O sagrado mistério contido nos kenês huni kui

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http://julirossi.blogspot.com.br/2011/01/arte-indigena.html Para enriquecer seu trabalho acesse O sagrado mistério contido nos kenês hu nikui Juracy Xangai Ysakaa, nascido na aldeia Paroá, margem do rio Envira quatro horas de batelão abaixo de Feijó, tem 20 anos, dois filhos e um objetivo na vida: valorizar e conquistar o respeito que merece a cultura de seu povo, que desde tempos imemoráveis habita as florestas e barrancas do Acre e Peru.Mais conhecido como kaxinawa, o povo huni kui, que de acordo com a autodenominação e língua quer dizer “povo da noite”, quer que a beleza sagrada de seus kenês deixe de ser tratada como mera curiosidade artística e passe a ser respeitada como a identidade e religiosidade do povo que eles representam. Por isso não querem continuar vendo seus desenhos, banalizados no uso como enfeite comum a paredes, ônibus, fachadas de empresas e até latarias de ônibus que circulam pela capital. Para isso, estão entrando com ação junto ao Ministério Público Federal do Acre solicitando que a justiça ordene a retirada desses símbolos do povo huni kui do uso indevido, ou, que se reconheça a propriedade ancestral deles e sejam criados mecanismos de compensação financeira a esse povo. Ysakaa é o líder do Movimento Jovem Huni Kui, entidade criada há pouco mais de um ano, mas que dentre outras tantas causas está nessa luta em defesa do direito autoral de imagens consideradas sagradas por seu povo. “Temos visto nossos kenes sendo usado em paredes de loja, órgãos públicos, ônibus e até em porta de banheiro. Consideramos isso um desrespeito contra a cultura de nossa gente, pois as pessoas acham bonito e usam onde bem entendem sem nem perguntar qual o significado deles ou se podem fazer isso. As coisas não podem acontecer dessa maneira”, adverte Ysakaa. Cultura da floresta - Ysakaa traz sob os braços um abaixo assinado colhido dentre as principais lideranças huni kui de Tarauacá e Jordão que estiveram reunidas no início do mês com as de Feijó para discutir os vários problemas que afetam essa nação. “Nossas lideranças consideram que é necessário valorizar os kenês porque mais que um símbolo que lembra nosso povo é a representação da cultura da floresta. Consideramos que eles estão sendo pirateados pelos que usam estes desenhos sem nossa autorização”. Que é kenê - Existem dezenas de diferentes kenês, ou seja, desenhos que por sua forma representam guerreiros e heróis da antigüidade, animais e o espírito da floresta, a importância da vida, em fim, o valores que sustentam a espiritualidade do povo huni kui. São símbolos sagrados a exemplo da cruz para os cristãos ou a estrela de Davi para os judeus. “Aquele kenê que está sendo usado nos ônibus de Rio Branco representa o braço forte dos guerreiros que pela luta garantiram a sobrevivência de nosso povo. Os traços estilizados simbolizam os braços do macaco (chinu), que tem força e agilidade”, escl arece Ysakaa.O mesmo acontece com o Wyubê, ou desenho da jibóia, símbolo sagrado do conhecimento, já que os pajés e iniciados recebem através dela os ensinamentos do mundo espiritual através das viagens realizadas com o auxílio do nixi pan (daime). Esses rituais religiosos podem ter caráter de busca da cura de doenças ou agradecimento por tudo o que a natureza lhes dá como alimento, saúde e alegria.O losango com um ponto ou quadrado no meio é o iti buru, ou seja, olho de pássaro. Simboliza o olhar protetor que domina a floresta desde o alto, concentrando em si mesmo a energia e o mistério do todo que a rodeia.

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O sagrado mistério contido nos kenês hu

nikui

Juracy Xangai

Ysakaa, nascido na aldeia Paroá, margem do rio Envira quatro horas de batelão abaixo de Feijó, tem 20 anos, dois filhos e um objetivo na vida: valorizar e conquistar o respeito que merece a cultura de seu povo, que desde tempos imemoráveis habita as florestas e barrancas do Acre e Peru.Mais conhecido como kaxinawa, o povo huni kui, que de acordo com a autodenominação e língua quer dizer “povo da noite”, quer que a beleza sagrada de seus kenês deixe de ser tratada como mera curiosidade artística e passe a ser respeitada como a identidade e religiosidade do povo que eles representam.

Por isso não querem continuar vendo seus desenhos, banalizados no uso como enfeite comum a paredes, ônibus, fachadas de empresas e até latarias de ônibus que circulam pela capital. Para isso, estão entrando com ação junto ao Ministério Público Federal do Acre solicitando que a justiça ordene a retirada desses símbolos do povo huni kui do uso indevido, ou, que se reconheça a propriedade ancestral deles e sejam criados mecanismos de compensação financeira a esse povo.

