O Segredo da Flor de Ouro -...
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O Segredo da Flor de Ouro in Wilhelm, R. O Segredo da Flor de Ouro. Petrpolis: Vozes, 1983. Datao do Texto: sc. VIII-IX d.C.(?): Re-
impresso: Sculo XVIII.
Captulo 1 - A Conscincia Celeste (Corao)
Mestre L DSU dizia: quilo que por si mesmo denominamos sentido (Tao). O sentido no tem nome, nem forma.
o ser uno, o esprito originrio e nico. Ser e vida no podem ser vistos, esto contidos na luz do cu. A luz do cu
no pode ser vista, est contida nos dois olhos. Hoje serei vosso guia e revelar-vos-ei o Segredo da Flor de Ouro do
Grande Uno; a partir daqui explicarei pormenorizadamente o que se segue.
O Grande Uno a designao daquilo alm do qual nada mais existe. O segredo da magia da vida consiste em
utilizar a ao para chegar no-ao; no podemos passar por cima de tudo, pretendendo penetr-lo diretamente. O
princpio tradicional tomar nas mos o trabalho com o ser. Atravs disto evitar-se-o extravios.
A Flor de Ouro a luz. Qual a cor da luz? Tomemos a Flor de Ouro como analogia. Esta a verdadeira fora do
Grande Uno transcendente. A palavra: "O chumbo da regio da gua tem somente um sabor" significa isto.
Comentrio: No Livro das Mutaes lemos; "O cu gera a gua mediante o Uno". esta a verdadeira fora do
Grande Uno. Ao alcanar este Uno, o homem vivificado, e ao perd-lo, morre. No entanto, apesar de o homem
viver na fora (ar, prana) , ele no v a fora (ar), da mesma forma que os peixes no vem a gua. O homem morre
quando lhe falta o ar da vida, do mesmo modo que os peixes sem gua perecem. Por isso, os adeptos ensinaram as
pessoas a manter o originrio e a preservar o uno, este o movimento circular da luz e a preservao do centro.
Quando se conserva esta fora genuna, pode-se prolongar o seu tempo de vida e ento utilizar o mtodo de "fundir e
misturar" a fim de criar um corpo imortal.
O trabalho do movimento circular da luz inteiramente baseado no movimento reversivo, para reunir os
pensamentos (o lugar da conscincia celeste, o corao celeste). O corao celeste fica entre o sol e a lua (isto ,
entre os dois olhos).
O Livro do Castelo Amarelo diz: "No campo de uma polegada da casa de um p pode-se ordenar a vida". A casa que
mede um p o rosto. O campo de uma polegada no rosto, o que poderia ser seno o corao celeste? Em meio
polegada quadrada mora a magnificncia. Na sala purprea da cidade de jade mora o deus da vitalidade e do vazio
extremos. Os confucionistas chamam-na: o centro do vazio; os budistas: o terrao da vitalidade; e os taostas: a terra
dos antepassados ou o castelo amarelo, ou ainda a passagem escura, ou espao do cu primeiro. O corao celeste se
assemelha morada, a luz o senhor da casa.
Por isso, assim como a luz segue um movimento circular, as foras do corpo inteiro se apresentam diante de seu
trono, como quando um santo rei estabeleceu a capital e criou as leis bsicas e todos os estados se aproximam com
ddivas em tributo; ou como quando ao senhor tranqilo e lcido, servos e servas obedecem as ordens de bom
grado, cada qual fazendo seu trabalho.
Por isso, necessitais apenas pr a luz em movimento circular; este o mais sublime e maravilhoso dos segredos.
fcil pr a luz em movimento, o difcil fix-la. Quando permitimos que ela se mova em crculo suficientemente,
ento ela se cristaliza; este o corpo-esprito natural. O esprito cristalizado forma-se alm dos nove cus. Este o
estado do qual se diz no Livro do Selo do Corao: "Silenciosamente levantas vo pela manh".
Para a realizao deste princpio no necessrio procurar qualquer outro mtodo a no ser nele concentrar os
pensamentos. O Livro Long Yen (Suramgama-sutra) diz: "Mediante a concentrao dos pensamentos somos capazes
de voar e nascer no cu". O cu no o amplo cu azul, mas o lugar em que a corporeidade gerada na casa do
criativo. Quando se prossegue muito tempo nisso, surge naturalmente outro corpo-esprito, alm do corpo.
A Flor de Ouro o Elixir da Vida (Gin Dan, cujo significado literal esfera de ouro, plula de ouro). Todas as
transformaes da conscincia espiritual dependem do corao. Reside aqui uma magia secreta, a qual, apesar de ser
perfeitamente exata, fluida, exigindo uma extrema inteligncia e lucidez, assim como um extremo aprofundamento
e tranqilidade. As pessoas desprovidas dessa extrema inteligncia e compreenso no encontram o caminho da
utilizao, ao passo que as pessoas desprovidas do extremo aprofundamento e tranqilidade no conseguem
estabiliz-lo.
Comentrio: Esta seo esclarece a origem do grande sentido do mundo (Tao). O corao celeste a raiz germinal
do grande sentido. Quando se capaz de uma completa tranqilidade, o corao celeste se manifesta por si mesmo.
Quando o sentimento tocado e se exterioriza diretamente, o homem nasce como ser vivente originrio. Este ser
vivente encontra-se desde a sua concepo at o nascimento em seu verdadeiro espao. Assim que o toque da
individuao entra no nascimento, o ser e a vida dividem-se em dois. Desde este momento - se a maior tranqilidade
no for alcanada - ser e vida no tornam a encontrar-se. Por isso, diz-se no Plano do Grande Plo: O Grande Uno
contm em si a verdadeira fora (prana), a semente, o esprito, o animus e a anima. Quando os pensamentos se
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tranqilizam plenamente, de modo a ver-se o corao celeste, a inteligncia espiritual, por si mesma, atinge a
origem. Este ser habita, sem dvida, o verdadeiro espao, mas o lampejo da luz habita nos dois olhos. Portanto, o
mestre ensina o movimento circular da luz, a fim de alcanar o verdadeiro ser. O verdadeiro ser o esprito
originrio. O esprito originrio justamente ser e vida, e quando nisto se reconhece o real, a est a fora originria.
E justamente isto o grande sentido. O mestre, a partir deste momento, cuida de que ningum se engane no caminho
que conduz da ao consciente no-ao inconsciente. Por isso, diz: A magia do Elixir da Vida utiliza a ao
consciente para chegar no-ao inconsciente. A ao consciente consiste em pr em andamento o caminho
circular da luz mediante a reflexo, para que se manifeste o desencadeamento do Cu. Ento, se nascer a verdadeira
semente e se empregarmos o mtodo correto para fundi-Ia e mistur-la, criando assim o Elixir da Vida, passaremos
atravs do desfiladeiro: o embrio se configura e deve ser desenvolvido mediante o trabalho do aquecimento, da
nutrio, da imerso no banho e lavamento. Tudo isto passa para o domnio da no-ao inconsciente. necessrio
um ano inteiro deste perodo de fogo, para que o embrio possa nascer, separar-se da casca, passando do mundo
comum para o mundo sagrado. Este mtodo muito simples e fcil. No entanto comporta tantos estados de
transformao e mudana, que se diz: No com um salto que se pode obt-lo. Quem busca a vida eterna deve
procurar o lugar em que ser e vida surgem originariamente.
Captulo 2 - O Esprito Originrio e o Esprito Consciente
Mestre L DSU disse: Comparado com o cu e a terra, o homem como o inseto chamado efmero. Mas
comparado com o grande sentido, cu e terra no so mais do que uma bolha de ar e uma sombra. S o esprito
originrio e o verdadeiro ser vencem tempo e espao.
A fora da semente, tal como o cu e a terra, est submetida caducidade, mas o esprito originrio ultrapassa as
diferenas polares. Dele deriva a existncia do cu e da terra. Se os discpulos conseguirem alcanar o esprito
originrio, vencem as oposies polares de luz e obscuridade e no permanecem mais nos trs mundos. No entanto,
s quem olhou o ser em sua face originria capaz disto.
Quando os homens se desprendem do corpo materno, o esprito originrio mora na polegada quadrada (entre os dois
olhos) e o esprito consciente abaixo, no corao. Este corao de carne, embaixo, tem a forma de um grande
pssego; ele encoberto pelas asas do pulmo, sustentado pelo fgado e servido pelas vsceras. Este corao depende
do mundo exterior. Quando no nos alimentamos, mesmo que s por um dia, ele sente desconforto. Ouvindo algo de
assustador, palpita; se forem palavras que despertam a ira, se contrai; ao confrontar-se com a morte, se entristece e
ao ver algo de belo, se ofusca. No caso, porm, do corao celeste, na cabea, o que poderia perturb-lo? Se
perguntares: o corao celeste nunca se comove? - eu respondo: Como poderia comover-se o verdadeiro
pensamento, na polegada quadrada? Se isto ocorresse, no seria bom. Quando as pessoas comuns morrem, ele se
comove, mas isso no bom. Evidentemente, muito melhor que a luz j se tenha firmado num corpo-esprito e que
sua fora vital penetre pouco a pouco os impulsos e movimentos. Mas este um segredo silenciado h milnios.
O corao inferior comporta-se como um general forte e poderoso que despreza o senhor celeste por sua fraqueza,
usurpando-lhe a liderana dos assuntos de Estado. Quando, porm, se consegue fortalecer e preservar o castelo
originrio, como se um soberano forte e sbio ocupasse o trono. Os olhos impelem a luz ao movimento circular
como dois ministros, um direita, outro esquerda, apoiando o soberano com toda a sua fora. Quando a soberania
est centrada e em ordem, todos os heris subversivos se apresentam com as lanas de ponta para baixo, a fim de
receber ordens.
O caminho para o Elixir da Vida reconhece como a mais alta magia a gua-semente, o fogo-esprito e a terra-
pensamento, todos os trs. O que a gua-semente? Uma fora (eros) una e verdadeira do cu primeiro. O fogo-
esprito a luz (logos). A terra-pensamento o corao celeste da morada do meio (intuio). Usamos o fogo-
esprito para agir, a terra-pensamento como substncia e a gua-semente como fundamento. Os homens comuns
engendram seu corpo pelo pensamento. O corpo no apenas o corpo exterior, de sete ps de altura. No corpo est a
anima. Esta adere conscincia como seu efeito. A conscincia depende da anima para existir. A anima feminina
(yin) , substncia da conscincia. Enquanto esta conscincia no interrompida, prossegue de gerao em gerao e
as modificaes da forma e transformaes da substncia da anima so incessantes.
Alm disso, h o animus no qual o esprito se abriga. De dia, ele mora nos olhos e de noite, no fgado. Morando nos
olhos, v; alojado no fgado, sonha. Os sonhos so peregrinaes do esprito atravs dos nove cus e das nove terras.
Mas quem ao acordar se sente sombrio e deprimido, subjugado sua forma corporal, acha-se encadeado pela anima.
