onda de cientificismo e materialismo, que alguns chegam a identificar como uma continuidade ou uma segunda etapa do Iluminismo do século XVIII. Entre as mais importantes correntes da época, destacam-se:

positivismo: criado por Augusto Comte, parte do principio de que o único conhecimento válido é o conhecimento positivo, isto é, oriundo das ciências.

determinismo: criado por H. Taine, parte do principio de que o comportamento humano é determinado por três aspectos básicos: o meio, a raça, e o momento histórico.

darwinismo: dando continuidade, sob outro enfoque, à teoria do evolucionismo, de Lamarck Charles Darwin, em sua obra Origem das espécies (1859), apresenta a teoria da seleção natural, segundo a qual a natureza ou o meio selecionam, entre os seres vivos, aquelas variações que estão mais aptas a sobreviver e perpetuar-se. Assim, os mais fortes sobrevivem e procriam, e os mais fracos são eliminados antes disso.Têm destaque, ainda, na época, as pesquisas no campo da Física, da Química, da

Biologia e, principalmente, no da Medicina. São dessa época iguakmente os primeiros esforços no sentido de criar três áreas científicas novas: a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia.

È nesse contexto sócio-político-científico que surgem o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. A alteração do quadro social e cultural exigia dos escritores outra forma de abordar a realidade: menos idealizada do que a romântica e mais objetiva, crítica e participante.

A designação de Realismo ao movimento não é a mais adequada, porque em todas as épocas se pode identificar mais ou menos o realismo artístico, em oposição à fantasia e à imaginação.

O Naturalismo é uma tendência que procura dar um novo tratamento ao Realismo, atribuindo-lhe um caráter mais científico, com base nas teorias que circulam na época.

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Diferentemente dos outros dois movimentos, que se voltam para a observação e para a análise da realidade, o Parnasianismo é uma tentativa de recuperar os ideais clássicos varridos pelo Romantismo e estabelecer um equilíbrio, a razão e a objetividade.

O Realismo no Brasil

Na segunda metade do século XIX, surge um dos mais importantes escritores de nossa literatura: Machado de Assis. Dotado de uma capacidade técnica incomum, Machado inova o romance enquanto gênero e apura as técnicas do conto e da crônica. Como poucos, penetra a alma humana com excepcional agudeza, a ponto de sua obra, ainda hoje, ser referência e modelo para vários escritores.

A observação da produção literária dos escritores da última geração romântica, dos anos 1860-70, revela a existência de algumas tendências que apontam cada vez mais para uma literatura voltada para o seu tempo, o que caracterizaria o Realismo alguns anos depois.

Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu no Rio de Janeiro. Foi tipógrafo e revisor em uma editora. Admitido à redação do Correio Mercantil, começou a publicar seus escritos em vários jornais e revistas. Na década de 1860, escreveu todas as suas comédias e os versos ainda românticos de Crisálidas.

Algumas de suas obras: “Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.”

A prosa naturalistaO Naturalismo, assim como o Realismo, volta-se para o retrato objetivo da

realidade. Entretanto, observa-a, documenta-a, analisa-a, disseca-a sob uma ótica rigorosamente científica. Os escritores naturalistas, valendo-se de temas inovadores, mostram a decadência das instituições, denunciam a hipocrisia social, falam da fragilidade do indivíduo perante as forças da hereditariedade e do meio e vêem as lutas sociais com simpatia.

De acordo com a concepção naturalista, o homem não passa de um animal cujo destino é determinado pelo meio social e pela hereditariedade, desprovido de livre-arbítrio e sempre à mercê de forças que fogem ao seu controle.

Aliteratura naturalista constrói sua ficção sob o regime das leis científicas: o homem é um caso, um objeto a ser cientificamente estudado.

O Naturalismo introduziu na literatura todos os assuntos ligados ao homem, inclusive aqueles repulsivos e bestiais, e deu voz às camadas desfavorecidas da sociedade.

Autores naturalistas: Aloísio de Azevedo (1857-1913) nasceu em São Luís do Maranhão. Escreveu, O mulato, O cortiço, A fome, O missionário, A normalista, entre outros. Raul Pompéia (1863-1895) nasceu em Angra dos Reis. Algumas obras: O Ateneu, Uma tragédia no Amazonas, Canções sem metro.

O Parnasianismo no BrasilDiferentemente do Realismo e do Naturalismo, que se voltavam para o exame e para

a crítica da realidade, o Parnasianismo representou na poesia um retorno ao clássico, com todos os seus ingredientes: o princípio do belo na arte, a busca do equilíbrio e da

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perfeição formal. Os parnasianos acreditavam que o sentido maior da arte reside nela mesma, em sua perfeição, e não em sua relação com o mundo exterior.

O Parnasianismo no Brasil, surgiu na década de 80 do século XIX, ilustra bem esse processo. Depois da revolução romântica, que impôs novos parâmentros e valores artísticos, formou-se em nosso país um grupo de poetas que desejava restaurar a poesia clássica, desprezada pelos românticos.

Os parnasianos achavam que o objetivo maior da arte não é tratar dos problemas sociais, mas alcançar a “perfeição” em sua construção: rimas, métrica, vocabulário seleto, equilíbrio, controle das emoções, etc. Defendiam com isso o princípio da “arte pela arte”.

