o silêncio constitutivo no movimento de sentidos de livros didáticos
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Revista Icarahy Edição n.04 / outubro de 2010
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DO SILÊNCIO QUE NÃO É MUDEZ1: O SILÊNCIO CONSTITUTIVO NO MOVIMENTO DE
SENTIDOS DE LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA
Manuela Colamarco Cruz Pereira
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo principal entender de que modo o
silêncio expressa a concepção ideológica de livros didáticos de história do Ensino
Médio. Para tanto, analisam-se duas obras: uma, acusada de apresentar os fatos
históricos sob a ótica esquerdista; e outra, aparentemente imparcial no que toca à
ideologia. Desse modo, aplicando o conceito de silêncio constitutivo às obras em pauta,
percebe-se que os autores, ao fazer determinadas escolhas lingüísticas, silenciando
outras, evidenciam sua ideologia.
Abstract: This work intends to understand how the silence can express the ideological
conception of didactic history books and how it operates in the discourses of censure
that says what should be said or should not be said in this kind of text. Two works will
be than analyzed: one that is accused to defend Marxist ideas and another one that is
apparently impartial. So, applying the constitutive silence concept to these works, we
realize that the authors, when doing determined linguistics choices, silencing the others,
they show up their ideology.
Palavras-chave: Análise de Discurso; Silêncio; Ideologia; Livro didático.
Key-words: Analysis of Discourse; Silence; Ideology; Didactic book.
0. Introdução
Verifica-se que tem sido tema corrente das matérias jornalísticas recentes a preocupação
com a defesa de uma escola democrática, em que se privilegie a pluralidade de ideias e
se combatam posições ideológicas radicais e fossilizadas. Compartilhando desse mesmo
ideal, um grupo de pais e estudantes dos diversos níveis de ensino criou uma associação
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informal, sem fins lucrativos, que abre espaço para que alunos “vítimas” de doutrinação
ideológica denunciem seus professores e instituição de ensino. A organização
EscolasemPartido.org ganha cada vez mais adeptos no Brasil, proferindo um discurso
em tom fatalista de combate à situação denunciada por seu coordenador no site
www.escolasempartido.org:
A pretexto de transmitir aos alunos uma “visão crítica” da realidade, um exército organizado de militantes travestidos de professores prevalece-se da liberdade de cátedra e da cortina de segredo das salas de aula para impingir-lhes a sua própria visão de mundo, normalmente identificada com a de alguma corrente política e ideológica.
Esse anseio por garantir a absoluta imparcialidade do ensino ganha dimensões
ainda maiores quando os livros didáticos constituem a pauta da discussão. Defende-se,
a todo custo, a criação de obras que sejam isentas de qualquer manifestação ideológica e
atacam-se, com veemência, aquelas que não cumprem tal requisito. Em setembro de
2007, o diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, denunciou, na
coluna “Opinião” do jornal O Globo, o livro didático de história intitulado Nova
História Crítica do Brasil de autoria do professor Mário Schmidt. Segundo o jornalista,
a obra propaga uma ideologia esquerdista e consiste “apenas [em] uma tentativa de
fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os
problemas é o socialismo”.
Desse modo, o objetivo deste trabalho é entender, à luz da Análise de Discurso
(doravante, AD) de que modo o silêncio constitui um elemento basilar na concepção
ideológica de livros didáticos de história. Para tanto, serão utilizados como corpora de
nossa pesquisa (i) o já referido livro Nova História Crítica do Brasil, que, como vimos,
é acusado de analisar os fatos históricos sob a ótica marxista; e (ii) a obra de Nelson
Piletti, História do Brasil, aparentemente imparcial no que toca à ideologia. Pretende-
se, a partir do conceito de silêncio constitutivo proposto por Orlandi (2007), evidenciar
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que não existe discurso sem ideologia. Sendo assim, a procura por livros didáticos não
marcados ideologicamente e a defesa pela formação de professores não comprometidos
com a sua visão de mundo não é pertinente.
O presente artigo será dividido em três partes. Na primeira, apresentaremos de
forma breve os conceitos de sujeito, ideologia, formação discursiva e sentido, sob a
perspectiva da AD, e as noções de silêncio fundador e política do silêncio (silêncio
constitutivo e silêncio local), segundo a teoria de Orlandi (2007) em As formas do
silêncio:no movimento dos sentidos. Na segunda etapa do trabalho, teceremos alguns
comentários a respeito dos autores e de suas respectivas concepções de história.
Finalmente, na terceira seção, analisaremos os capítulos referentes ao período da
ditadura militar nas duas obras consultadas.
