O Referencial

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bOLeTIM da aSSOcIaçãO 25 de abRIL | director: Pedro Pezarat correia | Nº 109 | JaNeIRO - MaRçO 2013 FOTO: LUSa 17,5 % DEsEmpREgo O DEBATE DECISIVO REFERENCIAL

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Revista da Associação 25 de Abril - número de Abril de 2013

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bOLeTim da assOciaçãO 25 de abriL | director: Pedro Pezarat correia | Nº 109 | jaNeirO - marçO 2013

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17,5%DEsEmpREgo

O DEBATE DECISIVO

REFERENCIAL

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ESTA EDIÇÃO DE O REFERENCIAL é já res-

posta à dinâmica que pretendemos ver introdu-

zida com a constituição do Conselho Editorial e

pelo impulso da sua reunião do passado dia 20

de Setembro de 2012, de que o nosso número 107 de Julho-

Setembro se fez eco. Na linha das sugestões aí avançadas

sobre problemas específicos que deveriam ser evidenciados

tematicamente em cada edição, seleccionámos, pela sua im-

portância e óbvia actualidade, quer no quadro nacional quer

no da União Europeia, o desemprego. Não entendemos o

desemprego como uma fatalidade mas como o resultado

perverso de uma lógica e de opções que radicam na globali-

zação e no neoliberalismo socioeconómico que lhe é ine-

rente. E encaramos como fria hipocrisia as lágrimas de cro-

codilo que os responsáveis e ideólogos neoliberais vertem

pelo desemprego, enquanto fazem a apologia e impõem

uma política de baixos salários, sabendo-se que o desemprego

é, exactamente, um instrumento decisivo de uma política

de baixos salários.

pedro de pezaratCorreia

Foi um membro do Conselho Editorial, a socióloga e profes-

sor Maria José Casanova, que se encarregou de convidar o

seu colega professor Eduardo Vítor Rodrigues para nos pri-

vilegiar com um valioso trabalho que nos obrigará a pensar

acerca do que nos trouxe a índices que, numa década, passa-

ram do limite mínimo do desemprego técnico (3,9%) para a

mais elevada taxa de desemprego de sempre (17,5%), produto

de uma desregulação das relações laborais sempre em des-

favor do factor trabalho, cada vez mais precário, mais frágil,

mais barato.

Esta chaga é uma marca determinante de um sistema polí-

tico-económico-social que agrava e alarga distorções e injus-

tiças, a globalização neoliberal.

Foi ainda um membro do Conselho Editorial, mas este tam-

bém presidente da A25A, que mais uma vez se disponibilizou

para dinamizar e coordenar o caderno com que, em O Refe-

rencial, quisemos evocar e prestar homenagem ao nosso já

saudoso António Marques Júnior. A sua morte apanhou-nos

de surpresa a encerrar a anterior edição, mas ainda a tempo

de registar nas sua páginas palavras significativas da ceri-

mónia fúnebre e de deixar o compromisso de neste número

lhe conferir o merecido relevo. O Homem, o cidadão, o mi-

litar, o político, o amigo, o familiar, é enaltecido nestas pági-

nas com as palavras justas, que, em todas as facetas bem ca-

racterizam o carácter do capitão de Abril, título com que

entra e permanecerá na história. E, por isso, a última As-

sembleia Geral da A25A já o elegeu seu Sócio de Honra.

Neste mês de Abril do ano 39 começa a ser dolorosamente

pesado o número dos que nos fazem falta para a luta que,

nos tempos difíceis que atravessamos, se impõe continuar a

travar pelos ideais de Abril.Tem

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Cartaz comemorativo do 25 de Abril

autor: António Colaço

sumário

Propriedade da associação 25 de abrilPessoa colectiva de utilidade pública (declaraçãonº. 104/2002, dr ii série, n.º 9 de 18 de abril) ·membro Honorário da Ordem da Liberdade

Presidente da Direcção:Vasco Lourenço

Director:Pedro de Pezarat correia

Conselho Editorial:alfredo bruto da costa, amadeu Garcia dos santos, andré Freire, antónio moraissarmento brotas, carlos manuel serpa matosGomes, joão bosco mota amaral, joão Ferreira do amaral, josé barata-moura, josé manuelPureza, josé Viriato soromenho-marques, manuel martins Guerreiro, maria josé casa-Nova, maria josé morgado, maria manuela cruzeiro,Vasco Lourenço, Vítor crespo.

Editor:josé antónio santos

Fotografia:Fernando Farinha (editor)Nuno augustoagência Lusa

Colaboradores:artur custódio da silva, david martelo, FernandoVaza Pinheiro, joão magalhães, josé barbosa Pereira, josé Fontão, Luís Galvão (bridge), LuísVicente da silva (cartoon), manuel Loff, maria manuela cruzeiro, Nuno Fisher Lopes Pires, Nuno santa clara Gomes

Sede nacional, Administração e Redacçãorua da misericórdia, 951200-271 LisbOaTelefone:. 213 241 420endereço electrónico: [email protected]

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Delegação do Canadáassociação cultural 25 de abril (Toronto)1117 Queen street WestToronto – Ontario m6j3P4canadá

Edição gráficajm design & edições

www.jm-designedicoes.comav. infante santo, 23 -5ºc1350 - 179 Lisboa

impressão e acabamento: acd artes Gráficas-antónio coelho dias, s.a.rua marquesa de alorna, 12-abONs dias2620 - 271 [email protected]

Tiragem: 3.100 exemplaresDistribuição gratuitadepósito legal n.º 32 998/89

REFERENCIAL

GALERIADESEMPREGO EM PORTUGAL: NOTAS ANALÍTICAS 8

QUEREM TRABALHAR MAS NÃO ENCONTRAM MODO DE VIDA 16

VENCER O MEDO, REAFIRMAR ABRIL, CONSTRUIR O FUTURO 22

HOMENAGEM A MARQUES JÚNIOR 28

A EUROPA QUE NOS IMPUSERAM 46

O PAPEL DO CONCEITO ESTRATÉGICO DE SEGURANÇA E DEFESA NACIONAL 50

ORIGENS DA GRANDE GUERRA 56

OLHAR DE VIAJANTE 58

VAMOS APRENDER BRIDGE! 63

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DESEMPREgO: O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL PORTUGUÊS

O debate sobre a regulaçãoEste contexto de aumento acentuado do desemprego tem inaugurado um conjunto derenovadas análises, menos preocupadas com as respostas aos processos em curso emais concentradas no aproveitamento do processo para a imposição de agendasideológicas. É, em particular, o que ocorre com o debate sobre o papel da regulação naprodução das crises e do desemprego. Os seus mentores, mais do que preocupadoscom um diagnóstico sério e profundo sobre as múltiplas dimensões que caracterizamo desemprego em Portugal e na Europa, apressam-se numa atribuição simplista deculpas à regulação e aos instrumentos de estabilização das relações laborais. Isto porqueparecem ignorar que, historicamente, as relações laborais são, pela natureza das suasdimensões, claramente desiguais e potencialmente geradoras de processos de exploraçãoe de reforço das desigualdades.Este debate tem-se intensificado à medida que o desemprego aumenta e se acentua.É uma espécie de convicção assente na fé, que aumenta e que tende a reforçar-se àmedida que evolui a doença.É neste quadro que emerge a defesa do fim do salário mínimo, dos instrumentos deregulação da contratação e dos despedimentos e mesmo das medidas de apoio social,tidas como inibidoras da competitividade e da predisposição para trabalhar. Todasestas temáticas são assumidas como fatores estruturais de bloqueio da economia e dacompetitividade. A crise da economia e do emprego é encarada como um produtoespecífico do alegado excesso de regulação.Este modelo não é novo; tem mais de um século de debate teórico e de balanço histórico.Mas aquilo que marca, actualmente, este modelo é a capacidade de se reforçar emcontextos de crise, qualquer que seja a génese dessa crise. Aquilo que marca estemodelo é a convicção de que qualquer mecanismo de regulação é perverso, excepto osmecanismos de regulação das próprias crises sistémicas do capitalismo, e dessa forma,a salvação do capitalismo às suas próprias contradições.De facto, se as questões do desemprego se resolvessem com a progressiva desregulaçãodas economias, não se perceberia as razões pelas quais o desemprego aumenta, aomesmo tempo que gradualmente se promovem medidas de desregulação da economiae das relações laborais.O reconhecimento das virtualidades do “trabalho digno” é um elemento de (re)valorizaçãosimbólica do trabalho, mas também um instrumento de afirmação do trabalho comofator de valorização dos indivíduos e das suas dinâmicas relacionais. Ora, o trabalhodigno implica salário digno, bem como condições laborais dignas, do que são partesdecisivas o tipo de contrato e de estabilidade contratual.

Desemprego e emprego reconfiguradoA evolução do desemprego em Portugal acompanhou de perto, pelo menos na últimadécada, a alteração do quadro normativo e regulador das relações laborais portuguesas.Reforçou-se a precariedade, a reboque disso esfumou-se a noção de carreira, associadaà vida profissional, os salários estabilizaram em baixa no início da vida profissional, acontratação colectiva deu origem ao reforço da contratação individual, as medidas deapoio aos desempregados foram diminuindo, quer na dimensão pecuniária (subsídiode desemprego e subsídio social de desemprego), quer na dimensão da inserção(políticas de formação e aprendizagem ao longo da vida, por exemplo).

DESEmprEgO Em pOrTugAl:

notas analíticasEDuARDO VíTOR RODRiguES *

O desemprego português é um processo recente, veloz e de intensidades variáveis.ele é recente enquanto processo estrutural, tendo atingido em janeiro de 2013 a maiselevada taxa de sempre, com 17,5%. mas, cerca de uma década antes, o desempregoportuguês situava-se nos 3,9%, ou seja, situava-se nos limites do desemprego técnico.era então muito marcado por processos transitórios, muitas vezes de curta duraçãoe evolui de forma meteórica em pouco mais de uma década.ele é veloz, porque progrediu em Portugal a um nível bem mais rápido do que nageneralidade dos países europeus, mostrando um crescimento galopante, mesmoem anos em que se verificou algum crescimento económico significativo no paíse na europa. de facto, crescimento económico e aumento do desemprego não são,no caso português, tendências opostas, antes caminham a par nos últimos anosde forma que apenas à primeira vista parece contraditória. mais não fosse, estaquestão deixa clara a necessidade de dissociação analítica dos dois processos, atépara prevenir estratégias futuras: pode não ser suficiente o crescimento económicopara garantir uma efetiva inversão dos níveis e das tendências do desemprego.ele é, finalmente, um processo de intensidade variável. O desemprego portuguêsé uma tendência estrutural, mas com repercussões distintas nos diferentes contextosregionais, nos diferentes grupos etários e nos diferentes grupos de género. assim,a região Norte do país tem sofrido de forma muito mais intensa os impactos do de-semprego e do desemprego de longa duração, as mulheres são mais visadas peloprocesso, os mais jovens têm os níveis mais elevados de desemprego e os maisdesqualificados são mais vulneráveis ao processo.

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Janeiro de 2013

17,5 %a mais elevada taxa de semprede desempregoem Portugal

O crescimentoeconómico e aumento do desempregonão são, no casoportuguês,tendênciasopostas

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DESEMPREgO: O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL PORTUGUÊS

Na verdade, o grande reforço nas medidas de activação e de combate ao desempregodeu-se do lado do emprego subsidiado e dos estágios remunerados. Medidas como osProgramas Ocupacionais ou, mais recentemente, o Estímulo 2012 ou o Impulso Jovem,entre outros, criaram instrumentos de activação para jovens à procura de emprego epara desempregados beneficiários do subsídio de desemprego. No entanto, estasmedidas, definidas como estratégias de activação e de empregabilidade, inauguraramnovas modalidades de contratação temporária, de estágios replicados e de rotação detrabalhadores, suprindo funções duradouras e mesmo permanentes. Gerou-se uma efectiva circulação de desempregados em programas ocupacionais, comníveis fracos de inserção no posto de trabalho permanente. Ocupou-se muitos desem-pregados, mas criaram-se poucos empregos. Alimentou-se a inserção profissionalprecária, mal paga e beneficiou-se, com isso, mais as instituições e as empresas, doque os trabalhadores e a contratação. Resolveu-se conjunturalmente alguma pressãopolítica sobre os números do desemprego, mas não se atalhou um caminho quepotenciasse a inversão dos processos em curso.Mais uma vez, a crise de emprego e o aumento do desemprego ajudaram a legitimarestas medidas, apesar do seu pouco reflexo na efectiva empregabilidade dos indivíduos.O terceiro sector foi definido como um alvo privilegiado destas medidas, pelas importantesfunções sociais que exerce; incapaz de reforçar seriamente as comparticipações àsinstituições do terceiro sector, o Estado encontrou nestas estratégias (a que tantasvezes chamou estratégias de activação), formas paralelas de compensação às instituições,pela comparticipação salarial e pelo incremento de estágios e de proto-empregosubsidiado. Mas o Estado fê-lo também a seu benefício, a benefício directo daAdministração Central que dirige e da Administração Local com quem se relacionainstitucionalmente. De facto, proliferou este modelo de “empregabilidade”, assenteem estágios ou em programas ocupacionais, nas escolas, jardins-de-infância, lares ecreches, onde este modelo de ocupação compensou necessidades permanentes quedeveriam ser preenchidas por efetivo emprego remunerado e estável.Não se trata apenas de uma opção que prejudica os “ocupados” por estes regimes derelação com o mercado de trabalho. Para além disso, o Estado perde contribuições

oriundas do trabalho e das relações laborais, quer pelo lado dos impostos gerais sobrerendimentos, quer pelo lado dos impostos específicos que financiam a SegurançaSocial. Mais ainda, geram-se formas de perenização destes modelos de ocupação, comconsequências sérias nas dimensões psico-sociais, na motivação e na definição de umaambição de carreira profissional, agora reconfigurada num carrossel de estágios e deprogramas ocupacionais.Na verdade, a mesma saga contra a regulação das relações laborais casou-se bem comum modelo de “emprego” frágil, precário, mal pago e em regime de ocupação temporária,que implica muita presença do Estado, da sua regulação e do seu financiamento directo.Até nisto o debate promovido pelos liberais pareceria contraditório, se não fosse ins-trumentalmente oportunista: a regulação só é má quando não garante os interessesdos mais possidentes.

As tendências actuais do desempregoO desemprego assume-se, no dealbar para a segunda década do milénio, como oprincipal problema social português e o maior desafio ao mercado e às políticas públicasportuguesas e europeias.Em Portugal, a evolução dos números do desemprego assumiu um crescendo acentuadoa partir de meados da primeira década do séc. XXI, afetando homens e mulheres, deforma aparentemente idêntica (Quadro 1). No entanto, importa não esquecer que estesnúmeros resultam do modelo de cálculo oficial, incapaz de perceber os processos dereconfiguração do desemprego das mulheres, da condição de desempregada emcondição de doméstica. De facto, os estudos mais locais e de carácter qualitativo têmmostrado uma subestimação dos números oficiais do desemprego das mulheres, desdelogo por não perceberem a reconfiguração anteriormente referida. De facto, se noshomens o desemprego de longa duração raramente deixa de se traduzir na condiçãosocial de desempregado, já nas mulheres o desemprego de longa duração é muitasvezes reconfigurado na condição social de doméstica.Esta questão não implica nenhuma vantagem de género exclusiva ou nenhuma des-vantagem irredutível. Como explicou Serge Paugam, há ambivalência nestes processos.Se por um lado, este processo estigmatiza mais os homens, com consequências psi-co-sociais muito importantes, por outro lado, atira as mulheres de uma situação dedesemprego de longa duração para uma situação de desemprego “eterno”, por ser re-configurado numa condição de inatividade.

Os números ignoram estas realidades, quando não as ocultam deliberadamente.

Quadro 1 – Evolução do desemprego por género, Portugal (em %)

Ano 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Homens 3,1 4,1 5,8 6,5 6,5 9,8 15,7

mulheres 4,9 6,0 7,6 9,0 8,8 11,9 15,6

Total 3,9 5,0 6,7 7,7 7,6 10,8 15,7

Fonte: iNe, POrdaTa

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A região Norte do país tem sofrido de forma muitomais intensaos impactos do desemprego e do desemprego de longa duração,as mulheres sãomais visadas peloprocesso, os mais jovens têmos níveis maiselevados de desempregoe os mais desqualificadossão mais vulneráveis ao processo

Se as questões do desemprego se resolvessem com a progressivadesregulação das economias,não se perceberia as razões pelas quais o desempregoaumenta,ao mesmo tempoque gradualmentese promovemmedidasde desregulaçãoda economia e das relaçõeslaborais

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DESEMPREgO: O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL PORTUGUÊS

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Os impactos do desemprego diferenciam-se mais acentuadamente por grupo etário epor escolaridade. No que respeita aos grupos etários, os jovens são os mais visados peloselevados números do desemprego, com predominância para os jovens com menoresqualificações.A mesma variável grau de escolaridade ajuda a explicar o papel da escola e das habilitaçõesescolares como fator valorizante da inserção profissional (Quadro 2). De facto, a evoluçãodo desemprego foi muito acentuada para todos os graus de escolaridade, mas afectou deforma mais violenta os indivíduos com mais baixos níveis de escolaridade. Assim, porsi só, a escolaridade não inibe o desemprego, mas é mais um instrumento de atenuação,quer dos níveis do desemprego, quer da duração do tempo de desemprego.

Quadro 2 – Evolução do desemprego por escolaridade, Portugal(em milhares de indivíduos)

Fonte: iNe, POrdaTa

Os diagnósticos sobre as razões da evolução destes processos têm sido diversos e apro-fundados. A degradação do tecido empresarial do país, muito assente em micro epequenas empresas, os problemas de adaptação à inovação e à qualidade, as baixasqualificações, a débil estratégia de internacionalização da economia, mas também desubstituição das importações, são apenas alguns dos problemas estruturais acumuladospela economia portuguesa.Muitos desses diagnósticos apontam claramente para a multiplicidade de factoresestruturais e conjunturais, acima elencados, sem desprezarem algumas dimensõespsico-sociais relevantes, como a desmotivação ou a desafeição ao trabalho.O que se estranha é a tendência insistente numa retórica muito assente nas virtualidadesexplicativas das características pessoais dos indivíduos, que gera dois efeitos opostos:por um lado, uma valorização razoável, mas muitas vezes excessiva, do empreendedorismoe dos fatores motivacionais (dando origem a um grupo de gurus da motivação e daauto-ajuda, que mais não fazem do que alimentar banalidades e desprezar as mudançasestruturais do mercado de trabalho, sob o manto das “práticas inovadoras”, do espíritode sacrifício ou da descoberta de “vocações”; por outro lado, um processo de culpabilizaçãodos sujeitos desempregados pela sua situação de desemprego (ou pelo menos de res-ponsabilização pessoal pela situação concreta vivida).Esta mitologia empreendedora, quando levada ao extremo, transforma-se em campolavrado para a sementeira neoliberal e para o recuo das funções sociais do Estado.Afinal, a justiça social não será mais do que o produto da ousadia, do empreendedorismoe do sentido de risco de cada sujeito por si só. Por isso, esta ideologia disfarçada de

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Ano 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Nenhum 8,2 11,1 12,2 16,5 14,4 20,3 26,9

Ensino Básico 152,8 196,2 262,8 291,0 287,4 403,5 496,5

Ensino secundário 29,2 37,2 52,1 71,9 67,6 115,0 209,4

Ensino superior 15,3 26,0 37,9 48,4 57,6 63,8 127,4

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Os jovens são os mais visadospelos elevadosnúmeros dodesemprego,com predominânciapara os jovenscom menoresqualificações

O trabalhodigno implicasalário digno,bem comocondiçõeslaborais dignas,do que sãopartes decisivas o tipo decontrato e deestabilidadecontratual

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DESEMPREgO: O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL PORTUGUÊS

valente a uma quadruplicação num tão curto espaço de tempo. Mas o desemprego delonga duração (com um ano ou mais) aumentou quase seis vezes, tornando-se a partirde 2006 como o tipo de desemprego predominante. Ou seja, verificando-se um aumentobrutal dos valores do desemprego, esse aumento traduz um reforço mais forte e estruturaldo desemprego de longa duração.Trata-se, enfim, de um processo complexo, mas intenso e com consequências sociais eeconómicas muito relevantes.

