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UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O REFLEXO DA FORMAÇÃO SUPERIOR NO MERCADO DE TRABALHO
BRASILEIRO
ILMA GRAÇA FERREIRA CHAGAS
ORIENTADOR:
PROF. Antonio Fernando Vieira Ney
São Luís
Agosto / 2009
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UNIVERSIDADE CÃNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O REFLEXO DA FORMAÇÃO SUPERIOR NO MERCADO DE TRABALHO
BRASILEIRO
ILMA GRAÇA FERREIRA CHAGAS
Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Docência do Ensino Superior.
São Luís
Agosto / 2009
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Aos meus pais Sebastião Chagas
Neto e Maria de Nazaré Ferreira
Chagas, pela preciosa contribuição na
minha formação pessoal e
profissional.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me concedido o dom da vida e por ser presente constante
na minha vida;
Aos meus pais, por terem mais uma vez me oportunizado vivenciar esta
experiência no âmbito profissional;
Aos meus irmãos, Marcos, Júnior, Marise e Diana; aos meus sobrinhos
João Filipe, Marcos Vinícius, Adônis, Yuri, Ítalo, Eric, Camila e cunhadas Simone e
Silvia Lílian pela felicidade de ter uma família e construir cumplicidade;
À minha tia Maria Lucia Ferreira, pelo apoio, amizade e compreensão não
só durante essa jornada, mas em toda minha vida;
A amiga Neurimar Almeida, pela amizade e relevante contribuição, o meu
mais profundo agradecimento.
Ao Professor Antonio Fernando Vieira Ney pelo acompanhamento e
dedicação na elaboração do trabalho.
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“Aquele que é um verdadeiro
professor toma a sério somente as
coisas que estão relacionadas com os
seus estudantes – inclusive a si
mesmo”.
Nietzsche
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RESUMO
O reflexo da formação superior no mercado de trabalho brasileiro é o foco do
presente trabalho. Discorre teoricamente sobre: a importância da formação superior
no Brasil; o papel da educação superior na formação do trabalhador e educação
superior versus a exigência do mercado de trabalho. A pesquisa desenvolvida tem
como objetivo geral identificar e analisar o reflexo do ensino superior no mercado de
trabalho brasileiro, numa perspectiva de observar o papel das instituições de ensino
superior no processo de formação profissional. Trata-se de um estudo exploratório
de abordagem qualitativa, fundamentada em referencial teórico fruto de pesquisa
bibliográfica.
Palavras-chave: educação superior; mercado de trabalho; formação profissional.
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METODOLOGIA
O processo de pesquisa do trabalho monográfico se deu basicamente com
um amplo levantamento bibliográfico do assunto tema. Nesse sentido, foram
elaborados textos compondo o embasamento teórico necessários na continuação da
pesquisa bibliográfica.
Nesse processo investigativo, a metodologia compreenderá de um
conjunto de princípios, procedimentos, e técnicas necessárias à compreensão e
sistematização do conhecimento sobre a realidade.
A pesquisa será de natureza exploratória e descritiva. Para Mattar (1996),
a pesquisa exploratória visa prover o pesquisador de maior conhecimento sobre o
tema de estudo em perspectiva. É apropriada, portanto, para os primeiros estágios
da investigação quanto à familiaridade, o conhecimento e a compreensão do
fenômeno por parte do pesquisador são, geralmente, pouco ou inexistentes.
As principais características de uma abordagem exploratória são:
compreender o fenômeno sob estudo, desvendando dimensões relevantes nele
envolvidas; a metodologia de coletas de dados é qualitativas, flexível versátil; a
informação buscada é definida apenas superficialmente; a amostra é pequena e
estatisticamente não representativa; a análise e os resultados são igualmente
qualitativos (MALHOTRA, 2001).
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LISTA DE SIGLAS MEC Ministério da Educação e Cultura
USAID United States Agency for International Development
GT Grupo de Trabalho
ABRUEM Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e
Municipais
FURB Universidade Regional de Blumenau
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação
IES Instituições de Ensino Superior
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 09
CAPÍTULO I – UM BREVE OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO......................... 12
CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO
BRASIL................................................................................
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CAPÍTULO III – O PAPEL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA FORMAÇÃO
DO TRABALHADOR ..........................................................
CAPITULO IV – EDUCAÇÃO SUPERIOR VERSUS A EXIGÊNCIA DO
MERCADO DE TRABALHO...............................................
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CONCLUSÃO ................................................................................................. 40
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 42
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INTRODUÇÃO
Dinheiro não traz felicidade, mas certamente não atrapalha. O principal
determinante observável isolado da renda é a educação. Os estudos do crescimento
e os da desigualdade têm nos convencido, mais e mais, da importância da formação
escolar da vida das pessoas.
A obra “Distribuição da renda e desenvolvimento econômico do Brasil” de
Carlos Langoni de 1973, já falava de capital humano. Atualmente, a analogia do
capital humano com outros tipos de capitais é procedente. É verdade que ativos
reais ou financeiros, não ficam desempregados, muito menos tem filhos, ou se
aposentam, mas a comparação dos retornos é válida. Ao fim e ao cabo temos de
colocar nossos ovos em alguma cesta, seja de produtos financeiros, seja na
educação nossa de cada dia.
Se por um lado a sociedade se organiza e cria alternativas para a
realidade que se apresenta quanto aos aspectos de saúde, previdência, lazer e
família, os aspectos intelectuais e intergerenciais sobra a importância da educação
conduz a uma polêmica ainda maior, pois existem grandes divergências entre ensino
público e privado.
Dessa forma, a crescente complexidade das estruturas sociais ao longo
dos séculos levou à criação de instituições que deveriam se responsabilizar por dar
continuidade à produção de conhecimentos constituídos e repassá-los às novas
gerações. A humanidade busca novos paradigmas, é preciso entender a
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necessidade de contribuir para a construção de novos espaços de conhecimento
que levem às grandes transformações, em contrapartida devemos lembra que
educar não é uma tarefa exclusiva da escola; a formação do homem é muito mais
ampla do que apenas aprender os conhecimentos acadêmicos ou familiares, e, sim
ultrapassar o seu individual chegando ao social em que exerce e do qual sofre
influência. Sua atuação como cidadão é imprescindível para as transformações
sociais desejadas.