1. Fundamentação teórica
1.1. Sujeito, ideologia, formação discursiva e sentido para a AD
O sujeito para a AD, de acordo com Mussalim (2001), é considerado muito mais do que
apenas um indivíduo particular (João, Maria, José...) que produz o seu discurso.
Segundo a autora, temos que entendê-lo a partir do lugar que ocupa ao enunciar. Este
lugar, que consiste na representação de traços de dado lugar social, determina o que o
sujeito pode ou não dizer uma vez inserido nele. Ainda, a formação social de que faz
parte o sujeito é dominada por certa formação ideológica “que preestabelece as
possibilidades de sentido de seu discurso.” (op. cit.: 131).
Nessa perspectiva, a ideologia será entendida como a visão que um determinado
grupo social possui de mundo e a partir da qual ele interpreta a realidade. Configura-se,
assim, como os “óculos” através dos quais o sujeito enxerga os fatos reais conferindo
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sentido a eles. Uma vez que sua compreensão de mundo é regida por condições de
produção específicas que aparecem como universais e eternas, tem-se a impressão de
que ela é única e verdadeira.
O espaço no qual se articulam o discurso do sujeito e sua ideologia denomina-se
Formação Discursiva. Dessa forma, compreende-se que toda formação discursiva será
governada por uma formação ideológica. Resulta daí que, conforme assevera Mussalim
(op. cit.: 125), “como uma FI [formação ideológica] coloca em relação necessariamente
mais de uma força ideológica, uma formação discursiva sempre colocará em jogo mais
de um discurso.”
Tendo em vista os conceitos apresentados acima, infere-se que o sentido, para a
AD, tem como fundamento essencial o caráter dialógico do discurso. O sujeito, inserido
em uma determinada formação discursiva e dotado de certa ideologia, produz o seu
discurso e constrói o significado daquilo que diz. Como vimos, tanto a formação
discursiva desse sujeito quanto a sua formação ideológica são formadas pelas relações
que estabelecem com outras formações discursivas e forças ideológicas,
respectivamente. Desse modo, o discurso do sujeito será obrigatoriamente atravessado
por outros discursos e seu sentido só poderá ser compreendido globalmente se levados
em consideração todos os elementos supracitados.
1.2. Silêncio fundador e política do silêncio (silêncio constitutivo e local)
Orlandi (2007) apresenta uma concepção inovadora acerca do silêncio. Se antes ele era
visto apenas por sua relação com a parte sonora da linguagem e entendido simplesmente
como a ausência de palavras, será agora considerado elemento indispensável à
constituição do discurso e condição essencial para a produção de sentido. Ele é,
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portanto, o princípio de toda significação, é o não dito necessário para o dito. Nas
palavras da autora:
A hipótese de que partimos é que o silêncio é a própria condição da produção de sentido. Assim, ele aparece como o espaço ‘diferencial’ da significação: ‘lugar’ que permite à linguagem significar. (op. cit.: 68)
Nessa perspectiva, o silêncio é fundante. Embora não seja diretamente observável,
não é um vazio. O silêncio atravessa as palavras, limitando seu sentido. O sujeito
necessita do silêncio, mesmo sem saber, uma vez que a ausência deste resulta na não
inteligibilidade de seu discurso. Ao enunciar, ele obrigatoriamente omite, cala certas
formas, estruturas, ou mesmo informações, para garantir a coerência de seu texto.
Assim, tem-se que o silêncio é a “matéria significante por excelência” (op. cit.: 29),
constituindo o “real do discurso.” (id.: ib.) O período a seguir, adaptado do texto de
apresentação do site www.escolasempartido.org, nos permite compreender melhor essa
idéia:
Numa sociedade [ou seja, em um agrupamento de seres que convivem em estado gregário] livre [o mesmo que dotado de poder de escolha], as escolas [estabelecimentos onde se ministra ensino coletivo] deveriam [têm como função] funcionar como centros [instituições essenciais] de produção [geração] e difusão [propagação] do conhecimento [ou seja, da informação, do saber], abertos às mais diversas perspectivas [pontos de vista] de investigação [pesquisa] e capazes [serem aptas a], por isso, de refletir [pensar de forma demorada, aprofundada], com neutralidade [sem tender a uma ou outra opinião] e equilíbrio, os infinitos [inúmeros, não contabilizáveis] matizes [variedade de detalhes, de aspectos] da realidade.