NOTA FiNALO desemprego é um processo social e económico de grande atualidade e re-levância em Portugal e na europa. exige uma abordagem descritiva, mas so-bretudo uma abordagem compreensiva (max Weber). Os seus contextos eos seus impactos são relevantes para compreender os principais dilemas eos principais desafios da atualidade. a abordagem das principais questões ligadas à inclusão e ao reforço das so-lidariedades depende muito da forma como o desemprego for combatido.Numa sociedade aparentemente sem emprego, importa valorizar as estratégiasde emprego e de reforço da competitividade.isso implica alargar o debate para além das características específicas dodesemprego e das suas características. implica perceber as característicasda divisão internacional do trabalho, da globalização e das formas desiguaisde competitividade à escala global. implica, porventura, repensar os modelosde discriminação positiva no comércio internacional, implica debater asformas de equidade no comércio internacional, mais do que as formas de li-beralização ou de proteccionismo.O debate sobre esta questão não é apenas um debate sobre um problemaconcreto. É um debate sobre um modelo de sociedade e de relação social.Por isso, é um debate tão decisivo.

*Professor Auxiliar no Departamento de Sociologiada Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Bibliografia

CASTEL, Robert (2003),L’insécurité sociale. Qu’est-ce qu’être protégé, France: Larépublique des idées, Seuil.ISBN 2-02-062349-8.GONÇALVES, CarlosManuel (2008), “Dinâmicasdo Mercado de Trabalho naRegião Norte” in RegiãoNorte de Portugal: mudançase continuidades nacontemporaneidade, Porto:Faculdade de Letras, pp. 1-95.GONÇALVES, CarlosManuel (2005), “Evoluçõesrecentes do Desemprego emPortugal”, in Sociologia-Revista da Faculdade deLetras, série I, vol.15, pp. 125-164.KOVÁCS, Ilona (2005),Flexibilidade de Emprego.Riscos e Oportunidades,Oeiras: Celta Editora. ISBN972-774-227-0.PAUGAM, Serge (1991), Ladisqualification sociale: essaisur la nouvelle pauvreté, Paris:Presses Universitaires deFrance. ISBN 2-13-043226-3.REBELO, Glória (2004),Flexibilidade e precariedadedo trabalho. Análise ediagnóstico, Lisboa:Fundação para a Ciência eTecnologia. ISBN 972-9119-46-5.

tecnocracia e de motivação afirma-se muitas vezes como não sendo ideologia; bastaesta recusa, ela própria ideológica, para se perceber o quanto ela carrega de ideologia,de preconceito e de julgamento social.

Quadro 3 – Evolução do desemprego por duração do desemprego, Portugal(em milhares de indivíduos)

Fonte: INE, PORDATA

A evidenciação da duração do desemprego revela uma tendência estrutural e duradoura,que ultrapassa as questões individuais e as lógicas motivacionais. De facto, as questõesindividuais e as lógicas motivacionais são mais o produto das dinâmicas estruturaisdo desemprego do que o inverso.Os dados evidenciados no Quadro 3 mostram uma alteração estrutural no tipo de de-semprego, com o reforço crescente do desemprego de longa duração. O desempregoaumentou em termos brutos em mais seiscentos mil desempregados em 12 anos, equi-

Ano 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

menos de 1 ano 115,6 167,1 194,8 205,0 211,8 273,1 394,3

1 ano ou mais 89,9 100,7 168,9 221,1 212,7 327,1 465,8

Total 205,5 270,5 365,0 427,8 427,1 602,6 860,1

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gerou-se umaefectiva circulaçãode desempregadosem programasocupacionais,com níveis fracosde inserção noposto de trabalhopermanente.Ocupou-se muitosdesempregados,mas criaram-sepoucos empregos

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16 | O REFERENCIAL | JANEIRO-MARÇO O REFERENCIAL | JANEIRO-MARÇO| 17

DESEMPREgO: O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL PORTUGUÊS

JOSÉ ANTÓNiO SANTOS

ana, jorge, josé, Nelson, Teresa, são osnomes dos rostos do desemprego a quenesta edição fazemos referência. elesengrossam a legião dos que não têmtrabalho em Portugal e fazem parte daesmagadora maioria impossibilitada deemigrar para procurar modo de vidanoutros países.

PARA A ESTATÍSTICA FRIA dos números sãoparte dos 17,5 por cento de desempregados emPortugal. Porém, a realidade de cada um deles,como a circunstância de qualquer pessoa de-

sempregada, falará mais do que a anestesia dosnúmeros, porque exprime a tragédia de coraçõesdespedaçados, sem rumo nem esperança.

ANA BALDAQuE, 32 anos, solteira, três filhos,é licenciada em História de Arte e possui umaespecialização em Gestão de Organizações eProjetos Culturais, reside em Carcavelos. Estádesempregada há nove meses. Não recebe sub-sídio de desemprego porque todas as experiênciasde trabalho que teve roçaram a precariedade.Deu aulas de primeiro ciclo de Expressões Artís-ticas; trabalhou no Centro Cultural de Belémdurante três anos; fez um estágio profissionalde nove meses, e integrou ainda um “call center”.Os vínculos laborais por onde passou foram-lhe adversos, porque nunca contemplaramgarantias de continuidade. Eram contratos quese estabeleciam e desfaziam sempre na con-veniência do empregador. Uma instabilidade

Queremtrabalharmas nãoencontrammodo devida

Cincohistórias

diferentescom final

comum

que não permitiu nunca o acesso a subsídios doFundo de Desemprego. Nos últimos cinco anosnasceram-lhe três filhos, e, tal como aconteceracom o subsídio de desemprego, também nãofoi senhora de gozar as licenças de maternidade.Este contínuo desreconhecimento de direitosnão lhe retira o sorriso nem a força de acreditar.Continua a lutar e todos os dias envia currículos.Alguma vez haverá de chegar a almejada resposta,com uma oferta de trabalho. Até lá como vai so-brevivendo? Conta com o apoio da família e dopai dos filhos.

JORgE MENEzES, 40 anos, casado com doisfilhos, redactor publicitário, é licenciado em Re-lações Públicas e Publicidade, reside em Oeiras.Há dezoito meses ficou no desemprego e aindanão saiu dele. O último contrato, a seis meses,formalizou-o com a Agência de Publicidade BB-DO, nas Amoreiras em Lisboa. Quando esperava

a renovação, viu-se apanhado pelo mapa de Exelque ditou a sentença dos excluídos, por causada inexorável redução de custos. Recebeu umaindemnização que não foi além de um mês or-denado. Jorge conhece bem o mercado onde tra-balhou, há mais de quinze anos. Por isso, quasese resigna perante a onda que varreu o sector:despedimento dos trabalhadores seniores, porserem os mais caros, ficando os juniores porserem mais baratinhos. “As agências optam porum mercado “free lancer” e limitam a contrataçãoàs necessidades ditada pelos picos de trabalho”.Apesar de desempregado, Jorge não recebe subsídiode desemprego. Socorre-se do facto de “ser conhecidono meio publicitário e por isso ser procurado poragências com picos de trabalho, para tapar buracose acudir a fogos”. Em dezoi-to meses como de-sempregado, de Abril a Dezembro de 2012, teveem média uma semana de trabalho por mês. Em2013, diz, tem estado ocupado.

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O REFERENCIAL | JANEIRO-MARÇO| 1918 | O REFERENCIAL | JANEIRO-MARÇO

DESEMPREgO: O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL PORTUGUÊS

Perguntou-lhe como sobrevive? A respostaimediata solta-se, fria e amarga: “na pre-cariedade”.

JOSÉ PiLOTO, 58 anos, divorciado, vivenum quarto em S. Miguel das Encostas(Carcavelos), diplomado pela Escola Dec-orativas António Arroio, exerceu a publi-cidade como actividade profissional. Foiempresário com sucesso, mas conheceutambém o infortúnio dos negócios. Há dois anos, um grupo de amigos quo-tizou-se para o ajudar a reinstalar o ateliere a constituir uma nova empresa para serelançar na vida e no trabalho. Retomoua actividade, reencontrou antigos clientes,procurou novas oportunidades para con-quistar novos mercados. Colocado “o com-boio nos carris” a actividade foi retomadaem marcha lenta, com as dificuldades quea crise já se apresentava. Em Maio de 2011sofreu um AVC que o atirou para um pro-longado internamento hospitalar e umaincapacidade para o trabalho por dozemeses. Os compromissos assumidos coma empresa que acabara de instalar deixaramde ser cumpridos e daí à insolvência foium passo. Como se não bastasse, em setem-bro de 2012, teve de ser submetido a com-plicada cirurgia ao coração. Sem recursospara sobreviver e sem possibilidade derecorrer ao Fundo de Desemprego, viveactualmente de um subsídio no âmbito doRendimento Social de Inserção. É umasituação que se mantém desde há seismeses e da qual não sabe como sair porque,como diz, cada dia que passa o poço parecemais fundo…

NÉLSON SiLVA, 29 anos, solteiro, técnicode publicidade, vive sozinho, numa casamodesta da “Vila Cardoso”, no Bairro dasGalinheiras, Lisboa. A empresa onde tra-balhava faliu há dois anos e desde essaaltura permanece desempregado. Porqueera empresário em nome individual não

12.987era o número de casais

em que ambos estavam desempregados

em Janeiroum aumento de 89 por centoface ao mesmo mês de 2012

Nome: Ana BaldaqueIdade: 32 anosEstado civil: solteiraFormação: licenciaturaem História de Arte e especialização em Gestão de Organizações e Projetos CultuaisAgregado familiar: trêsfilhosResidência: CarcavelosProfissão: técnicaculturalTempo de desemprego:9 mesesValor do subsídio de desemprego: nãorecebe

Nome: Jorge MenezesIdade: 40 anosEstado civil: casadoFormação: licenciaturaem Relações Públicas e PublicidadeAgregado familiar:cônjuge e dois filhosResidência: OeirasProfissão: redactorpublicitárioTempo de desemprego:dezoito mesesValor do subsídio de desemprego: nãorecebe

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Nome: José PilotoIdade: 58 anosEstado civil: divorciadoFormação: diplomadopela Escola Decorativade Artes DecorativasAntónio ArroioAgregado familiar: vivesozinho num quartoalugadoResidência: S. Migueldas Encostas(Carcavelos)Profissão: publicitárioTempo de desemprego:2 anosValor do subsídio de desemprego: nãorecebe

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DESEMPREgO: O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL PORTUGUÊS

tem direito ao subsídio do Fundo de De-semprego. Candidatou-se ao RendimentoSocial de Inserção, mas até à data não tevequalquer resposta. Foram infrutíferas astentativas para procurar trabalho: inscreveu-se em sítios na Internet, enviou currículose apelos para conseguir uma ocupação,mas nada conseguiu. Como sobrevive? Amãe, viúva, reformada, paga-lhe a rendada casita, mesmo ao lado de uma outraonde ela habita. Custa-lhe viver às custasda mãe que ficou invisual por negligênciamédica, no Hospital de Santa Maria. Osparcos proventos da progenitora constituemo sustento de ambos. Esbracejando no marda vida tempestuosa que o envolve, Nélsoninscreveu-se num curso nocturno paraadultos a fim de concluir o 12.º ano, o queesperança conseguir no final de Abril. Edepois? Ainda não perdeu a esperança deencontrar trabalho!

TERESA BELO, 24 anos, solteira, vivecom os pais em Rio de Mouro. Licenciadaem Serviço Social pela Universidade Católica,acabou o curso em Janeiro de 2012, e desdeessa altura procurou entrar no mercado detrabalho. Inscreveu-se no Centro de Empregode Sintra, continua a enviar currículos, oque faz há mais de um ano, para o sector dasua área de formação e também para outros,como sejam as áreas comerciais e de secre-tariado. De todo este esforço surgiu umaoportunidade num quiosque do Centro Com-ercial Colombo, em Lisboa. Pagavam-lhetrês euros à hora e exigiam-lhe constantesmudanças de locais de trabalho, entre oscentros comerciais do Colombo, Vasco daGama e de Loures. Não suportou a humi-lhação e saiu. Vale-lhe o abrigo seguro dacasa dos pais.

Os testemunhos de Ana, Jorge, José, Nelson,Teresa, são as histórias de vida de milharesde cidadãos portugueses que as circuns-tâncias colocaram no desespero do desem-prego. Eles querem trabalhar, mas não en-contram modo de vida!

Nome: Teresa BeloIdade: 24 anosEstado civil: solteiraFormação: licenciadaem Serviço Social pelaUniversidade CatólicaPortuguesa (Lisboa,Janeiro 2012)Agregado familiar: vivecom os pais e doisirmãosResidência: Rio deMouroTempo de desemprego:catorze mesesValor do subsídio de desemprego: nãorecebe

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Nome: Nélson SilvaIdade: 29 anosEstado civil: solteiroFormação: está aconcluir o 12.º anoAgregado familiar: vivesozinhoResidência: pequenahabitação, em “VilaCardoso”, Galinheiras(Lisboa) Profissão: técnico de PublicidadeTempo de desemprego:2 anosValor do subsídio de desemprego: nãorecebe

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PORTUGAL CHEGOU A UMA NOVA ENCRUZILHADA da sua História e, como em todas asoutras, terá de ser o seu Povo a encontrar em si a vontade e energia para a ultrapassar. A crise que vivemos tem causas internas e externas que comprometem perigosamente o regimedemocrático e minam a justiça social, valores que estiveram na base do 25 de Abril.A captura do Estado por interesses particulares, a falta de moral na vida pública, a sujeiçãocolaborante do poder político aos directórios da finança nacional e internacional, a ausência deuma estratégia nacional integrada com a de outros países e povos colocados em situações idênticas,conduziram à situação de grave crise em que nos encontramos.O empobrecimento generalizado, a saída, cada vez maior, de jovens com elevada preparaçãoacadémica, o alargamento do fosso entre a minoria dos muito ricos e a massa cada vez maiordos muito pobres, o galopante desemprego de dramáticas proporções, a corrupção, a ineficáciada aplicação da justiça, o desrespeito pela História e pela cultura que nos distinguem há oito

VENCER O MEDO,REAFIRMARABRiL,CONSTRUIR O FuTuRO

Ciclo de comemorações dos 39.º e 40.º aniversários do 25 de Abril

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séculos, situações estas que não param de piorar com o anunciado agravamento do assalto fiscale da brutal austeridade para 2014, concorrem decisivamente para a actual subalternidade do País.Hoje, Portugal é um “protectorado”.Tudo isto, só foi possível porque os valores de Abril que inspiram a Constituição da Repúblicanão vêm sendo cumpridos. Só a não observância e a não prossecução das normas constitucionaisnos trouxeram a esta situação de perda de soberania. Por isso, se exige, mais que nunca, umaresposta popular.É urgente e indispensável que os portugueses recuperem o seu poder soberano enquanto cidadãos,que se reúnam à volta dos valores sociais e políticos que foram e são a referência do 25 de Abril:liberdade, democracia participada, justiça social, paz e soberania nacional no quadro de umaUnião Europeia caracterizada pela igualdade e a solidariedade entre as nações.Os valores de Abril terão de ser, ainda e mais uma vez, a bandeira à volta da qual se juntem osportugueses decididos a lutar por um Portugal livre, democrático e justo.As comemorações do próximo 25 de Abril, que culminarão em 2014, com a celebração do 40.ºaniversário da data libertadora, deverão constituir um pólo agregador e dinamizador para aorganização e o desenvolvimento das acções indispensáveis para a reconstrução de Portugal.É neste contexto de descalabro nacional que a Direcção da Associação 25 de Abril, assumindosem hesitação o seu papel simbólico, exorta os seus associados e demais cidadãos a envolverem-se empenhadamente na concretização de um plano de realizações que una os 39.º e 40.º aniversáriosdo 25 de Abril, sob a égide da iniciativa VENCER O MEDO, REAFIRMAR ABRIL, CONSTRUIRO FUTURO. Temos de ser capazes de reconstruir o nosso futuro, com base nos sonhos acalentados pelaesmagadora maioria dos nossos concidadãos!Continuamos a acreditar que o 25 de Abril encerra um enorme potencial de valores e ideaismotivadores e que é fonte de inspiração, de criatividade e de mobilização para a maioria doscidadãos portugueses. Encorajam-se manifestações culturais e desfiles populares em todos oslocais onde os cidadãos livremente se organizem, que reforcem o processo social, cultural epatriótico de resistência ao colaboracionismo, com momentos culminantes nos 39.º e 40.ºaniversários do 25 de Abril. Julgamos que com esta iniciativa podemos contribuir eficazmentepara que as próximas comemorações do 25 de Abril constituam a afirmação do valor e capacidadedos portugueses e da confiança dos cidadãos em si próprios.Esperamos e confiamos que todos se empenhem de alma e coração nesta tarefa – que reputamosde urgente – de preservar a identidade e a coesão nacionais e de voltar a colocar Portugal comopaís soberano nos areópagos europeu e mundial.

Juntam-se: n Linhas de orientação – Anexo A;n Estrutura – Anexo B;n Código de Participação – Anexo C;n Compromisso de Desempenho – Anexo D.

O Presidente da Direcção

Vasco Correia Lourenço

ALinhas de orientaçãoAnexo AA RECEPTIVIDADE ÀS INTERVENÇÕES daAssociação e o sucesso das experiências cidadãsem que se tem vindo a empenhar dão-nos ânimopara encetar este desafio decisivo. Lembramosas intervenções públicas e entrevistas do pres-idente da Direcção, as iniciativas de debatedemocrático abertas à cidadania em parceriastemáticas com universidades, centros de inves-tigação e movimentos sociais – de que ressaltamo ciclo de conferências “Aprofundamento daDemocracia”, o “Fórum da Cidadania para oEstado Social” e o debate “A Corrupção naOrigem da Crise” – bem como a intensa colab-oração de associados em O Referencial.Para isso, decidimos criar uma estrutura orga-nizacional que permita, além de incluir os corpossociais e associados da A25A, envolver tambéma sociedade e as suas expressões nos diferentesdomínios. Pretendemos constituir uma comissãopromotora nacional, comissões temáticas esociais, comissões regionais e/ou locais, deacordo com as iniciativas de base que nos vierema ser propostas.Para atingir os objectivos de fortalecer a cidadaniae de preservar a identidade e a coesão nacionais,decidimos adoptar as seguintes orientações:

n Obtenção de uma plataforma de entendimentonacional que vise o aprofundamento da de-

mocracia, nas suas vertentes representativa e participativa.

n Promoção de encontros regionais e nacionaisentre as diversas iniciativas cidadãs em curso,por exemplo: a APRE – Associação de Aposen-tados, Pensionistas e Reformados, a ConferênciaEconomia Portuguesa – Propostas com Futuro,o Congresso Democrático das Alternativas; aIAC – Iniciativa para uma Auditoria Cidadã àDívida Pública; os fóruns de defesa do EstadoSocial, etc., etc.

n Promoção de encontros regionais e nacionaisentre os diversos sectores da sociedade.

n Promoção de encontros locais de organizaçõessociais e cívicas, de autarquias e outros agentessociais tendo em vista a convergência das re-spectivas iniciativas comemorativas do 25 deAbril e o encontro de formas de colaboraçãomútua na resolução das necessidades das res-pectivas populações.

n Estabelecimento de laços de cooperação comassociações cívicas internacionais.

n Reforço dos laços já existentes com a organizaçãoespanhola FMD – Foro Milicia y Democracia.

n Promoção de expressões culturais e artísticasque reforcem a identidade nacional.

