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O SERVIÇO SOCIAL E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA: relato de experiência de estágio no Instituto Federal da Bahia campus Salvador Ingrid Barbosa Silva 1 Resumo: O presente artigo tem por objetivo relatar a experiência de estágio supervisionado em Serviço Social através da articulação entre a Universidade Federal da Bahia UFBA e o Instituto Federal da Bahia IFBA campus Salvador. Objetiva não só descrever as etapas do estágio e a realização do projeto de intervenção no espaço, mas também realizar reflexões sobre a importância da inserção dos Assistentes Social nesse espaço e principalmente da sua atuação na Política de Educação, reforçando a garantia da permanência dos estudantes no IFBA. Palavras-chave: Educação. Estágio supervisionado. Relato de experiência. Abstract: The purpose of this article is to report the supervised internship experience in Social Service through the articulation between the Federal University of Bahia - UFBA and the Federal Institute of Bahia - IFBA Salvador campus. It aims not only to describe the stages of the internship and the realization of the project of intervention in space, but also to reflect on the importance of the insertion of the Social Assistants in this space and mainly of its action in the Education Policy, reinforcing the guarantee of the permanence of the students in the IFBA. Keywords: Education. Supervised internship. Case studies. 1 Graduanda de Serviço Social. Universidade Federal da Bahia UFBA. E-mail: [email protected]

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O SERVIÇO SOCIAL E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA: relato de experiência de estágio no Instituto Federal da Bahia campus Salvador

Ingrid Barbosa Silva1

Resumo: O presente artigo tem por objetivo relatar a experiência de estágio supervisionado em Serviço Social através da articulação entre a Universidade Federal da Bahia – UFBA e o Instituto Federal da Bahia – IFBA campus Salvador. Objetiva não só descrever as etapas do estágio e a realização do projeto de intervenção no espaço, mas também realizar reflexões sobre a importância da inserção dos Assistentes Social nesse espaço e principalmente da sua atuação na Política de Educação, reforçando a garantia da permanência dos estudantes no IFBA.

Palavras-chave: Educação. Estágio supervisionado. Relato de experiência.

Abstract: The purpose of this article is to report the supervised internship experience in Social Service through the articulation between the Federal University of Bahia - UFBA and the Federal Institute of Bahia - IFBA Salvador campus. It aims not only to describe the stages of the internship and the realization of the project of intervention in space, but also to reflect on the importance of the insertion of the Social Assistants in this space and mainly of its action in the Education Policy, reinforcing the guarantee of the permanence of the students in the IFBA.

Keywords: Education. Supervised internship. Case studies.

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1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como principal objetivo, relatar a experiência de estágio

curricular obrigatório do curso de graduação em Serviço Social da Universidade Federal da

Bahia – UFBA, em fase de execução junto ao Instituto Federal da Bahia – IFBA campus

Salvador, estando o Serviço Social inserido na Diretoria Adjunta Pedagógica e de Atenção

ao Estudante – DEPAE, na Coordenação de Atenção ao Estudante – CAE.

A experiência de estágio tem como propósito central propiciar o estudante a ter o

contato real com o campo de atuação do trabalho do assistente social e experiências vividas

na práxis ligada à teoria adquirida academicamente, contribuindo de forma positiva no

processo de ensino/aprendizagem do ponto de vista prático, teórico e reflexivo. A relação

teoria e prática tão discutida no exercício da formação profissional passa a ser cada vez

mais refletida a partir do momento em que a/o estagiária/o passa a conhecer essas ações

desenvolvidas no cotidiano do profissional na instituição.

Nesse sentido, o estágio obrigatório é subdividido em três fases: Estagio I que

tem o caráter mais exploratório do espaço sócio-ocupacional onde a/o estagiária/o está

inserida/o, é o momento em que podemos analisar a instituição, identificar as

particularidades do espaço e principalmente do trabalho das/os assistentes sociais. Nesse

período é importante desenvolver exercícios e reflexões para investigação e é fundamental

compreender sobre a política setorial da qual rege a atuação do Serviço Social e

posteriormente intervir nas diversas expressões da questão social.

O Estágio II busca da continuidade ao processo anterior, porém é o momento de

aprofundar nas análises e compreensão das competências da profissão no espaço e a partir

de um olhar mais investigativo, desenvolver projeto de intervenção principalmente nas

demandas e necessidades postas ao Serviço Social.