Ysakaa é o líder do Movimento Jovem Huni Kui, entidade criada há pouco mais de um ano, mas que dentre outras tantas causas está nessa luta em defesa do direito autoral de imagens consideradas sagradas por seu povo.

“Temos visto nossos kenes sendo usado em paredes de loja, órgãos públicos, ônibus e até em porta de banheiro. Consideramos isso um desrespeito contra a cultura de nossa gente, pois as pessoas acham bonito e usam

onde bem entendem sem nem perguntar qual o significado deles ou se podem fazer isso. As coisas não podem acontecer dessa maneira”, adverte Ysakaa.

Cultura da floresta - Ysakaa traz sob os braços um abaixo assinado colhido dentre as principais lideranças huni kui de Tarauacá e Jordão que estiveram reunidas no início do mês com as de Feijó para discutir os vários problemas que afetam essa nação. “Nossas lideranças consideram que é necessário valorizar os kenês porque mais que um símbolo que lembra nosso povo é a representação da cultura da floresta. Consideramos que eles estão sendo pirateados pelos que usam estes desenhos sem nossa autorização”.

Que é kenê - Existem dezenas de diferentes kenês, ou seja, desenhos que por sua forma representam guerreiros e heróis da antigüidade, animais e o espírito da floresta, a importância da vida, em fim, o valores que sustentam a espiritualidade do povo huni kui. São símbolos sagrados a exemplo da cruz para os cristãos ou a estrela de Davi para os judeus.

“Aquele kenê que está sendo usado nos ônibus de Rio Branco representa o braço forte dos guerreiros que pela luta garantiram a sobrevivência de nosso povo. Os traços estilizados simbolizam os braços do macaco (chinu), que tem força e agilidade”, esclarece Ysakaa.O mesmo acontece com o Wyubê, ou desenho da jibóia, símbolo sagrado do conhecimento, já que os pajés e iniciados recebem através dela os ensinamentos do mundo espiritual através das viagens realizadas com o auxílio do nixi pan (daime). Esses rituais religiosos podem ter caráter de busca da cura de doenças ou agradecimento por tudo o que a natureza lhes dá como alimento, saúde e alegria.O losango com um ponto ou quadrado no meio é o iti buru, ou seja, olho de pássaro. Simboliza o olhar protetor que domina a floresta desde o alto, concentrando em si mesmo a energia e o mistério do todo que a rodeia.

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ARTE INDÍGENA

O que é índio? Um índio não chama nem a si mesmo de índio. Esse nome veio trazido pelos colonizadores no séc. XVI. O índio mais antigo desta terra hoje chamada Brasil se autodenomina Tupy, que significa "Tu" (som) e "py" (pé), ou seja, o som-de-pé, de modo que o índio é uma qualidade de espírito posta em uma harmonia de forma.

Esta história logo abaixo revela o jeito do

povo indígena de contar a sua origem, a

origem do mundo, do cosmos, e também

mostra como funciona o pensamento

nativo. Os antropólogos chamam de mito,

e algumas dessas histórias são

denominadas de lendas.

Qual a origem dos índios? Conforme o mito

Tupy-Guarani, o Criador, cujo coração é o

Sol, /tataravô desse Sol que vemos, soprou

seu cachimbo sagrado e da fumaça desse

cachimbo se fez a Mãe Terra. Chamou sete

anciães e disse: ‘Gostaria que criassem ali

uma humanidade’. Os anciães navegaram

em uma canoa que era como cobra de fogo

pelo céu; e a cobra-canoa levou-os até a

Terra. Logo eles criaram o primeiro ser

humano e disseram: „Você é o guardião da

roça‟. Estava criado o homem. O primeiro

homem desceu do céu através do arco-íris

em que os anciães se transformaram. Seu

nome era Nanderuvuçu, o nosso Pai

Antepassado, o que viria a ser o Sol. E logo

os anciães fizeram surgir da Águas do

Grande Rio Nanderykei-cy, a nossa Mãe

Antepassada. Depois eles geraram a

humanidade, um se transformou no Sol, e a

outra, na Lua.São nossos tataravós.

ARQUITETURA INDÍGENA

Taba ou Aldeia é a reunião de 4 a 10 ocas,

em cada oca vivem várias famílias

(ascendentes e descendentes),

geralmente entre 300 a 400 pessoas. O

lugar ideal para erguer a taba deve ser bem

ventilado, dominando visualmente a

vizinhança, próxima de rios e da mata. A

terra, própria para o cultivo da mandioca e do

milho.

No centro da aldeia fica a ocara, a praça. Ali

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se reúnem os conselheiros, as mulheres

preparam as bebidas rituais, têm lugar as

grandes festas. Dessa praça partem trilhas

chamadas pucu que levam a roça, ao campo

e ao bosque.