Nesse contexto, o presente trabalho faz um levantamento de algumas
questões sobre o reflexo da formação superior no mercado de trabalho brasileiro,
com o objetivo de estabelecer uma discussão sobre a importância da formação
superior no Brasil, bem como o papel da educação superior na formação superior,
numa perspectiva de identificar o dilema que se apresenta: de um lado, cada vez
mais profissionais com formação superior; de outro lado, um mercado de trabalho
cada vez mais exigente, mas que não apresenta propostas de valorização da mão-
de-obra qualificada.
Assim, divide-se este estudo em quatro capítulos: no capítulo inicial, um
breve resumo sobre a educação em seus aspectos históricos e sociais, no segundo
observa-se a importância da educação superior no Brasil do ponto de vista geral; no
terceiro discute-se o papel da educação superior na formação do trabalhador com
relação ao mercado de trabalho e aos dias atuais, e no quarto e último capítulo
estabelece-se uma comparação entre as problemáticas inerentes à educação
superior e as exigências do mercado de trabalho.
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As colocações feitas justificam o estudo desenvolvido, bem como sua
relevância e o ponto de partida para outros estudos e reflexões, não tendo
pretensões de esgotar o tema, mais oferecer subsídios para análises cada vez mais
aprofundadas sobre o referido tema.
Enfim, este trabalho é um convite para que se conheça melhor a relação
existente, ou não, entre educação superior e mercado de trabalho e suas possíveis
contribuições.
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CAPITULO I – UM BREVE OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO NO BRASIL
O processo de construção da educação brasileira está diretamente
relacionado ao desenvolvimento histórico do nosso país. Desse modo, falar de
história da educação, no Brasil é refletir sobre a nossa própria evolução histórica.
É sabido que a chegada dos portugueses ao Brasil sob o comando de Pedro
Álvares Cabral trouxe ás nossas terras novos paradigmas. A partir do contato
homem europeu-indígenas novas concepções foram sendo desenvolvidas, tanto na
esfera econômica, quanto na educacional.
Com os portugueses vieram também os jesuítas, religiosos cuja missão era
“salvar as almas” dos seres pagãos que aqui residiam.
A forma encontrada para aproximar esses povos tão distintos foi a catequese,
desenvolvida através do teatro e da música. Esse processo foi marcado pela
aculturação, ou seja, imposição dos padrões europeus em detrimento da cultura
local.
Nesse sentido, a cultura dominante passou a impor sua visão de mundo no
começo da educação, antes oralisada, os costumes e ritos eram passados de pai
para filho nas tribos, e passaram então a seguir as doutrinas da fé católica.
Outra etapa marcante da educação brasileira, ainda no Brasil colônia foi a do
matriarcalismo, que diz respeito à fase em que era responsabilidade das mães a
questão educacional e os filhos em sua grande maioria eram bastardos, filhos de
portugueses com nativos, enquanto os filhos de europeus estudavam na Europa.
A criação de escolas no Brasil só aconteceu logo após a expulsão dos
jesuítas, surgindo a primeira escola pública do país, no período denominado
Pombalino, na figura do Marquês de Pombal, primeiro ministro de Portugal, que só
pensava em melhorar a situação econômica e política brasileira diante das grandes
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potências européias do período. O ensino era feito por professores desqualificados
e o lucro era dividido entre os detentores do poder da época.
Por outro lado, a educação jesuítica não encontrava-se favorável aos
interesses comerciais, difundidos por Pombal, então foi preciso organizar uma
escola que servisse diretamente aos interesses do Estado.
A situação educacional brasileira piorava a cada ano, e só veio a estagnar-se
com a chegada da família real portuguesa no Brasil, onde foi criada a educação
superior brasileira (sendo os maiores privilegiados a elite aristocrática e nobre que
compunha a corte) e o ensino de modo geral ficou dividido em três fases ( ensino
primário e secundário, aulas régias e ensino superior. Com o grande
desenvolvimento cultural e científico ocorrido com a vinda de D. João VI permitiu-se
a ruptura de antigos padrões educacionais, levando o povo brasileiro a discutir mais
abertamente sobre ideologias, pensamentos e ações a serem executadas de acordo
com novos modelos pedagógicos foi nesta época também que o Rei D. João Vi,
desfazendo-se dos seus livros funda a primeira biblioteca brasileira, bem como
novos cursos e disciplinas que irão diversificar a formação de professores, tanto do
lado científico quanto profissional..
Os sistemas educacionais vigentes foram se aperfeiçoando durante os anos
seguintes, mesmo com toda lentidão e imposições das classes sociais mais
emergentes, a educação tradicional foi sendo modificada e o período que marcou o
Império até a República brasileira foram criadas várias escolas e graus de instrução,
como a escolas primárias (pedagogias), Liceus, Ginásios e Academias, ainda a
Escola Normal que de imediato não resolveram a questão da qualidade e a
efetivação de novas perspectivas da educação . No que consiste sobre a evolução
da sociedade brasileira no campo educacional não foram criadas novos sistemas
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educacionais, mas com as novas idéias e pensamentos trazidos de outras
civilizações fez com que o Brasil começasse a pensar em inovações e teorias
diferenciadas daquelas que não tinham sido efetivamente eficazes para resolver os
problemas educacionais e sociais, embora ainda não se tenha visto a educação
como prioridade para se chegar a melhoria de conflitos políticos, sociais e
consequentemente econômicos por quais o povo brasileiro já estava cansado de
presenciar.
A Proclamação da República no Brasil trouxe novos idéias e princípios para o
ensino, várias reformas idealistas foram sendo repassadas para o Mundo e a
introdução de novas teorias e culturas fizeram mudanças nos princípios pedagógicos
e introduziram novas disciplinas como Lógica e Moral e Cívica, em contrapartida
incentivando a população a novos ideais de liberdade o que aconteceu
expressamente no campo das artes e política como a Semana de Arte moderna e as
diversas revoluções estudantis Já se imaginava mudanças rápidas na política
brasileira para que consequentemente a população não viesse mais a sofrer tantas
repreensões e pudesse ter liberdade para dizimar suas idéias e convicções.No
entanto a situação ficou ainda mais preocupante, pois a juventude brasileira foi
criando forças para lutar por seus desejos e o poder político precisou tomar medidas
que favorecessem o poder vigorante, a educação tradicional começava a entrar em
verdadeiro declínio e as reformas estaduais tiveram forças para propiciar a tomada
do poder pelo candidato derrotado nas eleições de 1930, Getúlio Vargas onde seu
governo veio marcar integralmente a história educacional do povo brasileiro.
