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RUEDIGER SCHACHE Qual é o caminho para chegarmos a Deus? Do mesmo autor de O Segredo do Amor O SEGREDO DE DEUS

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RUEDIGER SCHACHE

Qual é o caminho para chegarmos a Deus?

Do mesmo autor de O Segredo do Amor

O SEGREDO DE

DEUS

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Ruediger Schache

Qual é o caminho para chegarmos a Deus?

Tradução deSofia Homem de Melo

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Título OriginalDAS GOTT GEHEIMNIS© 2010, Wilhelm Goldmann Verlag/Arkana, Munique, uma divisão da Verlagsgroup Random House GmbH, Munique, Alemanhawww.randomhouse.deEste livro foi negociado através da Ute Körner Literary Agent, S. L.Barcelona – www.uklitag.com

Revisão: Manuela VieiraCapa e composição: José DominguesFoto da capa: © Getty ImagesFotos do interior: © Shutterstock Images, Nova Iorque

1.ª EDIÇÃO / Julho de 2011ISBN: 9789892312064

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[uma chancela do grupo LeYa]

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Índice

5Prefácio: O início da viagem 6

O P R I M E I R O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : A dissolução do mundo material 13

O S E G U N D O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : O mundo por detrás do nosso mundo 31

O T E R C E I R O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : O espaço vazio que liga tudo 4 7

O Q U A R T O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : O olho de Deus 5 7

O Q U I N T O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : O mar de infinito 6 5

O S E X T O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : A verdade por detrás de todas as religiões 8 5

O S É T I M O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : O projeto de construção do Universo 12 7

O O I T A V O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : O enviado de Deus 14 3

O N O N O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : Os ecos da Criação 18 7

O D É C I M O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O : A vida eterna 2 0 3

Perguntas e respostas sobre a Criação 2 3 8

Conselhos práticos relativamente aos sentimentos da alma 2 6 2

Agradecimento ao infinito 2 7 0

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6 Prefácio

O início da viagem

5Vamos então falar de Deus. Mas não vamos falar da Palavra, da Fé ou da Religião. Vamos falar daquilo que se esconde por detrás da Pa-lavra. O Infinito, a Fonte, o Grande Consciente. Vamos falar daquilo que criou tudo, que mantém cada momento em movimento e que está permanentemente a criar de novo.O que é Deus afinal? Onde está Deus? Como e quando é que Deus age? E como e quando é que não age?Aparentemente, não existe nenhuma orientação que se aplique a todos nós, que possamos simplesmente seguir até nos encontrar-mos subitamente perante o infinito. Também não é limitando-nos a desejar ou a acreditar que conseguimos alcançar aquilo que se designa por “Deus”. Deus não se revela através da obediência e do bom comportamento, nem se fizermos tudo certo ou ainda através do pensamento. Também não se revela através do estudo, da profissão de fé ou de uma posição numa organização. Se existir algo parecido com Deus e se pudermos entrar em contacto com esse algo, haverá certamente alguns segredos pelo caminho. Este livro debruça-se sobre esses segredos.

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O desejo do conhecimento sobre DeusMeditar sobre Deus pode ser empolgante. O nosso intelecto anseia por conhecimento e quer conhecer as interconexões, procurando uma ordem nas coisas. O nosso intelecto quer respostas comprová-veis quando pensa sobre Deus, sobre a Criação e sobre a Alma, ou seja, respostas que não obriguem, a certa altura, a uma transição para o “ter de ter fé”. O nosso intelecto não gosta de estar numa via do conhecimento que termine subitamente num nevoeiro difuso. Ele procura respostas que não se intimidem perante nada.Por esse motivo, iremos procurar em conjunto “a verdade” na qual tudo se encaixe perfeitamente e sem falhas. Muitos chamam-lhe “a verdade suprema”. Para esse efeito, iremos observar com atenção o que as Sagradas Escrituras e os maiores sábios da História da Humanidade relatam sobre Deus – e sobre aquilo que vivenciamos diariamente como realidade direta.Se existir uma verdade absoluta e suprema, todas as filosofias, religiões, orientações espirituais e descobertas científicas, todas as experiências pessoais e até as posições que rejeitam a existência de Deus se encaixarão espontaneamente nesta verdade. Depois de termos realmente encontrado a essência desta Criação, não deverá haver mais nenhuma contradição. Então, cada partícula encontrará o seu lugar na grande Ordem.

