O segredo dos azulejos da Praça Deák

17
O segredo dos azulejos da Praça Deák A idéia de João Vieira em reunir na estação da Praça Deák do Metropolitano de Budapeste, flashes de versos de seis poetas (três húngaros e três portugueses) é uma obra que se impõe por ela mesma. A visualização mental deste conjunto é extremamente sedutora, excitante e a sua realização oferece, além do mais, atrativos que, de relance, não poderíamos imaginar. Ao associar personalidades tão diversas nos seus painéis, o pintor partiu à procura do elo que une, desde o início, as várias fases do seu percurso. Esta obra em azulejos tem todas as hipóteses de impressionar pelo rigor e pelo cromatismo da sua apresentação." Assim se inicia o artigo "Um longo caminho interpretativo" de Margarida Botelho, publicado num caderno bilíngue (português e húngaro) intitulado "Painéis para a estação Deák Tér do Metropolitano de Budapeste" e publicado pelo Metropolitano de Lisboa em 1996.

description

 

Transcript of O segredo dos azulejos da Praça Deák

Page 1: O segredo dos azulejos da Praça Deák

O segredo dos azulejos da Praça Deák

A idéia de João Vieira em reunir na estação da Praça Deák do Metropolitano de Budapeste,

flashes de versos de seis poetas (três húngaros e três portugueses) é uma obra que se impõe

por ela mesma.

A visualização mental deste conjunto é extremamente sedutora, excitante e a sua realização

oferece, além do mais, atrativos que, de relance, não poderíamos imaginar.

Ao associar personalidades tão diversas nos seus painéis, o pintor partiu à procura do elo que

une, desde o início, as várias fases do seu percurso. Esta obra em azulejos tem todas as

hipóteses de impressionar pelo rigor e pelo cromatismo da sua apresentação."

Assim se inicia o artigo "Um longo caminho interpretativo" de Margarida Botelho, publicado num

caderno bilíngue (português e húngaro) intitulado "Painéis para a estação Deák Tér do

Metropolitano de Budapeste" e publicado pelo Metropolitano de Lisboa em 1996.

Page 2: O segredo dos azulejos da Praça Deák

Deixe-me contar a história desde o início e como me interessei por este assunto apaixonante.

Há quase dois anos trabalho algumas horas por dia numa empresa que fica próxima à estação

Deák Tér e como vou quase todos os dias de metrô, os azulejos que eu lá via sempre me

intrigaram. Sempre correndo, às vezes eu reconhecia algumas palavras em húngaro de um dos

lados, outras vezes decifrava uma ou duas em português do outro... mas como estes fragmentos

de texto não faziam sentido, achei que era mera coincidência. Até que um dia, movido pela

curiosidade, pesquisei o assunto na internet e descobri que um jovem local chamado Géza Papp

também tinha as mesmas dúvidas que eu. Trocamos emails, encontramo-nos algumas vezes e

apresentamos agora o resultado das nossas pesquisas.

ao lado do painel descobrimos uma plaqueta

de bronze com o seguinte texto:

Obra do pintor português

JOÃO VIEIRA nascido em 1934

executada em Lisboa na

Fábrica Cerâmica Viúva Lamego

oferta do

Metropolitano de Lisboa

ao

Budapesti Közlekedési

Részvénytársaságnak (assim mesmo, com

"nak" no final)

Inaugurado em 19 de Agosto de 1996

por ocasião das comemorações dos

1100 anos da fundação do

Estado Húngaro.

Do lado oposto há uma outra plaqueta com este mesmo texto, porém em húngaro e sem o erro

de concordância mencionado acima. O correto seria sem o sufixo -nak.

Semanas de pesquisa árdua se passaram, montamos finalmente o quebra-cabeças e

descobrimos que o artista escolheu 3 poetas húngaros, 3 portugueses e 10 poemas no total,

cinco em cada idioma. Aqui vão eles, caro leitor, começando com os portugueses traduzidos

para o húngaro.

