O silencio dos remanescentes

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O Museu do Homem Sergipano (MUHSE), vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Sergipe (UFS), iniciou suas atividades em novembro de 1996, ocupando até 2013 um prédio histórico em Aracaju/SE/Brasil. Sua exposição de longa duração foi extraída do livro “Textos para a História de Sergipe” (1991). O museu encontrou sua vocação na ação educativa voltada para o público escolar (Nunes, 2010:70). Desde 02 de maio de 2011, o museu foi fechado à visitação em razão da deterioração dos edifícios. O objetivo desse trabalho, em meio ao processo de ressignificação pelo qual o MUHSE passa desde 2014, busca historicizar os processos desenvolvidos na instituição entre os anos de 2009 e 2013. Diante da nova proposta de redirecionamento museal, sobretudo da ressemantização da instituição, questiona-se de que forma a Nova Museologia ou a Museologia Social poderia servir como bússola para apontar o horizonte. Entre memória e esquecimento, não seria melhor realizar a salvaguarda do patrimônio com respeito e atenção à contribuição de discentes, docentes, visitantes, gestores e vizinhos ao espaço museal? O trabalho parte da observação participativa de documentos (Portarias e Resoluções institucionais) e ações no museu estudado, bem como das leituras de Mário Moutinho, Paul Ricoeur, Pierre Nora, dentre outros.

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  • O SILNCIO DOS REMANESCENTES: O MUSEU DO HOMEM SERGIPANO

    ENTRE A MEMRIA E O ESQUECIMENTO (2009-2013)

    JANAINA CARDOSO DE MELLO

    Iniciando suas atividades em novembro de 1996, sendo nomeado Museu do Homem

    Sergipano (MUHSE)1, a instituio configurou-se enquanto um rgo suplementar vinculado

    Pr-Reitoria de Extenso e Assuntos Comunitrios da Universidade Federal de Sergipe

    (UFS), ocupando at 2013 um prdio histrico, situado em Aracaju, representativo do

    ecletismo arquitetnico sergipano.

    O Artigo 3, Captulo 2, da Resoluo 07/2000/CONSU-UFS, conferiu as diretrizes de

    funcionamento da instituio, saber:

    I contribuir para o entendimento do homem sergipano, a partir de suas diferentes formas de adaptao e fazeres culturais, por meio de trs grandes

    setores de atividades tcnico-cientficas: identificao/estudo das referncias

    patrimoniais, salvaguarda e comunicao das mesmas;

    II contribuir, enquanto rgo de extenso, para a educao popular, a partir do franqueamento de suas exposies ao pblico, promoo de cursos,

    conferncias, palestras, simpsios, publicaes ou qualquer outro

    mecanismo que permita a democratizao de suas colees e pesquisas;

    III efetuar, sistematicamente, o resgate cultural do Homem sergipano, a partir da documentao e registro dos mltiplos traos materiais e espirituais,

    da sua cultura;

    1 Entre 1973 a 1976 h um conjunto de aes para a criao do Museu, quando ento ele nasce como Museu de

    Antropologia rgo suplementar da PROEX-UFS, mas sem uma estrutura fsica. Com o Dec.08 DPSA/DCS cria-se o setor de Antropologia que sob a liderana da professora Beatriz Gis Dantas realiza exposies

    itinerantes sobre a temtica indgena e a cermica sergipana. Na dcada de 1980 o CULTART cede uma sala

    onde Hlia Maria de Paula Barreto, professora do Departamento de Cincias Sociais torna-se responsvel pela

    Sala de Cultura Popular. Em poucos anos a sala fechada e do final da dcada de 1980 ao incio da dcada de

    1990, a discusso sobre a criao de uma instncia museolgica se faz presente, e com as contribuies da

    professora Cristina Bruno cria-se o Ncleo Museolgico, abrigado na sala do CCBS/UFS que passa a

    acondicionar as exposies itinerantes que anteriormente foram organizadas pela professora Beatriz Gis Dantas.

