O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES NA FORMA URBANA DE …

59
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO- PPGAU O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS The open spaces system in the urban form of Patos de Minas NAYARA CRISTINA ROSA AMORIM DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO PRROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DA FACULDADE DE ARQUITETURA URBANISMO E DESIGN DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO PROJETO, ESPAÇO E CULTURA LINHA DE PESQUISA: PROCESSOS URBANOS: PROJETO E TECNOLOGIA ORIENTAÇÃO: PROF. DR. GLAUCO DE PAULA COCOZZA UBERLÂNDIA 2015

Transcript of O SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES NA FORMA URBANA DE …

1 |

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA

PROGRAMA DE POacuteS GRADUACcedilAtildeO EM ARQUITETURA E URBANISMO- PPGAU

O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

The open spaces system in the urban form of Patos de Minas

NAYARA CRISTINA ROSA AMORIM

DISSERTACcedilAtildeO APRESENTADA AO PRROGRAMA DE POacuteS GRADUACcedilAtildeO EM

ARQUITETURA E URBANISMO DA FACULDADE DE ARQUITETURA URBANISMO E

DESIGN DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA PARA OBTENCcedilAtildeO DO

TIacuteTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO

AacuteREA DE CONCENTRACcedilAtildeO PROJETO ESPACcedilO E CULTURA

LINHA DE PESQUISA PROCESSOS URBANOS PROJETO E TECNOLOGIA

ORIENTACcedilAtildeO PROF DR GLAUCO DE PAULA COCOZZA

UBERLAcircNDIA

2015

2 |

3 |

AUTORIZO A REPRODUCcedilAtildeO E DIVULGACcedilAtildeO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETROcircNICO PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA DESDE DE QUE CITADA A FONTE

E-MAIL nayaraamorimarqgmailcom

4 |

AMORIM Nayara Cristiana Rosa O sistema de espaccedilos livres na forma urbana de Patos de

Minas Dissertaccedilatildeo apresentada a Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design da

Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2015

BANCA EXAMINADORA

APROVADO EM

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

5 |

DEDICATORIA

Dedico a todos aqueles que estiveram do meu lado

apoiando e auxiliando nesse processo de aprendizagem

Em especial ao meu noivo

6 |

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo financiamento

durante a pesquisa

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq pelo

financiamento da pesquisa maior na qual se insere essa dissertaccedilatildeo

Ao Grupo de Pesquisa QUAPAacute-SEL pela base metodoloacutegica e bibliograacutefica E em especial ao

grupo de pesquisa Neurb- Nuacutecleo de Estudos Urbanos pelas discussotildees e trocas de

informaccedilotildees

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU (FAUeD UFU)

incluindo todos os professores e principalmente a coordenaccedilatildeo e secretaria pelo empenho

em fazer crescer o curso e por toda assessoria prestada

Agradeccedilo ao Prof Dr Glauco Cocozza pela sabedoria compartilhada pelo tempo dedicado e

principalmente pelo incentivo

Aos professores Dr Eugecircnio Queiroga e Dr Carlos Loboda pelas consideraccedilotildees apontadas no

Exame de Qualificaccedilatildeo imprescindiacuteveis no desenvolvimento dessa pesquisa

Agrave minha matildee ao meu pai e aos meus irmatildeos Flaacutevia Janaina e Fabriacutecio que estiveram ao meu

lado durante todos os dias com paciecircncia incessante me alimentando com amor e forccedila

inestimaacuteveis Amo vocecircs

Ao Mathues namorado noivo e futuro esposo por todo o carinho paciecircncia e atenccedilatildeo

dedicados

Aos meus amigos pelo apoio e carinho

Aos meus colegas de mestrado pela companhia nos dias intensos de estudos e

principalmente por tornarem essa caminhada prazerosa

7 |

RESUMO

A pesquisa analisa a configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres na forma urbana de Patos de Minas uma cidade de meacutedio porte no interior do estado de Minas Gerais O espaccedilo livre eacute caracterizado como todo espaccedilo livre de edificaccedilatildeo e eacute um dos principais elementos morfoloacutegicos capazes de contribuir com a conservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da paisagem estruturar a forma urbana e conferir identidade agraves cidades O espaccedilo livre eacute um dos principais caracterizadores das diferentes paisagens urbanas presentes na cidade A partir do estudo da configuraccedilatildeo ecoloacutegica espacial fundiaacuteria e tipoloacutegica desses espaccedilos busca-se o entendimento de que todos cada um com suas caracteriacutesticas e funccedilotildees estatildeo interligados de maneira sistecircmica estruturando as funccedilotildees ambientais sociais culturais e de paisagem presentes na dinacircmica urbana Essa abordagem permite elaborar uma visatildeo sistecircmica da estrutura urbana na qual se observa natildeo apenas os conjuntos de espaccedilos livres mas tambeacutem suas interaccedilotildees e articulaccedilotildees com o edificado com a sociedade com o suporte fiacutesico e com a forma urbana

Palavras-chave Sistema de Espaccedilos Livres Forma Urbana Unidades de Paisagem Patos de

Minas

ABSTRACT

This research analyzes the configuration of the Open Spaces System in the urban form of Patos de Minas one medium-sized city in the state of Minas Gerais The open space is characterized like everyone open space of edification and is one of the main morphological elements able to contribute to the conservation and enhancement of the landscape organize the urban form and confer identity to the cities The open space is a major characterizer of the different urban landscapes present in the city Starting from the study of ecological setting spatial land ownership and typological of those spaces sought the understanding that everyone each one with its characteristics and functions are interconnected in a systemic way structuring the environmental function social cultural and landscape present in the urban dynamic This approach enables elaborate a systemic view of the urban structure in which it is observed not just the sets of open spaces but also their interactions and articulations with the edified with society with the physical support and with the urban form

Palavras-chave Open Spaces System Urban Form Landscape Units Patos de Minas

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

2 |

3 |

AUTORIZO A REPRODUCcedilAtildeO E DIVULGACcedilAtildeO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETROcircNICO PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA DESDE DE QUE CITADA A FONTE

E-MAIL nayaraamorimarqgmailcom

4 |

AMORIM Nayara Cristiana Rosa O sistema de espaccedilos livres na forma urbana de Patos de

Minas Dissertaccedilatildeo apresentada a Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design da

Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2015

BANCA EXAMINADORA

APROVADO EM

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

5 |

DEDICATORIA

Dedico a todos aqueles que estiveram do meu lado

apoiando e auxiliando nesse processo de aprendizagem

Em especial ao meu noivo

6 |

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo financiamento

durante a pesquisa

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq pelo

financiamento da pesquisa maior na qual se insere essa dissertaccedilatildeo

Ao Grupo de Pesquisa QUAPAacute-SEL pela base metodoloacutegica e bibliograacutefica E em especial ao

grupo de pesquisa Neurb- Nuacutecleo de Estudos Urbanos pelas discussotildees e trocas de

informaccedilotildees

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU (FAUeD UFU)

incluindo todos os professores e principalmente a coordenaccedilatildeo e secretaria pelo empenho

em fazer crescer o curso e por toda assessoria prestada

Agradeccedilo ao Prof Dr Glauco Cocozza pela sabedoria compartilhada pelo tempo dedicado e

principalmente pelo incentivo

Aos professores Dr Eugecircnio Queiroga e Dr Carlos Loboda pelas consideraccedilotildees apontadas no

Exame de Qualificaccedilatildeo imprescindiacuteveis no desenvolvimento dessa pesquisa

Agrave minha matildee ao meu pai e aos meus irmatildeos Flaacutevia Janaina e Fabriacutecio que estiveram ao meu

lado durante todos os dias com paciecircncia incessante me alimentando com amor e forccedila

inestimaacuteveis Amo vocecircs

Ao Mathues namorado noivo e futuro esposo por todo o carinho paciecircncia e atenccedilatildeo

dedicados

Aos meus amigos pelo apoio e carinho

Aos meus colegas de mestrado pela companhia nos dias intensos de estudos e

principalmente por tornarem essa caminhada prazerosa

7 |

RESUMO

A pesquisa analisa a configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres na forma urbana de Patos de Minas uma cidade de meacutedio porte no interior do estado de Minas Gerais O espaccedilo livre eacute caracterizado como todo espaccedilo livre de edificaccedilatildeo e eacute um dos principais elementos morfoloacutegicos capazes de contribuir com a conservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da paisagem estruturar a forma urbana e conferir identidade agraves cidades O espaccedilo livre eacute um dos principais caracterizadores das diferentes paisagens urbanas presentes na cidade A partir do estudo da configuraccedilatildeo ecoloacutegica espacial fundiaacuteria e tipoloacutegica desses espaccedilos busca-se o entendimento de que todos cada um com suas caracteriacutesticas e funccedilotildees estatildeo interligados de maneira sistecircmica estruturando as funccedilotildees ambientais sociais culturais e de paisagem presentes na dinacircmica urbana Essa abordagem permite elaborar uma visatildeo sistecircmica da estrutura urbana na qual se observa natildeo apenas os conjuntos de espaccedilos livres mas tambeacutem suas interaccedilotildees e articulaccedilotildees com o edificado com a sociedade com o suporte fiacutesico e com a forma urbana

Palavras-chave Sistema de Espaccedilos Livres Forma Urbana Unidades de Paisagem Patos de

Minas

ABSTRACT

This research analyzes the configuration of the Open Spaces System in the urban form of Patos de Minas one medium-sized city in the state of Minas Gerais The open space is characterized like everyone open space of edification and is one of the main morphological elements able to contribute to the conservation and enhancement of the landscape organize the urban form and confer identity to the cities The open space is a major characterizer of the different urban landscapes present in the city Starting from the study of ecological setting spatial land ownership and typological of those spaces sought the understanding that everyone each one with its characteristics and functions are interconnected in a systemic way structuring the environmental function social cultural and landscape present in the urban dynamic This approach enables elaborate a systemic view of the urban structure in which it is observed not just the sets of open spaces but also their interactions and articulations with the edified with society with the physical support and with the urban form

Palavras-chave Open Spaces System Urban Form Landscape Units Patos de Minas

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

3 |

AUTORIZO A REPRODUCcedilAtildeO E DIVULGACcedilAtildeO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETROcircNICO PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA DESDE DE QUE CITADA A FONTE

E-MAIL nayaraamorimarqgmailcom

4 |

AMORIM Nayara Cristiana Rosa O sistema de espaccedilos livres na forma urbana de Patos de

Minas Dissertaccedilatildeo apresentada a Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design da

Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2015

BANCA EXAMINADORA

APROVADO EM

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

5 |

DEDICATORIA

Dedico a todos aqueles que estiveram do meu lado

apoiando e auxiliando nesse processo de aprendizagem

Em especial ao meu noivo

6 |

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo financiamento

durante a pesquisa

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq pelo

financiamento da pesquisa maior na qual se insere essa dissertaccedilatildeo

Ao Grupo de Pesquisa QUAPAacute-SEL pela base metodoloacutegica e bibliograacutefica E em especial ao

grupo de pesquisa Neurb- Nuacutecleo de Estudos Urbanos pelas discussotildees e trocas de

informaccedilotildees

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU (FAUeD UFU)

incluindo todos os professores e principalmente a coordenaccedilatildeo e secretaria pelo empenho

em fazer crescer o curso e por toda assessoria prestada

Agradeccedilo ao Prof Dr Glauco Cocozza pela sabedoria compartilhada pelo tempo dedicado e

principalmente pelo incentivo

Aos professores Dr Eugecircnio Queiroga e Dr Carlos Loboda pelas consideraccedilotildees apontadas no

Exame de Qualificaccedilatildeo imprescindiacuteveis no desenvolvimento dessa pesquisa

Agrave minha matildee ao meu pai e aos meus irmatildeos Flaacutevia Janaina e Fabriacutecio que estiveram ao meu

lado durante todos os dias com paciecircncia incessante me alimentando com amor e forccedila

inestimaacuteveis Amo vocecircs

Ao Mathues namorado noivo e futuro esposo por todo o carinho paciecircncia e atenccedilatildeo

dedicados

Aos meus amigos pelo apoio e carinho

Aos meus colegas de mestrado pela companhia nos dias intensos de estudos e

principalmente por tornarem essa caminhada prazerosa

7 |

RESUMO

A pesquisa analisa a configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres na forma urbana de Patos de Minas uma cidade de meacutedio porte no interior do estado de Minas Gerais O espaccedilo livre eacute caracterizado como todo espaccedilo livre de edificaccedilatildeo e eacute um dos principais elementos morfoloacutegicos capazes de contribuir com a conservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da paisagem estruturar a forma urbana e conferir identidade agraves cidades O espaccedilo livre eacute um dos principais caracterizadores das diferentes paisagens urbanas presentes na cidade A partir do estudo da configuraccedilatildeo ecoloacutegica espacial fundiaacuteria e tipoloacutegica desses espaccedilos busca-se o entendimento de que todos cada um com suas caracteriacutesticas e funccedilotildees estatildeo interligados de maneira sistecircmica estruturando as funccedilotildees ambientais sociais culturais e de paisagem presentes na dinacircmica urbana Essa abordagem permite elaborar uma visatildeo sistecircmica da estrutura urbana na qual se observa natildeo apenas os conjuntos de espaccedilos livres mas tambeacutem suas interaccedilotildees e articulaccedilotildees com o edificado com a sociedade com o suporte fiacutesico e com a forma urbana