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A Revolução de 1930 culminou com a introdução do Brasil no mundo
capitalista, daí então o país precisaria urgentemente de profissionais qualificados
para atender as grandes necessidades surgidas, era preciso investir em um novo
modelo educacional, para isso foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública,
com o objetivo de tentar reformar o ensino e trazer prestígio para o atual presidente.
Em seguida foram criados os Conselhos Nacional e Estaduais de Educação,
Estatuto das Universidades brasileiras, que dispõe sobre a organização do ensino
superior no Brasil e adota o regime universitário, dentre alguns Decretos que
influenciaram na organização do ensino brasileiro.Foram publicados alguns livros de
renomados autores como Problemas de Educação (Carneiro Leão), Eduquemo-nos
(José Augusto), na tentativa de reconduzir uma nova concepção e métodos de
ensino.Em 1934 é redigido por um grupo de educadores O Manifesto dos Pioneiros
da Educação Nova, dando novos ares e idéias ao povo brasileiro.
Nos períodos seguintes com a nova abertura política e preparação de mão-
de-obra para o Estado cada vez mais capitalista, são enfatizados o ensino pré-
vocacional e profissional que tirarariam do Estado a responsabilidade educacional, o
período do estabelecimento do Estado Novo pelo então Presidente Getúlio Vargas
faz com que as discussões sobre um novo modelo educacional que venha a
valorizar efetivamente o indivíduo permaneça inerte, ou seja, durante alguns anos
não obteve-se grandes mudanças no modelo educacional, ainda assim foi criada a
UNE União Nacional dos Estudantes, oferecendo apoio as classes estudantis menos
favorecidas. Depois de alguns anos vieram então Decretos-leis que impulsionaram
alguns ramos do ensino, o surgimento do SENAI – Serviço Nacional de
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Aprendizagem Industrial que até os dias atuas tem favorecido a população
oferecendo cursos em diversas áreas técnicas e profissionalizantes.
o mesmo se deu ao SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem comercial, criado
para melhorar o nível dos cidadãos que desejavam uma oportunidade no mercado
de trabalho , criado logo após o Estado Novo.
No entanto, a sociedade fazia exigências cada vez mais precisas para
melhorar a qualidade dos indivíduos e também dos professores. Com a adoção de
uma Constituição de forma mais liberal e democrática, o Governo se viu obrigado a
instituir novas diretrizes para a educação, diante de inúmeras propostas que forma
apresentadas na tentativa de mudar o panorama pedagógico e dar mais liberdade
ao ensino vigente da época.As discussões sobre uma lei nova que viesse a acabar
com o índice de analfabetismo e as evasões escolares, Lei de Diretrizes e Bases da
Educação nacional, marcaram o ambiente político e pedagógico favorecendo a
criação do Ministério da Educação, além de grandes mestres e professores como
Jean Piaget e Paulo Freire que vem contribuindo de forma sistemática para o ensino
atual.
A iniciativa de reformular a educação brasileira entrou em constante
aceleração , mas diante de tantas idéias revolucionárias e democráticas o governo
viva sufocado, receoso que a população, com tantas idéias liberais se revoltassem e
tomassem o poder, então foi estipulado um Golpe militar onde abortou as tentativas
de se melhorar a educação no Brasil.
O período do regime Militar foi um dos mais difíceis para a educação, pois
muitas foram às repressões sofridas pela população, tivemos um longo conflito entre
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sociedade e governo e o Brasil passaram a adotar o regime autocrático, onde o povo
não tinha direito a liberdade de expressão. Houve o então conhecido exílio, onde
muitos educadores passaram a ser perseguidos sob denúncia de difundir ideais
democráticos que iam de encontro ao regime, muitas escolas forma fechadas e
universidades invadidas pela juventude que sonhava com a liberdade e total
democracia brasileira. .Apesar de tantos conflitos, o ensino universitário conseguiu
expandir-se. A UNE foi fechada, mas os estudantes de todo o país não conseguiram
calar diante de tanta injustiça e violência pela quais os estudantes e professores
estavam passando.
No mesmo período foram criados alguns programas para tentar diminuir o
índice de analfabetismo brasileiro, como o Mobral, um programa nacional que visava
o ensino as populações de baixa renda, principalmente da zona rural, mas não
obteve grande êxito;pois muitas foram as denúncias de corrupção e então o mesmo
foi extinto. Foram fixadas também algumas regras para o ingresso nas
universidades.
Os anos do Regime Militar, apesar de todos os conflitos mudaram para
sempre o panorama político, econômico e educacional brasileiro. Cada etapa da
nossa história é formada por períodos que durante muitos anos modificaram a
estrutura educacional brasileira, no entanto ainda estamos sujeitos a constantes
tendências que evidenciarão nossa educação para que se torne mais eficaz e
consequentemente com o advento da chamada Democracia, ou da liberdade dos
nosso sistema político atual o mais correto seria que futuramente tenhamos uma
ampla qualidade de vida para toda a população brasileira.
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É preciso que os educadores brasileiros busquem novos padrões de
avaliação que sejam diferentes dos adotados anteriormente, embora hoje se utilize
algumas ferramentas de acompanhamento e análise educacional como o famoso
“Provão e PCN, ainda não obtivemos grandes êxitos em nossa melhoria das escolas
e universidades. Este é um assunto que precisará de mudanças disciplinadoras que
começarão na base primordial da educação até a entrada do aluno no ensino
superior .
CAPITULO II - A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL
Não podemos questionar a importância da Educação, principalmente a
Educação Superior, pois esta é de fundamental importância no processo de
desenvolvimento e superação da dependência tecnológica das nações.
Observamos que os países que investiram e continuam investindo em
educação, conseqüentemente estão investindo em conhecimento, e assim em
desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia. Assim passam a valorizar este campo
como prioritário e obtêm como resultado a posição entre os países mais
desenvolvidos do contexto de desenvolvimento mundial e consequentemente vêem
a educação superior como primordial para a formação do indivíduo.
Observa-se que a existência de poucos países detentores de alto grau de
desenvolvimento em ciência e tecnologia, os chamados países avançados, contrasta
com os países ditos “menos avançados”, caracterizados por um mercado sujeito às
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influências monopolistas legais e de patentes determinados pelos países que
concentram a capacidade de inovar, detendo a propriedade do conhecimento.
