O Simbolismo Dos Contos de Fadas - Sinopse Do Trabalho

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1 TRABALHO SOBRE O SIMBOLISMO DOS CONTOS DE FADAS - SINOPSE INTRODUÇÃO Contos mais conhecidos: Branca de Neve, Cinderela (Perrault), Bela Adormecida, Rapunzel, Os três porquinhos, O Pequeno Polegar (P), O Gato de Botas (P), Chapeuzinho Vermelho (P), Pele de Asno (P), O flautista de Hamelin, Alice no País das Maravilhas, Pinócchio. Autores mais famosos: No domínio dos contos de fadas, encontramos Charles Perrault (P), Irmãos Grimm (G) e Andersen (A), transcritores de uma excepcional honestidade. Personagens mais freqüentes: rei, rainha, princesa, príncipe, dragão, anões, donzelas, bruxa. Diferença entre autores e “transcritores”: autores criam a obra a partir de suas idéias, de seu interior. Os transcritores escrevem os contos recolhendo narrativas orais do povo. O importante são os transcritores, pois os contos de fadas representam a lembrança da humanidade, não têm autores. Triplo sentido dos contos: profano, sagrado e iniciático. Profano= é o conto como o conhecemos. Sagrado: é de natureza psicológica; diz respeito ao inconsciente individual. Iniciático: inconsciente coletivo. Os contos de fadas falam ao inconsciente porque estão repletos de símbolos e o símbolo é o meio de comunicação com a alma. Os mitos, as lendas épicas e os contos de fadas são o espelho de nossa vida psíquica, onde se refletem todos os clichês astrais do mundo (os que estão no nível do homem, os que ultrapassam e os que são apenas lembranças inconscientes, porque pertencem aos reinos mineral, vegetal e animal, ou do homem inferior). NASCIMENTO DO MITO Sabemos da luta obstinada do homem primitivo contra os cataclismos naturais: tremores de terra, incêndios, inundações, etc. Segundo o aspecto desses fenômenos, eles os consideravam com alegria ou terror. Assim, desenvolveu-se em seu psiquismo dupla corrente emotiva: alegria, quando a manifestação era favorável (chuva fecundante) ou medo, quando a manifestação era desfavorável (raio, incêndio, trovão)

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TRABALHO SOBRE O SIMBOLISMO DOS CONTOS

DE FADAS - SINOPSE

INTRODUÇÃOContos mais conhecidos: Branca de Neve, Cinderela

(Perrault), Bela Adormecida, Rapunzel, Os três porquinhos, O Pequeno Polegar (P), O Gato de Botas (P), Chapeuzinho Vermelho (P), Pele de Asno (P), O flautista de Hamelin, Alice no País das Maravilhas, Pinócchio.

Autores mais famosos: No domínio dos contos de fadas, encontramos Charles Perrault (P), Irmãos Grimm (G) e Andersen (A), transcritores de uma excepcional honestidade.

Personagens mais freqüentes: rei, rainha, princesa, príncipe, dragão, anões, donzelas, bruxa.

Diferença entre autores e “transcritores”: autores criam a obra a partir de suas idéias, de seu interior. Os transcritores escrevem os contos recolhendo narrativas orais do povo. O importante são os transcritores, pois os contos de fadas representam a lembrança da humanidade, não têm autores.

Triplo sentido dos contos: profano, sagrado e iniciático. Profano= é o conto como o conhecemos. Sagrado: é de natureza psicológica; diz respeito ao inconsciente individual. Iniciático: inconsciente coletivo.

Os contos de fadas falam ao inconsciente porque estão repletos de símbolos e o símbolo é o meio de comunicação com a alma.

Os mitos, as lendas épicas e os contos de fadas são o espelho de nossa vida psíquica, onde se refletem todos os clichês astrais do mundo (os que estão no nível do homem, os que ultrapassam e os que são apenas lembranças inconscientes, porque pertencem aos reinos mineral, vegetal e animal, ou do homem inferior).