    Pouco tempo depois, o local destitudo de sua funcionalidade e o Ncleo transferido para uma sala do Hotel

    Palace, sendo mais tarde transferido para o antigo prdio da Faculdade de Cincias Econmicas na Praa

    Camerino. Nesse espao as professoras Hlia Barreto e Vernica Nunes retomam o contato com a professora

    Cristina Bruno, coincidindo com o momento da publicao do livro Textos para a Histria de Sergipe (um livro de autoria de professores dos Departamentos de Histria e Cincias Sociais, coordenado por Diana Maria

    de Faro Leal Diniz, com textos de Beatriz Gis Dantas, Diana Maria de Faro Leal Diniz , Lenalda Andrade

    Santos, Maria Andrade Gonalves, Maria da Glria Santana de Almeida e Teresinha Alves de Oliva) aproveita-

    se para se organizar o projeto museolgico que seria responsvel pela criao do Museu do Homem Sergipano,

    inaugurado em 1996. Entretanto as portarias ainda em vigor eram do Museu de Antropologia e somente com a

    resoluo 07/2000/Consu de 28 de abril o museu oficialmente reconhecido como Museu do Homem Sergipano.

    No perodo da Sala de Cultura Popular a professora Hlia Maria de Paula Barreto foi diretora, mais tarde o

    professor Luiz Alberto assume a direo do Museu de Antropologia, na dcada de 1990 a 2004 ocorre o retorno

    da professora Hlia Maria de Paula Barreto direo, de 2005 a junho de 2009, assume a direo a professora

    Terezinha Alves de Oliva (DHI) e de junho de 2009 at 2012 assume a professora Vernica Nunes (NMS)

    (SILVA, 2012:35).

  • IV cuidar da salvaguarda, conservao, registro, ordenao e restaurao de suas colees e outros elementos patrimoniais, bem como estabelecer

    uma poltica para constituio de novas vertentes de seu acervo;

    V manter permanentemente em exposio, parte de seu acervo, alm da promoo de exposies temporrias;

    VI organizar e manter uma Biblioteca especializada, a qual ser aberta a pesquisadores e ao pblico em geral; e

    VII promover a pesquisa mediante aes interinstitucionais e interdepartamentais; sempre em consonncia com o contedo cientfico que

    nortear as polticas do museu.

    Pargrafo nico: Manter os respectivos arquivos dos documentos e reserva

    tcnica das colees.

    Os dados que compuseram sua exposio de longa durao suspensa em 2013

    foram extrados do livro Textos para a Histria de Sergipe (1991), uma coletnea

    coordenada pela professora Diana Maria de Faro Leal com artigos de professores de Histria,

    Sociologia e Antropologia, imiscuindo-se a cultura material oriunda de pesquisas nos campos

    da Antropologia, Arqueologia, Geografia, Economia e Agronomia.

    Em 2010, a ento diretora do MUHSE, profa. Ms. Vernica Nunes, ressaltava em um

    artigo na Revista Patrimnio e Memria (2010:69-82) a sina que acompanhou grande parte

    das instituies culturais em Sergipe, exemplo do Arquivo Pblico do Estado, da Biblioteca

    Pblica e do Colgio Atheneu, com sucessivas mudanas de sedes e denominaes. No caso

    do MUHSE, foi antes Museu de Antropologia (MUSA), Sala de Cultura Popular e

    posteriormente Museu do Homem Sergipano. Aguardando desde 2013, mais uma mudana

    em sua nomeclatura e localizao.

    Mas, de acordo com Nunes (2010:70), apesar dos problemas, o museu encontrou sua

    vocao na [...] ao educativa voltada para o pblico escolar, e a inteno de subsidiar os

    professores com discusses, informaes e material didtico necessrio para sua atuao em

    sala de aula. Tornando-se assim, um ponto de referncia para aqueles que desejavam

    aprender mais e melhor sobre a histria, a arqueologia, a arte, a cultura local de matrizes

    indgenas, africanas, portuguesa que conformaram o homem sergipano.

    O objetivo desse trabalho, em meio ao processo de ressignificao pelo qual o

    MUHSE passa desde 2014 quando foi retomado o dilogo entre professores de vrios

    departamentos, Reitoria e Pr-Reitoria de Extenso e Assuntos Comunitrios da UFS

    pretende historicizar os processos desenvolvidos na instituio entre os anos de 2009 e 2013,

    momento de criao (2007) e consolidao (2009-2013) do curso de Museologia da UFS

    vinculando-o ao museu como laboratrio de estgio para montagem de exposies, pesquisa,

    conservao preventiva, realizao de eventos e oficinas, enfim, diversas atividades que

  • mostraram a relevncia de um lugar de memria (NORA, 1993) que beira agora ao

    esquecimento.