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O trecho citado (e modificado) tornou-se incoerente, uma vez que muitas
informações desnecessárias – por serem óbvias – foram transmitidas ao leitor. O
excesso de informação, ou a escassez de silêncio, prejudicou ainda a perfeita
compreensão do sentido do parágrafo. O leitor, perdido em meio a tantas definições
irrelevantes, não percebe com nitidez o tom alarmante do texto e a denúncia feita,
indiretamente, por seu autor, às escolas brasileiras dos dias de hoje. Constata-se, desse
modo, que o silêncio é de fato fundamental para a significação.
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Além do silêncio fundador, uma outra categoria estabelecida por Orlandi (2007)
para as formas de silêncio é a política do silêncio, definida pelo fato de que, ao dizer
alguma coisa, necessariamente deixamos de dizer outras, apagando, dessa forma, outros
sentidos possíveis, que não nos são desejáveis naquela determinada situação discursiva.
Enquanto o silêncio fundador significa em e por si mesmo, a política do silêncio produz
um recorte entre o que se diz e o que se não diz; sendo assim, sua detecção é mais fácil.
Duas são as formas de existência desse segundo conceito, a saber: (i) o silêncio
constitutivo e (ii) o silêncio local.
O silencio constitutivo, determinado pelo caráter fundador do silêncio, diz respeito
a tudo aquilo que precisou não ser dito para que se pudesse dizer algo; ele é o
responsável pelo apagamento dos sentidos que se quer evitar, seja de forma consciente,
seja de maneira inconsciente, estabelecendo os limites do dizer. À título de ilustração,
observemos novamente o trecho do discurso proferido pelo coordenador da organização
EscolasemPartido.org citado já nas primeiras linhas deste artigo (cf. pg. 2).
Miguel Nagib, em sua fala, define os docentes que serão por ele criticados como:
“um exército organizado de militantes travestidos de professores”. Assim, através das
escolhas vocabulares feitas pelo coordenador para a caracterização desse grupo, optando
pelas formas sublinhadas em detrimento a outras de carga semântica mais branda,
percebemos a ferocidade de sua crítica e, ainda, evidencia-se a “periculosidade” e a
“criminalidade” (segundo as idéias do coordenador) dos docentes que são
comprometidos com a sua própria visão de mundo. O silêncio constitutivo será o foco
de nossa análise no presente artigo. Conforme se evidenciará a partir da pesquisa com
os livros didáticos de história, ele constitui um meio de fundamental importância para a
observação das manifestações ideológicas.
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Finalmente, o silêncio local corresponde interdição do dizer. Seu exemplo
principal é a censura, que, de forma totalmente consciente, estabelece tudo aquilo que,
do dizível, não pode ser dito ou tem de ser dito pelas mais variadas razões. Ela afeta de
maneira imediata a identidade do sujeito, uma vez que a este não é mais permitido
ocupar diferentes posições, mas somente aquela que lhe é destinada. Diz Orlandi:
A censura sempre coloca um ‘outro’ no jogo. Ela sempre se dá na relação do dizer e do não poder dizer, do dizer de ‘um’ e do dizer do ‘outro’. É sempre em relação a um discurso outro – que, na censura, terá a função do limite – que um sujeito será ou não autorizado a dizer. (op. cit.: 105)
2. Corpus
Conforme apontado na introdução deste trabalho, o corpus desta pesquisa consta dos
livros didáticos de história – mais especificamente de seus capítulos referentes à
apresentação da ditadura militar no Brasil – Nova História Crítica do Brasil e História
do Brasil, de autoria de Mário Schmidt e Nelson Piletti, respectivamente. Nosso intuito
nesta seção do artigo é tecer breves comentários a respeito dos autores, destacando,
principalmente, o lugar social que ocupam e sua formação ideológica. Também
exporemos, de forma breve, suas concepções de história. É necessário lembrar que as
informações aqui apresentadas sobre os historiadores foram extraídas de discursos
produzidos, por terceiros, sobre eles. Para a AD, porém, a caracterização dos autores só
se mostra relevante por meio do discurso que esses sujeitos constroem e,
simultaneamente, se constroem. Ao final de nossa análise, entretanto, observaremos que
os discursos produzidos sobre os autores mostram-se coerentes à própria posição que
estes assumem em seu dizer.
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Pouco se conhece, e menos ainda se fala, sobre a figura de Mário Schmidt. A
maior parte das referências feitas ao autor trata de sua obre e não de sua pessoa. Sabe-
se apenas que ele é formado em história e hoje trabalha como professor da matéria nos
ensinos Fundamental e Médio. Seu passado indica que ele apresenta simpatia com a
política de esquerda, uma vez que participou ativamente do movimento estudantil dos
anos 70.