Por isso, a concentrao do animus desencadeada pelo movimento circular da luz e desse modo o esprito
preservado; a anima subjugada, e a conscincia, anulada. O mtodo dos antigos para livrar-se do mundo consistia
em fundir completamente as escrias do obscuro, a fim de voltar ao puro criativo. Isto no mais do que uma
reduo da anima e uma plenificao do animus. O movimento circular da luz o meio mgico da reduo do
obscuro e da subjugao da anima. Mesmo que o trabalho no se oriente para o retorno ao criativo e se limite ao
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meio mgico do movimento circular da luz, a prpria luz j o criativo. Mediante seu movimento circular, voltamos
ao criativo. Ao seguir este mtodo, a gua-semente por si s torna-se. presente em abundncia, o fogo-esprito se
acende e a terra-pensamento se fortalece e cristaliza. Ento se realiza a gestao do fruto santo.
O escaravelho empurra sua bolota de esterco, e desta surge a vida como efeito do trabalho indiviso de sua
concentrao espiritual. Se do mero esterco pode nascer um embrio, abandonando as cascas, quanto mais nasceria
da morada do nosso corao celeste, ao concentrarmos nele nosso esprito? Acaso no pode gerar um corpo?
Quando o nico ser verdadeiro e atuante (o logos unido vitalidade) mergulha na morada do criativo, divide-se em
animus e anima. O animus reside no corao celeste. Sua natureza a da luz, ele a fora do leve e do puro. Foi isto
que recebemos do grande vazio, que um s com o comeo originrio. A natureza da anima a do obscuro. Ela a
fora do pesado e do turvo, estando presa ao corao corpreo e carnal. O animus ama a vida, a anima procura a
morte. Todos os prazeres sensuais e acessos colricos so efeitos da anima, que o esprito consciente, que se
alimenta do sangue depois da morte; durante a vida, ele sofre uma grande necessidade. O obscuro volta ao obscuro e
as coisas se atraem segundo sua espcie. O discpulo sabe destilar completamente a anima obscura at transformar-
se em pura luz (yang).
Comentrio: Nesta seo descrita a funo do esprito originrio e do esprito consciente na formao do corpo
humano. O mestre diz: A vida do homem como a de um inseto chamado efmero; somente o ser verdadeiro do
esprito originrio consegue escapar ao movimento circular do cu e da terra e ao destino dos eons. O verdadeiro ser
sai do no-polar e recebe a fora originria do polar, acolhendo em si o verdadeiro ser de cu e terra e assim se
transformando em esprito consciente. Ele recebe o ser de pai e me enquanto esprito originrio. Este esprito
originrio desprovido de conscincia e saber, mas capaz de regular os processos formativos do corpo. O esprito
consciente manifesto e muito atuante, capaz de adaptar-se continuamente. o senhor do corao humano.
Enquanto habita o corpo, o animus. Aps sua separao do corpo torna-se esprito. O esprito originrio, quando o
corpo acede existncia, ainda no tem qualquer embrio no qual pudesse corporalizar-se. Assim, pois, se cristaliza
no Uno livre de polaridades. Por ocasio do nascimento, o esprito consciente aspira a fora do ar, transformando-se
na morada do recm-nascido. O esprito consciente mora no corao. Desse momento em diante, o corao o
senhor, e o esprito originrio perde o seu lugar, ao passo que o esprito consciente assume o poder. O esprito
originrio ama a tranqilidade, e o esprito consciente, o movimento. Em seus movimentos, permanece ligado aos
sentimentos e desejos. Dia e noite consome a semente originria, at consumir completamente a fora do esprito
originrio. O esprito consciente abandona ento a casca e sai. A fora espiritual de quem praticou principalmente o
bem pura e lmpida quando chega a morte. Essa fora escapa pelas aberturas superiores da boca e do nariz. A fora
do ar, pura e leve, sobe e flutua em direo ao cu, transformando-se ento no quntuplo gnio da sombra presente
ou esprito da sombra. Mas se o esprito originrio, ao longo da vida, for utilizado pelo esprito consciente no sentido
da avidez, da loucura, da cobia, da luxria e demais pecados, no momento da morte a fora espiritual acha-se turva
e confusa e o esprito consciente sai pela abertura inferior do ventre, junto com o ar. Se a fora espiritual turva e
impura, ela se cristaliza para baixo, desce para o inferno e se transforma num demnio. Com isto, no s o esprito
originrio perde sua qualidade, como tambm so reduzidos o poder e a sabedoria do ser verdadeiro. Por esse
motivo diz o mestre: Quando ele se move, isto no bom. Se quisermos preservar o esprito originrio precisamos
em primeiro lugar subjugar necessariamente o esprito da percepo. O caminho para subjug-lo passa pelo
movimento circular da luz. Quando exercitamos esse movimento devemos esquecer tanto o corpo como o corao.
O corao deve morrer e o esprito viver. Quando o esprito vive, a respirao comea a circular de um modo
maravilhoso. A isto o mestre chama o bom por excelncia.Depois, devemos deixar o esprito mergulhar no abdmen
(plexo solar). A fora relaciona-se ento com o esprito e este se une fora e se cristaliza. Este o mtodo de como
pr as mos obra.
Com o tempo, o esprito originrio transforma-se na morada da vida, na verdadeira fora. Devemos nesse ponto
empregar o mtodo de girar a roda do moinho, a fim de destil-lo e transform-lo no Elixir da Vida. Este o mtodo
do trabalho concentrado.
Quando a prola do Elixir da Vida est pronta, o embrio santo poder formar-se e devemos ento orientar o
trabalho no sentido do aquecimento e nutrio do embrio espiritual. Este o mtodo da concluso.
Quando o corpo de fora da Criana est pronto, o trabalho deve ser orientado para o nascimento do embrio, e sua
volta para o vazio. Este o mtodo de largar a mo.
Desde os tempos mais remotos at hoje esta a seqncia do grande sentido no verdadeiro mtodo, para torn-lo um
gnio e santo imortal, eternamente vivo. No se trata de meras palavras.
Quando o trabalho progrediu at este ponto, tudo o que pertence ao princpio obscuro foi completamente consumido
e o corpo nasceu para a pura luz. S depois que o esprito consciente se transformou no esprito originrio, pode-se
dizer que ele alcanou a mutabilidade infinita e, escapando ao movimento circular, consegue chegar ao sxtuplo
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gnio dourado presente. Se no utilizarmos este mtodo para o enobrecimento, como escapar ao caminho de
nascimento e morte?
Captulo 3 - Movimento Circular da Luz e Preservao do Centro
Mestre L DSU disse: Quando foi revelado o assim chamado "movimento circular da luz"? Foi revelado pelo
verdadeiro homem da forma primeira" (Guan Yin Hi). Quando deixamos a luz circular, todas as foras do cu e da
terra, da luz e da obscuridade, se cristalizam. A isto chamamos o pensar germinal, ou purificao da fora, ou ainda
purificao da idia ou representao. Ao iniciar a prtica desta magia como se em meio ao ser houvesse algo do
no-ser; com o tempo, o trabalho se completa e ento existe um corpo alm do corpo; como se em meio ao no-ser
houvesse um ser. S depois de um trabalho concentrado de cem dias, a luz se torna autntica e se transforma em
fogo-esprito. Depois de cem dias surge espontaneamente, em meio luz, um ponto do autntico plo de luz (yang).
Repentinamente surge a prola-semente. como se homem e mulher se unissem e houvesse uma concepo. Temos
ento que permanecer perfeitamente tranqilos e esperar que ela se cumpra. O movimento circular da luz a poca
do fogo.
Em meio ao vir-a-ser originrio, o fulgor do luminoso o decisivo (yang guang) . No corpo do mundo o sol, no
homem, o olho. A irradiao e difuso da conscincia espiritual posta em movimento principalmente por essa
fora, quando ela se orienta para fora, fluindo para baixo. Por isso, o sentido da Flor de Ouro repousa inteiramente
no mtodo reversivo.
Comentrio: O corao do homem est sob o signo do fogo. A chama do fogo tende para cima. Quando os dois
olhos contemplam as coisas do mundo, a viso se dirige para fora. Quando fechamos os olhos e olhamos para
dentro, contemplando o espao dos ancestrais, praticamos o mtodo reversivo. A fora dos rins est sob o signo da
gua. Quando os instintos despertam, o fluxo se dirige para baixo e para fora e ento a criana gerada. Se no
momento do orgasmo detido o fluxo para fora e, pela fora do pensamento, o conduzimos para dentro, de modo a
ser impe- lido para cima, rumo ao cadinho do criativo, refrescando e alimentando corpo e corao, praticamos
tambm o mtodo reversivo. Por isso se diz: o sentido do Elixir da Vida repousa inteiramente no mtodo reversivo.
O movimento circular da luz no apenas um movimento circular da flor-semente do corpo individual mas, at
mesmo, um movimento circular das verdadeiras foras criativas plasmadoras. No se trata de uma fantasia
momentnea, mas precisamente da totalizao do movimento circular (da peregrinao da alma) de todos os eons.
Por isso uma pausa na respirao significa um ano - segundo o tempo dos homens - e uma pausa na respirao
significa cem anos, quando medida pela longa noite das nove veredas (das reencarnaes).
Depois que o homem deixa para trs o som nico da individuao, ele nasce externamente de acordo com as
circunstncias e prossegue at a velhice sem olhar para trs uma s vez. A fora do luminoso se esgota e se esvai e
isso conduz ao mundo da escurido nove vezes escura (das reencarnaes). No Livro Long Yen, l-se: "Mediante a
concentrao dos pensamentos podemos voar, mediante a concentrao dos apetites, camos". Se um discpulo
cultiva pouco os pensamentos, e muito os apetites, chega vereda da perdio. S atravs da contemplao e da
serenidade nasce a verdadeira intuio: isto requer o mtodo reversivo.
No Livro das Correspondncias Secretas l-se: "O desencadeamento est no olho". Nas Questes Simples, do
Soberano Amarelo l-se: "A flor-semente do corpo do homem deve concentrar-se para cima, no espao vazio". Este
se relaciona com aquela. Nesta sentena est contida a imortalidade, bem como a superao do mundo. E esta a
meta comum de todas as religies.
A luz no est apenas no corpo, mas tambm no est (apenas) fora do corpo. Montanhas e rios e a grande terra so
iluminados pelo sol e pela lua: tudo isto essa luz. Portanto, ela no est somente no corpo. Compreenso e clareza,
discernimento e iluminao, e todos os movimentos (do esprito) so igualmente esta luz; por conseguinte no se
trata de algo fora do corpo. A flor de luz do cu e da terra preenche os mil espaos. Mas tambm a flor de luz do
corpo individual atravessa o cu e cobre a terra. Assim pois, logo que a luz entra no caminho circular, entram com
ela, simultaneamente, no caminho circular, cu e terra, montanhas e rios. A grande chave do corpo humano
concentrar a flor-semente em cima, no olho. Filhos, refleti sobre isto! Se no cultivardes um dia a meditao, esta
luz se derramar, quem sabe para onde. Se cultivardes a meditao apenas durante um quarto de hora, com isso
podeis cumprir os dez mil eons e mil nascimentos. Todos os mtodos desembocam na tranqilidade. Impossvel
imaginar este maravilhoso processo mgico.
