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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Vice-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - VRPPG Centro de Ciências da Saúde - CCS Mestrado em Saúde Coletiva EMANUELA BEZERRA TORRES MATTOS O SIGNIFICADO DO GRUPO DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS FORTALEZA-CE 2008

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Vice-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - VRPPG Centro de Ciências da Saúde - CCS Mestrado em Saúde Coletiva

EMANUELA BEZERRA TORRES MATTOS

O SIGNIFICADO DO GRUPO DE CONVIVÊNCIA PARA

IDOSOS

FORTALEZA-CE

2008

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EMANUELA BEZERRA TORRES MATTOS

O SIGNIFICADO DO GRUPO DE CONVIVÊNCIA PARA

IDOSOS

Dissertação apresentada à Coordenação do Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Vieira de Lima Saintrain Co-orientadora: Prof.ª Dr.ª Eliane Corrêa Chaves

FORTALEZA-CE

2008

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Emanuela Bezerra Torres Mattos

O Significado do Grupo de Convivência para Idosos

Data de Aprovação: 22/12/2008

Banca Examinadora:

Profª. Drª. Maria Vieira de Lima Saintrain

(orientadora – UNIFOR)

Profª. Drª. Maria Lúcia Duarte Pereira

(membro efetivo – UECE)

Profª. Drª. Ana Maria Fontenelle Catrib

(membro efetivo – UNIFOR)

Profª. Drª. Fátima Luna Pinheiro Landim

(membro suplente – UNIFOR)

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por todas as maravilhas que fez durante todo o

meu percurso acadêmico, para que eu pudesse chegar onde estou hoje;

a meus pais, José Torres Barbosa e Ivanira Maria Bezerra Torres, pelo apoio e

incentivo e por acreditarem em meu potencial;

a minha irmã, Anna Paula Bezerra Torres, pela presença forte e fiel em todos os

momentos de minha vida;

ao meu marido, Ricardo Sousa Mattos, que com poucas e sinceras palavras me

incentivou nos momentos em que o caminho parecia estreito e encorajou-me a alçar

vôos mais altos;

aos meus amigos de turma, que partilharam junto a mim momentos de crescimento,

superação de obstáculos, sabedoria e companheirismo;

e em especial, às Prof.ªs .Drª.s. Maria Vieira de Lima Saintrain e Eliane Corrêa

Chaves, que contribuíram para meu crescimento acadêmico, engrandecendo meus

conhecimentos com muita paciência e dedicação;

a todos os idosos do grupo, que favoreceram um crescimento mútuo com ricas

trocas de experiências e aprendizado de vida. Sem vocês, eu em nada poderia

contribuir;

a todos os professores e funcionários do Mestrado, que cumpriram a missão de

tornar esse percurso prazeroso e de grande crescimento; muito obrigada.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa a todos os idosos que

contribuíram para que esse trabalho seja um

incentivo ao desenvolvimento de políticas

públicas que os valorizem como seres dignos,

inclusos e participativos de nossa sociedade.

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RESUMO

O envelhecimento da população mundial é um fenômeno de grande impacto no início deste século, aumentando a demanda de serviços voltados à população idosa. Demandas surgem como alterações e mudanças comuns à velhice, ressaltadas, quando falamos em idosos carentes, marginalizados e excluídos. A pesquisa teve como objetivo conhecer o significado do grupo de convivência para idosos. Para analisarmos significados no campo da linguagem, optou-se pela pesquisa qualitativa a partir da hermenêutica. Participaram como sujeitos desse estudo 26 idosos com idade média de 68 anos, freqüentadores do Grupo de Convivência da Associação Viva Vida, Fortaleza-CE. Observações, registros e entrevista constituíram instrumentos da coleta de dados. Na perspectiva da hermenêutica, as entrevistas foram lidas separadamente e anotado indicativos dos idosos sobre grupo de convivência, buscando nestes, idéias significantes e agrupadas por categorias. As falas foram agrupadas em núcleos de interpretação de acordo com a motivação dos idosos ao procurar o grupo de convivência, expectativa e avaliação quanto às mudanças percebidas nesta participação. A motivação foi justificada pelo suporte à saúde e bens materiais, afastamento de problemas cotidianos e materiais, e vinculação social. Quanto à expectativa, atividades manuais e suporte a saúde emocional foram relatadas. Perceberam-se mudanças a partir do desenvolvimento de talentos, resgate da juventude e compromisso social. Concluímos que o potencial de promover saúde nos grupos de convivência, discutido e evidenciado pelos idosos, enfatiza que o tema merece pauta nos planos de políticas públicas do governo. Palavras-chave: Idoso, Grupo de Convivência, Hermenêutica.

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ABSTRACT

World population ageing is an impactful phenomenon since the beginning of this century, increasing the demand for services due to the elderly population. This research aimed at getting acquainted with the meaning of the coexistence group for aged people. To analyze meanings in the language field, the qualitative research was based on Hermeneutics. Subjects were 26 aged people with an average age of 68 who attended to the service of the coexistence group of the "VIVA VIDA" association in Fortaleza-CE. Observing, reports and interviews were tools for data collection. Within Hermeneutics perspective, interviews were separately read and old people`s indices on the coexistence group were noted down, searching significant ideas and afterwards, the categories of analysis. The study gathered speeches within interpretation cores, according to subjects` motivation for searching the coexistence group, their expectance, and their evaluation in the concerning to changes they observe with their engagement in the group. They justified motivation by the support to health and material goods, distance of daily and material problems, and social engagement. In the concerning to their expectance, hand activities and emotional health support were reported. They observed changes from talents development, youth revival, and social commitment. The study concludes that the potential for health promoting in coexistence groups, that aged people discussed and evidenced, emphasizes that the topic needs discussion in government public policies. Key words: Elderly; Coexistence Group; Hermeneutics.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................09

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................15

2.1 Grupos sociais ........................................................................................................15

2.2 Os Grupos de Convivência .....................................................................................16

2.3 Os grupos de convivência como espaços sociais promotores de saúde ...............21

3 TRAJETÓRIA TEÓRICO- METODOLÓGICA ..........................................................24

3.1 Local da Pesquisa ..................................................................................................26

3.2 Participação dos sujeitos ........................................................................................27

3.3 Procedimentos éticos .............................................................................................28

3.4 Procedimentos de coleta de dados ........................................................................28

3.5 Entrevistas ..............................................................................................................30

3.6 A análise dos dados ...............................................................................................31

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..............................................................................32

4.1 Caracterização do Grupo .......................................................................................32

4.2 Apresentação dos núcleos de interpretação ..........................................................35

4.2.1 Núcleo 1. Motivação ao procurar o grupo de convivência ...................................35

4.2.2 Núcleo 2. Expectativa em relação ao Grupo de Convivência ..............................44

4.2.3 Núcleo 3. Avaliação quanto às mudanças percebidas pela participação no grupo....47

CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................53

REFERÊNCIAS ............................................................................................................55

APÊNDICE ...................................................................................................................61

ANEXOS ......................................................................................................................63

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1 INTRODUÇÃO

Na nossa vida pessoal, sempre houve interesse e identificação com o

ser idoso. Tão logo, cursamos a disciplina Gerontologia na graduação em Terapia

Ocupacional, já decidimos direcionar a prática da clínica para aquela área

específica. Estudar sobre idoso, em sua complexidade, envolvendo os aspectos

emocionais, biológicos, neurológicos, estilos de vida foi, durante todo esse tempo foi

nosso foco principal. Envolver-nos em um programa voltado para aquela clientela

era um dos nossos principais objetivos como profissional.

Tratar de idosos, porém, com seqüelas físicas e cognitivas de doenças

neurológicas passou a ser muito comum em nosso exercício clínico, distanciando-

nos cada vez mais daqueles que apresentavam outros tipos de seqüelas, as sociais,

que, tanto quanto as neurológicas, também são limitantes e traumatizantes.

A atuação do terapeuta ocupacional na Gerontologia tem como um dos

principais objetivos compreender e perceber a dinâmica da ocupação nesse período

da vida (BORSOI in PAPALÉO NETTO, 1996). O autor define ocupação como o uso

intencional do tempo pelos seres humanos, a fim de satisfazer seus impulsos

internos em direção à exploração e ao domínio de seu ambiente que, ao mesmo

tempo, faz exigências do grupo social a que eles pertencem e as necessidades

pessoais de auto-suficiência.

Partindo do princípio que os seres humanos são criaturas ocupacionais

que não podem ser saudáveis na ausência de ocupação significativa, o trabalho com

o idoso solicita o desenvolvimento de novos padrões de atividades, que venham

ocupar seu tempo livre, em decorrência da aposentadoria, viuvez ou solidão,

minimizando as dificuldades de se adaptar a essa nova etapa da vida,

reestruturando e redistribuindo seu tempo.

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Foi após um curso de especialização em Gerontologia, uma das áreas

de atuação do terapeuta ocupacional, que começamos a nos engajar em grupos de

terceira idade. Diante de uma diversidade de grupos que conhecemos na maioria

com atividades mais focadas no lazer, nos questionávamos sobre o que significava

para aqueles idosos estar ali. De outros muitos idosos que não participavam de

grupos, ouvíamos: “Eu tenho raiva desses grupos que só colocam o velho para

dançar, como se o velho só soubesse fazer isso”. Isso nos trazia outro

questionamento: além do real significado do grupo de convivência para os idosos, o

que eles realmente buscavam naqueles ambientes?

Assim, estes questionamentos passaram a ter buscas incessantes,

como forma de contribuir para constituição de espaços sociais que atendessem a

expectativa da população em geral. À população idosa caberia encontrar dentro dos

grupos as atividades que tivessem significados singulares para cada um, mas não se

adaptarem às atividades em curso.

Visto que o envelhecimento da população mundial é um dos

fenômenos de maior impacto no início deste século, em razão do aumento da

expectativa de vida ao nascer, dos avanços tecnológicos e científicos, bem como

pela diminuição das taxas de fecundidade e mortalidade, tanto em países centrais

quanto em periféricos, a demanda de serviços voltados a esta clientela aumentou

gradativamente.

A Organização das Nações Unidas (ONU), desde 1982, considera

idoso, para países em desenvolvimento, a pessoa com idade igual ou superior a 60

anos. No Brasil, a lei nº 8842, de 4 de janeiro de 1994, em seu artigo 2º, da Política

Nacional do Idoso, adota essa mesma faixa etária (BRASIL, 1999), afirmada pelo

Estatuto do idoso (BRASIL, 2003) e mais recentemente pela Política Nacional de

Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006).

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística IBGE (2002) a população idosa brasileira, na década de 1990, era de

7,3%, ao passo que, em 2000, já representava 8,6%. Isso equivale, de acordo com o

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último censo, a quase 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade,

contrapondo-se aos 10 milhões do censo de 1991 (ARAÚJO E CARVALHO, 2004).

Dentre as regiões do Brasil, a região nordeste é a segunda mais

populosa quanto ao número de idosos com 60 anos ou mais. O estado do Ceará

ocupa o terceiro lugar em número de idosos. E em Fortaleza, o número de idosos

representava 7,5% da população total do município no senso de 2000 realizado pelo

IBGE, ocupando o quarto lugar dos municípios dos estados da região nordeste com

maior número de idosos na população total (BRASIL, 2000).

No período de 1950 a 2025, as projeções estatísticas da Organização

Mundial de Saúde (OMS) apontam que o grupo de idosos no Brasil deve ter

aumentado em 15 vezes, enquanto a população total em cinco. Assim, o País

ocupará o sexto lugar em contingente de idosos, alcançando, em 2025, cerca de 32

milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade (BRASIL, 1999).

Foi em 2006 que surgiu a oportunidade de coordenarmos como

terapeuta ocupacional, um grupo de convivência para a terceira idade numa

comunidade carente. Idealizamos um grupo do qual todos pudessem participar, pois

haveria diversas atividades, no intuito de que ninguém ficasse de fora. A busca por

uma resposta para o questionamento sobre o significado do grupo de convivência

para idosos, no entanto, só poderia ser concretizada por meio de um estudo

detalhado daquele grupo.

Durante um ano de trabalho naquele grupo de convivência, o vínculo

estabelecido no setting das atividades, veio por meio do contato diário com aquelas

pessoas, facilitando a expressão de seus anseios, medos, expectativas em relação a

si, ao grupo, à família, dentre outros. Tudo isso era registrado para que pudesse

utilizar aquelas informações no momento adequado. No início do ano de 2007, a

aprovação no Mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade de Fortaleza foi

possível com base em um projeto voltado para grupo de idosos, iniciando, assim,

todo o percurso de formulação da resposta à pergunta de nossa pesquisa: qual o

significado do grupo de convivência para idosos?

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O envelhecimento é único para cada ser humano, podendo o idoso

tomar diferentes posições e formas de ser e de se comportar durante esta fase da

vida. Para muitos, a velhice ainda é associada a doença, sobrecarga, incapacidade,

depressão, solidão, abandono e perdas. Além de ser diferente para cada idoso, o

envelhecimento se manifesta de maneiras diferentes e em tempos diversos. Pode-se

encontrar um velho aos 50 anos, como também um jovem aos 70. Embora o físico e

a mente envelheçam juntos, este envelhecimento não se efetiva no mesmo ritmo

para ambos.

O envelhecimento físico é caracterizado pela perda da força, da forma

muscular, dentre outras alterações biofisiológicas comuns. A mente amadurece,

tornando-se, com o passar do tempo, mais apta a apreensões de toda ordem,

sobretudo aos raciocínios abstratos que, em idades anteriores, nem sempre foram

possíveis. É comum encontrarmos indivíduos fisicamente envelhecidos, mas mental

e emocionalmente acrescidos. Alguns, no entanto, não percebem nem valorizam

suas potencialidades, enquanto outros não tiveram oportunidades de desenvolvê-las

por diversos fatores, entre eles o social.

Sabe-se que o fenômeno do envelhecimento tem causas multifatoriais

(fatores extrínsecos, psicossociais e ambientais) e multidimensionais, justificando a

grande variabilidade de comportamento biológico e psicossocial de um idoso em

relação a outro.

Várias situações são mencionadas como indicadoras do bem-estar na

velhice: longevidade, saúde biológica, saúde mental, controle cognitivo, competência

social, produtividade, atividade física, eficácia cognitiva, status social, renda,

continuidade de papéis familiares, ocupacionais e continuidade de relações

informais com amigos, entre outros (RUIZ et.al, 2007).

Em relação ao envelhecimento Livtoc e Brito (2004, p. 07) fazem

referência a tal fase

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[...] acompanhado por alterações significativas na composição, estrutura e fisiologia dos sistemas orgânicos e do indivíduo como um todo, sendo a pessoa idosa biologicamente tão diferente do adulto jovem, quanto este o é da criança pré-adolescente, e acrescenta que nos últimos anos de vida são também marcados por mudanças profundas na composição familiar e doméstica que pode ser resultado da viuvez. Somando-se a isso problemas importantes de privações de ordem econômica associadas a aposentadorias insatisfatórias, que podem juntamente com outros fatores psicossociais como solidão, estar diretamente relacionados às mudanças no estado de saúde das pessoas.

Ferrari (1999) destaca o enfoque da IV Organização Pan Americana de

Saúde (OPAS), que apresentou um novo paradigma do envelhecimento,

considerando os idosos como participantes ativos da sociedade, e que oferece base

para um novo enfoque na promoção da saúde, pressupondo que o envelhecimento

bem-sucedido depende muito mais da prevenção de doenças e deficiências, da

manutenção de altas funções físicas e cognitivas e da participação constante de

atividades sociais e produtivas.

