O Ritual Umbandista, As Giras
-
Upload
sebastian-canejas -
Category
Documents
-
view
20 -
download
0
description
Transcript of O Ritual Umbandista, As Giras
O Ritual Umbandista, As Giras
por Ligia Cabús
Umbanda é a religião mais genuinamente
brasileira que existe. Enquanto o Candomblé possui uma raiz puramente africana a umbanda
sintetiza também elementos da cultura europeia (espiritismo) e a religiosidade indígena.
Para conhecê-la é importante conhecer o significado de algumas palavras e termos
importantes para em seguida entender como funciona a Gira:
Amacys: Banhos e macerados de ervas que servem para a purificação, dissipação de
energias negativas, curas físicas e espirituais.
Congá: é o santuário ou altar da Umbanda que reúne uma enorme quantidade de objetos:
imagens, de santos católicos incluindo Jesus Cristo, pretos velhos, caboclos, e não seria de
admirar se ali também fossem colocadas imagens de deuses hindus [e quem sabe, até,
miniaturas de Harry Potter ou Papai Noel...]; velas, flores e até símbolos nacionais, como a
bandeira do Brasil.
Erós: segredos
Gira de Umbanda: é um termo cujo significado é sessão umbandista, com cânticos, danças,
rezas e passes magnéticos fluidificados. As giras internas são fechadas para os que estão se
iniciando na religião, desenvolvendo a mediunidade; as giras externas, abertas ao público,
destinam-se à promoção de curas e resolução dos mais diferentes problemas.
Guias: São colares que funcionam como amuletos, confeccionados com materiais
magnéticos, por suas propriedade físicas ou su
Umbanda é a religião mais genuinamente brasileira que existe. Enquanto o Candomblé
possui uma raiz puramente africana a umbanda sintetiza também elementos da cultura
europeia (espiritismo) e a religiosidade indígena. Para conhecê-la é importante conhecer o
significado de algumas palavras e termos importantes para em seguida entender como
funciona a Gira:
a força simbólica, como cristais de rocha, sementes, conchas do mar, fios de cobre, algodão
ou alpaca. Servem para proteger os mediuns contra ataques de energias negativas. Não é o
número de guias que garante a eficácia do recurso: uma só guia eficientemente imantada é
suficiente para cumprir o objetivo a que se destina. As guias de miçangas coloridas têm
apenas valor simbólico: funcionam como um placebo, "muleta psicológica" [PARRA].
Mironga: magia
Tronqueira: Casa de Força do Guardião, que na Umbanda é um Exú, é instalada na porta
das Tendas de Umbanda: uma casinha de alvenaria onde são colocados materiais para
fixação e desagregação de energias: positivas e negativas, respectivamente, oferendas
destinadas a satisfazer ao Exú Guardião. Entre esses materiais destacam-se a água,
defumadores, velas e aguardente. O aguardente [cachaça mesmo] serve para que o "Exú
chefe da casa e para que todos os Exús possam haurir [absorver] esse elemento e fazer
vibrar suas poderosas correntes higienizadoras..." [PARRA].
Pemba: Calcário margoso, caotim, espécie de gesso. Possui largo emprego na Umbanda. A
pemba é obrigatoriamente encontrada em locais onde há liturgia propiciatória da abertura
dos caminhos [Áscar Ribas. Izomba, p 132, Luanda: Tipografia angolana, 1965]. Pembas de
diferentes cores são usadas para marcar ou traçar os pontos sobre o solo ou sobre tábuas de
madeira. Também podem ter uso corporal e em outros locais. As cores obedecem às relações
simbólicas das entidades: branco para Oxalá; verde, Oxóssi e caboclos; azul e vermelho,
Xangô; preto e vermelho, Exu; vermelho, Ogum, etc.. As pembas são adquiridas em
embalagens individuais - como pequenos bastões. Pemba também é preparado em pó de
diferentes materiais. O pó é usado soprado ou colocado em locais especiais, sobre objetos e
pessoas. Para fazer o pó de pemba são utilizados: penas, ossos, raízes, frutos, sementes,
chifres etc.. [LODY, p 291]
Pontos Cantados: são cantos cuja entonação, pretendem os umbandistas, geram as
freqüências vibratórias necessárias ao trabalho dos mediuns. Não são admitidos atabaques,
tambores de qualquer tipo, chocalhos ou palmas, considerados perturbadores do astral. São
uma espécie de versão "brazuca" de mantras e os mestres da religião afirmam que os
"pontos de Raiz", mais eficientes, são transmitidos por Espíritos. No entanto, as letras
caberiam perfeitamente em qualquer roda de samba... Como, por exemplo: "Estrela Guia
clareou, estrela guia iluminou, ele vem lá do Oriente com as ordens de Orixalá...