A Iniciativa será desdobrada em dois grandesprojectos, que se pretendem complementarese convergentes:

n Comemorações do 39.º e do 40.º Aniversáriosdo 25 de Abril;

n Congresso da Cidadania

A concretização das acções assentará na mobilizaçãodos associados e dos futuros participantes, na ex-ploração coordenada da capacidade de influênciade cada um, seja em que nível da sociedade for,e apoiar-se-á na estrutura a seguir descrita.

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BEstrutura Anexo BO ARRANQUE DA INICIATIVApartirá da reuniãopreliminar de todos os elementos dos CorposSociais e participantes nas estruturas da Associação,sob a designação de Conselho Promotor, que fun-cionará como órgão deliberativo da iniciativa.Para a execução das actividades e a monitorizaçãoda iniciativa o Conselho Promotor constituiráno seu seio o Grupo Operacional da A25A in-tegrado por 10 até 15 dos seus membros. EsteGrupo fica responsável pela preparação, arranquee dinamização, devendo proceder desde logo àelaboração do Regulamento da Iniciativa.Após a fase inicial de estruturação, a Iniciativaé em seguida aberta a toda a sociedade. Paracada acção a desenvolver constituir-se-á umaComissão Temática e Comissões Territoriaiscom a participação de associados e/ou não as-sociados, com autonomia para a tomada de de-cisões no âmbito das suas matérias.Cada Comissão Temática ou Comissão Territorialindicará representantes para se juntarem aoselementos do Conselho Promotor, formandoo Conselho Promotor Nacional.Este órgão ficará responsável pela ratificaçãodos princípios, normas e metodologias de or-ganização e de funcionamento e designará aComissão Executiva Nacional, à qual incumbiráa coordenação com as acções populares inseridasnos 39.º e 40.º aniversários do 25 de Abril e oapoio e articulação das principais acções levadasa cabo pela sociedade civil.O Conselho Promotor Nacional poderá cooptarcidadãos de reconhecido mérito do mundo dacultura e das artes para o integrarem.A iniciativa será aberta a todos os cidadãos na-

cionais e aos estrangeiros residentes em territórionacional. Igualmente se procurará apoiar seme-lhante iniciativa, junto das comunidades por-tuguesas no estrangeiro. A título colectivo,poderão igualmente aderir as organizaçõessociais e Autarquias Locais que aceitem os princí-pios orientadores consubstanciados no Códigode Participação. Os participantes poderão inscrever-se livremente em qualquer estrutura quevenha a ser criada de modo autónomo ou porsugestão e estímulo das entidades Promotoras.O Código de Participação regulará a actuaçãode todos os participantes na iniciativa, com baseno compromisso livremente assumido da nãopersonalização ou partidarização dos debatese intervenções; na tolerância e cordialidadedemocráticas; no respeito pessoal; no pluralismoe na igualdade de direitos e deveres.Um Compromisso de Desempenho regularápor sua vez a actuação dos promotores no respeitoe garantia do carácter plural, democrático, pa-triótico, respeitoso e inclusivo de todas as ac-tividades da iniciativa, devendo ser semprepreservado o espírito livre, democrático e positivodo 25 de Abril.

CCódigode participaçãoAnexo CSERÃO PARTICIPANTES NO PROJECTOVencero Medo, Reafirmar Abril, Construir o Futuro todasas pessoas singulares ou colectivas que o desejeme que aceitem o seguinte Código de Participação

a) Valores Sociais e PolíticosConstituem valores sociais e políticos de refe-

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rência o compromisso com a Democracia, o re-speito pelos direitos humanos, liberdades egarantias, o Estado de Direito, a promoção dapaz e da justiça social, a reafirmação da soberaniae independência nacionais no quadro da UniãoEuropeia, de acordo com os princípios da igual-dade e da solidariedade entre estados membros;

b) Valores de Participação Directa

A participação em todas as actividades deveráser pautada pelo espírito inclusivo e de con-vergência, pela independência e a elevação in-telectual e moral em todos os debates e inter-venções, no pluralismo, tolerância e cordialidadedemocráticas, no respeito pessoal e na igualdadede direitos;

c) Poder de Iniciativa

Todos os participantes deverão fazer uso domaior poder de iniciativa e de organização dentrodos valores referidos em a) e b), informando dofacto a A25A através das estruturas de promoçãoque forem criadas.

DCompromisso de desempenho dos promotores Anexo D

CONSIDERAM-SE PROMOTORES todas aspessoas singulares ou colectivas, bem como au-tarquias locais, que, inscrevendo-se enquanto

tal, se identificam com os propósitos da Associação25 de Abril no âmbito do projecto Vencer oMedo, Reafirmar Abril, Construir o Futuro, rel-ativo ao processo das comemorações dos 39.º e40.º aniversários do 25 de Abril de 1974, desig-nadamente:

- Fazer integrar nessas comemorações um vastoprocesso de reflexão colectiva de toda a sociedadesobre a actualidade e o futuro de Portugal;

- Assinalar essas datas como momentos de en-contro fraterno, patriótico e democrático detodos os portugueses, à volta dos seguintesvalores sociais e políticos de referência: Liberdade,Democracia participada, justiça social, paz esoberania nacional (no quadro de uma UniãoEuropeia caracterizada pela igualdade e a soli-dariedade entre as nações).

Os promotores comprometem-se a:

a) Impulsionar o surgimento no território na-cional e na diáspora, de uma vasta rede de es-truturas sociais autónomas, de base territoriale temática, de promoção e execução das inicia-tivas integradas nos processos comemorativossupra mencionados;

b) Acompanhar e apoiar o desenvolvimento dasactividades das estruturas sociais autónomasque venham a constituir-se, promovendo o seucarácter inclusivo, plural, democrático e patriótico,bem como o espírito de fraternidade e respeitomútuo entre todos os participantes;

c) Desenvolver entre si as formas de cooperaçãoque se revelem mais ajustadas à boa execuçãodos objectivos acima expostos e reportar às es-truturas da A25A as respectivas dificuldades esucessos.

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28 | O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO O REFERENCIAL |JANEIRO- MARÇO| 29

HOmEnAgEm A mArquES JúnIOr

Durante a comissão que fez em Angola, 1972

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mArquES JúnIOr (1946 - 2012)

Homem íntegro

VASCO LOuRENçO

FALAR DE MARQUES JÚNIOR, parecendo fácil porque o conheci bem e fui (sou)seu grande amigo, é para mim de uma enorme dificuldade.Com efeito, se não foi difícil obter a colaboração dos amigos a quem pedi pequenosdepoimentos sobre ele – precisamente por que são seus amigos – é-me mais complicadofalar eu próprio do António Marques JúniorPorquê? Precisamente porque a grande amizade e consideração que tínhamos umpelo outro, torna difícil encarar o seu falecimento com naturalidade, sem que umaenorme emoção se apodere de mim.Mas, como não posso fugir a isso, vou alinhar umas palavras sobre ele.Conheci-o em 1973, no início da conspiração que nos levaria ao 25 de Abril de 1974.Estou a vê-lo como um dos que integraram o grupo de meia dúzia de oficiais quecoordenei nos jardins do Templo de Diana em Évora, no dia 9 de Setembro de 1973,como contactos para os que chegavam para a primeira grande reunião que marcariaa fundação do Movimento dos Capitães.Sendo eu um antigo capitão, de imediato me apercebi da enorme firmeza de convicções,da grande capacidade de liderança que o jovem tenente possuía. O que fazia com queos muitos oficiais da sua unidade, a Escola Prática de Infantaria, se sentissemrepresentados por ele.Essas características viriam a fazer com que fosse escolhido, na reunião de 1 deDezembro de 1973 em Óbidos, para a Comissão Coordenadora do Movimento dosCapitães. Em cada Arma era necessário que estivesse um oficial da respectiva EscolaPrática e, na de Infantaria, sintomaticamente a unidade com mais representantes noMovimento, foi o Marques Júnior o escolhido. Juntando-se, então, ao major VítorAlves e ao capitão Vasco Lourenço.Como coordenador da ligação e responsável pela área operacional, tive sempre toda a colaboraçãodo Marques Júnior, que aproveitaria a própria lua-de-mel para distribuir a Ordem de Operaçõespor algumas unidades, no âmbito da sua actividade de ligação (já sem mim na sua coordenação,dada a minha transferência compulsiva para Ponta Delgada).Foram oito meses de conspiração, com imensas reuniões, algumas delas intermináveis,onde a nossa amizade se foi construindo, fortalecendo e cimentando de uma formaque não é muito vulgar.Depois do 25 de Abril, Marques Júnior, fazendo uso da sua capacidade de estabelecerpontes e da sua tentativa de só aceitar as rupturas, quando não havia outras saídas,foi um extraordinário elemento congregador das várias tendências e facções que secriaram no seio do MFA. Nomeadamente, no seio do Conselho da Revolução, órgãoque integrou durante toda a vivência do mesmo, apesar de ser de todos o mais jovem.Terminado o período de transição, com a extinção deste órgão de soberania, após umapequena (re)passagem pela vida militar, decidiu-se pelo envolvimento na vida política,como deputado na Assembleia da República.Fê-lo no âmbito de dois partidos políticos, o PRD e o PS.Em ambos granjeou enorme prestígio, pela acção desenvolvida, e pela coerência das

suas posições e atitudes.Com efeito, nunca descurando a sua ligação às Forças Armadas e às questões deDefesa Nacional, Marques Júnior manteve-se permanentemente fiel aos valores que,como jovem tenente do Exército, o levaram a envolver-se na acção fundadora daDemocracia e do Estado de Direito em Portugal, com enormes reflexos em muitosoutros países deste mundo cão em que vivemos: a Liberdade, a Democracia, a JustiçaSocial, a Solidariedade, a Paz, a igualdade de oportunidades, etc.Homem íntegro, amigo dos seus amigos, humilde (às vezes, em exagero), MarquesJúnior deixou um vazio que não é fácil de preencher.Como não será fácil de preencher o lugar que vagou, na última missão que teve emvida e que o transformou no maior obstáculo a que os Serviços de Informação daRepública Portuguesa fossem desvirtuados e utilizados por pessoas e por forças que,na ausência de ética e de escrúpulos, não hesitam em utilizar o poder a que têmacesso, mesmo que temporariamente, em benefício próprio, ainda que com prejuízodo colectivo, que é a sociedade portuguesa.Ao longo de uma vida de setenta anos, tenho tido a sorte de criar verdadeiros Amigos.Afirmo, sem hesitações, que o Marques Júnior ocupou e ocupa um dos principaislugares. Para o que também contribuiu a imediata empatia que se gerou entre asnossas famílias. Passados quase quarenta anos dessa amizade (em que atravessámosmomentos altamente complicados, com algumas tristezas e muitas alegrias), não melembro de nada que a tivesse beliscado. Algumas vezes estivemos em desacordo, masa enorme consideração que tínhamos um pelo outro ajudou sempre a tudo ultrapassar,sobressaindo uma verdadeira, profunda e sentida Amizade.Caríssimo António,A tua Associação 25 de Abril quis homenagear-te. Fez-te Sócio de Honra (decisão naAssembleia-Geral tomada por unanimidade e aclamação). De sócio subscritor daescritura de constituição (n.º 5) passaste a ser um dos doze Sócios de Honra da A25A.Não duvido que haveria muitos mais amigos que gostariam de dedicar-te umas palavrasde saudação no nosso O Referencial. Não podia convidá-los a todos. Escolhi algunsque sei sempre terem sido teus amigos e são suficientemente representativos. Sin-tomaticamente tens cá os três Presidentes da República vivos. Digo bem, vivos, poiso que está em funções parece que já morreu sem dar por isso. De qualquer maneira,não é digno de escrever sobre ti. (Desculpa, mas é mais uma das vezes em que nãosigo o teu conselho de moderação.)Confio que te sintas confortável com a minha escolha e o resultado da mesma.Partiste amargurado com a situação do nosso país, onde os valores por que te bateste,pelos quais tudo arriscaste, estão a ser espezinhados por alguns vendilhões do templo,fantoches de um poder altamente reaccionário e anti-social.Vais fazer falta na luta que os nossos comuns ideais nos obrigam a travar.A tua memória, tal como a de outros camaradas de Abril – não vou evocar nenhumpara não cometer injustiças com ausências, mas tu sabes quem são –, dar-nos-á forçanessa luta sem quartel,Também em vosso nome, vamos vencer!Abril vencerá!A minha homenagem a um Homem livre, a um Homem justo, a um português decorpo inteiro, a um Amigo, com enorme saudade, um grande, grande abraço.Até sempre, António Marques Júnior!

1947 l

1957 l

1961 l

1969 l

Com um ano de idade,acompanhado pelos pais

Na escola primária, 4ª classe

Com a família: pais, irmãose uma tia freira

Cadete da Academia militar

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unanimidade nacionalANTÓNiO RAMALHO EANES

ANTÓNIO MARQUES JÚNIOR SENTIU E VIVEU a história triste e injusta do seuPovo, colonizado pelo regime, que o regime ausentara da liberdade que é sempre genedominante de toda a Sociedade Civil. Liberdade, nas palavras de Bocage, “mais serena,/Queo sereno clarão da madrugada”, liberdade potencialmente libertadora que ocorreria em25 de Abril.Terá sido esse anelo de liberdade e a intuição de que, como disse Fourier, “O que repousasobre o constrangimento é frágil e denota falta de génio” que terão levado Marques Júnior,numa demonstração de dever intelectual e responsabilidade social, a aderir ao Movimentodos Capitães, em que totalmente se empenha e tudo arrisca, mesmo, a própria vida, nosprevisíveis confrontos a travar.Fiel se manteve sempre, depois, ao programa original do MFA, a esse Contrato de Honrados militares para com todos os portugueses. Fidelidade que o levaria a correr novos erepetidos riscos, nomeadamente no 25 de Novembro de 1975.Devolvido por inteiro o poder político, pelos militares (pelo seu Conselho da Revolução),aos políticos, com inteiro respeito pelo acordado no II Pacto MFA–Partidos Políticos, ap-resenta-se Marques Júnior na sua unidade, a EPI, como capitão que da Revolução colheraapenas a satisfação e o orgulho do dever cumprido, com exemplar empenho, seriedadee doação.A 28 de Outubro de 1982, é agraciado com o Grande Colar da Ordem da Liberdade. Naaltura se disse que António Marques Júnior soube “afirmar o valor, que deveria ser paratodos indiscutível, da serenidade na apreciação dos problemas e das situações, da ponderaçãoe do equilíbrio nas decisões, da firmeza e da humildade generosa na defesa dos princípiosda liberdade, da justiça e da solidariedade inerentes à democracia pluralista. Soube, emsuma, participar por inteiro no cumprimento das promessas que o vincularam, como a

todos os seus camaradas de armas, em 25 de Abril de 1974 perante os portugueses.”Reconheceria, depois de se ter apresentado na sua unidade, a EPI, como capitão que daRevolução colhera apenas a satisfação e o orgulho do dever cumprido, que o seu distintivo– e distinto – percurso político-militar lhe acarretara uma imagem e estatuto fáctico poucocompagináveis com a Instituição Militar reinstitucionalizada na sua “ideologia formal”.A Assembleia da República foi, nesta fase, a trincheira de combate pela democracia queescolheu. Primeiro, em 1985, como deputado do PRD e, depois da extinção deste, comodeputado pelo PS, chegando a dirigente nacional desta formação partidária e a vice-presidente da Assembleia da República.A sua morte, prematura, provocou “unanimidade nacional” no reconhecimento da suaimpoluta honradez, da sua patriótica responsabilidade social, da sua exemplaridadesingularizada por uma coerente unidade e continuidade, do seu carácter e da sua vontadeboa: boa sempre.

A tolerância que sempre admireiJORgE SAMPAiO

INOVAR, EM MATÉRIA DE EVOCAÇÕES, é tentador, mas não é fácil – tentação edificuldade tanto maiores quanto mais excepcional é a figura do evocado. Claro quesão sempre sinceras e justas, trazem lembranças, episódios, fraternidades, sobretudoquando o que sabemos do evocado plenamente as justificam.Com a evocação, é a figura do evocado, não sei se só a preto e branco, mas certamentecom as muitas e finas matizes de que as recordações e lembranças são tecidas, querenasce a nossos olhos, agora que o deixámos de ver, sobretudo quem não esperareencontrá-lo em parte alguma.O certo é que a evocação reforça a nossa admiração pelo evocado, dá um acrescidosentido à solidariedade dos princípios e valores defendidos em conjunto, redescobre-se uma fraternidade passada e grata, que o turbilhão e a separação da vida diária nãopermitiram afinal ter frequentado como se teria desejado.Não falarei, de propósito, da vida pessoal e profissional de A. Marques Júnior. Coma sua inesperada e tão súbita morte – um trágico relâmpago negro que a todossurpreendeu – já todos revisitámos o que importaria destacar, já todos recordámoso seu percurso, a sua carreira militar, a sua precoce adesão ao movimento dos Capitãesdo MFA, a sua determinação e coragem em horas conturbadas e tão decisivas que seiniciaram com o arranque do 25 de Abril. Podemos admirar as suas capacidades demediação e tolerância, os pequenos passos que fazem avançar as coisas, abordagemque sempre preferiu às declarações bombásticas que se esgotam no dia seguinte.Quero também deliberadamente fugir ao recurso da consagrada fórmula do bomhomem – homem bom, que sempre se aplicaria a Marques Júnior. Seria pouco, in-suficiente, porventura rotineiro e burocrático. Nem quero relembrar tantas horas deestimulante convívio pessoal, com ele e sua Família, momentos sempre tão apaziguadoresdos tempos difíceis ou propícios ao renascer da esperança.Nem desejo voltar ao sentimento de permanente gratidão para com os “Capitães de

1969 l

1974 l

1975 l

1977 l

Com os camaradas do curso de Infantaria, no final do curso daAcademia militar

Com a sua mulher Luísa,no dia do casamento, em 20 de Abril

Cartão do Conselho da Revolução assinado pelo presidente, general Costa gomes

o casal, António e Luísa,com a sua filha Filipa,Dezembro

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mArquES JúnIOr (1946 - 2012)

Abril” que aliás não se apaga, por esse acto de coragem, coragem grande e cheia deincertezas, a todos os níveis, pessoais e colectivas com que ocuparam as suas posiçõesna noite de 24 para 25 de Abril de 1974.Quero apenas evocar o A. Marques Júnior, e a sua inteligência aplicada à realidade.Quero lembrar a sua coragem, simpatia, serenidade, amizade, coerência, noção deserviço público, honestidade, disponibilidade sem mácula para lutar por um Portugalmelhor em liberdade e democracia. Tudo isto e muito mais no conjunto do seu in-esquecível legado, como se a sua figura estivesse sempre entre nós e esta matriz deprincípios e valores a que deu vida se tivessem subitamente transformado em realidadescompartilhadas com justiça e equidade.Mas o A. Marques Júnior também percebia as diferenças entre cada um de nós, e éa sua tolerância que sempre admirei, que só tinha como fronteira aquele básicoprincípio de dignidade inerente à pessoa humana.Que saudade!Um abraço para toda a sua Família.

um grande vazioMáRiO SOARES

Junto-me aos amigos da Associação 25 de Abril na homenagem que o boletim O Re-ferencial decidiu prestar à memória do nosso querido Amigo António Marques Júnior.Fui amigo e admirador, durante muitos anos desse heróico "capitão de Abril", quetanto fez pela nossa democracia e liberdade. Foi sempre alguém com um enormesentido da responsabilidade, nos cargos que exerceu "como capitão de Abril", desdea Revolução dos Cravos.Infelizmente, estando doente, como se sabe, não o pude apoiar nas últimas horasnem sequer, pela mesma razão, assistir ao seu funeral.Marques Júnior foi um grande "capitão de Abril", um homem que se bateu pelaliberdade e que teve sempre um sentido pouco vulgar das suas imensas responsabilidadespolíticas, deputado que foi durante vários anos.O seu falecimento (para mim inesperado) impressionou-me imenso e criou umgrande vazio. Apresento à sua Viúva e Filha as minhas mais sentidas condolências.