No entanto, quando algum se aplicar ao trabalho, deve avanar do manifesto ao profundo, do grosseiro ao sutil.
Tudo depende de que no haja qualquer interrupo. O princpio e o fim do trabalho devem ser um s. Nesse meio
tempo, no h dvida de que h momentos mais frios e outros mais quentes. Mas a meta deve ser alcanar a
amplido do cu e a profundidade do mar, e que todos os mtodos paream muito simples e at mesmo bvios; s
desse modo possvel atingi-Ia.
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Todos os santos transmitiram uns aos outros este ensinamento: sem contemplao (fan dschau, reflexo), nada
possvel. Quando Kungts diz: "O discernimento leva meta", ou Sakya o designa "o olhar do corao", ou ento
Laots diz "o olhar interno;, tudo isso o mesmo.
Qualquer pessoa pode falar da reflexo mas no a apreende se no souber o que a palavra significa. O que deve ser
invertido pela reflexo o corao consciente de si mesmo, o qual deve dirigir-se para o ponto em que o esprito
modelador ainda no se manifestou. Dentro de nosso corpo, de seis ps de altura, devemos esforar-nos em direo
forma que j existia antes da fundao do cu e da terra. Atualmente, quando as pessoas se sentam apenas uma ou
duas horas para meditar e no fazem mais do que contemplar seu prprio eu, chamando a isso de reflexo
(contemplao), o que resultar disso?
Os fundadores do budismo e do taosmo ensinaram que devemos olhar para a ponta do nariz. No quiseram dizer
com isso que devemos fixar os pensamentos na ponta do nariz. Tambm no quiseram dizer que enquanto olhamos a
ponta do nariz os pensamentos devem concentrar-se no centro amarelo. Para onde o olhar se dirige, para o mesmo
ponto se dirige o corao. Como possvel olhar simultaneamente para cima (centro amarelo) e para baixo (ponta do
nariz) ou, alternadamente, ora para cima e ora para baixo? Mas tudo isso significa confundir o dedo com o qual
apontamos a lua, com a prpria lua.
O que quer isto dizer? A palavra ponta do nariz foi escolhida com muita agudeza. O nariz deve servir como uma
linha diretriz para os olhos. Quando abrimos os olhos bem abertos e olhamos para a distncia de modo a no ver o
nariz, ou ento baixamos demasiadamente as plpebras, de modo que os olhos se fecham e tambm no vemos o
nariz, no nos orientamos por este ltimo. Mas se abrirmos demais os olhos, cometeremos o erro de dirigi-los para
fora, o que nos distrai facilmente. Por outro lado, se os fecharmos demais, cometeremos o erro de vert-los para
dentro, o que nos induzir a um devaneio absorvente. S quando baixamos as plpebras na justa medida vemos a
ponta do nariz de um modo adequado. por isso que devemos tom-la como linha diretriz. Tudo depende de
baixarmos corretamente as plpebras, deixando a luz irradiar para dentro por si mesma, sem pretender que a nossa
concentrao determine a irradiao da luz para dentro. Olhar para a ponta do nariz serve apenas no comeo da
concentrao interior, a fim de dirigir os olhos na direo correta e nela se manter. Depois, isto no tem mais
importncia. como o pedreiro, suspendendo o seu fio de prumo. Assim que o pedreiro o suspende, seu trabalho Se
orienta por ele, sem que se preocupe em olhar constantemente para o fio de prumo.
A contemplao pela fixao um mtodo budista, que de modo algum transmitido como um segredo.
Observemos a ponta do nariz com os dois olhos, sentados e com as costas confortavelmente retas; fixemos o corao
no centro em meio s circunstncias (o plo em repouso na fuga das aparncias). No taosmo, chama-se a isto o
centro amarelo e no budismo, o centro em meio s circunstncias. Ambos querem dizer o mesmo, sem que isto
signifique necessariamente o meio da cabea. Trata-se apenas de fixar o pensamento no ponto exato, entre os dois
olhos. Assim est bem. A luz algo de extrema mobilidade. Quando fixamos o pensamento no ponto que fica entre
os dois olhos, a luz irradia para dentro, por si mesma. No precisamos dirigir a ateno especialmente para o castelo
central. Nestas poucas palavras est contido o mais importante.
"O centro em meio s circunstncias" uma expresso de grande sutileza. O centro onipresente, tudo est nele
contido e tambm se relaciona com o desencadeamento de todo o pro- cesso da criao. A circunstncia o portal da
entrada. A circunstncia, ou melhor, a realizao desta circunstncia configura o comeo, mas no induz a uma
necessidade inexorvel do que se segue. O significado das palavras em questo extremamente fluido e sutil.
A contemplao pela fixao indispensvel, ela produz o fortalecimento da iluminao. S que no podemos ficar
sentados rigidamente quando despertam os pensamentos mundanos, mas devemos examinar onde se acham tais
pensamentos, como surgiram e onde se extinguem. Mas levando adiante esta ponderao no chegamos ao fim.
Devemos limitar-nos a ver de onde surgiram esses pensamentos, sem procurar muito alm de sua origem; pois achar
o corao (conscincia), descobrir a conscincia pela conscincia, eis algo de irrealizvel. Pretendemos pr em
repouso os estados do corao, conjuntamente: tal a verdadeira contemplao. O que for contrrio a isto uma
falsa contemplao. No leva a meta alguma. Quando, apesar de tudo, continua incessantemente o fluxo dos
pensamentos, devemos parar e entrar em contemplao. Ento contemplemos e recomecemos a meditao pela
fixao. o duplo cultivar do fortalecimento da iluminao. A isto se denomina movimento circular da luz.
Movimento circular fixar. A luz contemplao. Fixar sem contemplao um movimento circular sem luz.
Contemplao sem fixar luz sem movimento circular! Lembrai-vos disto!
Comentrio: O sentido geral desta seo que o movimento circular da luz importante para a preservao do
centro. A ltima seo tratava do bem precioso que o corpo humano quando o esprito originrio o senhor. No
entanto, se ele for usado pelo esprito consciente, o esprito originrio se distrai e se desgasta dia e noite. Quando se
esgotar completamente, o corpo morre. Descreveremos agora o mtodo pelo qual se submete o esprito consciente e
se protege o esprito originrio. Mas isto ser impossvel se no comearmos por colocar a luz no movimento
circular. como se desejssemos construir uma casa suntuosa: primeiro de- vemos encontrar um bom fundamento.
-
S quando o fundamento estiver firme, podemos pr mos obra e alicerar o muro profunda e solidamente,
edificando pilares e paredes. Se no fizermos as fundaes deste modo, como poderemos terminar a casa? O mtodo
do cultivo da vida exatamente o mesmo. O movimento circular da luz comparvel ao alicerce do edifcio.
Quando o alicerce est firme, podemos construir depressa. Preservar o centro amarelo com o fogo-esprito, eis o
trabalho da construo. Por isso, o mestre esclarece de modo particular o mtodo de como entrar no cultivo da vida,
pedindo que se olhe com os dois olhos para a ponta do nariz, baixando as plpebras, olhando para dentro e que se
assente em tranqilidade, as costas retas, fixando o corao no centro em meio s circunstncias.
Fixar o pensamento no espao entre os dois olhos produz a entrada da luz. Depois, o esprito se cristaliza e entra no
centro em meio s circunstncias. O centro em meio s circunstncias o campo de Elixir inferior, o espao da fora
(plexo solar).
O mestre indica tudo isto secretamente ao dizer: Ao iniciar o trabalho devemos sentar-nos numa sala tranqila, o
corpo como madeira seca, o corao como cinza fria. Baixemos ento as plpebras dos dois olhos e olhemos para
dentro; purifiquemos o corao, lavemos o pensar, interrompamos os prazeres e preservemos a semente.
Diariamente devemos sentar-nos no cho, de pernas cruzadas, para meditar. Detenha-se a luz dos olhos, cristalize-se
o poder auditivo do ouvido, e restrinja-se o poder gustativo da lngua, isto , a lngua deve ficar apoiada no cu da
boca. A respirao pelo nariz deve ser ritmada e os pensamentos devem fixar- se no portal escuro. Se o ritmo da
respirao no for previamente estabelecido, de temer-se que haja perturbaes respiratrias, com obstrues. Ao
fecharmos os olhos, devemos voltar-nos, como ponto de referncia, para um lugar situado no dorso do nariz; tal
lugar fica pouco menos de meia polegada aba.o da interseo das linhas visuais, l onde o nariz possui uma
salincia. Ento se comea a concentrar os pensamentos, torna-se rtmica a respirao, corpo e corao devem estar
vontade e harmnicos. A luz dos olhos deve brilhar tranqilamente, de modo prolongado, sem que haja sonolncia
ou distrao. O olho no v o que acontece fora, mas baixa as plpebras e ilumina o interior. Este ento iluminado.
A boca no fala, nem ri. Os lbios encontram-se cerrados e a respirao interiorizada. A respirao fica neste
lugar. O nariz no sente nenhum odor. O olfato fica neste lugar (interno). O ouvido no ouve o rudo exterior. A
audio est neste lugar. O corao inteiro vigia o interior. Sua vigilncia est neste lugar. Os pensamentos no se
precipitam para fora, os pensamentos verdadeiros duram por si mesmos. Se os pensamentos so duradouros, a
semente toma-se duradoura; se a semente duradoura, a fora toma-se duradoura; se a fora duradoura, o esprito
toma-se duradouro. O esprito o pensamento, o pensamento o corao, o corao o fogo, o fogo o Elixir.
Quando se contempla o interior desse modo, o milagre de abrir e fechar dos portais do cu torna-se inesgotvel. Mas
sem tomar rtmica a respirao, no possvel efetuar os segredos mais profundos.
No incio, se o discpulo no conseguir fixar seus pensamentos no espao entre os dois olhos, no conseguindo
tambm, ao fechar os olhos, trazer a fora do corao at a contemplao do espao da fora, a causa mais provvel
a seguinte: a respirao estar talvez muito ruidosa e apressada, o que provoca outros males, uma vez que o corpo
e o corao continuam ainda preocupados em reprimir com violncia a fora ascendente e a respirao demasiado
quente. Quando se fixam apenas os pensamentos nos dois olhos, mas no se cristaliza o esprito no plexo solar (o
centro em meio s circunstncias), como se algum subisse at o vestbulo, mas ainda no conseguisse entrar nos
recintos interiores. Neste caso, o fogo-esprito no se acende, a fora continua fria e dificilmente o verdadeiro fruto
se revelar. Por isso o mestre sente o temor de que os homens, em seus esforos, fixem apenas os pensamentos no
espao do nariz, no cuidando de fixar as idias no espao da fora; por isso que o mestre usa a metfora do
pedreiro e do fio de prumo. O pedreiro recorre ao prumo apenas para ver se a parede est vertical ou inclinada; o fio
serve apenas como linha diretriz. Depois de determinar a direo, ele pode comear o trabalho. Evidentemente, ele
trabalha na parede e no no fio de prumo. Percebe-se ento que fixar os pensamentos entre os olhos tem somente o
sentido do pedreiro usando o fio de prumo. O mestre repete isto muitas vezes, por. que receia que no se
compreenda seu ponto de vista. Quando os discpulos entenderam como devem pr mos obra, o mestre tem; a
interrupo do trabalho. Por isso, repete: "S depois de um trabalho ininterrupto de cem dias, a luz autntica; e s
ento pode-se comear o trabalho com o fogo-esprito". Procedendo-se desse modo, concentradamente, aps cem
dias surge na luz, por si mesmo, um ponto de autntica luz criativa (yang). Os discpulos devem examinar essas
palavras com o corao sincero."