Mudanças importantes começaram a surgir na década de 1980, com a

realização de Conferências Internacionais, nas quais a saúde passou a ser

mencionada como fator essencial para o desenvolvimento humano, sendo um dos

campos propostos pela promoção de saúde a criação de ambientes favoráveis

mediada pela ação conjunta do Estado, da comunidade e dos indivíduos, dos

sistemas de saúde e de parcerias intersetoriais (BUSS, 2003).

A Primeira Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde se

realizou no Canadá, em 1986, na qual a promoção de saúde foi definida como a

capacitação da comunidade para atuar na melhoria da qualidade de vida e saúde,

incluindo maior participação no controle desse processo, para que fosse atingido um

estado de completo bem-estar físico, mental e social dos indivíduos e grupos,

quando estes identificam suas aspirações, satisfazem suas necessidades e

modificam favoravelmente o meio ambiente (BRASIL, 1996).

De acordo com essa Conferência, os princípios básicos para saúde são

paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, justiça social e

eqüidade, sendo que, para alcançar esses princípios, deve haver alguns pré-

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requisitos, como: defesa de causa e capacitação, mediação, elaboração de políticas

públicas saudáveis, criação de ambientes favoráveis, reforço da ação comunitária,

desenvolvimento das habilidades pessoais e reorientação dos serviços de saúde

voltados para o futuro (BRASIL, 1996).

Além disso, a Carta de Ottawa veio conclamar a Organização Mundial de

Saúde (OMS), outras organizações internacionais, organizações não

governamentais (ONG’s), pessoas e Governo para a defesa da promoção da saúde

em todos os fóruns apropriados para juntarem esforços na implementação de

estratégias para promoção de saúde (BRASIL, 1996).

Esperamos com o estudo obtermos dados que possam combater programas

sem finalidades voltadas ao crescimento e valorização das competências do idoso. É

oportuno contribuir para elaboração e direcionamento de programas diferenciados e

específicos para grupo de idosos, dependendo de todo um contexto social,

econômico, intelectual e cultural, dentre outros, subsidiando a elaboração e

planejamento de projetos semelhantes, possibilitando o conhecimento de como seus

programas interferem na Promoção de Saúde de sua clientela, oferecer suporte aos

profissionais, para que possam conhecer as reais necessidades e satisfações de seu

público, além de dar direção a políticas públicas.

Com base nos pressupostos teóricos sobre o significado da linguagem, o qual

é sustentado por um sistema de valores constituídos por parte de cada ser humano,

em determinado ambiente, este estudo tem por objetivo conhecer o significado que o

grupo de convivência tem para idosos, identificando o que estes buscavam ao

participar dos encontros.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Grupos sociais

Os grupos sociais têm suas raízes teóricas e técnicas advindas de diversas

áreas de conhecimento que foram se consolidando no decorrer do século XIX,

dentre elas a Psicologia Social que surgiu como forma de estabelecer uma ligação

entre a psicologia e sociologia tendo como objeto de estudo, o comportamento dos

indivíduos quando estão em interação (BALLARIN in CAVALCANTI e NEGRÃO,

2007). Pensar o indivíduo separado da sociedade ou a sociedade sem os indivíduos

é um exercício de impossibilidade ou de vazio da realidade (AQUINO, 2005).

Foi no cenário político e econômico, no período de guerra e pós-guerra que

os estudos que tinham como objetos, os grupos, ganharam contexto favorável. As

primeiras experiências aconteceram em 1905, criada por Josefh H. Pratt com

atendimento clínico de grupo de pacientes turbeculosos. Porém, outros estudiosos

vieram a acrescentar conceituações específicas para o entendimento do

funcionamento dos grupos humanos, entre eles; Sigmund Freud, Gustave Le Bon,

MacDougall, Jacobi Levi Moreno e Kurt Lewin. Outros estudiosos trouxeram

relevantes contribuições teóricas nas décadas de 50 e 60 que iriam ampliar o

conhecimento e o trabalho com grupos, são eles; S.H. Folkes, Wilfred Bion,

Winnicott, Pichon-Rivière (BALLARIN in CAVALCANTI e NEGRÃO, 2007).

Na década de 70, surgi a Psicologia Social Comunitária como uma nova

forma de aproximar os profissionais de saúde e a população, visto que anteriormente

a psicologia social utilizava os aportes de teorias positivistas que privilegiavam a

descrição de pesquisas que utilizavam escalas, grupos de controle e experimentais,

visando adaptação de indivíduos à sociedade (SCARPARO e GUARESHI, 2007).

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A Psicologia Comunitária dedica-se a estudar, compreender e intervir no

cenário de questões psicossociais que caracterizam uma comunidade. Salienta-se

por sua praticidade e pela diversidade das opções teóricas e intencionalidades que

estruturam seus fazeres (SCARPARO e GUARESHI, 2007). Diferentemente dos

grupos operativos, os grupos sociais comunitários não giram em torno de uma tarefa

específica, mas trabalham com a identificação de seus componentes a partir de uma

característica comum para que possam reinvidicar seus direitos, fortalecerem-se

enquanto identidade e gerar empoderamento do saber compartilhado.

Os grupos minoritários dos quais fazem parte, os negros, as mulheres, os

homossexuais e os idosos, dentre outros, que são vítimas do preconceito da

sociedade que demonstra atitudes negativas a essas pessoas pelo fato de

pertencerem, assemelharem ou não aos grupos dotados de determinados aspectos

típicos fixados psicossocialmente, beneficiam-se dos grupos sociais comunitários ao

compartilharem entre si, os seus direitos e a manifestação de suas escolhas

pessoais, sociais, políticas e econômicas (FORMIGA, 2008, p.2-3).

Nos grupos comunitários voltado aos idosos, à identificação entre seus

participantes favorece a agregação social que possibilita a ressignificação da velhice

em todos os seus aspectos, fortalecendo-os não somente como grupo, mas também,

suas identidades pessoais.

2.2 Os Grupos de Convivência

Citando Cabral (1997), Oliveira (2004) faz referência ao fato de que as

primeiras experiências de grupos de convivência para idosos de que se têm notícias

aconteceram em países do Continente Europeu, expandindo-se rapidamente para

outros países. Essa foi, possivelmente, a primeira concepção mais aberta do

atendimento à população longeva, oferecendo oportunidades de retorno à

participação comunitária.

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No Brasil, até meados da década de 1960, a questão da velhice era tratada

por uma abordagem assistencialista, mediante ações de caráter asilar, com serviços

de acolhimento, alimentação e tratamento de enfermidades. Enquanto isso, aos

idosos em melhores condições de saúde e sócio-econômica não era oferecido

nenhum programa ou serviço de qualquer natureza.

Foi com base na observação de que idosos freqüentadores da Unidade

Operacional do Serviço Social do Comércio/SESC - Carmo, em São Paulo, criavam

em suas instalações um espaço de convívio, procurando ocupar o tempo livre, que a

instituição organizou uma visita de observação aos grupos de idosos nos Estados

Unidos.

“Em 1962, representantes do SESC foram aos EUA conhecer a proposta dos centros sociais para idosos, os Golden Age, que tinham a proposta de suprir deficiências no atendimento às necessidades decorrentes das transformações sociais” (SESC. DR. SP, 1999, p. 6).

Baseados na observação da metodologia do trabalho desenvolvido nesses

centros, os técnicos apresentaram uma proposta de atendimento aos aposentados

que freqüentavam o SESC, e o trabalho iniciou em 1963, na Unidade do SESC

Carmo, em São Paulo, sendo o pioneiro na implantação de grupos, os quais se

expandiram rapidamente nos anos seguintes; anos 1970, 1980, 1990 (OLIVEIRA,

2004).

Os primeiros trabalhos com esses grupos estavam voltados à programação

de lazer, para convivência e participação social maior, sendo reorganizado em 1970

pelo técnico Marcelo Antônio Salgado (SESC. DR. SP, 1999, p. 6), conforme

descrito:

A partir de 1970, o técnico Marcelo Antonio Salgado reorganizou e sistematizou as ações da Atividade Trabalho Social com Idosos, possibilitando assim o crescimento significativo de grupos e número de novos integrantes, além da diversificação e da qualidade dos programas. Esta ação deu maior visibilidade ao tipo de serviço social e, principalmente, à forma eficiente e educativa do SESC encaminhar o processo de convivência grupal do idoso e o seu envolvimento comunitário; trabalho que auxilia o idoso a redimensionar sua vida, através da ocupação do tempo livre com práticas e relações saudáveis.

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Zimerman (2000) acentua que o indivíduo é por natureza um ser gregário,

pois, desde o nascimento, está em constante interação com outras pessoas,

chegando a fazer parte de grupos diferentes durante seu desenvolvimento- família,

amigos, escola, trabalho. É no grupo que o indivíduo reconhece valores e normas,

tanto os seus como os do outro, embora diferentes dos seus ou mesmo opostos.

Para o autor, um conjunto de pessoas constitui um grupo; um conjunto de

grupos e sua relação com os respectivos subgrupos formam uma comunidade; e um

conjunto interativo das comunidades configura a sociedade. Todos os indivíduos

passam a vida toda interagindo e convivendo com distintos grupos. Por isso, a

importância de conhecermos e utilizarmos os grupos de convivência como espaços

transformadores e promotores de saúde.

Na década de 1970, com o reconhecimento do trabalho, ocorreu a ampliação

dos grupos e surgiu a Escola Aberta da 3ª Idade no Departamento Regional do

SESC em São Paulo - DR/SP, com o objetivo de instrumentalizar o idoso por meio

de cursos de atualização de conhecimentos.

Os anos 1980 registraram a difusão nacional do trabalho social com idosos

(TSI) com a abertura de grupos de convivência e escolas para a 3ª idade, realização

de palestras, seminários e encontros nacionais, além de esporte adaptado para os

idosos. Assim, a idéia de grupos de convivência começou a se propagar pelo País,

com vastas atividades grupais e suas respectivas denominações, como: grupo

operativo, de apoio, de capacitação, de convivência, universidade aberta à terceira

idade, dentre outros.

Estudo realizado por Cervato et. al. (2005) dá conta de que as universidades

abertas à terceira idade, de muitas formas, estão mantendo as pessoas ativas e

saudáveis, contribuindo, assim, para sua maior autonomia, seu direito ao trabalho,

ao lazer, à informação e à educação. É uma estratégia importante para preparar a

sociedade para uma realidade cada vez mais emergente: o aumento da população

idosa no mundo, em especial, nos países subdesenvolvidos.

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Importante é percebermos o quanto denominações diferentes podem se

referir à igual finalidade grupal e, da mesma forma, um mesmo nome pode designar

atividades que, em sua essência, são diferentes. Assim, qualquer intento

classificatório sempre partirá de um determinado ponto de vista, que tanto pode ser

de uma vertente teórica, como o tipo de setting instituído, a finalidade a ser

alcançada, o tipo dos integrantes, o tipo de vinculo com o coordenador, e assim por

diante.

Para Zimerman (2000), a definição de “grupo” parece ser muito vaga, pois

pode se estender desde um conjunto de três pessoas como abranger uma nação

unificada no simbolismo de um hino. Existem grupos de vários tipos, sendo

necessária uma distinção entre grupo propriamente dito e agrupamento.

Entendemos por agrupamento um conjunto de pessoas que dividem o mesmo

espaço e guardam entre si certa valência de inter-relacionamento e uma

potencialidade em virem a se constituir como grupo propriamente dito. Sartre, em

1973, classificou isto como ‘coletivo’ e exemplificou como sendo uma fila de pessoas

à espera de um ônibus, podendo-se dizer que a passagem da condição de

agrupamento para um grupo consiste na transformação de ”interesses comuns” para

“interesses em comum” (ZIMERMAN, 2000).

Estudo realizado no intuito de avaliar a contribuição dos grupos de

convivência em pessoas com problemas respiratórios crônicos em Florianópolis-SC,

baseado em dinâmicas de grupo que motivassem as pessoas a manifestar seus

sentimentos, crenças, opiniões e promovessem a discussão de temas sobre o fato

de viver com doença respiratória, relacionando com qualidade de vida, avalia

positivamente o grupo de convivências como sendo definidor para que cumprisse a

proposta de educação participativa, solidária, ao promover o crescimento de todos,

tanto do ponto de vista da própria convivência com a doença, quanto da expansão

de suas possibilidades como seres humanos (SILVA et. al., 2005).

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Todos os grupos devem preencher algumas condições básicas, como não

exceder o tamanho-limite para que seja preservada a comunicação visual, auditiva e

verbal, deve ser realizado em setting apropriado com estabilidade de espaço, de

tempo, e seguir algumas regras que delimitam e normatizam a atividade proposta

(ZIMERMAN, 2000).

No grupo de convivência, a importância de estar com o outro, as trocas de

experiências, o partilhamento das dificuldades, fazem os idosos sentirem-se mais

produtivos, pelo simples fato de serem aceitos, de conversarem sobre problemas

semelhantes, de desenvolverem capacidades semelhantes, de olharem uns aos

outros, como seres que têm desejos, lembranças, criatividades, e que podem levar

ao crescimento por meio da motivação do grupo e coordenação do facilitador.

Falamos em crescimento, não somente no aspecto individual, mas, também, no

sentido mais amplo, ao “empoderarmos” aquelas pessoas a agirem sobre o mundo,

sobre a sociedade e pessoas que vivem ao seu redor, no objetivo de torná-los

sujeitos reflexivos e operativos.

Atualmente, existe grande diversidade de grupos voltados ao trabalho com a

terceira idade, tendo cada um objetivos próprios e voltados a um público com nível

sócioeconômico preestabelecido. Em sua maioria, os grupos de convivência

desenvolvidos em comunidades carentes são mantidos por instituições públicas ou

privadas sem fins lucrativos (como no caso desta pesquisa, uma ONG), visto que o

poder aquisitivo é muito baixo.

O incentivo à participação social de idosos em grupos (seja a denominação

que for), porém, para que possam exercitar suas habilidades, cidadania, estimular o

lazer e trocas de experiências, dentre outras, com suporte no envelhecimento

saudável, desperta neles o sentimento de agentes ativos, participativos e

protagonistas de suas ações e de sua história.

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2.3 Os grupos de convivência como espaços sociais promotores de

saúde

A possibilidade de recomposição do modo de funcionamento dos sujeitos

coletivos nos espaços micros sociais (grupo de convivência) é um dos caminhos

mais seguros para garantir mudanças macros sociais estáveis (CAMPOS, 2006).

Para o autor, a Teoria da Paidéa indica a existência de uma co-produção de

acontecimentos e co-constituição de sujeitos e suas organizações, nas quais os

sujeitos recebem influência, mas também reagem aos fatores/sujeitos com

que/quem interagem, tendo eles o poder de compreender e interferir na dinâmica em

que se encontram.

As políticas de saúde do País relacionadas ao envelhecimento concretizaram-

se por meio de uma prática centrada no tratamento das doenças crônico-

degenerativas ou de suas complicações, pela assistência médica individual. Nesse

contexto, muitos estudos privilegiam a lógica clínica no âmbito dos serviços de

saúde e investigando danos e fragilidades específicas que acometem os idosos

(PASKULIN e VIANNA, 2008).

Estudos assim trazem significativas contribuições, mas é necessário ir além

para garantir qualidade de vida nessa etapa do ciclo vital. A importância desta

pesquisa é atender outro tipo de demanda que surge com o aumento do contingente

de idosos, citando as emocionais, sociais, ambientais, cognitivas, dentre outras.

Nesta perspectiva é possível, por meio de ações voltadas para a atenção à saúde,

sobressair à visão reducionista voltada para a atenção à doença.

Novos focos de atenção devem ser desenvolvidos considerando-se as

alterações e mudanças nas pirâmides etárias de muitos países, principalmente o

Brasil, onde em grande parte os idosos ainda são carentes, marginalizados e

excluídos.