Destinada a durar no máximo 5 anos a oca

é erguida com varas, fechada e coberta

com palhas ou folhas. Não recebe reparos

e quando inabitável os ocupantes a

abandonam. Não possuem janelas, têm uma

abertura em cada extremidade e em seu

interior não tem nenhuma parede ou divisão

aparente. Vivem de modo harmonioso.

PINTURA CORPORAL E ARTE PLUMÁRIA

(COCARES)

Pintam o corpo para enfeitá-lo e também

para defendê-lo contra o sol, os insetos e

os espíritos maus.E para revelar de quem

se trata, como está se sentindo e o que

pretende. As cores e os desenhos „falam‟,

dão recados.Boa tinta, boa pintura, bom

desenho garantem boa sorte na caça, na

guerra, na pesca, na viagem. Cada tribo e

cada família desenvolvem padrões de

pintura fiéis ao seu modo de ser.

Nos dias comuns a pintura pode ser

bastante simples, porém nas festas, nos

combates, mostra-se requintada, cobrindo

também a testa, as faces e o nariz. A

pintura corporal é função feminina, a mulher

pinta os corpos dos filhos e do marido.

Assim como a pintura corporal a arte

plumária serve para enfeites: mantos,

máscaras, cocares, e passam aos seus

portadores elegância e majestade.

Kaxinawá do Acre

Esta é uma arte muito especial porque não

está associada a nenhum fim utilitário, mas

apenas a pura busca da beleza.

A disposição e as cores das penas do

cocar não são aleatórias. Além de bonito,

ele indica a posição de chefe dentro do grupo

e simboliza a própria ordenação da vida em

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uma aldeia Kayapó. Em forma de arco, uma

grande roda a girar entre o presente e o

passado. "É uma lógica de manutenção e

não de progresso", explica Luis Donisete

Grupioni. A aldeia também é disposta assim.

Lá, cada um tem seu lugar e sua função

determinados.

TRANÇADOS E CERÂMICA

A variedade de plantas que são apropriadas

ao trançado no Brasil dá ao índio uma

inesgotável fonte de matéria prima.

É trançando que o índio constrói a sua

casa e uma grande variedade de

utensílios, como cestos para uso doméstico,

para transporte de alimentos e objetos

trançados para ajudar no preparo de

alimentos (peneiras), armadilhas para caça e

pesca, abanos para aliviar o calor e avivar o

fogo, objetos de adorno pessoal (cocares,

tangas, pulseiras), redes para pescar e

dormir, instrumentos musicais para uso em

rituais religiosos, etc.

Cestos

Yanomamis

Tudo isso sem perder a beleza e feito com

muita perfeição.

A cerâmica destacou-se principalmente

pela sua utilidade, buscando a sua forma,

nas cores e na decoração exterior. O seu

ponto alto ocorreu na ilha de Marajó.

Cerâmica Kadiweu

Cerâmica Macuxi

COMO OS ÍNDIOS QUASE

DESAPARECERAM

O processo de colonização levou à

extinção de muitas sociedades indígenas

que viviam no território dominado, seja

pela ação das armas seja pelo contágio de

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doenças trazidas dos países europeus

para as quais os índios não tinham

anticorpos ou ainda, pela aplicação de

políticas visando a "assimilação" dos

índios à nova sociedade implantada, com

forte influencia européia.

Embora não se saiba exatamente quantas

sociedades indígenas existissem no Brasil na

época da chegada dos europeus, há

estimativas sobre o número de habitantes

nativos naquele tempo que variam de 1 a 10

milhões de indivíduos.

Estes números nos dão uma idéia da imensa

quantidade de pessoas e sociedades

indígenas inteiras exterminadas ao longo

destes mais de 500 anos, como resultado de

um processo de colonização baseado no uso

da força, por meio das guerras e da

política de assimilação.

Da mesma que os brancos procuraram a

explicação para a origem dos índios estes

também elaboraram explicação para a

origem do homem branco. O processo do

colonizador do qual os índios brasileiros

foram vítimas ocorreu assim: primeiro foram

cativados para o trabalho de exploração do

pau Brasil em troca de objetos que exerciam

fascínio sobre eles; depois veio a

escravização e a tentativa de fazê-los

trabalhar na lavoura da cana de açúcar; suas

terras foram sendo tomadas e os que não se

submeteram ao colonizador e não

conseguiram fugir Brasil adentro,morreram

após lutar corajosamente pela sua terra e

pela liberdade.

Os índios que conseguiram sobreviver eram

descaracterizados pela catequese feita pelos

jesuítas e da própria convivência com o

homem branco. Com isso muitos foram

perdendo sua identidade cultural

substituindo suas crenças e costumes

pelos valores dos

colonizadores. Transformaram-se assim em

seres marginalizados e explorados dentro da

sociedade branca.

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