Page 3: O segredo dos azulejos da Praça Deák

O primeiro poema, logo no painel da esquerda e bem menor em

tamanho que os outros, é "Opiário" de Fernando Pessoa (ou

Álvaro de Campos, que foi um de seus inúmeros heterônimos),

nascido em 1888 e morto em 1935.

No painel encontramos somente os versos em negrito, os em

azul já não couberam... o texto simplesmente termina, mas é

compreensível, pois não seria possível ao artista compor uma

obra desta envergadura levando em conta todas as letras de

todos os poemas.

Podemos perceber, entretanto, que quando montaram o painel

(ainda em Lisboa) cometeram alguns pequenos erros. Por

exemplo, alguns azulejos trocaram de posição. Estas

discrepâncias eu realço em letras vermelhas, caso um dia

você, caro leitor, queira verificá-los pessoalmente. Em verde

marquei os dois azulejos onde João Vieira substituiu uma letra pelo logotipo do seu

atelier, que é uma concha (vide foto).

Page 4: O segredo dos azulejos da Praça Deák

OPIÁRIUM

A LELKEMET NEM ÓPIUM SEBEZTE,

AZ ÉLETTŐL SÁPADOZTAM,

DARVADOZTAM,

DE VÍGASZOM RÉMLETT AZ ÓPIUMBAN,

KELET KELETJE CSÁBÍTOTT KELETRE.

MEGÖL, TUDOM, E FEDÉLZETI ÉLET

FEJEMBEN LÁZAS NAPOK

KERGETŐZNEK.

EZERSZER JOBB, HA BETEGSÉG

GYÖTÖR MEG.

AZ ALKALMAZKODÁSHOZ ÉN NEM

ÉRTEK.

AZ ELLENTMONDÁSOS, ROSSZ

CSILLAG-ÁLLÁS

ARANY SEBEKKEL UTAMAT KISZABJA.

ÖNÉRZETEM LECSÚSZIK A HABOKBA,

IDEGCSOMÓIM HULLÁMOK CIBÁLJÁK.

A KÉPZELET TORZ LENDÍTŐKERÉKKEL

A KATASZTRÓFÁT MŰKÖDÉSBE HOZZA,

EGY KERTBEN RÁLELEK A

VÉRPADOKRA,

SZÁRUKAT VESZTETT VIRÁGOK

KÍSÉRNEK.

(Tradução de Zsuzsa Takács, de acordo

com o livreto editado em Lisboa. É possível,

entretanto, que seja tradução de Endre

Kukorelly, verificarei em breve!)

Aqui vai a versão original do poema:

FERNANDO PESSOA / ÁLVARO DE

CAMPOS: OPIÁRIO

(Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro) - escrito

em março de 1914

É ANTES DO ÓPIO QUE A MINH'ALMA É

DOENTE.

SENTIR A VIDA CONVALESCE E

ESTIOLA

E EU VOU BUSCAR AO ÓPIO QUE

CONSOLA

UM ORIENTE AO ORIENTE DO ORIENTE.

ESTA VIDA DE BORDO HÁ-DE MATAR-

ME.

SÃO DIAS SÓ DE FEBRE NA CABEÇA

E, POR MAIS QUE PROCURE ATÉ QUE

ADOEÇA,

JÁ NÃO ENCONTRO A MOLA PRA

ADAPTAR-ME.

EM PARADOXO E INCOMPETÊNCIA

ASTRAL

EU VIVO A VINCOS DE OURO A MINHA

VIDA,

ONDA ONDE O PUNDONOR É UMA

DESCIDA

E OS PRÓPRIOS GOZOS GÂNGLIOS DO

MEU MAL.

É POR UM MECANISMO DE

DESASTRES,

UMA ENGRENAGEM COM VOLANTES

FALSOS,

QUE PASSO ENTRE VISÕES DE

CADAFALSOS

NUM JARDIM ONDE HÁ FLORES NO AR,

SEM HASTES.

Page 5: O segredo dos azulejos da Praça Deák

Na parte central do painel (que é bem maior que as duas laterais) encontramos 3 poemas, o

primeiro deles de Luís Vaz de Camões (1524?-1580):

MIT AKARTOK, ÖRÖK VÁGYÁSOK?