Por fim, a última etapa, o Estagio III corresponde à execução, à análise e à

avaliação da realização do projeto de intervenção, ressaltando na instituição o trabalho do

assistente social. Esse processo, em sua dimensão, deve ter relevância tanto para a

construção da vida profissional da/o estagiária/o, para a instituição onde está inserida/o e

também para o público alvo a quem o projeto se destina.

Nessa perspectiva, podemos entender que, essa construção profissional onde

se vivencia um confronto entre teoria e prática como algo de suma importância para o seu

conhecimento e crescimento, sabendo que o estágio supervisionado é o único momento de

aproximação do fazer profissional, enquanto graduanda/o, faz-se necessário ressaltar o

quanto essa dimensão formadora é indispensável para a consolidação do projeto ético-

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político da profissão. O Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, em sua Cartilha

Estágio Supervisionado – Meia formação não garante direito, reforça essa perspectiva:

As Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social, aprovadas pela ABEPSS em 1996, apontam pressupostos, princípios e diretrizes para nortear o projeto pedagó- gico de cada unidade de formação profissional e tratam o estágio supervisionado como um momento ímpar do processo ensino-aprendizagem, elemento síntese da relação teoria-prática, da articulação entre pesquisa e intervenção profissional, e que se consubstancia como exercício teórico-prático, mediante a inserção do/a aluno/a nos diferentes espaços ocupacionais das esferas pública e privada. (CFESS, 2013, p.11)

Com isso, o artigo apresenta o histórico da instituição, a inserção dos

assistentes sociais no espaço sócio-ocupacional e a relevância dos três processos de

estágio supervisionado, na perspectiva de compartilhar a desafiadora e rica experiência

vivenciada em uma instituição centenária e consolidada como o IFBA, na qual o Serviço

Social tem um papel extremamente importante, trabalhando com a Política de Assistência

Estudantil necessária para garantir a inclusão, permanência e direitos dos estudantes no

espaço sócio-ocupacional.

2. DESENVOLVIMENTO: A educação profissional e tecnológica na Bahia e em Salvador

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), criado

pela Lei nº 11.892/2008, é resultado das mudanças promovidas no antigo Centro Federal de

Educação Tecnológica da Bahia (CEFET-BA). A história do Centro Federal de Educação

Tecnológica da Bahia começa quando, em 2 de Junho de 1910 nasceu a Escola de

Aprendizes Artífices da Bahia no Largo do Relógio de São Pedro. A escola começou a

funcionar oferecendo cursos nas oficinas de alfaiataria, encadernação, ferraria, sapataria e

marcenaria, e tinha como função principal proporcionar para a população em situação de

vulnerabilidade socioeconômica a inserção no mercado de trabalho, não havendo

preocupação com a formação teórica que era passada aos alunos. Essas escolas surgem

como respostas do governo federal ao aumento da população nas cidades e são

direcionadas as classes menos favorecidas.

Após a criação dessa escola, o ensino profissional na Bahia passa por diversas

transformações de caráter político e econômico, mudando inclusive o seu nome por diversas

vezes, com objetivo de acompanhar as suas transformações estruturais e expansão, como

pode ser visto no Quadro 1, até os dias atuais, denominando-se IFBA:

TABELA 1 – Mudanças na nomenclatura do IFBA de 1909 até 2009

NOME INSTITUCIONAL DECRETO/LEI

ANTERIOR ATUAL - Escola de Aprendizes e Decreto nº 7.566/1909

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Artífices da Bahia

Escola de Aprendizes e Artífices da Bahia

Liceu Industrial de Salvador Lei nº 378/1937

Liceu Industrial de Salvador Escola Técnica de Salvador Decreto-Lei nº 4.127/1942

Escola Técnica de Salvador Escola Técnica Federal da

Bahia (ETFBA) Lei nº 4.759/1965

Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBA)

Centro Federal de Educação Tecnológico da Bahia

(CEFET-Ba) Lei nº 8.711/93

Centro Federal de Educação Tecnológico da Bahia (CEFET-Ba)

Instituto Federal da Bahia

(IFBA) Lei nº 11.892/2008

Fonte: Cem anos de Educação Profissional no Brasil, EDUFBA, (2009, p.18)

Após treze anos em expansão, com a determinação da Lei nº 378, de 13 de

janeiro de 1937, a escola transforma-se em Liceus Industriais, que tiveram cinco anos de

existência em Salvador, oferecia o ensino profissional em diferentes ramos e graus, a

exemplo do secundário. Vale ressaltar que somente nesse momento, com a nova

Constituição, que o ensino profissionalizante é considerado dever do Estado, porém, o

mesmo só assume a educação profissionalizante a partir da década de 1940, tendo como

foco preparar mão-de-obra para o mercado de trabalho.