Perdi um grandee exemplar amigoANTÓNiO DE ALMEiDA SANTOS

A NOTÍCIA DA SUA MORTE surpreendeu-me em Angola, onde me encontrava,o que me impediu de o homenagear com a minha presença nas cerimónias fúnebres.Limitei-me assim, apesar de não ser religioso, a assistir à cerimónia religiosa damissa do sétimo dia, oportunidade em que pude apresentar à família as mais

sinceras condolências.Por dentro de mim, estive dorido, a lembrá-lo como grande amigo que desde a re-conquista da liberdade sempre fui. Genuíno capitão de Abril desde a primeira horada revolução que nos devolveu a Liberdade e a Democracia, foi um dos raros re-volucionários que se manteve na política activa até que a morte o levou. Nasceufadado para uma brilhante carreira militar e política. Licenciado em CiênciasMilitares; membro activo e altamente qualificado do MFA; com assento no Conselhoda Revolução até ao ano de 1982, ano em que o Conselho se auto-extinguiu; su-cessivamente promovido até ao posto de coronel, tinha todas as condições paraatingir o generalato, se a atracção política não o tivesse roubado à progressão atéà cúpula da carreira militar; eleito deputado à Assembleia da República pelo PartidoRenovador Democrático por duas legislaturas e pelo Círculo de Setúbal; e maisseis pelo Partido Socialista, uma pelo círculo de Lisboa, três pelo de Viana doCastelo e duas pelo círculo do Porto. Regionalmente, um polivalente. Internamentefoi membro dos dois órgãos nacionais do PS: da Comissão Nacional e da ComissãoPolítica. E devotou-lhe a alma.Quando morreu, era presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Infor-mações, lugar para o qual se exigem qualidades intelectuais e morais difíceis deidentificar na mesma pessoa. No caso dele, porém, com o currículo que tinha, eas condecorações que ornavam o seu peito, entre as quais a Grã-Cruz da Ordemda Liberdade, não foi apenas fácil. Bastou lembrar o nome dele para encontrar onovo titular do cargo. Lembrar o nome e a memória das qualidades intelectuais,profissionais, políticas, éticas e humanas do coronel Marques Júnior. Lembrar acompetência e a seriedade exemplar com que tinha exercido os cargos militares,políticos, administrativos e outros que exercera para que Portugal tivesse podidodeixar de ser uma ditadura colonialista sem dignidade e sem prestígio, e passar aser uma democracia exemplar de novo respeitada pela comunidade das Nações.Com o tempo, os bravos militares que tinham ajudado a construir o Portugal Novo,e tinham continuado a ajudá-lo a institucionalizar a nova democracia, foram-sedesvinculando das transitórias funções políticas. Ficou o Marques Júnior, cada vezmais exemplar único, e cada vez com mais prestígio cívico e político. Mas estavafadado para confirmar a máxima de que morrem novos aqueles a quem os deusesamam mais. Com surpresa geral, uma imprevista doença viria a vitimá-lo quandonada fazia prever esse desfecho. Que pena! Deixou-nos um grande ser humano.Deixou-nos um brilhante militar, um político lúcido e um cidadão inteligente,prestigiado e nobre quanto alguém pode sê-lo. E ficou no lugar dele um vaziodoloroso e triste. Um exemplo difícil de repetir. A memória de discursos parlamentaresserenos e exemplares. Iniciativas legislativas que inspirou, redigiu ou subscreveu.Atitudes que enobrecem quem as toma. Indignações que ajudaram a corrigir oPaís e o Mundo. Recordações que prolongam a dor do seu passamento. Para além de tudo isso, eu perdi um grande e exemplar amigo. E o país perdeuum nobre militar, um exemplar político e um perfeito cidadão.Além destas e outras qualidades, sempre gostei muito dele enquanto ser humano.A sua modéstia, a sua seriedade e a sua exemplar honradez fizeram dele umexemplo. Mereceu e merece uma homenagem pública. A Ordem da Liberdade,que tanto honrou o seu nome e a sua farda, para ele foi pouco. Enalteceu só umafaceta. E as outras?Pensemos nisso!

1978 l

1982 l

1987 l

Delegação do Conselho da Revolução (FrancoCharais, marques Júnior e Vítor Alves) no Congresso do psD

Aspectos da cerimónia de condecoração com a ordem da Liberdade

1986 lVisita parlamentar aoporta-aviões americano“Uss America”, emNápoles

Com outros deputados daAssembleia da República,no dia 25 de Abril

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mArquES JúnIOr (1946 - 2012)

Qualidades e virtudes PrivadasANTÓNiO HERDEiRO

NUNCA IMAGINEI QUE, algum dia, te iria escrever uma carta, e muito menosesta carta. A vida, dura e implacável, tem destas coisas que não conseguimos prever nem controlar. Escrevo-te sabendo que não terei resposta, que estas singelas mas sentidas palavras seperderão na imensidão do céu azul, muitas vezes cinzento, que se estende sobre asagrestes e simultaneamente relaxantes montanhas de S. Martinho.Passaram já quase dois meses que partiste, sem aviso prévio, mas só hoje pude e conseguipassar ao papel aquilo que todos os dias vai percorrendo o meu pensamento, com a certezade que não conseguirei exprimir tudo aquilo que sinto e mereces que de ti seja dito.Não te vou falar das tuas qualidades e virtudes de Homem ”público”, que tanto deu aoPaís e a nós, simples cidadãos. Outros já o fizeram, com grande brilhantismo e conhecimentodirecto de quem contigo conviveu na defesa de uma sociedade mais livre e justa queajudaste a construir.Por isso, o teu nome ficou na História - na da Democracia e Liberdade - por mérito próprio,com muito esforço, sacrifício e grande humildade, sempre apoiado numa grande mulher,filha, Pais e irmãos, que mereceste e te souberam merecer.Vou, portanto, falar das tuas qualidades e virtudes “privadas”, de Homem simples, ligadoà Família e amigos, sendo certo que também aqui aquelas também se evidenciavam.Vou, acima de tudo, RECORDAR!Conheci-te há cerca de 28 anos, era eu um jovem aspirante a entrar para a família dasnossas mulheres, pela via do casamento, que outra não o permitiria.Fui jantar a tua casa, ainda na Travessa do Pinheiro, na Estrela, temeroso e talvezamedrontado, até, pois ia conhecer um Capitão de Abril, alguém que me tinha dado aLiberdade, valor a que, dada a minha juventude, ainda não tinha dado o devido relevo.Tinhas “tudo” – o 25 de Abril ainda só tinha uma década, aproximadamente – paraevidenciares a tua “superioridade”, quiçá “altivez”, por teres contribuído, de forma assazrelevante, para tão nobre feito.Mas não! Enquanto a Filipa, ainda miúda, saltitava no sofá, tu conversavas comigo, comoum ser “normal”, respeitando, desde logo, a minha ideologia social-democrata que deforma militante já tinha – embora não muito activa – e ainda mantenho.Ensinaste-me logo aí, num jantar normal, o valor da liberdade e o do respeito pelos outros,que ao longo de toda a tua vida publicamente professaste, como, felizmente, muitos – enão foram poucos, como já referi–, te reconheceram.Acho, sinceramente, que nos 28 anos que se seguiram até esse fatídico dia, o respeito,para não falar da amizade, sempre esteve presente entre nós, mutuamente, de umaforma muito marcante.Não esqueço, não posso esquecer, que nunca, mas mesmo nunca, fizeste qualquercomentário depreciativo, ainda que jocoso, que pudesse beliscar a minha ideologiaou as minhas convicções, políticas, desportivas ou outras, ainda que soubesses queeu não te contrariaria.

Não é fácil ser assim e hoje os exemplos vão escasseando…Recordo, por isso, com emoção, muitos momentos dessa vida:Recordo o nascimento do meu filho João, quando tu e a Luísa, debaixo do calor deAgosto, se deslocaram ao Porto e nos acompanharam, a mim e à Guida, no “transporte”da criança do hospital para nossa casa.Recordo, um ano mais tarde, as férias de uma semana no vosso apartamento daEriceira, com o rapaz a causar sobressaltos junto à piscina, a ficarmos a conhecer osfamosos “queques” da Casa Gama e a passarmos relaxantes e divertidos momentosna esplanada do Salvador, ainda que tenha coincidido com o difícil momento daprimeira guerra do Golfo.Recordo, com especial agrado, um almoço em Codeçoso, em casa do nosso primoSérgio, artesão de magnífico assado, digerido por todos os primos, ainda com apresença do teu sogro, do meu, e de outros tios, companheiros de um salutar passeiopelo campo, numa bela tarde de Verão.Recordo, muitas vezes e com indisfarçável saudade, os nossos almoços na Assembleia,que me deram a oportunidade de conhecer a tua fiel e dedicada amiga Maria Ana,que me acolhia sempre com grande afecto.Naturalmente, a política era o tema dominante – mas não exclusivo –, debatida semprecom elevação e respeito, como aliás sempre fizeste, durante décadas, nos difíceiscombates que foste travando e em que revelaste toda a tua dignidade e inteligência,mesmo em momentos adversos.Recordo, com orgulho e felicidade, aquela visita à Assembleia com a Guida e os meusfilhos, já jovens, em que lhes proporcionaste aquela sensação, que muitos portuguesesgostariam de usufruir, de discursar, com fotografia, naquela tribuna onde, numrecente dia 25 de Abril, te emocionaste, como só os grandes homens sabem, proferindoum dos mais belos discursos que assinalaram tão nobre data.Recordo, também, as festas de família, como o casamento do Tó Zé e Guida (não aminha…) e os das tuas sobrinhas Xana e Rita, que inevitavelmente trazem à memóriao teu querido cunhado, e meu igualmente querido primo Valdemar, também ele umHomem de Abril, precoce e, talvez premonitoriamente, desaparecido de entre nós,quando se preparava para gozar e fruir a sua merecida reforma e as netas quefuturamente se perfilavam.Lembras-te quando, no casamento da Rita, viemos os dois, em expressivo silêncio,até ao logradouro, já a noite caíra? Como é grande e bonita, a dignidade humana!Recordo, com alegria, um almoço na vossa nova casa da Ericeira, com os teusirmãos, todos, como tu gostavas, e que este ano, finalmente, conseguiste reunirno teu último Natal.Recordo os nossos encontros em Chaves, sobretudo nos Fiéis, com lanches naesplanada sob o sol de Inverno, muitas vezes seguidos de jantar improvisado em casada tua sogra, aconchegando as nossas barrigas antes de nos fazermos à estrada, deregresso ao Porto.Enfim, tantas recordações, que certamente não acabarão e que seria fastidioso aquienumerar...Estes 28 anos parecem-me, agora, 28 dias. Tanta coisa que ficou por dizer, alguns segredos por contar!Continuo a fechar os olhos e a pensar que tudo isto não passa de um sonho, de terrívelmau gosto.Infelizmente, não é assim! É a realidade da vida, de que a morte é a última etapa.

1990 l

1994 l

1998 l

Na manifestação do Dia da Liberdade, em Lisboa,com Vasco Lourenço,Luísa e Filipa, 25 de Abril

Com amigos do partidosocialista, 25 de Abril

1995 lNa festa do final de cursoda filha Filipa

Numa festa do 25 de Abrilem sua casa

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mArquES JúnIOr (1946 - 2012)

Mas continuo a visualizar aquele teu sorriso, que irradiava simpatia e amizade, e aouvir a tua voz, com aquele sotaque peculiar e cativante, revelando amiúde um humorfino e inteligente.Apesar de tudo, é isto que guardo, com muita saudade, na minha memória.Não é fácil esquecer-te, porque nunca é fácil esquecermo-nos de um homem bom,que é aquilo que, no fundo, sempre foste.Um homem bom, de valores, com convicções, que a tua filha Filipa saberá assimilare transmitir à tua neta Luisinha, que não tiveste tempo de gozar mas que, podes ficardescansado, saberá honrar o nome do avô Marques Júnior, que ela encontrará, obri-gatoriamente, nas páginas da História do País onde nasceu.Espero, embora receoso, que as gerações futuras saibam colher as sementes quecultivaste no desenvolvimento da nossa sociedade democrática.Encontrar-nos-emos em S. Martinho, esse belo e tranquilizador local onde o teu corporepousa, em paz, junto à nossa Família comum, e onde regularmente te visitarei.Obrigado por tudo o que me ensinaste e pela tua amizade!Até sempre, António!

um amigo pilarCARLOS FRiAS BARATA

ANTÓNIO,Ficaste, certamente, surpreendido quando pegaste no envelope desta carta, já queestamos sempre em contacto e temos as nossas conversas em dia.Mas hoje apeteceu-me escrever-te para que guardes junto da nossa correspondência,que teve início em 1972, quando estavas em Angola, este pequeno apontamento.Porque muitas vezes, nas conversas, já não nos lembramos bem de determinadosfactos, quando aconteceram ou de quem estava presente ou sequer dos seus nomes.Mesmo as fotografias, que fomos fazendo ao longo das nossas vidas, nos trazem asmesmas dúvidas.Agora mesmo, estou sentado numa esplanada na Foz do Lizandro, que nos trazaquelas lembranças do endurecimento, fase final dos nossos tirocínios para oficial.Primeiro, como instruendos, com tudo o que aquilo nos trazia de imprevisto e nonosso entender muito arriscado.Depois, como instrutores, onde percebíamos como tudo era feito com toda a segurança,o que nos permitia assegurar a integridade física de todos.Mas é também, uma das praias onde nos juntávamos na época de verão, não só peloprazer do mar e do sol, mas sobretudo para estarmos juntos, gozando da companhiauns dos outros, como o fizemos anos a fio na Praia do Sul.Claro que estavam connosco os nossos filhos, que nos requeriam toda a atenção, faceao seu atrevimento em relação aos banhos de mar, ou das suas expedições pelo areal.São tantas as recordações, do percurso que cimentou a nossa amizade, que apenasme lembro de algumas, de outras, te lembrarás tu.Como, a amizade não é um conceito abstracto, mas construída de vivências, foramelas que nos trouxeram a este ponto de encontro, uma amizade vivida.Iniciámos na Academia Militar a nossa amizade, que foi fortalecida e consolidadacom o nosso pleno empenho no 25 de Abril, desde o início e nas fases posteriores.

Foi também muito importante o convívio familiar que mantínhamos, quer na tuacasa, quer na minha e nos diferentes sítios onde combinávamos ir ou estar.Lembro-me bem, da viagem que fizemos ao Monte Sobral num aniversário da reuniãode 9 de Setembro e de em seguida termos rumado a Sevilha debaixo de um calor in-suportável, onde perguntámos durante mais de uma hora, por um hotel de 3 estrelascom ar condicionado, como nos tinha sido recomendado, mas que não conseguíamosarranjar. Facto com que ainda hoje gozas comigo.Outra vez, estávamos nós a passar uns dias no Algarve, e numa qualquer noite eu mepropunha atravessar em cambalhota, como nos filmes, a vitrina de um café, o que tedeixou muito preocupado e te deu algum trabalho a convencer-me a não o fazer.Antes de terminar esta conversa desordenada, ainda te quero dizer o que se segue.São, para mim, muito importantes os conselhos que me dás e as opiniões que mepedes sempre resultantes de conversas descontraídas, mas leais, mesmo quando nãotemos o mesmo entendimento das coisas.Quero ainda dizer-te, o que muitos ignoram, que o teu muito profícuo trabalho naconstante defesa dos superiores interesses das Forças Armadas enquanto pilares daPátria e da democracia, me levam a respeitar-te para além da amizade.Olha, aquelas conversas que tivemos sobre o GOL–Grande Oriente Lusitano –Maçonaria Portuguesa, o que a nossa amizade permitia, cada um na sua qualidade,tu como profano e eu como maçon, não te preocupes mais, entendi perfeitamenteas tuas razões, com todo o respeito. Tendo tu as qualidades exigidas a um maçon, sendo um homem bom e de bonscostumes, decidiste não ser iniciado e por isso nunca pertenceste à Maçonaria .Também Miguel Torga fez o mesmo. E um dia ouvi o grande maçon Fernando Vale,dizer “Miguel Torga é o maior maçon vivo que conheço, apesar de não ser iniciado”Na nossa amizade, cabe o meu reconhecimento, pelo alto desempenho de todas asmissões que te couberam. Perdoa-me, eu ter o grande orgulho e a maior vaidade, em te ter como amigo.Um amigo pilar, como frequentemente digo, e com quem posso contar em todas ascircunstâncias.Um grande abraço

uma amizade ilimitadaMiguEL gALVãO TELES

NÃO SEI ONDE ESTÁS OU SE ESTÁS ALGURES. Falo, se não contigo, pelo menoscom a memória que de ti tenho. E parte do que agora te afirmo é aquilo que, discretamente,te fui dizendo. Refiro muitas vezes que uma grande virtude de, em certo momentoda minha vida, haver entrado no PRD foi ter-te conhecido. És das muito raras pessoaspor quem tenho uma admiração e uma amizade ilimitadas. És íntegro, inteligente,generoso, devotado ao hoje tão desprezado interesse público – como interesse detodos, principalmente dos mais desfavorecidos. Tens convicções fortíssimas, quedefendes com alma e empenho, mas que nunca te impediram de ouvir e ponderaras razões dos outros. Tens também o dom da palavra. Quem se lembrar de ti em cam-panha eleitoral sabe-o bem.

