O sistema braille uva

35
WWW.CURSORAIZES.COM.BR UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA A LINGUAGEM DOS CEGOS ALESSANDRA SOARES ROSA DOS SANTOS ALEXSANDRA SANTOS DE LIMA DAIANE GONZAGA DE JESUS DANIELE DE JESUS SANTOS FABIANA FARIAS DE LIMA NAZARÉ SANTOS DE LIMA THAMILLES DE OLIVEIRA WANDERLEI VERA LÚCIA BARRETO DA F. SANTANA TOBIAS BARRETO – SE WWW.CURSORAIZES.COM.BR

description

 

Transcript of O sistema braille uva

Page 1: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

A LINGUAGEM DOS CEGOS

ALESSANDRA SOARES ROSA DOS SANTOS

ALEXSANDRA SANTOS DE LIMA

DAIANE GONZAGA DE JESUS

DANIELE DE JESUS SANTOS

FABIANA FARIAS DE LIMA

NAZARÉ SANTOS DE LIMA

THAMILLES DE OLIVEIRA WANDERLEI

VERA LÚCIA BARRETO DA F. SANTANA

TOBIAS BARRETO – SE

DEZEMBRO / 2008

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 2: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

A LINGUAGEM DOS CEGOS

Trabalho apresentado a disciplina Linguagem

e meios de comunicação ministrada pela Profª.

Anna Karla Cardoso, com objetivo de

obtenção de nota na referida disciplina.

TOBIAS BARRETO – SE

DEZEMBRO / 2008

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 3: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

INTRODUÇÃO

Aprender uma língua nova é sempre uma coisa bacana. O inglês, hoje, já é o básico

para se entrar no mercado de trabalho. Espanhol, todo brasileiro acha que sabe. Os mais

desenvoltos procuram o francês, o italiano, o alemão... Nos últimos anos, o mandarim também

está virando um negócio da China. Mas você só fica nessa de aprender línguas para se

comunicar com estrangeiros? Que tal uma coisa universal? Que tal uma língua para se

corresponder com alguém que pode estar aí do seu lado? Que tal uma língua que você pode

ler até no escuro? Então... Vamos todos aprender Braille! A linguagem dos cegos.

O alfabeto Braille, criado em 1821 pelo sujeito que lhe emprestou o nome, é um

código tátil com uma combinação de seis bolinhas dispostas em duas colunas de três para

cada letra. Parece difícil. Mas não é. É uma questão de frear a nossa leitura naturalmente

apressada, para dar atenção especial a cada letra. Cada palavra é uma vitória. Já pensou?

Código é definido com qualquer conjunto de símbolos capaz de ser estruturado de

maneira a ter significado para alguém. Existem vários tipos de código, como os códigos

práticos, que são as sinalizações, os códigos auxiliares da Língua como a voz, os gestos, a

postura e as expressões fisionômicas, e os códigos de apoio da Língua, como a linguagem de

sinais ou o Braille.

O Braille é, portanto um dos códigos de apoio da Língua, e sua importância reside no

fato de habilitar o ser humano a compreender o mundo através de um sistema organizado de

símbolos, substituindo o alfabeto convencional por um alfabeto de pontos em relevo, o que

possibilita ao deficiente visual a escrita e a leitura.

As primeiras tentativas de criar um método de acesso à linguagem escrita aos cegos

datam do século XVI e XVII. Entre eles estavam a gravação de letras e caracteres em madeira

ou metal (usando parte da idéia da imprensa de Gutenberg), sistemas de nós em cordas,

caracteres recortados em papel e até mesmo alfinetes de diversos tamanhos pregados em

almofadas.

Até 1829, os portadores de deficiência visual aprendiam a ler através desses e de

outros complicados métodos de leitura. Naquele ano um jovem francês de 15 anos cego desde

os 3 anos de idade, chamado Luis Braille, desenvolve o sistema que é até hoje o mais efetivo

recurso para a educação de cegos. Braille era aluno da escola Haüy, a primeira escola para

cegos do mundo e foi influenciado por um método de transmissões de mensagens sigilosas

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 4: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

criadas pelo oficial de exército francês Charles Barbier, que consistia na combinação de 12

pontos em relevo com valor fonético.

O Braille é composto por 6 pontos, que são agrupados em duas filas verticais com três

pontos em cada fila (cela Braille). A combinação desses pontos forma 63 caracteres que

simbolizam as letras do alfabeto convencional e suas variações como os acentos, a pontuação,

os números, os símbolos matemáticos e químicos e até as notas musicais. Para os cegos

poderem ler números ou partituras musicais, por exemplo, basta que se acrescente antes do

sinal de 6 pontos um sinal de número ou de música.

O Braille antes do invento da máquina Braille, e ainda no Brasil por razões

econômicas, era escrito com reglete e punção. Como isso é feito? Numa prancheta de madeira

de 30x20 cm prende-se o papel e se encaixa a reglete, uma reguinha de metal com pequenos

retângulos vazados (as celas) onde estão os pontos a serem impressos com o estilete chamado

de punção (a caneta do cego). É um processo relativamente complicado, lento e trabalhoso,

pois o texto deve ser escrito da direita para a esquerda e lido pelo verso, onde aparecem em

relevo os pontos pressionados pelo punção.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 5: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

A LINGUAGEM DOS CEGOS

Desde a antiguidade, a cegueira vem sendo considerada como algo de difícil

compreensão. As pessoas cegas, segundo Lorimer (2000), foram sempre consideradas como

incapazes e dependentes, maltratadas e negligenciadas, sendo que algumas civilizações

chegavam mesmo a eliminá-las. Somente há 200 anos atrás é que a sociedade começou a

perceber que as pessoas cegas e com baixa visão poderiam ser educadas e viver

independentemente. Este percurso histórico e a forma como a cegueira era considerada e

tratada em diversas regiões do mundo, o que será apresentado abaixo, ajudam-nos a

compreender as razões pelas quais a sociedade, em geral, ainda associa algumas profissões,

mitos e idéias pré-concebidas às pessoas cegas.