[PARRA]. Podem ser entoados em tons místicos [?], vibrantes, alegres, graves, melancólicos, suaves.
Pontos Riscados: Os Pontos Riscados são símbolos traçados com pemba. Servem como
meio para estabelecer contato entre os mediuns e os Espíritos. É uma método presente na
Magia ocidental segundo a qual as entidades desencarnadas e outros seres do invisível vêem
os seres vivos como formas geométricas em emanações luminosas. No entendimento
umbandista os sinais atraem ou repelem "correntes de energia" e são traçados pelos
próprios espíritos. Além disso, cada espírito tem seu signo de identificação e outros signos
para suas suas mirongas [magias]. Abaixo, alguns destes pontos riscados conhecidos e
divulgáveis [porque outros são secretos]:
* FALASCO, Pontos Riscados na Umbanda [veja bibliografia]
Os pontos riscados de Umbanda assemelham-se, em sua utilização, aos Talismãs
empregados na Alta Magia Ocidental, tal como exposto na obra do mestre Ocultista Papus. A
ciência dos talismãs, segundo Papus, são uma herança muito antiga que pode ser rastreada
em um livro raro, cujo original tem versões deturpadas há muitos séculos. Trata-se
dasClavículas de Salomão, texto que ensina a evocar e submeter os espíritos e elementais
com o auxílio dos símbolos que lhes são correspondentes. Os talismãs são "considerados
representações exatas das formas criadoras do astral" [PAPUS. Tratado Elementar de magia
Prática. [Trad. E.P.]São Paulo: Pensamento, 1995.].
Os pontos riscados da Umbanda são, ao que tudo indica, parte do sincretismo desta
"religião" que apropriando-se deste conhecimento clássico da magia européia, mas que
certamente tem raízes em culturas orientais adaptou-o às suas práticas espíritas, embora os
teóricos umbandistas apresentem seus símbolos como expressão original de uma magia
superior à dos povos que, de fato, detêm a primazia deste saber.
Como acontece a Gira
A Gira, sessão espírita da Umbanda, começa com o medium líder, que é chamado Babá, Pai
de Santo, Mestre entre outras denominações, defumando e enfumaçando os seguidores e
firmando o Congá. Firmar o Congá é encher taças com água, para condensar energia,
acender sete velas, uma para cada Orixá e fazer uma oração mental "edificante". Depois,
"firma a Tronqueira da casa" acendendo uma vela e servindo cachaça para o Exú chefe.
Outro sincretismo da "religião original", posto que no Candomblé, mais antigo, todos os
rituais começam com oferenda a Exú, aquele que é intermediário entre homens e Orixás. A
seguir, mais fumaça nos consulentes.
Os mediuns vestidos de branco posicionam-se, em relação ao Congá: mulheres à esquerda;
homens à direita e os consulentes sentados. O medium-chefe, então, pede a proteção dos
Orixás e das entidades e faz uma palestra de abertura para sintonizar a platéia com
vibrações positivas. Começam os pontos cantados e os mediuns, incorporando os Eres, os
espíritos de "crianças" para fazer o atendimento espiritual.
Encerradas as consultas, após 10 minutos de intervalo, começa outra Gira que deverá
convocar os espíritos dos caboclos, novamente embalados pelos cantos. Com os caboclos,
mais fumaça, porque estas entidades gostam de charutos. Repete-se o intervalo que precede
a terceira sessão: a Gira dos Pretos-Velhos, que preferem fumar em cachimbos. Finalmente,
procede-se à Gira dos Exús que também são fumantes de charutos e têm a função de
cumprir as determinações deliberadas nas Giras anteriores, ou seja, fazer o serviço. Como já
foi mencionado, existem também as Giras internas, fechadas ao público, destinadas aos
adeptos que precisam "desenvolver a mediunidade", estudar a "doutrina" ou, ainda, para a
limpeza espiritual da Tenda.