Dessa forma, observamos um esquema assimétrico, onde o cenário
político-econômico daqueles países que detêm políticas científicas e tecnológicas
ditarem as regras do mercado dos países menos avançados, tornando-os a tais
políticas.
Os países da América Latina em geral, dentre eles o Brasil, estão entre os
ditos países menos avançados que participam de um jogo cujas regras são ditadas
pelos Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental, ou seja, os países avançados que
detém o controle cientifico e tecnológico.
No que se refere ao contexto educacional, o Brasil se encontra em
circunstâncias direcionadas a buscar uma superação das etapas básicas do
processo educacional brasileiro. Essa superação necessita de algumas estratégias,
entre elas, a redução das taxas de evasão escolar em todos os níveis escolares;
outra seria a ampliação ou a universalização do Ensino Médio, seja ele propedêutico
ou profissionalizante/técnico; e, principalmente, estabelecer um modelo de
financiamento para manutenção de estudantes na Educação Superior.
O MEC estabeleceu uma meta para ser atingida até 2010, que consiste
em matricular 30% dos jovens na idade entre 18 e 24 anos em cursos de nível
superior. Mas, sabe-se que para atingir esta meta se faz necessário um
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planejamento que conste de definições políticas que realmente sejam compatíveis
com esse objetivo.
Se observarmos o cenário político nacional, identificamos que até o
momento não é o que vivenciamos, pois nos últimos anos, os governos optaram por
um direcionamento à expansão do ensino superior privado, redimensionando os
financiamentos passando a transferi-lo para os alunos.
O ensino superior tem cerca de 4,5 milhões de alunos matriculados, o que
torna necessário a duplicação deste número para, assim, conseguir atingir a meta
prevista pelo MEC (MEC/INEP, 2002). São necessárias várias medidas de caráter
de urgência, que priorize não só o acesso desses alunos ao curso de nível superior,
mas também sua manutenção neste. São apresentadas estratégias essenciais, que
consiste na ampliação do número de vagas nas instituições públicas, bem como a
implantação de programas de financiamento estudantil e bolsas de estudo.
A realidade da educação superior brasileira sempre foi complexa e
bastante desafiadora. Predomina uma situação contraditória no contexto atual, onde
coexistem instituições de alto nível, mas também outras em condições precárias.
Esse contexto não se esgota nessa comparação, pois temos um cenário com
variados perfis de instituições, onde encontramos grandes universidades, mas
também pequenos estabelecimentos isolados, instituições públicas geridas pela
União, por Estados e Municípios e estabelecimentos privados, mantidos por
organizações empresariais, entidades filantrópicas, confessionais e comunitárias.
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No que se refere à produção do conhecimento, observa-se que este
adquire valores a partir do cenário em que se encontra (GUADILLA, 1994). Uma das
matrizes de formação dos valores do conhecimento são as características
econômicas de um país.
E este valor econômico do conhecimento que está impondo modificações
substantivas nas universidades, tanto na formação de profissionais como na
produção de conhecimentos para ganhar uma posição estratégica na nova
configuração econômica de globalização e competitividade (VESSURI, 1994).
Observa-se que pressões externas buscam estabelecer relações mais
estreitas entre as instituições educativas e o setor produtivo, com o objetivo de
promover a transferência de conhecimentos destas instituições para o mercado de
trabalho e, assim, conseqüentemente, a transferência das novas tecnologias da
informação e comunicação, que permitem uma revolução nas formas de produção e
circulação do conhecimento, do setor produtivo para as instituições educativas.
Para o Brasil, que vive uma condição de país periférico, o valor
econômico do conhecimento é mais um fator de produção de desigualdades, já que
o acesso ao conhecimento se dá, fundamentalmente, pela relação de poucas
instituições acadêmicas de cada um dos países pouco avançados com os centros de
excelência dos países avançados. Esse é o esquema que tem predominado nos
processos de internacionalização das universidades de países menos avançados
em geral, acarretando transferências a críticas de conhecimentos e fuga de
cérebros, pela não absorção no mercado de trabalho.
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Não se pode negar a grande importância que adquire o conhecimento,
não só na esfera econômica, mas também, em outras esferas sócio-culturais. Mas
são questionados que tipo de conhecimento seria importante para as nossas
necessidades?
De forma geral, observa-se que a sociedade de hoje encontra-se
fortemente ancorada no desenvolvimento científico e tecnológico, e esta discussão
está presente não apenas nos meios universitários, mas também em vários setores
da sociedade, caracterizando os resultados das relações que se estabelecem entre
sociedade e universidade.
CAPITULO III – O PAPEL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NA FORMAÇÃO DO
TRABALHADOR
A instituição escolar, ao longo dos anos, vem sendo utilizada pela
sociedade capitalista como instrumento de transmissão, ao futuro trabalhador,
somente do conhecimento considerado necessário para a continuação do processo
de produção em benefício da classe dominante. Mas, essa instituição, mesmo que
seja um elemento determinado por essa sociedade, não deixa de influenciar a
mesma, podendo tornar-se um instrumento importante e decisivo no processo de
transformação da sociedade capitalista.
Segundo Saviani (2003b, p.137) no contexto do modo de produção
capitalista, o conhecimento sistematizado e a ciência, se transformam em força
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produtiva, isto é, em meio de produção. É aí que surge uma contradição do
capitalismo: se o conhecimento é um meio de produção, ele deveria ser uma
propriedade privada exclusiva da classe dominante; no entanto, o trabalhador não
pode ficar totalmente desprovido do conhecimento, porque sem ele não terá como
produzir, trabalhar e acrescentar valor ao capital.
A partir do pensamento pedagógico de Dermeval Saviani, e sua teoria
educacional Crítica dos Conteúdos, também chamada por ele de Pedagogia
Revolucionária, a escola pode e deve engajar-se na luta contra essa marginalização
do conhecimento aos trabalhadores, garantindo-lhes um ensino de melhor qualidade
possível nas condições históricas atuais, evitando que o conhecimento seja
apropriado e articulado aos interesses da classe dominante.
Dessa forma observamos que “o dominado não se liberta se ele não vier a
dominar aquilo que os dominantes dominam. Então, dominar o que os dominantes
dominam é condição de libertação” (Saviani, 2003a, p.55). Só dominando os
mesmos conteúdos culturais da classe dominante, é que os trabalhadores poderão
fazer valer os seus interesses, utilizando-os em função do bem comum.