A experiência pessoal da CriaçãoPor muito importante e empolgante que sejam, pensar e “filosofar” por si só não permitem que se reconheça o que é Deus. O passo mais importante é a experiência pessoal que se deve acrescentar ao ato de pensar: vivenciar em cada célula do nosso próprio ser como é que

O início da viagem 7

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8 Prefácio

tudo está ligado até ao fim, de um modo completo e permanente, leva àquilo que se designa por “experiência de Deus”.Mas como é que conseguimos fazer essas experiências pessoais? Através da investigação pessoal da Criação que nos envolve. Pois se tudo o que vivenciamos é Deus ou um resultado de Deus, as chaves para Deus devem estar, em cada momento, precisamente à nossa frente, à nossa volta e dentro de nós próprios.Iremos travar conhecimento com estas chaves ao longo da nossa viagem comum.

“Senti que as moléculas do meu corpo estavam ligadas às que estavam lá fora, uma ligação ao Universo como se fosse

uma rede invisível que une tudo. Apercebi-me, subitamente, que tudo estava relacionado com tudo. Este conhecimento chegou-me

diretamente, e não através da minha cabeça: senti-o fisicamente.”

Edgar Mitchell (1971)Astronauta americano

* 17 de setembro de 1930

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O início da viagem 9

A nossa viagem à consciência sobre DeusSe quisermos compreender e vivenciar a origem e a estrutura da Criação, devemos começar por nos debruçarmos sobre “as grandes questões” e os relacionamentos fundamentais. Estes grandes relacio-namentos são suficientemente simples para serem compreendidos, pelo que podemos começar por obter uma visão de conjunto.Depois de termos obtido esta visão de conjunto, as primeiras ques-tões começarão a ser respondidas quase que espontaneamente. Reconheceremos desde logo uma grande Ordem em tudo.A partir desta Ordem, poderemos então analisar os pormenores que quisermos, sem “perdermos o fio à meada”. Iremos acompanhar, desde o início absoluto, como é que o Universo se criou, até ao mo-mento em que hoje vivemos. Nesta viagem, desde a origem até aos nossos dias, completar-se-á a imagem que temos das grandes peças componentes da Criação – “os planos da Criação”.Com este conhecimento, iremos confirmar nas Sagradas Escrituras e nas afirmações de Jesus, Buddha e de outros grandes sábios, se o que por eles é relatado coincide. E iremos observar descobertas atuais da ciência e analisar se estes cabem nesta imagem e confirmá-lo.Se a nossa viagem à verdade decorrer em conformidade, não deverá haver, depois dela, nenhuma contradição nem nenhum contrassen-so em nenhuma Sagrada Tradição nem em nenhum relatório de nenhum grande sábio do mundo. Quando tivermos encontrado a verdade última, cada declaração sobre Deus, cada religião, cada des-coberta científica, cada ponto de vista espiritual e cada experiência pessoal encontrarão o seu lugar. Logo que a grande imagem estiver correta, deixará de haver “erros”, porque todas as experiências e opiniões, enganos, contradições aparentes e opiniões contrárias tam-

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10 Prefácio

bém fazem parte da criação, tal como as pessoas que as exprimem.Por conseguinte, iremos observar, em primeiro lugar, a estrutura da Criação e, em seguida, a sua origem. Por último, iremos prosseguir a

viagem da nossa alma através deste milagre, desde o primeirís-simo início até ao final. Iremos observar como surge a alma

com a sua família de almas e como é que as almas estão ligadas entre si. E iremos analisar de que modo tudo isto está relacionado connosco, com o nosso corpo, o nosso consciente e os nossos sentimentos.E porquê tudo isto? Porque isto é, na verdade, a nossa vida quotidiana. Se compreendermos como é que o

mundo que nos rodeia está efetivamente constituído e como tudo está relacionado connosco e com a nossa

vida quotidiana prática, deixaremos de ter de “acreditar” nalguma coisa ou de tomar conhecimento de algo sem o com-

preendermos. Então, teremos aprendido algo sobre a grande “ciência da vida”, a verdadeira Ayurveda.Comecemos então com a viagem através dos cinco planos da Criação.