Captulo 4 - Movimento Circular da Luz e Ritmo Respiratrio
Mestre L DSU dizia: Deve-se cumprir a deciso tomada de todo o corao e no procurar o resultado. Ento, este
vir por si mesmo. No primeiro perodo do desencadeamento podero ocorrer principalmente dois erros: a preguia
e a distrao. Mas isto pode ser remediado. O corao no deve ser posto demasiadamente na respirao. A
respirao vem do corao. O que provm do corao respirao. Assim que o corao despertado, cria-se a
fora da respirao. Esta ltima , originariamente, a atividade do corao, transformada. Quando nossas idias
-
correm muito depressa, ocorrem fantasias involuntrias que so sempre acompanhadas por uma aspirao, pois essa
respirao interior e exterior interligada como o som e o eco. Diariamente aspiramos inmeras vezes e
igualmente incontvel o nmero de fantasias. Desse modo se esvai a clareza do esprito, da mesma forma que a
madeira seca e a cinza se desfaz.
Significar tal coisa que no se deve ter idias? No podemos viver sem idias. Acaso no se deve respirar? No
podemos viver sem respirar. A melhor coisa a fazer transformar a doena em remdio. J que a respirao e o
corao dependem um do outro, devemos ligar o movimento circular da luz com o ritmar da respirao. Para isso,
antes de mais nada, necessrio a luz do ouvido. H uma luz do olho e uma luz do ouvido. A luz do olho a luz
unificada do sol e da lua, fora. A luz do ouvido a semente unificada do sol e da lua, dentro. A semente , portanto,
luz em forma cristalizada. Ambas tm a mesma origem e apenas se diferenciam pelo nome. Por isso a
compreenso (ouvido) e a clareza (olho) so, ambas, uma e a mesma luz atuante.
Ao sentar, depois de baixarmos as plpebras, usamos os olhos para estabelecer um fio de prumo e depois transferir a
luz para baixo. Se no conseguirmos transferi-Ia para baixo, devemos voltar o corao r!o sentido de ouvir a
respirao. Mas no podemos ouvir com o ouvido a sada e a entrada do ar, na respirao. O que se ouve
justamente a ausncia de som. Se houver algum som, a respirao grosseira e superficial e no se libera. Devemos
tornar o corao leve e despercebido. Quanto mais o soltarmos, tanto mais despercebido e tranqilo ele se torna. De
repente, torna-se to silencioso a ponto de parar. Neste momento a respirao se manifesta e a forma do corao
pode tornar-se consciente. Quando o corao sutil, a respirao sutil; cada movimento do corao produz a fora
da respirao. Quando a respirao sutil, o corao sutil; pois cada movimento da fora da respirao atua sobre
o corao. Para fixarmos o corao devemos cuidar em primeiro lugar do cultivo da fora da respirao. No
podemos atuar diretamente sobre o corao. Por isso tomamos a fora da respirao como um ponto de apoio, isto ,
aquilo a que se chama a preservao da fora concentrada da respirao.
Filhos, no compreendeis a essncia do movimento? O movimento pode ser gerado mediante meios externos. Isto
somente outro nome para domnio. Ao correr, simplesmente, pomos o corao em movimento. Assim, como no
poderamos p-lo em sossego mediante o repouso concentrado? Os grandes santos, que reconheceram a influncia
recproca do corao e da fora da respirao, inventaram um processo mais fcil, que pudesse servir para a
posteridade.
No Livro do Elixir l-se: "A galinha pode chocar seus ovos porque seu corao est sempre ouvindo". Esta uma
frmula mgica importante. O motivo que faz com que a galinha choque a fora do calor. Mas a fora do calor s
pode aquecer as cascas, no penetrando no interior. Por isso ela conduz essa fora para dentro, com o corao. E o
faz mediante o ouvido. Assim, concentra todo o seu corao. Quando este penetra, a fora tambm penetra e o
filhote obtm a fora do calor e se torna vivo. A galinha, mesmo quando s vezes abandona seus ovos, tem sempre a
atitude de quem mantm o ouvido atento: a concentrao do esprito no experimenta pois nenhuma interrupo. E
pelo fato da concentrao do esprito no experimentar nenhuma interrupo, a fora do calor tambm no sofre,
quer de dia, quer de noite, qualquer interrupo e o esprito desperta para a vida. O despertar do esprito s se efetua
porque o corao j morreu. Quando o homem pode permitir que seu corao morra, o esprito originrio desperta
para a vida. Matar o corao no equivale a sec-lo e estorric-lo; significa que ele se tornou indiviso e unificado.
Buda dizia: "Se fixares teu corao num ponto, nada te ser impossvel". O corao escapa facilmente; portanto,
devemos concentr-lo atravs da fora da respirao. A fora da respirao torna-se facilmente grosseira, por isso
devemos refin-la com o corao. Se assim o fizermos, como no o fixaramos?
Atravs do trabalho tranqilo a ser realizado diariamente, sem interrupo, duas faltas so combatidas: a preguia e
a distrao; o resultado certamente ser obtido. Se no nos sentar- mos para a meditao, distrair-nos-emos muitas
vezes, ainda que no o notemos. Conscientizar a distrao o mecanismo que conduz eliminao da distrao. A
preguia da qual no somos conscientes e a preguia da qual somos conscientes esto a milhares de milhas uma da
outra. A preguia inconsciente realmente preguia, ao passo que a preguia consciente no pura preguia, pois h
nela algo de claridade. A distrao se baseia na errncia do esprito e a preguia revela que o esprito ainda no est
puro. muito mais fcil corrigir a distrao do que a preguia. Pensemos numa doena; quando sentimos dores e
coceiras, podemos remedi-las com medicamentos. A preguia, no entanto, se assemelha a uma doena que se liga
insensibilidade. A distrao no impede o processo de concentrar-se, a confuso no impossibilita a ordem, mas a
preguia e o estar absorto so modos de ser apticos e obscuros. A distrao e a confuso pelo menos tm um lugar;
na preguia e no estar absorto, s a anima atua. Na distrao, o animus ainda participa, mas na preguia o totalmente
obscuro impera. Quando ficamos sonolentos durante a meditao, isto um efeito da preguia. A respirao o
nico meio de elimin-la. Ainda que a respirao que entra e sai pelo nariz e pela boca no seja a verdadeira
respirao, o fluir para dentro e para fora da verdadeira respirao se relaciona com ela.
Ao sentar-se, necessrio que se mantenha tranqilo o co- rao e a fora, concentrada. De que modo podemos
tranqilizar o corao? Atravs da respirao. S o corao deve ter conscincia do fluir para fora e para dentro da
-
respirao; no devemos ouvi-Ia com os ouvidos. Se no a ouvirmos, a respirao sutil e se for sutil, pura. Se a
ouvirmos, a fora da respirao grosseira; se for grosseira, turva; e sendo turva, surge a preguia e a tendncia a
ficar absorto e a dormir. Isto claro por si mesmo.
Devemos, no entanto, saber como utilizar o corao corretamente, ao respirarmos. Trata-se de uma utilizao sem
utilizao. Deve-se deixar incidir a luz, levemente, sobre o ouvir. Esta sentena contm um sentido secreto. O que
significa deixar incidir a luz? o prprio irradiar da luz do olho. O olho olha apenas para dentro, e no para fora.
Sentir a claridade sem olhar para fora, significa olhar para dentro; no se trata de um verdadeiro olhar para dentro. O
que significa ouvir? o prprio ouvir da luz do ouvido. O ouvido escuta somente para dentro, sem escutar para fora.
Sentir a claridade sem escutar para fora, significa escutar para dentro; no se trata de um verdadeiro escutar para
dentro. Neste ouvir, s se ouve que no h som; neste contemplar s se v que no h forma. Quando o olho no
olha para fora e o ouvido no escuta para fora, ento eles se fecham e tendem a mergulhar para dentro. S quando se
olha e se escuta para dentro, o rgo no sai para fora, nem mergulha para dentro. Deste modo, a preguia
eliminada, assim como a tendncia a ficar absorto. Esta a unio das sementes e da luz do sol e da lua.
Se devido preguia tornamo-nos sonolentos, levantemos e caminhemos de um lado para outro. Quando o esprito
se tornar claro, sentemo-nos de novo. Quando houver tempo, pela manh, fiquemos sentados durante o tempo que
uma varinha de incenso leva para queimar, o melhor. De tarde, os assuntos humanos nos perturbam e por isso
camos facilmente num estado de preguia. Mas no devemos depender da varinha de incenso. O que devemos,
deixar de lado todas as complicaes e permanecer sentados durante algum tempo, inteiramente tranqilos. Com o
tempo o conseguiremos, sem sucumbir preguia e sonolncia.
Comentrio: A idia mestra desta seo que o mais importante para o movimento circular da luz consiste em
tornar rtmica a respirao. Quanto mais o trabalho progredir, tanto mais os ensinamentos se aprofundaro. Ao
empenhar-se no movimento circular da luz, o discpulo deve relacionar corao e respirao, a fim de evitar os
males da preguia e da distrao. O mestre teme que os principiantes sejam dominados por fantasias confusas,
enquanto esto sentados, com as plpebras descidas; tais fantasias fazem o corao disparar, tornando-se difcil
control-lo. Por isso o mestre ensina o trabalho de contar os movimentos da respirao e fixar os pensamentos do
corao, para evitar que a fora do esprito flua para fora. Pelo fato de a respirao vir do corao, sabemos que a
respirao arrtmica produzida pela intranqilidade do corao. Assim, temos que expirar e aspirar com muita
sutileza, de forma que a respirao seja inaudvel para o ouvido; s o corao deve contar, inteiramente em sossego,
as respiraes. Quando o corao esquece o nmero das respiraes, isto sinal de que o corao fugiu para fora.
Devemos ento firmar o corao. Quando o ouvido no ouve atentamente, ou os olhos no olham para o dorso do
nariz, o corao tambm pode fugir para fora ou sobrevm o sono. Isto um sinal de que o estado do indivduo
tende para a confuso e para ficar absorto; devemos; neste caso, pr em ordem o esprito-semente. Quando, ao
baixarmos as plpebras, e procurarmos a direo do nariz, se no fecharmos bem a boca e no cerrarmos os dentes,
ocorre facilmente que o corao fuja para fora. Neste caso, devemos fechar rapidamente a boca e cerrar os dentes.