Palavras-chave Sistema de Espaccedilos Livres Forma Urbana Unidades de Paisagem Patos de

Minas

ABSTRACT

This research analyzes the configuration of the Open Spaces System in the urban form of Patos de Minas one medium-sized city in the state of Minas Gerais The open space is characterized like everyone open space of edification and is one of the main morphological elements able to contribute to the conservation and enhancement of the landscape organize the urban form and confer identity to the cities The open space is a major characterizer of the different urban landscapes present in the city Starting from the study of ecological setting spatial land ownership and typological of those spaces sought the understanding that everyone each one with its characteristics and functions are interconnected in a systemic way structuring the environmental function social cultural and landscape present in the urban dynamic This approach enables elaborate a systemic view of the urban structure in which it is observed not just the sets of open spaces but also their interactions and articulations with the edified with society with the physical support and with the urban form

Palavras-chave Open Spaces System Urban Form Landscape Units Patos de Minas

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

4 |

AMORIM Nayara Cristiana Rosa O sistema de espaccedilos livres na forma urbana de Patos de

Minas Dissertaccedilatildeo apresentada a Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design da

Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2015

BANCA EXAMINADORA

APROVADO EM

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

PROF DR __________________________________________ INSTITUICcedilAtildeO ___________

JULGAMENTO _____________________________________________________________

ASSINATURA ______________________________________________________________

5 |

DEDICATORIA

Dedico a todos aqueles que estiveram do meu lado

apoiando e auxiliando nesse processo de aprendizagem

Em especial ao meu noivo

6 |

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo financiamento

durante a pesquisa

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq pelo

financiamento da pesquisa maior na qual se insere essa dissertaccedilatildeo

Ao Grupo de Pesquisa QUAPAacute-SEL pela base metodoloacutegica e bibliograacutefica E em especial ao

grupo de pesquisa Neurb- Nuacutecleo de Estudos Urbanos pelas discussotildees e trocas de

informaccedilotildees

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU (FAUeD UFU)

incluindo todos os professores e principalmente a coordenaccedilatildeo e secretaria pelo empenho

em fazer crescer o curso e por toda assessoria prestada

Agradeccedilo ao Prof Dr Glauco Cocozza pela sabedoria compartilhada pelo tempo dedicado e

principalmente pelo incentivo

Aos professores Dr Eugecircnio Queiroga e Dr Carlos Loboda pelas consideraccedilotildees apontadas no

Exame de Qualificaccedilatildeo imprescindiacuteveis no desenvolvimento dessa pesquisa

Agrave minha matildee ao meu pai e aos meus irmatildeos Flaacutevia Janaina e Fabriacutecio que estiveram ao meu

lado durante todos os dias com paciecircncia incessante me alimentando com amor e forccedila

inestimaacuteveis Amo vocecircs

Ao Mathues namorado noivo e futuro esposo por todo o carinho paciecircncia e atenccedilatildeo

dedicados

Aos meus amigos pelo apoio e carinho

Aos meus colegas de mestrado pela companhia nos dias intensos de estudos e

principalmente por tornarem essa caminhada prazerosa

7 |

RESUMO

A pesquisa analisa a configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres na forma urbana de Patos de Minas uma cidade de meacutedio porte no interior do estado de Minas Gerais O espaccedilo livre eacute caracterizado como todo espaccedilo livre de edificaccedilatildeo e eacute um dos principais elementos morfoloacutegicos capazes de contribuir com a conservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da paisagem estruturar a forma urbana e conferir identidade agraves cidades O espaccedilo livre eacute um dos principais caracterizadores das diferentes paisagens urbanas presentes na cidade A partir do estudo da configuraccedilatildeo ecoloacutegica espacial fundiaacuteria e tipoloacutegica desses espaccedilos busca-se o entendimento de que todos cada um com suas caracteriacutesticas e funccedilotildees estatildeo interligados de maneira sistecircmica estruturando as funccedilotildees ambientais sociais culturais e de paisagem presentes na dinacircmica urbana Essa abordagem permite elaborar uma visatildeo sistecircmica da estrutura urbana na qual se observa natildeo apenas os conjuntos de espaccedilos livres mas tambeacutem suas interaccedilotildees e articulaccedilotildees com o edificado com a sociedade com o suporte fiacutesico e com a forma urbana

Palavras-chave Sistema de Espaccedilos Livres Forma Urbana Unidades de Paisagem Patos de

Minas

ABSTRACT

This research analyzes the configuration of the Open Spaces System in the urban form of Patos de Minas one medium-sized city in the state of Minas Gerais The open space is characterized like everyone open space of edification and is one of the main morphological elements able to contribute to the conservation and enhancement of the landscape organize the urban form and confer identity to the cities The open space is a major characterizer of the different urban landscapes present in the city Starting from the study of ecological setting spatial land ownership and typological of those spaces sought the understanding that everyone each one with its characteristics and functions are interconnected in a systemic way structuring the environmental function social cultural and landscape present in the urban dynamic This approach enables elaborate a systemic view of the urban structure in which it is observed not just the sets of open spaces but also their interactions and articulations with the edified with society with the physical support and with the urban form

Palavras-chave Open Spaces System Urban Form Landscape Units Patos de Minas

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

5 |

DEDICATORIA

Dedico a todos aqueles que estiveram do meu lado

apoiando e auxiliando nesse processo de aprendizagem

Em especial ao meu noivo

6 |

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo financiamento

durante a pesquisa

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq pelo

financiamento da pesquisa maior na qual se insere essa dissertaccedilatildeo

Ao Grupo de Pesquisa QUAPAacute-SEL pela base metodoloacutegica e bibliograacutefica E em especial ao

grupo de pesquisa Neurb- Nuacutecleo de Estudos Urbanos pelas discussotildees e trocas de

informaccedilotildees

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU (FAUeD UFU)

incluindo todos os professores e principalmente a coordenaccedilatildeo e secretaria pelo empenho

em fazer crescer o curso e por toda assessoria prestada

Agradeccedilo ao Prof Dr Glauco Cocozza pela sabedoria compartilhada pelo tempo dedicado e

principalmente pelo incentivo

Aos professores Dr Eugecircnio Queiroga e Dr Carlos Loboda pelas consideraccedilotildees apontadas no

Exame de Qualificaccedilatildeo imprescindiacuteveis no desenvolvimento dessa pesquisa

Agrave minha matildee ao meu pai e aos meus irmatildeos Flaacutevia Janaina e Fabriacutecio que estiveram ao meu

lado durante todos os dias com paciecircncia incessante me alimentando com amor e forccedila

inestimaacuteveis Amo vocecircs

Ao Mathues namorado noivo e futuro esposo por todo o carinho paciecircncia e atenccedilatildeo

dedicados

Aos meus amigos pelo apoio e carinho

Aos meus colegas de mestrado pela companhia nos dias intensos de estudos e

principalmente por tornarem essa caminhada prazerosa

7 |

RESUMO

A pesquisa analisa a configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres na forma urbana de Patos de Minas uma cidade de meacutedio porte no interior do estado de Minas Gerais O espaccedilo livre eacute caracterizado como todo espaccedilo livre de edificaccedilatildeo e eacute um dos principais elementos morfoloacutegicos capazes de contribuir com a conservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da paisagem estruturar a forma urbana e conferir identidade agraves cidades O espaccedilo livre eacute um dos principais caracterizadores das diferentes paisagens urbanas presentes na cidade A partir do estudo da configuraccedilatildeo ecoloacutegica espacial fundiaacuteria e tipoloacutegica desses espaccedilos busca-se o entendimento de que todos cada um com suas caracteriacutesticas e funccedilotildees estatildeo interligados de maneira sistecircmica estruturando as funccedilotildees ambientais sociais culturais e de paisagem presentes na dinacircmica urbana Essa abordagem permite elaborar uma visatildeo sistecircmica da estrutura urbana na qual se observa natildeo apenas os conjuntos de espaccedilos livres mas tambeacutem suas interaccedilotildees e articulaccedilotildees com o edificado com a sociedade com o suporte fiacutesico e com a forma urbana

Palavras-chave Sistema de Espaccedilos Livres Forma Urbana Unidades de Paisagem Patos de

Minas

ABSTRACT

This research analyzes the configuration of the Open Spaces System in the urban form of Patos de Minas one medium-sized city in the state of Minas Gerais The open space is characterized like everyone open space of edification and is one of the main morphological elements able to contribute to the conservation and enhancement of the landscape organize the urban form and confer identity to the cities The open space is a major characterizer of the different urban landscapes present in the city Starting from the study of ecological setting spatial land ownership and typological of those spaces sought the understanding that everyone each one with its characteristics and functions are interconnected in a systemic way structuring the environmental function social cultural and landscape present in the urban dynamic This approach enables elaborate a systemic view of the urban structure in which it is observed not just the sets of open spaces but also their interactions and articulations with the edified with society with the physical support and with the urban form

Palavras-chave Open Spaces System Urban Form Landscape Units Patos de Minas

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

6 |

AGRADECIMENTOS

Agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo financiamento

durante a pesquisa

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico - CNPq pelo

financiamento da pesquisa maior na qual se insere essa dissertaccedilatildeo

Ao Grupo de Pesquisa QUAPAacute-SEL pela base metodoloacutegica e bibliograacutefica E em especial ao

grupo de pesquisa Neurb- Nuacutecleo de Estudos Urbanos pelas discussotildees e trocas de

informaccedilotildees

Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU (FAUeD UFU)

incluindo todos os professores e principalmente a coordenaccedilatildeo e secretaria pelo empenho

em fazer crescer o curso e por toda assessoria prestada

Agradeccedilo ao Prof Dr Glauco Cocozza pela sabedoria compartilhada pelo tempo dedicado e

principalmente pelo incentivo

Aos professores Dr Eugecircnio Queiroga e Dr Carlos Loboda pelas consideraccedilotildees apontadas no

Exame de Qualificaccedilatildeo imprescindiacuteveis no desenvolvimento dessa pesquisa

Agrave minha matildee ao meu pai e aos meus irmatildeos Flaacutevia Janaina e Fabriacutecio que estiveram ao meu

lado durante todos os dias com paciecircncia incessante me alimentando com amor e forccedila

inestimaacuteveis Amo vocecircs

Ao Mathues namorado noivo e futuro esposo por todo o carinho paciecircncia e atenccedilatildeo

dedicados

Aos meus amigos pelo apoio e carinho

Aos meus colegas de mestrado pela companhia nos dias intensos de estudos e

principalmente por tornarem essa caminhada prazerosa

7 |

RESUMO

A pesquisa analisa a configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres na forma urbana de Patos de Minas uma cidade de meacutedio porte no interior do estado de Minas Gerais O espaccedilo livre eacute caracterizado como todo espaccedilo livre de edificaccedilatildeo e eacute um dos principais elementos morfoloacutegicos capazes de contribuir com a conservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da paisagem estruturar a forma urbana e conferir identidade agraves cidades O espaccedilo livre eacute um dos principais caracterizadores das diferentes paisagens urbanas presentes na cidade A partir do estudo da configuraccedilatildeo ecoloacutegica espacial fundiaacuteria e tipoloacutegica desses espaccedilos busca-se o entendimento de que todos cada um com suas caracteriacutesticas e funccedilotildees estatildeo interligados de maneira sistecircmica estruturando as funccedilotildees ambientais sociais culturais e de paisagem presentes na dinacircmica urbana Essa abordagem permite elaborar uma visatildeo sistecircmica da estrutura urbana na qual se observa natildeo apenas os conjuntos de espaccedilos livres mas tambeacutem suas interaccedilotildees e articulaccedilotildees com o edificado com a sociedade com o suporte fiacutesico e com a forma urbana

Palavras-chave Sistema de Espaccedilos Livres Forma Urbana Unidades de Paisagem Patos de