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O início da viagem 11

“Deus não pode ser observado, mas é reconhecido pela Criação.”

Hildegard von BingenMística, Abadessa e cientista da natureza alemã

Santa católica*1098 † 17 de setembro de 1179

Leia a seguir no primeiro capítulo: “A dissolução do mundo material” – e como aquilo que aparentemente é seguro se revela como sendo uma ilusão.

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O P R I M E I R O S E G R E D O D A C R I A Ç Ã O;

Parece haver fronteiras que nos separam das coisas que nos rodeiam.

Porém, sempre que investigamos uma fronteira

com precisão, esta afasta-se ou dissolve-se. A nossa realidade muda basicamente

quando começamos a fazer as perguntas certas.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissssssssssssssssssssssssssssssoooooooooooooooooooollllllllllllllllluuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuçççççççççççççççççççççççççççççççççççççãããããããããããããããããããooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA DDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDDiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiisssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooollllllllllllllllllllllllllllllllllllllluuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuçççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççççãããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM MMMMMMMMMdddddddddddddddddddddddddddddddddddddoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuunnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnddddddddddddddddddddooooooooooooooooooooooooooooooo MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaatttttttttttttttttttttttttttteeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaalllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll dddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuunnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnndddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddddooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo MMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaattttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaallllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll

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14 O primeiro segredo da Criação

Primeiro plano da criação: O mundo material – por detrás da fronteira do que é visível

5Temos de começar por algum lado, porque não por nós próprios? A Cria-ção começa sempre para nós precisamente onde nos encontramos. O que é que vivenciamos quando olhamos à nossa volta? Vimos

algo, ouvimos, cheiramos, saboreamos, sentimos algo. Aquilo de que nos apercebemos em primeiro lugar da Criação é

aquilo que nos envolve diretamente. É, por assim dizer, o resultado final. E, por outro lado, na nossa primeira observação, só começamos por ver as partes do mes-mo de que nos podemos aperceber através dos nossos sentidos. Vimos, ouvimos, cheiramos, saboreamos a Criação à nossa volta. Esta é a única coisa que naquele

momento sabemos com segurança acerca de Deus. Tudo o resto são ainda pensamentos e especulações.

Esta perceção sensorial do ambiente que nos envolve é o ní-vel mais básico para vivenciarmos a “Criação de Deus”. Ela ainda

não nos revela demasiado sobre a constituição e a origem, mas já vivenciamos clara e inequivocamente um detalhe – um plano muito concreto – o da Criação.Observemos agora precisamente o que é que nos coloca na posição de vivenciarmos este plano da Criação. É o nosso corpo. Sem este corpo maravilhoso, fascinante, não podíamos conhecer nada acerca do mundo. O nosso corpo faz claramente parte da Criação. Continuemos a observar: o nosso corpo está realmente separado de tudo aquilo que o envolve diretamente?

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A dissolução do mundo material 15

O ar na nossa pele passa a ser, alguns segundos mais tarde, o ar nos nossos pulmões. A água no nosso copo passa rapidamente a ser a água no nosso estômago. A fruta na nossa mão passa a ser, em breve, o alimento nas nossas veias.O calor do nosso corpo aquece a cama onde nos deitamos e a água da nossa banheira acabou de aquecer o nosso corpo. O nosso marido ou a nossa mulher abraça-nos com amor e nós abraçamos o nosso filho. O carro onde estamos sentados está ligado à estrada debaixo das rodas, enquanto o nosso corpo se ligou, ao mesmo tempo, ao banco do nosso carro. Estaremos, nalgum desses momentos, realmente separados de algu-ma coisa que exista no ambiente que nos rodeia?

“Em última instância, não deves ter dúvidas sobre este grande ensinamento: embora todas as criaturas

estejam aparentemente separadas, na realidade, são apenas uma.

Todas as criaturas têm origem na divindade e estão unidas à divindade.

Quem compreender realmente isto torna-se a divindade e alcança, por esse meio, a libertação.”