Os cinco sentidos orientam-se pelo corao e o esprito deve recorrer ao auxlio da fora da respirao, para que o
corao e a respirao se sincronizem. Deste modo, necessitamos, no mximo, de um trabalho dirio de alguns
quartos de hora; assim, o corao e a respirao se sincronizam e coordenam por si ss, e no h mais necessidade
de contar: a respirao torna-se rtmica por si mesma. Depois que a respirao se torna rtmica, desaparecem com o
tempo, por si ss, a preguia e a distrao.
Captulo 5 - Equvocos Durante o Processo de Movimento Circular da Luz
Mestre L Dsu dizia: Vosso trabalho torna-se pouco a pouco concentrado e maduro, mas, antes do estado em que
nos sentimos sentados diante do rochedo como uma rvore seca, h muitas possibilidades de equvocos que eu
gostaria de ressaltar de modo especial. Esses estados s so reconhecidos quando os vivenciamos pessoalmente.
Assim sendo, eu os enumero aqui. Minha orientao se diferencia da orientao ioga budista (Dschan Dsung, ou Zen
no Japo), por ter, passo a passo, seus sinais confirmadores. Primeiro, gostaria de falar dos equvocos, para depois
tratar dos sinais confirmadores.
Quando decidimos levar a cabo nossa resoluo, devemos cuidar, antes de mais nada, de que tudo se processe numa
posio confortvel e relaxada. No se deve exigir demais do corao. Devemos cuidar para que a fora e o corao
se cor-respondam de modo recproco e automtico. S ento se alcana o estado de repouso. Durante o estado de
repouso, devemos cuidar das circunstncias e do espao corretos. No devemos sentar-nos em meio a assuntos
insignificantes, ou, como costume dizer, a mente no deve ocupar-se de futilidades. Devemos deixar de lado todas
as complicaes, para sermos soberanos e independentes. Tambm no devemos dirigir os pensamentos para a
execuo correta. Quando nos esforamos demasiado, tal perigo se apresenta. No pretendo dizer com isto que
devemos evitar todo e qualquer esforo; a atitude correta est no meio, entre o ser e o no-ser. Quando atingimos
-
intencionalmente a no-intencionalidade, ento a captamos. Soberanos e sem perturbao, abandonemo-nos
naturalmente.
Alm disso, no devemos sucumbir seduo do mundo. O mundo sedutor aquele em que as cinco espcies de
demnios fazem suas artimanhas; o caso, por exemplo, de quando, aps o exerccio da fixao, se tm
principalmente pensamentos de madeira seca e de cinzas extintas, e poucos acerca da primavera luminosa na grande
terra. Deste modo, mergulha-se no mundo do obscuro. A fora a fria, a respirao difcil e surge uma quantidade
de imagens que representam o frio e aquilo que se extingue. Quando nos demoramos nesse estado por muito tempo,
entramos no domnio das plantas e das pedras.
No devemos tambm sucumbir seduo dos dez mil enredos. Isto acontece quando, aps um estado inicial de
repouso, ocorre de repente e sem cessar, toda espcie de ligaes. Queremos romp-las, sem consegui-lo; ento as
seguimos e sentimo-nos como que aliviados. Isto quer dizer: o senhor torna-se servo. Se perseverarmos nesse estado
por muito tempo, camos no mundo dos desejos ilusrios.
No melhor dos casos, chegamos ao cu, e no pior, misturamo-nos aos espritos-raposa. [Segundo a crena popular
chinesa, as raposas tambm podem preparar o Elixir da vida; atravs dele elas adquirem a capacidade de se
transformarem em seres humanos. Elas correspondem aos demnios da natureza da mitologia ocidental] O esprito-
raposa pode tambm atuar em cordilheiras famosas, para usufruir o vento e a luz, para deliciar-se com flores e frutos
e regozijar-se com rvores de corais e gramados de jias preciosas. Mas depois de atuar deste modo durante
trezentos ou quinhentos anos ou, no mximo, durante alguns milnios, sua recompensa termina e nasce de novo no
mundo do desassossego.
Todos esses caminhos so errneos. Quando conhecemos o caminho errneo, podemos investigar os sinais
confirmadores.
Comentrio: O sentido desta seo chamar ateno para os caminhos errneos da meditao, a fim de entrar no
espao da fora e no na caverna da fantasia. Esta ltima o mundo dos demnios. o caso, por exemplo, de
quando nos sentamos para meditar e vemos chamas luminosas ou mltiplas cores, ou ento Bodhisatvas e deuses
que se aproximam, e outras fantasias do mesmo gnero. Quando no se consegue unificar a fora e a respirao, ou
quando a gua dos rins no sobe mas impelida para baixo e a fora originria se torna fria e a respirao pesada, as
suaves foras da luz da grande terra so muito escassas, fazendo com que se entre no mundo vazio da fantasia.
Quando, ao sentarmos, as idias se multiplicam, levantam vo e tentamos reprimi-Ias sem o conseguir, deixamo-nos
levar por elas e com isso nos sentimos mais leves. Neste caso, no podemos prosseguir a meditao em hiptese
alguma. Devemos levantar-nos, caminhar um pouco de um lado para outro, at que a fora e o corao se sintonizem
de novo. S ento, devemos sentar-nos novamente para a meditao. Ao meditar, devemos desenvolver uma espcie
de intuio consciente de que se sente a fora e a respirao se unindo no campo do Elixir, que um clido irromper
da verdadeira luz comea a agitar-se surdamente; encontramos neste caso o espao correto. Depois de encontrarmos
o espao correto, estamos a salvo do perigo de cair no mundo do desejo ilusrio ou dos demnios sombrios.
Captulo 6 - Vivncias Confirmadoras do Processo de Movimento Circular da Luz
Mestre L DSU dizia: H muitos tipos de vivncias confirmadoras. No devemos contentar-nos com exigncias
modestas, mas elevar-nos ao pensamento de que todos os seres vivos devem ser salvos. Longe de ns a negligncia e
a leviandade; esforcemo-nos no sentido de confirmar nossas palavras pelas aes.
Quando, durante o silncio, o esprito tomado ininterruptamente pela sensao de uma grande euforia, como se
estivesse embriagado ou a sair de um banho, isto um sinal de que o princpio luminoso est em harmonia em todo
o corpo; ento a flor de ouro j est em boto. Quando, depois, todas as aberturas esto tranqilas e a lua de prata se
acha no meio do cu e se tem a impresso de que a grande terra um mundo de luz e de claridade, isto um sinal de
que o corpo do corao se abre para a lucidez. Este o sinal de que a flor de ouro desabrocha.
Alm disso, o corpo inteiro sente-se firme e vigoroso, de modo que no receia nem a tempestade, nem a geada.
Coisas que so desagradveis para outros, no podem perturbar em mim a claridade do esprito-semente. O ouro
amarelo enche a casa e os degraus so de jade branco. Coisas podres e nauseabundas sobre a terra, quando tocadas
por um alento da verdadeira fora, tornam-se imediatamente vivas. O sangue vermelho transforma-se em leite; o
corpo carnal e frgil puro ouro e pedras preciosas. Este o sinal de que a flor de ouro se cristaliza.
O Livro da Contemplao Coroada de xito (Ying Guan Ging) diz: "O sol se pe na grande gua e surgem imagens
mgicas de rvores enfileiradas". O pr-do-sol significa que os alicerces j foram postos no caos (mundo antes da
manifestao, ou mundo inteligvel): este o estado isento de polaridades (wu gi). O bem eminente como a gua
pura e sem mcula. Este o senhor da grande polaridade, o deus que avana ao sinal do incitador (dschen). A
imagem do incitador a madeira, da a imagem das rvores enfileiradas. A srie de sete rvores enfileiradas
significa a luz das sete aberturas do corpo (ou aberturas do corao). A direo do criativo fica ao noroeste.
-
Avanando uma posio, surge o abissal. O sol que se pe na grande gua a imagem do criativo e abissal. O
abissal a direo da meia-noite (rato, dsi, norte). No solstcio de inverno o trovo (dschen) completamente
encoberto e escondido em meio terra. Apenas quando o sinal do incitador alcanado, o plo de luz avana de
novo sobre a terra. Esta a imagem das rvores enfileiradas. O restante se revela de acordo com o que foi dito.
A segunda seo significa: erguer o alicerce sobre isto. O grande mundo como o gelo, um mundo vtreo de jias. O
brilho da luz se cristaliza aos poucos. Por isso surge uma es- planada elevada e nela, com o passar do tempo, aparece
Buda. Quando o ser de ouro aparece, quem poderia ser, seno Buda? Porque Buda o santo de ouro da grande
iluminao. Esta uma grande experincia confirmadora.
H trs experincias confirmadoras que podemos experimentar. A primeira que, quando entramos no estado de
meditao, os deuses se encontram no vale. Ouve-se ento pessoas falando e cada voz ntida, como se estivessem a
algumas centenas de passos. Mas as vozes soam como um eco no vale. Ns as ouvimos sempre, mas nunca nossa
prpria voz. A isto se chama a presena dos deuses no vale.
s vezes podemos experimentar o seguinte: logo que se entra em tranqilidade, a luz dos olhos comea a chamejar,
de modo que diante de ns tudo se torna iluminado, tal como se estivssemos dentro de uma nuvem. Se abrirmos os
olhos e pro- curarmos o nosso corpo, no o encontraremos. Chama-se a isto: "O aposento vazio torna-se luminoso".
Dentro e fora, tudo fica igualmente luminoso. Este um sinal muito favorvel.
Quando nos sentamos para meditar, o corpo carnal torna-se inteiramente brilhante, como seda ou jade. difcil
permanecer sentados, pois sentimo-nos como que arrebatados. Isto significa: "O esprito regressa e bate no cu".
Com o tempo podemos ter a vivncia de que verdadeiramente levitamos.
As trs experincias citadas j podem ser feitas. Mas nem tudo pode ser verbalizado. Conforme a predisposio de
cada pessoa, manifestam-se coisas diferentes. Se experimentarmos os estados que acabamos de mencionar, isto o
sinal de uma boa predisposio. D-se o mesmo que ao beber gua. Ns mesmos que sabemos se a gua quente
ou fria. Assim que devemos convencer-nos pessoalmente no tocante a essas experincias; somente ento elas so
autnticas.
Captulo 7 - O Carter Vivo do Processo de Movimento Circular da Luz
Mestre L DSU dizia: Quando pouco a pouco se consegue pr em curso o movimento circular da luz, nem por isso
se deve abandonar a profisso habitual. Os antigos diziam: Quando as ocupaes se nos propem devemos aceit-
las; quando as coisas acontecem em nossa vida, devemos compreend-las at o fundo. Quando, mediante os
pensamentos corretos, os assuntos so postos em ordem, a luz no manipulada pelas coisas externas, mas circular
segundo sua prpria lei. Deste modo, se estabelece o at ento invisvel movimento circular da luz, e muito mais no
caso de tratar-se do verdadeiro e autntico movimento circular da luz, que j se manifestara com nitidez.
Quando, na vida habitual, reagimos constantemente s coisas s por reflexos, sem que um pensamento interfira no
outro e em mim, isto constitui um modo do movimento circular da luz resultante das circunstncias. o primeiro
segredo.