NASCIMENTO DO MITOSabemos da luta obstinada do homem primitivo contra os

cataclismos naturais: tremores de terra, incêndios, inundações, etc.Segundo o aspecto desses fenômenos, eles os consideravam

com alegria ou terror. Assim, desenvolveu-se em seu psiquismo dupla corrente emotiva: alegria, quando a manifestação era favorável (chuva fecundante) ou medo, quando a manifestação era desfavorável (raio, incêndio, trovão)

Desejando tornar a manifestação favorável, a imitavam, reproduzindo artificialmente o som (ex.: água através de peneira). Essas foram as primeiras manifestações da magia (princípio de equivalência).

Aos poucos, imaginaram que por detrás dessas manifestações, havia forças inteligentes = deuses.

O sol e o trovão foram as idéias embrionárias de um deus. Quando inventaram a carroça, fizeram analogia entre barulho das rodas e o trovão. Pensaram, então, que o trovão era produzido por carroça gigante. Mas uma carroça não se move sozinha, portanto haveria um cocheiro conduzindo o carro, que tomou, na linguagem primitiva, o nome de “deus dos céus”.

O mito do trovão apareceu, simultaneamente na Europa, Ásia e Países bálticos, cujo deus tomou os seguintes nomes: THOR

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(Escandinávia), BEL(Babilônia), DONNAR (Alemanha), ZEUS(Grécia), DIAUS(Pérsia), SUCELLUS(Gauleses), SUSANOO(Japão), INDRA(hindus), WODAN-ODIN(nórdicos).

DA CARROÇA DE ZEUS À CHARRETE DAS FADASDa imagem do carro andando veloz sobre as nuvens, nasceu

a idéia de que o carro divino era dotado de velocidade sobrenatural. Encontramos o dom da velocidade em Mercúrio, Perseu (calcanhares mágicos) e Freya (deusa nórdica – manto de plumas).

Às vezes, a velocidade era relacionada a um cavalo: Pégaso, no Olimpo, Sleipnir (cavalo de Odin).

Também são freqüentes carros aéreos puxados por animais fantásticos. Ex.: as 24 fadas de Cinderela viajavam sobre as asas de um dragão domado.

As fadas possuem dois tipos de carruagens: uma para obras malédicas (puxadas por dragões voadores ou serpentes cuspindo fogo), outras para as obras benéficas (carruagens de ébano, puxadas por pombos brancos ou de marfim, puxadas por corvos). Encontra-se aí a referência à dualidade bem-mal. O iniciado pode se inspirar nas forças da luz ou das trevas; a partir do conhecimento adquirido, a opção é dele.

TRADIÇÃO PROFANA E TRADIÇÃO SAGRADAOs mitos orientais possuem maior número de significações

que os ocidentais, porque mantiveram a pureza. Ex.: Baghavad-Gîta = poema épico, considerado como a essência dos Vedas (Índia) – Um rei (Dhritarashtra) cego que se faz conduzir por seu cocheiro Sarjana nas vizinhanças de um campo de batalha, onde o herói Arjuna está atirando flechas com seu arco, montado em um carro, puxado por um cavalo branco e guiado por um cocheiro.

Sentido Profano: é a própria históriaSentido Sagrado: natureza psicológica; exposição dos

elementos da psicologia humana; o rei representa o inconsciente, assistindo como expectador, a uma luta travada pelo consciente.

O Inconsciente é o rei, tem o poder, mas é cego (significa que não existe percepção direta entre o consciente e o inconsciente). Estas duas partes se comunicam através de um intermediário – Sarjana – que significa clarividente, simbolizando a intuição.

Sentido Iniciático: o rei é a memória do mundo, o Inconsciente coletivo, que conhece a evolução do espírito através da natureza humana, animal e vegetal.

Os ocidentais têm dificuldade em entender o alcance dos ensinamentos contidos na interpretação iniciática dos mitos, porque a habitualidade dos dogmas matou os sentidos sutis que permitem ainda aos orientais e povos do norte de se comunicarem com o divino por vias diretas e sem intermediários. O Cristianismo fez desaparecer este ensinamento pelo extermínio dos maniqueus, druidas e albigenses. Onde foi possível, destruiu os traços deixados pelas filosofias esotéricas nas práticas religiosas dos povos.