Neste caso, estaremos refletindo especificamente sobre o rumo ao qual
tem se direcionado a educação superior no Brasil mediante as reformas e mudanças
pelas quais tem passado, procurando compreender a lógica de sua expansão e a
sua inclusão no processo de mercantilização da educação.
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Tratando do contexto brasileiro, torna-se necessário um resgate histórico
do papel da formação superior, com o objetivo de explanar a ampliação do papel do
o ensino superior na sociedade, dessa forma, torna-se necessário um histórico da
educação no país.
O período marcado pela dominação militar no Brasil é a fase em que o
capitalismo mundial vivenciou o seu auge, onde o desenvolvimento era considerado
uma meta principal para a condição de progresso do país, e é desta maneira que a
educação passa a desempenhar um importante papel.
Na função de gerir e promover o sucesso do projeto político de
desenvolvimento, ela passa a exercer a função de “aparelho ideológico do Estado”,
através da formação de mentalidades e de recursos humanos (a mão-de-obra). Nos
diversos níveis da educação, podemos perceber a ideologia desenvolvimentista
presente, objetivando a formação de trabalhadores capazes de produzir mais a um
custo menor. Investe-se no desenvolvimento das inovações tecnológicas e adota-se
uma perspectiva economicista em relação à educação, colocando o planejamento
desta para ser exercido por economistas.
Dessa maneira, a educação ganha uma significativa responsabilidade pelo
sucesso do projeto econômico e social do país. Portanto, juntamente com o ganho
de tal importância, o Estado passa também a exercer um severo controle político-
ideológico na educação, principalmente no âmbito do nível universitário, onde
grupos ligados ao novo regime instaurado buscavam vincular o ensino superior ao
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mercado e ao projeto político de modernização de acordo com os requerimentos do
capitalismo internacional.
A educação teve que se ajustar à ruptura política ocorrida com o golpe e,
assim, durante o governo militar ela teve como atribuição a função de formar o
capital humano, estando vinculada ao mercado de trabalho, e moldada pela
ideologia desenvolvimentista e de segurança nacional. Durante esse período, as
políticas públicas para educação eram associadas a discursos de “construção social”
e a proposta de fortalecimento do Estado, que por sua vez foi reorganizado visando
a atender os interesses econômicos vigentes.
Se o Estado foi reorganizado a Educação também precisava se
reorganizar, e foi desta forma que se procurou adaptar o sistema educacional aos
imperativos de uma concepção econômica de desenvolvimento, transformando
educador e educando em mercadorias que, se forem bem investidas e moldadas,
darão grandes lucros (SHIROMA et al, 2002).
Com o avanço e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, a
necessidade de mão-de-obra qualificada ampliou-se juntamente com a necessidade
de expansão da educação escolar.
No que tange ao ensino superior, esse se expandiu grandemente,
principalmente o de caráter privado que recebeu considerável incentivo do governo,
até mesmo através de verbas públicas; em 1973, chegaram a receber 39% dos
recursos públicos do ensino superior (CUNHA, 1988, p.74).
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O ensino superior também se tornou uma relevante estratégia para a
reprodução e ampliação da chamada classe média, considerada de suma
importância, como mercado consumidor no modelo de desenvolvimento econômico
da época. E desse modo “era necessário despolitizar o campo acadêmico,
neutralizar as ações de contestação do movimento estudantil, ligado a organizações
populares, e mantê-lo sob rígido controle” (GERMANO, 1993, p.104).
As instituições de ensino superior no Brasil sofreram profundas
fragmentações em sua organização interna; as universidades passaram a ser um
problema constante, os militares partiram para a ação direta de intervenção, e para
isso foi promulgado o Decreto nº 62.024, em 1967, que instituía uma comissão
especial para sanar esses “problemas”.
Nesse período o ensino superior sofreu várias influências norte-
americanas; o governo da época acreditava que, para modernizar o ensino superior
brasileiro, tinha que se basear no modelo norte-americano de universidade, para
isso foram fornecidas 3.800 bolsas de estudos nos Estados Unidos da América para
brasileiros, só no período de 1965/70 (todas, concedidas somente pela United States
Agency for International Development – USAID).
Vários acordos para o ensino superior foram feitos entre a USAID e o
Ministério da Educação e Cultura (MEC), sendo os cursos de pós-graduação,
criados na época, os maiores “beneficiados”, mas o maior acordo feito foi em junho
de 1965 e ficou conhecido como o convênio MEC-USAID, que visava organizar uma
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equipe de assessoria ao planejamento do ensino superior, reunindo técnicos
brasileiros e norte-americanos.
A “USAID encarava o ensino superior como elemento da formação de
recursos humanos e estes como meios para o aumento da produção industrial e da
produção agrícola” (CUNHA, 1988. p.168); também era importante estar no controle
deste nível de ensino, pois é nele que se forma a maioria dos dirigentes do país.
Para a mudança do modelo universitário vigente, era necessário modificar
a legislação que regulava este setor. Então, em 2 de julho de 1968, é baixado um
decreto presidencial que instituía um Grupo de Trabalho no MEC, onde os 11
componentes desse grupo foram designados pelo presidente-general Artur da Costa
e Silva, que estabeleceu um prazo de 30 dias para que o GT apresentasse um
projeto de reforma universitária. O grupo iniciou o seu trabalho baseando-se nos
estudos produzidos pelo convênio MEC-USAID e pelo Relatório Meira Mattos.
É importante relatar que a reforma universitária era uma luta de
estudantes e de alguns professores, que não tiveram uma parte de suas propostas
atendidas; o Governo, sob pressões de tendências desenvolvimentistas de âmbito
nacional e internacional, resolveu tomar a liderança, até mesmo para assegurar o
controle e a ordem; assim eles poderiam modernizar o ensino superior, como diz
ROMANELLI (1986) sem romper com antigas tradições, nem ferir interesses
conservadores, e, mais uma vez em nossa história política, o interesse social era
substituído pela decisão de poucos.
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É necessário dizer que o governo militar não considerou necessário editar
uma nova lei de diretrizes e bases por completo, por isso modificou somente o
ensino universitário através da Lei 5.540/68, e mais tarde o ensino primário e
secundário através da Lei 5.692/71.
Com a promulgação da Lei 5.540, em 28 de novembro de 1968, profundas
mudanças aconteceram no ensino superior. A lei exigia que este devesse acontecer
somente em universidades (baseadas no tripé ensino-pesquisa-extensão), sendo
ministrado em estabelecimentos isolados (como faculdades) somente em casos
excepcionais. Sabemos que não foi isso o que na realidade aconteceu, na verdade
foram as universidades que se tornaram excepcionais.