MIT AKARTOK, ÖRÖK VÁGYAKOZÁSOK?

MILY REMÉNYEKKEL ÁLLTOK MÉG ELŐ?

NEM TÉR VISSZA A TOVASZÁLLT IDŐ,

S HA VISSZATÉR IS, VONÁSAI MÁSOK.

JÓL TESZITEK, ÉVEK, HOGY TOVASZÁLLTOK,

MERT BÁR MINDŐTÖK KÖNNYEN RÖPPENŐ,

HAJLAMOTOK NEM MINDIG EGYEZŐ,

S AZ ÓHAJ NEM ISMER EGYFORMASÁGOT.

MI KEDVES VOLT, MÁS BENNE MÁR A LÉNYEG;

MERT A NAPOK MÚLÁSA LETÖRÖLTE

A RÁTAPADT ELSŐ GYÖNYÖRŰSÉGET.

REMÉNYT NEKEM TOVÁBBI ÖRÖMÖKRE

NEM HAGY A MEGLÓDULT IDŐ S A VÉGZET,

A BOLDOGSÁG E KÉT KERÉKKÖTŐJE.

(Tradução de Ernő Hárs)

LUÍS DE CAMÕES: QUE ME QUEREIS, PERPÉTUAS

SAUDADES?

QUE ME QUEREIS, PERPÉTUAS SAUDADES?

COM QUE ESPERANÇA AINDA ME ENGANAIS?

QUE O TEMPO QUE SE VAI NÃO TORNA MAIS

E, SE TORNA, NÃO TORNAM AS IDADES.

RAZÃO É JÁ, Ó ANOS, QUE VOS VADES,

PORQUE ESTES TÃO LIGEIROS QUE PASSAIS,

NEM TODOS PARA UM GOSTO SÃO IGUAIS,

NEM SEMPRE SÃO CONFORMES AS VONTADES.

AQUILO A QUE JÁ QUIS É TÃO MUDADO

QUE QUASE É OUTRA COUSA; PORQUE OS DIAS

TÊM O PRIMEIRO GOSTO JÁ DANADO.

ESPERANÇAS DE NOVAS ALEGRIAS

NÃO MAS DEIXA A FORTUNA E O TEMPO ERRADO,

QUE DO CONTENTAMENTO SÃO ESPIAS.

Page 6: O segredo dos azulejos da Praça Deák

O segundo poema do painel central já é de Cesário Verde, outro grande poeta

português, que nasceu em Lisboa em 1855 e faleceu em Lumiar em 1886, aos 31 anos

de idade.

Ainda não consegui descobrir por que os azulejos com as letras maiores (que

destacam os nomes dos seis poetas) mencionam o nome como Cesáro (sem o i).

Minha hipótese é que quando escolheram os seis protagonistas contaram as letras

dos seus sobrenomes: Camões, Pessoa, József e Petőfi tem seis letras e Ady tem três

(que dobrando dá seis, isto é, repetindo as letras daria para fazer combinações de

azulejos similares aos dos outros). Cesário entretanto tem sete letras… hmmm… o

que fazer? Suponho

que o artista primeiro

procurou outros

poetas portugueses com seis letras e como

não encontrou nenhum famoso… pensou

que nós húngaros não perceberíamos este

deslize e ’comeu’ o i, ficando Cesáro.

BEZÁRT ÉJ

EMLÉKSZEL-E,

MONDD, AZ

ELMÚLT SZOMBATRA:

LÉPÉSEINK LASSÚ KOPPANÁSAI,

FÖLÖTTÜNK A MERENGŐ GÁZ SÁRGA

LÁNGJA,

S A HOLDFÉNY TEJFINOM SIMOGATÁSAI?

A SZŰK UTCÁCSKÁKRA JÓL EMLÉKSZEM

ÉN,

HOL KÉZ A KÉZBEN KÓBOROLTUNK

KETTEN:

A HÁZAK HOMLOKÁN OTT SÁPADT A FÉNY;

S ABLAKUKBAN SZOMSZÉDASSZONYOK

FECSEGNEK.