Quando, pela manh, nos livramos de todas as complicaes e meditamos cada vez por algumas horas, conseguindo
sintonizar-nos num mtodo reflexo puramente objetivo frente a todas as atividades e coisas exteriores, e quando,
sem qualquer interrupo, prosseguimos desse modo, aps dois ou trs meses, todos os perfeitos vm do cu e
confirmam tal conduta.
Comentrio: "A seo anterior trata dos campos bem-aventurados, nos quais entramos ao progredirmos no trabalho.
Esta seo tem por finalidade mostrar aos discpulos como devem, dia a dia, dar uma forma cada vez mais sutil ao
seu trabalho, a fim de logo alcanarem o Elixir da Vida. Por que falar o mestre, justamente agora, que no se deve
renunciar profisso civil? Poder-se-ia pensar que o mestre pretende impedir que o discpulo alcance depressa o
Elixir da Vida. Aquele que sabe, porm, replica: No isso! Preocupado que o discpulo ainda no tenha cumprido o
seu carma, o mestre se exprime desse modo. Quando j se conduziu o trabalho at os campos bem-aventurados, o
corao torna-se como um espelho de gua. Quando as coisas se aproximam, ele as revela; quando as coisas se vo,
esprito e fora renem-se por si mesmos, no se deixando arrastar pelas coisas externas. isto que o mestre indica
ao dizer: devemos renunciar completamente a que um pensamento interfira no outro e em ns mesmos. Quando o
discpulo consegue concentrar-se sempre, fixando pensamentos verdadeiros no espao da fora, no precisa pr a luz
em circulao e a luz circula por si mesma. Quando a luz circula, o Elixir gerado por si mesmo, e isso no impede
que realizemos, ao mesmo tempo, trabalhos do mundo. No comeo do trabalho da meditao, quando esprito e
fora ainda esto dispersos e confusos, a situao diferente. Se no conseguirmos afastar de ns os assuntos do
mundo e encontrar um lugar tranqilo, onde nos concentremos com toda intensidade, evitando a perturbao da
atividade comum, talvez sejamos diligentes pela manh, e certamente preguiosos tarde; assim, pois, quanto tempo
levar para penetrarmos at os segredos verdadeiros? Por isso se diz: Quando comeamos a dedicar-nos ao trabalho,
devemos desvencilhar-nos dos assuntos domsticos. Mas se isto no totalmente possvel, devemos encarregar
-
algum dessa tarefa, para podermos nos aplicar com todo o zelo. Porm, quando o trabalho progrediu at o ponto de
vivenciarmos confirmaes secretas, nada impede que ordenemos de novo nossos assuntos cotidianos, para
cumprirmos o nosso carma. Isto revela o carter vivo do movimento circular da luz. Em tempos idos, o homem
verdadeiro da luz polar purprea (Dsi Yang Dschen Jen) disse estas palavras: "Quando se cuida de sua
transformao, mesclado ao mundo, mas em concordncia com a luz, o redondo redondo e o anguloso, anguloso;
vive-se ento no meio das pessoas, secretamente manifesto, diferente mas igual, e ningum pode avali-lo; ningum
percebe, pois, nossa secreta mudana". O carter vivo do movimento circular da luz significa justamente viver
misturado com o mundo e, no entanto, em sintonia com a luz."
Captulo 8 - Frmulas Mgicas para Viajar Distncia
Mestre L DSU dizia: Y Tsing deixou-nos uma frmula mgica para viajar distncia:
"Quatro palavras cristalizam o esprito no espao da fora;
No sexto ms repentinamente se v voar a neve branca.
A terceira viglia v-se, ofuscante, brilhar o disco do sol.
Sopra na gua o vento do suave.
Peregrinando no cu, come-se a fora-esprito do receptivo.
E o segredo mais profundo ainda do segredo:
O pas que no fica em parte alguma a ptria verdadeira..."
Estes versos so muito misteriosos. Seu significado o seguinte: O mais importante em amplo sentido so as quatro
palavras: Na, no-ao, a ao. A no-ao impede que nos emaranhemos na forma e na imagem (corporeidade). A
ao na no-ao impede que afundemos no vazio rgido e no nada sem vida, o efeito repousa inteiramente no Uno
central, o desencadear do efeito se acha nos dois olhos. Os dois olhos so como o eixo do grande carro, que faz girar
toda a criao; eles pem em circulao os plos do luminoso e do obscuro. O Elixir repousa, do princpio ao fim,
no seguinte: O metal em meio gua, isto , o chumbo no lugar da gua. At agora falamos do movimento circular
da luz e com isto indicamos o desencadear inicial que atua do exterior sobre o interior. Isto para ajudar a receber o
Senhor. Serve para os discpulos, nos primeiros estgios: eles cultivam as duas passagens inferiores a fim de obter a
passagem superior. Depois que se torna clara a sucesso, e conhecido o modo do desencadeamento, o cu no se
mostra mais parcimonioso quanto ao sentido, mas revela o axioma supremo. Vs, discpulos, deveis mant-lo
secreto, e esforai-vos!
O movimento circular da luz sua designao completa. Quanto mais o trabalho progride, mais iminente se torna o
desabrochar da Flor de Ouro. Mas h ainda um modo mais sublime do movimento circular da luz. At agora,
atuamos de fora para dentro; chegou o momento de permanecermos no centro e dominar o exterior. At aqui se
tratava de um servio de ajuda ao Senhor, agora se trata de uma propagao das ordens desse Senhor. Toda a relao
se inverte. Se desejarmos penetrar por esse mtodo nas regies mais sutis, em primeiro lugar, devemos dominar
completamente corpo e corao; devemos estar totalmente livres e tranqilos, desembaraados de todas as
complicaes, sem a mnima agitao, para que o corao celeste permanea exatamente no centro. Baixemos ento
as plpebras dos dois olhos, tal como se recebssemos um mandato sagrado, um chamado para sermos ministros.
Quem ousaria desobedecer? Nesse momento se ilumina com os dois olhos, interiormente, a casa do abissal (gua,
kan). Onde quer que aparea a Flor de Ouro, vem ao seu encontro a verdadeira luz polar. O aderente (o luminoso, li)
luminoso fora e obscuro dentro; este o corpo do criativo. Aquele obscuro se introduz e se torna Senhor.
Conseqentemente, o corao (conscincia) surge, dependente das coisas, e dirigido para fora, impelido de um
lado para outro, na torrente. Mas quando a luz que circula brilha para dentro, no aparece dependente das coisas e a
fora do obscuro fixada, e a Flor de Ouro brilha concentradamente. Isto a luz polar concentrada. O semelhante
atrai o semelhante. Dessa forma, a linha polar de luz do abissal fora para cima. No se trata apenas do luminoso no
abismo, mas da luz criativa que se encontra com a luz criativa. Logo que estas duas substncias se encontram,
ligam-se indissoluvelmente e surge uma vida incessante, que vai e vem, sobe e desce por si mesma, na casa da fora
originria. Somos colhidos por um sentimento de claridade e de infinitude. O corpo inteiro torna-se leve e quer voar.
Este o estado do qual se diz: As nuvens conferem plenitude s mil montanhas. Pouco a pouco, se vai de um lado
para outro, levemente, e de um modo imperceptvel se sobe e se desce, o pulso pra e cessa a respirao. Este o
momento da verdadeira unio geradora, o estado do qual se diz: A lua concentra as dez mil guas. Em meio a esta
escurido, repentinamente, o corao celeste inicia um movimento. Este o retorno da luz una, o tempo do
nascimento da criana.
No entanto, os pormenores devem ser explicados minuciosamente. Quando o homem espreita ou ausculta alguma
coisa, olho e ouvido movem-se, acompanhando as coisas, at que elas desapaream. Estes movimentos so sditos e
quando o Senhor celeste os acompanha em seu servio, isto significa: co-habitar com demnios.
-
Quando, em cada movimento, em cada quietude co-habitamos com homens, no com demnios, ento o Soberano
celestial o verdadeiro homem. Quando ele se move, ns nos movemos juntamente com ele; ento o movimento a
raiz do cu. Quando ele permanece em quietude, ns permanecemos em quietude juntamente com ele; ento a
quietude a caverna da lua. Quando ele continua ininterruptamente em movimento e quietude, continuamos
ininterruptamente em movimento e quietude juntamente com ele. Quando ele sobe e desce ao aspirar e expirar,
subimos e descemos juntamente com ele, ao aspirar e expirar: isto o que se chama ir e vir entre a raiz do cu e a
caverna da lua. Quando o corao celeste permanece em quietude, o movimento antes do tempo certo uma falta de
fluidez. Quando o corao celeste j se moveu, o movimento que tarda em corresponder-lhe um erro da rigidez.
Assim que o corao celeste se move, devemos subir imediatamente casa do criativo, com todo o nimo; assim, a
luz do esprito v o cimo; este o guia. Este movimento corresponde ao tempo. O corao celeste sobe ao cimo do
criativo e a se expande em plena liberdade. Repentinamente, ele experimenta um anseio de profunda quietude, e
ento deve-se introduzi-lo o mais rapidamente possvel, e com todo o nimo, no castelo amarelo; assim, a luz dos
olhos v a morada do esprito, central e amarela.
Quando ento o desejo se acalma, no surge um s pensamento; aquele que olha para dentro esquece repentinamente
que olha. Neste momento, corpo e corao devem ficar completamente relaxados. Todas as complicaes
desaparecem, sem deixar vestgios. Ento eu tambm no sei onde fica minha casa do esprito e o meu crisol. Se
quisermos certificar-nos acerca de nosso corpo, no possvel atingi-lo. Este estado o penetrar do cu na terra, o
tempo em que todos os prodgios retomam sua raiz. Isto ocorre quando o esprito cristalizado entra no espao da
fora.
O Uno o movimento circular da luz. No incio, ao comear- mos, a luz est dispersa e desejamos concentr-la; os
seis sentidos no esto em atividade. Trata-se aqui de cultivar a prpria origem e aliment-la, de encher-se de leo,
quando nos aproximamos para receber a vida. Se tivermos avanado at o ponto de conseguir concentr-la, sentimo-
nos leves e livres e no precisamos mais fazer esforo algum. Esta a tranqilizao do esprito no espao dos
ancestrais, a captao do cu primeiro.
Tendo avanado at o ponto em que toda a sombra e todo o eco se extinguem, sentindo-nos inteiramente tranqilos e
firmes, estamos ao abrigo na caverna da fora, onde todo o prodigioso retoma raiz. No mudamos o lugar, mas o
lugar se divide. o espao incorpreo, onde mil lugares e dez mil lugares so um s lugar. No mudamos o tempo,
mas o tempo se divide. o tempo incomensurvel, em que todos os eons so como um instante.
Enquanto o corao no alcanar a suprema tranqilidade, no pode mover-se. Move-se o movimento e se esquece o
movimento; isto no propriamente o movimento. Por isso se diz: quando nos movemos estimulados pelas coisas
exteriores, isto o impulso do ser. Quando no nos movemos estimulados pelas coisas exteriores, isto o
movimento do cu. O ser, que se ope ao cu, pode cair sob o domnio dos impulsos. Os impulsos dependem da
existncia de coisas exteriores. So pensamentos que ultrapassam a prpria situao. Ento um movimento leva a
outro movimento. Quando, porm, no surge nenhuma representao, nascem as verdadeiras representaes. Esta
a verdadeira idia. Quando estivermos em tranqilidade, firmes, e de repente se inicia o desencadear do cu, no se
trata de um movimento desprovido de intencionalidade? A ao na no-ao tem precisamente este significado.