Diante de toda a expansão desenfreada do ensino superior privado, o
número de graduados aumentou e o título acadêmico perdeu a grande importância
que possuía anteriormente, agora existia um “exército de reserva” diplomado sem
emprego e que começava a questionar a qualidade do ensino recebido,
pressionando o Governo para envolver-se nessa discussão.
Dessa forma, a lógica do mercado capitalista mais uma vez é atendida,
agora há um exército de força de trabalho bem qualificada que não teve a sua
mobilidade social adquirida através da obtenção de empregos, já que as enormes
diferenças salariais continuam ampliando a concentração de rendas nas mãos de
uma minoria parcela da população.
29
Nessa mesma lógica, observa-se que a qualificação da mão-de-obra
aumenta a produtividade, mas não aumenta a quantidade de contratação de
trabalhadores, o que colabora para o aumento da exploração do trabalhador e,
conseqüentemente, da mais-valia.
O Brasil, por volta do final do regime militar, encontrava-se em uma grande
crise, tanto financeira, quanto educacional, onde a 60% da população brasileira
estava abaixo da linha da pobreza, o que evidenciava uma extrema necessidade de
mudança no modelo político vigente.
Com esses dados podemos perceber que a educação não foi capaz de
promover todo o desenvolvimento esperado pela sociedade brasileira e apregoado
pelo governo, tornando-se agora inevitável a necessidade de se redirecionar a
legislação educacional.
Atualmente, cerca de 4,5 milhões de alunos estão matriculados no Ensino
Superior. Assim, para atingir a meta anteriormente citada é necessário, ainda, no
mínimo, duplicar este número. Como? A Educação Superior, em especial se a opção
for pela qualidade, não é barata. Por outro lado, os níveis médios de remuneração
das famílias brasileiras são absolutamente incompatíveis com a transferência de
responsabilidades de financiamento da Educação Superior, ora vigentes.
É urgente, portanto, a adoção de uma política agressiva que permita não
só o acesso, como também a manutenção dos alunos no ensino superior. As
estratégias essenciais passam pela ampliação de vagas nas instituições públicas e
30
pela institucionalização de programas de bolsas de estudo e financiamento
estudantil.
Nesta direção, a Associação Brasileira dos Reitores das Universidades
Estaduais e Municipais (ABRUEM), entidade que representa instituições com cerca
de 600 mil alunos matriculados, apresentou ao Ministro da Educação uma proposta
viável de criação de cerca de 200 mil novas vagas nestas universidades num
período de cinco anos.
O contexto da sugestão apresentada ao Ministro prevê a transferência de
R$ 1.500,00 aluno/ano para estas instituições, recurso este oriundo da retenção de
parte do pagamento das dívidas dos estados e municípios à união. Pela proposta,
apenas como exemplo, a FURB poderia criar 4 mil vagas gratuitas ou quase
gratuitas através de bolsas integrais ou semi integrais. O MEC já manifestou sua
posição favorável à proposta, dependendo agora, de decisão do Ministério da
Fazenda e do Presidente da República.
Esta não é, sem dúvida, a solução definitiva para a redenção do ensino
superior no Brasil. No entanto, de forma objetiva e concreta, representaria um salto
de qualidade na democratização do seu acesso.
31
CAPITULO III – EDUCAÇÃO SUPERIOR VERSUS A EXIGÊNCIA DO MERCADO
DE TRABALHO
O homem, como ser do universo, constrói a sua existência na capacidade
maior ou menor de dominar esse mesmo universo. É pelo construir, reconstruir e
encontrar novas formas de se impor ao meio ambiente que os humanos chegaram a
estágios mais complexos e alcançaram novos instrumentos de equilíbrio na
natureza. O trabalho faz parte da essência do homem, quer entendido como castigo
divino – comerás o pão com o suor do teu rosto – ou como instrumento de auto-
realização.
O trabalho evoluiu de processos simples e de maior expressão individual
para processos altamente complexos e impessoais. Observa-se que essa
tecnificação geral da existência se fez presente em todas as manifestações da
atividade humana. A tecnologia veio provocar uma nova abordagem do homem
dentro das relações do trabalho e uma série de reinterpretações do próprio
fenômeno educacional.
Não é nova a tentativa de naturalizar aspectos qualitativos do trabalho concreto com o objetivo de obter referências que possam ser dedutivamente utilizadas na racionalização das atividades de trabalho, do processo educacional e da qualificação profissional, tendo em vista ajustar as características dos indivíduos às chamadas demandas do setor produtivo. (MACHADO, 2002, p. 255)
Nesse contexto, apesar de não existir indicadores confiáveis que apontem
algum tipo de conclusão, observa-se que a pessoa melhor instruída participa e,
compartilhando do patrimônio cultural da humanidade, mantém-se informada,
integra-se à sociedade e dispõe de recursos para se aperfeiçoar e se desenvolver.
32
O tipo de instrução recebida por um indivíduo, também pode ser
apresentado como uma questão determinante que age sobre os diferentes estratos
sociais, apresentando-se como um dos caminhos de ingresso a um determinado
posto de trabalho. Outro fator determinante é o não alcance de determinados níveis
escolares, que limita as perspectivas de emprego. O que se revela, são
determinados estereótipos impeditivos de acessos ao mercado de trabalho, diante
do rigor com que se relaciona o processo seletivo a níveis de escolaridade atingidos
pelas pessoas.
Estudar é fundamental para valorizar o passe no mercado de trabalho. Essa é a dica para quem quer garantir sua empregabilidade - tanto para o operário, que acabou de entrar no curso técnico, quanto para o estudante de Engenharia, calouro do Ensino Superior. E para isso, você precisa fazer o que gosta. Escolher, na imensa gama de profissões existentes, aquela com que você mais se identifica. Mas nem só de vocação vive um profissional bem sucedido. É necessário que o estudante tenha uma boa formação, em uma instituição de qualidade. Além de um "perfil" determinado, em que alie habilidades e competências, domínio de línguas estrangeiras e informática, boa comunicação, engajamento em projetos sociais [...] (www.cieerj.org.br acessado em 20.04.06)
Essas problemáticas sociais aliadas ao forte sintoma recessivo do
emprego, explicam o significativo número de pessoas de nível superior e médio que
ocupam funções para as quais não necessariamente precisavam possuir toda uma
bagagem de conhecimentos adquiridos. Disto advém que para as camadas de
apenas 3 a 4 séries escolares poucas opções de trabalho são oferecidas no setor
organizado, restando, apenas, algumas ocupações marcadas por preconceitos
históricos.