NEM FELEJTEM MINDAZT MIRŐL MESÉLTÉL

EGY DÚSAN FARAGOTT KOMOR

TEMPLOMNÁL;

SEM A CÉDRUST, MELY HÁJBÓL S

HALÁLBÓL ÉL,

S BÁJOS TEMETŐKERTEK REJTEKÉN ÁLL.

ELINDULTUNK, TUDVA AZ ALKONY KÖZEL,

MÉGIS MEG-MEGÁLLVA HALADTUNK

TOVÁBB; –

DE KEDVETLENSÉGEM SEM FELEJTEM EL,

S A SZAGGATOTT JELET: MINT MÚLTAK AZ

ÓRÁK. (Tradução: Éva Bernát)

CESÁRIO

VERDE:

NOITE FECHADA

LEMBRAS-TE TU DO SÁBADO PASSADO,

DO PASSEIO QUE DEMOS, DEVAGAR,

ENTRE UM SAUDOSO GÁS AMARELADO

E AS CARÍCIAS LEITOSAS DO LUAR?

BEM ME LEMBRO DAS ALTAS RUAZINHAS,

QUE AMBOS NÓS PERCORREMOS DE MÃOS

DADAS:

ÀS JANELAS PALRAVAM AS VIZINHAS;

TINHAM LÍVIDAS LUZES AS FACHADAS.

NÃO ME ESQUEÇO DAS COUSAS QUE

DISSESTE,

ANTE UM PESADO TEMPLO COM

RECORTES;

E OS CEMITÉRIOS RICOS, E O CIPRESTE

QUE VIVE DE GORDURAS E DE MORTES!

NÓS SAÍRAMOS PRÓXIMO AO SOL-POSTO,

MAS SEGUÍAMOS CHEIOS DE DEMORAS;

NÃO ME ESQUECEU AINDA O MEU

DESGOSTO

NEM O SINO RACHADO QUE DEU HORAS.

Page 7: O segredo dos azulejos da Praça Deák

O terceiro poema da parte central é novamente de

Fernando Pessoa:

Ő, AZ AZ ARATÓMUNKÁSNŐ ÉNEKEL

Ő, AZ AZ ARATÓMUNKÁSNŐ ÉNEKEL

SZEGÉNY, TALÁN BOLDOG IS, AZT HISZI;

ARAT, S AZ ÉNEK SZÁLL AZ ÉGBE FEL,

DERŰS ÉS NÉVTELEN ÖZVEGYSÉGGEL

TELI.

ÉS HULLÁMZIK, MINT EGY MADÁR DALA

AZ ÉGEN, AMELY TISZTA, MINT A KEZDET,

S HAJLIK, AHOGY HAJLIK AZ ÉG FALA,

ÉS LÁGY FOLYAM, ÉS MEG SOHASE

RESZKET.

ÖRÖM HALLGATNI ŐT, S ELSZOMORÍT,

E HANGBAN ÉLNEK A MEZŐK S A RÉTEK

S A MUNKA IS, E DAL ÚGY ELBORÍT,

ÉS MINTHA MÁS OKA IS LENNE, MINT AZ

ÉLET.

Ó ÉNEKELJ, DALOLJ, HA NINCS IS OK!

AZ, AMIT ÉRZEK IS, CSAK GONDOLAT.

A SZÍVEMBEN, AHOL MOST NEM VAGYOK,

ÖNTSD SZÉT GYENGE, HULLÁMZÓ

HANGODAT.

Ó HOGYHA ÚGY LEHETNÉK ÉN, HOGY TE

LEGYEK!

BOLDOG TUDATLANSÁGBAN LENNI MÁS,

ÉS TUDNI ERRŐL, TUDNI. Ó EGEK!

Ó, MEZŐK! Ó, DAL! Ó, EZ A TUDÁS!

NEHÉZ, S AZ ÉLET CSAK EGY PILLANAT!