Nelson Piletti, por seu turno, possui uma página própria na internet
(www.nelsonpiletti.hpg.com.br), na qual podem ser encontradas informações sobre sua
pessoa, sua obra e suas pesquisas. O autor de História do Brasil é graduado em
filosofia, jornalismo e pedagogia e possui mestrado e doutorado na área de Educação. É
autor de inúmeros livros didáticos, paradidáticos e acadêmicos e hoje trabalha como
professor universitário. Nos anos 60 militou no movimento estudantil sendo, então,
proibido de lecionar.
A partir do exposto, infere-se que ambos os autores concordam com a ideologia
de esquerda. No momento da escritura de seus livros didáticos, o lugar social que
ocupam também será o mesmo. Os dois se colocam no papel daquele que detém
conhecimento e o transmite àquele que não o possui, o aluno. Semelhante será, ainda, a
concepção de história dos dois professores.
A epígrafe introdutória do livro de Piletti traz a letra de “Canção do Novo
Mundo” de Beto Guedes. Conforme indicam os versos da música: “A luz das pessoas/
Me faz crer/ E eu sinto que vamos juntos [...] Oh! Nem o tempo amigo/ Nem a força
bruta/ Pode um sonho apagar [...] Quem perdeu o trem da história por querer/ Saiu do
juízo sem saber/ Foi mais um covarde a se esconder/ Diante de um novo mundo”,
compreendemos que, para o autor do texto didático, a História possui um papel
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fundamental na construção de um novo mundo, um mundo de sonhos, desvencilhado
das amarras de injustiças sociais.
Mário Schmidt, no capítulo introdutório de seu livro, defende a importância do
estudo da História, por ser ela a “arma” necessária para a transformação do mundo e um
meio de levar o aluno a desenvolver um pensamento crítico sobre a realidade. No
entanto, ao contrário do primeiro autor, Schmidt explicita que para alcançar esse
objetivo, sua obra não pode se enquadrar nos moldes pré-estabelecidos do discurso dos
livros didáticos. Consoante o autor, o estudo da História só será bem-sucedido se estiver
na contramão dos trabalhos desenvolvidos até o momento pelos estudiosos da, segundo
ele, “HT” (História Tradicional). O ataque à “HT”, em seu livro, é feito de maneira
explícita e jocosa, conforme pode ser observado nos trechos abaixo, retirados do
capítulo “Porque estudar história?” de seu livro para o Ensino Médio:
Como é que eu posso compreender alguma coisa decorando datas, nomes de reis, tratados, batalhas e marcas de ceroulas dos príncipes? É verdade, assim não pode!
Esse tipo de história enjoada, na base da ‘decoreba’ de nomes e datas, vamos chamar de História Tradicional (HT). [...] A HT é ensinada para que a gente não faça perguntas ‘inconvenientes’.
3. Análise do corpus
3.1. Nova História Crítica do Brasil: análise da apresentação do Capítulo 21,
referente à ditadura militar
O Capítulo 21 do livro de Mário Schmidt dedicado ao Ensino Médio intitula-se “O
regime militar” [grifo nosso]. O termo sublinhado, em oposição às formas “golpe” ou
“revolução”, que poderiam ocupar o seu lugar, transmite uma aparente imparcialidade
do autor para com o sistema de governo em questão. No entanto, uma análise mais
detalhada do título (cf. figura 1 abaixo) nos permite observar duas inscrições em torno
do sintagma “O regime militar”, uma delas até mesmo sobreposta a ele. Assim, os
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dizeres “Abaixo a ditadura” e “fora a ditadura” evidenciam, já na abertura do capítulo, a
posição contrário do autor em relação ao regime em pauta. Conforme se verá ao longo
de nossa análise, essa postura será mantida e explicitada até o final do texto.
A seguir ao título, os versos de Drummond e de Chico Buarque, transcritos
abaixo, formam a epígrafe de abertura do capítulo. Desse modo, ao tomar como sua a
voz de escritores que, veementemente, combateram regimes totalitários, o autor mais
uma vez declara-se não favorável à ditadura militar.
Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada... é tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina. (In: “Nosso tempo”, Carlos Drummond de Andrade.)
Dormia A nossa pátria mãe tão distraída Sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações (In: “Vai passar”, Chico Buarque de Holanda.)
Observa-se, a seguir, o primeiro trecho a ser analisado nessa seção do trabalho. De
maneira não usual, ele trata do momento de instauração do regime militar em 1964:
Recife, 1964. Beira da praia, brisa da noite, mansões dos usineiros. As garrafas de champanha são abertas. Festa. Pessoas bonitas, perfume, olhares de fêmea, dentes brancos de alegria. As risadas unem o gozo ao deboche. Vida longa para o novo governo! Que nunca mais se falem em greves nem nessa maldita terra para os usineiros! Morte aos inimigos da propriedade.