33
As interpretações da relação trabalho, emprego e educação são muitas.
Claudio Salm (2002) estudando o fenômeno afirma que, a seu ver, a raiz do
problema da educação está na sua crescente desvinculação do mundo do trabalho e
não na subordinação da escola aos interesses da empresa.
Olhado sob esse prisma de subordinação, realmente cabe questionar até
que ponto a educação formal deve ser planejada para responder aos interesses do
mundo empresarial. De outro lado, não parece defensável que a educação
desconheça e se afaste das relações do trabalho, de sua complexidade, significado
e importância.
O mercado de trabalho vem sofrendo profundas e rápidas transformações motivadas, dentre outras causas, pelo desenvolvimento tecnológico assim como pela crescente globalização da economia que impõe às organizações novos padrões de gestão da produção, de pessoal e de relacionamento com os consumidores, fornecedores e com a sociedade em geral. Em decorrência desse fato, buscam fazer todo tipo de ajuste e de reengenharia necessário enquanto alternativa para manter a competitividade e a sobrevivência organizacional. Observa-se, contudo, enquanto fenômeno mundial, um processo de crescente dispensa de funcionários gerando uma legião de desempregados, sacrificados em nome da preservação e do equilíbrio financeiro dessas organizações e do modelo econômico vigente. Essa situação tem contribuído de maneira acentuada para a desumanização das relações sociais na medida em que inúmeros postos de trabalho estão sendo extintos, principalmente aqueles que exigem menor grau de especialização. São milhares de trabalhadores que, ao ficarem sem emprego, e por não terem o grau de escolarização e de qualificação profissional adequado às mais novas exigências, são excluídos do sistema produtivo. (CANEO, 2006, Disponível em: www.proex.reitoria.unesp.br)
O que se comprova na realidade das empresas de comércio e serviços é
que, na maioria dos postos de trabalho, as pessoas possuem níveis escolares
satisfatórios. Nas empresas industriais as exigências de escolaridade são menores,
provavelmente deve ser pelo fato de que, na indústria, as ocupações exigem menos
34
da capacidade de pensar, sendo estruturadas em linha de produção e onde o uso
das máquinas e das mãos explica o pouco uso da capacidade de pensar.
Parece um tanto difícil se chegar a qualquer conclusão nas relações atuais
de educação e trabalho. Contudo, é de muita importância que se análise o
comportamento do sistema educacional e que se procure descobrir de que forma a
sociedade pode responder às distorções comprovadas de imensos contingentes de
pessoas não alfabetizadas, semi-analfabetos e evadidas da escola e que,
naturalmente, têm de ingressar no mercado produtivo. Os críticos da educação,
acertadamente, desvelam a questão crucial. A preparação para o trabalho, o
treinamento, o ensino profissional escondem uma questão maior que é o
barateamento da força de trabalho, a fragmentação ocupacional e o alinhamento do
trabalhador às descrições de tarefas e perfis estabelecidas pelo sistema produtivo.
O Ensino Superior têm passado por um amplo processo de reestruturação
de cunho gerencialista, acarretando vários tipos de mudanças no âmbito
educacional. Como exemplo, temos a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, de nº 9.394/96, que representa um exemplo desse novo processo, já que
por sua vez é uma lei minimalista, flexível, genérica e contraditória por possuir duas
tendências totalmente distintas e oscilar entre elas.
Por um lado, há uma tendência centralizadora, e, por outro lado, existe
uma tendência descentralizadora. Logo em seu artigo 2º, a lei transfere a
responsabilidade de prover a educação em primeiro momento para a família
deixando esse dever em segundo plano para o Estado, o que, de certa forma,
35
contradiz a Constituição Federal que responsabiliza primeiramente o Estado. Assim,
a LDB dá uma base legal para que uma futura série de reformas seja fundamentada
de acordo com os princípios defendidos pelos organismos multilaterais, como o
Banco Mundial.
Dessa forma, os organismos multilaterais sugerem a distinção entre as
universidades de ensino e de pesquisa, acreditando que esta deveria ser uma
minoria, possibilitando, portanto, a reafirmação da estrutura dual no ensino.
Essa proposta de criação de dois modelos distintos de universidade é para
adequar ainda mais o ensino superior às exigências do mercado. As “universidades
de ensino”, meras repassadoras de conhecimento, ficariam voltadas somente para o
ensino e destinadas para a maioria da população, já que o mercado exige mão-de-
obra cada vez mais qualificada e em um menor espaço de tempo. Para este tipo de
ensino, a LDB criou os cursos seqüenciais de nível pós-médio e de curta duração
(com dois anos de duração aproximadamente), encontrando-se, não por acaso, a
maioria deles nas IES privadas.
As universidades de ensino, então, passam a atender a lógica do mercado
capitalista e não ao trabalhador, mais uma vez, pois este com sua especialização
fragmentada, oriunda desse sistema de ensino que não o prepara para mantê-lo no
mercado, acaba se encontrando em certo momento com sua preparação profissional
em obsoleto devido à avançada tecnologia, tornando-se mais um desempregado a
compor o “exército de reserva” tão necessário para o aumento do lucro das
empresas capitalistas.
36
Enquanto isso, as “universidades de pesquisa”, destinadas para uma
pequena parcela da população, estariam desempenhando a função de promover o
ensino, a pesquisa e a extensão, em suma, estariam produzindo o conhecimento.
Esse tipo de ensino, sim, seria ministrado nas universidades que até hoje são
pouquíssimas.
Nesse contexto, identificamos que o ensino superior virou território de
caça dos empresários do ensino, que vêm procurando adequar a universidade ao
padrão de acumulação capitalista consagrado pelas classes dominantes, com base
em um modelo econômico internacionalizado, concentrador e excludente, somando-
se à procura de mão-de-obra qualificada, mas barateada, devido à grande oferta
destas.