VÁLTOZTASSATOK, ÁRADVÁN BELÉM

LELKEMMÉ KÖNNYŰ ÁRNYÉKOTOKAT!

ÉS VIGYETEK, TOVÁBB, EL, MINDENT, AMI

ÉN. (Tradução de Endre Kukorelly)

FERNANDO PESSOA: ELA CANTA, POBRE

CEIFEIRA

ELA CANTA, POBRE CEIFEIRA,

JULGANDO-SE FELIZ TALVEZ;

CANTA, E CEIFA, E A SUA VOZ, CHEIA

DE ALEGRE E ANÔNIMA VIUVEZ,

ONDULA COMO UM CANTO DE AVENO

AR LIMPO COMO UM LIMIAR,

E HÁ CURVAS NO ENREDO SUAVE

DO SOM QUE ELA TEM A CANTAR.

OUVI-LA ALEGRA E ENTRISTECE,

NA SUA VOZ HÁ O CAMPO E A LIDA,

E CANTA COMO SE TIVESSE

MAIS RAZÕES P'RA CANTAR QUE A VIDA.

AH, CANTA, CANTA SEM RAZÃO!

O QUE EM MIM SENTE 'STÁ PENSANDO.

DERRAMA NO MEU CORAÇÃO

A TUA INCERTA VOZ ONDEANDO!

AH, PODER SER TU, SENDO EU!

TER A TUA ALEGRE INCONSCIÊNCIA,

E A CONSCIÊNCIA DISSO! Ó CÉU!

Ó CAMPO! Ó CANÇÃO! A CIÊNCIA

PESA TANTO E A VIDA É TÃO BREVE!

ENTRAI POR MIM DENTRO! TORNAI

MINHA ALMA A VOSSA SOMBRA LEVE!

DEPOIS, LEVANDO-ME, PASSAI!

Page 8: O segredo dos azulejos da Praça Deák

No último painel deste lado "português", bem menor em tamanho, encontramo-nos novamente

com Luís de Camões. Este é o quinto e último poema:

HIBÁIM, BALSORS, LOBOGÓ SZERELMEM

HIBÁIM, BALSORS, LOGOBÓ SZERELMEM

ESKÜDTEK AZ ELVESZTÉSEMRE ÖSSZE;

FELESLEGESEN TETT SORS, HIBA

TÖNKRE,

MERT ELÉG VOLT ÁMORT MAGÁT

VISELNEM.

RÉG MESSZE MÁR; DE ITT A KÍNJA BENNEM

MINDENNEK MÉG, MI MÚLTAMAT

GYÖTÖRTE,

S VAD KESERVEK MEGGYŐZTEK FELŐLE,

HOGY NEM ÉLHETEK SOHA ÖNFELEDTEN.

ÉVEIM SORÁN MINDIG CSAK HIBÁZTAM;

S HOGY ROSSZ REMÉNYEIMET PORBA

SÚJTSA,

BŐSÉGES OKOT ADTAM RÁ A SORSNAK.

RÖVID MARADT MINDEN SZERELMI LÁZAM...

Ó, ELÉGTÉTELT SZEREZNI KI TUDNA

BOSSZÚRA VÁGYÓ ZORD GÉNIUSZOMNAK!

(Tradução de Ernő Hárs)

LUÍS DE CAMÕES: ERROS MEUS, MÁ

FORTUNA, AMOR ARDENTE

ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR

ARDENTE

EM MINHA PERDIÇÃO SE CONJURARAM;

OS ERROS E A FORTUNA SOBEJARAM,

QUE PARA MIM BASTAVA O AMOR

SOMENTE.

TUDO PASSEI; MAS TENHO TÃO PRESENTE

A GRANDE DOR DAS COUSAS QUE

PASSARAM,

QUE AS MAGOADAS IRAS ME ENSINARAM

A NÃO QUERER JÁ NUNCA SER CONTENTE.

ERREI TODO O DISCURSO DE MEUS ANOS;

DEI CAUSA A QUE A FORTUNA CASTIGASSE

AS MINHAS MAL FUNDADAS ESPERANÇAS.