Minas

ABSTRACT

This research analyzes the configuration of the Open Spaces System in the urban form of Patos de Minas one medium-sized city in the state of Minas Gerais The open space is characterized like everyone open space of edification and is one of the main morphological elements able to contribute to the conservation and enhancement of the landscape organize the urban form and confer identity to the cities The open space is a major characterizer of the different urban landscapes present in the city Starting from the study of ecological setting spatial land ownership and typological of those spaces sought the understanding that everyone each one with its characteristics and functions are interconnected in a systemic way structuring the environmental function social cultural and landscape present in the urban dynamic This approach enables elaborate a systemic view of the urban structure in which it is observed not just the sets of open spaces but also their interactions and articulations with the edified with society with the physical support and with the urban form

Palavras-chave Open Spaces System Urban Form Landscape Units Patos de Minas

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

7 |

RESUMO

A pesquisa analisa a configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres na forma urbana de Patos de Minas uma cidade de meacutedio porte no interior do estado de Minas Gerais O espaccedilo livre eacute caracterizado como todo espaccedilo livre de edificaccedilatildeo e eacute um dos principais elementos morfoloacutegicos capazes de contribuir com a conservaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo da paisagem estruturar a forma urbana e conferir identidade agraves cidades O espaccedilo livre eacute um dos principais caracterizadores das diferentes paisagens urbanas presentes na cidade A partir do estudo da configuraccedilatildeo ecoloacutegica espacial fundiaacuteria e tipoloacutegica desses espaccedilos busca-se o entendimento de que todos cada um com suas caracteriacutesticas e funccedilotildees estatildeo interligados de maneira sistecircmica estruturando as funccedilotildees ambientais sociais culturais e de paisagem presentes na dinacircmica urbana Essa abordagem permite elaborar uma visatildeo sistecircmica da estrutura urbana na qual se observa natildeo apenas os conjuntos de espaccedilos livres mas tambeacutem suas interaccedilotildees e articulaccedilotildees com o edificado com a sociedade com o suporte fiacutesico e com a forma urbana

Palavras-chave Sistema de Espaccedilos Livres Forma Urbana Unidades de Paisagem Patos de

Minas

ABSTRACT

This research analyzes the configuration of the Open Spaces System in the urban form of Patos de Minas one medium-sized city in the state of Minas Gerais The open space is characterized like everyone open space of edification and is one of the main morphological elements able to contribute to the conservation and enhancement of the landscape organize the urban form and confer identity to the cities The open space is a major characterizer of the different urban landscapes present in the city Starting from the study of ecological setting spatial land ownership and typological of those spaces sought the understanding that everyone each one with its characteristics and functions are interconnected in a systemic way structuring the environmental function social cultural and landscape present in the urban dynamic This approach enables elaborate a systemic view of the urban structure in which it is observed not just the sets of open spaces but also their interactions and articulations with the edified with society with the physical support and with the urban form

Palavras-chave Open Spaces System Urban Form Landscape Units Patos de Minas

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

8 |

LISTA DE ABREVIATURAS

SIGLAS E SIacuteMBOLOS

AABB Associaccedilatildeo Atleacutetica Banco do Brasil

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental

ARL Aacuterea de Reserva Legal

APP e APPrsquos Aacuterea de Preservaccedilatildeo Permanente Aacutereas de Presrvaccedilatildeo Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

EL Espaccedilo Livre

ETA Estaccedilatildeo de Tratamento de Aacutegua

ETE Estaccedilatildeo de Tratamento de Esgoto

FAUed Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design

i Inclinaccedilatildeo

SEL-RJ Grupo de Sistema de Espaccedilos Livres- Rio de Janeiro

HIS Habitaccedilatildeo de Interesse Social

MCMV Minha Casa Minha Vida

NEURB Nuacutecleo de Estudos Urbanos

ORT Ortogonal

PTC Patos Tecircnis Clube

Quapaacute-SEL Quadro do Paisagismo Brasileiro ndashSistema de Espaccedilos Livres

CEASA Centro de Abastecimento SA

SEL Sistema de Espaccedilos Livres

UNIPAM Centro Universitaacuterio de Patos de Minas

UP Unidade de Paisagem

URT Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (um dos times de futebol da cidade)

Unesco Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

9 |

SUMAacuteRIO

ELEMENTOS PREacute-TEXTUAIS

Dedicatoacuteria 005

Agradecimentos 006

Resumo e Abstract 007

Lista de Abreviaturas e Siglas e Siacutembolos 008

INTRODUCcedilAtildeO 013

Sobre os pensamentos norteadores 013

Sobre o meacutetodo 014

Sobre o decorrer dos capiacutetulos 014

CAPIacuteTULO 1 a paisagem e a forma urbana

018 11 PAISAGENS URBANA CONCEITUACcedilAtildeO

021 12 MORFOLOGIA E FORMA URBANA FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO URBANO

025 13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA MALHA URBANA PATENSE

028 131 DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930 BORGES X MACIEIS

037 132 DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960 AUMENTO POPULACIONAL

040 133 DAacute DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980 INCORPORACcedilAtildeO DOS CORPOS DrsquoAacuteGUA

044 134 DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS A FORMA URBANA ATUAL

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

10 |

CAPIacuteTULO 2 o sistema de espaccedilos livres

051 21 ESPACcedilOS LIVRES ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

053 22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

055 23 ESPACcedilOS LIVRES NAS CIDADE MEacuteDIAS

057 24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE PATOS DE MINAS

058 241 RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA espaccedilos livres x suporte ambiental

065 242 CONFIGURACcedilAtildeO ESPACIAL espaccedilos livres x malha urbana

2421 Configuraccedilotildees da malha urbana

2422 Espaccedilos livres na malha urbana

2423 Tipos de traccedilado

083 243 RELACcedilOtildeES DE USOS DO SOLO espaccedilos livres x uso

2431 Distribuiccedilatildeo fundiaacuteria

2432 Usos do solo

090 25 O SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES DE PATOS DE MINAS

090 251 TIPOLOGIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

092 252 CATEGORIAS DE ESPACcedilOS LIVRES

102 253 RELACcedilOtildeES SISTEcircMICAS DOS ESPACcedilOS LIVRES

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

11 |

CAPIacuteTULO 3 as unidades de paisagem

109 31 CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS

110 32 UNIDADES DE PAISAGEM DE PATOS DE MINAS

113 321 UNIDADE DE PAISAGEM 01

116 322 UNIDADE DE PAISAGEM 02

120 323 UNIDADE DE PAISAGEM 03

123 324 UNIDADE DE PAISAGEM 04

128 325 UNIDADE DE PAISAGEM 05

132 326 UNIDADE DE PAISAGEM 06

135 327 UNIDADE DE PAISAGEM 07

139 328 UNIDADE DE PAISAGEM 08

143 329 UNIDADE DE PAISAGEM 09

148 3210 UNIDADE DE PAISAGEM 10

151 33 AS UNIDADES DE PAISAGEM NA CIDADE

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS PERSPECTIVAS E DESAFIOS 154

SOBRE OS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS 156

SOBRE OS POSSIacuteVEIS DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA 157

REFEREcircNCIAS 159

ACERVOS ARQUIVOS E JORNAIS 159

LEIS E DECRETOS 159

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 160

ANEXOS 164

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

12 |

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

13 |

INTRODUCcedilAtildeO

SOBRE OS PENSAMENTOS NORTEADORES

O trabalho eacute um exerciacutecio de olhar para a cidade e ler entre seus traccedilados suas ruas lotes e

quadras Buscando entender as promessas que ficaram no ar os projetos vislumbrados mas

nunca concretizados que vatildeo desde a rua que natildeo foi asfaltada ateacute o coacuterrego canalizado que

natildeo foi aberto Entender o processo histoacuterico as relaccedilotildees culturais o desenho da malha

urbana que se estende por entre os fundos dos vales e acompanha o desenho dos coacuterregos e

rios

Grande parte da vida na cidade acontece em seus espaccedilos livres na praccedila natildeo implantadas

onde o vizinho planta milho na rua que recebe o tapete de Corpus Christi nas procissotildees

passeatas e desfiles na festa junina na praccedila da Igreja na eleiccedilatildeo da rainha do milho nas

folias de reis dos distritos da cidade A cidade se transforma no lote que vira campinho na

praccedila que vira estacionamento na gleba que vira pasto na lagoa que vira brejo na mata que

vira cinzas A zona rural aos poucos se transforma em malha urbana mas o rural natildeo perdeu

seu espaccedilo ele se manteacutem presente na paisagem urbana nas expressotildees culturais e nos

dialetos

Este trabalho eacute a continuidade do Trabalho Final de Graduaccedilatildeo apresentado a Faculdade de

Arquitetura Urbanismo e Desing da Universidade Federal de Uberlacircndia Sob a orientaccedilatildeo do

professor Glauco Cocazza foi desenvolvido um projeto de requalificaccedilatildeo para um dos

parques urbanos de Patos de Minas o Parque Municipal do Mocambo Durante o

desenvolvimento desse trabalho ficou evidente que natildeo soacute os ambientes do parque como

outros espaccedilos livres da cidade requeriam projetos de requalificaccedilatildeo que trabalhassem a

relaccedilatildeo eles com a cidade buscando o entendimento dos diferentes papeacuteis dos espaccedilos livres

na cidade deixando de pensar no planejamento urbano e no planejamento ambiental como

coisas isoladas Iniciaram-se aiacute as primeiras percepccedilotildees de que a cidade de Patos de Minas

possui diversas especificidades com relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo da paisagem urbana com seus

espaccedilos livres e edificados

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

14 |

SOBRE O MEacuteTODO

A dissertaccedilatildeo se fundamenta na anaacutelise de dados documentais primaacuterios como mapas

cedidos pela Prefeitura Municipal de Patos de Minas projetos de espaccedilos livres da cidade

levantamentos fotograacuteficos leis e decretos municipais e federais Baseia-se tambeacutem em

fontes secundaacuterias como revisatildeo bibliograacutefica dos temas norteadores da pesquisa registros

fotograacuteficos jornais locais e entrevistas informais com moradores da cidade e arquitetos da

prefeitura A dissertaccedilatildeo apresenta registros fotograacuteficos natildeo soacute do acervo da autora mas de

diferentes pessoas evidenciando pontos de vista e os diversos olhares sobre a cidade aleacutem

das fotos histoacutericas de arquivos puacuteblicos

A pesquisa adota como metodologia a anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres e das Unidades de

Paisagem desenvolvida pelos estudos da rede nacional brasileira Quapaacute-SEL II (Quadro do

Paisagismo Brasileiro ndash Sistemas de Espaccedilos Livres) coordenada pelo LAB-QUAPAacute da FAUUSP

(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo) cujo objetivo principal

eacute compreender as relaccedilotildees processuais contemporacircneas entre os Sistemas de Espaccedilos Livres

e a forma urbana das cidades brasileiras A pesquisa apresentada eacute tambeacutem parte integrante

dos estudos desenvolvidos pelo Nuacutecleo de Estudos Urbanos (NEURB) desenvolvido na

Faculdade de Arquitetura Urbanismo e Design (FAUeD) da Universidade Federal de

Uberlacircndia que tem como objetivo central compreender a importacircncia e o papel do Sistema

de Espaccedilos Livres na Forma Urbana das principais cidades meacutedias do Triacircngulo Mineiro e Alto

Paranaiacuteba contribuindo assim com os estudos do grupo nacional Quapaacute-SEL II

SOBRE O DECORER DOS CAPIacuteTULOS

O objetivo central do trabalho eacute analisar os espaccedilos livres presentes na forma urbana de

Patos de Minas e entender como esses espaccedilos estruturam o Sistema de Espaccedilos Livres (SEL)

Buscando esse entendimento a dissertaccedilatildeo foi dividida em trecircs momentos a anaacutelise da

paisagem e da forma urbana patense no primeiro capiacutetulo o entendimento do SEL no

segundo capiacutetulo e a aplicaccedilatildeo da metodologia de Unidades de Paisagem no terceiro capiacutetulo

O primeiro capiacutetulo apresenta os conceitos que iratildeo nortear a pesquisa a PAISAGEM URBANA

e a FORMA URBANA por meio de uma revisatildeo bibliograacutefica buscando a constataccedilatildeo do

estado da arte dos conceitos-chave O trabalho entende a paisagem como conceito

norteador para o entendimento da cidade da formaccedilatildeo e da transformaccedilatildeo da forma urbana

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

15 |

Depois de introduzidos os conceitos-chave o capiacutetulo apresentaraacute o processo de urbanizaccedilatildeo

da aacuterea de estudo a transformaccedilatildeo do tecido urbano e a incorporaccedilatildeo dos principais espaccedilos

livres de edificaccedilatildeo e edificados ressaltando as caracteriacutesticas histoacutericas econocircmicas

poliacuteticas e culturais que contribuem para a formaccedilatildeo da imagem da cidade