Autores parnasianos: Olavo Bilac (1865-1918) nasceu no Rio de Janeiro, obras: Poesias, O caçador de esmeraldas, Via láctea, entre outras. Raimundo Correia (1860-1911) é um dos poetas que, juntamente com Olavo Bilac e Alberto de Oliveira, formam a chamada “tríade parnasiana”. Sua poesia dentro do movimento parnasiano representa um movimento de descontração e de investigação.

A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchegoDo claustro, na paciência e no sossego,Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço; e a trama viva se construaDe tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E, natural, o efeito agrade,Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, a gêmea da Verdade,Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade. Olavo Bilac

O Simbolismo: a linguagem da músicaInsatisfeitos com a onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a

sociedade industrial européia na segunda metade do século XIX, os simbolistas representam a reação da intuição contra a lógica, do subjetivismo contra a objetividade científica, do misticismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação racional.

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Os simbolistas não acreditavam na possibilidade de a arte e a literatura poderem fazer um retrato total da realidade. Duvidavam também das explicações “positivas” da ciência, que julgava poder explicar todos os fenômenos que envolvem o homem e conduzi-lo a um caminho de progresso e fartura material.

Assim, os simbolistas representam um grupo social que ficou à margem do cientificismo da segunda metade do século XIX e que procurou resgatar certos valores do Romantismo varridos pelo Realismo.

Parnasianismo X SimbolismoO Simbolismo é diametralmente oposto ao Parnasianismo quanto à ideologia.

Apesar disso, ambos apresentam em comum uma preocupação intensa com a linguagem e certos refinamento formal. Isso talvez possa ser explicado pelo fato de ambas as tendências terem nascido juntas, na França, na revista Parnasse Contemporain, em 1866. Cruz e Souza, por exemplo, o principal simbolista brasileiro, apresenta influências parnasianas em alguns de seus poemas.

O Simbolismo buscou uma linguagem que fosse capaz de sugerir a realidade, e não retratá-la objetivamente, como queriam os realistas. Para isso, faz uso de símbolos, imagens, metáforas, sinestesias, além de recursos sonoros e cromáticos, tudo com a finalidade de exprimir o mundo interior, intuitivo, antilógico e anti-racional.

Características da linguagem simbolista: Subjetivismo; Linguagem vaga, fluida, que busca sugerir em vez de nomear; Abundância de metáforas, comparações, aliteração, assonância e sinestesia; Cultivo do soneto e de outras formas de composição poética; Antimaterialismo, anti-racionalismo; Misticismo, religiosidade; Interesse pelas zonas profundas da mente humana e pela loucura; Pessimismo, dor de existir; Interesse pelo noturno, pelo mistério e pela morte; Retomada de elementos da tradição romântica.O movimento simbolista surge no último quarto do século XIX, na França, e representa

a reação artística à onda de materialismo e cientificismo que envolvia a Europa desde a metade do século.

Os simbolistas procuram resgatar a relação do homem com o sagrado, com a liturgia e com os símbolos. Buscam os sentimentos de totalidade, que se daria numa integração da poesia com a vida cósmica. A poesia torna-se desse modo uma espécie de religião.

A forma de adotar a realidade tratada pelos simbolistas é radicalmente diferente das dos realistas. Não aceitam a separação entre sujeito e objeto ou entre subjetivo e objetivo. Partem do princípio de que é impossível e retrato fiel do objeto, sendo papel do artista sugeri-lo. Desse modo, a obra de arte nunca é perfeita ou acabada, mas aberta, podendo sempre ser modificada, ampliada ou refeita.

O Simbolismo no BrasilAs primeiras manifestações simbolistas já eram sentidas desde o final da década de

80 do século XIX. Apesar disso, tem-se apontado como marco introdutório do movimento simbolista brasileiro a publicação, em 1893, das obras Missal (prosa) e Broquéis (poesia), de novo maior autor simbolista: Cruz e Sousa.

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Além de Cruz e Sousa, destacam-se, entre outros, Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkery (recentemente descoberto pela crítica).Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Florianópolis, filho de escravos, foi amparado por uma família aristocrática, que o ajudou nos estudos. Suas únicas obras publicadas em vida são Missal e Broqueis.Alphonsusu de Guimaraens (1870-1921) nasceu em Ouro Preto, estudou direito em São Paulo e durante muitos anos foi juiz em Mariana, cidade histórica vizinha de sua cidade natal.Escreveu um conjunto de poesias uniforme e equilibrado, utilizando mu7ita mística e espiritualidade. Gostava de escrever sobre o tema da morte, que foi o que lhe abriu caminhos para a escrita de outros poemas.

O poema que segue é o mais popular de Alphonsus de Guimaraens IsmáliaQuando Ismália enlouqueceu,Pôs-se na torre a sonhar...Viu uma lua no céu,Viu outra lua no mar,

No sonho em que se perdeu,Banho-se toda em luar...Queria subir ao céu,Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,Na torre pôs-se a cantar...Estava perto do céu,queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deuRuflavam de par em par...Sua alma subiu ao céu,Seu corpo desceu ao mar...