Na China, a cegueira era comum entre os moradores do deserto. A música era uma

alternativa para se ganhar a vida e, para isto, os cegos precisavam exercitar o ouvido e a

memória. Os japoneses, desde os tempos mais remotos, desenvolveram uma atitude mais

positiva com relação às necessidades das pessoas cegas, enfatizando a independência e a auto-

ajuda. Além da música, poesia e religião, o trabalho com massagem foi encorajado. Muitos

cegos se transformaram em contadores de história e historiadores, gravando na memória os

anais do império, os feitos dos grandes homens e das famílias tradicionais, sendo

encarregados de contar isto para outras pessoas, perpetuando, assim, a tradição.

O Egito era conhecido na antiguidade como o país dos cegos, tal a incidência da

cegueira, devido ao clima quente e à poeira. Referências à cegueira e às doenças nos olhos

foram encontradas em papirus e os médicos que cuidavam dos olhos se tornaram famosos na

região mediterrânea.

Na Grécia, algumas pessoas cegas eram veneradas como profetas, porque o

desenvolvimento dos outros sentidos era considerado como miraculoso. Em Roma, alguns

cegos se tornaram pessoas letradas, advogados, músicos e poetas. Cícero, por exemplo, orador

e escritor romano, aprendeu Filosofia e Geometria com um tutor cego chamado Diodotus.

Entretanto, a grande maioria vivia na mais completa penúria, recebendo alimentos e roupas

como esmola. Os meninos se tornavam escravos e as meninas prostitutas.

No Reino Unido, as primeiras referências às pessoas cegas datam do século XII, e

mencionam um refúgio para homens cegos, perto de Londres, aberto por William Elsing. Os

cegos eram geralmente mendigos que viviam da caridade alheia.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 6: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Na Idade Média, mais atenção foi dada às pessoas pobres e deficientes, principalmente

devido à lei - "The Poor Law Act", lavrada em 1601, que mencionava, explicitamente, os

pobres, os incapazes e os cegos, prevendo abrigo e suporte para estas pessoas. Desta data em

diante e por mais uns duzentos anos, os cegos viveram em suas casas ou em instituições, os

chamados "asylums", contando com algum suporte dos governantes.

Na Bíblia, a cegueira é sinônimo de escuridão, de pecado. Deus é luz, é claridade. O

pecado é a escuridão, a ausência de Deus. Segundo Hull (2000), a Bíblia foi escrita por

pessoas que enxergam e os textos bíblicos traduzem imagens negativas da cegueira e da

deficiência. A cegueira é símbolo da ignorância, de pecado e falta de fé. Além disto, é

considerada como um castigo enviado por Deus. A cura do cegos, na Bíblia, está sempre

ligada à remissão dos pecados, à confissão dos pecados. De uma certa forma, conforme

comentado por Barasch (2001), a Bíblia reflete o pensamento cultural da antiguidade em

relação à cegueira, tendo grande influência sobre artistas e escritores da época e também

colaborando para manter o círculo vicioso do preconceito.

Em suma, a história, as lendas, a literatura e a própria Bíblia contribuíram para

perpetuar as idéias negativas, os mitos sobre o efeito da falta da visão na vida das pessoas. A

falta de conhecimento e entendimento sobre o tema, segundo Hutchinson et al (1997), acaba

resultando em uma limitação das oportunidades que são oferecidas às pessoas cegas e com

baixa visão. A cegueira e a baixa visão não deveriam ser barreiras para uma participação

maior na sociedade e na escola. Estas barreiras são, na grande maioria, construídas pela

própria sociedade, sendo traduzidas na linguagem utilizada para descrever as pessoas com

deficiência pela cultura da normalidade, que discuto a seguir.

A LINGUAGEM DO PRECONCEITO E OS SIGNIFICADOS DA CEGUEIRA.

Além da influência dos fatores históricos, já mencionados anteriormente, a forma

como a mídia usa os significados da deficiência e mostra a figura do cego e das pessoas com

deficiência, infiltra-se na vida das pessoas, contribuindo para a construção dos sentidos

negativos e a manutenção do estigma, criando um círculo vicioso.

Com o objetivo de investigar os significados e referências à cegueira, Hull (2001) fez

uma busca em um conceituado jornal britânico, The Guardian, cuja linha editorial se preocupa

com justiça social e educação. Hull coletou 750 usos da palavra, classificando-os quanto ao

significado literal e metafórico. O que mais chamou a sua atenção foi o uso metafórico,

carregado de um significado extremamente negativo, que relacionava a cegueira à ignorância,

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 7: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

à indiferença, à falta de sensibilidade, à falta de inteligência crítica e à violência. Os poucos

usos metafóricos que não foram negativos se referiam ao amor e à justiça.

Hull comenta que, mesmo sendo a cultura britânica tão preocupada com o uso

discriminatório das palavras, evitando aquelas que possam traduzir preconceito, o mesmo

cuidado não foi verificado com relação à cegueira.

As imagens negativas, não somente na língua inglesa, vão se infiltrando na vida,

atitudes e linguagem, colaborando para manter o estigma e a discriminação com relação à

deficiência. Os discursos carregam e perpetuam essa posição negativa, vetando ao cego e às

pessoas com outras deficiências o direito à participação plena na sociedade.

