O realismo e o naturalismo no brasil

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O Realismo e o Naturalismo no Brasil Literatura

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O Realismo e o Naturalismo no Brasil

Literatura

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O cortiço

“... O Miranda mandou logo levantar o muro.

Nada! aquele demônio era capaz de invadir-lhe a casa até a sala de visitas! E os quartos do cortiço pararam enfim de encontro ao muro do negociante, formando com a continuação da casa deste um grande quadrilongo, espécie de pátio de quartel, onde podia formar um batalhão.

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Noventa e cinco casinhas comportou a imensa estalagem.

Prontas, João Romão mandou levantar na frente, nas vinte braças que separavam a venda do sobrado do Miranda, um grosso muro de dez palmos de altura, coroado de cacos de vidro e fundos de garrafa, e com um grande portão no centro, onde se dependurou uma lanterna de vidraças vermelhas, por cima de uma tabuleta amarela, em que se lia o seguinte, escrito a tinta encarnada e sem ortografia:

"Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras".

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As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago adiantado. O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis; sabão à parte. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar.

Graças à abundância da água que lá havia, como em nenhuma outra parte, e graças ao muito espaço de que se dispunha no cortiço para estender a roupa, a concorrência às tinas não se fez esperar; acudiram lavadeiras de todos os pontos da cidade, entre elas algumas vindas de bem longe. E, mal vagava uma das casinhas, ou um quarto, um canto onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem de pretendentes a disputá-los.

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E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco...”

Aluísio Azevedo

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Releitura

1. No fragmento, o leitor acompanha detalhadamente o surgimento de um cortiço. Trata-se de um relato objetivo ou subjetivo? Por quê? Relacione sua resposta com o foco narrativo do texto.O relato é objetivo, pois se trata de um narrador em 3ª pessoa, que não participa da matéria narrada, mantendo uma postura racional e objetiva em relação a ela. 2. O fragmento incorpora o modelo pelo qual os personagens se expressam como se vem em “Nada! Aquele demônio era capaz de invadir-lhe a casa até a sala de visitas.”a) Reconheça o tipo de discurso utilizado na passagem e utilize a informação para concluir: o narrador é observador ou onisciente? Por quê?

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Trata-se do discurso indireto livre. Por meio dele a voz do narrador, incorpora a do personagem e revela seus pensamentos e sentimentos, o que nos permite concluir que o narrador é onisciente.

b) Nesse trecho, o narrador mostra o ponto de vista de qual personagem? Em que tom? Justifique:

Trata-se do personagem Miranda, cuja cólera se justifica pelo fato de ver seu sobrado ser invadido pelo cortiço de João Romão. O tom é coloquial, informal.

3. No trecho. “[...] um grosso muro de dez palmos de altura, coroado de cacos de vidro e fundos de garrafa, e com um grande portão no centro, onde se dependurou uma lanterna de vidraças vermelhas, por cima de uma tabuleta amarela, em que se lia o seguinte, escrito a tinta encarnada e sem ortografia:

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‘ Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras’.

a) Aponte uma característica do Realismo.

A descrição detalhista e fotográfica.

b) Aponte uma característica de João Romão e discuta se ela o aproxima ou distancia do narrador, justificando sua resposta.

O desconhecimento da linguagem escrita. Essa característica o distancia do narrador como se percebe pelo fato de ele transcrever corretamente o escrito a tinta encarnada e sem ortografia de João Romão. ‘ Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras’.

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4. Uma característica naturalista do fragmento é a tentativa de explicar biologicamente o processo de surgimento do cortiço, associando a aglomeração humana de que se compõe ao mundo animal, por meio das palavras e expressões que aproximam o cortiço de seus domínios. Que paragrafo melhor ilustra essa afirmação?

E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco...”

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5. Identifique, no parágrafo transcrito na questão anterior:

a) os verbos que indicam tratar-se de uma proliferação promíscua, bestial de pessoas.

Os verbos são minhocar, esfervilhar, crescer, brotar, multiplicar-se.

b) Os substantivos e adjetivos que nomeiam e caracterizam esse ambiente.

Os substantivos e adjetivos são “terra encharcada e fumegante”; “umidade quente e lodosa”

c) As reiterações, que enfatizam as características do cortiço, dando ritmo e vitalidade à descrição. Exemplo: “E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa”.

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• Começou a minhocar

Começou a esfervilhar, crescer• Um mundo

uma coisa viva, uma geração

6. A fusão entre os seres e o ambiente a que pertencem, os primeiros sendo vistos como produtos do segundo, e um outro traço naturalista fortemente presente no trecho.

a) Que comparação pode ser utilizada para justificar tanto a animalização do homem quanto a sua redução às condições ambientais?

A comparação é “[...]um mundo, uma coisa viva, uma geração que parecia [...] multiplicar-se como larvas no esterco”.