De Liceu a “Escola Técnica de Salvador”, a partir da determinação da Lei nº

4.127 de 25 de fevereiro de 1942, que disponibilizava o ensino industrial básico e ensino

técnico. As escolas profissionalizantes passam a ser federais, com isso a nomenclatura é

alterada e levam o nome do seu estado, passando a se chamar Escola Técnica Federal da

Bahia (ETFBA). No ano de 1993 a ETFBA uniu-se ao Centro de Educação Tecnológica da

Bahia (CENTEC), para atender interesses de ambas e dessa união consolida-se o Centro

Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFET-BA). Já em 2008, são criados os

Institutos Federais de Educação, Ciências e Tecnologia – IFBA, com isso o Ministério da

Educação, em conjunto com as instituições que compõem a Rede Federal de Educação

Profissional, Cientifica e Tecnológica, iniciaram as comemorações do centenário de criação

da Educação Profissional no Brasil.

Diante desse breve histórico revela-se o constante movimento de ampliação e

de reconfiguração da educação profissional, começando com a Escola de Artífices

Aprendizes e no seu centenário integrando a Rede Federal de Educação Profissional,

Cientifica e Tecnológica, em nível nacional, que tem, dentre outros objetivos, oferecer

educação de qualidade e contribuir para a redução das desigualdades sociais no país.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), é uma

instituição de caráter público, criada no dia 29 de dezembro de 2008, de acordo com a Lei nº

11.892, de 29 de dezembro de 2008, mas a alteração na nomenclatura ocorreu somente em

2009, ano de comemoração do centenário do Instituto na Bahia. A educação profissional e

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tecnológica, ao longo de sua trajetória passou por diversas transformações que acarretaram

novas exigências profissionais, dentre elas, a necessidade do profissional do Serviço Social

nos Institutos Federais (IFs). A ampliação das vagas oferecidas, as novas modalidades de

ensino toda essa nova configuração exigiu desses profissionais novas competências e

estratégias de dar respostas às refrações da questão social, objeto de trabalho do Serviço

Social.

A expansão da Rede Federal de Ensino no Brasil trouxe significativas mudanças

para o âmbito da educação profissional e tecnológica. Um novo perfil de estudantes lhes foi

apresentado, alunos oriundos de outros municípios, cidades e até estados, uma maior

inserção de estudantes de camadas mais populares, estudantes provenientes de escolas

públicas, diversidade sexual, religiosa, étnico racial, inserção de mais negros, deficientes,

indígenas e quilombolas, estudantes em situação de vulnerabilidade, ou seja, as demandas

assumiram um caráter para além da seleção socioeconômica para a concessão de auxílios

estudantis.

Para responder a essas demandas que são as concessões de bolsas e auxílios

e ao mesmo tempo tentando suprir as necessidades apresentadas pelos usuários, o Instituto

possui uma Política de Assistência Estudantil – PAE aprovada em 2010 pelo Conselho

Superior (CONSUP), que é um arcabouço de princípios e diretrizes que orientam a

elaboração e implantação de ações que garantam o acesso, a permanência e a conclusão

de curso dos estudantes do IFBA. A política foi elaborada a partir da problematização do

programa focalista que se tinha (Programa de Assistência ao Educando) e a partir das

inquietações do grupo de assistentes sociais que ingressou à Instituição no processo de

expansão dos seus campi. A concepção de Assistência Estudantil do IFBA é atualmente

explicitada no documento já mencionado, afirmando:

A Política de Assistência Estudantil é um arcabouço de princípios e diretrizes que orientam a elaboração e implementação de ações que garantam o acesso, a permanência e a conclusão de curso dos estudantes do IFBA, com vistas à inclusão social, formação plena, produção de conhecimento, melhoria do desempenho acadêmico e ao bem estar biopsicossocial (IFBA, 2010, p.02).