DE AMOR NÃO VI SENÃO BREVES

ENGANOS.

OH! QUEM TANTO PUDESSE, QUE

FARTASSE

Page 9: O segredo dos azulejos da Praça Deák

ESTE MEU DURO GÉNIO DE VINGANÇAS!

Do lado oposto da estação encontraremos 3 poetas e 5 poemas húngaros traduzidos para o

português. Por sorte deste lado só cometeram um único erro quando colocaram os azulejos, uma

simples troca de letras (veja em vermelho).

Curiosamente um dos poemas de Sándor Petőfi (Liberdade, Amor) é o único que foi usado na

íntegra.

SZABADSÁG, SZERELEM

SZABADSÁG, SZERELEM!

E KETTŐ KELL NEKEM.

SZERELMEMÉRT FÖLÁLDOZOM

AZ ÉLETET,

SZABADSÁGÉRT FÖLÁLDOZOM

SZERELMEMET.

SÁNDOR PETŐFI: LIBERDADE, AMOR

AMOR E LIBERDADE!

AMBOS ME SÃO PRECISOS.

PELO MEU AMOR SACRIFICO

A VIDA.

PELA LIBERDADE SACRIFICO

O MEU AMOR.

Tradução: Yvette K. Centeno

Page 10: O segredo dos azulejos da Praça Deák

Logo em seguida, dentro deste mesmo painel (o menor dos três) vem um segundo poema de

Petőfi, mas só dois versos dele...

A NÉP NEVÉBEN

MÉG KÉR A NÉP, MOST ADJATOK NEKI!

VAGY NEM TUDJÁTOK, MILY SZÖRNYŰ A

NÉP,

HA FÖLKEL ÉS NEM KÉR, DE VESZ,

RAGAD?

NEM HALLOTTÁTOK DÓZSA GYÖRGY

HIRÉT?

IZZÓ VASTRÓNON ŐT ELÉGETTÉTEK,

DE SZELLEMÉT A TŰZ NEM ÉGETÉ MEG,

MERT AZ MAGA TŰZ; ÚGY

VIGYÁZZATOK:

ISMÉT PUSZTÍTHAT E LÁNG RAJTATOK!

E em português:

SÁNDOR PETŐFI: EM NOME DO POVO

O POVO AINDA PEDE, DAI LHE AGORA!

NÃO SABEIS COMO É TERRIVEL

QUANDO SE REVOLTA.

QUANDO EM VEZ DE PEDIR AGARRA E

ARREBATA?

NAO OUVISTEIS FALAR O GYÖRGY

DÓZSA?

FOI SENTADO POR VÓS NUM TRONO DE

FERRO EM BRASA,

MAS NÃO QUEIMOU O SEU ESPÍRITO

ESSE FOGO

POIS ERA O PRÓPRIO FOGO. CUIDADO,

AQUELAS LÍNGUAS PODEM DEVORAR-

VOS!

(Tradução: Yvette K. Centeno)

Page 11: O segredo dos azulejos da Praça Deák
Page 12: O segredo dos azulejos da Praça Deák

Na parte central do painel (a que está sobre os bancos) novamente

encontraremo-nos com três poemas.

O primeiro é „No Danúbio” do poeta Attila József porém o início da obra só

encontraremos no último painel deste lado da estação, e só a continuação é

que aparece nesta parte central. Vamos deixá-la para daqui a pouco e pular

para o segundo poema, de Endre Ady. Aqui veremos o nome dele em letras

bem maiores, mas em dobro (ADY / YDA):

ELILLANT ÉVEK SZŐLŐHEGYÉN

TORT ÜLÖK AZ ELILLANT ÉVEK

SZŐLŐHEGYÉN S VIDÁMAN BUGGYAN

TORKOMON A SZÜRETI ÉNEK.

ÓNOS, CSAPÓ ESŐBEN ÁZOM

S VÖRÖS-KÉK SZŐLŐLEVELEKKEL

HAJLÓ FEJEM MEGKORONÁZOM.