    Considerando as reflexes de Paul Ricoeur (2003: 3), norteamo-nos pela idia de que a

    representao do passado presente no MUHSE quer enquanto guardio de um acervo de

    memria, quer enquanto objeto da prpria memria institucional contm [...] a presena, a

    ausncia, a anterioridade. Para o dizer de outra forma, a imagem-recordao est presente no

    esprito como alguma coisa que j no est l, mas esteve.

    A opo pelo uso da palavra remanescente, cuja definio nos dicionrios de Lngua

    Portuguesa, remonta aquilo que ficou, que restou, que sobrou coaduna-se com o segundo

    objetivo que visa problematizar a proposta de uma ressignificao particularizada do museu,

    que ser explicitada ao longo do texto, revelando-se antagnica aos princpios da Nova

    Museologia ou Museologia Social, da qual, um grande grupo de muselogos so tributrios.

    O MUHSE e sua vida entre 2009 e 2013: historicizar para no esquecer.

    O exerccio de historicizar algo muito caro aos historiadores quando a memria

    comea a padecer do esquecimento como princpio, seja por descaso ou manipulaes

    polticas. A histria de uma instituio imiscuda na alternncia de pessoas em cargos de

    poder e alteraes significativas no processo de gesto cultural vive em sobressaltos, em meio

    escritas e reescritas de um passado que se pretende postegar como posse, como indicao

    de grande feito daquele grupo que naquele momento se faz status quo. A universidade

    pois, uma arena de jogos de interesses, de contestaes e tentativas acadmica e social

    disciplinadoras e burocratizadoras de vidas e pessoas. Nessa perspectiva, um museu que dela

    emana absorve para si seus percalos, nus e bnus.

    Assim, a histria recente dessa instituio comea com dois atos da Reitoria, na gesto

    do Prof. Dr. Josu Modesto dos Passos Subrinho, personificados primeiro pela Portaria n

    1525, de 18 de junho de 2009, publicada em Dirio Oficial da Unio, cujo Art.1 resolve

    Exonerar, a pedido, o Professor Adjunto, Nvel 4, Terezinha Alves de Oliva, do Cargo de

    Direo CD-4, de Diretor do Museu do Homem Sergipano-MUHSE. Segundo, pela Portaria

    n 1527, de 18 de junho de 2009, tambm publicada em D.O.U., cujo Art.1 resolve

    Nomear Professor Assistente, Nvel 4, Vernica Maria Meneses Nunes, Matrcula Siape

    [sic], em regime de trabalho de Dedicao Exclusiva, lotado no Campus de Laranjeiras, para

  • exercer o Cargo de Direo CD-4, de Diretor do Museu do Homem Sergipano-MUHSE. Tais

    aes so previstas no Art. 9, II, da Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990.

    Nesse ano metade do corpo docente efetivo do Bacharelado em Museologia da UFS

    ingressou via concurso pblico, incluindo duas muselogas doutoras. Esse processo ocorreu

    entre fevereiro e agosto de 2009, com a posse dos professores aprovados. Em julho de 2009 o

    Campus2 muda-se da escola estadual (CAIC) na qual se instalara desde 2007 para sua sede

    atual, os casares oitocentistas que formavam o antigo Quarteiro dos Trapiches, aps passar

    por um processo de restaurao da edificao em uma parceria do Projeto Monumenta, do

    Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Iphan) do governo federal, do governo

    do Estado de Sergipe e da Prefeitura de Laranjeiras.

    Nesse perodo a professora Terezinha Alves de Oliva assumiu a chefia da 8

    Superintendncia do Iphan-SE e a professora Vernica Maria Meneses Nunes, naquele

    momento vice-diretora do MUHSE e Coordenadora do Bacharelado em Museologia da UFS,

    foi designada diretora do museu. Algo justo, tendo em vista que a professora Vernica Nunes

    dedicou quase uma vida s pesquisas e trabalhos como museloga naquela instituio, alm

    de ser responsvel por grande parte da expografia de importantes instituies museais de

    Sergipe, saber: Museu Galdino Bicho do Instituto Histrico e Geogrfico Sergipano

    (IHGSE), Instituto Dom Luciano, Museu de Anatomia da UFS (Campus So Cristvo),

    dentre outros.