Um pouco longe dali, noite negra e silêncio. De repente chegam os soldados. Vasculham os casebres. Procuram os inimigos da pátria. As pessoas simples têm medo. Precisam dormir cedo porque amanhã têm de ir para a roça cortar cana. Mas o olho continua aberto. Só a boca é que permanece fechada.
(Nova História Crítica do Brasil, Ensino Médio, p.327)
Fig. 1: título do Capítulo 21 de Nova História Crítica do Brasil de Mário Schmidt
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Logo no início da leitura, salta-nos aos olhos o fato de o acontecimento descrito
ser narrado no presente. Ou seja, o tempo do enunciado é o mesmo do acontecido. Tem-
se, assim, uma característica textual não comum aos livros didáticos de história que cria
uma maior proximidade entre o texto e o leitor. Em outras palavras, podemos dizer que
Mário Schmidt, com vistas a inserir o leitor no fato relatado, silencia a forma de escrita
própria do texto didático de história. Ainda, o uso excessivo de metáforas – outra
característica não comum em textos do gênero – deixa a escrita de Schmidt mais aberta
a interpretações diferentes, uma vez que, com isso, o silêncio se instaura nele de
maneira mais incisiva. Nós aqui apresentaremos uma dessas possíveis interpretações, a
nossa.
A caracterização das personagens do texto é feita de maneira bastante
emblemática. Ao descrever as pessoas da elite através dos vocábulos “pessoas bonitas”,
“perfume”, “fêmea” e “dentes brancos”, ou seja, a partir de bens de consumo ou de
características animalescas, o autor gera um sentimento de repulsa e antipatia do leitor
para com essa parcela da população. Sentimento este que fica ainda mais forte quando o
povo é apresentado a partir das ações sofridas de seu dia-a-dia, “dormir cedo” e “cortar
cana”, sendo ainda considerado “pessoas simples”. Cria-se, desse modo, um laço entre o
oprimido e o leitor e este passa a sentir compaixão daquele. Ainda, ao se referir ao povo
a partir do ponto de vista da elite, tratando-o por “inimigos da propriedade” e “inimigos
da pátria”, o autor produz em seu texto um efeito irônico que, mais uma vez, favorece o
oprimido.
Faz-se necessário, nesse momento, esclarecer que a escolha por caracterizar a elite
e o povo através dos vocábulos que destacamos acima tem por conseqüência,
necessariamente, o apagamento (ou o silenciamento) de outras formas que poderiam
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igualmente ocupar aquela posição no texto. Os vocábulos não ditos constituem um
elemento extremamente relevante para a apreensão do sentido real do discurso, uma vez
que, neles, estão os sentidos que se desejou apagar. Verifica-se, assim, por exemplo, que
Mário Schmidt não denominou a elite simplesmente “elite” ou o povo “povo”, pois não
desejava ser imparcial em sua descrição. O silêncio constitutivo, objeto de análise dessa
pesquisa, instaura-se justamente nesse limite entre o dito e o não dito e só através do
dito pode ser percebido. É isso o que faremos até o fim de nossa análise.
A delimitação do tempo e do espaço, no trecho citado, fortalece ainda mais o
sentimento de empatia do leitor para com o povo e sua repulsa às personagens da elite.
A noite do opressor é caracterizada pelo sintagma “brisa da noite”, que se opõe a “noite
negra”, selecionado para descrever o mesmo momento só que, agora, tendo como ponto
de vista o oprimido. Da mesma sorte, a habitação dor ricos é uma “mansão”, ao passo
que a dos menos abastados é um “casebre”. Evidencia-se, assim, a vida cômoda do
opressor em contraste à vida sofrida do oprimido.
Seguindo à leitura do capítulo, um pouco mais à frente, encontramos o relato:
No quartel, homens armados de fuzil arrastam o ancião. Espancado em praça pública. Maxilar quebrado por uma coronhada de rifle. Chutaram-lhe tanto os testículos, que arrebentou a bexiga. Vai urinar sangue por quase um mês. O velho ferido está algemado. Ao seu redor, caminhões do exército, berros de oficiais, rádio, holofotes, metralhadoras. Porque tanto aparato? Por que tantos homens, tantas armas, tanta força bruta? Porque o velhinho é tão perigoso? [grifos nossos] Gregório Bezerra nasceu no sertão. Criancinha, viveu a fome e a prepotência dos latifundiários. Foi quase um escravo. Brinquedo de menino era enxada e foice. Sonho de um dia comer carne seca. Nunca viu escola. Só aprendeu a ler e a escrever com 24 anos, quando servia o exército – e nunca mais deixaria o orgulho de ter sido militar. Pouca instrução, mas o conhecimento da vida e a argúcia do homem do povo.