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Estudos prévios demonstram a associação entre condições socioeconômicas

e status de saúde. De modo geral, os dados indicam que os indivíduos residentes

em áreas com baixa cobertura social e com maior exposição a fatores de risco, tais

como violência urbana, falta de higiene, desarranjo familiar, escassez de serviços de

saúde, entre outros, configuram-se entre aqueles com piores indicadores de saúde

(MACIEL e GUERRA, 2007).

A Educação em Saúde, de acordo com os princípios da escola de Paulo

Freire, é baseada em técnicas participativas que conduzem à tomada de consciência

das pessoas sobre os problemas que lhe dizem respeito (LIVTOC e BRITO, 2004). E

completam, evidenciando que se deve admitir a possibilidade de opção pelo

indivíduo, oferecendo formas de análise dos próprios comportamentos e atitudes

pela informação e apoio técnicos, mas sem imposição.

A teoria da co-produção singular filiada à Paidéa chama a atenção para o

papel do sujeito na constituição do status quo sanitário, seja ela individual ou

coletiva, para relativa autonomia dos sujeitos e singularidade dos resultados quando

acredita que cada caso é um caso (CAMPOS, 2006). Com o fortalecimento dos

sujeitos e dos grupos sociais, surge a possibilidade de alcance dos objetivos da

promoção da saúde.

Em todo trabalho em saúde há o encontro entre os sujeitos com importantes

diferenças em relação aos seus desejos, interesses, saberes e coeficientes de

poder. O método da Paidéa e a proposta de “clínica e saúde coletiva compartilhada”

partem dessa evidência essencial. Há uma diferença irredutível entre o profissional e

o usuário, por mais horizontal e aberta que seja a relação estabelecida. A vinculação

de poder em um espaço clínico ou sanitário sempre será desequilibrada a favor do

profissional e da instituição de saúde. Assim, sugere uma reflexão sobre estes

papéis sociais e responsabilidades distintos.

No grupo de convivência, o estreito relacionamento entre o profissional e os

idosos facilita o desenvolvimento do vínculo terapêutico, por meio de uma relação

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horizontal e longitudinal no tempo entre os sujeitos envolvidos. Ricouer (1976)

explica que é a “empatia”, como transferência de nós mesmos para a vida psíquica

de outrem, o princípio comum a toda espécie de compreensão, direta ou indireta.

Com tal compreensão é que foi possível entender o significado do grupo de

convivência para os idosos.

Conhecer o perfil do grupo com que se pretende trabalhar, seus interesses,

necessidades e limitações cognitivas e sociais, deve fazer parte de todos os

programas direcionados para essa clientela. Não há um padrão preestabelecido de

grupo de convivência, mas uma adequação destes com base em uma análise

anterior a respeito do público-alvo. Isto porque os grupos de convivência devem

oferecer atividades que vão ao encontro das necessidades específicas de cada

idoso, para que possam capacitá-los a lidar com diversos aspectos relacionados à

saúde e processo de envelhecimento, ensejando mudanças importantes,

contribuindo para promoção da saúde, na medida em que o sujeito pode se

“empoderar”.

O terapeuta ocupacional, como um dos facilitadores de programas voltados

para a terceira idade, nesses grupos, proporciona aos idosos detentores de extensa

bagagem cultural, de maneira interativa, a elaboração de uma identidade coletiva, na

medida em que o ambiente proporciona a criação de formas diversas de ser e fazer

aquilo que se sabe ou que se aprende.

Nesse contexto, a promoção da saúde passa a ser parceira da Terapia

Ocupacional em uma prática voltada para opções importantes na eliminação das

diferenças evitáveis, injustas e desnecessárias, que tiram o direito de as pessoas

idosas desfrutarem uma qualidade de vida satisfatória.

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3 TRAJETÓRIA TEÓRICO- METODOLÓGICA

Na compreensão do caminho metodológico, a abordagem qualitativa foi a

mais adequada para responder à questão norteadora sobre “o significado do

grupo de convivência para idosos”, visto que trata a “respeito de como se

interpretam o ser das coisas, sua verdade e, também, os modos escolhidos para

perscrutar, delimitar e expressar esse ser e essa verdade” (GRANDESSO, 2000).

Este tipo de pesquisa acredita que toda realidade expressa é apenas um

ponto de vista, uma perspectiva, dentre tantas outras possíveis, pois, a cada

momento que se mostra algo, há também algo que está sendo ocultado. Não há,

pois, uma verdade absoluta a respeito daquilo que se investiga, mas relatividade e

caráter provisório (GRANDESSO, 2000).

O sujeito observador é que faz ativamente o mundo que conhece, então

várias “interpretações” da realidade são possíveis (GRANDESSO, 2000).

Cada um forma para si perspectivas ou imagens sobre aquilo que ocorre no

mundo exterior, sendo elas, no entanto, inteiramente condicionadas pelo ponto de

vista subjetivo. Chladenius assinala que esse ponto de vista é indispensável, se

devemos dar conta das muitas e incontáveis variações dos conceitos que as

pessoas têm de um mesmo objeto (GRONDIN, 1999).

A pesquisa qualitativa nos permite entender que cada significado colhido do

que se busca saber está inteiramente relacionado com a maneira pela qual o sujeito

se vê no mundo, interage e desenvolve suas relações sociais. Compreender esses

significados por meio de palavras ditas, ouvidas e expressadas traz sentidos reais.

O objeto deste estudo não é algo definitivo ou determinado, mas tanto

passível de se manifestar por intermédio de inúmeras possibilidades, visto que cada

significado é apenas um ponto de vista subjetivo do ser. A possibilidade de

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interpretar um significado pode ser comparada a um objeto que pode ser visto de

todos os lados, mas nunca de todos os lados ao mesmo tempo (RICOUER, 1976).

No intuito de analisar os significados no campo da linguagem, optamos pela

pesquisa qualitativa com amparo na Hermenêutica. Tendo suas raízes no verbo

grego hermeneuein, hermenêutica significa, de acordo com Bleicher (1980. p.13), a

“teoria ou filosofia da interpretação do sentido”. Grondin (1999) complementa que o

aspecto universal dessa teoria ou filosofia é a palavra interior, ou seja, o que se

expressa por meio da linguagem pronunciada.

A linguagem tem sido associada à própria constituição do humano à medida

que os seres humanos são considerados seres lingüísticos, constituindo-se como

pessoas através da linguagem. Como seres humanos, estamos sempre envolvidos

em gerar um sentido para nossas vidas, e fazemos isso interpretando a nós mesmos

e ao mundo à nossa volta, dentro do nosso sistema de linguagem e dos campos de

sentido em que vivemos (GRANDESSO, 2000, pg.181). Assim, na hermenêutica,

linguagem e significado se relacionam simbioticamente.

Quem sabe com certeza o que se passa na alma do outro, quando ele

expressa esta ou aquela sentença? Na convivência prática sempre devemos

pressupô-lo, mas tal penetração no ‘verbum interius’ do outro nunca pode ser obtida

perfeitamente (GRONDIN, 1999, pg.104).

A comunicação é um enigma ou até mesmo um milagre, visto que junto, como

condição existencial, surge como um modo de ultrapassar ou de superar a solidão

fundamental de cada ser humano, no que diz respeito à unicidade do que é

experimentado por parte de cada pessoa não poder ser transferida totalmente como

tal e tal experiência para mais ninguém (RICOUER, 1976).

Aquele que se propõe compreender alguém deve abrir-se para a escuta do

outro, o que aponta para um mundo possível, mas isso só pode ser feito com base

no horizonte significativo do ouvinte, pois parece que não há como compreender

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alguém, pertencendo ou não a nossa cultura, senão nos nossos próprios

significados (DOMINGUES, 2000, pg.24).

3.1 Local da Pesquisa

A escolha do local, a Associação Viva Vida, como campo para a realização da

pesquisa, baseou-se no fato de se iniciar o desenvolvimento de um grupo de

convivência naquela instituição, visto ser a Gerontologia nossa área de atuação

dentro da formação de terapeuta ocupacional. Assim, optamos por entrevistar todos

os idosos que freqüentavam o grupo de fevereiro de 2006 até dezembro de 2007,

pois acompanharam o cronograma de atividades propostos e contribuíram na

escolha daquelas que mais os interessavam.

A Associação Viva Vida, situada na cidade de Fortaleza-CE, no bairro do

Tancredo Neves, é uma organização não governamental beneficente, sem fins

lucrativos, orientada por princípios éticos e humanitários, foi fundada em 13 de

novembro de 2003 por iniciativa de um grupo de empresários, profissionais liberais e

personalidades da sociedade civil cearense, com a finalidade de promover o bem-

estar dos integrantes das comunidades carentes, reavendo a dignidade, a qualidade

de vida e a auto-estima e contribuir para elevar o IDH – (Índice de Desenvolvimento

Humano) do Estado do Ceará, inserindo-o entre os dez melhores do Brasil (IBGE,

2008).

O IDH, juntamente com os índices de desenvolvimento municipal e social,

contribui para medição do desenvolvimento humano e social dos estados. O IDH

leva em conta três indicadores: o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, a

longevidade e a educação (IBGE, 2008).

Tendo como missão apoiar as comunidades carentes (urbanas e rurais),

incentivar e patrocinar as ações voltadas à educação, saúde, cultura, formação

profissional, assistência social, recreação e desportos, ciência e tecnologia e outras

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que vinham ser necessárias, durante o desenvolvimento das atividades, voltou sua

proposta para implantação de cursos de capacitação profissional a fim de formar

mecânicos, eletricistas, bombeiros hidráulicos, pintores, cozinheiras, faxineiras,

costureiras, jardineiros, manicures, vendedores, zeladores, serigrafistas e outros;

socialização por meio de várias atividades socioculturais e promoção de condições

para inserir no mercado de trabalho a mão-de-obra treinada pela Associação, sendo

o grupo de convivência para idosos agregado aos serviços após a implantação do

projeto.

A Associação Viva Vida chegou ao bairro com ótima estrutura física, trazendo

diversas propostas para toda a comunidade, envolvendo atividades na área de

educação infantil e profissionalização de adolescentes e adultos, tendo passado a

oferecer o grupo de idosos, a partir da idealização e sonho de um dos

patrocinadores da instituição no intuito de torná-los participativos e ativos. Para isso,

cedeu desde a estrutura até materiais e equipamentos de qualidade a profissionais

capacitados para cada área proposta. A estrutura física do prédio destacava-se no

ambiente, despertando em muitos o interesse de “fazer parte”. Pertencer à

Associação Viva Vida passou a ser, para aqueles idosos, motivo de orgulho e

sensação de valorização como seres humanos.

O grupo era formado por clientes e uma terapeuta ocupacional, sendo esta a

coordenadora do grupo, que era realizado três vezes por semana, no período da

manhã, nesta comunidade carente, com assistência básica precária e alto índice de

violência na cidade de Fortaleza.

3.2 Participação dos sujeitos

Participaram como sujeitos desse estudo 26 idosos que freqüentavam o

serviço, no período de fevereiro de 2006 a dezembro de 2007. O critério de inclusão

era fazer parte do grupo desde o início e aceitar participar da pesquisa depois do

convite.

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Embora a técnica de esgotamento seja a recomendada na pesquisa

qualitativa, significando que os dados serão coletados até as expressões e os

significados tornarem-se repetitivos, este critério não foi levado em consideração,

visto que optamos por não excluir nenhuma fala, pois estas se complementavam.

3.3 Procedimentos éticos

Após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética da Universidade de

Fortaleza (anexo 1), os sujeitos foram esclarecidos quanto aos objetivos, finalidades

e aos itens do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice A), a ser

assinado conforme preconizado na Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de

Saúde (BRASIL, 1996), que versa sobre os aspectos éticos da pesquisa com seres

humanos.

3.4 Procedimentos de coleta de dados

Para divulgar o início das inscrições para o grupo de convivência, foi feito

contato com a Igreja Católica do bairro, líderes comunitários e a própria terapeuta

ocupacional realizou uma visita ao Centro Comunitário onde havia grande número

de idosos, pois era dia de encontro semanal neste local, para explicar sobre o Grupo

de Convivência da Associação Viva Vida, as datas das inscrições, como iria

funcionar e quando iniciava.

Nos dias 07 e 09 de fevereiro de 2006, no período da manhã, a coordenadora

do grupo estava na Associação Viva Vida realizando as inscrições, que tinha como

critério para participação ser idoso acima de 60 anos. Lá, era preenchida uma ficha

com dados pessoais, envolvendo bairro, estado civil, religião, escolaridade, renda

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familiar e dados sobre a saúde, referindo alguma doença crônica, bem como o uso

de medicamento contínuo ou controlado.

O grupo iniciou no dia 12 de fevereiro de 2006 com horário de funcionamento

das oito às onze e trinta da manhã, todas as segundas, quartas e sextas. No início,

todas as atividades, freqüência, nº de participantes diários e algumas falas eram

coletados sem nenhum interesse formal. Quando entramos no curso de mestrado,

surgiu o interesse de realizar a pesquisa com esse grupo, elaborando então um

roteiro de entrevista para ser aplicado em dezembro de 2007, após 22 meses de

encontros, constando de dois momentos. No primeiro, referindo-se a dados pessoais

e sócio-demográficos para caracterização específica do perfil desse grupo com

idade, estado civil, escolaridade, profissão, religião, renda familiar e número de

pessoas por domicílio. O segundo, formado por questões abertas, no intuito de

compreender o significado do grupo de convivência para este grupo de idosos. As

questões norteadoras estão na seqüência.

Considerando este grupo de convivência, no que diz respeito às atividades

propostas, as relações aqui estabelecidas, responda:

• Como você percebe sua saúde atualmente?

• Por que você procurou um grupo de convivência?

• O que buscava encontrar no grupo de convivência?

• Você já convidou alguém para participar do grupo?

• Você já aprendeu alguma habilidade artesanal ou manual no grupo de

convivência?

• Atualmente, o que causa preocupações em sua vida?

• O que mudou em sua vida pelo fato de participar do grupo de convivência?

Para a realização das entrevistas, foi feita uma solicitação à participação dos

sujeitos da pesquisa. Após o aceite, foram marcados o local e o horário para sua

realização. A coleta de dados ocorreu no mês de dezembro de 2007.

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3.5 Entrevistas

Tendo em mente o objetivo de apreender por meio da escuta atenta aquilo

que o outro tem condições de narrar e a busca do significado no discurso, o método

utilizado foi entrevista semi-estruturada.

O roteiro da entrevista foi elaborado tendo dados de identificação dos sujeitos

para conhecermos o perfil sócio-demográfico e questões norteadoras, abertas, com

o objetivo de os sujeitos da pesquisa expressarem livremente sobre os aspectos

abordados, mas sem se desviar das finalidades do estudo. Das sete perguntas

abertas propostas inicialmente, no entanto, somente três direcionaram a pesquisa,

pois foram capazes de apreender a relação que elas estabelecem em sua vida

cotidiana, para o entendimento da expressão dos significados referidos (ANEXO 2).

As entrevistas ocorreram na própria Instituição, por opção dos idosos, em

uma sala de aula para que tivessem privacidade. Esta escolha decorreu da

dificuldade no acesso à residência dos sujeitos.

As entrevistas foram gravadas e transcritas literalmente e versavam sobre as

seguintes questões norteadoras:

• O que você buscava encontrar no grupo de convivência?

• Atualmente, o que causa preocupações na sua vida?

• O que mudou em sua vida pelo fato de participar do grupo de convivência?

Com o objetivo de verificar a “qualidade” do instrumento a ser aplicado, bem

como fazer o exercício da coleta de dados, achamos conveniente realizar algumas

entrevistas-“piloto”, por nós levados a efeito, sendo que, os que participaram da

entrevista-piloto não fizeram parte do estudo.

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Antes de iniciar a entrevista, foi oferecido esclarecimento a respeito da

pesquisa e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que eles iriam assinar.