Como identificar se o mito é autêntico ou foi “manipulado”? No documento autêntico, os heróis obedecem a impulsos diretos, aos ímpetos de todo o seu ser. O documento cristianizado introduz características muito reticentes, pudicas, hipocrisias e cálculos. A

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ausência de arquétipos ou “imagens ancestrais” denunciam claramente o conto truncado ou inventado por autores vãos, que crêem poder substituir sua própria imaginação ao produto do psiquismo universal.

OS SÍMBOLOSFreud constatou que os símbolos são os mesmos nas mais

diferentes pessoas, mesmo se elas não falam a mesma língua.Todas as angústias e alegrias do mundo parecem impressas

no psiquismo, sob a forma de símbolos.No curso dos séculos, a linguagem substituiu a abstração

simbólica, mas os símbolos não morreram; eles se refugiam no pano de fundo de nossas consciências. A linguagem falada e os símbolos evoluíram em direções diferentes: a linguagem se pôs a serviço do homem exterior e o símbolo a serviço do homem interior.

Em suas terapias, os psicanalistas não fazem outra coisa que reconciliar consciente e inconsciente, mesma tarefa dos mitos e contos de fadas. Eles tomam pela mão o velho rei, que está à distância, e o conduzem a seu lugar, no coração da batalha.

Os contos de fadas nos oferecem uma feliz imagem dessa operação do psiquismo: é o casamento da filha do rei com o Príncipe Encantado.

A filha do rei representa uma parcela do inconsciente se associando, através de uma ação fecunda e determinada, com a parcela correspondente do consciente.

Os principais símbolos dos contos de fadas são:CAVALO: energia psíquica, indispensável para lutar contra as

forças das trevas, é a força que permite ultrapassar os obstáculos no caminho da iniciação. No combate entre o bem e o mal, ele se opõe à serpente, ao dragão; sobre o plano psíquico é a disciplina dos impulsos instintivos. O cavalo branco indica pureza. O cavalo alado eleva-se nos ares, é então o corpo astral, princípio intermediário entre o corpo material e o espírito. Mas cavalo vem do latim “caballus”. A égua, em francês “la cavale”, é a Cabala, tradição esotérica judaica que permite, quando dominada intelectualmente, passar à prática ou teurgia.

CAVALEIRO: é o iniciado, aquele que foi posto no caminho (cavaleiros templários, cavaleiros rosa-cruzes, cavaleiros da távola redonda).

CARRO: na epopéia védica, o carro é o veículo da alma em experiência. Ele porta, então, esta alma pela duração de uma encarnação. Os carros representam os veículos do espírito em caminho para a eternidade. Em nível esotérico, são os veículos das forças cósmicas Ex.: carro de Vênus-Afrodite e Marte. Em nível iniciático é a totalidade da natureza visível suportando a totalidade das energias espirituais. Um carro de fogo, levando em seu interior um personagem, é o símbolo do homem espiritual destruindo se corpo físico em benefício de uma ascensão mais rápida Ex.: ascensão de Elias.

A aparência, a espécie e a cor dos animais de tração indicam a qualidade dos móveis e das aspirações do condutor do carro.

DRAGÃO: obstáculo que deve vencer o iniciado. Nas lendas cristãs, o dragão personifica o espírito do mal, a potência do demônio. Para o ocultista, o dragão significa o “guardião do umbral”, que o iniciado deve encontrar e combater (é o somatório e todas as más ações passadas). O dragão guarda os tesouros nas cavernas ou sob a terra.

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Cospe fogo e fumaça, prova de que está ligado ao fogo e ao mundo subterrâneo. Como guardião dos tesouros, pode ser associado à alquimia, via perigosa para quem não é guiado. Pode simbolizar, então, a matéria prima, que os antigos hermetistas descreviam como uma pedra possuindo uma gangue análoga à pele do dragão.

O Dragão é comumente representado com garras de leão (símbolo de força e potência), asas de águia (símbolo de poder) ou asas de morcego, animal que vive nas cavernas. A cauda é de serpente, inimiga do homem e símbolo do mal.

ÁGUIA: a águia simboliza o volátil, o espiritual; as asas de águia do dragão confirmam sua natureza espiritual demoníaca e que ele não age unicamente sobre o plano físico.