Também no cinema e na televisão, a figura da pessoa com deficiência está,

geralmente, ligada a alguma figura monstruosa em filmes de suspense ou terror, ao humor

grotesco, à amargura e desesperança em dramas. A deficiência é, assim, retratada com um

teor melodramático e, segundo Longmore (2003), nos filmes de terror e suspense, onde fazem

o papel de monstros, o texto que está implícito traduz o medo e a aversão pelas pessoas com

deficiência.

Estes personagens, geralmente, aparecem com alguma deformidade física e, nas

caracterizações de criminosos, também com uma deformidade da alma. Estas imagens

refletem o que Goffman (1988) descreve como a essência do estigma: a pessoa que é

estigmatizada é considerada, de alguma forma, como desumana e exemplifica o efeito

multiplicador e devastador do preconceito.

Nesse caso, os vilões com deficiência destilam o seu ódio e o rancor pelo seu destino

cruel e despejam sua ira naqueles que escaparam desta sina, numa retaliação à normalidade. O

exposto acima reflete e reforça três preconceitos muito comuns: a deficiência como uma

punição para o mal; as pessoas com deficiência são amargas devido ao seu destino; as pessoas

com deficiência sentem inveja das pessoas normais e querem destruí-las. A história,

entretanto, revela uma realidade diferente em que as pessoas é que foram, durante muito

tempo e, de uma certa forma, até hoje, os algozes das pessoas com deficiência.

Além do vilão e do monstro, as pessoas com deficiência também começaram a

aparecer na televisão e no cinema, principalmente nos anos 70 e 80, como pessoas

desajustadas, que não se conformam com a deficiência imposta devido a algum acidente ou à

guerra. A culpa de seus males está sempre neles próprios e não no ambiente restritivo da

sociedade e na atitude preconceituosa das pessoas. Estes dramas ignoram ou distorcem as

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 8: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

possibilidades de inclusão social e uso da moderna tecnologia assistiva, apresentando a morte

como uma das únicas soluções possíveis para tanto sofrimento.

Ultimamente, a televisão, jornais e revistas, têm mostrado pessoas com deficiência que

"superaram" sua deficiência, tornando-se profissionais bem sucedidos ou pessoas ativas em

busca de seus objetivos pessoais e profissionais. Estas histórias são a antítese dos criminosos,

dos monstros e das pessoas desajustadas mostradas nos filmes, mas ainda assim, traduzem

uma visão distorcida da deficiência, considerando-a como um problema emocional de

aceitação pessoal. O sucesso ou fracasso de uma pessoa com deficiência estaria ligado muito

mais a fatores individuais, como coragem, determinação e equilíbrio emocional, deixando de

levar em consideração o estigma, a discriminação, a limitação e falta de oportunidades

impostos pela sociedade.

As questões discutidas, as quais incluem o conhecimento sobre a cegueira, as raízes

históricas da deficiência e a linguagem do preconceito, me possibilitaram entender os sentidos

que eu, professora e pesquisadora, atribuía e atribuo à cegueira, para entender a constituição

do sujeito cego e com baixa visão e para analisar os sistemas de atividade, nos quais

participam, dentre eles a sala de aula. Além disso, permitiram que eu pudesse entender melhor

as possíveis barreiras para a inclusão escolar e social.

O SISTEMA BRAILLE

O Braille é um sistema de leitura tátil e escrita para pessoa cega, que consta da

combinação de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. O espaço

ocupado pelos seis pontos forma o que se convencionou chamar "cela Braille". Para facilitar a

sua identificação, os pontos são numerados da seguinte forma: do alto para baixo, coluna da

esquerda: pontos 1, 2, 3; do alto para baixo, coluna da direita: pontos 4, 5, 6.

As diferentes combinações desses seis pontos permitem a formação de sessenta e três

símbolos Braille. As dez primeiras letras do alfabeto são formadas pelas diversas

combinações possíveis dos quatro pontos superiores (1-2-4-5); as dez letras seguintes são as

combinações das dez primeiras letras, acrescidas do ponto 3 e formam a segunda linha de

sinais. A terceira linha é formada pelo acréscimo dos pontos 3 e 6 às combinações da primeira

linha.

Os símbolos da primeira linha são as dez primeiras letras do alfabeto latino (a-j). Esses

mesmos sinais, na mesma ordem, assumem as características dos valores numéricos 1-0,

quando precedidos do sinal de número, formado pelos pontos 3-4-5-6.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 9: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

No ocidente, vinte e seis sinais são utilizados para o alfabeto; dez para os sinais

internacionais de pontuação, que correspondem aos dez símbolos da quinta linha, localizados

na parte inferior da cela Braille (pontos 2-3-5-6). Os vinte e sete sinais restantes são

destinados às necessidades específicas de cada língua (letras acentuadas, por exemplo) e para

abreviaturas.

Doze anos após a invenção desse sistema, Louis Braille acrescentou a letra "w" ao

décimo sinal da quarta linha para atender às necessidades da língua inglesa.

O Sistema Braille é utilizado por extenso, isto é, escrevendo-se a palavra letra por

letra, ou de forma abreviada, adotando-se códigos especiais de abreviaturas para cada língua

ou grupo lingüístico. O Braille por extenso é denominado grau 1. O grau 2 é a forma

empregada para representar, de maneira abreviada, as conjunções, preposições, pronomes,

prefixos, sufixos, grupos de letras que são comumente encontradas nas palavras de uso

corrente.