Parecem definitivamente superadas as teorias e a variada literatura em
torno da idéia do capital humano. Definir composição ocupacional, investirem mão-
de-obra, prever necessidades de formação e esperar taxas de retorno deixaram de
ser a preocupação central. As influências dessas teorias alteraram substancialmente
o papel definido para a educação. Impulsionadas por essa corrente, Leis de Ensino
foram aprovadas e imensos debates passaram a ocupar os espaços dos
educadores. Pelo que temos conhecimento, nunca se produziram tantos trabalhos
de análise e crítica da educação e nunca tantas pesquisas foram realizadas.
A reforma de ensino, mais precisamente a Lei 5.692/71, forçou a tomada
de posição dos educadores e veio a comprovar, segundo Cláudio Salm (2002), “que
as organizações empresariais não têm qualquer demanda específica ao sistema
37
formal da educação, principalmente quando se trata de profissionais de nível médio”.
E provou também, segundo o mesmo autor, a falácia da escassez de mão-de-obra
qualificada que sempre se prestou a todos os propósitos.
Parece verdade incontestável que as oportunidades ocupacionais que se
abrem nem sempre estão diretamente relacionadas com a formação técnica. Por
outro lado, pesquisas revelam o interesse crescente das empresas com a
escolaridade básica e geral de seus novos empregados e elas mesmas estão
assumindo o papel de treinadores da mão-de-obra.
O fato nos obriga às seguintes reflexões: primeira, a considerar pelos
dados da pouca eficiência do sistema regular, grande parte da população brasileira
ficará sem acesso ao trabalho organizado, já que poucos atingiram o nível mínimo
de escolarização para superarem o processo seletivo. Se as empresas efetivamente
estão selecionando pela escolaridade básica, está se criando um lamentável sistema
discriminatório e que, até certo ponto, está sendo incentivado pelos que se opõem à
seleção por competências técnicas e ao próprio desenvolvimento dessas
competências; segunda, a reconhecida escassez de mão-de-obra dos setores
organizados da economia não alterou e nem pode alterar a dimensão técnica do
trabalho. As habilidades aplicadas ao trabalho continuarão existindo no formal, no
informal, nas atividades domésticas se pessoais ou em qualquer lugar onde se
precisa de ação humana.
O foco da questão reside no tipo de aprendizado a que se submete o
treinando. Como mostram Castro e Souza (1974), a questão é do “aprender a fazer”
38
e do “aprender a aprender”. Realmente as instituições de formação profissional se
preocupam muito mais com o aprender a fazer, que é um tipo de educação voltada
para o domínio de operações físicas e mentais com ênfase no desempenho de
tarefas.
A ótica é invertida quando se trata da educação humanista. Contudo,
essas distinções são apenas teóricas. Deve se buscar o verdadeiro ponto de
equilíbrio entre as duas tendências e repudiar severamente o fazer mecânico,
reflexão, cabe à sociedade brasileira, em geral, propugnar pela universalização da
educação fundamental e pelo acesso de toda a população a níveis mais elevados no
processo educacional.
A profissionalização ou a preparação para o trabalho deve ter um caráter
complementar e optativo em nível de decisão e de escolha consciente dos
indivíduos e não comovem acontecendo, forma escapatória e discriminativa
oferecida aos evadidos do sistema de educação geral e que buscam, na ocupação,
um recurso de sobrevivência num mercado a cada dia menos receptivo e mais
exigente.
Ser ou não ser, esta é a questão. A frase célebre se aplica muito bem
neste ponto da análise. As instituições de ensino superior atingiram um ponto crítico.
Formação profissional passou a ser um termo profundamente discutível e não bem
aceito. Substitutivos foram sendo criados na expectativa de se quebrar a frieza da
relação homem-profissão. Assim, pensou-se em desenvolvimento profissional,
39
preparação para o trabalho, orientação para o trabalho, preparação para o emprego,
dentre outros.
Com efeito, o aprofundamento na compreensão da realidade institucional
veio a exigir uma reinterpretação no modo de ver essa realidade. A realidade se
configura sem emprego, com baixos salários, pouca escolaridade da população,
nenhuma organização social e muita mobilidade ocupacional, se pensarmos apenas
nos indicadores mais evidentes. A internalização desses novos conceitos de
formação profissional se faz importante, mas deve refletir se na prática e nas
posturas técnicas que serão assumidas ou, então, se estará mudando o rótulo do
mesmo produto.
De alguma forma, o ensino brasileiro ainda reproduz os modelos das
escolas profissionais, desconhecidas e estigmatizadas pela maioria dos educadores
brasileiros. Até então, não se observava a preocupação dos estudiosos com as
inadequações e vícios do sistema de formação profissional. Talvez que nesta
indiferença, funcionassem determinados mecanismos preconceituosos.
A verdade deve-se reconhecer, é que a profissionalização ainda se
encontra presente na sociedade brasileira, apesar de toda uma negação da
formação profissional, pois a formação superior ainda é uma escolha para uma
carreira promissora, numa perspectiva de garantir um futuro tranqüilo e seguro
financeiramente..
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CONCLUSÃO
Compete, ao final desta pesquisa, considerar que o estudo exposto tem
como objetivo identificar os reflexos da formação superior no mercado de trabalho
brasileiro.
No que se refere à relação existente entre a formação acadêmica e o
exercício da profissão, percebeu-se que o exercício profissional não se encontra em
sintonia com a formação que muitos acadêmicos vem recebendo, pois o que
conseguimos observar é que o mercado não se encontra oportuno para a
valorização da mão-de-obra especializada e qualificada.
Nesse contexto, identificamos como conseqüência da incerteza e da
imprevisibilidade que predomina no mercado de trabalho, onde a relação entre a
escolha da profissão, a formação, e a viabilização de emprego é cada vez mais
precária e incerta. Os indivíduos cada vez mais se confrontam, ao longo da sua vida
ativa, com problemas relacionados com o ingresso e permanência no mercado de
trabalho.
Observa-se que este aumento da incerteza é gerado pelo itinerário
profissional, onde a orientação escolar e profissional enfrenta as dificuldades da
construção do projeto de vida, pois muitas pessoas recém-formadas se deparam
com oportunidades profissionais na qual não precisavam ter estudando tanto para
exercê-las, almejando ocupar, futuramente, o cargo ou a posição na qual realmente
foi preparado, ao longo de sua trajetória acadêmica, para exercer. Nesta
41
perspectiva, transição para a vida ativa já não deve ser encarada como um
acontecimento ocasional, que se esgota num ato único de escolha, mas sim como
um processo que se desenrola ao longo do ciclo de vida do indivíduo.
42
REFERENCIAS
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