1999 l

2006 l

2007 l

Com Defensor de moura,amigo e presidente daCâmara de Viana doCastelo, junto aomonumento ao 25 deAbril, em construção

Acompanhando umavisita da Comissão deDefesa de Angola aoparlamento português

2007 lCom deputados daComissão parlamentar deAssuntos Constitucionais,Direitos, Liberdade egarantias

Com os deputados daComissão de DefesaNacional

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mArquES JúnIOr (1946 - 2012)

Estiveste no 25 de Abril. Casaste, em Trás-os-Montes, cinco dias antes da Revolução.A lua-de-mel permitiu-te, no caminho para Lisboa, vires a fazer contactos com osquartéis, preparando as operações. Ninguém desconfiaria, nem desconfiou. Mantivestesempre viva a emoção do 25 de Abril. Recordo, com infinita saudade, as noites dosdias 25 de Abril, que, durante anos, comemorámos em tua casa, com o Jorge Sampaio,o Vasco Lourenço, o Ferro Rodrigues, o José Carlos Vasconcelos, o José Vera Jardim,o Alberto Martins e o José Rebelo – que ambos faziam anos nesse dia – o AntónioCosta, o almirante Sarmento Rodrigues, alguns cônjuges ou filhos, e outros queapareciam de quando em vez, numa porta sempre aberta. Foi aliás, em tua casa, numadessas noites, que assinei a ficha de reinscrição no PS, proposto pelo Ferro Rodrigues,então secretário-geral. Das últimas vezes que falei contigo, sugeri-te que propusesses que o PS procurasseir buscar, como consultor, o Prémio Nobel Joseph Stiglitz. Com ele teríamos umolhar lúcido sobre a situação da Europa e de Portugal e sobre o que fazer. Sei quedeste a sugestão.Sobre as tuas funções na fiscalização dos serviços secretos eras discretíssimo. Nuncamo disseste – não o disseste sequer à Filipa, tua filha, que tenho o gosto de que façaparte do escritório a que pertenço, que colaborou comigo num processo do TribunalInternacional de Justiça e que é uma excelente jurista. Percebi, contudo, quanto sofrias,com os obstáculos que te eram postos naquela fiscalização. És um dos primeiros a quem devemos a liberdade e a democracia. Foste poupado aver o nosso querido País continuar a esvair-se, sem rumo...Um grande abraço, do fundo do coração,

O percurso exemplar de um militar-cidadãoJOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS

O ANTÓNIO MARQUES JÚNIOR foi das melhores pessoas que conheci. Pela inteirezade carácter, pela natural generosidade e visceral honestidade, misturadas às vezescom uma certa "ingenuidade" decorrente de ver os outros com os seus bons olhos.Tais características, que o jovem tenente/capitão de Abril manteve incólumes até aofim, de par com um elevado sentido do "dever" e da lealdade (que, creio, se devidamenteentendidas e concretizadas serem das melhores dos militares), causaram-lhe nãopoucas desilusões e muita amargura. Sobretudo, claro, na intervenção política, pelaqual em certo momento optou. Intervenção, e não "carreira", porque nunca o Marques Júnior (MJ) a quis fazer, sendosempre, sim, o militar que só por exigência de consciência e cidadania interveio napolítica imediata, em particular como deputado. Com o objectivo de contribuir emtoda a medida do possível para a realização dos ideais de democracia e justiça do 25de Abril, que eram os seus. E foi nessa intervenção que mais se terá amargurado, porforça do conflito entre haver muita coisa com que não estava de acordo, até o indignava,e não o poder dizer, pelo menos publicamente, dado o seu entendimento do tal dever

de lealdade. Não me cabendo acentuar ou sequer lembrar a sua participação na libertadora Revoluçãode 1974, e no subsequente processo que primeiro a consolidou e depois 'salvou' de desviosque a estavam a ferir de morte, pois outros o farão com muito mais legitimidade do queeu, julgo interessante fazer aqui uma revelação: como é que o MJ, sendo à partida dosque parecia menos predisposto e 'talhado' para isso, acabou por ser o único membrodestacado do MFA, do Conselho da Revolução (CR), etc., a ter um percurso político queincluiu 26 anos como deputado e ser militante e dirigente do PS. E posso revelá-lo porqueestive na sua "raiz". Eu conto, embora de forma muito sucinta.Já conhecia o MJ, desde 1974 ou 75, mas tinha muito mais proximidade ou maiscontactos, como cidadão e jornalista (nesses anos primeiro na direcção do Diário deNotícias, depois na da RTP, e entretanto um dos fundadores de O Jornal), com o VascoLourenço, o Sousa e Castro ou o Melo Antunes, entre outros. Mas a 29 de Outubrode 1982, último dia da existência do CR, publiquei em O Jornal, de que era director,um entrevista que com ele fizera poucos dias antes, a primeira que, sempre discreto,deu durante esses já mais de oito anos de sua participação muito activa em todo oprocesso revolucionário e democrático (no dia seguinte apresentou-se em Mafra, re-gressando ao serviço, e ao silêncio, como simples capitão). Além disso, naquela mesma edição publiquei uma crónica sobre a cerimónia em que MJfora condecorado com a grã-cruz da Ordem da Liberdade, em representação de todos oscapitães de Abril, como mais jovem membro do CR. A sua fotografia, comovido, comum lenço branco, depois de recebê-la, era a dominante da capa do jornal. E nem eu (comodecerto aconteceu com outros) esqueci esse momento, que também me emocionou, nemo depois meu querido amigo António esqueceu o que sobre ele escrevi.

Dois anos e pouco volvidos, quando fizemos o PRD (sobre o qual tanto disparate setem dito), fui um dos que esteve na sua base e mais o "teorizou". O que se pretendia,ou eu pelo menos pretendia, além do mais, era que esse movimento de cidadãos(partido só porque se o não fosse estava impedido de ter uma acção eficaz) representasseo mais vivo do espírito do 25 de Abril, contribuindo para democratizar a democracia,progressivamente ameaçada, para privilegiar a ética a a Justiça, para fazer com queos cidadãos pudessem participar plenamente na vida do seu país sem nenhumaservidão à partidarite e aos amiguismos de várias espécies ou a quaisquer projectosde poder pessoal. Assim, julgava de grande importância, e sobretudo significado, que desde o início,em plano destacado, houvesse alguém que de certa forma simbolizasse aquela vontadeou intenção face ao 25 de Abril e tudo que ele representou. Por várias razões, querde fundo quer atendendo ao factor surpresa, pareceu-me que o MJ seria a figura idealpara esse efeito. E por minha exclusiva iniciativa (Ramalho Eanes, por exemplo, nãoteve nisso qualquer intervenção), falei-lhe, expus-lhe o projecto, pedi-lhe para "entrar".De início mostrou-se relutante, insisti, aprofundei as razões da importância domovimento e da sua participação nele. Admitiu pensar no assunto. Abreviando, eapenas por aquela sua exigência de consciência e cidadania, acabou por dizer quesim. E esta foi das maiores alegrias, se não a maior, que me deu um PRD que maistarde, afastando-se dos seus princípios e valores fundadores, me daria bastantesdesgostos. Depois, eleito deputado como cabeça de lista por Setúbal, MJ foi vice-presidente da

2008 l

2009 l

2009 l

Numa reunião doConselho superior deDefesa Nacional

No casamento da sua filhaFilipa, 3 de Abril

2009 lNum colóquio na sede daADFA, 23 de Abril

Discurso do 25 de Abrilpelo ps na Assembleia daRepública

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mArquES JúnIOr (1946 - 2012)

Assembleia da República, fez a intervenção na cerimónia do 25 de Abril (a primeiravez que isso aconteceu com um dos seus protagonistas), cumpriu o seu mandato efez o seu trabalho com uma seriedade e uma dedicação únicas. Não cabe aqui demon-strá-lo, nem muito menos seguir o seu percurso posterior - mormente a partir daaltura em que, finado o PRD, o PS o convidou a integrar as suas listas e ele, apósmuitas dúvidas, aceitou, com a concordância, se não com a insistência, da generalidadedos seus amigos e companheiros, incluindo o redactor destas linhas. Quero terminar sublinhando apenas, sem que neste juízo interfira a grande amizadee estima que tinha pelo António Marques Júnior, que também nessa sua posteriorintervenção no Parlamento, e fora dele, foi sempre exemplar no seu incansável trabalho,recusando a ribalta, na seriedade que punha em tudo, no companheirismo com oscompanheiros e na compreensão e até no apoio face aos "adversários", ou melhor:aos que pensavam de forma diferente; foi sempre exemplar no rigor e na coerência,com a inteireza de carácter e a generosidade que assinalei.

Conversa inacabadaMARiA AuguSTA BABOJOSÉ REBELO

Desculpa mas temos de conversar. Porque a conversa ficou inacabada, com aquelapressa de irem, tu e a Luísa, pela rua fora a pé, não aceitando a boleia que era pretextopara uma palavra ainda… mal sabíamos ser já a última. Naquela noite de 5 de Outubroem que juntos fomos zelar para que não apaguem a memória, ficámos nós presos aessa memória derradeira do teu sorriso, da tua bonomia, da tua amizade, enfim. Eque dizer, agora, aos outros? Dizer que a conversa ficará para sempre incompletaporque aquela partida intempestiva era já um adeus - o adeus definitivo e terrível queatesta a finitude do humano e que teimamos em não saber ou não querer saber quepode ser, de cada vez, o último. Sim, porque três meses não tinham ainda passado etu, ali, nos cuidados intensivos, sereno, dormindo irredutivelmente. Tu inacessível,não respondendo já, não respondendo mais às interpelações que te fazíamos con-stantemente - a ti, homem de reflexão e de acção - sobre a crise. Como sair desta?Que fazer? Como agir? E nós agora reduzidos a esta tentativa de dar vida ao herói,de fazê-lo encarnar por palavras que, se poderosas, tão fracas se apresentam, noentanto, para atestar o que foi uma amizade tão longa mas, afinal, tão curta. Em tiencontrámos o ethos de onde emergem os conceitos de democracia e de liberdade:um ethos de vida, condição, afinal, para a ética na política de que tanto se fala e tãoescassa é na postura individual, existencial. Falarmos contigo é pois entender essa busca e essa posição recta. Insubstituível. Epor isso é inadmissível que a tua voz – sopro que não o é - apenas ecoe na memóriados nossos ouvidos. Memória que, a partir de agora, incessantemente acautelaremoscontra o esquecimento. Não apaguem a memória de um Homem Justo! Porque escassos. Temos o dever dete manter vivo entre nós. E não desmerecer dessa honra que foi partilharmos vivências.Nós e a nossa filha para quem és uma referência também. Pela infância e adolescênciafora, ia ela guardando no seu caderninho de escola, escolhido para o efeito, os

depoimentos que te pedia: narrativas de como é possível rasgar a realidade para ospossíveis mais belos, num tempo de excepção que contribuíste, como poucos, paraabrir, num certo Abril tão improvável.A conversa fica, pois, para sempre inacabada.

Figura notável da democracia portuguesaNuNO FiSHER LOPES PiRES

Conheci-o em meados dos anos sessenta, quando fui seu professor na AcademiaMilitar. Ele era, então, um jovem cadete que, todavia, já se tornava notado pelo seuaprumo, pela sua perfeita noção das responsabilidades, pela sua honestidade a trabalhar,pela dignidade do seu comportamento. Depois a vida separou os nossos caminhos. Voltámos a encontrar-nos no dia 1 deDezembro de 1973, no plenário do então Movimento dos Capitães que se realizouem Óbidos. Na realidade nenhum de nós era capitão. Marques Júnior era tenente eeu tenente-coronel. No longo abraço que então trocámos reafirmou-se a nossa comunhão no ideal de umfuturo renovado, solidário, livre e democrático para cuja concretização estávamosambos dispostos a dar o melhor de nós mesmos e a arriscar o que fosse preciso. A partir daí retomámos um caminho comum. O juízo que sobre ele havia formadoveio a confirmar-se inteiramente e, ao longo dos tempos, tive ocasião de apreciar asua firmeza de carácter, a sua estrita fidelidade às promessas de Abril, a sua isenção,a sua coerência de posições, o seu firme propósito de servir, a sua entrega total aosonho da liberdade.Quer no Conselho da Revolução quer como deputado todas estas suas magníficasqualidades ficaram claramente patentes e mereceram o respeito e a consideraçãogerais, levando-o a ser justamente considerado como uma figura notável da Democraciaportuguesa. O seu desaparecimento prematuro e inesperado constitui um rude golpe para os seuscompanheiros de Abril. Há que aceitá-lo como uma tristíssima realidade e, numasentida homenagem de gratidão, curvemo-nos respeitosamente perante a memóriade quem soube sempre manter-se igual a si mesmo, numa permanente demonstraçãode dignidade, de coragem, de altruísmo e de certeza num sonho magnífico que tardaa concretizar-se totalmente.

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2012 l

Numa reunião no Institutode Estudos superioresmilitares

Condecoração com a medalha da Cruz de são Jorge

2012 lRecebendo uma delegação daRepública de Cabo Verde

Entrega do relatório do sIRp à presidente daAssembleia da República

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O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO | 4544 | O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO

• JAnTAr COmEmOrATIVODia 24 de Abril, às 19h00 nas instalações do Regimentode Engenharia n.º 1, na Pontinha.Além do significado específico do local, vamos mostrar anossa profunda discordância com o anunciado encerramentodo Regimento que acolheu o Posto de Comando do MFA,em 24/25 de Abril de 1974!Inscreva-se pelo telefone 213 241 420 ou através [email protected].

• ráDIO rEnASCEnçAJunto às instalações da RR, na rua Capelo, em Lisboa,vamos todos cantar a “Grândola Vila Morena” às 00h20do dia 25 de Abril, hora a que a mesma emitiu a segundasenha do 25 de Abril, em 1974!

• lArgO DO CArmODepois de participarmos na manifestação popular que,descendo a avenida da Liberdade, termina no Rossio,vamos subir até ao largo do Carmo e aí, cantar a “GrândolaVila Morena”, às 18h30, hora a que Marcelo Caetano foidetido por Salgueiro Maia e transportado na Chaimite“Bula” para a Pontinha.

• FESTA JOVEmNo complexo desportivo Cidade de Almada (Feijó) em co-operação com a Câmara Municipal de Almada, a Associaçãode Ginástica de Lisboa e da Associação de Ginástica doDistrito de Setúbal e com o apoio institucional do ComitéOlímpico Português, da Confederação dos Desportos de

Portugal e da Federação de Ginástica de Portugal, vairealizar o festival de ginástica, “Festa Jovem”, no dia 20de Abril, às 14h30.Como nos anos anteriores, iremos contar com a participaçãode muitas centenas de crianças e jovens, vindos de váriospontos do País.

• COrrIDA DA lIBErDADE E CAmInHADA DA lIBErDADE

Vai ser nas ruas de Lisboa, com chegada aos Restauradores,que se vai realizar a 36.ª Corrida da Liberdade e a caminhadada Liberdade, organização conjunta da A25A, Confederaçãodas Colectividades Portuguesa das Colectividades deCultura, Recreio e Desporto e da Associação das Colec-tividades do Concelho de Lisboa.Também, como nos anos anteriores, iremos contar coma participação de várias centenas de jovens e menos jovensVer programa detalhado em http://www.confederacao-dascolectividades.com/noticias_detalhe.asp?id=1112 e inscrições em:http://www.accl.com.pt/index.php?id=inscricoes

COmEmOrAçÕES pOpulArESA A25A integra as Comissões Promotoras das Comemo-rações Populares do 25 de Abril, em Lisboa e no Porto,que organizam as tradicionais manifestações. Em Lisboa,com partida da Praça Marquês de Pombal, às 15h00, odesfile seguirá até ao Rossio. No Porto, com início às14h00, junto ao Museu Militar (Rua do Heroísmo), serácumprido o trajecto até à Praça da Liberdade.

HENRIQUE MIRE DORES, sócio fundador da A25A n.º1296, faleceu no passado dia 18 de Março. Único dos oitofilhos (seis filhos e duas filhas) do coronel Adriano deFigueiredo Dores que seguiu a carreira militar, aindaque só o mais novo dos seus irmãos não tenha frequentadoe concluído o curso liceal no Colégio Militar, integrou ehonrou uma família em que todos se distinguiam pelaadesão aos ideais democráticos e da liberdade, tendoalguns mesmo sido forçados à clandestinidade e ao exílio,perseguidos pela polícia política da ditadura nos anosmais duros da década de cinquenta. Por isso aderiu depronto ao 25 de Abril logo que se apercebeu do projectolibertador e progressista do MFA, em cujas fileiras re-conheceu alguns dos jovens oficiais que tinham sidoseus alunos nos cursos do IAEM onde era professor.Mire Dores pertencia a uma geração a que tenho chamadodos “Capitães de Delgado”, que eram coronéis em 1974e, já o tenho dito, não foram convenientemente aproveitadospelo MFA. Militares distintos e homens dignos com con-vicções democráticas que, com mais ou menos visibilidade,haviam conspirado contra a ditadura salazarista, deviamter sido os generais do período revolucionário que seseguiu ao 25 de Abril. Em vez deles foram chegando aotopo da hierarquia oficiais que, no fundo, nunca com-preenderam nem aceitaram a ruptura institucional e, naprimeira oportunidade, trataram de se “vingar” do ultrajecom que encaravam o “atentado à disciplina” que tinhasido o golpe militar liderado por capitães. Mas que a hi-erarquia formal nunca teria vocação nem coragem paradesencadear. Não sendo este o espaço apropriado paradesenvolver este tema, registe-se que as origens doprocesso contra-revolucionário também passaram poraqui.Henrique Mire Dores, aos que lhe eram mais chegados,não escondia alguma mágoa e frustração por não ter sidochamado a dar maior colaboração ao 25 de Abril. Ládentro do seu íntimo, assumiu-se sempre por inteirocomo Capitão de Abril esclarecido e, nos últimos temposda sua vida, inconformado com o rumo por onde estãoa conduzir o país. Afinal, como todos nós, que lhe presta-mos a nossa sentida homenagem.PPC

CORONEL HENRiQuE ADRiANO MiRE DORES (1924-2013)

Em memória deum Capitão de Delgado

39.º aniversário do 25 de AbrilNa conjuntura que o País atravessa, estou convicto que o próximoaniversário do 25 de abril será aproveitado, pelos democratasportugueses, em especial pelos militares de abril, para mostrar oseu profundo desacordo com a prática dos (des)governantes e paraevidenciar a sua forte determinação em recuperar abril.aqui fica o meu apelo a todas e a todos: participem nas váriascomemorações que haverá por todo o País!Vasco Lourenço

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EDuARDO SiLVESTRE DOS SANTOS

A DEMOCRACIA REPRESENTATIVA conven-cional, tal como se desenvolveu no Ocidente,assenta num pacto entre eleitores e eleitos. Essepacto está a quebrar-se!Poucos reparam que os países europeus já nãosão governados por instituições validadas pelalegitimidade democrática, mas por uma sériede instituições reconhecidas pelas suas siglas(BCE, FMI, etc.) que tomaram o poder.É impressionante e quase inacreditável a ligeirezacom que os cidadãos europeus aceitam que oseu poder de decisão política lhes esteja a serespoliado. Este afastamento das tomadas de de-cisão vem acontecendo longe de ser às claras,mas sem distúrbios. A expropriação política docidadão europeu começou com a negociaçãopara o Euro, resultado de negociatas políticas

obscuras que “esqueceram” as condições eco-nómicas e organizacionais indispensáveis paradar tal passo, e que levaram a um doping social.Ora, as referidas “siglas”, transformadas em “sal-vadores”, em vez de tentar identificar e corrigir oserros do processo, querem impor, a qualquer custoe de um modo “estalinista”, a indispensabilidadede seguir o caminho que indicam. “Não há alter-nativas”, exclamam, talvez tentando convencer-sea si próprias, minimizando assim o risco de explosãosocial fomentado pelo aumento das diferençasentre os Estados-membros.Importa assim recordar os principais eventosque levaram a este deplorável estado de coisas.Conforme escrevi anteriormente, o Tratado deMaastricht foi prematuro na concepção e dema-siado ambicioso nas finalidades. Assinado duranteo período de euforia a seguir ao fim da GuerraFria, a sua concepção rapidamente começou aser contestada (referendos dinamarquês e francês).