A principal razão do emprego da forma abreviada é reduzir o volume dos livros em

Braille e permitir o maior rendimento na leitura e na escrita. Uma série de abreviaturas mais

complexas forma o grau 3, que necessita de um conhecimento profundo da língua, uma boa

memória e uma sensibilidade tátil muito desenvolvida por parte do leitor cego.

O tato é também um fator decisivo na capacidade de utilização do Braille.

O Sistema Braille aplica-se à estenografia, à música e às notações científicas em geral,

através da utilização das sessenta e três combinações para códigos especiais.

O Sistema Braille permite uma forma de escrita eminentemente prática. A pessoa cega

pode satisfazer o seu desejo de comunicação. Abre-lhe os caminhos do conhecimento

literário, científico e musical, permitindo-lhe, ainda, a possibilidade de manter uma

correspondência pessoal e a ampliação de suas atividades profissionais.

COMO O BRAILLE É PRODUZIDO?

O aparelho de escrita usado por Louis Braille consistia de uma prancha, uma régua

com duas linhas de retângulos vazados correspondentes às celas Braille - que se encaixa, pelas

extremidades laterais, na prancha - e de um punção. O papel era introduzido entre a prancha e

a régua, o que permitia à pessoa cega, pressionando o papel com o punção, escrever os pontos

em relevo.

Hoje, as regletes, uma variação desse aparelho de escrita de Louis Braille, são ainda

muito usadas pelas pessoas cegas. Todas as regletes, quer sejam modelos de mesa ou de

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 10: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

bolso, consistem essencialmente de duas placas de metal ou plástico, fixas de um lado com

dobradiças, de modo a permitir a introdução do papel.

A placa superior funciona como a primitiva régua e possui os retângulos vazados

correspondentes às celas Braille. Diretamente sob cada retângulo vazado, a placa inferior

possui, em baixo-relevo, a configuração da cela Braille. Ponto por ponto, a pessoa cega, com

o punção, forma o símbolo Braille correspondente às letras, números ou símbolos desejados.

Na reglete, escreve-se o Braille da direita para a esquerda, na seqüência normal de

letras ou símbolos. A leitura é feita normalmente da esquerda para a direita. Conhecendo-se a

posição dos pontos correspondentes a cada símbolo, torna-se fácil tanto a leitura quanto a

escrita feita em regletes. A escrita na reglete pode tornar-se tão automática para o cego quanto

a escrita com o lápis para a pessoa de visão normal.

Além da reglete, o Braille pode ser produzido através de máquinas especiais de

datilografia Braille, que contêm seis teclas para representação do símbolo. O papel é fixado e

enrolado em rolo comum, deslizando normalmente quando pressionado o botão de mudança

de linha. O toque de uma ou mais teclas simultaneamente produz a combinação dos pontos

em relevo, correspondente ao símbolo desejado. O Braille é produzido da esquerda para a

direita, podendo ser lido normalmente sem a retirada do papel da máquina. Existem diversos

tipos de máquinas de datilografia Braille, tendo sido a primeira delas inventada por Frank H.

Hall, em 1892, nos Estados Unidos.

Hoje, as imprensas Braille produzem livros a partir de matrizes de metal ou

formulários contínuos, utilizando máquinas eletrônicas com sistemas informatizados. A

impressão do relevo pode ser feita dos dois lados do papel ou da matriz. Esse é o Braille

interpontado: os pontos são dispostos de tal forma que a impressão de uma lado não coincide

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 11: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

com a impressão da outra face, permitindo uma leitura corrente, um aproveitamento melhor

do papel, reduzindo o volume dos livros transcritos.

Novos recursos para a produção do Braille têm sido empregados de acordo com os

avanços tecnológicos de nossa era. O Braille, hoje, é produzido por equipamentos e sistemas

informatizados.

COMO O BRAILLE É LIDO?

A maioria dos leitores cegos lê preferencialmente com a ponta do dedo indicador de

uma das mãos. Um número indeterminado de pessoas, entretanto, que não são ambidestras em

outras atividades, podem ler o Braille com as duas mãos. Algumas pessoas utilizam o dedo

médio ou anular, ao invés do indicador. Os leitores mais experientes comumente utilizam o

dedo indicador da mão direita, com uma leve pressão sobre os pontos em relevo, o que lhes

permite uma ótima percepção, identificação e discriminação dos símbolos Braille.

Este fato acontece somente através da estimulação consecutiva dos dedos pelos pontos

em relevo. Essa estimulação ocorre muito mais quando se movimenta a mão ou mãos sobre

cada linha escrita num movimento da esquerda para a direita. Alguns leitores são capazes de

ler cento e vinte e cinco palavras por minuto com uma só mão. Alguns outros, que lêem com

as duas mãos, conseguem dobrar a sua velocidade de leitura, atingindo duzentas e cinqüenta

palavras por minuto.

Em geral, a média atingida pela maioria de leitores é de cento e quatro palavras por

minuto. É a simplicidade do Braille que permite essa velocidade de leitura. Os pontos em

relevo permitem a compreensão instantânea das letras como um todo, uma função

indispensável ao processo da leitura.

Para a leitura tátil corrente, os pontos em relevo devem obedecer às medidas padrão e

a dimensão da cela Braille deve corresponder à unidade perceptual tátil da ponta dos dedos.

Todos os caracteres devem possuir a mesma dimensão, obedecendo aos espaçamentos

regulares entre as letras e entre as linhas. A posição de leitura deve ser confortável, de modo a

que as mãos dos leitores fiquem ligeiramente abaixo de seus cotovelos.