3.6 A análise dos dados

Com a finalidade de verificar o que os sujeitos queriam dizer em seus

discursos, são descritos a seguir os passos desenvolvidos para elaboração da

análise deste trabalho.

A transcrição das entrevistas e a leitura atenta do todo foram feitas, para

viabilizar a familiarização com os discursos.

Depois, as entrevistas foram lidas separadamente e foi anotado o que os

pesquisados indicavam como significado do grupo de convivência, considerando a

perspectiva da Hermenêutica, para buscar as idéias significantes que são os núcleos

de interpretação. Estes trazem a mensagem nuclear e singular a ser transmitida

numa comunicação verbal, sendo posteriormente agrupadas por categorias. Como a

Hermenêutica não apresenta um conjunto de regras claras para a interpretação de

textos, há métodos para validar as afirmações que fazemos, que, segundo Ricoeur

(1976) são três: construção do sentido verbal do texto, ou seja, estabelecer a

relação das partes com o todo; analisar o texto como totalidade singular que pode

ser visto de várias perspectivas, mas nunca por todas ao mesmo tempo; e o terceiro

é restrito aos textos literários, que podem ser entendidos de maneiras diversas pelo

uso de metáforas e símbolos.

Assim, a Hermenêutica não cria nenhum método específico, sendo o

agrupamento por categorias uma escolha nossa.

Com base nessas categorias, a análise de dados foi realizada, sendo

apresentada com suas discussões e exemplificada com as falas dos próprios idosos.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Caracterização do Grupo

Uma vez que esta pesquisa busca compreender os significados conferidos

dados ao grupo de convivência pelos idosos, faz-se necessário conhecer

primeiramente esse grupo, considerando suas realidades e experiências no mundo

que os cerca, definindo o modo de agir, seus pensamentos e interesses. Por mais

que tenhamos coletado relatos individuais, esses indivíduos faziam parte de um

grupo, interagiam consigo, manifestavam suas percepções e aprendiam outras

novas, caracterizando, assim, um ciclo de ensino e aprendizado, próprio do sujeito

coletivo.

Participaram do estudo 26 idosos, sendo 25 do sexo feminino, com idade

variando de 62 a 87, média de 68 anos. O único homem que participou da pesquisa

tinha 65 anos. Pesquisa realizada por Camarano (2004) dá conta de que

envelhecimento é também uma questão de gênero, pois ao se considerar a

população idosa como um todo, observa-se que 55% dela são formados por

mulheres, reforçando a idéia de “feminização” da velhice.

Supondo que os seres humanos são geradores de significados e que seu

mundo é formado no intercâmbio de pessoas, num determinado ambiente, por meio

da linguagem, compreende-se como o discurso que decorre das trocas dialógicas

surgem no espaço comum entre as pessoas (GRANDESSO, 2000).

De acordo com a Teoria da Linguagem de Vygotsky (2005), a relação do

sujeito com a realidade se faz sempre mediada pelo outro, por intermédio da

linguagem. Esta linguagem é constituidora das funções mentais superiores, sendo

que o conhecimento é adquirido nas relações entre as pessoas, através da

linguagem e da interação social. Pode-se considerar a linguagem como um

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instrumento complexo que viabiliza a comunicação e a vida em sociedade. Sem ela,

o ser humano não é social nem cultural.

Então, surge a necessidade de se conhecer a rede de significados que o

grupo de convivência traz ao grupo de idosos, visto que este também faz parte de

um mundo significativo, capaz de organizar não só a experiência presente, mas

também a passada e as possibilidades futuras com esteio na cultura e na sociedade

em que viveram e vivem. Assim, a caracterização do grupo foi feita com a análise

das falas de cada um dos participantes, no intuito de conhecer o significado do

grupo de convivência para os idosos. As informações foram obtidas em uma

entrevista (anexo 3) como consta na trajetória metodológica e serão aqui descritos

com uma caracterização ampla do grupo.

Após essa descrição, tendo como diretriz a questão norteadora, Qual o

significado do grupo de convivência para idosos serão apresentadas as

categorias formadas com suportes nos núcleos de interpretação aprendidos na fala

dos idosos sujeitos deste trabalho.

Os idosos que dele participavam residiam no bairro (26 idosos) e, em sua

maioria, conviviam diariamente com as dificuldades de acesso à saúde, alto índice

de marginalização, miséria, pobreza e com poucas condições econômicas (24

idosos possuíam renda familiar até três salários mínimos), de moradia e educação.

Os participantes do grupo de idosos eram pessoas simples, com baixo nível

de escolaridade (18 tinham menos ou até cinco anos de escolaridade),

apresentando histórias de vida com muita luta e sofrimento na busca de uma vida

um pouco melhor. Não encontravam na comunidade nem na família nenhuma fonte

de realização pessoal ou mesmo algum programa que lhes proporcionassem o

desenvolvimento de suas capacidades e valorizassem suas histórias, suas

experiências.

Grande parte (15) era de pessoas que residiam em domicílios

multigeracionais, convivendo em média cinco pessoas por domicílio, nos quais a

aposentadoria do próprio idoso era utilizada para sustento de toda a família.

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Conforme citado por Camarano (2004), Lloyd-Sherlock salienta que os

aspectos internos aos arranjos familiares são complexos e difíceis de analisar. Não

se deve assumir a idéia de que um número maior de pessoas morando juntas se

traduza, necessariamente, em maior suporte aos idosos, principalmente em regiões

carentes.

As famílias dos idosos pesquisados, em geral, não demonstravam vínculos

afetivos entre seus membros, a maioria com laços conjugais desfeitos em mais de

uma geração, pouco ou nenhum compromisso no cuidar do outro, a convivência com

a banalização do sexo por parte dos adolescentes e presença de algum membro

dependente químico (álcool/droga) e/ou envolvido em roubos e assaltos.

O cuidado e a valorização ao idoso não foram observados nas falas dos

próprios idosos, trazendo uma idéia paradoxal. Se eles relataram ser responsável

pelos cuidados do lar, pela manutenção econômica dos mais jovens que não

exerciam atividades produtivas, e também prestavam suporte emocional ao

expressarem suas preocupações com filhos e netos e não consigo mesmos, como

poderiam perceber-se não valorizados, se em nossa sociedade aqueles que mantêm

toda essa estrutura são valorizados? Talvez um estudo mais detalhado se fizesse

necessário para investigar se estes idosos eram valorizados, mas não reconheciam

ou realmente eram explorados.

Com a caracterização deste grupo, podemos supor que características

encontradas justificam uma habilidade voltada para o mundo concreto,

demonstrando um afastamento do mundo simbólico; ou seja, fazer algo concreto, em

vez de atividades mais abstratas, podia trazer a eles o sentimento de valorização por

parte da família e da sociedade. Essa suposição poderá ser reiterada quando forem

tratadas as questões relacionadas ao significado explicitado pelo grupo, conforme

será apresentado nos núcleos de interpretação descritos a seguir.

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4.2 Apresentação dos núcleos de interpretação

Núcleos de Interpretação Categorias

1. Motivação ao procurar o grupo de convivência 1. Suporte à saúde 2. Suporte material 3. Possibilidade de afastamento de problemas cotidianos e materiais 4. Possibilidade de Vinculação social 5. Enfrentamento da tristeza e “esvaziamento emocional”

2. Expectativa em relação ao Grupo de Convivência

1. Aprendizado de atividade manual 2. Suporte à saúde emocional

3. Avaliação quanto às mudanças percebidas pela participação no grupo

1.Possibilidade de aprimorar e desenvolver talentos 2. Fonte de juventude 3. Compromisso social

4.2.1 Núcleo 1. Motivação ao procurar o grupo de convivência

Durante o trabalho com o grupo, para ensinar habilidades, promover a saúde

e a socialização, ajudá-los por meio das diferentes atividades a vencer sua

constante incapacidade para lidar com perdas múltiplas, manter e adaptar pelo maior

tempo possível a sua independência física, mental e social, reconstruir padrões de

vida e atividades por meio da educação em saúde, nos foi exigido profundo

conhecimento de suas realidades sociais fome, miséria, pobreza, violência e

isolamento para que pudéssemos facilitar o processo de auto-estima, valorização,

motivação, relações sociais saudáveis e “empoderamento”.

No intuito de compreender qual a verdadeira motivação que os fez procurar o

grupo de convivência, partimos de duas suposições iniciais, sendo uma ‘o grupo de

convivência como suporte à saúde’ e outra como ‘suporte material’ indicada por

categorias. Outras categorias, porém, no interior desse núcleo de interpretação,

surgiram em suas falas, sendo discutidas a seguir.

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Categoria 1. Grupo de convivência como suporte à saúde

Figura 1. Fonte: Elaboração Própria

O envelhecimento é associado a um decurso biológico de declínio das

capacidades físicas, relacionado às novas fragilidades psicológicas e

comportamentais. Então, o fato de estar saudável deixa de ser relacionado com a

idade cronológica e passa a ser entendido como a capacidade do organismo de

responder às necessidades da vida cotidiana, a capacidade e motivação física e

psicológica para continuar na busca de novos objetivos e conquistas pessoais e

familiares. É convencional, entretanto, considerar-se a existência de uma fronteira,

que se situa perto dos 65 anos (CAMARANO, 2004).

Havia uma suposição inicial de que os idosos procuraram o grupo no intuito

de que lá eles teriam acesso a médicos e medicações, bem como profissionais e

serviços de saúde, visto que esses eram escassos na comunidade. Logo nos

primeiros discursos analisados, porém pudemos perceber que um dos principais

motivos de busca ao grupo foi representado pelo acesso a atividades que

proporcionassem o aprendizado, o exercício da mente e do corpo, como meio de

alcançar, indiretamente, a saúde, ou como refere estudo de Camarano (2004), a

busca para alcançar o ‘estar saudável’.

Pela leitura dos discursos, foi possível perceber que, para alguns idosos, o

grupo de convivência como suporte à saúde é um dos valores de grande

importância. Embora, algumas vezes, eles não se refiram especificamente à

expressão saúde, é o que eles querem situar indiretamente em suas falas. É válido

ressaltar que o surgimento de doenças não é algo intrínseco à velhice, mas

conseqüências de alterações fisiológicas do envelhecimento, estilo de vida, situação

socioeconômica e cultural.

Centro de

Convivência

Suporte à saúde

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37

Esse suporte à saúde parece ser entendido, por estes idosos, não apenas

como o atendimento médico freqüente ou indicação e/ou utilização de

medicamentos, mas com programas de saúde voltados para o corpo e a mente.

“... procurei o grupo por causa da minha doença né, que eu não ia poder mais

trabalhar, aí eu não posso viver só dentro de casa, aí eu procurei esse grupo para

me distrair...”.

“... olha, eu procurei esse grupo porque eu soube que aqui a gente fazia muito

exercício, tem exercício e eu gosto muito de fazer exercício né...”.

“... para mim ter mais um pouco. Eu achava que eu me envolvendo mais com

essas pessoas, eu ia ter mais uns anos de vida. Quando eu não venho eu fico

triste... ”.

“... procurei porque eu gostei porque a saúde da gente. Eu tinha problema nas

pernas e eu gostei porque fazia ginástica”.

“... porque a gente tem que ficar, procurar alguma coisa para fazer, a mente...,

ocupar a mente. Porque a mente desocupada, minha filha não dá”.

Ao explorarmos esta categoria, é possível compreender a diversidade de

significados que surgem, podendo ser percebida como a capacidade de realizar

alguma atividade que os façam exercitar suas funções físicas, emocionais e mentais.

Assim, foi possível perceber que a idéia inicial de ter como objetivo o suporte à

saúde, passou por modificações quanto ao significado de saúde, fazendo com que

eles percebessem outras necessidades, reconstruindo significados.

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Categoria 2. Grupo de convivência como suporte material

Figura 2. Fonte: Elaboração Própria

Esta categoria diz respeito a uma suposição inicial nossa de que os idosos

daquela comunidade encontrassem naquele grupo de convivência a possibilidade de

receber alguma ajuda; cesta básica, como é comum nesses bairros carentes do

Município de Fortaleza.

De acordo com estudo realizado pelo IBGE (2000) sobre o perfil dos idosos

responsáveis pelos domicílios, o rendimento médio do idoso responsável pelo

domicílio na região Nordeste é de R$ 386.00, retratando a difícil realidade

encontrada na população idosa desta pesquisa.

Muitos idosos inscreveram-se para participar deste grupo, visto que são

comuns programas com objetivos assistencialistas (doações) voltados para este

público, mas não deram continuidade, talvez por ver frustrada essa perspectiva.

Dentre os entrevistados, uma idosa confirmou essa expectativa. Demonstra em sua

fala, a busca por um suporte material de forma passiva, quando referiu:

“... procurei atrás de uma ajuda, porque eu necessito, eu sou pobre. Tenho 5

pessoas na minha casa que vive só de um salário”.

Outra relatou buscar suporte de forma ativa na medida em que tem o

interesse de aprender no grupo alguma habilidade que lhe trouxesse a oportunidade

de obter uma renda extra.

Centro de

Convivência

Suporte à saúde

Suporte material

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“... assim, minha casa é pequena, e eu gostaria de aprender mais, de

aprender mais coisa, de ter assim, um meio de como eu possa mais me manter,

certo”.

Nesta fala, encontramos uma senhora com 62 anos demonstrando-se com

vigor físico e mental, acreditando ser capaz de gerar mudanças com a apropriação

de novos aprendizados, carregando consigo uma concepção positiva acerca do

envelhecimento, ao desmistificar a velhice como dependência, incapacidade e

doença.

Categoria 3. Grupo de convivência como possibilidade de afastamento de problemas

cotidianos e materiais

Figura 3. Fonte: Elaboração Própria

Esta categoria surgiu da fala expressa por grande parte dos idosos. Muitos

vêem no grupo a possibilidade de esquecer os problemas diários. Por mais que eles

não especificassem em seus discursos os reais problemas, o vínculo criado conosco

e a necessidade de desabafar a cada encontro sobre suas vidas tornou-se possível

expor o que eles estavam falando entre linhas. As principais queixas são a falta de

dinheiro para sustentar toda a família, a preocupação com filhos e netos envolvidos

com álcool, drogas, roubos, prostituição, o desemprego de membros em idade

economicamente ativa, dentre outras. O grupo de convivência é certamente o local

onde eles se sentem protegidos desses problemas que os afligiam mais que

constantemente, o refúgio (grifo nosso).

Centro de

Convivência

Suporte à saúde

Suporte material

Afastamento de problemas cotidianos e materiais

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“... devido eu viver dentro de casa, eu me estressava muito. Agora graças a

Deus, eu estou outra pessoa muito diferente do que eu era”.

“... o pouquinho que eu tiro para vir pra cá para mim já é ótimo. Grande coisa.

Alivia minha cabeça. Quando eu chego em casa, meus problemas já se foram.

Tenho problemas, mas to mais esquecida um pouquinho. É muito bom a gente

participar desse grupo”.

“... foi muito maravilhoso né, porque às vezes a gente tá dentro de casa só se

preocupando com as lutas, as lutas de casa do dia-a-dia aí a gente fica com a

cabeça muito quente”.

Categoria 4. Grupo de convivência como possibilidade de vinculação social

(enfrentamento da solidão, superação do isolamento social, congregação)

Figura 4. Fonte: Elaboração Própria

Na leitura dos discursos, e a associação com as exteriorizações diárias de

cada um, podemos perceber como o grupo de convivência carregava consigo o

significado de vinculação social para esse grupo de idosos. Isto porque, pelo fato de

não exercerem nenhuma atividade econômica ou social, perderam as possibilidades

de vínculos e o sentido de pertença, visto que, em suas casas, mesmo habitando

com outros membros da família, não eram percebidos por parte das gerações mais

novas, como filhos e netos, valorização e/ou cuidado para com o idoso. No âmbito

familiar, não havia o sentido de pertença, mas de exclusão.