No que concerne ao comeo da poesia citada, os dois primeiros versos se referem totalmente atividade da Flor de
Ouro. Os dois versos seguintes tratam da interpenetrao recproca do sol e da lua. O sexto ms o aderente (li), o
fogo. A neve branca que voa, o obscuro polar verdadeiro em meio ao sinal do fogo, que est prestes a transformar-
se no receptivo. A terceira viglia o abissal (kan), a gua. O disco solar o nico trao polar no sinal da gua, que
est na iminncia de transformar-se no criativo. A est contido o modo pelo qual se toma o sinal do abissal e se
inverte o sinal do aderente.
Os dois versos seguintes tratam da atividade do eixo do grande carro, o subir e o descer de todo o desencadeamento
polar. A gua o sinal do abissal, o olho o vento do suave (sun). A luz dos olhos ilumina o interior da casa do
abissal e l rege a semente do grande luminoso. "No cu": isto a casa do criativo (kien). "Peregrinando, come-se a
fora do esprito do receptivo". Isto indica o modo pelo qual o esprito penetra na fora, o modo pelo qual o cu
penetra na terra, a fim de alimentar o fogo.
Os dois ltimos versos, finalmente, apontam para o segredo mais profundo, do qual no prescindimos do comeo ao
fim. Isto o lavar do corao e o purificar dos pensamentos; o banho. A cincia sagrada principia com o
conhecimento de quando devemos deter-nos e termina com o deter-se no supremo bem. Seu comeo est alm da
polaridade e desemboca novamente alm da polaridade.
Buda fala ao efmero como sendo aquilo que gera a conscincia e fundamenta a religio. E em nosso taosmo, todo
o trabalho repousa na expresso: "produzir o vazio, que implica consumar a perfeio do ser e da vida. As trs
religies (taosmo, confucionismo e budismo) concordam na proposta comum de encontrar o Elixir espiritual a fim
de passar da morte para a vida. Em que consiste este Elixir espiritual? Pode-se dizer que consiste na ausncia de
qualquer intencionalidade. O segredo mais profundo do banho de que fala nosso ensinamento limita-se, desse modo,
-
ao trabalho de esvaziar o corao. Assim o conseguimos. O que aqui revelei em uma palavra, fruto de um esforo
de dezenas de anos.
Se ainda no estiver claro at que ponto trs sees podem estar contidas numa s seo, quero esclarecer-vos
mediante a trplice contemplao budista sobre o vazio, a iluso e o centro.
A primeira dessas trs contemplaes o vazio. Vem-se todas as coisas como vazias. Segue-se a experincia de
que so ilusrias. Apesar de sabermos que so vazias, no as destrumos, mas, em meio ao vazio, continuamos
nossas ocupaes. Entretanto, embora no destruamos as coisas, no prestamos ateno a elas: a contemplao do
centro. Enquanto cultivamos a contemplao do vazio, sabemos que no podemos destruir as dez mil coisas, sem no
entanto as levar em considerao. Assim, as trs contemplaes coincidem. Mas a fortaleza repousa afinal na
contemplao do vazio. Por isso, quando cultivamos a contemplao do vazio, o vazio est seguramente vazio, a
iluso est vazia, e o ponto central tambm est vazio. Ao cultivarmos a contemplao da iluso, necessrio uma
grande fortaleza; desta forma, a iluso realmente iluso, o vazio tambm iluso e o centro tambm iluso. No
caminho do centro criamos imagens do vazio, mas no as consideramos vazias, e sim centrais. Cultivamos as
contemplaes da iluso, mas no as consideramos ilusrias, e sim, centrais. No que concerne ao centro, no
precisamos acrescentar mais nada.
Comentrio: Esta seo cita em primeiro lugar a frmula mgica de Y TSING para a viagem distncia. Esta
frmula mgica revela que o prodgio secreto do sentido consiste no modo pelo qual algo se cria a partir do nada. No
momento em que o esprito e a fora se unem, se cristalizando, forma-se com o tempo, em meio ao vazio do nada,
um ponto do verdadeiro fogo. Durante esse tempo, quanto mais tranqilo estiver o esprito, tanto mais claro ser o
fogo. A claridade do fogo comparvel ao calor do sol do sexto ms. Enquanto o fogo chamejante vaporiza a gua
do abissal, o vapor da gua aquecido e, ultrapassando o ponto de fervura, vai para o alto como neve que voa; isto
significa que no sexto ms se v a neve voar. Mas devido ao fato de a gua evaporar-se pelo fogo, desperta a fora
verdadeira; no entanto, quando o escuro est tranqilo, o claro se move; isto se assemelha situao da meia-noite.
Por isso os adeptos chamam a esse tempo o tempo da meia-noite viva. Nele se atua sobre a fora, com o intuito de
faz-la ascender no sentido reversivo, e depois descer, no sentido direto, tal como a roda solar gira pesadamente para
cima. Por isso diz-se: "Na terceira viglia, v-se o disco solar brilhando de modo ofuscante". O mtodo da rotao
serve-se da respirao a fim de atiar o fogo do portal da vida; desse modo, consegue-se que a fora verdadeira volte
a seu lugar originrio. Diz-se, por esse motivo, que o vento sopra na gua. Desta fora do cu primeiro se
desenvolve a aspirao e a expirao do cu posterior e sua fora que atia.
O caminho vai do osso sacro para cima de modo reversivo, at o cimo do criativo, atravessando a casa do criativo;
depois, desce atravs dos dois nveis no sentido direto e entra no plexo solar, aquecendo-o. Por isso, diz-se:
"Peregrinando pelo cu, come-se a fora do esprito do receptivo". Enquanto a verdadeira fora retoma ao lugar
vazio, com o passar do tempo, fora e forma tornam-se ricas e plenas, e corpo e corao, alegres e felizes. Quando
no se alcana tal estado atravs do trabalho do girar a roda do ensinamento, de que outro modo se conseguiria
iniciar essa viagem distncia? O importante que o esprito cristalizado reverbere sobre o fogo do esprito e, com
extrema tranqilidade, atice o "fogo em meio gua", que se encontra em meio caverna vazia. Por isso diz-se: "E
o segredo mais profundo ainda do segredo: o pas que no fica em parte alguma a ptria verdadeira". O discpulo j
penetrou em seu trabalho nas regies secretas; mas se ele no conhecer o mtodo de fundir, dificilmente o Elixir da
Vida se produzir. Por isso o mestre revelou o segredo ciosamente guardado pelos antigos santos. Quando o
discpulo deixa aderir o esprito cristalizado em meio caverna da fora ao mesmo tempo deixa reinar a maior
tranqilidade, ento, nas trevas profundas, a partir do nada, aparece algo, isto , a Flor de Ouro do grande Uno.
Neste momento, a luz consciente distingue-se da luz do ser. Por isso diz-se: "O mover-se atravs do estmulo das
coisas exteriores faz com que a fora v para fora, no sentido direto, gerando um ser humano: esta a luz
consciente". No momento em que a verdadeira fora j se concentrou suficientemente, e o discpulo no a deixa
escapar para fora, no sentido direto, mas a torna reversiva, isto a luz da vida; deve-se empregar o mtodo de girar a
roda de gua. Quando a giramos constantemente, a verdadeira fora se dirige, gota a gota, para a raiz. Ento a roda
de gua pra, o corpo est puro, a fora, renovada. Uma rotao nica significa uma revoluo do cu, aquilo que
mestre Kiu chama de unia pequena revoluo do cu. Quando no esperamos a concentrao suficiente da fora e a
usamos, ela ainda demasiado tenra e fraca e o Elixir no se forma. Se a fora existir e no a usarmos, ela se torna
demasiado velha e rgida e o Elixir da vida tambm dificilmente se forma. Quando ela no for nem muito velha, nem
tenra, e a utilizarmos com a inteno orientada para a meta, ento o tempo correto. isto que BUDA indica ao
dizer: "A manifestao desemboca no vazio". Isto a sublimao da semente na fora. Quando o discpulo no
entende este princpio e deixa escapar a fora de forma direta, ela se transforma em semente; disto que se trata
quando se diz: "O vazio desemboca na manifestao". Mas todo homem que se une corporalmente a uma mulher,
primeiro sente prazer e depois, amargura; quando a semente escorreu, o corpo se sente cansado e o esprito, abatido.
Algo bem diverso ocorre quando o adepto permite que o esprito e a fora se unam. Isto d primeiro pureza e depois
-
frescor; quando a semente transmuta, o corpo se sente bem e livre. A tradio diz que mestre PONG atingiu a idade
de 880 anos, usando servas jovens para alimentar sua vida; mas isto um equvoco. Na realidade, ele utilizou o
mtodo da sublimao de esprito e fora. Nos Elixires de vida, freqentemente, so empregados smbolos: o fogo
do aderente muitas vezes comparado noiva e a gua do abissal, ao adolescente; da o equvoco de que mestre
PONG tenha substitudo sua virilidade pelo feminino. Tais erros aparecem numa poca mais tardia.
Os adeptos, porm, podem utilizar o meio de inverter o abissal e o aderente, s quando concentraram realmente suas
intenes no trabalho; seno, a mistura no ser pura. A verdadeira inteno depende da terra, a cor da terra
amarela e por isso simbolizada nos livros do Elixir da vida pelo gere amarelo. No momento em que o abissal e o
aderente se unem, aparece a Flor de Ouro e a cor do ouro branca; por isso a neve branca usada como smbolo.
Mas as pessoas mundanas, que no compreendem as palavras secretas dos livros do Elixir da vida, se enganaram no
tocante ao amarelo e ao branco, que consideravam como um meio de transformar pedras em ouro. No uma tolice?
Um velho adepto dizia: "Antigamente todas as escolas conheciam esta jia, s os tolos no o compreendiam
totalmente". Se refletirmos sobre isso, reconheceremos que os antigos, na realidade, alcanavam a longevidade com
a ajuda da fora-semente de seu prprio corpo, e no prolongavam sua vida, engolindo qualquer espcie de Elixir.
As pessoas mundanas, porm, perderam a raiz e se agarraram s copas. O Livro do Elixir acrescenta: "Se o homem
correto usar o meio errado, o meio errado atuar de um modo correto". - Com isso se indica a transformao da
semente em fora. - "No entanto, se o homem errado usar o meio correto, o meio correto atuar de modo errado". -
Com isso indicada a unio corporal do homem e da mulher, mediante a qual nascem filhos e filhas. O tolo
desperdia a jia mais preciosa de seu corpo em prazer descontrolado e no sabe preservar sua fora-semente.
Quando esta se acaba, o corpo perece. Os santos e sbios no tm outra forma de cultivar sua vida, a no ser
aniquilando os prazeres e preservando a semente. A semente acumulada transforma-se em fora e quando esta
suficiente e abundante, gera o forte corpo criativo. A diferena entre eles e o homem comum reside apenas no
emprego do caminho direto ou reversivo.