    O acervo do museu em sua exposio de longa durao, at 2011, esteve distribudo

    por mdulos temticos: 1.Territrio Sergipano, 2. A Ocupao Primitiva do Territrio, 3. A

    Conquista do Territrio e da Populao, 4. A Organizao do Trabalho: a importncia da

    mo-de-obra sergipana, 5. Evidncias de um Processo Histrico Dependente: a cultura do

    acar, 6. Evidncias de um Sergipe em Desenvolvimento, 7. As Estruturas de Poder que

    Moldaram a Sociedade, 8. A Repblica Brasileira e Sergipe, 9. As Formas de Representao

    da Cultura Sergipana.

    Imagem1: Planta Baixa do MUHSE

    2 Na poca o Campus contava com cinco cursos: Bacharelado em Arqueologia, Bacharelado em Arquitetura,

    Licenciatura em Dana, Bacharelado em Museologia e Licenciatura em Teatro. Em 2014, devido problemas de

    segurana na cidade envolvendo os cursos noturnos, a Licenciatura em Teatro foi transferida para o Campus

    matriz da UFS na cidade de So Cristvo, decidindo no mais retornar ao seu local de origem. Hoje h somente

    quatro cursos de graduao no Campus Laranjeiras que fica h aproximadamente 20 Km da capital Aracaju.

  • Fonte: Disponvel em: http://www.aracaju.com/museu/apresentacao.htm, Acesso em: 29/03/2015.

    A professora Dra. Maria Cristina Bruno (MAE/USP) esteve vrias vezes em Sergipe

    compartilhando seus conhecimentos na rea da Museologia tanto no Museu de Arqueologia

    do Xing (MAX) quanto no MUHSE, ministrando cursos sobre Herana Cultural: as

    possibilidades do tratamento museolgico, Etapas para a elaborao de exposio,

    Museologia: as perspectivas da nova Museologia (NUNES, 2010:75-76), alm de colaborar

    nos projetos expogrficos da UFS. Sobre sua experincia junto ao MUHSE, afirmou em 1999:

    Este projeto tem na sua origem, a experincia de muitos anos do Museu de

    Antropologia da Universidade Federal de Sergipe, que sempre pautou sua

    atuao com exposies instigantes, baseadas em problemas concretos da

    sociedade sergipana. Procurou-se extrair do processo histrico os elementos

    que sustentam as particularidades de uma sociedade que ao longo dos

    sculos conviveu com concentrao de terras e uma estrutura produtiva

    agrria, que foi coadjuvante da dizimao indgena e da opresso sobre o

    negro, que tem sua elite envolvida pela cultura literria e bacharelesca ao

    mesmo tempo em que as camadas menos privilegiadas da populao se

    expressam atravs da oralidade e do artesanato. Essas caractersticas que

    aparecem em muitas regies brasileiras, assumem um contorno especial em

    Sergipe e esta exposio procurar discutir esse tema (Disponvel em: http://www.aracaju.com/museu/apresentacao.htm, Acesso em: 29/03/2015).

    Dez anos depois, com o ingresso de novo professores efetivos na UFS e tendo frente

    da direo do museu a professora que auxiliara no processo de implantao do Bacharelado

    em Museologia em Sergipe, vrias atividades universitrias envolvendo grupos cadastrados

    no Diretrio de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico (CNPq) comearam a ser desenvolvidas, ao lado das j tradicionais aes que o

    MUHSE realizava conforme seu calendrio semestral.

    Em 2009, sob a coordenao do Prof. Dr. Samuel Barros de Medeiros Albuquerque,

    foi realizado o Seminrio Semestral 2009/2 do Grupo de Estudos e Pesquisas em Histria

    das Mulheres (GEPHIM/CNPq) com o tema Educao das Mulheres: histria, memria e

    musealizao. Ainda nesse ano foi organizado pela professora Dra. Cristina de Almeida

  • Valena Cunha Barroso o I Ciclo de palestras de Educao Especial em Museus Deficincia,

    educao e Museus: os problemas da acessibilidade.