O segundo capiacutetulo analisa o SISTEMA DE ESPACcedilOS LIVRES na forma urbana de Patos de Minas

a partir de trecircs principais enfoques a relaccedilatildeo ecoloacutegica que busca entender a interaccedilatildeo entre

a forma urbana e os condicionantes do suporte fiacutesico (hidrografia geologia relevo

vegetaccedilatildeo) a configuraccedilatildeo espacial que revela a organizaccedilatildeo da malha urbana e a interaccedilatildeo

dos espaccedilos livres na malha e a relaccedilatildeo de usos do solo que analisa a relaccedilatildeo dos espaccedilos

livres com a situaccedilatildeo fundiaacuteria e a distribuiccedilatildeo dos usos do solo na cidade

No capiacutetulo sobre o Sistema de Espaccedilos Livres as anaacutelises foram feitas na escala da cidade No

capiacutetulo seguinte que trata das Unidades de Paisagem as apreciaccedilotildees foram feitas na escala

das unidades ou seja a anaacutelise dos espaccedilos livres da cidade vai do macro ao micro A

aplicaccedilatildeo da metodologia das Unidades de Paisagem permite transitar entre as escalas de

anaacutelise e aprofundar nas caracteriacutesticas e peculiaridades do Sistema de Espaccedilos Livres

presentes em cada unidade

O terceiro capiacutetulo apresenta a metodologia das UNIDADES DE PAISAGEM a identificaccedilatildeo das

Unidades de Paisagem presentes em Patos de Minas e a anaacutelise cada uma delas O trabalho

entende as Unidades de Paisagem como porccedilotildees do Sistema de Espaccedilos Livres cujas relaccedilotildees

entre os espaccedilos livres os espaccedilos edificados possuem caracteriacutesticas especiacuteficas de

centralidade hierarquia distribuiccedilatildeo e organizaccedilatildeo que os distingue dos demais conjuntos de

relaccedilotildees

O fechamento do trabalho apresenta de maneira sinteacutetica uma apreciaccedilatildeo do que foi

apresentado em cada capiacutetulo apontando os questionamentos e resultados que surgiram no

decorrer da anaacutelise Depois satildeo enumerados os principais desafios a serem enfrentados pelo

o planejamento urbano e ambiental de Patos de Minas para a gestatildeo do SEL da cidade

Adiante satildeo apresentados os possiacuteveis desdobramentos da pesquisa evidenciando as

possibilidades de continuidade e aprofundamentos teoacutericos e praacuteticos sobre o objeto de

estudo

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

16 |

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

17 |

11 PAISAGEM URBANA

CONCEITUACcedilAtildeO

A compreensatildeo do conceito de paisagem urbana eacute o principal enfoque no presente trabalho

para assimilaccedilatildeo da configuraccedilatildeo urbana da incorporaccedilatildeo dos elementos do suporte fiacutesico na

formaccedilatildeo e na transformaccedilatildeo da forma urbana e entendimento do papel do Sistema de

Espaccedilos Livres na cidade

O estudo da paisagem possibilita uma melhor percepccedilatildeo da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto a clareza do conceito de paisagem e seus

sombreamentos eacute de extrema importacircncia

Natildeo existe um consenso sobre o conceito de paisagem a discussatildeo sobre paisagem transita

por diversas aacutereas com diferentes definiccedilotildees ecircnfases e meacutetodo de abordagem Segundo o

geoacutegrafo Bertrand (2004) as diferenccedilas de abordagem no conceito de paisagem satildeo

influenciadas pela formaccedilatildeo e os objetivos do observador e pode enfatizar a vegetaccedilatildeo a

hidrografia o clima o relevo a economia a arquitetura ou o processo histoacuterico A

metodologia de anaacutelise poderaacute ser temporal baseada nos aspectos fiacutesicos e se referir agraves

relaccedilotildees e dinacircmicas internas ou ainda um conjunto de diversas anaacutelises Ou seja a

percepccedilatildeo individual somada aos objetivos e ao enfoque do observador interferem

diretamente na leitura da paisagem e no conceito da mesma

Segundo Rougerie e Beroutchatchvili (1991) apud Maximiano (2004) a Unesco (Organizaccedilatildeo

para Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura das Naccedilotildees Unidas) declarou em 1971 considerar que a

paisagem eacute a ldquoestrutura do ecossistemardquo e o Conselho Europeu diz que ldquoo meio natural

moldado pelos fatores sociais e econocircmicos torna-se paisagem sob o olhar humanordquo Jaacute a

ldquopaysagerdquo francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais O termo holandecircs com o

mesmo sentido eacute ldquovisueellandschaprdquo Para os alematildees ldquolandschaftrdquo envolve a noccedilatildeo de

territoacuterio semelhante ao ldquolandscape inglecircsrdquo Ambos tambeacutem se referem ao aspecto visual A

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

18 |

geografia sovieacutetica tem seus proacuteprios termos ldquomesnost e ourotchitcherdquo que possuem valor

territorial aos quais os russos acrescentam ldquolandschaftrdquo emprestado dos alematildees

Segundo Maximiano (2004) para alguns socioacutelogos e economistas a paisagem eacute a base do

meio fiacutesico onde o homem a utiliza e a transforma ou natildeo para alguns botacircnicos e ecoacutelogos

a paisagem eacute um conjunto de organismos num meio fiacutesico cujas propriedades podem ser

explicadas segundo leis ou modelos com ajuda das ciecircncias fiacutesicas eou bioloacutegicas para

alguns geoacutegrafos ela resulta da relaccedilatildeo dinacircmica de elementos fiacutesicos bioloacutegicos e

antroacutepicos

ldquoA expressatildeo ldquopaisagemrdquo() passava a manifestar-se com

significados amplos complexos poreacutem bastante vagos

indistintos incompletos premissas comuns eram ldquoa naturezardquo e

a censura agrave accedilatildeo do homem A percepccedilatildeo das mudanccedilas

naturais ndash de tempos bioloacutegicos ndash e tambeacutem aquelas raacutepidas

extensas e difusas do trabalho do homem ndash de tempos

histoacutericos ndash levantava novamente a relaccedilatildeo homem-natureza

Seria esta relaccedilatildeo com todos os apelos e juiacutezos ndash imprecisos

indefinidos ndash que seria associada agrave palavra lsquopaisagemrsquordquo

(MAGNOLI e MACEDO 2000 p132-133)

O estudo da paisagem passou a ganhar relevacircncia entre os arquitetos a partir dos anos de

1960 Segundo Sandeville (2006) esse processo pode ser exemplificado inicialmente pelos

trabalhos de Kevin Lynch Cristopher Alexander Amos Rapoport Yi Fu Tuan e Vittorio

Gregotti1 De acordo com Gregotti (1983) o entendimento da paisagem eacute um instrumento

que o arquiteto tem que ter em matildeos para analisar o lugar e o espaccedilo sobre o qual se projeta

Entretanto a paisagem entendida soacute como o conjunto das caracteriacutesticas fiacutesicas e

geomorfoloacutegicas de cunho bioloacutegico e mineraloacutegico natildeo eacute suficiente para elaboraccedilatildeo do

1LYNCH K A imagem da cidade (1960) ALEXANDER C Unlenguage de patrones (1980) RAPOPORT A

Aspectos humanos de la forma urbana (1978) TUAN Y F Espaccedilo e lugar (1983) GREGOTTI V Nuevos

caminos de La arquitectura italiana (1969)

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

19 |

projeto eacute preciso que a leitura da paisagem expresse as accedilotildees cotidianas os usos dos

espaccedilos e a cultura local

No Brasil Miranda Magnoli inicia seus estudos sobre a paisagem e o ambiente na deacutecada de

1970 baseada nas anaacutelises estadunidenses de planejamento da paisagem reconhecendo a

importacircncia das caracteriacutesticas socioespaciais mas sem reduzir a paisagem aos aspectos

formais O modo como Miranda discutiu a paisagem segundo Sandeville (2006) ultrapassou

as limitaccedilotildees da relaccedilatildeo figura-fundo a qual reforccedila a paisagem como cenaacuterio um entorno

transformado por uma arquitetura de edifiacutecio promovendo a cenarizaccedilatildeo da ideia de

paisagem Sua reflexatildeo estabeleceu bases para o conceito da arquitetura como o projeto do

ldquoambiente humanordquo a necessidade de compreensatildeo do contexto no qual se insere o objeto

projetado

A definiccedilatildeo do conceito de paisagem adotada para este trabalho eacute a desenvolvida por

Miranda Magnoli (1982) na qual a morfologia da paisagem eacute definida como resultante da

interaccedilatildeo entre a loacutegica proacutepria dos processos do suporte (geologia clima solo relevo

vegetaccedilatildeo e sol aacutegua e ventos) e a loacutegica proacutepria dos processos antroacutepicos sociais e culturais

(parcelamentos escavaccedilotildees plantaccedilotildees construccedilotildees edificaccedilotildees etc) Essa anaacutelise da

paisagem urbana considera os diversos atores que nela interferem seus aspectos fiacutesicos

socioeconocircmicos culturais e seu processo evolutivo natildeo eacute simplesmente bem organizada ou

normativa eacute tambeacutem uma anaacutelise poeacutetica e simboacutelica fala das pessoas e de suas histoacuterias de

suas aspiraccedilotildees tradiccedilotildees e conflitos do conjunto natural das funccedilotildees e da dinacircmica urbana

O estudo da paisagem possibilita um melhor entendimento da estrutura da cidade a

compreensatildeo do siacutetio natural e da interferecircncia humana no mesmo esse conhecimento pode

direcionar o planejamento urbano para tanto o entendimento do conceito de paisagem e

seus sombreamentos eacute de extrema importacircncia Segundo Oseki amp Pellegrino (2004) um

planejamento ecoloacutegico da paisagem pode fornecer as ferramentas necessaacuterias para

integraccedilatildeo entre sociedade e natureza incorporando diretrizes ambientalmente desejaacuteveis

para a melhoria da habitabilidade da cidade de sua sustentabilidade e de sua imagem

Para Oseki amp Pellegrino (2004) as paisagens satildeo ao mesmo tempo produzidas socialmente e

produtoras (indutoras) de praacuteticas sociais podem ser utilizadas no planejamento no projeto

e gestatildeo de espaccedilos livres (nas escalas espaciais local regional e continental) o que lhes

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

20 |

confere importacircncia no planejamento urbano e regional o que tem sido ignorado pelos

oacutergatildeos responsaacuteveis pela gestatildeo do territoacuterio Segundo Macedo (1993) a paisagem eacute processo

e produto das accedilotildees humanas eacute processo na medida em que estaacute em constante mutaccedilatildeo e

compreende as diversas forccedilas que nela atuam ora em conflito ora em consonacircncia de

objetivos eacute produto pois a cada instante apresenta-se como objeto acabado dessas accedilotildees e

forccedilas aplicadas

Figura 2 Avenida Getuacutelio Vargas em Parto de Minas Vista parcial da paisagem urbana Fonte httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=1534357amppage=92 Foto Fotoacutegrafo desconhecido

O presente trabalho entende a paisagem como algo que caracteriza a cidade que lhe confere

identidade e a distingue das demais A paisagem retrata a forma urbana e a cultura da

populaccedilatildeo a maneira como as pessoas constroem suas casas e onde constroem se na beira

do rio no alto das serras ou nas chapadas Eacute a histoacuteria local contada por meio da mudanccedila do

cenaacuterio e da mudanccedila dos padrotildees arquitetocircnicos nas casas que permanecem do periacuteodo

neocolonial ou no estilo ecleacutetico nas casas que surgiram no estilo moderno nas reformas

nas construccedilotildees que satildeo tombadas e nas que satildeo derrubadas A paisagem eacute contada pelas

aacutervores pelas flores plantadas e replantadas nas calccediladas calccediladas por vezes remendadas A

paisagem eacute o reflexo do processo social dos bairros que se formam das pessoas que se