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b) Embora seja considerado um produto da natureza, o homem é também aquele que a transforma. Que comparação sintetiza o tema da exploração desenfreada da natureza pelo homem, desenvolvido no fragmento?

“E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco”.

7. Leia atentamente o seguinte depoimento de Aluísio Azevedo:

“Fiz-me romancista, não por pendor, mas por haver me convencido da impossibilidade de seguir a minha vocação, que é a pintura. Quando escrevo, pinto mentalmente. Primeiro desenho meus romances e depois redijo-os”. (In: LEVIN, 2005,p.16).

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Na sua opinião, por quais razões esse fragmento de O cortiço confirma as palavras do autor? Explique.

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Texto 1

Ao abrir o livro, Ana Rosa soltou logo uma envergonhada exclamação: dera com um desenho, em que o autor da obra, com a fria sem cerimônia da ciência, expunha aos seus leitores uma mulher Observou-o com profunda atenção, enquanto dentro dela se travava a batalha dos desejos. Todo o ser se lhe revolucionou; o sangue gritava-lhe, reclamando o pão do amor; seu organismo inteiro protestava irritado contra a ociosidade. E ela então sentiu bem nítida a responsabilidade dos seus deveres de mulher perante a natureza, compreendeu o seu destino de ternura e de sacrifícios, percebeu que viera ao mundo para ser mãe; concluiu que a própria vida lhe impunha, como lei indefectível, a missão sagrada de procriar muitos filhos, sãos, bonitos, alimentados com seu leite, que seria bom e abundante[...]

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Texto 2

Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro se não foram os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos lustrosos e crespos; tez morena e amulatada, mas fina; dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode; estatura alta e elegante; pescoço largo, nariz direito e fronte espaçosa. A parte mais característica da sua fisionomia era os olhos— grandes, ramalhudos, cheios de sombras azuis; pestanas eriçadas e negras, pálpebras de um roxo vaporoso e úmido as sobrancelhas, muito desenhadas no rosto, como a nanquim faziam sobressair a frescura da epiderme, que, no lugar da barba raspada lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sobre papel de arroz.

Tinha os gestos bem educados. sóbrios, despidos de pretensão, falava em voz baixa, distintamente sem armar ao efeito; vestia-se com seriedade e bom gosto; amava as artes, as ciências, a literatura e, um pouco menos, a política.

Aluízio Azevedo. O mulato.

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Releitura

1.No texto 1, dedicado à Ana Rosa, a prima do Raimundo ( o mulato) que se apaixona por ele, defrontamo-nos com uma “imagem” de mulher tipicamente naturalista. Transcreva as passagens que melhor ilustrem essa afirmação, mostrando:

a) a submissão da personagem aos instintos.

enquanto dentro dela se travava a batalha dos desejos. Todo o ser se lhe revolucionou; o sangue gritava-lhe, reclamando o pão do amor; seu organismo inteiro protestava irritado contra a ociosidade.

b) as conclusões a que chega, quanto ao seu destino de mulher.

E ela então sentiu bem nítida a responsabilidade dos seus deveres de mulher perante a natureza, compreendeu o seu destino de ternura e de sacrifícios, percebeu que viera ao mundo para ser mãe[...] etc.

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2. Que expressão do texto 1, nos faz compreender o caráter determinista, isto é, de irrevogável determinação pela força da natureza, da concepção naturalista sobre a mulher?

“[...] concluiu como a própria vida lhe impunha, como lei indefectivel, a missão sagrada de procriar muitos filhos[...]”.

3. No texto 2, dedicado a Raimundo, temos uma descrição que se aproxima do idealismo romântico.

a) Que característica do personagem permitem-nos vê-lo como objeto de idealização?

Os olhos azuis, os cabelos muito pretos e brilhantes, a tez fina, os dentes claros, a estatura alta e elegante, o nariz direito, a fronte espaçosa, as sobrancelhas muito desenhadas no rosto, a frescura da epiderme, os gestos sóbrios, a fala em voz baixa, o vestir-se com bom gosto, o amor pelas artes, ciências, literatura etc. trata-se de um personagem idealizado, por que corresponde a um estereótipo de beleza, educação e virtude.

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b) Identifique a única personagem do fragmento que se refere ao fato de Raimundo ser mulato.

“[...] tez morena e amulatada[...]”

c) Como essa característica é relativizada, ao longo da mesma passagem?

Essa característica é relativizada por meio da conjunção mas, que parece corrigir a afirmação anterior, destacando a finura da tez de Raimundo.

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Leitura

Leia agora algumas descrições das personagens da obra O cortiço, de Aluízio Azevedo.

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Texto 1

Maldita preta dos diabos! Era ela o único defeito, o senão de um homem tão importante e tão digno.