Tal conceito denota a ideia de que há diversas políticas sociais envolvidas no

âmbito do acesso e permanência dos estudantes, sendo estas de diversas áreas de

atuação, a saber: Educação, Assistência Social, Saúde, Juventude, Ações Afirmativas,

dentre outras. Fazem parte dessa política nove programas universais, onde todo e qualquer

estudante pode participar. E o Programa de Assistência e Apoio aos Estudantes (PAAE), em

que o aluno passará por uma seleção socioeconômica, ou seja, para participar é necessário:

inscrição pelo site do IFBA; posteriormente os alunos passam por uma entrevista social com

uma das assistentes sociais; entregar toda a documentação que comprovem renda,

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questões de saúde e a composição familiar; visita domiciliar, de acordo a situação do aluno

se for necessário; encaminhamentos pedagógicos e psicológicos, sendo que durante o

programa são realizados acompanhamentos sociais com os alunos e seus familiares,

controle da frequência com relação à alimentação, participação nas atividades, reuniões,

palestras e seminários.

É através dessa política que os assistentes sociais trabalham para o

fortalecimento das garantias dos direitos aos usuários. A Política de Assistência Estudantil

do IFBA é um documento normativo construído por vários profissionais das diferentes áreas,

com ações que garantam inclusão, permanência e formação plena aos estudantes. A

assistência estudantil faz parte de uma das estratégias de democratização do ensino no

âmbito do governo Lula, aliada ao Programa de Apoio os planos de Reestruturação e

Expansão das Universidades Federais (REUNI), o Programa Universidade para Todos

(PROUNI) e as políticas de Ações Afirmativas.

As demandas e respostas dos assistentes sociais na Educação do IFBA

campus Salvador, estão nesse quadro abaixo:

TABELA 2 – Atribuições dos Assistentes Sociais no IFBA

Demandas Respostas

Estudantes que precisam de auxílios e bolsas de assistência estudantil; Instituição precisa

Seleção e/ou estudos socioeconômicos (Processo seletivo do PAAE)

Permanência dos estudantes bolsistas Acompanhamento dos estudantes bolsistas

Expressões da “questão social” e temas comuns que precisam ser refletidos e trabalhados entre

os estudantes

Desenvolvimento de atividades socioeducativas e reflexivas com os estudantes

Estabelecer parcerias / Realização de visitas técnicas e convites a outras Instituições

Sistematizar o exercício profissional, repassar informações sobre o Serviço Social e Instituição aos gestores e usuários, elaborar novas normas

e critérios.

Planejar, elaborar, registrar e publicizar

Capacitação dos assistentes sociais Participar e realizar eventos

Aproximar a família da escola Ações envolvendo a família

Situações pessoas e questões de direitos trabalhistas dos servidores e terceirizados

Ações objetivando a qualidade de vida do servidor

Integração entre estudantes, servidores e comunidade extrema

Ações que envolvem os diversos segmentos

Fonte: Heide, 2013

Referente ao quadro acima, observa-se que a demanda de trabalho maior das

assistentes sociais no IFBA é referente a seleção socioeconômica. Os processos de

inscrição, entrevistas, visitas domiciliares, acompanhamento de frequências nas aulas,

reuniões e atividades dos projetos, são todas as atividades e instrumentos que englobam

esta ação, dentre outras.

2.1 O SERVIÇO SOCIAL DO IFBA CAMPUS SALVADOR: relato da experiência de estágio

supervisionado

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A inserção da primeira assistente social no corpo de profissionais do IFBA foi no

ano de 1994 no campus de Barreiras-BA. Dez anos após a sua chegada no ano de 2004, a

instituição convoca outra assistente social para atuar no campus de Salvador/BA. Essas

contratações posteriormente foram ampliadas no âmbito da política de expansão do Estado

e sua inserção se processou pela motivação primeira da instituição em atribuir a esses

profissionais a competência de atuar no alto índice de evasão escolar. Explicar porque o

profissional de Serviço Social deve ser inserido na Educação e refletir sua atuação neste

campo perpassa por relacionar a concepção adotada com os objetivos, princípios,

competências e atribuições profissionais.