(Nova História Crítica do Brasil, Ensino Médio, p.327)
A História contada por Mário Schmidt, ao contrário do que ocorre na “HT”, tem
como personagem central o povo, representado aqui pela figura de Gregório Bezerra.
Mais ainda, o autor se apropria da voz do oprimido para passar o seu recado. Desse
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modo, o próprio pensamento da personagem nos é transmitido através de um monólogo
narrado, observado no trecho: “Sonho de um dia comer carne seca”. Assevera-se que
esse recurso, tão próprio aos textos literários, confere uma menor credibilidade ao texto
de Schmidt. Mais uma vez verifica-se, então, que o discurso próprio aos livros didáticos
de história foi silenciado.
Novamente, merece destaque a caracterização da personagem. Nos vocábulos
destacados, evidencia-se o contraste entre o sufixo “-inho” de “velhinho”, que indica
sua vulnerabilidade, e o adjetivo “perigoso” que o qualifica. Produz-se, com isso, um
efeito irônico que resulta em uma proximidade ainda maior entre leitor e personagem. O
desfecho da história de Gregório Bezerra é apresentado no fragmento abaixo:
Os homens mais poderosos de Pernambuco o temiam. Gregório Bezerra, velho quase analfabeto, ferido e enjaulado em 1964. Líder camponês, ex-deputado federal, inimigo do latifúndio. E se um dia todos aqueles homens e mulheres com as mãos grossas e o rosto queimado se transformassem em milhões de Gregórios? Era preciso evitar a qualquer custo. Por isso, Gregório Bezerra tinha sido preso. Naquele momento, os grandes senhores da terra comemoravam sua vitória. O réveillon de 1964 acontecia em 31 de março.
(Nova História Crítica do Brasil, Ensino Médio, p.327)
No segundo período do trecho citado, vê-se que o verbo “enjaular” foi
selecionado por Schmidt para nomear a ação sofrida por Gregório Bezerra, silenciando,
assim, formas mais neutras como “prender” ou “reter”. Percebe-se, então, a personagem
sendo colocada na posição de um animal. Essa estratégia, como vimos, foi utilizada
pelo autor logo no início de seu texto para caracterizar a elite. No entanto, a
animalização daquela parcela da população causa um efeito oposto à animalização que
sofre Bezerra. Aqui ela afirma a compaixão do leitor para com o oprimido. Sentimento
que será reforçado pela caracterização do povo a partir de sua condição de trabalhador
em “homens e mulheres com as mãos grossas e o rosto queimado”; trata-se, portanto, de
pessoas honestas que sofrem para garantir a sua sobrevivência.
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No período final do capítulo, “O réveillon de 1964 acontecia em 31 de março”,
observa-se que o vocábulo destacado silencia, em um primeiro momento, as formas
“golpe” ou “instituição do novo governo” e, posteriormente, “ano novo” ou “virada do
ano”. Com isso, infere-se que a instauração do regime militar foi comemorada de
maneira efusiva pela elite, fato sugerido já na cena inicial do capítulo em que se
descreve uma festa na qual se estouravam champanhes. Destacamos, ainda, que o
vocábulo de origem francesa fortalece a idéia de que o momento histórico em pauta foi
positivo apenas para os mais abastados, trazendo grandes mazelas para o restante da
população.
A partir da leitura dos três trechos, enfim, percebe-se que, ao optar por se
apropriar da voz do povo, Mário Schmidt assume, em seu texto, um discurso mais
próximo ao literário. O emprego da linguagem figurada e a marcação de espaço, tempo
e pessoas de forma não delimitada e não reconhecida historicamente corroboram essa
idéia. Compreende-se, ainda, que tal recurso permite uma maior aproximação do leitor
com aqueles que estão sendo narrados.
3.2. História do Brasil: análise da apresentação da Unidade X, referente à
ditadura militar
A Unidade X do livro de Nelson Piletti intitula-se “O poder ditatorial”. O vocábulo
destacado, em si, não possui uma carga semântica positiva ou negativa, conferindo ao
discurso do autor uma ilusão de neutralidade. A figura de apresentação da unidade, por
seu turno, traz um policial com uma farda no braço em que lê o vocábulo “imprensa”
(cf. figura 2), evidenciando a posição do autor de repulsa ao sistema de governo em tela.