Da Bhagavad Gita,a sagrada escritura do Hinduísmo

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16 O primeiro segredo da Criação

Alguém nos conta as suas preocupações e o seu sofrimento, e nós conseguimos senti-lo em cada fibra do nosso corpo. Uma criança

olha nos nossos olhos, a pessoa sentada à nossa frente no com-boio olha para nós, ou um olhar do carro ao nosso lado

atinge-nos como se duas almas se tocassem. Um pedinte estende-nos a sua mão e nós tocamo-la brevemente ao colocarmos dinheiro nela. A operadora da caixa toca brevemente na nossa mão quando nos está a dar o troco.Os nossos dedos acariciam esta página do livro,

sentindo-a. Os nossos olhos unem-se às letras e os nossos pensamentos transformam a cor impressa no

papel numa voz na nossa cabeça. Será que o livro está realmente separado de nós?

As páginas entre os nossos dedos já foram uma árvore. A árvore assumiu agora uma forma diferente para que nós pudéssemos ler estas linhas. Mas os nossos dedos continuam a tocar numa parte dessa árvore. Respiramos calmamente na nossa cama. Os músculos pelos quais circula a água que bebemos e o ar que respiramos movimentam o nosso tórax, fazendo com que a nossa pele se movimente muito sua-vemente debaixo do tecido que temos vestido. Será que nós próprios estamos realmente separados de tudo o que nos acontece, mesmo no momento mais calmo da nossa existência? Ou não estará antes o nos-so corpo banhado pelo mar da Criação que nos envolve diretamente, em cada segundo da nossa vida?Provavelmente, temos vestida alguma roupa de algodão. Este algo-dão ainda é o mesmo que há pouco tempo crescia num arbusto. Só a

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A dissolução do mundo material 17

forma e a cor do algodão é que mudaram. Nós vestimos na nossa pele o fruto do arbusto que nesse momento ainda se encontra nalgum lugar num país distante e que faz crescer novo algodão para outras pessoas noutros países.Este arbusto, cujas partes vestimos agora na nossa pele, está neste momento ligado à terra. É a mesma terra sobre a qual os nossos pés também estão atualmente assentes. Quando chove água do céu, esta água escorre para cada célula do arbusto. Tal como, quando bebe-mos, a água escorre para cada célula do nosso corpo. O arbusto, cujos frutos temos vestidos, também bebe tal como nós.Em última instância, como é que o arbusto nasceu? A matéria com-posta de água, terra e uma semente, juntou-se e formou esta planta. Isto só foi possível com a ajuda da luz. Na verdade, nós vestimos na nossa pele o resultado de terra, luz e água. Vestimos no nosso corpo precisamente aquilo de que o nosso próprio corpo também é constituído. Se estivermos a sentir neste momento que o nosso sentimento em relação a nós próprios e ao mundo à nossa volta está a mudar um pouco, estamos a vivenciar como a nossa perceção da criação já se está a alargar. Talvez alguém diga que tudo isto é óbvio. Porém, quem é que está realmente consciente, em cada momento, de que não existe ne-nhuma separação entre ele próprio e o mundo, assim como a vida? Quem é que está sentado a uma mesa com a plena consciência de que a cadeira sobre a qual o seu corpo descansa e a mesa à frente dela são apenas partes de um grande todo, que estão ligadas uma à outra? Quem é que observa milhões de formigas sabendo que, na verdade, são apenas um único ser vivo? E quem é que também

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reconhece o mesmo em relação às pessoas numa zona pedonal movimentada?Quem é que se deita num relvado com a plena consciência de que, unido a essa terra, está naquele momento a flutuar através de um universo infinito? Tal como uma pequena gota, cheia de vida, à deri-va num mar de infinito?E quem é que continua a saber tudo isto, depois de se ter levantado e regressado ao seu trabalho…?

“Para descobrires a mais elevada realidade que o Homem designa por Deus, há milhares de anos, deves estar livre de crenças, livre de toda a autoridade.

Só então é que podes descobrir por ti próprio se existe algo como Deus.”

Jiddu KrishnamurtiFilósofo indiano, autor e professor espiritual

* 12 de maio de 1895 † 17 de fevereiro de 1986

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