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

21 |

mudam da economia que se desenvolve modificando o comercio instalando novas induacutestrias

e quem sabe ateacute bairros industriais gerando renda para urbanizaccedilatildeo de novas aacutereas ou a

verticalizaccedilatildeo de outras

O entendimento da paisagem enquanto elemento caracterizador da imagem das cidades eacute

um instrumento para a melhoria e manutenccedilatildeo dos valores da mesma Possui uma relaccedilatildeo

direta com histoacuteria da cidade com os valores culturais com o processo de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo da forma urbana e com os elementos que a constituem Partimos entatildeo para o

estudo da forma urbana com seus enfoques conceituais desdobramentos teoacutericos e

praacuteticos

12

MORFOLOGIA E FORMA URBANA

FORMA URBANA MALHA URBANA TECIDO

URBANO

Figura 3 Forma Urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora 2014

Eacute constante a confusatildeo ao conceituar termos

como morfologia forma urbana malha

urbanatecido urbano elementos morfoloacutegicos

termos que ora se sobrepotildeem ora se englobam

ora se dividem

EXISTE UM CONSENSO SOBRE O CONCEITO

DE FORMA URBANA

A DEFINICcedilAtildeO DE FORMA URBANA ENGLOBA

O TRACcedilADO DAS RUAS OS CHEIOS E VAZIOS

OS USOS E AS TIPOLOGIAS CONSTRUIacuteDAS OU

SERIA SOacute O DESENHO QUE SE FORMA NO

ENCONTRO DAS BORDAS DA OCUPACcedilAtildeO

FORMA URBANA Eacute SINOcircNIMO DE TECIDO

URBANO OU O TECIDO Eacute PARTE DA FORMA

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

22 |

A morfologia urbana eacute um campo disciplinar que abrange o estudo das cidades das formas

dos tecidos e da paisagem O estudo da morfologia contribui para o entendimento da

estrutura da cidade sua formaccedilatildeo e transformaccedilatildeo por meio de seus elementos

constituintes Segundo Lamas (2004) os elementos morfoloacutegicos constituintes satildeo o solo os

edifiacutecios o lote o quarteiratildeo a fachada o logradouro o traccediladorua a praccedila o monumento

a vegetaccedilatildeo e o mobiliaacuterio urbano O autor denomina como elementos morfoloacutegicos as partes

fiacutesicas que associadas ou estruturadas constituem a forma urbana Existem diversos

conceitos e definiccedilotildees que abordam a morfologia das cidades este trabalho apresentaraacute

algumas delas

Segundo Del Rio (1990) a anaacutelise da morfologia urbana estaacute em compreender a loacutegica da

formaccedilatildeo evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo da forma da cidade e de suas inter-relaccedilotildees a fim de

possibilitar a identificaccedilatildeo de accedilotildees mais apropriadas cultural e socialmente para a

intervenccedilatildeo urbana e o desenho de novos espaccedilos Segundo Rossi (2001) a cidade eacute uma

obra reconhecida pelo conjunto de sua forma mas tambeacutem pode ser identificada por

pequenas partes do conjunto em seus diversos momentos a forma urbana eacute a soma dos

diversos tecidos e padrotildees morfoloacutegicos que formam a cidade

O tecido urbano ou a malha urbana de acordo com Rego e Meneguetti (2011) satildeo

configurados pelo sistema viaacuterio pelo padratildeo do parcelamento do solo pela aglomeraccedilatildeo e

pelo isolamento das edificaccedilotildees assim como pelos espaccedilos livres Em outras palavras o

tecido de cidade eacute dado pelos edifiacutecios ruas quadras e lotes parques praccedilas e monumentos

nos seus mais variados arranjos Esses elementos morfoloacutegicos presentes no tecido urbano

segundo Moudon (1997) devem ser considerados como organismos ndash constantemente em

atividade e assim em transformaccedilatildeo ao longo do tempo eles existem em inter-relaccedilatildeo com

as estruturas edificadas conformando e sendo conformadas pelos espaccedilos livres O modo

como cada um desses elementos morfoloacutegicos se organizou e conforma o tecido da cidade

pode ser entendido como um objeto de estudo da morfologia urbana

A forma urbana reflete os processos de formaccedilatildeo da cidade os processos sociais que se

consolidam nos tecidos urbanos que levam a sociedade a construir de uma maneira

determinada e caracteriacutestica suas casas escolas comeacutercios induacutestrias etc Segundo

Carvalho (2011) os tecidos urbanos satildeo configurados a partir da homogeneidade dos

seguintes elementos traccedilado da malha viaacuteria padrotildees de uso (residencial comercial de

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

23 |

serviccedilos e industrial) padratildeo edificado (padratildeo arquitetocircnico e do gabarito) e suporte fiacutesico

(topografia vegetaccedilatildeo e hidrografia

De acordo com Moudon (1997) os morfologistas atentam para os resultados tangiacuteveis de

questotildees sociais econocircmicas poliacuteticas ou seja estudam a manifestaccedilatildeo de ideias e

intenccedilotildees agrave medida que elas tomam forma no chatildeo e moldam as cidades O estudo

morfoloacutegico das cidades pode ser dividido em escolas de pensamento dentre elas a escola

italiana a escola francesa e a escola inglesa as quais analisaremos sinteticamente

observando suas principais caracteriacutesticas metodoloacutegicas bases bibliograacuteficas e formas de

pensamento

A escola italiana conforme Mondon (1997) tem seu iniacutecio nos estudos do arquiteto Saverio

Muratori (1910 ndash 1973) e de Gianfranco Caniggia (1933 ndash 1987) na deacutecada de 1940 Segundo

Rosaneli (2011) essa escola de pensamento possui como principal distintivo a preocupaccedilatildeo

com o destino das cidades histoacutericas italianas sobretudo devido aos efeitos das intervenccedilotildees

modernistas Essa escola apresenta uma maior preocupaccedilatildeo com o estudo tipoloacutegico das

edificaccedilotildees (fachadas estilos arquitetocircnicos gabarito) e de suas transformaccedilotildees ao longo do

tempo

A escola francesa apresenta ecircnfase na reflexatildeo geograacutefica e historiograacutefica sobre as cidades e

possui a contribuiccedilatildeo do socioacutelogo Henri Lefebvre (1901 ndash 1991) Assim como a escola italiana

a escola francesa se opotildee aos efeitos das intervenccedilotildees modernistas Rosaneli (2011) propotildee

uma reforma educacional no campo dos estudos urbanos e busca consolidar uma nova

ldquodisciplinardquo com duplo objetivo primeiro uma pesquisa descritiva multidisciplinar do espaccedilo

construiacutedo a fim de reconhecer ingredientes de um bom desenho e segundo a identificaccedilatildeo

e criacutetica de modelos teoacutericos de desenho urbano

A escola inglesa eacute fundamentada nos estudos do geoacutegrafo alematildeo Conzen (1907 ndash 2000) e

inicia-se na deacutecada de 1960 De acordo com Moudon (1994) a escola inglesa possui uma

anaacutelise morfoloacutegica descritiva analiacutetica e explanatoacuteria concentra-se no estudo da forma

urbana e apresenta o mais completo detalhado e sistemaacutetico meacutetodo tipo morfoloacutegico das

trecircs escolas

Conzen fundamenta-se na aplicabilidade da leitura dos planos urbanos (ldquotown-plansrdquo) para o

entendimento da formaccedilatildeo urbana De acordo com Conzen (1960) apud Rosaneli (2011) os

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906

24 |

trecircs fundamentais elementos que compotildee os planos satildeo as ruas que estatildeo arranjadas em um

traccedilado os lotes ou parcelas individuais de terra juntamente com as quadrasquarteirotildees e os

edifiacutecios com seus conjuntos construiacutedos As diversas combinaccedilotildees desses trecircs principais

elementos constituiriam unidades distintas com ldquohomogeneidade morfoloacutegicardquo o que o

autor denominou de tecido urbano (ldquoplan unitrdquo ldquourban fabricrdquo ou ldquotessuto urbanordquo para a

escola italiana)

A morfologia urbana e suas diferentes escolas de pensamento retratam o estudo da forma

urbana e de seus elementos estruturantes dos processos culturais sociais econocircmicos e

poliacuteticos Os estudos morfoloacutegicos que mais se aplicam agrave presente pesquisa satildeo os da escola

inglesa onde desenvolve-se uma anaacutelise descritiva e analiacutetica do processo de urbanizaccedilatildeo

estudando as unidades com ldquohomogeneidade morfoloacutegicasrdquo trabalhadas nessa pesquisa por

meio das Unidades de Paisagem (porccedilotildees territoriais com semelhanccedila de traccedilado e interaccedilatildeo

entre os espaccedilos livres e edificados) e atraveacutes da anaacutelise do Sistema de Espaccedilos Livres uma

organizaccedilatildeo sistecircmica dos espaccedilos livres das diversas Unidades de Paisagem presentes em

uma aacuterea definida

Para o entendimento da configuraccedilatildeo do Sistema de Espaccedilos Livres Patense e de suas

Unidades de Paisagem partimos do estudo do processo de urbanizaccedilatildeo de Patos de Minas

observando as caracteriacutesticas morfoloacutegicas histoacutericas culturais e da paisagem urbana

25 |

13 FORMACcedilAtildeO E TRANSFORMACcedilAtildeO DA

MALHA URBANA PATENSE

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Patos de Minas e apresentaccedilatildeo da forma urbana da cidade Elaborado pela autora segundo fonte Mapas da Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2006 e 2015

26 |

Patos de Minas eacute uma cidade meacutedia2 da regiatildeo intermediaacuteria agrave Mesorregiatildeo do Triacircngulo

Mineiro e Alto Paranaiacuteba Considerada poacutelo econocircmico regional a maior cidade da

microrregiatildeo do Alto Paranaiacuteba que eacute composta por 10 municiacutepios O municiacutepio de Patos de

Minas eacute formado por sete distritos o distrito sede eacute a cidade de Patos de Minas e os outros

satildeo Bom Sucesso Chumbo Major Porto Pilar Pindaiacutebas e Santana de Patos (identificados na

Figura 4)

Segundo o IBGE (2010) o municiacutepio de Patos de Minas possui aacuterea de 3189771Kmsup2

densidade demograacutefica de 4349 habkmsup2 e populaccedilatildeo de aproximadamente 147614

habitantes (populaccedilatildeo estimada em 2014)

Patos de Minas situa-se no Planalto Central Minas GeraisGoiaacutes com altitudes meacutedias de 800

a 900 metros Localiza-se entre duas grandes bacias hidrograacuteficas brasileiras a do Satildeo

Francisco e a do Paranaacute Sua localizaccedilatildeo estrateacutegica permite a ligaccedilatildeo da cidade a centros

comerciais como Uberlacircndia Belo Horizonte Brasiacutelia e Satildeo Paulo facilitando o intercacircmbio

comercial e o desenvolvimento econocircmico

De acordo com o IBGE (2012) o PIB (Produto Interno Bruto) do municiacutepio tem sua economia

baseada principalmente no setor de serviccedilos seguido do setor industrial e da agricultura

conforme Tabela 1

2 A dissertaccedilatildeo adota a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias desenvolvida por Amorim Filho e Serra (2001) cidade que ocupam uma posiccedilatildeo estrateacutegica na hierarquia urbana oferecendo suporte agraves cidades pequenas conforme a funccedilatildeo que desempenham e estabelecendo ligaccedilotildees com as cidades maiores intermediando as relaccedilotildees entre estes dois niacuteveis urbanos De acordo com os autores essas cidades satildeo espaccedilos de relaccedilotildees e natildeo de polarizaccedilatildeo ou dominaccedilatildeo satildeo cidades natildeo tatildeo pequenas a ponto de limitar as possibilidades de crescimento econocircmico e intelectual de seus habitantes e nem tatildeo grandes a ponto de onerar ndash e ateacute pocircr em risco ndash a vida da maioria de seus moradores

27 |

Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas - 2012

Impostos sobre produtos liacutequidos de subsiacutedios a preccedilos correntes

248946 mil reais

PIB a preccedilos correntes 2495732 mil reais

PIB per capita a preccedilos correntes 1770650 mil reais

Valor adicionado bruto da agropecuaacuteria a preccedilos correntes 255908 mil reais

Valor adicionado bruto da induacutestria a preccedilos correntes 432152 mil reais

Valor adicionado bruto dos serviccedilos a preccedilos correntes 1558725 mil reais

Tabela 1 Produto Interno Bruto do Municiacutepio de Patos de Minas-2012 Fonte IBGE 2012 em parceria com os Oacutergatildeos Estaduais de Estatiacutestica Secretarias Estaduais de

Governo e Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus ndash SUFRAMA Disponiacutevel em

httpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314800ampidtema=134ampsearch=mina

s-gerais|patos-de-minas|produto-interno-bruto-dos-municipios-2012 Acesso em dezembro de 2014

Entretanto observa-se que entre os setores o que mais exerce influecircncia cultural no

municiacutepio e na dinacircmica urbana eacute a agricultura somada a pecuaacuteria e ao agronegoacutecio

caracterizando as festas locais as manifestaccedilotildees culturais as formas de apropriaccedilatildeo da

paisagem as tipologias predominantes de espaccedilos livres e a histoacuteria de ocupaccedilatildeo do

municiacutepio Na agroinduacutestria destaca-se a produccedilatildeo de leite e derivados sementes e adubos

defensivos agriacutecolas carne suiacutena e derivados e alimentos enlatados A agricultura sempre

caracterizou a economia e a cultura local os produtos que se destacam satildeo o arroz soja

feijatildeo cafeacute maracujaacute tomate horticultura e o milho siacutembolo da festa regional a Festa