    Em 2010, a professora Dra. Cristina de Almeida Valena Cunha Barroso realizou o I

    Ciclo de Palestras Cultura, Museus e Patrimnio sergipano. No mesmo ano, sob a

    coordenao da professora Dra. Janaina Cardoso de Mello, realizou-se a I Jornada Cientfica

    do Grupo de Estudos e Pesquisa em Memria e Patrimnio Sergipano (GEMPS/CNPq) e do

    Grupo de Estudos e Pesquisas de Histria das Mulheres (GEPHIM): Instituies museais e a

    patrimonializao das fontes sergipanas onde alunos dos cursos de Museologia, Histria,

    Cincias Sociais e outros, da UFS e outras instituies de ensino superior privadas,

    apresentaram projetos de pesquisa de suas monografias e/ou bolsas de Iniciao Cientfica,

    Extenso e Inovao Tecnolgica.

    Em 2011, foi realizada a Oficina de extenso Tcnicas de Scrapbooking para

    montagem de exposicao com fotografias sob a coordenao da professora Dra. Cristina de

    Almeida Valena Cunha Barroso.

    Ainda em 2011, o GEMPS/CNPq realizou sob a coordenao da professora Dra.

    Cristina de Almeida Valena Cunha Barroso o II Ciclo de Educao Especial em Museus

    ofertando palestras e Oficinas de Braile e Libras.

    Monografias do Bacharelado em Museologia usaram o MUHSE ou seu acervo como

    tema de pesquisa, alm de monografias dos cursos de Histria, Arqueologia e Sociologia.

    Em 2012, com a greve das universidades federais e tendo vrios alunos concludentes

    j aprovados em concurso pblico para muselogo do municpio de Palmeira dos ndios/AL,

    foi aprovada em documento emitido pela ASDUFS a realizao das bancas de defesa das

    monografias do Bacharelado em Museologia da UFS no auditrio do MUHSE.

    No mesmo ano o MUHSE, em parceria com a Biblioteca Pblica Epifnio Dria

    realizou o Seminrio Aracaju e seu patrimnio, com palestras sobre a memria e o

    patrimnio, a cidade e o patrimnio e o patrimnio de Aracaju. Culminando com a palestra e

    exposio de Ben Santana nas instalaes do museu.

    Trabalhos com bolsas de Iniciao Cientfica (PIBIC), Extenso (PIBIX) e Inovao

    Tecnolgica (PIBITI) foram desenvolvidos com base no acervo acondicionado no MUHSE,

    dentre eles, alguns resultaram em publicaes, saber:

    Tabela 1: Trabalhos acadmicos com base no acervo do MUHSE

    Ttulo

    Autor

    Evento, local e

    data

    Orientador

  • Arqueo-Digital 360: tecnologia 3D-

    Bin aplicada ao acervo arqueolgico

    do Museu do Homem Sergipano

    (MUHSE)

    Profa. Dra. Janaina

    Cardoso de Mello

    I Semana de

    Arqueologia -

    Unicamp Arqueologia e Poder, UNICAMP-

    Campinas, 2013.

    -

    Vritas Mouseion 3D Acervos Expositivos do Museu do Homem

    Sergipano com rotao em 360

    Romrio Rodrigues

    Portugal (Bolsista

    PIBITI-UFS).

    IV Encontro de

    Histria da Ufal,

    UFAL Macei, 2012.

    Profa. Dra.

    Janaina Cardoso

    de Mello

    Vritas Mouseion Uma Experincia Alm-Muros atravs de

    Oficinas em Instituies Culturais

    Irla Suellen da Costa

    Rocha (Bolsista

    PIBIX)

    XVI Encontro

    Regional de

    Histria da Anpuh-

    Rio, Rio de Janeiro,

    2014.

    Profa. Dra.

    Janaina Cardoso

    de Mello

    Controle de cupins em peas

    histricas de madeira do Museu do

    Homem Sergipano Utilizando

    Atmosfera Modificada

    T. M. S. Souza ; L.

    C. Paz ; J. S. S ; G.

    S. Rolim ; M. E.

    Correia Oliveira ; G.