Agora, não se passava um domingo sem que o amigo de Bertoleza fosse jantar à casa do Miranda. Iam juntos ao teatro. João Romão dava o braço à Zulmira, e, procurando galanteá-la e mais ao resto da família, desfazia-se em obséquios brutais e dispendiosos, com uma franqueza exagerada que não olhava gastos. Se tinham de tomar alguma coisa, ele fazia vir logo três, quatro garrafas ao mesmo tempo, pedindo sempre o triplo do necessário e acumulando compras inúteis de doces, flores e tudo o que aparecia. Nos leilões das festas de arraial era tão feroz a sua febre de obsequiar a gente do Miranda, que nunca voltava para casa sem um homem atrás, carregado com os mimos que o vendeiro arrematava.

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Texto 2

E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a

transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e,

quando o fazia, era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A

desgraçada muita vez sentia-lhe cheiro de outras mulheres, perfumes de

cocotes estrangeiras e chorava em segredo, sem ânimo de reclamar os

seus direitos. Na sua obscura condição de animal de trabalho, já não era

amor o que a mísera desejava, era somente confiança no amparo da sua

velhice quando de todo lhe faltassem as forças para ganhar a vida. E

contentava-se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço

de todo o dia, covarde e resignada, como seus pais que a deixaram

nascer e crescer no cativeiro. Escondia-se de todos, mesmo da gentalha

do frege e da estalagem, envergonhada de si própria, amaldiçoando-se

por ser quem era, triste de sentir-se a mancha negra, a indecorosa nódoa

daquela prosperidade brilhante e clara.

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Releitura

1. Note que os texto 1 e 2 aproximam-se do desfecho de O cortiço, quando João Romão já “refinou” a própria aparência, além de ampliar e modernizar a sua estalagem. Entre outras reformas, nela construiu um sobrado para uso pessoal, “ mais alto e mais vistoso” que o do Miranda, com quem agora quer se aliar, afim de adquirir um título de nobreza e consolidar sua ascensão. No entanto, há um empecilho a ser suprimido: Bertoleza.

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a) O texto 1 começa mostrando o ponto de vista de João Romão a respeito de Bertoleza e o modo como o narrador o caracteriza, agora que sua ascensão consolidou-se. Comente o período inicial e aponte a razão pela qual podemos considerá-lo irônico.

O período é irônico porque a expressão “Maldita preta dos diabos”, dita ou pensada enfaticamente por João Romão, não permite uma leitura “séria” dos atributos conferidos pelo narrador ao personagem: “um homem tão importante e tão digno”

b) No segundo parágrafo do texto 1, há passagens que denunciam a farsa do suposto refinamento de João Romão, em sua convivência com a noiva Zulmira e a família dela. Identifique as palavras ou expressões que realçam a grosseria da personagem nessas passagens.

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João Romão [...] desfazia-se em obséquios brutais e dispendiosos com uma franqueza exagerada que não olhava os gastos [...]. Nos leilões das festas do arraial era tão feroz a sua febre de obsequiar a gente do Miranda, que nunca voltava para casa sem um homem atrás, carregado com os mimos que o vendeiro arrematava.

2. O texto 2 é dedicado ao ponto de vista de Bertoleza diante da transformação de João Romão. Observe que o narrador analisa os sentimentos e pensamentos da personagem por meio de suas vertentes: uma de caráter naturalista, marcada pelo determinismo biológico, e outra de caráter social, que remete a características específicas da história do Brasil.

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a)Explique por que as duas personagens a seguir concernem à vertente naturalista, justificando sua escolha. • “Na sua obscura condição de animal de trabalho [...]”

O trecho exemplifica a redução do homem à condição animalesca, própria do Naturalismo.

* “E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das caboclas do Amazonas pelo branco a que se escravizam, dessas que morrem de ciúmes, mas que também são capazes de matar-se para poupar seu ídolo a vergonha do seu amor.

O trecho exemplifica a submissão sexual da mulher ao homem, neste caso acentuada pela teoria da superioridade da raça ariana em relação as raças mestiças.

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b) Em, “E contentava-se em suspirar no meio de grandes silêncios durante o serviço de todo o dia, covarde e resignada, como seus pais que a deixaram nascer e crescer no cativeiro”, que característica da personagem pode ser explicada socialmente, tendo em vista a História do Brasil?

A característica é a condição de escrava da personagem.

c) Comente por que podemos considerar irônica a antítese apresentada a seguir, tendo em vista a temática desenvolvida no livro.

“[...] triste sentia a mancha negra, a indecorosa nódoa daquela prosperidade brilhante e clara”.

A antítese é irônica porque as imagens “mancha negra” e “indecorosa nódoa”, utilizadas para expressar os sentimentos de Bertoleza de ser um objeto e não um sujeito, na verdade caracterizam a suposta “prosperidade brilhante e clara” de João Romão.