Nacional do Milho A pecuaacuteria possui significativa importacircncia econocircmica para o municiacutepio a

regiatildeo faz parte de uma das maiores bacias leiteiras do paiacutes Patos de Minas tambeacutem eacute

considerada poacutelo nacional de geneacutetica suiacutena detendo 70 da tecnologia nacional em

melhoramentos suiacutenos

Para analisarmos como se formou a cidade de Patos de Minas apresentaremos seus periacuteodos

urbanos em cinco partes a primeira retrata o iniacutecio do povoado ateacute 1930 depois de 1940 a

deacutecada de 1960 em seguida de 1970 ateacute a deacutecada 1980 e por fim o periacuteodo que vai de 1990

ateacute o ano de 2015 buscando assim retratar o crescimento urbano os principais

acontecimentos histoacutericos e a incorporaccedilatildeo dos elementos da paisagem

28 |

131

DO INIacuteCIO DO POVOADO ATEacute A DEacuteCADA DE 1930

BORGES X MACIEacuteIS

O processo de colonizaccedilatildeo da

regiatildeo ocupada hoje pelo

municiacutepio de Patos de Minas

teve iniacutecio provavelmente na

segunda metade do seacuteculo XVIII

antes mesmo da descoberta do

ouro no estado de Minas Gerais

com as bandeiras rumo agraves terras

de Paracatu A cidade de Patos

de Minas surgiu na segunda

deacutecada do seacuteculo XIX em torno

da Lagoa dos Patos (delimitada

na Figura 5) onde segundo as

descriccedilotildees histoacutericas existia uma

enorme quantidade de patos

silvestres

Figura 5 Crescimento Urbano de Patos de Minas ateacute o iacutenicio do seacuteculo XIX Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas Disponiveacutel em

httpwwwpatosdeminasmggovbrgaleriahistoricaspagesimage16php Acesso em maio de

2014 Elaborado pela autora

Segundo Oliveira Mello (1971) o povoado que deu origem a cidade de Patos de Minas se

iniciou em 1826 com a doaccedilatildeo do terreno por Antocircnio Joaquim da Silva Guerra e sua esposa

Luzia Correcirca de Andrade para a construccedilatildeo da capela de Santo Antocircnio situada hoje na atual

Praccedila Dom Eduardo proacutexima agrave Lagoa dos Patos na Avenida Liberdade atualmente conhecida

como Avenida Getuacutelio Vargas A partir de entatildeo diversas famiacutelias se instalaram no entorno da

capela originando o Arraial de Santo Antocircnio da Beira do Paranaiacuteba Em 1866 foi criada a Vila

de Santo Antocircnio dos Patos e em 1892 o presidente do Estado de Minas Gerais elevou a vila

agrave categoria de cidade de Patos de Minas

29 |

Figura 6 Iniacutecio da ocupaccedilatildeo da cidade de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fontes

Prefeitura Municipal de Patos de Minas e MuP- Museu da Cidade de Patos de Minas

A Praccedila Dom Eduardo estaacute no centro do nuacutecleo original de povoamento ilustrado pela Figura

6 e representa a divisatildeo de influecircncia entre as duas famiacutelias da elite local que atuaram na

construccedilatildeo da paisagem urbana e na histoacuteria da cidade de Patos de Minas os Borges

catoacutelicos e monarquistas e os Dias Macieacuteis protestantes e republicanos

Ao norte da Praccedila Dom Eduardo encontam-se os Borges e seus parentes os Caixeta e os

Queiroz de acordo com Silva (2011) deste lado da cidade a paisagem se desenha por ruas

estreitas e curvas as quais conduzem a travessas e becos nitidamente ldquosemeadosrdquo agrave moda

lusitana de povoar Ao mesmo tempo os edifiacutecios mais antigos e caracteriacutesticos da aacuterea satildeo

todos em estilo colonial com altas janelas e portas retangulares Satildeo exemplos a antiga Casa

de Cacircmara e Cadeia localizada hoje na Praccedila Juquinha Caixeta (Figura 7) e os casarotildees do Dr

Joatildeo Borges e do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz a rua e a casa de Deiroacute Borges a Rua do

Tenente Bino o Beco da Zeacutelia a Praccedila da Dona Genoveva (Figura 8) a Rua do Alfredo Borges

a Praccedila Chiquinho Caixeta a Rua Dr Joseacute Oliacutempio Borges a Praccedila Dom Eduardo E ainda a

Travessa dos Queiroz onde se manteacutem de peacute a casa do Capitatildeo Virgiacutelio Caixeta de Queiroz

palco de criaccedilatildeo do partido de oposiccedilatildeo oficial aos ldquoMacieacuteisrdquo

30 |

Figura 7 Casa de Cacircmara e Cadeia (o mais antigo edifiacutecio puacuteblico de Patos de Minas inaugurado em 1912 como Cacircmara Municipal Foacuterum e no reacutes-do-chatildeo a Cadeia Puacuteblica) e Praccedila Juquinha Caixeta Foto Acervo pessoal 2015 Figura 8 Rua Deiroacute Borges ao fundo Praccedila Dona Genoveva Foto Acervo pessoal 2015

Figura 9 Escola Estadual Marcolino de Barros Foto Fotoacutegrafo desconhecido 2008 Disponiacutevel em

httpwwwskyscrapercitycomshowthreadphpt=614809 Acesso em maio de 2014

Figura 10 Escola Estadual Antocircnio Dias Maciel Foto Acervo pessoal 2015

Ao sul da Praccedila Dom Eduardo em frente agrave Catedral de Santo Antocircnio estatildeo os Macieacuteis e seus

parentes os Santana Pacheco Barros Magalhatildees e Ferreira da Silva Segundo Silva (2011) os

Macieacuteis estatildeo ligados agrave modernizaccedilatildeo e agrave reordenaccedilatildeo urbana da cidade entre suas marcas

na paisagem estatildeo a Escola Estadual Marcolino de Barros(Figura 09) a Escola Estadual

Antocircnio Dias Maciel(Figura 10) a Rua Olegaacuterio Maciel a Casa de Olegaacuterio Maciel a Casa do

Dr Itagyba a Rua Farnese Maciel o Palacete de Amadeu Maciel a Rua Major Gote (apelido

de Sesoacutestris Dias Maciel) o Hospital Regional Antocircnio Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur

31 |

Thomaz de Magalhatildees o Coreto Arthur Thomaz de Magalhatildees a Rua Joseacute de Santana a Praccedila

Antocircnio Dias a Rua Major Jerocircnimo [Dias Maciel] e a Praccedila Santana

Olegaacuterio Maciel figura poliacutetica representativa da regiatildeo alternou entre os cargos de

Deputado Federal e Agente Executivo de Municiacutepio no final do seacuteculo XIX ateacute chegar agrave

Presidecircncia do Estado de Minas Gerais nos anos de 1930 Segundo Borges (2008) esse

processo poliacutetico influenciou o desenvolvimento fiacutesico-territorial da cidade atraindo

investimentos do Governo do Estado para a construccedilatildeo das escolas do foacuterum e do Hospital

Regional

No fim do seacuteculo XIX em 1883 o entatildeo Agente do Executivo Olegaacuterio Dias Maciel3 ordenou

a criaccedilatildeo de um plano diretor para ordenar e reorientar o crescimento do povoado para o

sentido sul da Praccedila Dom Eduardo ldquona chapada ou chapadatildeordquo conforme segue na citaccedilatildeo

Seguiu‐se a risca o ldquoPlano Diretorrdquo indicado por Olegaacuterio

Maciel O vereador Eduardo Ferreira de Noronha em 21 de

setembro de 1906 indica que ()auxiliem a Cacircmara a

estudar o local mais conveniente em que se deve construir

o matadouro e respectivo curral oferecendo seu parecer

Hoje distanciados no tempo sabemos que a ldquoChapadardquo

paulatinamente abrigou aleacutem do Matadouro Municipal a

Casa do Coronel Farnese Dias Maciel a Casa de Amadeu

Dias Maciel a Casa do Coronel Arthur Thomaz de

Magalhatildees o Passeio Puacuteblico a fonte luminosa o Coreto o

Cinema o Paccedilo Municipal o Hospital Antocircnio Dias Maciel o

Grupo Escolar o Foacuterum () Pari Passu tambeacutem foram

transladados outros elementos que se localizavam na

direccedilatildeo para a qual a cidade ia se deslocando a mudanccedila

do cemiteacuterio e da Igreja de Nossa Senhora do Rosaacuterio

(frequentada pelos negros) tambeacutem se constituiu como

marco simboacutelico da nova ordenaccedilatildeo urbana planeada por

Olegaacuterio Maciel (BORGES amp SILVA 2009 p13)

3 Olegaacuterio Dias Maciel era engenheiro formado na Escola Polyteacutecnica do Rio de Janeiro em 1878 compartilhava os ideais positivistas da Repuacuteblica e tambeacutem os ideais da Belle Eacutepoque de higienizaccedilatildeo e de racionalizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Soma-se a isso a experiecircncia cultural de Olegaacuterio fora de Patos como deputado federal e senador vivenciou no Rio de Janeiro as reformas urbanas empreendidas por Pereira Passos inspiradas na reforma de Paris sob a batuta do Baratildeo de Haussman Como deputado estadual e depois como presidente do Estado de Minas Gerais vivenciou a experiecircncia de ldquofruirrdquo a cidade de Belo Horizonte construiacuteda racionalmente agrave moda da colonizaccedilatildeo espanhola na Ameacuterica (BORGES amp SILVA 2009)

32 |

Segundo Oliveira (2010) dentre as influecircncias na malha urbana decorrentes do periacuteodo

poliacutetico do iniacutecio do seacuteculo XX destacam-se as intervenccedilotildees na infraestrutura da Avenida

Getuacutelio Vargas definindo a mesma como eixo nobre na cidade o direcionamento o primeiro

vetor de expansatildeo urbana nas direccedilotildees sul e oeste da Av Getuacutelio Vargas

Figura 11 Inundaccedilatildeo ocorrida em 1941 na ponte sobre o Rio Paranaiacuteba Fonte Arquivo do Laboratoacuterio

de Histoacuteria do Unipam Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=3600 Acesso em

dezembro de 2014

Observa-se que a Avenida Getuacutelio Vargas anteriormente denominada como Avenida

Liberdade e depois Avenida Municipal representa o nuacutecleo inicial da cidade e o ponto de

partida dos vetores de ocupaccedilatildeo ateacute a deacutecada de 1930 observa-se que neste periacuteodo as

praccedilas da avenida apresentavam um paisagismo inspirado nos jardins franceses Zama

Maciel4 relata sobre o planejamento de usos e ocupaccedilatildeo dessa aacuterea e a Figura 12 ilustra esse

periacuteodo

4 Zama Maciel foi um patense que exerceu as funccedilotildees de agrimensor professor inspetor de ensino vereador e redator dos jornais locais

Com relaccedilatildeo ao vetor de expansatildeo oeste

observa-se que o mesmo foi impulsionado

pela construccedilatildeo da nova ponte sobre o rio

Paranaiacuteba em aproximadamente 1926

retratada na Figura 11 Segundo

Dannemann (2013) a obra da ponte estava

sob os cuidados da Companhia Nacional de

Cimento Armado SA e ateacute 1970 serviu

como principal acesso agrave sede do municiacutepio

33 |

Avenida Municipal com o seu atual quilocircmetro de extensatildeo foi

destinada agrave habitaccedilatildeo particular devida a sua exagerada

largura e agrave perspectiva que podem oferecer casas pequenas e

de bom gosto fronteando os seus passeios gramados e jardins

floridos que a pequenada destroacutei Nela preacutedios comerciais de

dois trecircs andares tornam-se ridiacuteculos porque natildeo tecircm

magnitude para se imporem agrave largura (repisamos) exagerada

com que os antigos irrefletidamente a construiacuteram Somente

edifiacutecios semelhantes agrave igreja matriz em construccedilatildeo come

cinquenta metros podem nela sobreviverem Pequenos preacutedios

vivendas graciosas de cujas janelas caiam trepadeiras no

conjunto dos jardins e na imensa claridade de nossas tardes

faratildeo dela recanto cobiccedilado agrave moradia Enfeia-la com preacutedios

comerciais de pequeno porte e com casas de diversotildees

barulhentas seraacute obra de mau gosto que se torna necessaacuterio

evitar (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos Patos de

Minas junho de 1937)

Figura 12 Avenida Getuacutelio Vargas parte ao sul da Catedral de Santo Antocircnio deacutecada de 1930 Ao

centro da figura o Palacete Amadeu Maciel Fonte Acervo Documental e de Imagens de Patos de