    T. Ribeiro

    Artigo Revista

    Scientia Plena,

    Vol. 8, Num. 4,

    2012.

    -

    Fonte: Tabela elaborada por Janaina Mello (2015)

    Ao longo de seu funcionamento o MUHSE desenvolveu aes integrantes do Projeto

    de Documentao e Memria, com pesquisa do acervo para a montagem de exposies e no

    Projeto Museu-Escola relacionado dois subprojetos: O Museu o Palco, com a

    participao da Cia. Eu sou seu f, toche e Museu tambm lugar de criana, ambos com

    visita guiada, teatro de bonecos e oficinas com crianas (NUNES, 2010:82).

    O acervo do MUHSE possua uma rica coleo de cermicas, fotografias, pinturas,

    livros, entre outros objetos. No que tange cultura material arqueolgica havia

    aproximadamente 60 caixas contendo fragmentos cermicos e sseos, lascas de quartzo,

    porcelanas e faianas dos sculos XIX e XX, resultante dos salvamentos arqueolgicos

    realizados entre as dcadas de 1980 e 1990 nos municpios de Riachuelo, Santo Amaro das

    Brotas, Porto da Folha, dentre outros que evidenciam a presena da tradio cermica Aratu,

    estudada pelo antigo Ncleo de Pesquisa Arqueolgica (NPA) (MELLO, 2013:2).

    O MUHSE enquanto remanescente do esquecimento no processo de ressignificao

    anunciado.

    Desde 02 de maio de 2011, o museu foi fechado visitao pblica por determinao

    da Prefeitura do Campus em razo de um longo perodo de deteriorao dos edifcios

    (infiltraes, goteiras, rachaduras nas paredes e na lage, queda de pedaos de reboco do teto e

  • das paredes) sem que houvesse o investimento na manuteno preventiva ou mesmo

    reparadora, levando desmontagem da exposio permanente para salvaguardar os objetos

    museolgicos expostos e a vida humana que por ali transitava. Mesmo assim, o prdio anexo

    continuou em funcionamento para a realizao de exposies temporrias e eventos de

    pequeno porte envolvendo a comunidade universitria.

    Em 2012, segundo a interface muhse.ufs.br (ainda hospedada na homepage da UFS)

    foram iniciados estudos para a elaborao de projetos de restaurao ereforma, luminotcnico,

    eltrico, hidrulico, alm da adaptao do projeto museogrfico e expogrfico ao prdio.

    Todavia, a Portaria n 1986 de 31 de maio de 2013 fechou indefinidamente as portas

    da instituio, quando ao art. 1 cumpria Exonerar, a pedido, o Professor Assistente, Nvel

    02, Vernica Maria Meneses Nunes, Matrcula SIAPE [sic], em regime de trabalho de

    Dedicao Exclusiva, lotado no Ncleo de Museologia do Campus de Laranjeiras

    NMS/CAMPUSLAR, do Cargo de Direo CD-4, de Diretor do Museu do Homem Sergipano

    da Pr-Reitoria de Extenso e Assuntos Comunitrios MUHSE/PROEX.

    Apesar da sinalizao ainda indicar o museu na rua de Estncia, 228, em Aracaju,

    irnicamente parte do acervo do MUHSE voltou ao seu local de origem, entre 1983 e 1988,

    sendo embalado e armazenado em duas salas do Centro de Cultura e Arte/UFS-CULTART,

    na rua Ivo do Prado. O material arqueolgico foi entregue ao Laboratrio do Bacharelado em

    Arqueologia da UFS situado no Campus Laranjeiras. Enquanto fragmentos de imagens,

    projetos e depoimentos sobre a experincia de fruio cultural junto ao MUHSE no perodo

    de seu funcionamento ainda se encontram dispersos na internet.