O público alvo dos assistentes sociais no IFBA campus Salvador, são

estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Porém, isso não restringe o

atendimento profissional para com os demais estudantes que procuram a setor

CAE/DEPAE. Os profissionais e as estagiarias fazem o acolhimento e encaminham os

estudantes de acordo com suas demandas e necessidade. Essas demandas postas ao

Serviço Social nada mais é que, as expressões da questão social. No IFBA, as

expressões/manifestações da questão social são identificadas principalmente a partir das

entrevistas sociais no processo seletivo do PAAE, realizadas com os estudantes; no

acompanhamento social, realizado pelas assistentes sociais onde é feito um

acompanhamento da vida acadêmica/social/familiar do estudante garantindo assim mais

conhecimento da realidade no qual o estudante está inserido e no conselho técnico onde a

equipe multidisciplinar se reuni e apresenta um diagnóstico dos acompanhamentos

estudantis, tendo como prioridade garantir a permanência dos estudantes, evitando a

evasão/desistência. Essas manifestações estão relacionadas entre a ligação da escola com

as famílias; as relações interpessoais dentro e fora da sala de aula; as demandas que os

estudantes trazem referente a situação econômica do conjunto familiar; uso de drogas; a

convivência com o mundo que está a sua volta; a questão da precariedade laboral também

é uma forma de identificação da questão social; violação de outros direitos como falta de

emprego, habitação, saúde, saneamento básico, exclusão social, violência domesticas, etc.

As possibilidades de ação dos assistentes sociais do IFBA, para amenizar as

diversas expressões da questão social, já mencionadas, é trabalhar junto com os

profissionais em equipe multidisciplinar, indicando possíveis alternativas a problemáticas

sociais vivenciadas pelos estudantes, o que refletirá em um melhor enfrentamento da vida

escolar, garantindo o direito à educação.

Nessa perspectiva, trazendo essa discussão para a vivência de estágio, que é

um espaço recorrente por oportunizar o estudante a ter conhecimento, reflexão das ações

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sobre o trabalho profissional no espaço sócio-ocupacional inserido, e para o caso em

particular, acerca da Política de Assistência Estudantil do IFBA. Conforme as exigências do

Estágio Supervisionado II em elaborar um projeto de investigação e intervenção profissional,

a ser aplicado na referida instituição, a proposta do meu projeto de intervenção faz relação

com o PAAE. Os estudantes, além de receberem os auxílios solicitados (de acordo com a

disponibilidade orçamentário-financeira e com a análise socioeconômica realizada pela

assistente social), são acompanhados quanto à frequência, desempenho escolar e demais

dificuldades que se apresentem. Este acompanhamento não ocorre no sentido de controle

ou cobrança, mas sim em uma perspectiva pedagógica que possibilite atender as demandas

dos estudantes, que por vezes se manifestam nas notas obtidas ou na ausência às aulas.

Entende-se que a realização deste acompanhamento é fundamental para que a assistência

estudantil se efetive, pois, a vulnerabilidade se expressa de diferentes formas, e não se

restringe apenas à questão financeira.

Pensando nisso, o projeto de intervenção teve como principal objetivo, realizar

oficinas de capacitação que contemplem o processo de formação dos estudantes do curso

de química, da modalidade de ensino integrado, contemplados com bolsa estudo no PAAE.

A escolha por essa amostra inicial, desse grupo de estudantes, surgiu pelo fato da minha

supervisora de campo já realizar o acompanhamento social e por ser o curso com maior

número de ingressantes por ano no instituto, sendo quatro turmas do 1º ano da modalidade

integrado.

O projeto piloto realiza a discussão da importância da assistência estudantil,

principalmente na perspectiva de direito e como um dos mecanismos que objetiva garantir a

permanência aos estudantes na escola, consistiu também em mapear as demandas dos

alunos no que se refere às necessidades postas no processo de formação educacional, que

estejam interferindo no desempenho e na frequência dos estudantes. E trazer esse

levantamento, como ponto de partida para a efetivação do projeto de intervenção na

instituição. A escolha metodológica de realizar oficinas, surgiu por entender, a partir de

leituras sobre o método de Paulo Freire, que esse é o processo operacional prevê uma

formação linear e que as trocas de saberes é uma construção coletiva de conhecimento, de

analises e reflexões sobre o tema a ser realizado. O ponto de partida para a realização do

projeto baseou em trazer uma amostra do público alvo, referente ao universo de estudantes

do instituto, que são assistidos pelo PAAE, foram identificados 45 estudantes do curso de

química integrado que recebem bolsa estudo. Esse mapeamento foi feito através do

resultado do processo seletivo anual.