A Europa que nos impuseram 3

Progressiva mas metodicamente, a burocracia deBruxelas deixou de se preocupar com o progressoe o bem-estar dos cidadãos europeus, para sefocalizar cada vez mais no seu próprio estatuto eos seus jobs, cedendo e fazendo o jogo dos lobbiesneoliberais dos grandes interesses económicos. AEuropa foi-se transformando numa terra inundadade discursos oficiais incompreensíveis e longe davida real. Na realidade, muito poucos entendemo que se faz na Comissão Europeia ou no Eurogrupo.Estas instituições não resultam de nenhuma Cons-tituição e não escutam os eleitores nas suas tomadasde decisão.Em 1999, vivia-se ainda a euforia da vitória pacíficasobre o comunismo, a globalização dos mercadose a ascensão do neoliberalismo. A política começavaa vergar-se perante o poderio asfixiante da altafinança, dos grandes grupos empresariais trans-nacionais e dos agiotas especuladores. Na antecâmarado Euro, a Grécia não reunia as condições dos cri-

térios de convergência estabelecidos e foi com oapoio do banco Goldman-Sachs (GS)(1) que dis-simulou a dimensão do seu defice. Através dosseus escritórios de Londres, virados essencialmentepara a Europa, o GS exerceu os seus “talentos” ba-ralhando habilmente as contas, face à desorganizaçãodo Eurostat. O escândalo foi detectado apenas em2010.Mas a ligação do GS à actual crise financeiranão se esgota com a relação com a Grécia. Existemfortes indícios da sua “presença” na falência dobanco Lehmann Brothers, na resistência da altafinança a qualquer regulamentação, e ao finan-ciamento dos deficits, entre outras situações.Parece também não ser fruto do acaso as ligaçõesde várias altas figuras da UE ao GS. Mario Draghi,presidente do BCE, Mario Monti, primeiro-mi-nistro italiano e, do lado português, AntónioBorges e Carlos Moedas, entre outros, têm ligaçõesdirectas com o GS no passado recente.

(considerações de índole económica, financeira e monetária)

A imprevidência dos povos éinfinita;a imprevidência dos governos é legal!

Anatole France

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Antes da crise financeira de 2008, ninguémtemia pelo futuro do Euro. Os investidores acre-ditavam que a existência de uma zona monetáriafazia com que os deficits das contas correntesdos países já não interessassem, mas sim a contacorrente da UE face ao exterior. Contudo, es-queceram-se que não existia na Zona Euro umórgão central essencial numa federação, que ga-rantisse o equilíbrio e a fiscalização das contascorrentes dos países-membros. A falência doLehmann Brothers fê-los acordar para a tristerealidade. Os mercados monetários, que ligamos bancos entre si, deixaram de funcionar. Nin-guém emprestava mais nada a ninguém, porfalta de confiança(2). A partir de 2008, são apenas três as grandes má-quinas financeiras que saíram reforçadas dacrise e dominam a finança mundial: GS, J.P.Mor-gan e Barclays. A estes podem juntar-se o CréditSuisse e o Deutsche Bank. Os outros ficaramcondenados a reduzir consideravelmente as suasoperações, abandonando em muitos casos o de-senvolvimento internacional para se concentraremapenas nos mercados domésticos(3). Quantoàs suas dívidas, foram transferidas do sector pri-vado para os Estados, que se viram confrontadoscom enormes buracos nas finanças públicasprovocado pelo salvamento do sistema.A crise das dívidas soberanas europeias (criseda Zona Euro) é pois uma crise financeira queestá a tornar difícil, ou mesmo impossível, a al-guns países pagar a sua dívida governamentalsem a assistência de terceiros. Começou poisem 2008, e espalhou-se em 2009 principalmenteà Grécia, à Irlanda e a Portugal, que começarama experimentar dívidas excessivas, em virtudedo seu crescimento económico ter abrandadoou mesmo parado. Estas crises levaram a umacrise de confiança nas economias e empresaseuropeias. A relação especial entre os países eu-ropeus significa que mesmo países prósperossentem os seus efeitos. Desde então, o receio de uma crise começou adesenvolver-se entre os investidores, como re-sultado do aumento das dívidas privadas e go-vernamentais nalguns estados europeus. Ascausas variaram conforme os países. Nalguns,as dívidas privadas derivadas de uma “bolha”imobiliária foram transferidas para a dívida so-berana, como resultado de colapsos nos sistemasbancários e das respostas dos governos paraabrandar as economias após as “bolhas”. Na

Grécia, as responsabilidades insustentáveis dosector público (ordenados e pensões) fez a dívidaaumentar. A estrutura da Zona Euro - uniãomonetária (a mesma moeda) sem união fiscal(regras diferentes de impostos e pensões) —tem contribuído para a crise e dificultado muitoa capacidade de resposta dos líderes europeus.A crise original derivou da incapacidade do BancoCentral Europeu (BCE) em identificar e responderàs enormes “bolhas” imobiliárias que existiam,nomeadamente em Espanha e na Irlanda. Emvez disso, permitiu que elas aumentassem tantoque o seu colapso afundasse inevitavelmente aeconomia.Alguns culpam os países “irresponsáveis”, quepediram demasiado emprestado, aproveitando asbaixas taxas de juro disponíveis para os países dazona Euro; outros afirmam que a culpa é do próprioEuro, argumentando que a ideia de uma moedaúnica ser capaz de resolver as necessidades de de-zassete economias diferentes estava condenada àpartida. Normalmente, o banco central de um paíspode ajustar a quantidade de moeda para ajudarou impedir o crescimento, como forma de combatero tumulto económico. Porém, os países ligadospelo Euro não têm essa opção. A nível nacional, acrise foi bastante aumentada pela especulação fi-nanceira, pela fuga de capitais, pela fuga ao fisco, istoé, pela enorme corrupção que se instalou na sociedadeportuguesa, onde uns poucos roubaram a muitos ofruto do seu trabalho(4).Com a introdução da moeda única, todo o mer-cado se tornou, em princípio, mais transparentee acessível. A introdução da moeda única foi oculminar de um processo de integração europeia,mas cuja principal lacuna é a inexistência deverdadeiros mecanismos daquilo a que se costumachamar "federalismo fiscal". O projecto vai falhar,salvo se for acompanhado por uma união fiscal. Sóque, em democracia, uma tal união fiscal exigeuma união política(5). A crise do Euro está longe de ser resolvida. Osegundo resgate (bailout)(6) grego não restituiua confiança, pode levar a um terceiro, bem comoa outros (Chipre, Espanha, Itália), e pode tornarmais difícil a Portugal e à Irlanda encontrareminvestidores privados. Por outras palavras, o se-gundo resgate, em vez de fazer travar a crise,pode na realidade tê-la acelerado.Os países da zona Euro não estão ainda a res-ponder aos seus problemas mais profundos. Asacções em curso não têm a necessária abrangência

e escala económicas para fomentar o crescimentoe o investimento que ajudariam as economiasmais débeis a sanear-se. O problema central estána fraqueza dos bancos da zona Euro, mas osseus líderes ainda não entenderam que não estãoa enfrentar um problema de liquidez, mas comum problema estrutural que não se resolverá,por maior quantidade de dinheiro que se coloquenos resgates.Algumas são as perplexidades que se prendemcom a unidade monetária, como fase de unidadesocioeconómica rumo a uma unidade política.Trouxe repercussões e perplexidades que con-dicionaram a actividade económica dos diversosagentes e em particular as instituições finan-ceiras, nomeadamente: desregulamentação eliberalização aceleradas; redução dos custosde capital para empresas de países periféricos;integração dos mercados de capitais com tudoo que tal implicou para países, agentes, emi-tentes e investidores; políticas monetárias comobjectivos a nível de políticas salariais e de fis-calidade. Estes problemas levam inúmerosanalistas da cena financeira e monetária in-ternacional a considerar que o sucesso do Eurodependerá, mais do que se supõe, de conside-rações políticas e em especial da capacidadedos Estados-membros para, de facto, conser-tarem as respectivas políticas económicas.A actividade bancária, seja na sua componentedistribuição, intermediação, seja gestão deriscos, sofrerá decerto uma transformação im-portante, a requerer que os ordenamentos ju-rídicos nacionais se saibam adequar ou nãose tornem entraves à necessária adaptabilidadeque lhes será requerida. O BCE não pode fazer de bombeiro, assumindofunções que os tratados lhe não concederam.Para além da união bancária, já decidida, a UEtem de avançar urgentemente para a federaçãoorçamental, uma espécie de Reserva Federaldos EUA, que coordene a política orçamentalde todos os países da Zona Euro. Porém, amaioria dos países continuam a prezar muitoa sua independência(7). Os políticos europeus estão a ultrajar o princípioda subsidiariedade (Art.º 5.º do Tratado), quepretende assegurar uma tomada de decisõestão próxima quanto possível do cidadão, me-diante a verificação constante de que a acçãoa empreender a nível comunitário se justificarelativamente às possibilidades oferecidas pelo

nível nacional, regional ou local. A discussão sobre o Orçamento Comunitáriopara 2014-2020 teve de ser adiada e apenasveio por a nú aquilo que todos já sabiam: OPROJECTO EUROPEU MORREU! A 2.ª GuerraMundial, Keynes e Bretton Woods são já apenasHistória, a ameaça soviética desapareceu e aAlemanha pensa hoje que já pagou o suficientepelos crimes dos seus líderes e já não se revênos compromissos assumidos anteriormente.O objectivo último da UE e do Euro, a euro-peização da Alemanha, está a tornar-se a cadadia na germanização da Europa, ponto departida para os dois últimos conflitos mun-diais!

Janeiro de 2013

Nota – Voluntariamente, este texto não segueo novo Acordo Ortográfico.

A Europa que nos impuseraml l l

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do conhecimento é cada vez mais curto e a nossaesperança de vida aumentou. De uma apren-dizagem para toda a vida vemo-nos perante anecessidade, a obrigação, de aprendermos durantetoda a vida. A nossa humanidade ainda não in-teriorizou esta mudança, colocando-nos a viverem clima de grande instabilidade. (1) Terceira, a relação espaço – tempo também sealterou profundamente, passando “de um espaçolimitado e conhecido e um tempo longo paraum espaço ilimitado e desconhecido e um tempoque tende para infinitesimal”. (2) As respostasque temos que dar “já!” a questões que noschegam “daqui ao lado” e, ao mesmo tempo“imediato”, de um qualquer “longínquo descon-hecido”, impõem-nos vivermos numa “ditadurado instante”, duvidando da capacidade de dom-inarmos os instrumentos de que dispomos paraconstruirmos uma resposta certa e, sem sabermosse o que sabemos é suficiente para que a respostadada tenha sucesso, ficamos inseguros na ex-pectativa do resultado da nossa acção.Mas estaremos assim “tão perdidos”? Não seráque “a urgência das respostas” nos está a desviardo que é, de facto, essencial – e Humano! – paranos situarmos (incertos, instáveis e inseguros)na superfície das coisas, na sua aparência, nacomoção do viver presente?Disse o Prof. Roberto Carneiro (3) que assistimosà “emergência da complexidade e da interde-pendência. Tudo interactua com tudo: o destinode cada um confunde-se com o destino da Hu-manidade”.É esta complexidade e interdependência que seconstituem como a parte submersa do “iceberg”de que a incerteza, a instabilidade e a insegurançasão a superfície.E sendo-nos lícito argumentar, com o Prof. Adri-ano Moreira, que “Os factos alteram-se em temposocial acelerado, e os conceitos operacionaismodificam-se em tempo social demorado” (4),paralelamente é pertinente constatarmos que,embora não com fundamento em teorias decarácter científico mais ou menos comummenteaceites (ou reconhecidas), mas sobretudo por“tentativa e erro”, os seres humanos que somostêm procurado respostas a essa complexidadee a essa interdependência.Mas que complexidade e que interdependênciasão estas? Chamemos-lhes Sistemas Complexose tentemos identificá-los. Neles, e nos seus prob-

lemas (5):n Não há um “único correcto” ponto de vistapara os abordar.n Há diferentes pontos de vista e soluções con-traditórias.n Os problemas e as suas circunstâncias inter-agem com outros problemas e circunstâncias,de forma múltipla e não linear.n São possíveis inúmeros “pontos de intervenção”na busca de uma solução.n Não existe a solução para o problema: há prob-lemas e há soluções cuja concretização se con-substancia numa multiplicidade de interacções“em rede”.n Há incerteza e ambiguidade na definição dosnós dessa rede: ponto de partida? Ponto de chega-da? Ponto crítico no “caminho” da concretizaçãoda mudança (o âmago da resolução dos problemasinerentes aos sistemas complexos)? ou trata-se“apenas” de um nó “virtual”, resultante de umapercepção superficial (como uma espécie de“ilusão de óptica”) do cruzamento de dois cam-inhos, de direcções e sentidos diferentes, masexistentes em planos paralelos?Neste cenário pleno de dúvidas e sem nenhumascertezas falta colocar os actores principais: asPessoas. Porquê? Porque estes sistemas complexossão Sistemas Humanos! Dito de outro modo, asua identificação, a identificação dos problemasque neles existem ou são susceptíveis de existirem,as múltiplas formas de os abordar, desde as suascircunstâncias, espaços e tempos, até às possíveissoluções e suas consequências possíveis deprever, são questões eminentemente humanas.Não podem, por isso, ser deixadas ao “livre ar-bítrio” das técnicas e das tecnologias (nem aos“seus” técnicos e tecnólogos, por muito “hu-manos” que aparentem ser…).Mesmo correndo o risco de darmos razão a A.L. Mencken: “Há sempre uma solução fácil paraqualquer problema humano – clara, plausívele errada”.Que fazer, então?Não havendo a resposta para o problema, tambémnão é possível que um indivíduo encontre, porsi só, a resposta a um problema cuja identificação,soluções e consequências afectam todos.Isto é, em sistemas complexos, que se estruturamem rede e que projectam para a superfície elevadosíndices de incerteza, instabilidade e insegurança,os seres humanos têm que trabalhar em rede,

ANTóNIo ALmEIDA moURA

QUANDO HOJE PROCURAMOS SITUAR-NOS, encontrar-nos, no mundo em que vivemos,de imediato nos confrontamos com três palavras-chave que nos parecem perigosamente adequadaspara o definirmos: incerteza, instabilidade, in-segurança.Parecem adequadas por três razões principais.Primeira, e seguindo Albert Einstein, “É espan-tosamente óbvio que a nossa tecnologia excedea nossa humanidade.”: se é verdade que o avanço

tecnológico permitiu elevar os padrões de qual-idade de vida dos seres humanos (em termosgerais, claro), também é verdade que estamoscada vez mais dependentes, cada vez mais sub-jugados, pela tecnologia. É incerto o nosso devir,tanto depende ele dos instrumentos tecnológicosque somos, e sejamos, capazes de desenvolver.Segunda, a relação “ciclo de vida do conheci-mento” – “esperança de vida” mudou radical-mente: de um ciclo de vida do conhecimentosuficientemente longo para nos acompanhardurante toda a nossa vida, hoje o ciclo de vida

Este é o últimoséculo antesdo Homem

Yannis Ritsos

O papel do conceito estratégico de segurança e defesa nacional

EDuCAçãO: uma questão de poder ou uma questão humana?

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do que uma passagem de um “ponto de partida”– um “Aqui”, definido por questões como “QuemSomos”, “Onde Estamos”, “Que Valores”, “QueVisão”, “Que Capacidades”, “Que Circunstâncias”– para um “ponto de chegada” – um “Ali”,definido por questões como “Que Aspirações”,“Que Interesses”, “Que Objectivos”, “Que Cir-cunstâncias” – através de um percurso (planea-mento operacional) que tem em conta as “Dife-renças e os Obstáculos a ultrapassar”, os “PontosCríticos” que obrigam a avaliar o desenvolvimentoe concretização do plano de mudança, os “Re-cursos” disponíveis e a obter e as “Decisões” atomar; reflectir sobre o que fazer, quando fazer,como fazer e, especialmente, com quem fazer(estabelecendo, neste caso, níveis adequados deresponsabilidade e correspondentes níveis dedecisão).É de novo, na Educação, e através da Educação,que esta capacidade – a de usar o pensamentocrítico em situações concretas da nossa vida concreta– se adquire, se interioriza e se desenvolve. Con-siderando, claro, que a meta a atingir é a construçãode um ser humano identitariamente definidocomo indivíduo inteiro, diferente entre iguais(preservando a sua identidade própria) e igualentre diferentes (assumindo a sua identidadecolectiva dentro da sua comunidade de pertença,seja ela local, nacional ou planetária).E por que o ser humano é Razão, Emoção eAcção, a esta capacidade de reflectir (Razão) ea esta necessidade de construção (Acção), háurgência em juntarmos os afectos (Emoção) –são eles que nos fazem sentir fazer parte de umacomunidade, numa procura constante e solidáriado bem comum.Temos conseguido encontrar na Educação oscaminhos para respondermos a esta exigênciade plenitude humana?Paulo Freire diz-nos que não, uma vez que osnossos sistemas educativos ensinam “o operárioa ser bom mecânico, mas não a discutir a estética,a política e a ideologia que há por trás da apren-dizagem”.Pelo contrário, “criamos escolas concebidas parapremiar o chamado bom aluno, que repete, querenuncia ao pensamento crítico, que se adaptaa modelos…”. (6) Porquê esta recusa em ir além da repetição, poisque ela somente permite a construção de umbom técnico, um bom profissional? Porquê re-cusar o desenvolvimento da capacidade de inovar,de criar, de ser responsável, de ir além – bem

além! – do “bom profissional”, se a meta é o cidadãode corpo inteiro, de que uma (apenas uma) dascomponentes identitárias é a profissão?Porquê os sistemas educativos limitam a capaci-dade de reflexão a um estéril diletantismo int-electual quando ela “ameaça” ir além das reflexõestécnico-profissionais?Por medo de uma qualquer “insurgência namudança” causada por uma qualquer acção decidadania, já que acções de mudança a nívelprofissional são toleradas (quanto baste…)?Os sistemas educativos são sistemas complexos.Donde as perguntas acima formuladas não iden-tificam, cada uma de per si ou todas, o problema;são múltiplos e diversos os problemas.E as respostas não podem ser a organização escolar,o currículo, a avaliação dos alunos, a avaliação dosprofessores, a autonomia da Escola… São cadauma delas e todas, diferentes em cada momentoe em cada circunstância, nas suas interacções econsequências mutuamente influenciadoras.Mas exigem, a montante, uma matriz comum,capaz de garantir credibilidade à identificaçãodos problemas, e fiabilidade à adequabilidade,exequibilidade e aceitabilidade das respostas.Essa matriz é política.No entanto, para o desenho, a definição, a operacionalização dessa matriz, é vital que ten-hamos a humildade de nos situarmos na nossa“insignificância”: se é verdade que o presenteque somos é o futuro de um passado, o que co-nhecemos desse passado, o modo como nosrelacionamos com ele, e a nossa própria exper-iência do que tem sido o nosso presente, deveobrigar-nos a assumir que “preparar uma novageração para um mundo novo, só pode significarque se deseja recusar àqueles que chegam denovo a sua própria possibilidade de inovar” (7).De facto, se esta pretensão se concretizasse nãoestaríamos a fazer outra coisa senão “colonizaro futuro” (8) dos nossos filhos.Dito de outro modo, sendo vital a inteligibilidadedo passado transmitida pela Educação, tambémé determinante que a perspectiva do futuro sejaequacionada sem dogmas, sem preconceitos,sem discriminações. A base da Educação não éa certeza, é a dúvida, permanentemente con-frontada com a fundamentação do argumentoou a demonstração do facto. Mas esta política tem que conjugar-se com o ex-ercício de outras políticas noutras áreas davivência comunitária, noutros sistemas complexos.E o seu exercício, seja em que área for, é o execício