Minas Local MuP ndash Museu da Cidade de Patos de Minas

A seguir o Mapa 1 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o

ano de 1930 retrata a localizaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da cidade proacuteximo a recursos drsquoaacutegua No

mapa estaacute presente a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano do ano de 2015 que seraacute mantido

como ponto de referecircncia espacial para a malha urbana atual

34 |

35 |

A Figura 13 datada da deacutecada de 1930 eacute uma vista aeacuterea da cidade no qual pode-se

perceber a implantaccedilatildeo e a forma urbana da cidade e os vetores de expansatildeo do iniacutecio do

seacuteculo XX aacuterea retratada pelo Mapa 1 apresentado anteriormente

Figura 13 Vista aeacuterea de Patos de Minas

Fonte Arquivo Daacutecio Pereira da Fonseca Fotografo desconhecido

Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=2650 Acesso em abril de 2014

Observa-se na Figura 13 a presenccedila de espaccedilos livres puacuteblicos dentre eles as Praccedilas da

Avenida Getuacutelio Vargas dos Boiadeiros Antoacutenio Dias Champagnat e Santana os espaccedilos

livres privados o Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo o Patos Tecircnis Clube (PTC) o campo de futebol

da Uniatildeo Recreativa dos Trabalhadores (URT) e o campo de futebol do Clube do Mamoreacute

Segundo Fonseca (1974) desde o final do seacuteculo XIX ateacute 1950 Patos de Minas tentou pleitear

a vinda da estrada de ferro para escoamento da produccedilatildeo agriacutecola da regiatildeo ateacute o Rio de

Janeiro e Satildeo Paulo Segundo Borges e Silva (2009) em 1934 o engenheiro carioca Neacutelson

Rodrigues efetuou o primeiro levantamento planialtimeacutetrico da cidade de Patos de Minas a

princiacutepio esse levantamento objetivava abrigar a estrada de ferro Patos-Catiara Em 1936

provavelmente o proacuteprio Neacutelson Rodrigues concluiu o primeiro Plano Urbano oficial da

cidade apresentado pela Figura 14

LEGENDA 1 ndashMajor Gote e Dr Marcolino 2 ndash Lagoa Grande 3 ndash Campo de Aviaccedilatildeo 4 ndash Hangar do Campo de Aviaccedilatildeo 5 ndash Rua Dr Marcolino 6 ndash Rua Major Gote 7 ndash Coacuterrego do Monjolo 8 ndash PTC 9 ndash Campo da URT 10 ndash Cemiteacuterio Municipal 11 ndash Rio Paranaiacuteba 12 ndash Av Getuacutelio Vargas 13 ndash Matriz de Santo Antocircnio 14 ndash Rua Tiradentes 15 ndash Cadeia 16 ndash Praccedila dos Boiadeiros 17 ndash Praccedila Antocircnio Dias 18 ndash Av Paracatu 19 ndash Igreja do Rosaacuterio 20 ndash Praccedila Champagnat 21 ndash Rua Major Jerocircnimo 22 ndash Campo do Mamoreacute

23 ndash Praccedila Santana

36 |

Figura 14 Plano Urbano de Patos de Minas Elaborado pela autora segundo fonte Prefeitura

Municipal de Patos de Minas

Destaca-se no plano de crescimento urbano a Rua Major Gote na eacutepoca denominada Rua

Desembargador Frederico Zama Maciel escreve ao jornal local sobre o plano urbano as vias

de caraacuteter comercial da cidade e sobre as intenccedilotildees de um zoneamento de usos para o

crescimento da cidade inspirados no urbanismo norte-americano

37 |

A Prefeitura () mandou organizar a planta da cidade e

traccedilar-lhe as ruas futuras no objetivo de impedir o

crescimento desordenado() Neste trabalho foram

observadas tanto quanto possiacutevel as normas seguidas na

Ameacuterica do Norte onde geralmente as cidades satildeo

traccediladas em xadrez cortando-se as ruas em acircngulo reto

() As ruas comerciais estatildeo determinadas no referido

plano e dentre as atuais destacam-se Desembargador

Frederico e General Osoacuterio A primeira () deveraacute atravessar

a cidade de norte a sul e morreraacute na futura praccedila da

estaccedilatildeo ferroviaacuteria onde atualmente se ergue o barracatildeo

da Companhia do Trigo Seraacute futuramente a mais central da

cidade Eacute de uma boa norma localizar-se o comeacutercio em

determinadas zonas (zoneamento chamam a isto os

urbanistas) bem como as faacutebricas os edifiacutecios puacuteblicos as

escolas (natildeo as primaacuterias que devem ser espalhadas nos

bairros residenciais) devem tambeacutem ter as suas zonas

separadas () (Zama Maciel Eacute necessaacuterio Folha de Patos

Patos de Minas junho de 1937)

A linha feacuterrea natildeo foi implantada na cidade e o crescimento urbano das deacutecadas seguintes

natildeo se ateve ao planejamento apresentado na deacutecada de 1930

132

DA DEacuteCADA DE 1940 ATEacute A DEacuteCADA DE 1960

AUMENTO POPULACIONAL

Comparando o plano urbaniacutestico apresentado para a cidade no final do seacuteculo XIX com a

expansatildeo da malha urbana observa-se que o crescimento urbano da cidade ocorreu de

forma mais dispersa do que o apresentado no plano O vetor de expansatildeo ao sul manteve

grande parte do planejamento embora apresentando quadras menores A aacuterea antes

ocupada pela Lagoa dos Patos e a aacuterea a nordeste da Lagoa foram as que mais se

distanciaram das ideias do plano urbaniacutestico apresentando uma malha urbana orgacircnica com

a presenccedila de muitas ruas sem saiacuteda

O Mapa 2 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1965 a seguir retrata o crescimento da malha urbana

38 |

39 |

Segundo Magrini (2008) na deacutecada de 1950 houve um surto migratoacuterio e a instalaccedilatildeo de

diversas firmas comerciais Nesse periacuteodo construiu-se o primeiro Terminal Rodoviaacuterio com

verbas municipais e investimentos da iniciativa privada e teve iniacutecio tambeacutem a comemoraccedilatildeo

da Festa Nacional do Milho evento que ateacute hoje expressa as manifestaccedilotildees culturais da

regiatildeo

Figura 15 Patos de

Minas da deacutecada de

1960

Elaborado pela autora segundo fonte Arquivo de Marialda Coury Foto Joatildeo Lucas Ribeiro Borges

Observando o crescimento da malha urbana de Patos de Minas ateacute 1965 (ilustrado pela

Figura 15) pode-se constatar que houve uma grande expansatildeo da mesma entre a deacutecada de

1950 e 1960 Nesse periacuteodo o aumento populacional ocorreu predominantemente na aacuterea

urbana conforme mostra a Tabela 02 a seguir

Periacuteodo

Populaccedilatildeo Total do

Municiacutepio

Populaccedilatildeo Urbana do Municiacutepio

Populaccedilatildeo Rural do

Municiacutepio

1950 45399 12525 32874

1960 72839 32511 40328

1970 76211 44877 31334

1980 86121 63302 22819

1990 102946 87403 15543

2000 123881 111333 12548

2010 138710 127724 10986

2014 147614 - -

Tabela 2 Crescimento Populacional de Patos de Minas Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e Magrini 2008 Populaccedilatildeo prevista segundo o IBGE

40 |

Nas deacutecadas seguintes a 1960 como se pode antever pela Tabela 2 o crescimento da zona

rural foi diminuindo gradativamente e a populaccedilatildeo da aacuterea urbana aumentando

impulsionando o crescimento da malha urbana

133

DA DEacuteCADA DE 1970 ATEacute A DEacuteCADA DE 1980

Incorporaccedilatildeo dos corpos drsquoaacutegua

Nas deacutecadas de 1960 e 1970 periacuteodo de ditadura Militar segundo Magrini (2010) Patos de

Minas passou por uma estagnaccedilatildeo econocircmica devido agrave emancipaccedilatildeo poliacutetica de dois

importantes Lagoa Formosa e Guimaracircnia no mesmo periacuteodo houve grande deslocamento

de patenses para a nova capital do paiacutes Brasiacutelia em busca de empregos

Justamente na eacutepoca da mudanccedila da capital do paiacutes para

Brasiacutelia Patos de Minas perde caracteriacutestica de centro

rodoviaacuterio e transforma-se no ldquopassa perto de Patosrdquo com

estradas asfaltadas em volta num eixo de 130 km Natildeo se

vinha aqui como antes ateacute que a BR 354 inaugurada em

1972 abolia este malfadado passa perto ressurgindo toda a

movimentaccedilatildeo comercial completada pela BR ndash 365 em

1974 (MELLO 1992 p54)

De 1965 ateacute os anos 1980 Patos de Minas praticamente dobrou a sua aacuterea de ocupaccedilatildeo

decorrente principalmente do processo de ecircxodo rural Segundo Oliveira (2010) os vetores

direcionavam para todos os sentidos sendo apenas o oeste limitado pelo Rio Paranaiacuteba os

cursos drsquoaacutegua menores natildeo foram uma barreira para esta expansatildeo

O Mapa 3 Evoluccedilatildeo do Traccedilado urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute a deacutecada

de 1980 a seguir retrata o crescimento da malha urbana nesse periacuteodo

41 |

42 |

Em 1982 foi iniciada a urbanizaccedilatildeo da Lagoa dos Japoneses a Lagoa Grande (Figura 16 e

Figura 17) com a reduccedilatildeo significativa da aacuterea alagada e a construccedilatildeo do Terminal

Rodoviaacuterio No entorno da lagoa foi criado o Parque Recreativo Dr Itagiba depois renomeado

como Parque Dr Itagiba Augusto Silva o primeiro parque urbano da cidade um dos principais

cartotildees postais da cidade espaccedilo de lazer e contemplaccedilatildeo

Figura 16 Projeto para o

Parque Recreativo Dr

Itagiba a construccedilatildeo ao

lado esquerdo da figura

representa o Terminal

Rodoviaacuterio Fonte Jornal

A Debulha O projeto do

parque Ano VIII nordm178

janeiro de 1988 paacuteg7

Figura 17 Planta do Parque Dr Itagiba Augusto Silva ndash Lagoa Grande Fonte Prefeitura Municipal de Patos de Minas 2014

43 |

Em 1986 foi iniciada a canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo inicialmente uma Avenida

Sanitaacuteria no Coacuterrego do Monjolo (Figura 18) atualmente conhecida como Avenida Faacutetima

Porto as obras terminaram em 1996 Segundo Caixeta amp Vlach (2009) a canalizaccedilatildeo

acarretou inicialmente na ocupaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo do entorno e devido agrave resoluccedilatildeo dos

problemas sanitaacuterios que aiacute existiam

Figura 18 Canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do Monjolo deacutecada de 1990 Foto Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira Disponiacutevel em httpwwwefecadepatoscombrp=7568 Acesso em maio de 2015

Com o decorrer dos anos e a instalaccedilatildeo dos bairros no entorno o Coacuterrego do Monjolo passou

a apresentar problemas com enchentes e um forte odor provavelmente a canalizaccedilatildeo do

coacuterrego jaacute natildeo suportava mais o volume de aacutegua pluvial dos bairros aleacutem da presenccedila de

esgotos clandestinos Tais problemas geraram novos projetos de canalizaccedilatildeo do Coacuterrego do

Monjolo nas deacutecadas seguintes

44 |

134

DA DEacuteCADA DE 1990 ATEacute OS DIAS ATUAIS

A FORMA URBANA ATUAL

No final da deacutecada de 1980 houve a descoberta da uma jazida de Fosfato Sedimentar na

localidade da Rocinha (aacuterea rural) o que impulsionou a instalaccedilatildeo de induacutestrias voltadas para

o agronegoacutecio iniciado pelas Sementes Agroceres SA (especialista tambeacutem em geneacutetica

suiacutena) Nesse periacuteodo ocorreu ainda um maior desenvolvimento teacutecnico da agricultura por

meio da irrigaccedilatildeo e do cultivo de novos cereais

Os reflexos do desenvolvimento comercial e industrial da regiatildeo foram notados na

implantaccedilatildeo de induacutestrias de confecccedilotildees agroinduacutestrias e na instalaccedilatildeo da multinacional Cica

que impulsionou o cultivo de milho ervilha e tomate5

A implementaccedilatildeo de induacutestrias somadas agraves pressotildees poliacuteticas acarretou na instalaccedilatildeo de um

distrito industrial na porsatildeo sul e oeste da cidade expandindo o periacutemetro urbano para aleacutem

das margens do Rio Paranaiacuteba A criaccedilatildeo do distrito industrial influenciou a ocupaccedilatildeo ao longo

da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek construiacuteda nos anos 1970 para ligaccedilatildeo do nuacutecleo

urbano agraves rodovias BR-354 e BR-365 comportando-se entatildeo como principal acesso da

cidade

O Mapa 4 Evoluccedilatildeo do Traccedilado Urbano de Patos de Minas do iniacutecio do povoado ateacute o ano de