    Ainda hoje possvel mapear nove locais online de referncia sobre o MUHSE:

    Tabela 2: MUHSE online

    Nome/mantenedor Site ou blog

    Interface do MUHSE na homepage

    da UFS.

    http://muhse.ufs.br/

    Aracaju Web Design Ltda. http://www.aracaju.com/museu/apresentacao.htm

    Blog Museu do Homem Sergipano http://museudohomemsergipano.blogspot.com.br/

    Blog Uma nova Histria/ Daniel

    Max (graduado em Histria)

    http://newcrisdanistory.blogspot.com.br/2012/12/visita-

    ao-museu-do-homem-sergipano.html

    Reino de Clio visita virtual pelo MUHSE/Marcelo Eduardo

    http://reino-de-clio.com.br/MUHSE.html

    Matria jornalsitca de Fernando

    Arajo/F5 News.

    http://www.f5news.com.br/6207_museu-do-homem-

    sergipano-patrimonio-publico-que-deve-ser-

    preservado-.html

    Homepage Museus em Sergipe no http://www.infonet.com.br/museusemsergipe/

  • Link Museu do Homem/Prof.

    Msc.Fbio Figueira

    Museus de Sergipe/Profa. Dra.

    Janaina Mello (DMS-UFS)

    https://sites.google.com/site/museusdesergipe/

    Blog Coleo

    Carrapicho/Museloga Valdineide

    Silva

    http://colecaocarrapicho.wordpress.com

    Fonte: Tabela elaborada por Janaina Mello (2015)

    Por isso, a palavra remanescente como aquele fragmento que subsiste do que j foi

    um dia um todo, algo completo, mas que agora apenas uma sombra, pode ser

    perfeitamente aplicvel realidade desse museu. Particionado, encaixotado, silenciado,

    permanece nos pores institucionais enquanto discutem seu destino na morosidade do

    tempo e da baixa oramentria.

    Diante da consternao de alunos e docentes da UFS, da ausncia de um espao

    cultural que servia comunidade acadmica, escolar e turstica, a Portaria n 1631 de 31 de

    julho de 2014, resolveu em seu Art. 1 designar como membros do Grupo de Trabalho do

    Museu do Homem Sergipano da Universidade Federal de Sergipe seis representantes, saber:

    professores dos departamentos de Histria, Arqueologia, Museologia, Artes Visuais e Design,

    do Museu de Arqueologia do Xing presididos pela Pr-Reitora de Extenso.

    Posteriormente a Portaria n 2087 de 02 de outubro de 2014, tambm emitida pelo

    reitor em exerccio Prof. Dr. Andr Maurcio Conceio de Souza, resolveu em seu Art. 1

    Designar o Professor Associado, Nvel 02, Maria da Conceio Almeida Vasconcelos,

    Matrcula SIAPE [sic], em regime de trabalho de Dedicao Exclusiva, lotado no

    Departamento de Servio Social do Centro de Cincias Sociais Aplicadas DSS/CCSA, com

    exerccio de suas funes de Pr-Reitora de Extenso PROEX, para responder,

    cumulativamente, pela funo de Coordenador do Museu do Homem Sergipano.

    Recentemente, j no incio de 2015, a atual Coordenadora do Departamento de

    Museologia da UFS, noticiou em reunio de Colegiado para colegas docentes e representante

    discente que fora incubida da elaborao do Plano Museolgico do MUHSE. Isso causou

    estranhamento, tendo em vista que embora a profissional possua reconhecida competncia

    tcnica e formao na rea museolgica, a mesma se encontra h menos de dois anos em

    Sergipe, vinda por redistribuio de vagas de uma universidade em outra regio da federao.

    Ou seja, no possuiu a vivncia cotidiana do museu com alunos e professores, no obteve o

    conhecimento do contedo extrovertido em exposies de longa e curta durao, das

  • experincias realizadas em torno do fazer acadmico (pesquisa, extenso e inovao

    tecnolgica) e por isso intenciona recriar um novo museu apenas como um simulacro do

    passado, com uma tradio inventada cuja prpria nomeclatura est fadada a mudar para

    que a instituio no seja mais confundida com o Museu da Gente Sergipana, inaugurado

    em 2011, com localizao e proposta museolgica distintas.