pondo à disposição do sistema (da comunidade)as suas qualificações – para a partilha (empenhadae comprometida) do esforço colectivo de encontraras melhores soluções – e os seus valores (sendodeterminantes o respeito mútuo e a solidariedade,valores “individuais” que sustentam aquele outro,“colectivo”, vital para criar e manter o sentimentode pertença a uma comunidade), a confiança -para a partilha do esforço colectivo para mantero sistema coeso (inteligível, dinâmico e comperspectivas de futuro realizável).(Note-se que a globalização se encarregou detransformar um sistema complexo “individual”– uma dada comunidade, com identidade própriacolectivamente assumida – num sistema complexo“colectivo”, planetário no sentido expresso porEdgar Morin, e “em rede” segundo ManuelCastells). É elevada a exigência de qualidade que cada serhumano deve colocar nas suas acções e interacçõesdentro destes sistemas complexos. Qualidadeque “não se definindo nem se impondo, masconstruindo-se” (Prof. João Barbosa) comportavalores, saberes e saberes-fazer.É na Educação, e através dela, que os seres hu-manos (cada um de nós) vai aprender, absorver,interiorizar, desenvolver, estes valores e estessaberes e saberes-fazer que fazem dum ser hu-mano um cidadão participativo e solidário nosesforços colectivos de resolução dos complexosproblemas humanos com que nos defrontamos.No mundo de hoje, mais do que nunca, estaconstrução do ser humano enquanto cidadãoexpressa-se segundo a consolidação de trêsvértices

rESpOnSABIlIDADE

AuTOnOmIA InDEpEnDênCIA

em que Autonomia significa a capacidade defazer opções; Independência significa a capacidadede assumir essas opções; e Responsabilidadesignifica a capacidade para agir de acordo comessas escolhas e a capacidade de assumir as con-sequências dessas acções (ou omissões).Estes três vértices sustentam práticas essenciaisde cidadania, na procura colectiva de respostasadequadas, exequíveis e aceitáveis à multiplicidadee diversidade de problemas que definem o mundocomplexo em que vivemos. Um mundo extrema-

mente exigente, de tal modo que rejeita a resposta;que rejeita até que uma resposta adequada, exequível e aceitável a um problema se mantenhacomo adequada, exequível e aceitável para umoutro problema, mesmo que semelhante e perantecircunstâncias também elas semelhantes; e que“se atreve” também a rejeitar a mesma soluçãopara o mesmo problema, se se verificarem diferenças(por vezes aparentemente mínimas) nas circun-stâncias próprias desse problema ou alheias (deoutro ou outros problemas com o qual ou os quaiso primeiro e as suas soluções interagem).É assim que se torna indispensável acrescentaràquelas três vertentes, duas outras cuja importân-cia é cada vez maior e mais reconhecida: a Ino-vação, como capacidade para encontrar/descobrirnovos instrumentos para resolver problemas; aCriatividade, como capacidade para encontrarnovas formas de resolver o mesmo problemaem diferentes circunstâncias ou activamenteenfrentar um problema inesperado.Exigindo-nos o mundo de hoje, tal como o vimosdefinido que, enquanto cidadãos, sejamos res-ponsáveis, inovadores e criativos, importa assi-nalarmos que estas três capacidades têm umfactor comum e determinante, quer na suagénese (pois cada uma delas se constrói e de-senvolve – pela Educação), quer na sua prática(que as torna sólidas e reconhecidas): o pensa-mento crítico.De facto, perante a identificação de um problema,a definição das suas circunstâncias, o desenhodas suas soluções e, ainda, das interacções quetêm (problema, circunstâncias, soluções) comoutros problemas, outras circunstâncias, outrassoluções, é indispensável que os seres humanossejam capazes de (como exemplos apenas):n Reflectir sobre a identificação do problema,as suas circunstâncias, relevância e prioridade,bem como sobre os critérios e instrumentos deavaliação usados, e sobre a credibilidade dosdados e informações existentes.nFormular hipóteses alternativas em relaçãoàquela identificação, circunstâncias, relevância,prioridade, critérios e instrumentos de avaliação,dados e informações.nReflectir sobre propostas de solução, iniciaise alternativas, e nas consequências (previstas,assumidas ou hipotéticas), nomeadamentequanto a interacções com outros problemas esuas soluções.nConsiderando que a resolução de um problemarepresenta uma mudança, e que esta não é mais

EDuCAçãO: uma questão de poder ou uma questão humana?

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O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO | 5554 | O REFERENCIAL |JANEIRO- MARÇO

Bibliografia1.Capt António

Almeida de Moura,

“Technology,

Responsibility,

Humanity”, in “ New

Security Learning”,

(online) Março 2011

2.Almeida de Moura,

“O Papel do Militar na

Sociedade”, in Anais do

CMN, Abril-Junho

2003

3.Prof. Roberto

Carneiro, “Memória de

Portugal, o Milénio

Português”, Circulo de

Leitores 2001

4.Prof. Adriano

Moreira, “Teorias das

Relações

Internacionais”, 1999

5.Robert E. Horn e

Robert P. Weber, “ New

Tools for Resolving

Wicked Problems”,

2007 (adaptação)

6.Zinn e Donaldo

Macedo, “Poder,

Democracia e

Educação”

7.ibidem

8.Hannah Arendt, “A

Crise na Educação” in

“Quatro textos

Excêntricos”

9.David Innerarity, “O

Futuro e os seus

Inimigos”

10.Edgar Morin

“Educar para a Era

Planetária”

visão de futuro em que nos revemos e para cujaconstrução estamos disponíveis e solidários?Ou reconhecemos no CESDN apenas um con-junto de regras e orientações de cariz meramenteinstrumental e técnico, adequado à inalterabilidadede um “status quo”, onde somente concedamoslugar a “inovações tecnológicas” desde que, ob-viamente, não ponham em causa o “ordenamentoburocrático-legal” instituído?Porquê?O Conceito Estratégico de Segurança e DefesaNacional subordina-se directamente à Constituiçãoda República.Porque é nesta, na Constituição, que inscrevemoso valores e os princípios que nos reflectem comoseres humanos inteiros, livres e solidários, per-tencentes a uma comunidade que nos faz sentirorgulhosos de um passado, por contraditório quetenha sido (e foi); firmes num presente incerto,instável e inseguro; e sonhadores de um futuroque dê resposta efectiva e vertical à exigência contidanum velho ditado dos índios sul-americanos: “Estemundo não é nosso, pedimo-lo emprestado aosnossos Filhos!”.É na obediência a estes valores e princípios queo CESDN deve estabelecer as necessárias orien-tações e linhas de acção para que a praxis políticafaça sentido para toda a comunidade:Consolidando esses valores e princípios atravésde uma prática política em que, todos, nos sin-tamos intervenientes reconhecidamente iguais,independentemente das opções e escolhas in-dividuais. É esta segurança que que nos faz crerque o outro não é inimigo, nem antagonista –é diferente mas igual. A segurança é, assim, aplataforma indispensável onde assenta e se de-senvolve o respeito mútuo entre os membrosda mesma comunidade de pertença.Preservando esses valores e princípios como guiasimprescindíveis na visão que desenhamos de umFuturo comum, sabendo que o futuro não é apenasum sonho: querer, construir e ter um futuro éaquilo que diferencia o ser humano de todos osoutros seres vivos. É esta Defesa que nos faz crerpertencermos a uma comunidade única, umaNação, não melhor não pior que outras, isto é,diferente mas também igual. A Defesa é, assim,a plataforma indispensável onde assenta e se de-senvolve o respeito mútuo partilhado e exercidoentre comunidades/nações num mundo cada vezmais global, mais planetário.É nestas duas vertentes – segurança e defesa –que nos devemos situar, e agir, enquanto cidadãos.

Se a segurança nos permite o exercício exigenteda cidadania plena enquanto membros de umacomunidade de pertença, a defesa permite-nosreivindicar, de corpo inteiro e verticalmente, onosso lugar – diferente mas igual – no exercíciocada vez mais exigente de uma “cidadania plane-tária” (10) que a globalização nos impõe.É, pois, a praxis, continuada e permanente, deuma cidadania plenamente assumida, que nos“proíbe” de aceitarmos que a segurança e a defesasejam confinadas a este ou àquele sector orga-nizado da prática política, eventualmente refénsdeste ou daquele “feudo corporativo”. A segurançae a defesa dizem respeito a todos os cidadãos,porque ambas exigem, nas suas múltiplas áreasde acção, com as suas múltiplas organizações(políticas, económicas, militares, policiais,judiciais, educacionais, empresariais, sindicais,culturais, tantas outras…) agindo num ambientecada vez mais complexo e interdependente, aparticipação activa, empenhada, solidária, detodos os cidadãos.Ah, e participação crítica, porque sem críticanão há participação activa, nem empenhada,nem solidária.É por isso que o primeiro, e crucial, factor identitárioa inscrever, clara e explicitamente, no ConceitoEstratégico de Segurança e Defesa Nacional é… aeducação, e o que queremos/exigimos dela.Porque através da, e com a educação, construímose desenvolvemos uma cidadania consciente,empenhada, solidária, livre e… crítica.Ou, através de um ”qualquer sucedâneo educativovagamente aparentado com Educação”, limita-mo-nos a “fazer” técnicos altamente (?) qualifi-cados (?) na sua área específica do saber ou saber-fazer, eventualmente bem remunerados, mascujo grau de prática cidadã se fica pelo nívelmais acrítico, mais autómato, mais acéfalo,mais… anómalo.Que escolhas fazemos?

de um poder, variado e variável nas suas formase conteúdos, resultante da concretização de umavontade, através do uso de múltiplas capacidadese recursos, em circunstâncias identificadas oufortuitas, e oportunidades criadas ou acontecidas,e que constitui o terceiro vértice de um outrotriângulo:

pODEr

pEnSAmEnTO CríTICO EDuCAçãO

Ora, se a relação entre os três vértices do primeirotriângulo – Autonomia, Independência, Respon-sabilidade – é difícil, quer por impreparaçãoquer por “desabituação” ou mera opção, a relaçãoentre Pensamento Crítico e Educação é exigente,e entre estes dois vértices e o Poder é manifes-tamente conflituante: o Poder necessita de ambospara ser alcançado, mas, uma vez obtido, rejei-ta-os, domina-os, domestica-os – “A educaçãosempre inspirou medo àqueles que pretendemmanter tal como estão as distribuições de podere riqueza existentes” (9).Nenhum destes seis vértices é representado porinstrumentos, ou técnicas, ou tecnologias:“dentro” de cada um deles estão seres humanos,pessoas, com as suas identidades, afectos, sonhos,objectivos, saberes, qualificações, contradições.E hoje, mais dúvidas que certezas. Mas, comSidónio Muralha, sabemo-nos todos (conscienteou inconscientemente) “Pequenos Deuses Ca-seiros” pois, porque impreparados, desabituadosou por opção, não usamos o pensamento críticoem nós, e quando o outro se atreve a fazê-lo…É com o “pano de fundo” exposto acima, que,dentro dos sistemas educativos, devemos abordaro actor que designamos por professor, colocandoduas alternativas como desafio, e aceitando queem ambas, e individualmente cada actor, ossaberes e saberes-fazer estão consistentementeassegurados:1.O actor transmite, bem, os saberes e saberes-fazer oficiais. No entanto, abdica de questionare ensinar a questionar, de usar e ensinar a usaro pensamento crítico.Dependente, este actor é um diligente funcionárioeducativo.

2.O actor transmite, bem, os saberes e saberes-fazer. Não abdica, porém, de os confrontar comabordagens diferentes, hipóteses alternativas,soluções inesperadas, mesmo provocadoras.Não abdica de questionar e de ensinar a ques-tionar, questionando-se a si próprio de modoque o aluno apreenda o conceito e interiorizeque o caminho a seguir por cada um é uma es-colha de cada um e não “emprestada” seja porquem for. Para ele, o pensamento crítico é umfactor identitário.Independente, este actor é perigoso. É um in-surgente. É um revolucionário – não no sentidoideológico mas, bem mais importante e muitomais exigente, no sentido humano da Revolução.Este actor é um professor.Posto o que é tempo de deixar o desafio:A. Que tipo de professor cada um de nós, indi-vidualmente, quer para os nossos filhos, sabendoque o segundo nos exigirá mais no diálogo, tam-bém Educação, Pais – Filhos?B. Que tipos de professor queremos, comomembros de uma comunidade, para os nossosfilhos, sabendo que o segundo os dotará de fer-ramentas capazes de questionarem as nossasresponsabilidades na gestão da comunidade, nodiálogo exigentíssimo entre Passado, Presentee Futuro?C. Que tipo de professor quer o poder político,sabendo que o segundo criará condições paraque o exercício do Poder seja permanentementequestionado nas suas opções, acções e omis-sões?As respostas que dermos a estas questões nãosão, rigorosamente, nada despiciendas quandonos propomos reflectir sobre um Conceito Es-tratégico de Segurança e Defesa Nacional (CES-DN), visando identificar as suas múltiplas ver-tentes, circunstâncias e interacções, e definirpropósitos e acções que perspectivem a construçãode um Futuro comum que nos seja identitário,individual e colectivamente.E a primeira reflexão que nos surge é crucial:Colocamos dentro do CESDN as pessoas quenós somos (ou julgamos, ou pretendemos, ser),cada um de nós com os nossos medos, os nossosmitos, as nossas crenças, os nossos fantasmas,as nossas contradições, mas também as nossascapacidades, os nossos saberes e saberes-fazer,os nossos anseios, os nossos sonhos, os nossosafectos, a nossa vontade de pertença a uma mes-ma comunidade de seres humanos, com uma

EDuCAçãO: uma questão de poder ou uma questão humana?

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56 | O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO | 57LIVR

OS

Aniceto Afonso

O CORONEL DAVID MARTELO acabade publicar um novo livro intitulado“Origens da Grande Guerra”, com osubtítulo “Rumo às trincheiras. Percursopolítico-militar (1871-1914)”, com achancela das Edições Sílabo. Trata-sede uma análise profunda, documentadae lúcida da longa caminhada das naçõeseuropeias em direcção à guerra, comrealce para as contradições, insuficiên-cias e ligeireza dos estudos e das pre-visões que os responsáveis políticos emilitares fizeram da situação, antes dealgumas circunstâncias fortuitaslançarem os povos europeus num con-flito extenso e devastador.Devemos analisar o presente livro doDavid Martelo na sequência da suaobra anterior, constatando a clarapredilecção do autor por assuntos quenos causam perplexidades e interro-gações, não só de natureza históricaou social, mas também do âmbito dadefesa e dos estudos militares.Foi assim com “O Exército Portuguêsna Fronteira do Futuro”, de 1997, pub-licado numa altura em que ninguémparecia aperceber-se das mudançasnecessárias, deixando o Exército forados novos tempos! Nessas circunstân-cias o David Martelo lançou o alerta;foi assim com “As Mágoas do Império”,de 1998, escrito numa época em quePortugal ainda continuava preso aoseu passado imperial (continuará hoje?),parecendo nunca mais acordar paraas novas realidades, para os desafiosque nos chegavam de outros horizontese com novas condições;foi assim com “A Espada de DoisGumes”, de 1999, que tive aliás o pri-

vilégio de apresentar, em que o DavidMartelo nos coloca perante as ForçasArmadas do Estado Novo, no fundo,perante a nossa participação nessahistória recente e o papel que nela osmilitares desempenharam até à suareconciliação com a história, no dia 25de Abril de 1974.Foi ainda assim, com “Cessar-Fogoem África”, de 2001, porque o DavidMartelo, como todos nós, estava cansadodas acusações frequentemente dirigidasaos militares sobre os acontecimentosfinais dos longos processos de desco-lonização, que ninguém queria entendercomo um fenómeno histórico de longaduração, mas apenas como se tudopudesse resolver-se nas acanhadascondições do pós-25 de Abril.Poderá parecer que o David Martelopouco contribui, através deste processo,para o bom nome das Forças Armadas.Devemos entender o contrário. Porquesão estes contributos, esta nova lutade pena na mão, felizmente em con-junto com outros, que ajudam a mantera esperança e a semear novos entendi-mentos da condição militar.Com este novo livro, o autor traz até nósuma reflexão profunda sobre a guerra.O David Martelo explica-nos qual era adisposição política e militar dos diversospoderes, como se teceram as relaçõesdiplomáticas, quais eram os interesseseconómicos que alimentavam as correntesbelicistas, que forças morais as suportarame as levaram à decisão limite.Guerra da liberdade ou guerra da pátria(guerra das nações, como nos diz oDavid Martelo), a verdade é que todospensaram a guerra como uma acçãorápida, fulminante, com a ideia de“passar o Natal em casa”. Contudo,

não fosse o Armistício ter sido assinadoem 11 de Novembro de 1918, e as tropasteriam passado cinco Natais nastrincheiras. Mesmo tendo sido quatro,oito milhões e meio de vítimas ficaramnos campos de batalha, por onde pas-saram mais de sessenta milhões dehomens, com vinte milhões de feridose milhares e milhares de prisioneirose desaparecidos.Podemos agora perguntar-nos: Quaisforam os resultados?A guerra não desatou o nó górdio. Tam-bém não foi a última das guerras. Omundo novo tão prometido não passoude uma grande ilusão. Os povos eu-ropeus, destroçados, embora despertospara novos horizontes, foram-se er-guendo sobre os seus mortos, os seusinválidos, feridos para sempre, feridosprofundamente. Capazes de poderemerguer-se dos escombros ou de mer-gulharem em ajustes de contas.A Grande Guerra não foi a guerra de-cisiva, foi uma guerra de passagem.O que os estrategas pensaram paracinco meses durou mais de três dé-cadas. De facto, só para além da Se-gunda Guerra Mundial, a Europa pôde,lentamente, encontrar um delicadocaminho comum.A Grande Guerra demonstrou como erafrágil a ordem internacional, baseada noequilíbrio de poderes e na rede de aliançastecida por uma complexa e intrincadamatriz de relações entre as nações.O campo de batalha modificou-se. Omundo percebeu a sua nova dimensão.Passámos todos a ser vizinhos.Portugal deixou nos campos de batalhamais de oito mil mortos e mobilizoumais de cem mil homens.Com este livro, o David Martelo abriu

um debate, mas não fechou toda aquestão. A Grande Guerra, cujoprimeiro centenário se aproxima, devedespertar novas curiosidades e vontadede descobrir outras histórias e novasexplicações, de aprofundar investigaçõesou desbravar outros caminhos. Esse ésempre o objectivo de um trabalho deHistória – incentivar e proporcionarvontades de saber mais. E se viermos a percorrer páginas emque possamos acompanhar o sofri-mento, o sacrifício, a valentia e o de-sastre, teremos oportunidade de nosquestionar, não apenas sobre a GrandeGuerra em especial, mas naturalmentesobre todas as guerras (sobre as guerrasque querem pôr fim a todas as guerrase sobre as guerras que previnem outrasguerras); também sobre Portugal e so-bre a Europa; ou sobre o Mundo e amundialização.Para que nunca deixemos de ter pre-sente a interrogação decisiva e perma-nente, perante qualquer toque dastrombetas de guerra. Para que não sejaem vão o cortejo de dramas que a elaestão inevitavelmente associados.Devemos compreender deste modo amensagem do David Martelo aopreparar e publicar este livro que agoraapresenta… Como um alerta, comoum grito, como um desafio! Tambémpor isso lhe devemos estar gratos!