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Ao contrário do que se observou no primeiro livro analisado, não há epígrafes
introduzindo o capítulo de Piletti. Em seu lugar, verifica-se um quadro em que dados
irrefutáveis, históricos e objetivos são apresentados. No entanto, ao afirmar, nesse local,
que “o poder ditatorial prolongou-se por longos 21 anos [grifo nosso]” (História do
Brasil, p. 294) e colocar as aspas em “A segunda fase, de recuo, teve a chamada
‘abertura lenta e gradual’ [grifo nosso]”, (id.: ib.) o autor manifesta sua opinião
contrária ao regime. O adjetivo “longos”, na realidade, vem preencher o lugar de um
vazio que seria esperado naquela posição, uma vez que 21 anos não são longos ou
breves, são, apenas, 21 anos. Dessa forma, ao ressaltar que aquele período de tempo
demorou a transcorrer, o autor sugere que o momento não foi favorável ao Brasil. Note-
se, ainda, que as aspas indicam que aquela fala não é a dele. Assim, ao calar a sua fala,
mas fazer questão de evidenciar que o está fazendo, Nelson Piletti nos transmite, mais
uma vez, o seu ponto de vista.
Vê-se assim que, embora, de uma maneira geral, a escolha pelo uso de palavras
abstratas, ou seja, de significado mais abrangente, garanta uma aparente imparcialidade
de Nelson Piletti em sua fala, uma análise mais pormenorizada de seu texto nos permite
observar alguns meios através dos quais o autor evidencia a sua perspectiva.
Na primeira citação abaixo, percebemos que em História do Brasil os fatos são
relatados tendo como personagens principais os militares, portanto, o opressor. Mais
uma vez, o uso das aspas no sintagma destacado nos permite inferir a posição ideológica
do autor. No segundo fragmento, a escolha pelo advérbio “arbitrariamente” emite um
juízo de valor de Piletti.
Fig. 2: figura de apresentação da Unidade X de História
do Brasi de Nelson Piletti
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O controle dos militares sobre a vida política brasileira teve início logo nos primeiros dias de abril de 1964, quando os ministros militares do governo provisório (...) decidiram não aceitar as ‘tendências conciliadoras’ dos parlamentares. [grifo nosso]”
(História do Brasil, p.294)
A 9 de abril de 1964 os três ministros militares, com a autoridade que tinham assumido arbitrariamente como Supremo Comando Revolucionário, publicaram um ato institucional.
(id.: ib)
No segundo subtítulo da unidade lê-se: “Uma concentração de poderes nunca
vista”. A ditadura militar ganha, então, o status de alguma coisa assustadora, expresso
no sintagma “nunca vista”. Por fim, no trecho que segue ao subtítulo, transcrito abaixo,
o uso de aspas em “‘legitimidade’ revolucionária”, a seleção do adjetivo “excepcionais”
para qualificar “poderes” e o sintagma “a si mesmos” em “atribuíram a si mesmos tais
poderes” indicam a não representatividade do governo e, até mesmo, seu caráter
fraudulento, segundo o ponto de vista do autor.
Para sustentar-se no poder, os governos militares precisavam se poderes excepcionais. Apelando pata a ‘legitimidade’ revolucionária, atribuíram a si mesmos tais poderes.
(História do Brasil, p.295)
3.3. Nova História Crítica do Brasil vs. História do Brasil: casos especiais
3.3.1. O “domínio global”
Tanto Schmidt quanto Piletti tratam das organizações Globo, mais especificamente da
Rede Globo de Televisão, no capítulo de sua obra dedicado à ditadura militar no Brasil.
No entanto, o tratamento que dão ao assunto é, mais uma vez, bastante diferente.
Observe-se, nas figuras abaixo, os quadros dedicados ao tema nos livros Nova História
Crítica do Brasil e História do Brasil, respectivamente.
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Verifica-se, a partir da observação das imagens e textos dos quadros, que o vocábulo
“domínio” apresenta sentidos diferentes em cada uma das obras, pelo menos no que se
refere ao âmbito do posto. Para Schmidt, o domínio da Rede Globo é, primordialmente,
intelectual, ao passo que, para Piletti, a sua supremacia está na conquista de mercado. É
interessante notar que, o conceito de “domínio” só pôde ser compreendido em sua
totalidade quando teve seu significado restringido, limitado.