    Nesse caso, diferentemente das outras vezes, em que o nome da instituio foi alterado

    mas sua essncia permaneceu, sendo sua reconfigurao acompanhada por aqueles que

    partilharam de sua trajetria de fundao e consolidao, a proposta atual termina por lanar

    no esquecimento o que foi para empenhar-se no que ser, muitas vezes repetindo aes

    passadas sem dar-lhes os devidos crditos no af de apresent-las como novidade sob uma

    determinada autoria do presente.

    Diante dessa ressignificao de direcionamento museal, sobretudo dessa

    ressemantizao da prpria instituio, questiona-se a forma como os princpios da Nova

    Museologia ou da Museologia Social poderiam servir como bssola para apontar o horizonte.

    Tendo em vista que os mesmos difundem a coexistncia dialgica tripartite entre o museu

    institucional, o acervo material que lhe d sentido e a comunidade que lhe d significado.

    Pois, em afinidade com a Declarao de Santiago (1972):

    [...] o museu uma instituio ao servio da sociedade da qual parte

    integrante e que possui em si os elementos que lhe permitirem participar na

    formao da conscincia das comunidades que serve; que o museu pode

    contribuir para levar essas comunidades a agir, situando a sua actividade no

    quadro histrico que permite esclarecer os problemas actuais (MOUTINHO,

    1993: 7-8).

    Nesse caso, o mais justo, antes da elaborao de qualquer plano museolgico isolado

    seria convidar os moradores de Aracaju, principalmente aqueles residentes no entorno do

    prdio ocupado entre 1996 e 2013, os estagirios, alunos, professores e gestores que

    mantiveram uma profunda relao com o museu durante esse perodo para simplesmente

    escutar a voz social que poderia advir da. Dividir as responsabilidades, compartilhar as

    decises, empoderar a coletividade, socializar impresses, chamando todos ressurreio do

    novo/velho museu. Nesse sentido, qualquer relao de poder hierrquica seria diluda e o

    personalismo individualista transformado em uma rede de solidariedade cultural. Haveria a

    uma real potica museolgica.

    Infelizmente, no isso que est acontecendo. O museu remanescente est sendo

    discutido entre quatro paredes, portas fechadas, por um grupo de intelectuais que depois

  • tratar de publicizar o resultado de seus feitos no soerguimento do novo museu ao resto

    da comunidade, que mais uma vez assistir bestializada, no auditrio talvez, a indicao da

    contemplao de algo que lhe proposto sem qualquer identificao subjetiva ou participao

    efetiva. Por isso, mais uma vez remontando-nos Paul Ricoeur (2003: 7), quando:

    Falamos de reapropriao do passado histrico, preciso falarmos

    igualmente da privao dos atores do seu poder originrio, o de narrarem-

    se a eles prprios. difcil destrinar a responsabilidade pessoal dos atores

    individuais, da das presses sociais que trabalham subterraneamente a

    memria colectiva. Essa privao responsvel por esta mistura de abuso de

    memria e de abuso de esquecimento (grifo nosso).

    Em pleno sculo XXI, depois de terem sido debatidos ardorosamente os documentos

    de Santiago do Chile (1972), Quebec (1984) e Caracas (1992), por um renomado grupo de

    partcipes da rea museolgica, elaborando importantes textos e aes no curso de uma

    efetiva Museologia Social envolvendo Mrio Moutinho, Mrio Chagas, Maria Cristina Bruno,

    Marlia Xavier Cury, Maria Clia Teixeira, dentre outros, observa-se na UFS, em Sergipe, um

    retrocesso e pior, para que alguns brilhem fulgurosamente por cinco minutos, o obscurantismo

    estar recaindo prolongadamente sobre aqueles que durante dcadas mantiveram a instituio

    servindo ao pblico com a realizao de exposies, eventos, oficinas e pesquisas, despeito

    da ausncia das verbas necessrias, mas acreditando naquele espao como um vetor

    identitrio de vidas de homens, mulheres, crianas sergipanas de nascimento ou de afinidade.

    Entre a memria e o esquecimento, no seria melhor se a salvaguarda do patrimnio

    realizasse as atualizaes necessrias com o passar do tempo e transformaes da sociedade

    sergipana, respeitando a contribuio de discentes, docentes, visitantes, gestores e vizinhos ao

    espao museal? Afinal, novos museus podem ser ocos de sentido e afinidade se no forem

    sensveis as razes de seus usurios.

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