David Martelo, Origens da Grande Guerra

Page 30: O Referencial

O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO | 5958 | O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO

1.º Prémio"arromanches"

Armando IsaacPalácio

FlutuantePedro Borges

revolta…!!!Pedro Borges

2.º Prémio "aqui jazem...", Pedro Borges

3.º Prémio "O Viajante", Ana Maria Isaac

Conc

urso

de

Fot

ogra

fiaOlhar de ViajanteLondres – Normandia – Bretanha – Vale do Loire

Olhar de ViajantePaíses Bálticos – Polónia

Page 31: O Referencial

O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO | 6160 | O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO

gRã – BRETANHA – iRLANDAData – 19 a 30 de Junho de 2013

Circuito e programa:1.º Dia – Lisboa (avião) – Manchester –York - Em horário a combinar, compa-rência no Aeroporto da Portela para em-barque em voo regular com destino aManchester. Partida em direção a York.Jantar. Alojamento.2.º Dia – York – Edimburgo - Visita aocentro histórico com especial destaquepara a Catedral. Passeio, a pé, pelas ruasmedievais. Saída para a capital da Escócia,sede do Parlamento Escocês. Almoçodurante as visitas. Jantar. Alojamento. 3.º Dia – Edimburgo - Início das visitascom especial destaque para o Castelo;Milha Real, principal artéria da zona queliga o Castelo ao Palácio de Holyrood-house, passando pela Catedral de St.Giles e o novo Parlamento Escócia; Paláciode Holyroodhouse. Continuação para acidade nova. Almoço. Tarde livre. À noite,jantar típico, com gastronomia e dançastípicas escocesas. Alojamento.4.º Dia – Edimburgo – St. Andrews –Pitlochry – Inverness - Saída para St.Andrews. Visita com destaque para oprimeiro campo de golfe da história eas ruínas da Catedral de Santo André eda Torre de St Rule’s. Continuação paraPitlochry, conhecida pelas suas destilarias.Almoço. Prosseguimento para Inverness,conhecida como a capital das TerrasAltas da Escócia. Jantar. Alojamento.5.º Dia – Inverness – Loch Ness – FortAugustus – Fort William – Glasgow -Viagem contornando as margens doLoch Ness, a casa do “Nessie”, o famosomonstro. Paragem junto ao Castelo deUrquahar. Continuação para Fort August.Prosseguimento, através das paisagensdos Loch Linnhe e Loch Lochy, para FortWilliam. Almoço. Continuação paraGlasgow, cruzando as margens do LochLomond. Chegada e panorâmica à maiorcidade da Escócia ,destaque para a GeorgeSquare. Jantar. Alojamento.6.º Dia – Glasgow – Stranraer (ferry) –Belfast - Saída em direção a Stranraer epassagem de ferry para o Ulster. Chegadaa Belfast. Panorâmica da capital da Irlandado Norte. Jantar. Após este, passeio, a

pé ao Crown Licor Saloon. Alojamento.7.º Dia – Belfast – Calçada Gigantes –Londonderry – Sligo - Saída com destinoà Calçada dos Gigantes, uma das mara-vilhas naturais da Irlanda. Continuaçaopara Londonderry, a segunda maior ci-dade do Ulster. Almoço durante as visitas.Prosseguimento para Sligo. Jantar. Alo-jamento.8.º Dia – Sligo – Connemara – Clifden– Galway - Saída para visitar a região doConnemara National Park. Visita à Abadiade Kylemore. Continuação pela cidadede Clifden em direção a Galway. Almoçodurante as visitas. Jantar. Alojamento.9.º Dia – Galway – Cliffs of Moher –Bunratty – Dublin - Saída para os Pe-nhascos de Moher. Continuação paraBunratty. Visita ao Castelo. Visita tambémao Bunratty Folk Park. Prosseguimentopara Dublin. Almoço durante as visitas.Jantar. Alojamento. 10.º Dia – Dublin - Manhã inteiramentededicada para visita à cidade. Almoço.Tarde livre para desfrutar da cidade. Ànoite, jantar com danças e música típicasirlandesas. Alojamento.11.º Dia – Dublin (ferry) – Holyhead –Caernarfon – Liverpool - Saída para oporto da cidade e passagem em ferrypara Holyhead. Continuação para Caer-narfon, situada junto ao Estreito de Menai.Prosseguimento até Liverpool. Jantar.Alojamento.12.º Dia – Liverpool – Manchester (avião)– Lisboa - Manhã dedicada à visita da ci-dade com destaque o Museu dos Beatles,a Tate Liverpool, o Museu da Cidade deLiverpool e o Museu Marítimo. Conti-nuação para Manchester e embarqueem voo regular com destino a Lisboa.

RESERVA DA VIAGEM: Os interessadosem participarem nesta viagem devemcontactar a Secretaria da A25A, o maisrapidamente possível, para serem infor-mados das condições e permitir aindafazer a sua reserva, uma vez que se apro-xima o limite da data possível para ins-crições. CANCELAMENTOS: Está incluído nascondições da viagem, um seguro de as-sistência, cancelamento e interrupção.Eventuais situações que não estejam co-bertas por este seguro, a Pinto LopesViagens, apenas cobrará os custos havidosaté à data do pedido de cancelamento,que sejam irrecuperáveis.DIVERSOS: O programa desta viagemtem a partida e chegada no Aeroportode Lisboa; os participantes que estejaminteressados em partir do Porto, devemdisso fazer menção no seu pedido de re-serva, para podermos tratar com a PintoLopes Viagens, a procura da melhor so-lução para satisfação desse interesse;através da Secretaria da A25A, poderãoser solicitadas as informações comple-mentares consideradas necessárias.

SiNgAPuRA – MALACA – TAiLÂNDiA – LAOSData: Outubro de 2013 (previsivelmentea partir da 2.ª quinzena)

Circuito e programa:1.º Dia – Lisboa (avião) Em horário acombinar, comparência no aeroportoda Portela para embarque em voo re-gular com destino a Singapura, via Du-bai. Noite a bordo.2.º Dia –Singapura - Chegada a Singa-pura, assistência nas formalidade de

Viagens da A25A 2013

1.º Prémio“Fantasia chez ali” –

marraquexe, AlfredoSanches Vieira

2.º Prémio “contrastes em essaouira”, Maria Carlota Ramalho

3.º Prémio “dédalo” medina de Fez, Pedro Borges

Conc

urso

de

Fot

ogra

fiaOlhar de ViajanteMarrocos

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Page 32: O Referencial

O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO | 6362 |O REFERENCIAL | JANEIRO- MARÇO

desembarque e transfer ao hotel. Alo-jamento no Hotel Park Regis ou similar. 3.º Dia –Singapura - Visita aos principaispontos de interesse de Singapura. Al-moço durante as visitas. Jantar. Aloja-mento.4.º Dia – Singapura – Malaca – Singa-pura - Saída para Malaca, na Malásia.Visita à cidade, com destaque para asruínas da Igreja de S. Paulo, onde S.Francisco Xavier esteve sepultado, aPorta de Santiago, antiga fortaleza por-tuguesa e o Templo chinês Cheng Hoon.Almoço durante as visitas. Jantar. Re-gresso a Singapura. Alojamento. 5.º Dia – Singapura (avião) – Bangue-coque - Em horário a combinar, transferao aeroporto para embarque em vooregular com destino a Banguecoque.Assistência nas formalidades de de-sembarque e transfer ao hotel. Jantar.Alojamento no Hotel Pullman BangkokG ou similar. 6.º Dia – Banguecoque -Visita de diainteiro à cidade de Banguecoque e aosseus principais pontos de interesse. Al-moço. Após este, continuação das visitas.Visita a Thonburi, ao Royal Barges eao Templo de Dawn. À noite, cruzeiropelo Rio Chão Phaya com jantar a bordo.Alojamento.7.º Dia – Banguecoque - Continuaçãodas visitas a Banguecoque. Almoço du-rante as visitas. Tempo e jantar livresno mercado Asiatique The Riverfront.Regresso ao hotel. Alojamento. 8.º Dia – Banguecoque (avião) – LuangPrabang – Em horário a combinar,transfer ao aeroporto para embarqueem voo regular com destino a LuangPrabang. Chegada, assistência nas for-malidades de desembarque e transferao hotel. Início das visitas para descobertado centro histórico de Luang Prabang.Almoço durante as visitas. Jantar. Alo-jamento no Hotel Xiengthong Palaceou similar.9.º Dia – Luang Prabang – Grutas PakOu – Luang Prabang – Visita ao WatXiengthong. Seguidamente embarca-remos num barco típico de cauda longa,no rio Mekong, para visita às misteriosasGrutas Pak Ou. Paragem na pequenaaldeia Ban Xanghai. Continuação atéà cascata de Kuang Si. Almoço duranteas visitas. Regresso ao hotel. Jantar.

Alojamento. 10.º Dia – LuangPrabang (avião) –Chiang Mai - Saídado hotel, bem cedo,para assistir a umritual religioso úni-co em que os mon-ges saem dos Tem-plos para recolheras oferendas de es-molas. Rgresso aohotel. Pequeno-almoço. Após este, trans-fer ao aeroporto para embarque em vooregular com destino a Chiang Mai. Che-gada, assistência nas formalidades dedesembarque e transfer ao hotel. Jantartípico tailandês seguido de danças típicasda região. Alojamento no Hotel RatillanaRiverside Spa & Resort ou similar. 11.º Dia – Chiang Mai - Visita ao Campode Elefantes de Mae Teang. Passeionas costas de um elefante pelo rio epela selva (aproximadamente 1 hora).Regresso ao campo de treinos e iníciode um rafting pelo rio numa embarcaçãode bamboo. Continuação para a aldeiade Baan Tong Luang, onde visitaremosdiferentes grupos étnicos como osKaren, Lahu, Palong, Hmong e Padong(conhecidas como as mulheres girafa).Almoço durante as visitas. Regresso aohotel. Jantar. À noite, saída para visitaro mercado nocturno, onde pode encon-trar artesanato em madeira, bronze, ce-râmica, entre outros. Alojamento.12.º Dia – Chiang Mai (avião) – Ban-guecoque(avião) - Subida à montanhaDoi Suthep para visita ao templo PrathatDoi Suthep. Visita a Chiang Mai. Se-guidamente iniciaremos um passeiode trishaw com passagem pela PortaWat e Museu do Templo. Almoço. Emhorário a combinar, transfer ao aeroportopara embarque em voo regular comdestino a Lisboa, via Banguecoque eDubai. Noite a bordo. 13.º Dia – Lisboa - Chegada a Portugal.

RESERVA DA VIAGEM E PAGAMEN-TOS: Os interessados em participaremnesta viagem devem contactar a Secretariada A25A, o mais rapidamente possível,para serem informados das condiçõese permitir ainda fazer a sua reserva, cujadata limite é 20 de Maio de 2013.

Os interessados em participarem nestaviagem, devem formalizar a sua reservapor escrito (e-mail, carta, etc.) com in-dicação do nome completo, endereçode e-mail e nº de telefone para contacto. Após esta data, serão informados dosprocedimentos adoptar para a realizaçãodos pagamentos à Pinto Lopes Viagens,em três prestações, cujos montantes edatas de liquidação, serão nessa alturaindicados.CONDIÇÕES DE RESERVA E PRIO-RIDADES: As condições indicadas sãopara um grupo com o mínimo de 20e o máximo de 42 participantes.Caso não seja atingido o número mí-nimo, os preços poderão sofrer aumento,ou mesmo ser anulada a viagem.Caso haja reservas em número superiorao limite máximo de participantes, te-remos de recorrer aos seguintes critériosde prioridade:- 1ª Prioridade: Ser sócio da A25A- 2ª Prioridade: A ordem de recepçãodo pedido de reserva.CANCELAMENTOS: Está incluído nascondições da viagem, um seguro de as-sistência, cancelamento e interrupção.Eventuais situações que não estejamcobertas por este seguro, a Pinto LopesViagens, apenas cobrará os custos ha-vidos até à data do pedido de cancela-mento, que sejam irrecuperáveis.DIVERSOS: O programa desta viagemtem a partida e chegada no Aeroportode Lisboa; Os participantes que estejaminteressados em partir do Porto, devemdisso fazer menção no seu pedido dereserva, para podermos tratar com aPinto Lopes Viagens, a procura damelhor solução para satisfação desseinteresse; através da secretaria daA25A, poderão ser solicitadas as in-formações complementares conside-radas necessárias.

Vamos aprender Bridge! (92)LuíS gALVãO

As convenções são “ferramentas” que visam reforçar a eficácia e a com-petitividade dos sistemas de marcação, resolvendo algumas dificuldadesdo conhecimento mais concreto da mão do nosso parceiro ou da informaçãoa transmitir sobre as características específicas do nosso jogo. Importa éque cada par faça uma escolha cuidadosa, entre as muitas centenas dasexistentes, das Convenções a introduzir no sistema, tendo sempre em atençãoas questões da eficácia e da compatibilidade.

1. CONVENÇÕES1.9 – O SPLINTER

É genericamente atribuída a autoria desta técnica de marcação a DorothyHayden Trucostt, que a terá divulgado em 1964. No entanto parece que jáem 1933, no decurso do 1.º Campeonato do Mundo, o tenente-coronelBeasley, integrando a selecção inglesa e no decorrer do encontro contra aequipa dos EUA, capitaneada por Ely Culberson, terá feito um anúncio quematerializava um verdadeiro “splinter”, o que permitiu atingir a marcaçãode um chelem com apenas 22 PH em linha.É óbvio que a controvérsia sobre a paternidade desta técnica de marcaçãoé apenas aqui citada como curiosidade, importando muito mais a análise ediscussão da convenção em apreço, objectivo que nos propomos atingir.Mas afinal o que é um “SPLINTER”?É uma marcação que informa o parceiro das seguintes característicasespecíficas da nossa mão, num único anúncio:a – Que temos, no mínimo, 4 cartas no naipe marcado, imediatamente antes,pelo nosso parceiro;b – Que detemos uma força, em honras e distribuição, entre 13/15 PDH;c – Que detemos um singleton ou uma chicana no naipe anunciado.E como se identifica claramente que se desencadeou a técnica do SPLIN-TER?A marcação em SPLINTER é muito fácil de identificar pelo parceiro, dadoque é desencadeada pela execução dum “salto sem sentido” que é incon-fundível.

S W N E 1♥ P 4♦ P

ou1♥ P 3♠ P

ou1♠ P 4♥ P

Poderia perguntar-se se a técnica do SPLINTER está limitada ao parceirodo abridor e se não poderá ser utilizada também por este jogador.É óbvio que a sua utilização é extensiva a ambos os jogadores ainda quequando efectuada pelo abridor após uma marcação do respondente feita aonível 1, implique uma força de 18/19 PDH no jogo de abertura.

S W N E SPLINTER1♦ P 1♠ N pelo abridor4♣

Repare-se que se o leilão fosse:

1♦ - 1♠2♣

o abridor anunciava um vulgar bicolor económico. Com:

1♦ - 1♠3♣

indicava a posse dum bicolor em salto.Ao marcar:1♦ - 1♠4♣

está a fazer uma marcação sem nexo, com um duplo salto sem sentido,anúncio que caracteriza especificamente a utilização do SPLINTER.Importará deixar aqui um alerta para o facto do SPLINTER não dever serutilizado sempre que a carta do singleton seja o A ou o R, isto porque a existência dessas figuras no singleton iriam dificultar a avaliação das mãospor parte do parceiro.Quando “ouve” o parceiro anunciar um SPLINTER o ideal na avaliaçãoda mão é de que o jogador não tenha figuras no naipe do SPLINTER, poisque seriam pontos perdidos.Aqui deixamos um exemplo dum leilão com recurso a um SPLINTER quepermite a marcação de um chelem com apenas 25 PH em linha.

S N S N♠RD1092 A8764 1♠ 4♣♥A R104 4♦* 4♥*♦AR53 D972 4ST 5♦♣642 5 6♠ P* CONTROLOS

1.10 – Os 4♣ GERBER

A experiência demonstrou que em leilões do tipo:1ST - 2♣ 1ST – 4ST, 2ST – 4S 1♣ - 1♥2♦ – 4ST, 2ST – 4ST, 2ST – 4ST

a utilização da voz de 4ST, quer pelo respondente quer pelo abridor, comoBLACKWOOD (pergunta de ases) impedia o jogador, que formulara apergunta, de ter acesso a uma outra importante informação que era se oparceiro estava máximo ou mínimo no intervalo de força que anunciara.Para ultrapassar esta lacuna passou a entender-se que a voz de 4ST, nestascircunstâncias, passava a ter um significado de anúncio quantitativo,solicitando ao parceiro que marcasse chelem no caso de estar máximo eque passasse se tivesse uma mão mínima.Ao dar um significado diferente à vulgar utilização da voz 4ST comoBLACKWOOD importaria arranjar uma outra voz que resolvesse o problemado conhecimento do número de ases existentes na linha.A solução foi encontrada com a utilização da voz de 4♣ em salto, que passoua representar um pedido de informação sobre quantos ases detinha o par-ceiro.Perante a pergunta este responderia desta forma:

4♦ - com 0 ou com 4 Ases4♥ - com 1 Ás4♠ - com 2 Ases4ST – com 3 Ases

1.11 – O GERBER MODERNO

Como a maioria esmagadora das Convenções existentes também os 4♣GERBER apresentam várias versões, restando aos jogadores escolherema que julgam mais eficaz ou aquela com que mais se identificam.Aqui vos deixo uma variante conhecida como o GERBER MODERNO eque após o anúncio de 4♣ feito em salto tem o seguinte desenvolvimento:

4♦ - com 0 ou 3 Ases4♥ - com 1 ou 4 Ases4♠ - com 2 Ases4ST – com 2 Ases e com uma boa mão detentora de mais-valias provenientesda existência dum naipe produtor de vasas, do tipo RDV10x, o que podeconstituir uma informação muito importante para o parceiro.

Até ao próximo número.

Viagens da A25A 2013

Exemplosde SPLINTER

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Page 33: O Referencial

HOmEnAgEm A mArquES JúnIOr

Páginas 28 a 43

Exmo. SenhorPresidente da Mesa da Assembleia Geral daAssociação 25 de Abril

PROPOSTA

É por demais conhecida a importância que António Alves Marques Júnior teve emtodo o processo do 25 de Abril, seja na conspiração que nos levou à acção libertadoraseja no período que se lhe seguiu, terminado em 1982, com a consolidação doEstado democrático e de direito.Podemos afirmar, sem receio de errar, que Marques Júnior está, por direito próprio,na galeria dos principais militares de Abril e construtores da Democracia emPortugal. Estamos certos que a nossa História assim o registará.Participante activo na criação da Associação 25 de Abril, de que é o sócio efectivo(e fundador) número 5 (cinco), Marques Júnior, apesar de nunca ter pertencidoaos órgãos sociais, acompanhou e participou sempre na vida da Associação, compermanente disponibilidade para as missões que lhe foram solicitadas.Nunca abandonando os valores e os princípios que nos nortearam no 25 de Abril,Marques Júnior teve uma intensa e permanente vida política e cívica, onde essesvalores eram constante farol na sua actividade.Faleceu, quando desempenhava um importante cargo – presidente do Conselhode Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa – onde constituiuo maior entrave a que os serviços de informações fossem desvirtuados nos seusprincípios e objectivos.Consideramos desnecessário fundamentar mais detalhadamente a nossa propos-ta.Ao conceder a categoria de sócio de honra a alguém, consideramos que a Associação25 de Abril está a honrar essa pessoa, mas consideramos também que a Associação25 de Abril está igualmente a honrar-se a si própria. É esta a nossa profundaconvicção, ao apresentarmos esta proposta.

Lisboa, 16 de Março de 2013

A Direcção

AgRADECiMENTO

Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, como desejariam, a Luisa e a Filipavêm, através deste O Referencial, agradecer a todos os camaradas e amigos domarques júnior as mensagens e o apoio, bem como todo o acompanhamentopermanente, empenhado e muito solidário, que, designadamente através dopresidente da a25a, lhes foi prestado desde o primeiro momento do trágicoacidente que o vitimou, no passado dia 31 de dezembro de 2012. a todos, onosso muito obrigado.

SÓCIO DE

HON

RA