O SISTEMA BRAILLE NO MUNDO

Inventado em 1825, o Sistema Braille foi empregado inicialmente por Louis Braille e

seus alunos no Instituto Real de Jovens Cegos de Paris. Em 1829, a administração do Instituto

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 12: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Real de Jovens Cegos publicou, com a intenção de difundir e divulgar oficialmente o sistema,

um livro intitulado "Método de palavras, escritas, música e canções por meio de sinais, para

uso dos cegos e adaptados para eles". Uma nova edição desse método foi feita em 1837 com

algumas modificações.

O sistema de sessenta e três sinais que conhecemos até hoje foi então codificado.

Somente em 1847, entretanto, devido à política interna do próprio Instituto Real, voltou a ser

utilizado o Sistema Braille para a impressão de livros por essa instituição, sendo proclamado

oficialmente. Em 1854, o Instituto publicou em Braille o primeiro trabalho em língua

estrangeira: um livro de leitura em português. Os recursos para essa impressão foram doação

pessoal do Imperador do Brasil.

Paris finalmente venceu e outras cidades da França foram seguindo seus passos na

medida em que as escolas especiais eram criadas nas províncias. A adoção do Sistema Braille

na Europa foi mais lenta. Em 1860, foi impresso o primeiro livro em Sistema Braille fora da

França, em Lousane, na Suíça. Apesar da incontestável vantagem do Braille, a completa

adoção do sistema levou muitos anos.

De 1860 a 1880, o Sistema Braille foi adotado em toda a Europa, em sua forma

original, com pequenas alterações devidas às particularidades de cada língua. Mas a luta pela

introdução do sistema em outros países fora da Europa esta longe de terminar.

Na América do Norte, o Sistema Braille foi introduzido em 1860, mas houve muita

relutância em sua aceitação. Somente em 1918, após quinze anos de trabalho de um comitê

especial, a unificação foi possível. O comitê aceitou o Braille francês inicial, restabelecendo a

uniformidade não só no próprio país como entre os Estados Unidos e a Europa. Em 1932, foi

feito um acordo para o estabelecimento da unificação do Sistema Braille padrão da língua

inglesa.

Na Ásia, as primeiras adaptações do Braille às línguas não européias datam do período

de 1870 a 1880. O Braille foi adaptado inicialmente às línguas mais conhecidas e toda a honra

da introdução do Braille na Ásia, África e nos territórios mais longínquos cabe aos

missionários europeus e americanos.

Nos seus postos avançados e isolados, eles procuraram dar atendimento aos cegos que

chegavam às missões e, sem premeditação, criaram as primeiras escolas para cegos nessas

regiões. Para proporcionar um ensino sistemático, os missionários fizeram o melhor que lhes

foi possível para adaptar o Braille aos seus dialetos.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 13: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

O Braille no Extremo Oriente teve grande dificuldade para ser introduzido. Foi preciso

muito esforço e criatividade para condensar os longos alfabetos a fim de exprimir os milhares

de ideogramas utilizando as sessenta e três combinações do sistema.

A introdução do Braille foi então sendo feita através das adaptações necessárias a cada

língua ou dialeto, de uma forma desordenada. Entretanto, em 1949, a Índia fez um apelo à

UNESCO para que essa organização mundial contribuísse de alguma forma positiva para a

racionalização do Braille nas diversas partes do mundo.

Os sessenta e dois anos de discussões e estudos sobre as diversas aplicações do Braille

foram sem dúvida inevitáveis. Mas, diante dessa solicitação da Índia, o Conselho Executivo

da UNESCO reconheceu a importância internacional do problema, decidindo que aquele

organismo deveria contribuir ativamente para encontrar uma solução satisfatória tanto aos

governos quanto aos cegos de todo o mundo. A UNESCO aceitou o desafio e começou os

seus trabalhos sobre o Sistema Braille em primeiro de julho de 1949, terminando-o em 31 de

dezembro de 1951.

Em março de 1950, realizou-se a Conferência Internacional de Braille, em Paris. Para

essa reunião, foram convidados especialistas em Braille das diversas zonas lingüísticas,

especialistas na educação de cegos e dirigentes de imprensas Braille.

Os técnicos convocados pronunciaram-se a favor de um Sistema Braille mundial

unificado e estabeleceram os princípios sob os quais esse sistema deveria ser baseado. O

estabelecimento do Braille mundial e as modalidades de sua aplicação nas principais línguas

constituiu a fase seguinte dos trabalhos.

A Conferência Geral da UNESCO autorizou a convocação de reuniões regionais para

a elaboração de um código Braille uniforme aos países de fala árabe como Egito, Iraque,

Jordânia, Líbano, Paquistão, Irã e Síria, além de Sri-Lanka, Índia e Malásia. Outras

conferências regionais também foram realizadas para a unificação do Braille abreviado para o

português e espanhol.

Uma das recomendações da Conferência Geral da UNESCO, da qual participou um

delegado da Fundação Dorina Nowill para Cegos, reunida em março de 1950 em Paris, era

que fosse criado um Conselho Mundial de Braille para promover a adoção do Sistema Braille

unificado para o uso normal e códigos especiais de matemática e música.

O Conselho Executivo da UNESCO, levando em consideração esse pedido, autorizou

em outubro de 1951, o funcionamento provisório, sob a forma de um Comitê Consultivo, do

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 14: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Conselho Mundial de Braille diretamente ligado à UNESCO, que passou a funcionar

oficialmente em 1952.

A primeira comissão indicada para estuda a criação do Conselho definiu a sua

composição, as suas funções e os seus estatutos, propondo também os membros que deveriam

fazer parte do mesmo. Atualmente, o Conselho Mundial de Braille faz parte integrante da

União Mundial de Cegos, como um de seus comitês.