Centro de

Convivência

Suporte à saúde

Suporte material

Afastamento de problemas cotidianos e materiais

Vinculação Social

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“... eu não tinha para onde eu sair. Para eu não ficar em casa escutando nada

de ninguém, eu gostei de participar do grupo”.

“... eu me sinto tão bem de vir pra cá. Chega aquele dia, e eu to com aquela

alegria de sair”.

“... eu procurava mais amizade, fazer amizade, eu gosto de todo mundo, para

eu não ficar muito em casa”.

“... eu era muito solitária dentro de casa, não saia para canto nenhum”.

“... eu vivia triste dentro de casa, sem saber o que fazer porque nem toda vida

tem costura para gente fazer neh. E aqui no dia que chega o dia, aí eu digo: aí eu

tenho que ir; e eu vou e deixo tudo lá. Não quero nem saber”.

Na análise do caso brasileiro, mudanças expressivas nos arranjos familiares

(separações, coabitação, aumento da proporção de mulheres que nunca se casaram

e/ou que nunca tiveram filhos), queda generalizada da fecundidade, o aumento

também generalizado da participação das mulheres (a tradicional cuidadora dos

segmentos dependentes da família) nas atividades econômicas, dificultam e

dificultarão ainda mais a atuação das famílias como promotoras de apoio à

população idosa. Pode-se esperar que um declínio na co-residência e em outros

apoios familiares resulte em um aumento da demanda por determinadas políticas

sociais (CAMARANO, 2004). Tais políticas sociais devem incentivar a criação de

centros de convivência e/ou grupos de apoio aos idosos, visto que estes podem

suprir a ausência ou reduzido apoio que idosos encontram em suas famílias.

Estudo realizado em Campinas, com o objetivo de descrever e analisar as

atividades em grupos de idosos em unidades básicas de saúde, concluiu que estes

serviços podem ser facilitados pelas ações em grupos, pois estes privilegiam as

ações educativas, constituindo-se alternativa para que as pessoas retomem papéis

sociais e/ou atividades outras de ocupação do tempo livre (físicas, de lazer, culturais

ou de cuidado com o corpo e a mente) e o relacionamento interpessoal e social. Os

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grupos agregam pessoas com dificuldades semelhantes e possibilitam o convívio,

assumindo grande importância na vida dos idosos que a eles freqüentam, visto que

a solidão é uma queixa freqüente entre idosos (GARCIA et. al., 2006).

Araújo, Coutinho e Carvalho (2005) concordam que os idosos buscam

espaços de convivência que permitam a ‘escuta’, uma vez que, na maioria dos

ambientes familiares, não é permitida a sua participação nas decisões. A

representação desses grupos de convivência como espaço de escuta só vem

reforçar a negação da participação de diálogos no seio familiar para com os idosos,

levando-os a viver sentimentos de desvalorização, isolamento, depressão e auto-

imagem negativa.

Categoria 5. Enfrentamento da tristeza e “esvaziamento emocional”

Figura 5. Fonte: Elaboração Própria

Outra categoria bastante expressada foi a possibilidade de enfrentamento da

tristeza. Essa tristeza era manifestada em decorrência da solidão em que viviam,

mesmo residindo com várias pessoas de laços sanguíneos, a exclusão que sentiam

diante da idade, o fato de estar sozinho no mundo, de não ter com quem conversar e

expressar suas angústias e medos, até mesmo porque eles ainda eram, na maioria

dos casos, o suporte emocional que transmitia força aos mais jovens, sem sequer

serem perguntados se estavam se sentindo bem nesta posição. Isto ensejava uma

sobrecarga emocional que chegava a prejudicar outras funções, como a psíquica e

cognitiva.

Centro de

convivência

Suporte à saúde

Suporte material Afastamento de

problemas cotidianos e materiais

Vinculação social

Esvaziamento emocional

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Estudo realizado por Araújo et. al. (2005) mostra que os idosos

representaram ‘grupo de convivência’ como um espaço no qual elas encontram

‘solidariedade’, de modo que consideram de fundamental importância a

‘participação’ dos idosos, uma vez que estes contribuem para desenvolver uma rede

psicossocial e afetiva que possibilita uma prática para melhor enfrentamento da

velhice.

“... eu procurei o grupo para melhorar a situação da minha cabeça; para fazer

uma terapia na minha cabeça”.

“... mudou muito porque eu fiquei mais alegre, tive mais paz. Tive mais assim,

a minha cabeça mudou um pouco mais; eu era triste agora sou alegre”.

“... mudou porque eu tenho assim uma paz quando tô aqui. Eu me sinto muito

feliz”.

“... tive mais vontade de viver. Quando eu chego aqui que eu saio, eu saio

muito feliz, eu saio leve daqui”.

“... para eu me divertir porque eu tenho a vida assim meia pra baixo, para eu

ter mais com quem eu converse para mudar as minhas idéias; e me dou muito bem”.

“... eu sofro muito com a solidão. Viver sozinha na minha casa, mas aqui tô

me alegrando muito e me divertindo com a minha professora e a s minhas amigas”.

Teoricamente, o grupo familiar e a comunidade são espaços de proteção e

inclusão social, pois neles é que se estabelecem as relações primárias capazes de

constituir a sustentação para o enfrentamento das dificuldades cotidianas.

Estudos mostram que o rompimento de vínculos sociais altera as defesas

orgânicas das pessoas, deixando-as mais suscetíveis a doenças. Assim, os laços

sociais têm influência no estado de saúde e dispor de uma rede de suporte social, a

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qual proporciona ajuda aos indivíduos que a ela pertencem, beneficia a saúde e o

bem-estar de todos (LEITE et. al., 2008).

De acordo com dados do IBGE (2008), o convívio de idosos com filhos e

parentes é destacado como uma situação saudável e positiva para seu bem-estar, e

afirma que, na região Nordeste, 50% dos idosos vivem com seus filhos na condição

de chefes de família. Nesse estudo, porém foi observada a grande dificuldade, por

parte dos idosos, de interagir socialmente em seus lares.

A possibilidade atual de convivência simultânea de várias gerações de uma

mesma família faz com que sejam postas lado a lado diferentes visões de mundo e

de valores, favorecendo o surgimento de conflitos vivenciados entre as gerações no

espaço doméstico. Muitas vezes os velhos, por terem reduzida flexibilidade a

mudanças, têm maior dificuldade em se adaptar a essa nova realidade, ou seja,

coabitar o mesmo ambiente com pessoas de gerações distintas (LEITE et. al., 2008).

Além disso, o domicílio multigeracional nas camadas de baixo nível econômico

favorece a falta de privacidade do velho, colaborando positivamente para sua

adesão aos espaços de convivências em que são respeitados em suas

individualidades, interesses e motivação.

4.2.2 Núcleo 2. Expectativa em relação ao Grupo de Convivência

Logo nos primeiros meses, os idosos já foram demonstrando suas reais

expectativas em relação ao grupo. O interesse em fazer e/ou aprender algo novo

neles despertava prazer. O momento de fazer trazia consigo a paz, a auto-estima, a

socialização, o afastamento de problemas cotidianos, o estabelecimento de vínculos

que também associavam à saúde, uma vez que saíam do grupo mais tranqüilos,

calmos e relaxados.

Assim, suas expectativas foram agrupadas em duas categorias.

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Categoria 1. Aprendizado da atividade manual

Figura 6. Fonte: Elaboração Própria

Inicialmente, a proposta do grupo de convivência tinha um cronograma

voltado a atividades de memória, manuais e artesanais, dinâmicas de grupo,

condicionamento físico e palestras educativas, dentre outras. O grupo, porém

começou a expressar um interesse maior pelas atividades manuais, até mesmo pelo

nível intelectual deles, que não conseguiam elaborar atividades mais complexas de

raciocínio e compreensão. O fazer manifestou-se como nova possibilidade, novos

horizontes, como sentir-se útil; contrastando, até mesmo, com as expectativas

iniciais deles em relação às oficinas artesanais propostas em que eles não

acreditavam ser capazes de aprender ou fazer algo novo. Isso produziu um

sentimento importante de autovalorização, antes desconhecido.

“... procurava aprender muitas atividades... olha apesar de eu não saber ler

nem escrever muito, eu gosto de aprender. Eu acho que eu nasci na arte”.

“... eu já aprendi a fazer a boneca, que antigamente eu não fazia; eu já

aprendi muitas coisas aqui”.

“... eu não sabia fazer nada. Não me ocupava em nada. Passava o dia dentro

de casa só deitada. Fazendo só as coisas de casa. Aí aqui, graças a Deus, eu já

aprendi a fazer muita coisa e vou aprender mais ainda”.

Acreditamos ser no grupo o espaço onde eles realizavam algo por prazer, por

escolha própria, longe das obrigações domésticas e rotineiras de seus lares, ao

mesmo tempo em que tinham sua privacidade no contato com a oportunidade de

fazer algo que despertava seus interesses. Isto reforça a idéia da fenomenologia, ao

assinalar a necessidade de contato do ser com o seu plexo de referências, com seu

contexto de funcionalidade para que ele possa chegar a ser o que é e como é.

Centro de

convivência

Aprendizado manual

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Azevedo et. al. (2003), ao pesquisarem sobre o significado de participação

social para um grupo de idosos, obtiveram como número mais expressivo a

convivência com o outro (35,2%), em segundo lugar, a ocupação em atividades

(23,5%) e estar atento ao meio (23,5%), sendo seguido pela procura de aprendizado

(17,6%), colaborar socialmente (11,7%), corroborando nossa pesquisa.

Categoria 2. Grupo de convivência como suporte à saúde emocional

Figura 7. Fonte: Elaboração Própria

A saúde foi externalizada por eles também, não dizendo respeito à motivação

inicial, mas ao bem-estar e saúde emocional que a participação no grupo os trazia.

O fato de ir ao grupo, encontrar amigos, conversar, trocar experiências, fazer algo

novo, ter perspectivas em relação ao quer fazer amanhã, carregava consigo efeito

positivo na saúde emocional daquelas pessoas que, talvez, nunca tiveram

oportunidades de fazer escolhas, pois tudo foi imposto a elas.

“... eu procurei o grupo para melhorar a situação da minha cabeça; para fazer

uma terapia na minha cabeça”.

“... eu me sinto tão bem de vir pra cá. Chega aquele dia, e eu to com aquela

alegria de sair”.

Nesse contexto ambiental em que participavam, os idosos expressavam

diariamente suas emoções ao aprenderem uma tarefa nova, ao ultrapassarem

obstáculos, ao serem ouvidos pelo colega, ao se sentirem valorizados como seres

humanos. Critelli (1996) assegura ser por meio de nossos estados de ânimo que os

Centro de

convivência

Aprendizado manual

Suporte à saúde emocional

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significados das coisas fazem sentido. Esse sentido de ser e das coisas começa a

se abrir e fechar, a se deixar ver, a se definir pelas nossas emoções, estando em

constante transformação e renovação. Nesse momento, em que se sente algo

concreto, o eu chega, pelos estados de ânimo, a mais plena realidade de si mesmo.

Os grupos de idosos têm uma peculiaridade: exigem uma reestruturação.

À medida que os anos vão passando, as perdas, principalmente de familiares

e amigos, também aumentam, ensejando por uma série de razões, o distanciamento

dos indivíduos de seus antigos grupos sociais. Não refazer contatos e ficar sem seus

grupos, sejam familiares, de trabalho, de lazer ou quaisquer outros, trazem ao idoso

uma imensa lacuna que pode ser preenchida pelos grupos de idosos. Fazê-los

participar de novos grupos e ajudá-los a se enquadrar naqueles que maior

satisfação vão lhes proporcionar pode reestruturar seu papel social e dar apoio

emocional (JOÃO et. al., 2005).

Entrevistas realizadas com 27 indivíduos de 85 anos, participantes do estudo

de von Faber et al. (2001) na Holanda, assinala que, para 22 dos idosos, o bem-

estar na velhice é um processo de adaptação que inclui marcadores psicológicos,

tais como: capacidade de ajustar-se às circunstâncias, valorização dos ganhos e

apreciação das qualidades pessoais. Bem-estar e atividades sociais foram fatores

valorizados em comparação às funções física e psicocognitiva, sendo a dimensão

social uma condição essencial para o bem-estar.

4.2.3 Núcleo 3. Avaliação quanto às mudanças percebidas pela participação no

grupo

As categorias desse núcleo surgiram como respostas na avaliação do grupo

de convivência, tanto no olhar dos idosos como no nosso, quando, os primeiros

podem perceber mudanças favorecidas pela participação no grupo, e nos avaliamos

como as atividades propostas influenciaram mudanças na vida desses idosos, na

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medida em que surgem modificações positivas ao trabalho realizado e o resgate

social.

Categoria 1. Grupo de convivência como possibilidade de aprimorar

e desenvolver talentos

Figura 8. Fonte: Elaboração Própria

A realidade em que viviam não lhes permitiu investir nenhum tempo ou não os

despertava para outras atividades que lhes davam prazer e despertavam interesse.

As condições socioeconômicas escassas e o baixo nível de escolaridade

direcionaram, para muitos dos idosos, a vida para o trabalho forçado e pesado,

simplesmente como forma de obter uma fonte de renda que lhes permitisse o básico

da vida. Assim, os prazeres que estavam até então adormecidos começaram a

brotar no grupo de convivência.

Estudo realizado sobre a representação social da velhice com idosos que

freqüentavam grupo de convivência garante que a velhice foi definida como uma

fase do desenvolvimento humano em que há maior liberdade para a realização de

atividades que não foram executadas em outras fases da vida (ARAÚJO et. al.,

2005).

“... e hoje em dia, é que eu posso dizer que eu tenho muita paz porque tudo o

que eu tinha dentro, assim, o talento, botei pra fora agora. Realmente, esse meu

tempo de terceira idade, pra mim é melhor do que o tempo que eu era mais nova”.

“... já aprendi várias coisas mas, por exemplo; o fuxico tá no meu sangue, na

minha lama, eu faço muito em casa, eu faço muito tapete, eu gosto de fazer, tô

Centro de

convivência

Aprimorar e desenvolver talentos

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sempre em atividade, sempre comprando revistas, sempre me reciclando. Faço

muita coisa”.

Categoria 2. Grupo de convivência como fonte de juventude

Figura 9. Fonte: Elaboração Própria

Em uma de suas pesquisas, Borini e Cintra (2002) com objetivo de identificar

as expectativas, motivos e significados da participação no grupo, revelaram que os

idosos indicam que nestes espaços há oportunidade de reaver o tempo perdido,

melhorar o sentimento de saúde e felicidade e poder substituir os medicamentos

pelas atividades de lazer.

Camarano (2003), visando mostrar a heterogeneidade da experiência do

envelhecimento feminino no Brasil, realizou estudo longitudinal, no período de 1990

a 2000. Avaliou quatro dimensões de vida: saúde, renda, participação na atividade

econômica e arranjos familiares. Reforça a idéia de que as mulheres pesquisadas

estão no seu último estágio da vida, o qual é associado com a retirada da atividade

econômica, com taxas crescentes de morbidade, principalmente por doenças

crônicas, de mudanças na aparência física, além do aparecimento de novos papéis

sociais, como o de serem avós ou chefes de família, em decorrência da viuvez.

Ao referir grupo de convivência como fonte de juventude, as idosas

expressam ser nesta etapa da vida que estão encontrando oportunidades para

realizar atividades, muitas vezes, associadas ao jovem, como capacidade de

aprender, interesse pelo novo, desenvolver habilidades.

Centro de

convivência

Aprimorar e desenvolver talentos Fonte de

juventude

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“...O grupo de convivência me faz eu ser mais nova, mais jovem. Porque no

grupo a gente ta aprendendo muitas coisas como se seje jovem”.