PÁSSAROS: de uma maneira geral, os pássaros simbolizam a alma. Nos contos eles são agentes de ligação e confidentes. A pomba é o pássaro de Afrodite. Os pequenos pássaros simbolizam os desejos, os sentimentos doces ainda não demonstrados.

FUSOS E ROCAS: são símbolos eróticos: o fuso é um emblema fálico enviado a uma virgem por uma velha mulher. A roca relaciona-se à atividade sexual. Sob o plano iniciático, fusos e rocas simbolizam a origem do mundo.

CÂMARAS SECRETAS: simbolizam os lugares de iniciação. Às vezes, para adentrar nas câmaras, precisa-se de três chaves. A 1ª, de prata, a segunda de ouro e a terceira de diamante, significam os graus de iniciação do homem nos três planos.

A chave de prata abre a 1ª sala secreta e as jóias que aí se encontram representam as revelações do ensinamento psicológico. É a sala da purificação, onde o adepto adquire seu próprio mestrado.

A chave de ouro abre a 2ª sala secreta, onde o iniciado descobre jóias diferentes daquelas encontradas na primeira sala. São as revelações do ensinamento filosófico. A 2ª sala é a sala do Conhecimento, onde o discípulo adquire a maestria das forças da natureza.

A chave de diamante abre a 3ª sala secreta. Lá se encontram as gemas mais preciosas. Elas correspondem ao saber dos Magos. É a sala do Poder. (lembrar Ali Babá e os 40 ladrões).

A 1ª sala, que todos os textos sagrados chamam “Átrio”, era acessível aos neófitos que já haviam pronunciado seu juramento.

A 2ª sala, que comparamos ao “Templo”, era acessível aos iniciados de graus inferiores.

A 3ª sala era o lugar da Iniciação Suprema. Os textos sagrados a chamam “Tabernáculo”.

As pedras preciosas que resplandecem sobre os vestidos das princesas, os colares em torno de seu pescoço, como todas as gemas das salas secretas, são os símbolos do saber.

PRÍNCIPE ENCANTADO E PRINCESA: o príncipe simboliza o consciente positivo-ativo, enquanto as princesas, belas adormecidas, simbolizam o elemento negativo-passivo. As princesas dormem em seus palácios, como as lembranças em nosso inconsciente. O Príncipe é então o consciente chamando as imagens ancestrais necessárias à ação. A princesa simboliza o consciente individual, ou uma parcela do inconsciente coletivo, que é a representação do rei, seu pai.

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Em um psiquismo normal, o consciente deve se comportar como o jovem príncipe: ser enérgico, empreendedor e ativo. Deve merecer a princesa que é uma parcela do inconsciente universal.

PALÁCIO DO REI: é o plano astral dos iniciados; é o habitáculo de imagens gravadas no inconsciente. Lembremos do filme Excalibur, quando o Mago Merlin fica preso dentro de uma gruta de cristal.

MAGO: vimos que Dhritarashtra, o velho rei da epopéia védica e, por conseguinte, todos os velhos reis dos contos de fadas simbolizam o Inconsciente, a Memória do Mundo. O Kalevala, epopéia finlandesa, ao contrário de outros contos e mitos, não apresenta nem reis, nem príncipes. A Memória do Mundo é representada por um personagem grandioso: o imperturbável WAINAMOINEN, “que reconta as antigas lembranças e celebra a origem das coisas”. Ele é o Mago, o Bardo, que fala das coisas eternas. Ele é o guardião das palavras mágicas, o grande invocador das imagens ancestrais (lembrar o Senhor dos Anéis e Dumbledore, em Harry Potter). É aquele cujo canto faz bramir os pântanos, tremer a terra, fender as pedras.

Com Dhritarashtra (rei) e Wainamoinen (mago), temos duas representações diferentes da Memória do Mundo.