Todas essas resoluções, explicações e instruções sobre o uso do Braille por extenso e

abreviado foram publicadas pela UNESCO em 1954 no livro "A escrita Braille no mundo".

Essa publicação encontra-se esgotada. Em 1975, foi indicada uma nova comissão do então

Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos para estudar a edição desse mesmo livro,

atualizado e revisto.

A música também foi objeto de estudos, a partir de 1929, por ocasião da realização da

Conferência Internacional de Braille. Entretanto, foi impossível um acordo total sobre o

código de notações musicais. Nova conferência foi organizada pela UNESCO, pela União

Mundial de Cegos e pelo Conselho Mundial de Braille, em Paris, em 1954, da qual participou

um delegado brasileiro, representante da Fundação Dorina Nowill para Cegos.

Como conseqüência do trabalho dos especialistas reunidos nessa conferência, surgiu o

"Manual Internacional de Notações Musicais em Braille". Essa publicação, compilada por H.

V. Spanner e publicada pelo Conselho Mundial de Cegos, estabeleceu normas gerais para a

transcrição de músicas para o Sistema Braille. Embora não seja de uso universal, a maioria

dos países tomam-no como base para a aplicação do Sistema Braille à música, em todos os

seus aspectos e para todos os instrumentos musicais.

O SISTEMA BRAILLE NO BRASIL

O Sistema Braille, utilizado universalmente na leitura e na escrita por pessoas cegas,

foi inventado na França por Louis Braille, um jovem cego, reconhecendo-se o ano de 1825

como o marco dessa importante conquista para a educação e a integração dos deficientes

visuais na sociedade.

Antes desse histórico invento, registram-se inúmeras tentativas em diferentes países,

no sentido de se encontrarem meios que proporcionassem às pessoas cegas condições de ler e

escrever. Dentre essas tentativas, destaca-se o processo de representação dos caracteres

comuns com linhas em alto-relevo, adaptado pelo francês Valentin Haüy, fundador da

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 15: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

primeira escola para cegos no mundo, em 1784, na cidade de Paris, denominada Instituto Real

dos Jovens Cegos.

Foi nesta escola, onde os estudantes cegos tinham acesso à leitura apenas através do

processo de Valentin Haüy, que estudo Louis Braille. Até então, não havia recurso que

permitisse à pessoa cega comunicar-se pela escrita individual.

Louis Braille, ainda jovem estudante, tomou conhecimento de uma invenção

denominada sonografia ou código militar, desenvolvida por Charles Barbier, oficial do

exército francês. O invento tinha como objetivo possibilitar a comunicação noturna entre

oficiais nas campanhas de guerra. Baseava-se em doze sinais, compreendendo linhas e pontos

salientes, representando sílabas na língua francesa. O invento de Barbier não logrou êxito no

que se propunha, inicialmente. O bem intencionado oficial levou seu invento para ser

experimentado entre as pessoas cegas do Instituto Real dos Jovens Cegos.

A significação tátil dos pontos em relevo do invento de Barbier foi a base para a

criação do Sistema Braille, aplicável tanto na leitura como na escrita por pessoas cegas e cuja

estrutura diverge fundamentalmente do processo que inspirou seu inventor. O Sistema Braille,

utilizando seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas, possibilita a formação de

sessenta e três símbolos diferentes que são empregados em textos literários nos diversos

idiomas, como também nas simbologias matemática e científica, em geral, na música e,

recentemente, na informática.

A partir da invenção do Sistema Braille, em 1825, seu autor desenvolveu estudos que

resultaram, em 1837, na proposta que definiu a estrutura básica do sistema, ainda hoje

utilizada mundialmente.

Comprovadamente o Sistema Braille teve plena aceitação por parte das pessoas cegas,

tendo-se registrado, no entanto, algumas tentativas para a adoção de outras formas de leitura e

escrita e, ainda outras, sem resultado prático, para aperfeiçoamento da invenção de Louis

Braille.

Apesar de algumas resistências mais ou menos prolongadas em outros países da

Europa e nos Estados Unidos, o Sistema Braille, por sua eficiência e vasta aplicabilidade, se

impôs definitivamente como o melhor meio de leitura e de escrita para as pessoas cegas.

Em 1878, um congresso internacional realizado em Paris, com a participação de onze

países europeus e dos Estados Unidos, estabeleceu que o Sistema Braille deveria ser adotado

de forma padronizada, para uso na literatura, exatamente de acordo com a proposta de

estrutura do sistema, apresentada por Louis Braille em 1837, já referida anteriormente.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 16: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Os símbolos fundamentais do Braille utilizados para as notações musicais foram

também apresentados pelo próprio Louis Braille na versão final dos estudos constantes da

proposta da estrutura do sistema concluída em 1837.

Hoje, a musicografia Braille é adotada uniformemente por todos os países. Para tanto,

contribuíram, principalmente, os congressos realizados em Colônia (Alemanha), 1888, em

Paris (França), 1929 e, finalmente, num congresso realizado em Nova Iorque, 1954, onde

foram adaptados símbolos, de acordo com novas exigências da musicografia.

A aplicação do Sistema Braille à matemática foi também proposta por seu inventor na

versão do sistema editada em 1837. Nesta, foram apresentados os símbolos fundamentais para

os algarismos, bem como as convenções para a aritmética e para a geometria.

Esta simbologia fundamental, entretanto, nem sempre foi adotada nos países que

vieram a utilizar o Sistema Braille, verificando-se, posteriormente, diferenças regionais e

locais mais ou menos acentuadas, chegando a prevalecer, como hoje, diversos códigos para a

matemática e as ciências em todo o mundo.