O sentido fundamental desta seo tem a finalidade de esclarecer o discpulo sobre o mtodo do encher de leo ao
encontrar a vida. O principal so os dois olhos. Ambos constituem o ponto de apoio da estrela polar. Assim como o
cu gira em tomo da estrela polar, como centro, do mesmo modo, a boa inteno deve ser o Senhor do homem. Por
isso, a consumao do Elixir da vida repousa inteiramente na harmonizao da inteno correta. Ao falarmos, ento,
na possibilidade de serem lanados os alicerces dentro de cem dias, preciso levar em conta, antes de mais nada, o
grau de aplicao ao trabalho e o grau de fora da constituio corporal. Quem trabalhar com zelo e tiver uma
constituio forte, conseguir girar mais rapidamente a roda de gua do rio posterior. Quem tiver achado o mtodo
de harmonizar pensamentos e fora, poder consumar o Elixir dentro de uma centena de dias. Quem for frgil e
preguioso, nem depois de cem dias poder produzi-lo. Uma vez consumado o Elixir, esprito e fora esto puros e
claros, o corao est vazio, o ser, manifesto, e a luz da conscincia se transforma na luz do ser. Se mantivermos
firmemente a luz do ser, o abissal e o aderente entraro em relao por si mesmos. Quando o abissal e o aderente se
misturam, entra em gestao o fruto sagrado. A maturao do fruto sagrado o efeito de uma grande revoluo do
cu. As consideraes posteriores no so tratadas pelo mtodo da revoluo do cu.
Este livro versa sobre os meios de como cultivar a vida, mostrando primeiro o modo pelo qual se pe mos obra,
olhando para o dorso do nariz; aqui indicado o mtodo do inverter; os mtodos da consolidao e do desprender-se
se encontram em outra obra, no S Ming Fang (mtodo de prosseguir a vida).
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Alquimia Chinesa
in Eliade, M. Ferreiros e Alquimistas. Rio de Janeiro: Zahar, 1986
De certa forma, poder-se-ia dizer que, na China, no houve soluo de continuidade entre a mstica metalrgica e a
alquimia. Marcel Granet j havia feito a observao de que o taosmo "tem suas origens nas confrarias de ferreiros,
detentoras da mais prestigiosa das artes mgicas e do segredo das primeiras foras".[i][i] Ora, nos meios taostas e
neotaostas que se difundem as tcnicas alqumicas. Como se sabe, aquilo a que se d o nome de "taosmo" acolheu
e revalorizou um grande nmero de tradies espirituais de idade imemorial. Recorrendo apenas a um exemplo,
certos mtodos arcaicos que visavam a reintegrar a espontaneidade e a beatitude da "Vida animal" foram adotados e
-
cuidadosamente conservados pelos mestres taostas; e, como tais prticas derivam em linha reta de um
protoxamanismo dos povos caadores, isso vem demonstrar a sua enorme Antigidade (ver o nosso Le
Chamanisme, pp. 402 s.).
claro que no devemos confundir continuidade com identidade. A "situao" do alquimista chins no podia ser a
do ferreiro nem a dos msticos arcaicos. "Entre os taostas, cujo forno alqumico herdeiro da antiga forja, a
Imortalidade j no resulta (pelo menos depois da segunda dinastia Han) da fundio de um utenslio mgico (que
exigiria um sacrifcio forja), mas est assegurada quele que soube produzir o 'divino cinbrio'. Desde esse
momento, passou a haver uma nova forma de se divinizar: bastava algum absorver o ouro potvel ou o cinbrio
para se tomar semelhante aos deuses".[ii][ii] O alquimista, sobretudo na poca do neotaosmo, empenhava-se em
encontrar uma "sabedoria antiga", superada, adulterada ou mutilada pela prpria transformao da sociedade
chinesa. O alquimista era, ao mesmo tempo, um arteso e um letrado. Os seus predecessores - caadores, oleiros,
ferreiros, danarinos, agricultores, msticos - viviam no centro de tradies que eram transmitidas oralmente,
mediante iniciaes e "segredos de ofcio". A princpio, o taosmo voltou-se com simpatia, ou at com fervor, para
os representantes dessas tradies; esse fato ficou conhecido como o entusiasmo dos taostas pelas "supersties
populares": tcnicas dietticas, gmnicas, coreogrficas, respiratrias, prticas extticas, mgicas, xamnicas,
espritas etc. Tudo leva a pensar que, ao nvel "popular" onde eram procuradas, algumas prticas tradicionais j
haviam sofrido numerosas alteraes: basta lembrarmos as variedades aberrantes de certas tcnicas xamnicas do
xtase (cf. Le Chamanisme, pp. 398 s.). Os taostas pressentiam, porm, sob a crosta de tais "supersties",
fragmentos autnticos da "sabedoria antiga" e dedicavam-se a recolh-las, terminando por incorpora-Ias sua
crena.
nessa zona difcil de circunscrever, onde subsistiam tradies de inegvel Antigidade - pois derivavam de
situaes espirituais superadas: xtases e sabedorias ligadas magia da caa, inveno da cermica, agricultura
ou metalurgia etc. -, nessa zona onde ainda se mantinham as intuies e comportamentos arcaicos, refratrios s
vicissitudes da histria cultural, nessa zona que os taostas gostavam de recolher receitas, segredos, instrues.
Desse modo, pode-se dizer que os alquimistas taostas, no obstante inevitveis inovaes, retomavam e
prolongavam uma tradio proto-histrica. Suas idias sobre a longevidade e a imortalidade pertencem ao mundo
das mitologias e dos folclores de mbito quase universal. As noes de "erva da imortalidade", de substncias
animais ou vegetais carregadas de "vitalidade, e que trazem em si o elixir da juventude, bem como os mitos sobre
as regies inacessveis habitadas por Imortais, fazem parte de uma ideologia arcaica que ultrapassa os confins da
China. No nos convm examin-los neste ponto. (Ver alguns exemplos na Nota K.) Contentar-nos-emos em
assinalar em que sentido certas intuies encontradas em estado elementar nas mitologias e ritos dos fundidores e
ferreiros foram retomadas e interpretadas pelos alquimistas. Ser sobretudo instrutivo! destacar o desenvolvimento
ulterior de algumas idias fundamentais relativas ao crescimento dos minerais, transformao natural dos metais
em ouro, ao valor mstico do ouro. Quanto ao complexo ritual "ferreiros confrarias iniciatrias - segredos de
ofcio", alguma coisa da sua estrutura se transmitiu ao alquimista chins, e alis no somente a ele: a iniciao feita
por um mestre e a comunicao iniciatria de segredos continuaram por muito tempo a constituir uma norma de
ensino alqumico.
Os especialistas no chegaram a um acordo sobre as origens da alquimia chinesa. Ainda se discutem as datas dos
primeiros textos que mencionam operaes alqumicas. Segundo H. Dubs, o primeiro documento dataria de 144
a.C.: nesse ano, um edito imperial ameaava de execuo pblica todos aqueles que fossem surpreendidos em
flagrante delito de falsificar ouro.[iii][iii] Mas, como bem demonstrou Joseph Needham[iv][iv], a falsificao do
ouro no constitui propriamente um "mtodo" alqumico. Tanto na China como em outros lugares, a alquimia
definida por meio de uma dupla crena: 1) na transmutao dos metais em ouro e 2) no valor "soteriolgico" das
operaes realizadas com o objetivo de chegar a esse resultado. As referncias precisas a essas duas crenas so
atestadas na China desde o sculo IV a.C. Existe um consenso em considerar Tsu Yen, um contemporneo de
Mncio, como o "fundador" da alquimia (cf. Dubs, p. 77; J. Needham, p. 12). No sculo II a.C., a relao entre o
preparo do ouro alqumico e a obteno da longevidade-imortalidade acha-se claramente reconhecida por Liu An e
por outros autores (Needham, p. 13).
A alquimia chinesa constituiu-se como disciplina autnoma quando passou a utilizar: 1) os princpios cosmolgicos
tradicionais; 2) os mitos relacionados com o elixir da imortalidade e com os Santos Imortais; 3) as tcnicas que
procuravam alcanar ao mesmo tempo o prolongamento da vida, a beatitude e a espontaneidade espiritual. Esses trs
elementos - princpios, mitos e tcnicas - pertenciam ao legado cultural da proto-histria e seria um erro acreditar
que a data dos primeiros documentos que os atestam nos informe tambm a sua idade. evidente a solidariedade
entre a "preparao do ouro", a obteno da "droga da imortalidade" e a "evocao" dos Imortais: Luan Tai
apresenta-se diante do imperador Wu e assevera-lhe que pode realizar esses trs milagres, mas s consegue
"materializar" os Imortais.[v][v] O mgico Li Chao-kiun recomenda ao imperador Wu Ti da dinastia Han:
-
"Sacrificai ao fomo (tsao) e podereis provocar o aparecimento de seres (sobrenaturais); quando tiverdes feito
aparecer os seres (sobrenaturais), o p de cinbrio poder ser transformado em ouro amarelo; quando o ouro amarelo
tiver sido produzido, podereis fazer com ele utenslios para beber e comer e ento tereis uma longevidade
prolongada. Quando a vossa longevidade for prolongada, podereis ver os bem-aventurados (hsien) da ilha P'ong-lai,
situada no meio dos mares. Quando os tiverdes visto e houverdes feito os sacrifcios fong e chan, j no morrereis"
(Sse-ma-Ts'ien, vol. III, p. 465). Outra personagem clebre, Liu Hsiang (79-8 a.C.) pretendia "fabricar ouro", mas
no obteve sucesso (textos em Dubs, p. 74). Alguns sculos mais tarde, Pao P'u-tzu (pseudnimo de Ko Hung, 254-
334), o mais famoso alquimista chins, tenta explicar o fracasso de Liu Hsiang, dizendo-nos que ele no possua a
"verdadeira medicina" (a "Pedra Filosofal") e no estava espiritualmente preparado (porque o alquimista devia jejuar
durante cem dias, purificar-se com perfumes etc.). Alm disso, afirma Pao P'u-tzu, no se pode efetuar a
transmutao num palcio: necessrio viver na solido, separado dos profanos. Os livros no so suficientes; o que
neles se encontra s serve para os principiantes, tudo o mais permanecendo secreto e s se transmitindo por via oral,
etc.[vi][vi]
A busca do elixir estava, portanto, ligada procura das ilhas remotas e misteriosas onde viviam os "Imortais:
encontrar os Imortais era o mesmo que ultrapassar a condio humana e participar de uma existncia atemporal e
beatfica. A procura dos Imortais das ilhas remotas ocupou os primeiros imperadores da dinastia Tsin (219 a.C.; Sse-
ma-Ts'ien, Memrias, II, 143, 152; III, 499; Dubs, p. 66).
A pesquisa do ouro implicava tambm uma investigao de essncia espiritual. O ouro tinha um carter imperial:
encontrava-se no "Centro" da Terra e tinha relaes msticas com o che (rosalgar ou sulfureto), o mercrio amarelo
e a Vida futura (as "fo