NÉZEM A TÉPETT VENYIGÉKET,

HAJTOGATOM RÉSZEG KORSÓMAT

S LASSAN, GŐGGEL MAGASRA LÉPEK.

A CSÚCSON MAJD TALÁN MEGÁLLOK.

FÖLDHÖZ VÁGOM A BOROS-KORSÓT

S VIDÁM JÓÉJSZAKÁT KIVÁNOK.

ENDRE ADY: NA VINHA DOS ANOS

FANADOS

FESTEJO NA VINHA DOS ANOS

FANADOS E, EM MINHA GARGANTA,

BROTA O CANTO VINDIMO, UFANO.

A CHUVA DE ESTANHO ME ADENSA;

COM PÂMPANOS VERMELHOS-AZUIS

CINJO MINHA CABEÇA PENSA.

CONTEMPLO TRAPOS, DE SARMENTO,

ENVERGO MINHA JARRA TONTA

E SIGO ACIMA, ALTIVO E LENTO.

TALVEZ PARE NO CIMO, LANÇO

AO CHÃO MINHA JARRA DE VINHO,

DESEJO A TODOS BOM DESCANSO.

(Tradução de Nelson Ascher)

Page 13: O segredo dos azulejos da Praça Deák
Page 14: O segredo dos azulejos da Praça Deák

O terceiro poema neste painel mais longo é novamente um de Sándor Petőfi, intitulado „O

Sonho”.

AZ ÁLOM...

AZ ÁLOM

A TERMÉSZETNEK LEGSZEBB

ADOMÁNYA.

MEGNYÍLIK EKKOR VÁGYINK

TARTOMÁNYA,

MIT NEM LELÜNK MEG ÉBREN A

VILÁGON.

ÁLMÁBAN A SZEGÉNY

NEM FÁZIK ÉS NEM ÉHEZIK,

BÍBOR RUHÁBA ÖLTÖZIK,

S JÁR SZÉP SZOBÁK LÁGY SZŐNYEGÉN.

ÁLMÁBAN A KIRÁLY

NEM BÜNTET, NEM KEGYELMEZ, NEM

BIRÁL...

NYUGALMAT ÉLVEZ.

ÁLMÁBAN AZ IFJÚ ELMEGY

KEDVESÉHEZ,

KIÉRT EPESZTI TILTOTT SZERELEM,

S OTT OLVAD ÉGŐ KEBELÉN. –

ÁLMAMBAN ÉN

RABNEMZETEK BILINCSÉT TÖRDELEM!

SÁNDOR PETŐFI: O SONHO

O SONHO

É O DOM MAIS BELO DA NATUREZA.

ABRE O PAÍS DOS DESEJOS

PARA ENCONTRARMOS NELE

TUDO O QUE FALTA À NOSSA VIDA.

EM SONHOS

O POBRE NÃO PASSA FOME NEM FRIO.

ANDA VESTIDO DE PÚRPURA

SOBRE A MOLE ALCATIFA DE BELAS

SALAS.

EM SONHOS

O REI NÃO JULGA, NÃO CASTIGA, NÃO

CONCEDE PERDÃO...

SABOREIA A CALMA.

EM SONHOS O ADOLESCENTE

ENCONTRA A SUA AMADA

POR QUEM SOFRE DE UM AMOR

PROIBIDO

QUE LHE ARDE NO PEITO E O

CONSOME.

EU, NOS MEUS SONHOS,

ROMPO AS CADEIAS DOS POVOS

ESCRAVIZADOS!

(Tradução: Yvette K. Centeno)

Page 15: O segredo dos azulejos da Praça Deák
Page 16: O segredo dos azulejos da Praça Deák

„No Danúbio”, que se inicia no último painel e termina no começo da parte central.

JÓZSEF ATTILA: A DUNÁNÁL

A RAKODÓPART ALSÓ KÖVÉN ÜLTEM,

NÉZTEM, HOGY ÚSZIK EL A DINNYEHÉJ.