Com o propósito de unificar a simbologia Braille para a matemática e as ciências,

realizou-se na cidade de Viena, em 1929, um congresso, reunindo países da Europa e os

Estados Unidos. Apesar desse esforço, a falta de acordo fez com que continuassem a

prevalecer as divergências, que se acentuaram, face à necessidade de adoção de novos

símbolos, determinada pela evolução técnica e científica do século XX.

O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, criado em 1952, hoje União

Mundial de Cegos, com apoio da UNESCO, passou a se preocupar, através de seus

especialistas, com o problema da unificação da simbologia matemática e científica, em nível

mundial.

Com esse propósito, a Organização Nacional de Cegos da Espanha (ONCE), em

princípios da década de 1970, desenvolveu estudos, através da análise e comparação de

diferentes códigos em uso no mundo, para, finalmente, propor um código unificado que

denominou "Notación Universal".

A Conferência Ibero-Americana para a unificação do Sistema Braille, realizada em

Buenos Aires, 1973, foi uma tentativa de se estabelecer um código único para países de língua

castelhana e portuguesa. Na oportunidade, foram apresentados três trabalhos, elaborados pela

Espanha, Argentina e Brasil. A acentuada divergência entre os códigos inviabilizou um

desejável acordo.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 17: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

O Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, reunido por seu Comitê Executivo

na cidade de Riyadh, Arábia-Saudita (1977), criou o Subcomitê de Matemáticas e Ciências,

integrado por representantes da Espanha, Estados Unidos, União Soviética, Alemanha

Ocidental e Inglaterra, com a finalidade principal de promover, em diferentes países, estudos

e experiências de âmbito nacional e regional, visando a unificação dos diversos códigos em

uso.

Em nível de países de língua castelhana, finalmente, foi possível um acordo para a

unificação da simbologia matemática, celebrado em 1987 na cidade de Montevidéu, durante

uma reunião de representantes de imprensas Braille dos países que falam o referido idioma. A

esta reunião compareceram representantes brasileiros como observadores.

Em nível mundial, o esforço para a unificação dos códigos matemáticos e científicos

ainda não alcançou o êxito desejado.

Especialistas no Sistema Braille do Brasil, especialmente ligados ao Instituto

Benjamin Constant e à, hoje, Fundação Dorina Nowill para Cegos, a partir da década de 1970,

passaram a se preocupar com as vantagens que adviriam da unificação dos códigos de

matemática e das ciências, uma vez que a tabela de Taylor adotada no Brasil desde a década

de 1940, já não vinha atendendo satisfatoriamente à transcrição em Braille, sobretudo, após a

introdução dos símbolos da matemática moderna, revelando-se esta tabela insuficiente para as

representações matemáticas e científicas em nível superior.

Deste modo, o Brasil participou inicialmente e, posteriormente acompanhou os

estudos desenvolvidos pelo Comitê de especialistas da ONCE, e que resultaram no Código de

Matemática Unificado.

Em 1991 foi criada a Comissão para Estudo e Atualização do Sistema Braille em uso

no Brasil, com a participação de especialistas representantes do Instituto Benjamin Constant,

da Fundação Dorina Nowill para Cegos, do Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos,

da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais e da Federação Brasileira de

Entidades de Cegos, com o apoio da União Brasileira de Cegos e o patrocínio do Fundo de

Cooperação Econômica para Ibero américa - ONCE-ULAC. Os estudos desta comissão foram

concluídos em 18 de maio de 1994, constando das principais resoluções a de se adotar no

Brasil o Código Matemático Unificado para a Língua Castelhana, com as necessárias

adaptações à realidade brasileira.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 18: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Por orientação da União Brasileira de Cegos, especialistas da Comissão na área da

matemática vêm realizando estudos para o estabelecimento de estratégias para a implantação,

em todo o território brasileiro, da nova simbologia matemática unificada.

Com o patrocínio financeiro da Organização Nacional dos Cegos da Espanha (ONCE),

a Fundação Dorina Nowill para Cegos (FDNC), em 1998, publicou a primeira edição em

Braille do Código Matemático Unificado para a Língua Portuguesa.

Sob o ponto de vista histórico, a utilização do Sistema Braille no Brasil pode ser

abordada em três períodos distintos:

1854-1942

Em 1854 o Sistema Braille foi adotado no Imperial Instituo dos Meninos Cegos (hoje,

Instituto Benjamin Constant), sendo assim, a primeira instituição na América Latina a utilizá-

lo. Deve-se isto aos esforços de José Álvares de Azevedo, um jovem cego brasileiro, que o

havia aprendido na França.

Diferentemente de alguns países, o Sistema Braille teve plena aceitação no Brasil,

utilizando-se praticamente toda a simbologia usada na França. A exemplo de outros países, o

Brasil passou a empregar, na íntegra, o código internacional de musicografia Braille de 1929.

1942-1963

Neste período verificaram-se algumas alterações na simbologia Braille em uso no

Brasil.

Para atender à reforma ortográfica da Língua Portuguesa de 1942, o antigo alfabeto

Braille de origem francesa foi adaptado às novas necessidades de nossa língua, especialmente

para a representação de símbolos indicativos de acentos diferenciais.

Destaca-se, ainda, a adoção da tabela Taylor de sinais matemáticos, de origem inglesa,

em substituição à simbologia francesa até então empregada.

A Portaria nº 552, de 13 de novembro de 1945, estabeleceu o Braille oficial para uso

no Brasil, além de um código de abreviaturas, da autoria do professor José Espínola Veiga.