Dhritarashtra é o rei. Isso nos faz pensar que ele dirige uma sociedade hierarquicamente organizada. O Mago, ao contrário, não tem título social. Mas ele é o Imperturbável, o Eterno. É pela magia do Verbo que ele impõe sua soberania. A natureza inteira é sensível a sua voz. Ele conhece as palavras que criam e que destroem. As duas grandes figuras, rei e mago, se justapõem e completam. O Bardo Eterno se dirige a nossa natureza sensível, ele é o rei do coração humano, o Mago de nossa vida emotiva. O Rei, por outro lado, se dirige a nossa mente; ele é o bardo da inteligência racional e disciplinada.

REI: interessante notar que os reis dos contos de fadas não intervêm, em nenhum momento, na vida de seus filhos; permanecem estranhos aos eventos que se desenrolam (sobre o plano da consciência). Seguidamente, o conto menciona a existência do rei na pequena frase: “Um rei tinha uma filha...”. Depois, não é mais mencionado.

A natureza inconsciente do rei nos contos de fadas aparece nitidamente nos contos em que vemos uma princesa ser perseguida por sua madrasta. O rei não esboça o menor gesto para proteger sua filha. Entretanto, um laço poderoso une a filha e seu pai. É comum encontrarmos filhas que dão sua vida para salvar o pai. Ex.: a Bela e a Fera, Efigenia e Agamenon.

Em quase todos os contos, as princesas encontram-se em conflito com uma personagem feminina mais velha que ela, uma madrasta ou fada má. Ao contrário, não existe um só exemplo de desavença entre um pai e uma filha.

PRINCESAS: vimos que os reis representam o Inconsciente ou Memória do Mundo; cada princesa que se casa é uma parcela dessa Memória que é liberada para o consciente e os tesouros que ela leva como dote a seu Príncipe são as experiências do mundo. Portanto, essa parcela do Inconsciente (princesa), liberada ao nosso Consciente (Príncipe), tem um papel feminino, negativo, plástico, em contraposição ao papel dinâmico, positivo e construtivo do consciente.

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Por suas belas embaixatrizes, as princesas, os velhos reis comunicam aos homens seus arquétipos, a fim de que eles os façam reviver por novas criações. Isto fica representado nos contos pela conhecida frase:”E eles tiveram muitos filhos e viveram felizes para sempre.”

CASAMENTO DO PRÍNCIPE E DA PRINCESA: o casamento do príncipe e da princesa pode também representar a união da vontade e da inteligência. A Princesa é uma parcela do infinito, passando do mundo invisível ao mundo visível.

O amor representa, aqui, a força universal de atração que une e polariza a totalidade do universo, manifestado no seu conjunto e em suas partes.

Escreveu um iniciado: “O amor é o princípio motor de toda manifestação. É o desenvolvimento consciente de uma vibração sincronizada entre um corpo objetivo e uma energia subjetiva”.

PALAVRAS MÁGICAS: a palavra mágica dos iniciados pode ser chamada “verbo”. Na lenda finlandesa, um só personagem é capaz de criar e destruir: é o bardo Wainamoinen, o Imperturbável, o Eterno. Quando ele entoa seu canto, as marés se agitam, a terra treme, as rochas fendem.

O Kalevala não nos apresenta seu bardo como uma inteligência infalível. Se ele domina o mundo, não é por ser imperturbável, mas porque conhece as palavras mágicas. O verbo criador não tem nada de comum com a linguagem profana e não será usada da mesma maneira. A palavra mágica e sagrada não se dirige ao nosso consciente; ela não pertence ao mundo perceptível. Ela exerce seu poder sobre nossa natureza interna inconsciente, imortal. Os próprios “Creadores” podem perder o poder, se esquecerem a palavra original. (lembrar a palavra abracadabra)

OS PÁSSAROS: por analogia ao homem, composto de um corpo, uma alma e um espírito de origem divina, os pássaros dos mitos e dos contos simbolizam a alma. Todos os pássaros trabalham para aproximar as pessoas que se amam; eles são agentes de ligação, confidentes. Somente a fênix representa um símbolo pertencente aos graus superiores da iniciação.

A pomba conserva seu simbolismo primitivo nos contos; ele é o pássaro de Afrodite, deusa do amor. Inumeráveis pombos brancos puxam os atrelamentos de princesas que vão encontrar seu Príncipe encantado. Quando, enfim, a personagem Florine desce da torre e voa ao palácio de seu amante, é com a ajuda de pombos brancos.