ALIG HALLOTTAM, SORSOMBA MERÜLTEN,

HOGY FECSEG A FELSZÍN, HALLGAT A MÉLY.

MINTHA SZÍVEMBŐL FOLYT VOLNA TOVA,

ZAVAROS, BÖLCS, ÉS NAGY VOLT A DUNA.

MINT AZ IZMOK, HA DOLGOZIK AZ EMBER,

RESZEL, KALAPÁL, VÁLYOGOT VET, ÁS,

ÚGY PATTANT, ÚGY FESZÜLT, ÚGY

ERNYEDETT EL

MINDEN HULLÁM ÉS MINDEN MOZDULÁS.

S MINT ÉDESANYÁM, RINGATOTT, MESÉLT

S MOSTA A VÁROS MINDEN SZENNYESÉT.

ÉS ELKEZDETT AZ ESŐ CSEPERÉSZNI,

DE MINTHA MINDEGY VOLNA, EL IS ÁLLT.

ÉS MÉGIS, MINT AKI BARLANGBÓL NÉZI

A HOSSZÚ ESŐT – NÉZTEM A HATÁRT:

EGYKEDVŰ, ÖRÖK ESŐ MÓDRA HULLT,

SZÍNTELENÜL, MI TARKA VOLT, A MÚLT.

A DUNA CSAK FOLYT. ÉS MINT A

TERMÉKENY,

MÁSRA GONDOLÓ ANYÁNAK ÖLÉN

A KISGYERMEK, ÚGY JÁTSZADOZTAK

SZÉPEN

ÉS NEVETGÉLTEK A HABOK FELÉM.

AZ IDŐ ÁRJÁN ÚGY REMEGTEK ŐK,

MINT SÍRKÖVES, DÜLÖNGŐ TEMETŐK.

ATTILA JÓZSEF: NO DANÚBIO

SENTADO NA MAIS ALTA PEDRA DO MOLHE

VIA FLUTUAR AS CASCAS DE MELANCIA.

PENSANDO NO DESTINO, MAL NOTAVA

COMO AS ONDAS SUSSURRAM E O FUNDO

SILENCIA.

COMO SE DE MIM SAÍSSE

SÁBIO ERA O DANÚBIO, CONFUSO E

GRANDE.

A ONDA, COMO OS MÚSCULOS HUMANOS

QUE LIMA, CAVA, CIMENTA OU MARTELA,

MOVIA-SE, SALTAVA, AMORTECIA,

RODOPIAVA LIVREMENTE. EMBALAVA-ME

COMO MINHA MÃE, CONTANDO HISTÓRIAS

E LAVANDO TODA A ROUPA DA CIDADE.

A CHUVA COMEÇOU A CAIR, DEPOIS

CESSOU

DE UM MOMENTO PARA OUTRO,

INDIFERENTE.

E EU, COMO QUEM OLHA DE UMA GRUTA,

A CHUVA INFINDÁVEL, OLHAVA O

HORIZONTE

CAINDO SEM TRÉGUAS, INSENSÍVEL,

ESCURECIA O PASSADO, ANTES

MULTICOR.

O DANÚBIO CORRIA. COMO UMA CRIANÇA

NO SEIO FECUNDO DE MÃE DISTRAÍDA

AS ONDAS BRINCAVAM ALEGRES,

E PARECIAM ÀS VEZES RIR PARA MIM,

NO DECURSO DO TEMPO, TRÊMULAS

COMO O RUIR DE PEDRAS TUMULARES.

(Tradução: Ernesto José Rodrigues)

Page 17: O segredo dos azulejos da Praça Deák

A. Santos Machado, Presidente do Metropolitano de Lisboa (em 1996) escreveu o seguinte:

"Numa troca de culturas, de poetas, de línguas e de alfabetos, a arte de Joao Vieira estabelece

novas pontes, no tempo e no espaço, entre duas cidades e entre dois países. De Lisboa para

Budapeste – na estaçao Deák Tér – uma pauta musical de arte e de poesia, ficará sempre,

patente."