Esta abreviatura teve uso restrito, entrando em desuso, posteriormente.

A Lei nº 4.169 de 04/12/1962, que oficializou as convenções Braille para uso na

escrita e leitura dos cegos, além de um código de contrações e abreviaturas Braille, veio criar

dificuldades para o estabelecimento de acordos internacionais, pelo que, especialistas

brasileiros optaram por alterar seus conteúdos, em benefício da unificação do Sistema Braille.

1963-1995

Os fatos marcantes deste período podem ser assim destacados:

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 19: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Em 05 de janeiro de 1963 foi assinado um convênio luso-brasileiro, entre as mais

importantes entidades dos dois países, para a padronização do Braille integral (grau 1) e para

a adoção, no Brasil, de símbolos do código de abreviaturas usado em Portugal.

Em relação à matemática, educadores e técnicos da FLCB e do IBC, principalmente,

complementaram a tabela Taylor com o acréscimo de símbolos Braille aplicáveis à teoria de

conjuntos.

A atuação profissional de pessoas cegas no campo da informática, a partir da década

de 1970, fez com que surgissem diferentes formas de representação em Braille desta matéria,

com base, sobretudo, em publicações estrangeiras. Em nível de imprensas e centro de

produção Braille, finalmente, foi acordada em 1994, a adoção de uma tabela unificada para a

informática.

Durante todo este período, o Brasil participou dos esforços do Conselho Mundial para

o Bem-Estar dos Cegos (hoje, União Mundial de Cegos) para atualização e a unificação do

Sistema Braille, como o demonstram a contribuição brasileira à Conferência Ibero-Americana

para Unificação do Sistema Braille (Buenos Aires, 1973), a participação de técnicos

brasileiros, como observadores, na Reunião de Imprensas Braille de Países de Língua

Castelhana (Montevidéu, 1987), a criação da Comissão para Estudo e Atualização do Sistema

Braille em uso no Brasil (1991-1994), a atuação de especialistas brasileiros na Conferência "O

Sistema Braille Aplicado à Língua Portuguesa" (Lisboa, 1994), além de outras iniciativas e

atividades desenvolvidas.

Destaque-se, em todo este período, o trabalho conjunto da, hoje, Fundação Dorina

Nowill para Cegos e do Instituto Benjamin Constant, através de seus especialistas, aos quais

se reuniram, muitas vezes, competentes profissionais de outras importantes entidades

brasileiras.

As tentativas de destacadas entidades de-e-para cegos, no sentido de se criar, em

âmbito federal, uma comissão nacional de Braille não foram bem sucedidas. O insucesso,

porém, foi certamente compensado pelo trabalho profícuo e harmonioso dos especialistas em

Braille do Brasil.

A União Brasileira de Cegos, na assembléia geral ordinária de 28 de agosto de 1995,

homologou a criação, no âmbito dessa entidade, da Comissão Brasileira do Braille,

constituída de cinco membros.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 20: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Os membros da Comissão deveriam atender aos critérios de serem, preferentemente,

usuários do Sistema Braille e de ter conhecimento e experiência reconhecidos no campo da

produção de material Braille e da educação de cegos.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 21: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

BIBLIOGRAFIA

AMERICAN FOUNDATION FOR THE BLIND. "Understanding Braille". New York, AFB,

1969.

FARREL, Gabriel. "The story of Blindness". Cambridge Harvard University Press, 1956.

GOFFMAN, E. 1988. Estigma: Notas sobre a manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de

Janeiro.

HENRI, Pierre. "La vie et l'oevre de Louis Braille". Paris, Presses Universitaires de France,

1952.

HULL,J. 2000. Do you think I am stupid? In Echoes: Justice, Peace and Creation News

(World Council of Churches), no 19/2001. Geneva. Switzerland.

HULL,J. 2000. Blindness and the Face of God: Toward a Theology of Disability. In Hans-

gerg Ziebertz et all (eds) The Human Image of God (Johannes A.Van Der Ven Festschrift)

Leiden, Brill, pp 21-229 ISBN 90 04 12031 9

HUTCHINSON, J. O., ATKINSON, K. & ORPWOOD, J. 1997. Breaking down Barriers -

Access to Further and Higher Education for Visually Impaired Students. Stanley Thornes

Publishers. Great Britain.

IRWIN, Robert B. "As I saw it". New York, American Foundation for the Blind, 1955.

LONGMORE, P. K. 2003. Why I burned my book and other essays on disability. Temple

University Press. Philadelphia. LORIMER, P. 2000. Reading by Touch - Trials, Battles and

Discoveries. National Federation of the Blind. Baltimore.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

Page 22: O sistema braille   uva

WWW.CURSORAIZES.COM.BR

LOOMIS, Madeleine Seymour. "The Braille reference book". New York, Harper & Brothers,

1942.

MACKENZIE, Sir Clutha. "L'éscriture Braille dans le monde". Paris, UNESCO, 1954.

ROBLI, Jean. "The reading fingers". New York, American Foundation for the Blind, 1955.

_____."Louis Braille". Londres, Royal National Institute for the Blind, 1975.

RODENBERG, Luis W. "The story of embossed books for the Blind". New York, American

Foundation for the Blind, 1955.

FRENCH, Richard Slayton. "From Homer to Helen Keller". New York, American Foundation

for the Blind, 1932.

Fonte: Extraído/adaptado da segunda edição do livro "LOUIS BRAILLE, SUA VIDA E

SEU SISTEMA" com a devida autorização de seus autores.

WWW.CURSORAIZES.COM.BR