AS BELAS ADORMECIDASSe os contos fazem do Príncipe Encantado o herói de

combate e aventuras, é porque eles simbolizam o consciente ativo-positivo e, se nos mostram as princesas adormecidas, é para simbolizar a existência simultânea de um elemento inconsciente, de ordem passiva-negativa. (Ver Brunhilda, na “Canção dos Nibelungos”)

As princesas dormem no fundo de seus palácios, como dormem as lembranças no fundo de nosso inconsciente. O Príncipe que vem acordá-la é nosso consciente chamando as imagens ancestrais necessárias à ação.

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AS PRINCESAS ENCARCERADAS (RAPUNZEL)No conto de Rapunzel, o pai construiu uma torre no meio da

floresta e encarcerou sua filha junto com a ama.Ao nível psicológico, cada princesa encarcerada (prisioneira)

representa uma imagem ancestral, mantida em estado passivo em nosso inconsciente. Ao chamado de sua complementar parcela ativa do consciente, que a conquista depois de muitos périplos, a princesa se anima.

No nível iniciático, a princesa adormecida ou prisioneira representa um dos arquétipos pertencentes ao inconsciente coletivo. Quando ele revive, após séculos, é para imprimir uma orientação particular às artes, ciências e pensamentos de uma vasta região do mundo. (ex.: o Renascimento).

O PEQUENO POLEGAR, OS SEIS IRMÃOS E O SETENÁRIO

Ouvindo o conto, nos perguntamos: Como ele, que era o mais frágil, foi o único elemento ativo na família? Por que os outros 6 irmãos, mais fortes e mais velhos que ele, não contribuíram de alguma maneira para achar o caminho de volta? Foram eles verdadeiramente privados de toda a iniciativa? Sim, os 7 irmãos representam os 7 corpos do homem, que não formam senão uma só pessoa.

A doutrina iniciática reconhece no corpo humano 7 aspectos, indo do mais denso ao mais sutil. Outro exemplo são as notas musicais. Se adotarmos as sete notas como os 7 princípios físicos, podemos dizer que dó, ré e mi figuram os elementos sólido, líquido e gasoso e que fá, sol, lá e si se referem, respectivamente, às quatro camadas diferenciadas do duplo etérico.

Quando vem a morte, os elementos grosseiros Dó, Ré e Mi retornam, por dissolução, ao mundo físico, ao qual pertencem. O corpo etérico, em sua quádrupla constituição Fá, Sol, Lá e Si abandonam os elementos inferiores e levam com eles, ao mundo supra-sensível, os elementos superiores do ser. Após um tempo, mais ou menos longo, que varia para cada um, o corpo etérico se dissolve, deixando subsistir o corpo astral, veículo da alma. Aquela, definitivamente separada das escórias grosseiras e temporárias do mundo psíquico, se encontra em condições de prosseguir na evolução pós-mortem, nos mundos superiores. Se fizermos a analogia com o Pequeno Polegar, diremos que dos 6 irmãos, os 3 primeiros representam elementos materiais; o 4º, 5º e 6º, os corpos sutis e o Pequeno Polegar, o mundo astral, o único dos sete que é imortal. As aventuras do Pequeno Polegar são uma das repetições populares da história de Krishna e seus 6 irmãos, há 5.000 anos atrás.

A freqüência do número sete, na mitologia nos textos sagrados e nos contos de fadas, indica claramente um símbolo de 1ª ordem. Entre os egípcios, o sete era o símbolo de vida eterna e por isso a letra Z, duplo sete, é a inicial da palavra Zeus, o pai eterno de todos os viventes.

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Um personagem acessório do Pequeno Polegar merece atenção: é o ogro. Sua origem remonta ao mito de Saturno, que devorava seus próprios filhos, à medida que Cibele, a Terra, os paria.

A idéia essencial do mito saturnino é esta: tudo aquilo que é nascido da matéria serve de suporte momentâneo ao espírito imortal, mas destinado irrevogavelmente ao aniquilamento.