“...Porque agora mesmo na minha idade que eu tenho é que eu tenho assim

mais liberdade né de viver, fazendo as coisas, aprendendo... e o que eu aprender

aqui eu faço para outras pessoas e eu ensino pra outras pessoas. Que é para uma

aprender com as outras”.

Ainda em sua pesquisa, Camarano (2003) refere que a maior parte das

idosas de hoje passou a vida adulta desempenhando papéis tradicionais femininos,

e que chama a atenção para a importância da contribuição da renda da idosa no

orçamento familiar visto que representa 46,4%, sendo, em muitos casos, o beneficio

social a única fonte de renda das famílias que, como já vimos, não são famílias

compostas apenas por idosos.

Dedicação a atividades novas e tempo livre, trazendo o sentimento de

juventude nos remete ao questionamento de que, se são idosas que nunca

desempenharam uma função ocupacional extradoméstica, talvez encontraram

exatamente nesta última fase da vida, como citou Camarano (2003), a chance de

voltar no tempo para realizar aquilo que poderiam ter realizado quando jovens e não

o fizeram. Consideramos, porém, como um grande ganho, o fato de que nesta fase

da vida estão na busca de novos papéis sociais, visto que, há não muito tempo

atrás, o envelhecimento trazia para as mulheres brasileiras pobreza e isolamento da

esfera social.

Houve grande mudança nos últimos vinte anos, ou seja, ao se chegar ao final

da vida ativa e à viuvez, não necessariamente haverá o isolamento social. Para a

maioria de pessoas pode significar uma nova fase no ciclo de vida, a qual Laslet

(1996) denomina de a "fase do preenchimento" (CAMARANO, 2003).

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Categoria 3. Grupo de convivência como compromisso social

Figura 10. Fonte: Elaboração Própria

O compromisso social, antes representado pela capacidade de trabalhar e

produzir, estava ausente, pois como a maioria estava aposentada ou não tinha

condições de executar as atividades do lar mais pesadas, não havia mais nenhuma

atividade que lhes desse a sensação de estar envolvidos. O fato de o grupo de

convivência ter um horário fixo e dias estabelecidos de forma sistemática despertava

neles o compromisso social, reavendo valores importantes de participação, inclusão

e contribuição com o seu próprio trabalho.

Quando o indivíduo começa a se perceber como ser único e singular, menos

ele se isola, se exclui, ou se afasta do mundo, facilitando a integração e a

identificação de cada um dos participantes com o grupo de convivência.

Um grupo só se torna grupo – isto é, mais do que uma soma de indivíduos –

quando desenvolve determinado tipo de relacionamento, um vínculo, uma força que

dá a ele um sentido de pertença; uma força que regula a conduta dos membros e faz

com que se comportem de maneira peculiar, distinta da interação individual e da de

outro grupo qualquer. É por meio das experiências, das interações e das

oportunidades de vivências que surgirão mudanças no comportamento, tanto do

indivíduo quanto dos elementos dos sistemas. É no grupo que o indivíduo reconhece

valores e normas, tanto seus como dos outros (JOÃO et. al., 2005).

Centro de

convivência

Aprimorar e desenvolver talentos

Fonte de juventude

Compromisso social

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“... só basta eu dizer que eu tenho a responsabilidade toda hora, todo dia de ir

praquele canto. É uma boa pra mim. Eu me sinto bem quando saio de casa e venho

para cá”.

Assim, podemos perceber por meio dos núcleos e categorias expostas que o

grupo de convivência colabora com várias possibilidades na vida dos idosos ao dar

suporte à saúde, suporte material, afastamento de problemas cotidianos e materiais,

vinculação social, esvaziamento emocional, aprendizado manual, suporte à saúde

emocional, aprimorar e desenvolver talentos, estimular a fonte da juventude e o

compromisso social, favorecendo a promoção da saúde.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em sua maioria, os idosos que participaram dessa pesquisa se achavam

excluídos pela sociedade e família, buscando no grupo de convivência um suporte

para suas necessidades, como; à saúde e material, meio de afastamento dos

problemas cotidianos e materiais, vinculação social e enfrentamento da tristeza,

aprendizado manual, suporte à saúde emocional, aprimoramento e desenvolvimento

de talentos, resgate da fonte da juventude e também estabelecer compromisso

social. Inicialmente, a busca pelo grupo de convivência acompanhava a idéia de

usufruir das atividades em benefício próprio, e não podiam imaginar que suas

participações pudessem contribuir e interferir positivamente no grupo como um todo

e também uns para com os outros.

No grupo de convivência foi encontrado o sentimento de pertença e de

vinculação social. Os laços afetivos desenvolvidos uns com os outros, as trocas de

sentimentos, experiências e o fato de aprender algo reanimam em cada um sua

importância como ser humano, representando, assim, um ativador de mudanças,

contribuindo para a quebra de tabus com a conseqüente valorização no

partilhamento com o outro.

Apesar de ser um grupo homogêneo em relação a aspectos pessoais e sócio-

demográficos, quando questionamos sobre o significado do grupo de convivência

para esse grupo de idosos, entendemos que surge uma diversidade de significados

decorrentes das singulares condições; o tempo, os ambientes, as histórias e as

linguagens utilizadas por parte de cada um, ou seja, a cultura, justificando, assim,

algumas formas de argumentação, como práticas discursivas, não estabelecidas por

meio de fatos empíricos.

A proposta de realizar um grupo com atividades diversificadas e que

pudessem ser escolhidas pelo próprio grupo de participantes foi fundamental para

que pudéssemos compreender o significado do grupo de convivência para aquele

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grupo, ao considerarmos as identificações e aversões de cada um. Somente em

ambiente com propostas diversas e com significação singular para os idosos é que

podemos perceber as necessidades e mudanças no modo de agir e pensar,

individualmente e em grupo.

No grupo, como foi observado no resultado final desta pesquisa, muitos

idosos, nos diálogos, na aproximação uns com os outros por meio do

compartilhamento das dificuldades sociais comuns, nas possibilidades de superação

de limites intelectuais e/ou econômicos, no aprendizado de algo novo e do ensino

compartilhado, colaboraram para a co-produção, co-responsabilidade do indivíduo

e/ou desses sujeitos coletivos sobre o processo saúde e doença, como bem teorizou

Campos (2006).

No intuito de podermos contribuir com a promoção da saúde dos atuais e

futuros idosos diante das novas demandas demográficas dessa clientela, faz-se

necessário que o tema centros de convivência mereça pauta dentro dos planos de

políticas públicas do Governo, reconhecendo-os como espaços sociais favoráveis ao

“empoderamento”, quando facilitados por profissionais em treinamento contínuo

voltados para novos enfoques que respeitem as diferenças sem discriminação,

podendo oferecer serviços compatíveis com as necessidades dos idosos envolvidos.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A:

ROTEIRO DE ENTREVISTA

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:

1. NOME:

2. ENDEREÇO:

3. IDADE:

4. ESTADO CIVIL:

5. ESCOLARIDADE:

6. PROFISSÃO:

7. RELIGIÃO:

8. RENDA FAMILIAR:

9. Nº DE PESSOAS/DOMICÍLIO:

ENTREVISTA

1. COMO VOCÊ PERCEBE SUA SAÚDE ATUALMENTE?

2. POR QUE VOCÊ PROCUROU UM GRUPO DE CONVIVÊNCIA?

3. O QUE BUSCAVA ENCONTRAR NO GRUPO DE CONVIVÊNCIA?

4. VOCÊ JÁ CONVIDOU ALGUÉM PARA PARTICIPAR DO GRUPO?

5. VOCÊ JÁ APRENDEU ALGUMA HABILIDADE ARTESAL OU MANUAL NO

GRUPO DE CONVIVÊNCIA?

6. ATUALMENTE, O QUE CAUSA PREOCUPAÇÕES NA VIDA?

7. O QUE MUDOU EM SUA VIDA PELO FATO DE PARTICIPAR DO GRUPO

DE CONVIVÊNCIA?

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ANEXOS

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ANEXO I

ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIMENTO

Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, EU,

________________________________ portador (a) da célula

identidade_____________,endereço_________________________________ e

telefone_______________ , após leitura minuciosa da carta de informação ao

paciente, acredito ter sido suficientemente informado a respeito do que li ou do que

foi lido, descrevendo o estudo “O Significado do grupo de convivência para

idosos”. Ficaram claros para mim quais são os objetivos do estudo, a forma de

coleta de informações, os riscos e os benefícios, as garantias de confidencialidade e

de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação ou de

meu representante legal é isenta de despesas.

Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o

meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades, prejuízo ou perda de

qualquer benefício. E, por estarem de acordo, assinam o presente termo.

_________________________________________________

Assinatura do paciente ou representante legal

_________________________________________________

Assinatura da pesquisadora

_________________________________________________

Assinatura da pesquisadora orientadora

Fortaleza, ____ de ________________ de 2007

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ANEXO II - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

A pesquisa “O Significado do grupo de convivência para idosos” tem

como objetivo geral “Conhecer o significado do grupo de convivência para idosos”. A

pesquisa não oferece riscos de qualquer espécie, pois o paciente somente

consentirá a realização de questionário de informações sobre os fatores

relacionados à sua saúde e ao modo de vida. Os benefícios deste estudo retornarão

de forma indireta, na medida em que se aprimora conhecimento científico a respeito

dos principais problemas relacionados ao envelhecimento de forma que os

profissionais da saúde possam melhor conhecer a problemática e conseqüências da

mesma na qualidade de vida da pessoa idosa.

A coleta de dados será realizada através de entrevista semi-estruturada

composta por questões fechadas, dicotômicas, de múltiplas escolhas e abertas.

Este levantamento será realizado pela pesquisadora, não havendo despesas por

parte dos pesquisados.

Dentre as normas previstas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de

Saúde/Ministério da Saúde, destacamos o comprimento da garantia de o

pesquisado:

1. ter contato, em qualquer etapa do estudo, com os profissionais

responsáveis pela pesquisa, para esclarecimento de qualquer dúvida. A Orientadora

desta pesquisa é a Profa. Maria Vieira de Lima Saintrain.

Telefone: (0xx85) 3477 3200

Endereço: Universidade de Fortaleza (UNIFOR) – Mestrado de Saúde

Coletiva. Av. Washington Soares, 1321, bairro Edson Queiroz, Fortaleza - CE.

A pesquisadora é Emanuela Bezerra Torres Mattos, aluna do Mestrado de

Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza.

Telefone: (0xx85) 34773280

Endereço: Universidade de Fortaleza (UNIFOR) – Mestrado de Saúde Coletiva, Av.

Washington Soares, 1321, bairro Edson Queiroz, Fortaleza - CE

2. receber esclarecimento a qualquer dúvida sobre a pesquisa e de como será

sua participação;

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3. retirar seu consentimento a todo o momento da pesquisa, sem que isso

ocorra em penalidade de qualquer espécie;

4. receber garantias de que não haverá divulgação de seu nome ou de

qualquer outra informação que ponha em risco sua privacidade e anonimato;

5. acessar as informações sobre os resultados do estudo, e,

6. que a pesquisadora utilizará as informações somente para esta pesquisa.

Assumimos o compromisso de cumprir os termos da Resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde.

__________________________________________________

Maria Vieira de Lima Saintrain – Orientadora

___________________________________________________

Emanuela Bezerra Torres Mattos- Pesquisadora

Fortaleza, ____ de ________________ de 2007

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ANEXO III - TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE FIEL DEPOSITÁRIO

(OU responsável)

Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, EU, Eduardo

Lima de Carvalho Rocha, portador da célula de identidade profissional nº. 6305D,

CREA-CE, Presidente da Associação Viva Vida, sito a Rua Barra Nova, 1000,

Fortaleza – Ceará, após leitura do protocolo de pesquisa a respeito do estudo “O

Significado do grupo de convivência para idosos”. Ficaram claros para mim

quais são os objetivos do estudo, a forma de coleta de informações, os riscos e os

benefícios, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Ficou claro também que a participação da Instituição é isenta de informações que

possam comprometer os pacientes. Venho na melhor forma de direito autorizar a

pesquisadora ter acesso aos idosos deste Projeto, que se encontram sob minha

inteira responsabilidade, sendo permitida a colheita de informações referentes ao

estudo.

Fica claro que eu como fiel depositário posso retirar o meu consentimento a

qualquer momento, sem penalidades, prejuízo ou perda de qualquer benefício. E,

por estarem de acordo, assinam o presente termo.

_________________________________________________

Assinatura do fiel depositário

_________________________________________________

Assinatura da orientadora

_________________________________________________

Assinatura da pesquisadora

Fortaleza, ____ de ________________ de 2007

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ANEXO IV – COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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ARTIGO

O Significado do Grupo de Convivência para idosos The meaning of coexistence groups for aged people

Emanuela Bezerra Torres Mattos1

Maria Vieira de Lima Saintrain2

Eliane Corrêa Chaves3

RESUMO

O envelhecimento da população mundial é fenômeno de impacto no início deste século, aumentando a demanda de serviços voltados à população idosa. A pesquisa teve como objetivo conhecer o significado do grupo de convivência para idosos. Para analisar significados no campo da linguagem, optou-se pela pesquisa qualitativa com suporte na Hermenêutica. Participaram desse estudo 26 idosos com idade média de 68 anos, freqüentadores do Grupo de Convivência da Associação Viva Vida, em Fortaleza-CE. Dentre os participantes, 24 possuíam renda familiar até três salários mínimos, 18 tinham até cinco anos de escolaridade, 15 residiam em domicílios multigeracionais, com média de cinco pessoas por domicílio. Observações, registros e entrevista constituíram instrumentos da coleta de dados. Na perspectiva da Hermenêutica, as entrevistas foram lidas separadamente, tendo sido anotados indicativos dos idosos sobre o grupo de convivência, neles buscando idéias significantes e posteriormente, as categorias de análises. As falas foram agrupadas em núcleos de interpretação, de acordo com a motivação dos idosos ao procurar o grupo de convivência, expectativa e avaliação quanto às mudanças percebidas nesta participação. A motivação foi justificada pelo suporte à saúde e bens materiais, afastamento de problemas cotidianos e materiais, bem como vinculação social. Quanto à expectativa, atividades manuais e suporte à saúde emocional foram relatados. Perceberam-se mudanças, iniciando-se pelo desenvolvimento de talentos, retorno à juventude e compromissos sociais. Concluiu-se que o potencial de promover saúde nos grupos de convivência, discutido e evidenciado pelos idosos, enfatiza que o tema merece pauta nos planos de políticas públicas do Governo.

Palavras-chave: Idoso, Grupo de Convivência, Hermenêutica.

1 Mestranda do Programa de pós Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza – UNIFOR 2 Docente do Centro de Ciências da Saúde. Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza - UNIFOR. 3 Docente da Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo.

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ABSTRACT

World population ageing is an impactful phenomenon since the beginning of this century, increasing the demand for services due to the elderly population. Demands arise as common alterations and changes in old age, highlighted when we focus on needy, excluded and marginalized old people. This research aimed at getting acquainted with the meaning of the coexistence group for aged people. To analyze meanings in the language field, the qualitative research was based on Hermeneutics. Subjects were 26 aged people who attended to the service from February of 2006 to December of 2007. Observing, reports and interviews were tools for data collection. Within Hermeneutics perspective, interviews were separately read and old people`s indices on the coexistence group were noted down, searching significant ideas that were grouped into categories. Since Hermeneutics does not present rules for text interpreting, it does not create a specific method, the study uses categories grouping. The study gathered speeches within interpretation cores, according to subjects` motivation for searching the coexistence group, their expectance, and their evaluation in the concerning to changes they observe with their engagement in the group. They justified motivation by the support to health and material goods, distance of daily and material problems, and social engagement. In the concerning to their expectance, hand activities and emotional health support were reported. They observed changes from talents development, youth revival, and social commitment. The study concludes that the potential for health promoting in coexistence groups, that aged people discussed and evidenced, emphasizes that the topic needs discussion in government public policies. key words: elderly; coexistence group; Hermeneutics.