Após esse mapeamento seria realizado um acompanhamento mensal dos

estudantes para fortalecimento da materialização das oficinas. Esse acompanhamento

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consistiria de forma sistemática, buscando conhecer suas necessidades, expectativas e

dificuldades na formação e no entendimento da política de assistência estudantil. Porém, o

IFBA passou por um processo de ocupação dos estudantes, absolutamente legítima, em

defesa da manutenção dos recursos integrais para a educação pública brasileira e teve

duração de dois meses. Com isso, todo esse processo de acompanhamento planejado com

os estudantes foi impossibilitado de acontecer, pelo fato do período e duração dessa última

fase do estágio curricular. Diante disso, a não realização desses acompanhamentos com os

estudantes, não pode ser atingido a coleta das demandas e a análise das mesmas que

seriam subsídios para a elaboração dos conteúdos das oficinas, o que foi um ponto

negativo, no sentido de não poder analisar de forma mais aprofundada essas demandas,

tanto para o Serviço Social como para a equipe multi do setor CAE/DEPAE. Com isso, foi

definido entre eu e minha supervisora de campo que, a primeira oficina seria sobre a própria

Política de Assistência Estudantil, tema definido como ponto de partida, e partir dessa

primeira oficina seria definido, pelos estudantes presentes, o tema dos demais encontros

assim como o quantitativo de oficinas.

Após isso, foi definido a data da realização do projeto, o local e o horário. Dos 45

estudantes, público alvo, compareceram apenas nove pessoas, o que tornou a oficina

esvaziada, mas não impossibilitou a realização da mesma. Comecei explicando o porquê

daquela atividade, os objetivos do projeto e suas finalidades. Por fim, foi apresentado

também a proposta da oficina, definidas em três pontos: primeiro buscar opiniões, dúvidas e

sugestões referente o tema da oficina; segundo, buscar realizar o debate acerca da política

de assistência, situando-a no contexto local do campi, objetivando-se agregar as

especificidades e diversidades de impacto da política na vida dos estudantes atendidos pelo

programa e o terceiro, tratar a oficina como um espaço de formação linear, fazendo

levantamento de questões, debates, discussões, reflexões e proposições e principalmente

tratar proposta da oficina como um espaço de interação e troca de saberes de forma

dinâmica e coletiva, transformando esse espaço em um ambiente que garanta integração e

proximidade entre os sujeitos participantes com os próprios mediadores.

Posterior a isso, comecei a oficina com uma dinâmica, a cada estudante foi

entregue uma tira de papel em branco, solicitei que eles escrevessem no papel a primeira

palavra ou frase que lhes vem na cabeça quando eles ouvem “ASSISTÊNCIA

ESTUDANTIL” ou “PAAE”. Ressaltei ainda que, não existe uma resposta certa ou errada e

não precisa pensar muito, se não lembrasse de nada podia escrever “nada” ou “não sei”.

Recolhi todas as tirinhas dobradas e pus dentro de uma vasilha. Expliquei que, a cada

palavra ou frase aberta, seria o ponto de partida do dialogo da oficina. Minha supervisora foi

anotando no quadro tudo o que foi mencionado. O que mais surpreendeu foi a quantidade

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de tirinhas que definia a assistência estudantil como uma ajuda, ajuda no sentindo da

doação/caridade e não no sentido de direito/acesso a uma política que visa não só a

subsidiar financeiramente, mas na permanecia do usuário no espaço sócio-ocupacional.

Esse momento de conversa, foi bastante importante e alarmante ao mesmo

tempo, no sentido de trazer para a discussão, enquanto categoria que, a maioria dos

usuários da política de assistência ali presentes, não conhecem de fato o seu real

significado, ou pode até conhecer, mas acaba distorcendo, na grande maioria das vezes,

sua função política e social dentro da instituição, reproduzindo o que já se ouve por vários

lugares, de que o trabalho profissional não seleciona realmente quem de fato precisa. Isso

foi dito na discussão, no sentindo de cobrança de efetivação de uma investigação mais

concisa na hora de selecionar os estudantes para participar do PAAE.

Importante lembrar que, o IFBA conta hoje com mais de 5 mil estudantes,

aproximadamente 1.200 alunos usuários do PAAE, e que a equipe profissional do setor

CAE/DEPAE, principalmente do Serviço Social é pequena. Atualmente conta com quatro

assistentes sociais ativas, sendo que uma está afastada para o doutorado. As condições de

trabalho, condições objetivas são desafiadoras. É muito difícil realizar visita domiciliar de

cada estudante, uma vez que, a própria instituição não pode subsidiar isso. Ocasiona então,

uma distorção dos estudantes no sentindo de duvidar do processo de análise

socioeconômica realizado pelos assistentes sociais via documentação, realizada no

processo seletivo, não seja realmente verdadeira. Porém, nos enquanto profissionais,

trabalhamos o tempo todo esclarecendo e deixando bem claro para os usuários da política e

para os que não são usuários também que, a comprovação da documentação trazida tem

que ser de fato a realidade do estudante, e que a não legitimidade dessas informações pode

desencadear a expulsão do programa, devolução da quantia recebida indevidamente e será

encaminhado medidas relativas a ação penal.