OS FUSOS E ROCASO fuso, emblema fálico, é entregue à jovem virgem, por uma

velha mulher. Esse detalhe é importante, pois nas tribos primitivas, as bases da educação são dadas às crianças por pessoas idosas, mas jamais por seus pais. Ainda é assim na África Equatorial.

A velha fiandeira é, assim, incumbida do dever de ensinar a princesa, preocupada com as transformações de sua adolescência.

A idéia de iniciação à vida sexual é confirmada no conto pela frase: “subindo, de quarto em quarto...” A ação de subir, sobretudo quando se realiza através de uma escada, exprime a exaltação dos sentidos. Quanto às palavras “quarto” e “sala”, vimos que elas designam diferentes graus de iniciação, os quais não são, necessariamente, místicos.

Em arqueologia, o emblema do fuso e o da cruz em forma de X têm a mesma origem: remontam ao culto de Vênus-Afrodite. Vênus-Afrodite, deusa do amor profano, era representada por um pequeno pássaro chamado KOVOCLE, que significava, em fenício, fio, barbante e, por extensão, fuso.

Por outro lado, as prostitutas sagradas dos templos de Afrodite, eram apresentadas aos estrangeiros com a cabeça cingida de fios ou barbantes finos. Esse penteado foi adotado, mais tarde, por inumeráveis deusas do “fio” ou da “corda”, a começar por Ariadne, cujo nome significa “fio”. Foram os fios cruzados sobre a cabeça das prostitutas sagradas, que deram nascimento ao ideograma em forma de X, que se chamava, em fenício, KHR. Dessa palavra se originou a palavra “croix”, em latim, “crux”, em grego, “kryos” e o símbolo X se transformou, em razão de sua ligação com a fecundidade, no sinal da multiplicação aritmética.

Antes de J.C. as cruzes tinham um significado amoroso; a cruz se encontrava associada às representações das deusas do amor, pelas quais se desenrolava o “fio da vida”, o fio gerador do filho.

A palavra cruzamento, cuja significação sexual exprime a mistura de raças animais, é também derivada da palavra cruz. No inglês arcaico uma só palavra designa cruz e virgem: é “rod”, e na linguagem órfica a mesma palavra significa fio e semente.

QUEM SÃO AS FADAS?A palavra fada vem do latim popular “fata”, que significa

deusa protetora dos campos. Aqui há um erro, porque as fadas não se limitam a cuidar dos campos. Nos contos do mundo inteiro, elas executam certas missões:

- atribuem os “dons” bons ou maus dos recém-nascidos, simbolizando, esta parte de sua atividade, a lei do karma;

- elas adivinham os pensamentos e fazem predições (clarividência e clariaudiência);

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- elas fazem aparecer personagens, palácios, e transformam seres e coisas, correspondendo aos poderes da alma desencarnada e vestida de seu corpo astral. Neste estágio a alma pode engendrar qualquer forma, por seu poder da vontade.

Elas dispensam as riquezas. Estando em poder das riquezas, são o símbolo do conhecimento que se adquire por meio da intuição; dispensando as riquezas, as fadas são a representação simbólica de um instrutor, ajudando seus protegidos a penetrar no seu próprio inconsciente.

A totalidade dessas formas de atividade decorre da vida psíquica.

Vemos que as fadas são dotadas de todas as faculdades daqueles que chamamos de supranormais, porque elas ultrapassam o nível médio da consciência humana.

Por isso, a fada é o símbolo da consciência humana no seu 4 estágio de evolução (1º sentido, 2º emoção, 3º razão), ou seja, no momento em que ela adquire seus primeiros poderes psíquicos

Os contos de fadas não se dirigem a nossa inteligência racional e limitada, mas ao nosso inconsciente. Nós só podemos compreendê-los por meio da intuição. O verdadeiro saber e a verdadeira fonte de inspiração não é outra coisa que o conhecimento das imagens ancestrais que povoam nosso inconsciente.

E a mais radiante dessas imagens é o despertar da Bela Adormecida!

Bibliografia:“Le symbolisme dês Contes de Fées” – M. Loeffler -

Delachaux

(Compilado por Suzete Pombo, em outubro/2005)