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INTRODUÇÃO

Pelo fato de o envelhecimento da população mundial ser um dos fenômenos

de maior impacto no início deste século, em razão do aumento da expectativa de

vida ao nascer, em decorrência dos avanços tecnológicos e científicos, bem como

da redução das taxas de fecundidade e mortalidade, tanto em países centrais

quanto em periféricos, a demanda por serviços voltados a esta clientela aumentou

gradativamente.

As projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o

período de 1950 a 2025 apontam que o grupo de idosos no Brasil deve ter

aumentado em 15 vezes, enquanto a população total em cinco. Assim, o País

ocupará o sexto lugar em contingente de idosos, alcançando, em 2025, cerca de 32

milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade (BRASIL, 1999).

Importantes mudanças começaram a surgir na década de 80, com a

realização de Conferências Internacionais de Promoção da Saúde, sendo que a

primeira, realizada no Canadá, em 1986, definiu a promoção de saúde como

processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da qualidade de

vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo, para que

fosse atingido um estado de completo bem-estar físico, mental e social dos

indivíduos e grupos, quando estes identificam suas aspirações, satisfazem suas

necessidades e modificam favoravelmente o meio ambiente (BRASIL-MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 1996).

Os grupos de convivência para idosos surgem como espaços coletivos e

ambientes favoráveis, nos quais idosos e profissionais de áreas diversas de atuação

interagem por meio de atividades associativas, produtivas e promocionais,

contribuindo para a autonomia, envelhecimento ativo e saudável, prevenção do

isolamento social, socialização e às vezes, favorecendo também, o aumento da

renda própria (DIOGO, 2002).

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Estes grupos de convivência receberam forte influência dos grupos sociais.

Assim, é impossível conceber uma interpretação de ser humano sem levar em conta

seu contexto sua influência na constituição de variados papéis assumidos nos

diferentes grupos por que se passa.

De acordo com Cabral (1997), Oliveira (2004) as primeiras experiências de

grupos de convivência para idosos de que se têm notícias aconteceram em países

do Continente Europeu, sendo no Brasil, o SESC, em São Paulo, o pioneiro na

implantação de grupos, os quais se expandiram rapidamente nos anos seguintes;

1970/ 80/ 90.

Zimerman (2000) assinala que o indivíduo é, por natureza, um ser gregário,

pois desde o nascimento está em constante interação com outras pessoas,

chegando a fazer parte de grupos diferentes durante seu desenvolvimento: família,

amigos, escola, trabalho. É no grupo que o indivíduo reconhece valores e normas,

tanto os seus como os do outro, embora diferentes dos seus ou mesmo opostos.

Incentivar a participação de idosos em grupos de convivência que lhe dão prazer e

satisfação faz com que eles possam suprir as possíveis perdas de outros grupos

nessa fase da vida.

Diante do grande número de grupos de convivência, surgiu o questionamento

sobre qual o significado desses grupos para idosos. O que eles buscavam naqueles

espaços sociais, e como deveria ser o grupo de convivência ideal?

Conhecer o perfil do grupo com que se pretende trabalhar, seus interesses,

necessidades e limitações cognitivas e sociais, deve fazer parte de todos os

programas direcionados para essa clientela. Não há um padrão pré-estabelecido de

grupo de convivência, mas uma adequação destes a partir de uma análise anterior a

respeito do público alvo. Isto porque os grupos de convivência devem oferecer

atividades que vão ao encontro das necessidades específicas de cada idoso, para

que possam capacitá-los a lidar com diversos aspectos relacionados à saúde e ao

processo de envelhecimento, ensejando mudanças importantes, contribuindo para

promoção da saúde, na medida em que o sujeito pode se “empoderar”.

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Nesses espaços sociais, a importância de estar com o outro, as trocas de

experiências e o partilhamento das dificuldades fazem os idosos sentirem-se mais

produtivos, pelo simples fato de serem aceitos, de conversarem sobre problemas

semelhantes, de desenvolverem capacidades semelhantes, a partir da coordenação

do facilitador, ensejando crescimento no aspecto individual e grupal ao

“empoderarmos” aquelas pessoas para agirem sobre o mundo, sobre a sociedade e

pessoas que vivem ao seu redor, com o objetivo de torná-los sujeitos reflexivos e

operativos.

Essa possibilidade de recomposição do modo de funcionamento dos sujeitos

coletivos nos espaços microssociais é um dos caminhos mais seguros para garantir

mudanças macrossociais estáveis (CAMPOS, 2006).

O terapeuta ocupacional como um dos facilitadores de programas voltados

para a terceira idade, nesses grupos, proporcionou aos idosos detentores de

extensa bagagem cultural, de maneira interativa, a elaboração de uma identidade

coletiva, na medida em que o ambiente proporciona a criação de formas diversas de

ser e fazer aquilo que se sabe ou que se aprende.

Nesse contexto, a terapia ocupacional passa a ser parceira da promoção da

saúde em uma prática voltada para opções importantes na eliminação das

diferenças evitáveis, injustas e desnecessárias que tiram o direito de as pessoas

idosas desfrutarem uma qualidade de vida satisfatória.

Com base nos pressupostos teóricos sobre o significado da linguagem, o qual

é sustentado por um sistema de valores constituídos por parte de cada ser humano,

em determinado ambiente, este estudo tem por objetivo conhecer o significado que o

grupo de convivência para idosos.

Espera-se com o estudo obter dados que possam combater programas sem

finalidades voltadas ao crescimento e valorização das competências do idoso. É

oportuno contribuir para elaboração e direcionamento de programas e políticas

públicas diferenciadas e específicas para grupo de idosos, dependendo de todo um

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contexto social, econômico, intelectual e cultural, dentre outros, subsidiando a

elaboração e planejamento de projetos semelhantes, possibilitando o conhecimento

de como seus programas interferem na Promoção de Saúde de sua clientela, e

oferecer suporte aos profissionais, para que possam conhecer as necessidades e

satisfações de seu público.

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METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada na Associação Viva Vida, organização não

governamental, beneficente, sem fins lucrativos, no bairro Tancredo Neves, em

Fortaleza-CE, orientada por princípios éticos e humanitários. Esta sociedade foi

fundada em 13 de novembro de 2003 por iniciativa de um grupo de empresários,

profissionais liberais e personalidades da sociedade civil cearense, com a finalidade

de promover o bem-estar dos integrantes das comunidades carentes. A escolha do

local como campo para a realização da pesquisa baseou-se no fato de a primeira

autora dar início ao desenvolvimento de um grupo de convivência.

O grupo iniciou no dia 12 de fevereiro de 2006 com horário de funcionamento

das oito às onze e trinta da manhã, todas as segundas, quartas e sextas-feiras. A

ficha de inscrição constava de dados pessoais e informações sobre o quadro de

saúde geral dos idosos. No decorrer do trabalho com o grupo, utilizou-se o diário de

campo para anotação sobre as atividades realizadas, freqüência e número de

participantes e registros de falas. Em dezembro de 2007, após a aprovação do

projeto pelo Comitê de Ética da Universidade de Fortaleza, os sujeitos foram

esclarecidos quanto aos objetivos, finalidades e aos itens do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido a ser assinado, conforme preconizado na

Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), que versa

sobre os aspectos éticos da pesquisa com seres humanos. Após 22 meses de

encontros, os idosos responderam uma entrevista que constava de dois momentos,

um dos quais se referiu a dados pessoais e sócio-demográficos para caracterização

específica do perfil desse grupo, com idade, estado civil, escolaridade, profissão,

religião, renda familiar e número de pessoas por domicílio. O segundo constituiu-se

de questões abertas, no intuito de compreender qual o significado do grupo de

convivência para estes idosos.

Participaram como sujeitos desse estudo 26 idosos, sendo 25 do sexo

feminino, com faixa etária entre 62 e 87 anos, que freqüentavam o Grupo de

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Convivência da Associação Viva Vida desde o início, pois acompanharam o

cronograma de atividades propostos e contribuíram na escolha daquelas que mais

lhes interessavam. O critério de inclusão era fazer parte do grupo desde o início e

aceitar participar da pesquisa depois do convite.

Na compreensão do caminho metodológico, foi utilizada a abordagem

qualitativa baseada na Hermenêutica para responder a questão norteadora sobre

qual o significado do grupo de convivência para idosos. A transcrição das

entrevistas e a leitura atenta do todo foram feitas, para possibilitar a familiarização

com os discursos. Depois, as entrevistas foram lidas separadamente, tendo sido

anotado o que os pesquisados indicavam como significado do grupo de convivência,

considerando a perspectiva da Hermenêutica, para buscar nestas as idéias

significantes que foram agrupadas por categorias. Com base nessas categorias, a

análise de dados foi realizada, sendo apresentada com suas discussões e

exemplificada com as falas dos próprios idosos.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram do estudo 26 idosos, sendo apenas um do sexo masculino, com

idade variando de 62 a 87, média de 68 anos. O único homem tinha 65 anos.

Pesquisa realizada por Camarano (2004) informa que envelhecimento é também

uma questão de gênero, pois, ao se considerar a população idosa como um todo,

observa-se que 55% dela são formados por mulheres, reforçando a idéia de

feminilização da velhice.

Na suposição de que os seres humanos são geradores de significados e que

seu mundo é constituído no intercâmbio de pessoas, num determinado ambiente,

por meio da linguagem, compreende-se como o discurso decorrente das trocas

dialógicas surge no espaço comum entre as pessoas (GRANDESSO, 2000).

De acordo com a Teoria da Linguagem, de Vygotsky (2005), a relação do

sujeito com a realidade se faz sempre mediada pelo outro, por meio da linguagem. A

linguagem é constituidora das funções mentais superiores, sendo que o

conhecimento é adquirido nas relações entre as pessoas, por intermédio da

linguagem e da interação social. Pode-se considerar a linguagem como um

instrumento complexo que viabiliza a comunicação e a vida em sociedade. Sem ela,

o ser humano não é social nem cultural.

Aflora, então, à necessidade de se conhecer a rede de significados que o

grupo de convivência traz ao grupo de idosos, visto que este também faz parte um

mundo significativo, capaz de organizar não só a experiência presente mas também

a passada e as possibilidades futuras, com esteio na cultura e sociedade em que

viveram e vivem. Assim, a caracterização do grupo foi feita baseada na análise das

falas de cada um dos participantes, no intuito de conhecer o significado do grupo de

convivência para os idosos. As informações foram obtidas em uma entrevista, como

consta na trajetória metodológica, e serão aqui descritas com uma caracterização

ampla do grupo.

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Após essa descrição, tendo como diretriz a questão norteadora Qual o

significado do grupo de convivência para idosos serão apresentadas às

categorias formadas nos núcleos de interpretação aprendidos na fala dos idosos

sujeitos deste trabalho.

Os idosos que dele participavam residiam no bairro e, em sua maioria,

conviviam diariamente com as dificuldades de acesso à saúde, alto índice de

marginalização, miséria, pobreza e com poucas condições econômicas (24 idosos

possuíam renda familiar até 3 salários mínimos), de moradia e educação. Os

participantes do grupo de idosos eram pessoas simples, com baixo nível de

escolaridade (18 tinham menos ou até cinco anos de escolaridade), apresentando

histórias de vida com muita luta e sofrimento, na busca de uma vida um pouco

melhor. Não encontravam na comunidade nem na família nenhuma fonte de

realização pessoal ou mesmo algum programa que lhes proporcionasse o

desenvolvimento de suas capacidades e valorizasse suas histórias, suas

experiências.

Grande parte (15) era de pessoas que residiam em domicílios

multigeracionais, convivendo em média cinco pessoas por domicílio, nos quais a

aposentadoria do próprio idoso era utilizada para sustento de toda a família. Como

salienta Lloyd-Sherlock (2001), aspectos internos aos arranjos familiares são

complexos e difíceis de analisar. Não se deve assumir a idéia de que um número

maior de pessoas morando juntas se traduza, necessariamente, em maior suporte

aos idosos, principalmente em regiões carentes (CAMARANO, 2004).

O cuidado e a valorização ao idoso não foram observados nas falas dos

próprios idosos, trazendo uma idéia paradoxal. Se eles relataram ser responsável

pelos cuidados do lar, pela manutenção econômica dos mais jovens que não

exerciam atividades produtivas, e também prestavam suporte emocional ao

expressarem suas preocupações com filhos e netos e não consigo mesmos, como

poderiam perceber-se não valorizados, se em nossa sociedade aqueles que mantêm

toda essa estrutura são valorizados? Talvez um estudo mais detalhado se fizesse

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necessário para investigar se estes idosos eram valorizados, mas não reconheciam

ou realmente eram explorados. Com a caracterização deste grupo, pôde-se supor

que características encontradas justificam uma habilidade voltada para o mundo

concreto, demonstrando um afastamento do mundo simbólico; ou seja, o ato de

fazer algo concreto, em vez de atividades mais abstratas, podia trazer a eles o

sentimento de valorização por parte da família e da sociedade.

Nas falas coletadas e analisadas segundo a Hermenêutica foram formados

três núcleos de interpretação, cada um as respectivas categorias.

NÚCLEO 1- Motivação ao procurar o grupo de convivência

Este núcleo engloba cinco categorias. A primeira é relacionada à saúde,

sendo esta uma suposição inicial de que o motivo pelo quais os idosos procuraram o

grupo era no intuito de que lá eles teriam acesso a médicos e medicações, bem

como, a profissionais e serviços de saúde, visto que esses eram escassos na

comunidade. Esse suporte à saúde, no entanto, parece ser entendido, por estes

idosos, não apenas como o atendimento médico freqüente ou indicação e/ou

utilização de medicamentos, mas como programas de saúde voltados para o corpo e

a mente. Embora, algumas vezes, eles não se refiram especificamente à expressão

saúde, é o que eles querem expor indiretamente em suas falas:

“... para mim ter mais um pouco. Eu achava que eu me envolvendo mais com

essas pessoas, eu ia ter mais uns anos de vida. Quando eu não venho eu fico

triste... ”.

Nesta categoria, é possível compreender a diversidade de significados que

surgem na dimensão da saúde, podendo esta ser percebida como a capacidade de

realizar alguma atividade, seja ela produtiva ou não, que os torne independentes,

mesmo apesar de limitações físicas, sociais, econômicas e emocionais. Apesar de

ter como objetivo principal, no entanto, o suporte à saúde, o grupo favorecia um

processo de mudanças, nos quais os idosos percebiam outras necessidades, ou

seja, reconstruíam significados.

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A segunda categoria relaciona-se com a busca de bens materiais. De acordo

com estudo realizado pelo IBGE (2000) sobre o perfil dos idosos responsáveis pelos

domicílios, o rendimento médio do idoso nessa circunstância na região Nordeste é

de R$ 386,00, retratando a difícil realidade encontrada na população idosa desta

pesquisa.

Muitos idosos inscreveram-se para participar deste grupo, visto que são

comuns programas com objetivos assistencialistas (doações) voltados para este

público, mas não deram continuidade, talvez por verem frustrada essa perspectiva.

Dentre os entrevistados, uma idosa confirmou essa expectativa. Demonstra em sua

fala a busca por um suporte material de forma passiva, quando referiu:

“... procurei atrás de uma ajuda, porque eu necessito, eu sou pobre. Tenho 5

pessoas na minha casa que vive só de um salário”.

Outra relatou buscar suporte de forma ativa, na medida em que tem o

interesse de aprender no grupo alguma habilidade que lhe trouxesse a oportunidade

de obter uma renda extra.