Percebe-se, ainda, que ambos os autores estabelecem uma relação direta entre a
Rede Globo e a ditadura militar. Mário Schmidt faz isso de maneira bastante clara ao
Fig. 3: quadro referente ao tema “o domínio global” em Nova História Crítica do Brasil de Mário Schmidt
Fig. 4: quadro referente ao tema “o domínio global” em História do Brasil de Nelson Piletti
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Fig. 5: quadro referente ao tema “o milagre econômico” em Nova História Crítica do Brasil de Mário Schmidt
afirmar que “desde o golpe de 1964 que a TV Globo foi crescendo sem parar”. Também,
ao sugerir que ela tem o “poder de manipular as informações e moldar a consciência de
milhares de brasileiros” e é “capaz de fazer e de derrubar presidentes da república”, o
autor atribui, à emissora, características próprias de um regime ditatorial. Nelson Piletti,
por seu turno, evidencia essa relação através do implícito, uma vez que insere o quadro
sobre a Rede Globo justamente no capítulo de sua obra referente ao governo militar.
3.3.2. O “milagre econômico”
O assunto do “milagre econômico” também é tratado com destaque pelos dois autores e,
mais uma vez, vemos que ambos apresentam opiniões semelhantes, colocando-se contra
os militares. Conforme se observa na figura abaixo, em Nova História Crítica do Brasil,
o título “O milagre que não era santo” e o uso do tridente como marcador de tópico
negam qualquer possibilidade de que possa ter havido algum ponto positivo no
chamado “milagre econômico”.
Nelson Piletti, mostrando os pontos positivos e os negativos do “milagre” (figura
6) cria, em princípio, uma estrutura dialógica que garante certo distanciamento dele para
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com seu discurso. No entanto, uma análise mais precisa do texto mostra que o autor
também não considera que possa ter havido qualquer ponto verdadeiramente positivo no
chamado “milagre econômico”. Indicam isso as aspas no título “milagre econômico”
(quadro 1) e em “milagre” (quadro 2) e o uso do vocábulo “preço” em “Crise e
concentração de renda, o preço do milagre.”
4. Considerações Finais
Conforme se pôde observar a partir da análise das obras Nova História Crítica do Brasil
e História do Brasil e ao se abordar o conceito de silêncio constitutivo, os autores, ao
fazer determinadas escolhas lingüísticas, silenciando outras, evidenciam sua ideologia.
Dessa forma, conclui-se que nenhum dos dois discursos é neutro ideologicamente.
Afinal, como afirma Orlandi, não há uma relação direta entre palavras e coisas. O
discurso é construído em face da realidade por intermédio de um sujeito que ocupa uma
dada formação discursiva e ideológica. “Para a análise de discurso, não há discurso
sem sujeito nem sujeito sem ideologia.” (Orlandi, 2007: 96)
Fig. 6: quadros referentes ao tema “o milagre econômico” em História do Brasil de Nelson Piletti
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Assim, o livro de Nelson Piletti, História do Brasil, mesmo apresentando recursos
lingüísticos que, num primeiro momento, poderiam conferir uma imparcialidade a seu
discurso, também não é isento de caráter ideológico. Tanto Piletti quanto Schmidt
apresentam formações ideológicas semelhantes, entretanto, pelo modo jocoso e
explícito por que este aborda os fatos históricos, sua obra constituiu-se alvo de críticas
mais veementes.
Finalmente, advoga-se que, no ensino de língua materna, é importante que os
professores tenham a consciência de que todo discurso evidencia um componente
ideológico. Deve-se, pois, abordar o texto em sala de aula por uma perspectiva de
leitura que conduza o aluno a uma percepção crítica daquilo que lê, de modo que, desta
maneira, torne-se um leitor proficiente, um cidadão que tenha a medida exata do poder
das palavras como construtoras da realidade política, social, cultural e ideológica em
que se encontra.
Recebido em setembro de 2010 Aprovado em outubro de 2010
Referências Bibliográficas
HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Versão 1.0.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
KAMEL, Ali. “O que ensinam às nossas crianças”. In: O Globo, 18.09.2007, p. 7.
MUSSALIM, Fernanda. “Análise do discurso”. In: ______, BENTES, Anna Christina.
Introdução à Lingüística 2: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001.
ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 6ª ed.
Campinas, SSP: Editora da Unicamp, 2007.
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PILETTI, Nelson. História do Brasil. 14ª. São Paulo: Ática, 1997.
SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica do Brasil (Ensino Médio). São Paulo: Nova
Geração, 2006.
www.escolasempartido.org; acesso em 14/01/2008 às 17h30min
www.nelsonpiletti.hpg.com.br; acesso em 15/01/2008 às 07h30min
1 In: “A teus pés”, Ana Cristina César 2 As definições apresentadas para os termos do período citado foram retiradas e adaptadas do Dicionário
Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.