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Leitura

Leia atentamente dois fragmentos de O Ateneu, notando a diversidade e qualidade dos recursos expressivos presentes no romance.

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Fragmento 1

Os olhos riam destilando uma lágrima de desejo; as narinas ofegavam; adejavam trêmulas por intervalos, com a vivacidade espasmódica do amor das aves; os lábios, animados de convulsões tetânicas, balbuciavam desafios, prometendo submissão de cadela e a doçura dos sonhos orientais. Dominada então pela oferta abusiva, de repente abatia-se à derradeira humilhação, para atrair de baixo, como as vertigens. Ali estava, por terra, a prostituição da vestal, o himeneu da donzela, a deturpação da inocente, três servilismos reclamando um dono; apetite para esta orgia rara sem convivas!

Raul Pompéia. O Ateneu

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Releitura

Nesta cena de volúpia, a descrição dos olhos, das narinas e dos lábios de uma mulher, que se entrega ao desejo sexual, possui fortes traços naturalistas.

a) Exemplifique-os

“Os olhos riam destilando uma lágrima de desejo; as narinas ofegavam; adejavam trêmulas por intervalos[...] os lábios, animados de convulsões tetânicas, balbuciavam desafios, prometendo submissão de cadela e a doçura dos sonhos orientais.”

b) Explique o que consiste o Naturalismo na descrição.

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O Naturalismo na descrição está na ênfase que dá à entrega da personagem ao mundo dos sentidos, deixando-se possuir por ele.

c) As expressões “prostituição da vestial”, “himineu da donzela” e “deturpação da inocente” referem-se a que contradição no presente na personagem assim caracterizada?

A contradição está no fato de a virgindade da personagem sugerida por “Vesta”, “donzela "e ”inocente”, destoar da sua entrega ao desejo, percebida por meio de termos como “prostituição” “vestial”e “himineu “

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Fragmento II

O sol vinha também à capela e colava de fora a fronte às vidraças, brando ainda do despertar recente, fresco da toilette da aurora, com medo de entrar, corado da vergonha de não rezar, pobre astro ateu. Pelas janelas abertas, esgalhavam-se para dentro frondosas ramas de jasmineiro, como uma invasão de floresta; e os jasmins da véspera, cansados, debulhavam-se conchinhas de nácar pelo soalho, mortos, expirando no ambiente a alma livre do aroma.

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A neblina de melancolia, baixada sobre o colégio da altura da cordilheira, repercussão da tristeza verde das matas, pesava-me aos ombros como a loba de um seminarista, como o voto de um frade; eu passeava na circunscrição do recreio como num claustro, olhando as paredes, brancas como túmulos caiados, limitando as preocupações do espírito à minha humilhação diante de Deus, sem olhar para cima, na modéstia curvada dos brutos — anulando-me a mim mesmo na angústia do pensamento religioso, como no saco de pano bicudo, preto, do farricoco.

O céu, que a imaginação buscara dantes, como os cânticos buscam os zimbórios, cala agora sobre mim como um solidéu de bronze.

Triste e feliz.

Raul Pompéia, O Ateneu.

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Releitura

1. Transcreva um exemplo de personificação de seres inanimados, atribuindo-lhes sentimentos, presente no fragmento.

“O sol vinha também à capela e colava de fora a fronte às vidraças, brando ainda do despertar recente, fresco da toillete da aurora, com medo de entrar, corado de vergonha de não rezar, pobre astro ateu”

2. Na frase “A neblina da melancolia, baixada sobre o colégio da altura da cordilheira, repercussão da tristeza verde das matas, pesava-me aos ombros [...]”

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a) O que se percebe sobre o estado de espírito do narrador-personagem?

Percebe-se que ele está melancólico e triste.

b) Que recurso o narrador-personagem utiliza para expressar os sentimentos, nesta frase em particular e ao longo de todo o texto?

O narrador personagem atribui aos elementos da paisagem os seus sentimentos.

c) Chama-se impressionismo a tendência de subjetivar o objetivo, descrevendo-o a partir das impressões que causam ao observador. Que estilo literário já estudado utiliza o mesmo recurso?

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O Romantismo

d) Por que razão podemos afirmar que se trata de um recurso antirrealista?

Pela intensa presença de subjetividade que o caracteriza.

3. Outro recurso estilístico utilizado para contribuir com a riqueza expressiva do texto é a comparação. Encontre nele exemplos de comparação que envolvem os seguintes elementos, típicos do estilo simbolista.

a) religiosidade

“Como a loba de um seminarista”, “como o voto de um frade”; “como num claustro”; “ como num saco de pano bicudo, preto do forricoco”.

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b) morte

“como tumulos caiados”

c) musicalidade

“como os cânticos buscam os zimbórios” ; “como um solidéu de bronze”.