“... assim, minha casa é pequena, e eu gostaria de aprender mais, de

aprender mais coisa, de ter assim, um meio de como eu possa mais me manter,

certo”.

Nesta fala, encontrou-se uma senhora com 62 anos demonstrando-se com

vigor físico e mental, acreditando ser capaz de gerar mudanças com a apropriação

de novos aprendizados, carregando consigo uma concepção positiva acerca do

envelhecimento, ao desmistificar a velhice como dependência, incapacidade e

doença.

A terceira categoria se referia à possibilidade de afastamento de problemas

cotidianos e materiais. Muitos vêem no grupo a possibilidade de esquecer os

problemas diários. Por mais que eles não especificassem, em seus discursos, quais

os reais problemas, o vínculo criado e a necessidade de desabafar a cada encontro

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sobre suas vidas com a mesma, tornaram possível se expor o que eles estão

falando entre linhas. Querem expressar sobre a falta de dinheiro para sustentar toda

a família, a preocupação com filhos e netos envolvidos com álcool, drogas, roubos,

prostituição, o desemprego de membros em idade economicamente ativa. Seria o

grupo de convivência o local onde eles se sentiam protegidos desses problemas que

os afligiam mais que constantemente, o refúgio (grifo nosso).

“... foi muito maravilhoso né, porque às vezes a gente tá dentro de casa só se

preocupando com as lutas, as lutas de casa do dia- a- dia aí a gente fica com a

cabeça muito quente”.

A quarta categoria trouxe o grupo de convivência como possibilidade de

vinculação social (enfrentamento da solidão, superação do isolamento social,

congregação). Isto porque, pelo fato de não exercerem nenhuma atividade

econômica ou social, perderam as possibilidades de vínculos e o sentido de

pertença, visto que, em suas casas, mesmo habitando com outros membros da

família, não eram percebidos por parte das gerações mais novas, como filhos e

netos, valorização e/ou cuidado para com o idoso. No âmbito familiar, não havia o

sentido de pertença, mas de exclusão.

“... eu era muito solitária dentro de casa, não saia para canto nenhum”.

Na análise do caso brasileiro, mudanças expressivas nos arranjos familiares

(separações, coabitação, aumento da proporção de mulheres que nunca se casaram

e/ou que nunca tiveram filhos), queda generalizada da fecundidade, o aumento

também generalizado da participação das mulheres (a tradicional cuidadora dos

segmentos dependentes da família) nas atividades econômicas, dificultam e

dificultarão ainda mais a atuação das famílias como promotoras de apoio à

população idosa. Pode-se esperar que um declínio na co-residência e em outros

apoios familiares resulte em um aumento da demanda por determinadas políticas

sociais (CAMARANO, 2004). Tais políticas sociais devem incentivar a criação de

centros de convivência e/ou grupos de apoio aos idosos, visto que estes podem

suprir a ausência ou reduzido apoio que idosos encontram em suas famílias.

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Estudo realizado em Campinas, com objetivo de descrever e analisar as

atividades em grupos de idosos em unidades básicas de saúde, concluiu que estes

serviços podem ser facilitados pelas ações em grupos, pois estes privilegiam as

ações educativas, constituindo-se em alternativa para que as pessoas retomem

papéis sociais e/ou atividades outras de ocupação do tempo livre (físicas, de lazer,

culturais ou de cuidado com o corpo e a mente) e o relacionamento interpessoal e

social. Os grupos agregam pessoas com dificuldades semelhantes e possibilitam o

convívio, assumindo grande importância na vida dos idosos que a eles freqüentam,

visto que a solidão é uma queixa comum entre idosos (GARCIA et. al., 2006).

Araújo et. al. (2005) concordam com a idéia de que os idosos buscam

espaços de convivência que permitam a ‘escuta’, uma vez que, na maioria dos

ambientes familiares, não é permitida a sua participação nas decisões. A

representação desses grupos de convivência como espaço de escuta só vem

reforçar a negação da participação de diálogos no seio familiar para com os idosos,

levando-os a viver sentimentos de desvalorização, isolamento, depressão e auto-

imagem negativa.

A quinta categoria bastante expressada foi o enfrentamento da tristeza e

“esvaziamento emocional”. Essa tristeza era manifestada em decorrência da solidão

em que viviam, mesmo residindo com várias pessoas de laços sangüíneos, a

exclusão que sentiam diante da idade, o estar sozinho no mundo, o não ter com

quem conversar e expressar suas angústias e medos, até mesmo porque eles ainda

eram, na maioria dos casos, o suporte emocional que transmitia força aos mais

jovens, sem sequer serem perguntados se estavam se sentindo bem nesta posição.

Isto ensejava uma sobrecarga emocional que chegava a prejudicar outras funções,

como a psíquica e a cognitiva.

Estudo realizado por Araújo et. al. (2005) mostra que os idosos representaram

‘grupo de convivência’ como um espaço no qual elas encontram ‘solidariedade’, de

modo que consideram de fundamental importância a ‘participação’ dos idosos, uma

vez que estes contribuem para desenvolver uma rede psicossocial e afetiva que

possibilita uma prática para melhor enfrentamento da velhice.

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“... eu sofro muito com a solidão. Viver sozinha na minha casa, mas aqui tô

me alegrando muito e me divertindo com a minha professora e a s minhas amigas”.

Teoricamente, o grupo familiar e a comunidade são espaços de proteção

e inclusão social, pois neles é que se estabelecem as relações primárias capazes de

constituir a sustentação para o enfrentamento das dificuldades cotidianas.

Estudos mostram que o rompimento de vínculos sociais altera as defesas

orgânicas das pessoas, deixando-as mais suscetíveis a doenças. Assim, os laços

sociais têm influência no estado de saúde e dispor de uma rede de suporte social,

que proporciona ajuda aos indivíduos que a ela pertencem beneficia a saúde e o

bem-estar de todos (LEITE et. al., 2008).

De acordo com dados do IBGE (2008), o convívio de idosos com filhos e

parentes é destacado como situação saudável e positiva para seu bem-estar, e

assegura que, na região Nordeste, 50% dos idosos vivem com seus filhos na

condição de chefes de família. Nesse estudo, porém, foi observada a grande

dificuldade, por parte dos idosos, de interagir socialmente em seus lares.

A possibilidade atual de convivência simultânea de várias gerações de uma

mesma família faz com que sejam postas lado a lado diferentes visões de mundo e

de valores, favorecendo o surgimento de conflitos vivenciados entre as gerações no

espaço doméstico. Muitas vezes os velhos, por terem reduzida flexibilidade a

mudanças, têm maior dificuldade em se adaptar a essa nova realidade, ou seja,

coabitar o mesmo ambiente com pessoas de gerações distintas (LEITE et. al., 2008).

Além disso, o domicílio multigeracional nas camadas de baixo nível econômico

favorece a falta de privacidade do velho, colaborando positivamente para sua

adesão aos espaços de convivências em que são respeitados em suas

individualidades, interesses e motivação.

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NÚCLEO 2- Expectativa em relação ao grupo de convivência

O interesse em fazer e/ou aprender algo novo neles despertava prazer. O

momento de fazer trazia consigo a paz, a auto-estima, a socialização, o afastamento

de problemas cotidianos, o estabelecimento de vínculos que também associavam à

saúde, uma vez que saíam do grupo mais tranqüilos, calmos e relaxados. Assim,

suas expectativas foram agrupadas em duas categorias, sendo a primeira

relacionada ao aprendizado da atividade manual. Inicialmente, a proposta do grupo

de convivência tinha um cronograma voltado a atividades de memória, manuais e

artesanais, dinâmicas de grupo, condicionamento físico e palestras educativas,

dentre outras. O grupo, porém, começou a expressar interesse maior pelas

atividades manuais, até mesmo pelo nível intelectual, visto que eles não conseguiam

elaborar atividades mais complexas de raciocínio e compreensão. O fazer

manifestou-se como nova possibilidade, novos horizontes, como sentir-se útil,

contrastando, até mesmo, com as expectativas iniciais deles em relação às oficinas

artesanais propostas em que eles não acreditavam ser capazes de aprender ou

fazer algo novo. Isto ensejou um sentimento importante de autovalorização, antes

desconhecido.

“... eu não sabia fazer nada. Não me ocupava em nada. Passava o dia dentro

de casa só deitada. Fazendo só as coisas de casa. Aí aqui, graças a Deus, eu já

aprendi a fazer muita coisa e vou aprender mais ainda”.

Azevedo et. al. (2003) ao pesquisarem sobre o significado de participação

social para um grupo de idosos, obtiveram como número mais expressivo a

convivência com o outro (35,2%), em segundo lugar, a ocupação em atividades

(23,5%) e estar atento ao meio (23,5%), sendo seguido pela procura de aprendizado

(17,6%), colaborar socialmente (11,7%), corroborando nossa pesquisa.

A segunda categoria como suporte à saúde emocional, externalizada por eles,

não dizendo respeito à motivação inicial, mas ao bem-estar e saúde emocional que a

participação no grupo os trazia. O fato de ir ao grupo, encontrar amigos, conversar,

trocar experiências, fazer algo novo, ter perspectivas em relação ao quer fazer

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amanhã, carregava consigo efeito positivo na saúde emocional daquelas pessoas

que, talvez, nunca tiveram oportunidades de fazer escolhas, pois tudo foi imposto a

eles.

“... eu me sinto tão bem de vir pra cá. Chega aquele dia, e eu to com aquela

alegria de sair”.

NÚCLEO 3- Avaliação quanto às mudanças percebidas pela participação

no grupo

Neste núcleo, foram avaliadas as mudanças percebidas pela participação no

grupo sob o olhar dos próprios idosos, quando puderam perceber mudanças

favorecidas pela participação no grupo e como as atividades propostas influenciaram

mudanças na vida desses idosos, na medida em que surgem mudanças positivas ao

trabalho realizado e o resgate social.

A primeira categoria que apareceu foi à possibilidade de aprimorar e

desenvolver talentos, pois a realidade em que viviam não lhes permitiu investir

nenhum tempo nas atividades que lhes davam prazer e despertavam interesse. As

condições sócio-econômicas escassas e o baixo nível de escolaridade direcionaram

a vida para o trabalho forçado e pesado simplesmente como forma de obter uma

fonte de renda que a eles permitisse o básico da vida. Assim, os prazeres que

estavam até então adormecidos começaram a brotar no grupo de convivência.

Estudo realizado sobre a representação social da velhice com idosos que

freqüentavam grupo de convivência assinala que a velhice foi definida como uma

fase do desenvolvimento humano em que há maior liberdade para a realização de

atividades que não foram executadas em outras fases da vida (ARAÚJO et. al.,

2005).

“... e hoje em dia, é que eu posso dizer que eu tenho muita paz porque tudo o

que eu tinha dentro, assim, o talento, botei pra fora agora. Realmente, esse meu

tempo de terceira idade, pra mim é melhor do que o tempo que eu era mais nova”.

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A segunda categoria se refere ao grupo de convivência como fonte de

juventude, com fala que expressa:

“O grupo de convivência me faz eu ser mais nova, mais jovem. Porque no

grupo a gente ta aprendendo muitas coisas como se seje jovem”.

Camarano (2003), com o objetivo de mostrar a heterogeneidade da

experiência do envelhecimento feminino no Brasil, realizou estudo longitudinal, no

período de 1990 a 2000, e avaliou quatro dimensões de vida-saúde, renda,

participação na atividade econômica e arranjos familiares. Reforça a noção de que

as mulheres pesquisadas estão no seu último estágio da vida, o qual é associado

com a retirada da atividade econômica, com taxas crescentes de morbidade,

principalmente por doenças crônicas, de mudanças na aparência física, além do

aparecimento de novos papéis sociais, como o de serem avós ou chefes de família,

em decorrência da viuvez.

Ao referir grupo de convivência como fonte de juventude, as idosas exprimem

ser nesta etapa da vida que estão encontrando oportunidades para realizar

atividades, muitas vezes, associadas ao jovem, como capacidade de aprender,

interesse pelo novo, desenvolver habilidades.

Na terceira categoria, surgiu o grupo de convivência como compromisso

social, visto que este era representado pela capacidade de trabalhar e produzir, e

estava ausente, pois, como a maioria estava aposentada ou não tinha condições de

executar as atividades do lar mais pesadas, não havia mais nenhuma atividade que

a eles desse a sensação de envolvimento. O fato de o grupo de convivência ter um

horário fixo e dias estabelecidos de forma sistemática, despertava neles o

compromisso social, recuperando valores importantes de participação e inclusão

social e contribuição com o seu próprio trabalho.

“... só basta eu dizer que eu tenho a responsabilidade toda hora, todo dia de ir

praquele canto. É uma boa pra mim. Eu me sinto bem quando saio de casa e venho

para cá”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em sua maioria, os idosos que participaram desta pesquisa se achavam

excluídos pela sociedade e pela família, buscando no grupo de convivência um

suporte para as suas necessidades, como suporte saúde e material, meio de

afastamento dos problemas cotidianos e materiais, vinculação social e

enfrentamento da tristeza, aprendizado manual, suporte à saúde emocional,

aprimoramento e desenvolvimento de talentos, recuperação da fonte da juventude e

também estabelecer compromisso social. Inicialmente, a busca pelo grupo de

convivência acompanhava a idéia de usufruir das atividades em benefício próprio.

Não podiam imaginar que suas participações pudessem contribuir e interferir

positivamente no grupo como um todo e também uns para com os outros.

No grupo de convivência foi encontrado o sentimento de pertença e de

vinculação social. Os laços afetivos desenvolvidos uns com os outros, as trocas de

sentimentos, experiências e o aprender algo junto, recobrava em cada um sua

importância como ser humano, representando, assim, um ativador de mudanças,

contribuindo para a quebra de tabus com a conseqüente valorização no

compartilhamento com o outro.

Apesar de ser um grupo homogêneo em relação a aspectos pessoais e sócio-

demográficos, quando se questionou acerca do significado do grupo de convivência

para esse grupo de idosos, entendeu-se que surge uma diversidade de significados

decorrentes das singulares condições; o tempo, os ambientes, as histórias e as

linguagens utilizadas por parte de cada um, ou seja, a cultura, justificando assim

algumas formas de argumentação, como práticas discursivas, não estabelecidas por

meio de fatos empíricos.

A proposta de realizar um grupo com atividades diversificadas e que

pudessem ser escolhidas pelo próprio grupo de participantes foi fundamental para

que se pudesse compreender o significado do grupo de convivência para aquele

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grupo, ao se tomar em consideração as identificações e aversões de cada um.

Somente em ambiente com propostas diversas e com significação singular para os

idosos é que podemos perceber as necessidades e mudanças no modo de agir e

pensar, individualmente e em grupo.

No grupo, como foi observado no resultado final desta pesquisa, muitos

idosos, nos diálogos, na aproximação uns com os outros por meio do

compartilhamento das dificuldades sociais comuns, nas possibilidades de superação

de limites intelectuais e/ou econômicos, no aprendizado de algo novo e do ensino

compartilhado, colaboraram para a co-produção, co-responsabilidade do indivíduo

e/ou desses sujeitos coletivos sobre o processo saúde e doença, como bem teorizou

Campos (2006).

No intuito de se pode contribuir com a promoção da saúde dos atuais e

futuros idosos diante das novas demandas demográficas dessa clientela, faz-se

necessário que o tema centros de convivência mereça pauta dentro dos planos de

políticas públicas do Governo, reconhecendo-os como espaços sociais favoráveis ao

“empoderamento” quando facilitados por profissionais em treinamento contínuo

voltados para novos enfoques que respeitem as diferenças sem discriminação,

podendo oferecer serviços compatíveis com as necessidades dos idosos envolvidos.

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