Por fim, a proposta de elaboração de cartazes, essa proposta tem por finalidade

trabalhar a reflexão de tudo que foi discutido sobre o tema da oficina. Depois da produção

dos cartazes, cada estudante falou o porquê da mensagem no cartaz, e logo em seguida

fizemos a avaliação daquele espaço, da oficina. Foi questionado por nós (eu, minha

supervisora e a estagiaria), qual seria outras formas de aproximação do Serviço Social, das

profissionais/estagiárias com eles, além da realização dessas oficinas temáticas.

Questionamos também qual seria a possibilidade de construção desses espaços em turnos

opostos, por conta da dificuldade dos horários, das aulas, das monitorias, etc. Os

estudantes disseram que acha muito importante essa aproximação, e que sente esse

distanciamento, sente a falta desse acompanhamento mais de perto do Serviço Social e que

esse espaço pode ser um ponto de partida.

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Foi importante ouvir esses relatos, porque levando isso para o corpo profissional

do setor como estratégia de projeto para acompanhar esses usuários da política, e

principalmente desconstruir e construir pensamentos/ideias/achismos sobre o trabalho

profissional e sua importância na operacionalidade da política de assistência no instituto. É

importante criar espaços onde esses estudantes sintam-se mais encorajados de falar,

muitas vezes, até de assuntos mais particulares, mas que de uma forma mais subjetiva o

assistente social identifique a demanda, as expressões da questão social dentro daquele

espaço.

Referente as próximas oficinas, aos temas e sugestões, os estudantes não falaram

muito, houve apenas uma indicação que foi sobre orientação profissional. Muitos alegaram

que não vê esse tipo de discussão no instituto, e que sentem necessidade de participar de

espaços assim. Ao meu ver, essa falta de sugestão dos temas poderia ter sido bem mais

positiva se tivesse acontecido o acompanhamento inicial com eles, mas infelizmente não foi

possível.

Essa realização do projeto de intervenção me trouxe alguns sentimentos,

principalmente no sentido ter mais coragem e acreditar de que somos capazes apesar dos

estraves da vida social, institucional e particular. Esse espaço, essa etapa que se fecha na

minha vida acadêmica agregou não só experiência e conhecimento, e não só também a

relação tão esperada entre teoria e práxis, mas me possibilitou lidar/conhecer/desvendar

diversas situações do dia-a-dia da profissão. O IFBA é um espaço rico, e a cada dia tem-se

necessidade de ir contra a todos as diversas demandas postas ao setor CAE/DEPAE, mais

especificamente ao Serviço Social. Vivenciar o cotidiano e compreender suas demandas

multifacetadas, reveladas nos campos de estágio, constituem momentos de reflexão,

criticidade e de aprendizagem. Vale lembrar que, a medida que o estágio assume seu

caráter educativo, ele contribui para a superação da imediaticidade e da fragmentação da

realidade.

3. CONCLUSÃO

A busca pelo conhecimento é uma tarefa árdua e desafiante que envolve

múltiplas determinações colocadas pela dinâmica da realidade. Significa o olhar sobre o

simples, sobre o que está posto, mas com a intenção de desvendar esse simples que oculta

elementos concretos que só se revelam em um processo de observação e investigação.

De acordo com a discussão acima, o estágio supervisionado em Serviço Social

em parceria com os supervisores de campo e acadêmicos é de extrema importância para

garantir uma formação profissional com mais qualidade. O estágio é um espaço de

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enfrentamento, reflexão, esclarecimento e conhecimento das manifestações da questão

social, matéria prima para o trabalho profissional, por tanto, a manutenção da garantia dessa

etapa na formação do discente é essencial para o enfrentamento e os desafios postos a

profissão nos diversos espaços sócio-ocupacionais.

REFERÊNCIAS

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IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e Formação Profissional. 25º ed. São Paulo, Cortez, 2014.