2015 a seguir apresenta a forma urbana atual da cidade

5 A multinacional Cica permaneceu na cidade ateacute 2001 depois se deslocou para o Estado de Goiaacutes quando perdeu parte dos incentivos fiscais oferecidos pela cidade

45 |

46 |

Na deacutecada de 1990 a expansatildeo da malha urbana ultrapassou as aacutereas de algumas reservas

ambientais que se transformaram nos principais parques urbanos da cidade o Parque

Municipal do Mocambo (Figura 19) em 1990 e o Parque Municipal Joatildeo Luiz Redondo (Figura

20) em 1994 ambos localizados em aacutereas de lagoas

Figura 19 Parque Municipal do

Mocambo 1992 Fonte Arquivo

de Donaldo Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecadepatoscombr

p=8437 Acesso em marccedilo de

2015

Figura 20 Parque

Municipal Joatildeo Luiz

Redondo (Lagoinha)

deacutecada de 1990 Fonte

Arquivo de Donaldo

Amaro Teixeira

Disponiacutevel em

httpwwwefecade

patoscombrp=75

54 Acesso em marccedilo

de 2015

47 |

Foi criado tambeacutem na deacutecada de 1990 na Lei Municipal nordm 2872 de 03 de outubro de 1991

o Parque Mirante do Alto da Colina (ainda natildeo implantado) e a Lei Municipal nordm 2871 de 03

de outubro de 1991 declara a aacuterea denominada Lagoa e Bosque do ldquoPATAtildeOrdquo de preservaccedilatildeo

permanente onde desde entatildeo se cogita a implantaccedilatildeo de um parque urbano

Figura 21 Rua Mirico Caixeta ao fundo a Mata do Catingeuiro Evidenciando a falta de conexatildeo da

mata com o entorno Foto Acervo pessoal 2015

Figura 22 Rua 0 e o desmatamento na Mata do Catingeiro Foto Acervo

pessoal 2015

Em 2014 foi aprovada a criaccedilatildeo do Parque

de Preservaccedilatildeo Mata do Catingueiro uma

tentativa de proteger os restigios da mata

localizado no setor leste aacuterea que

recentemente recebeu muitos loteamentos

que foram implantados sem se estabelecer

uma aacuterea de transiccedilatildeo ou de integraccedilatildeo da

mata com a malha urbana sem passeios

ciclovias praccedilas ou parques conforme

ilustrado na Figura 21 A mata do

Catingueiro tem sido um constante alvo de

queimadas e desmatamento a Figura 22

mostra os vestiacutegios da mata

48 |

Figura 23 Programa MCMV- Jardim Quebec II com 437unidades localizado na porccedilatildeo noroeste da

cidade ao fundo da figura a mata ciliar do Rio Paranaiacuteba e plantaccedilotildees de cafeacute Foto Sacircmara C P Lima

2014

Na deacutecada de 2010 ocorreu a expansatildeo do periacutemetro urbano no sentindo norte pela primeira

vez para aleacutem do Coacuterrego do Limoeiro devido agrave instalaccedilatildeo de um campus da Universidade

Federal de Uberlacircndia na aacuterea Observa-se na Figura 23 que a aacuterea do extremo noroeste da

cidade estaacute em processo de expansatildeo da malha urbana e apresenta construccedilotildees habitacionais

do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na cidade

Notamos diversas transformaccedilotildees na malha urbana de Patos de Minas ao longo das deacutecadas

desde a implantaccedilatildeo do nuacutecleo urbano aos desdobramentos econocircmicos poliacuteticos e sociais

que direcionaram o crescimento da cidade e a transformaccedilatildeo da paisagem

O tecido urbano e o crescimento das cidades brasileiras como eacute o caso de Patos de Minas se

daacute pela conformaccedilatildeo do sistema viaacuterio pelos padrotildees de parcelamento do solo por

edificaccedilotildees e pelos espaccedilos livres Patos possui uma relaccedilatildeo cultural e econocircmica muito forte

com a zona rural A linha de transiccedilatildeo entre o urbano e o rural eacute muito tecircnue principalmente

nas aacutereas de borda urbana Nesses bairros de periferia ou de limite da mancha urbana a

cidade termina no outro lado da rua depois de uma cerca de arame sem nenhum espaccedilo de

transiccedilatildeo o outro lado da cerca se configura como um espaccedilo livre com muitas

potencialidades de uso e conflitos

49 |

Figura 24 Paisagem urbana de Patos de Minas Fonte Elaborado pela autora

Em Patos de Minas a paisagem urbana eacute emoldurada por serras cobertas por diferentes

plantaccedilotildees (Figura 24) a cidade termina onde o Rio Paranaiacuteba passa ou a cidade termina

onde comeccedilam os fundos de vale Ora cidade ora zona rural A paisagem tambeacutem eacute marcada

pela Catedral um contraste no meio do aglomerado urbano em uma zona em processo de

verticalizaccedilatildeo onde a Catedral se esconde e se revela A Catedral marca o iniacutecio da ocupaccedilatildeo

da regiatildeo em uma aacuterea de chapada na beira da lagoa hoje a chapada foi praticamente toda

ocupada e os bairros das bordas urbanas ocupam as aacutereas mais elevadas da cidade Do alto

desses bairros da borda eacute possiacutevel ver as lagoas e os coacuterregos pressentes na cidade espaccedilos

que se configuram como parques praccedilas e chaacutecaras espaccedilos livres de edificaccedilatildeo que

ressaltam a identidade da cidade e a paisagem urbana

50 |

51 |

21 ESPACcedilOS LIVRES

ESPACcedilOS ABERTOS AacuteREAS VERDES

O conceito de espaccedilo livre de edificaccedilatildeo eacute amplo e complexo Para Nucci (2001) os espaccedilos

livres fazem parte de um grande grupo paisagiacutestico urbano que pode ser subdividido em

vaacuterias categorias dependendo do seu uso e funccedilatildeo sendo entatildeo um termo bastante

abrangente que agrega todos os outros conceitos similares como espaccedilos abertos aacutereas

verdes aacutereas livres sistemas de aacutereas de lazer cobertura vegetal entre outros

Segundo Queiroga (2006) Miranda Magnoli em sua tese de livre-docecircncia6 buscou afirmar o

espaccedilo livre como o objeto do paisagismo indo aleacutem do jardim do projeto com vegetaccedilatildeo

e da escala urbana Nesse sentido definiu espaccedilo livre como espaccedilo livre de edificaccedilotildees todo

espaccedilo descoberto urbano ou natildeo vegetado ou natildeo puacuteblico ou privado De acordo com a

autora para a anaacutelise de um dado recorte escalar propotildee-se que o estudo dos espaccedilos livres

deva ir aleacutem dos espaccedilos vegetados e dos espaccedilos puacuteblicos envolvendo todos os espaccedilos

livres do referido recorte Ou seja para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na cidade

eacute preciso ir aleacutem da anaacutelise dos espaccedilos puacuteblicos ou dos vegetados eacute preciso identificar todas

as aacutereas natildeo construiacutedas na cidade os espaccedilos privados intra-lote os lotes e glebas ociosas

as ruas os passeios etc

Os espaccedilos livres satildeo um dos principais estruturadores da forma urbana e um dos principais

elementos caracterizadores da paisagem urbana Segundo Magnoli (1982) os espaccedilos livres

satildeo os ambientes natildeo edificados da cidade as ruas avenidas praccedilas parques quintais

jardins rios matas mangues praias urbanas ou simples vazios urbanos

Quando adotamos o termo aacutereas verdes ou aacutereas verdes urbanas nos referimos a um

subsistema dentro do Sistema de Espaccedilos Livres que engloba principalmente as aacutereas de

preservaccedilatildeo permanente (APPrsquos) reservas legais (RL) e a arborizaccedilatildeo urbana Segundo

6 MAGNOLI Miranda Espaccedilos livres e urbanizaccedilatildeo uma introduccedilatildeo a aspectos da paisagem metropolitana 1982 116 p Tese (Livre-docecircncia em Arquitetura e Urbanismo) ndash Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1982

52 |

Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilo livre eacute adotado se sobrepondo contendo e

ampliando o conceito usual de aacutereas verdes termo que tem como base a necessidade de

espaccedilos livres dotados de vegetaccedilatildeo De acordo com o autor o termo aacutereas verdes eacute

reducionista desconsidera as caracteriacutesticas fundamentais do espaccedilo urbano como a

complexidade e diversidade das formas de apropriaccedilatildeo e apreensatildeo social e o fato real da

impossibilidade fiacutesica e mesmo da inconveniecircncia da existecircncia de vegetaccedilatildeo em

determinados espaccedilos livres

De acordo com Queiroga et al (2011) o conceito de espaccedilos livres natildeo desconsidera o papel

da vegetaccedilatildeo nas cidades brasileiras como elemento facilitador da drenagem urbana criador

de microclimas mais agradaacuteveis contribuindo para a manutenccedilatildeo da diversidade animal e

vegetal e ainda como fator de embelezamento urbano mas natildeo desconsidera a importacircncia

dos espaccedilos natildeo vegetados para inuacutemeras praacuteticas de relevacircncia cultural das feiras agraves festas

populares das manifestaccedilotildees poliacuteticas agrave valorizaccedilatildeo de determinadas paisagens e

patrimocircnios culturais

Entretanto apesar dos crescentes avanccedilos nas discussotildees sobre os espaccedilos livres muitos

autores planos diretores planos de uso e ocupaccedilatildeo ainda natildeo compreenderam o termo

como em Patos de Minas onde adota-se o termo aacutereas verdes nas leis municipais e plano

diretor Na Lei de Uso e Ocupaccedilatildeo do Solo de Patos de Minas (2008) as aacutereas verdes satildeo

descritas como porccedilotildees situadas na Macrozona Urbana destinadas a oferecer espaccedilos

puacuteblicos adequados e qualificados agraves atividades de recreaccedilatildeo lazer e turismo da populaccedilatildeo

de forma a conciliar a proteccedilatildeo dos bens naturais e culturais As cidades precisam de reservas

de aacutereas verdes e de espaccedilos livres de qualidade para praacutetica de atividades culturais de lazer

e contemplaccedilatildeo Observa-se que na lei municipal de Patos de Minas existe uma sobreposiccedilatildeo

entre a funccedilatildeo das reservas de aacutereas verdes e dos espaccedilos de praacuteticas socias sobreposiccedilatildeo

essa presente no conceito dos espaccedilos livres

A implantaccedilatildeo dos espaccedilos livres puacuteblicos depende de uma gestatildeo adequada e integrada dos

recursos com uma fiscalizaccedilatildeo efetiva o que implica no desenvolvimento de poliacuteticas

puacuteblicas permanentes que viabilizem as intervenccedilotildees e necessidades dos espaccedilos livres

Segundo Loboda amp Angelis (2012) o planejamento das aacutereas verdes (puacuteblicas) urbanas parte

de uma definiccedilatildeo de recursos que eacute residual as necessidades satildeo amenizados com recursos

que sobram de outras atividades consideradas como mais prioritaacuterias e que geralmente

53 |

incluem-se nesse acircmbito aquelas de cunho estrateacutegico poliacutetico e econocircmico O autor cita um

problema frequente em diversas cidades brasileiras a falta de recursos destinados aos

espaccedilos puacuteblicos e dentre eles as aacutereas verdes urbanas um dos principais espaccedilos livres das

cidades

De acordo com Magnoli (1982) a localizaccedilatildeo acessibilidade e distribuiccedilatildeo dos espaccedilos livres

formam um complexo sistema de conexotildees com muacuteltiplos papeacuteis urbanos atividades do oacutecio

circulaccedilatildeo urbana conforto conservaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo ambiental drenagem urbana

imaginaacuterio e memoacuteria urbana lazer e recreaccedilatildeo dentre outros Todas essas funccedilotildees

exercidas no ambiente urbano pelos espaccedilos livres assim como a localizaccedilatildeo acessibilidade

distribuiccedilatildeo tipos de usos e configuraccedilatildeo espacial estatildeo organizadas de maneira sistecircmica na

cidade formando o Sistema de Espaccedilos Livres

22 O PENSAMENTO SISTEcircMICO

As cidades independentemente da sua localidade histoacuteria e configuraccedilatildeo satildeo formadas de

modo geral por espaccedilos livres e espaccedilos edificados duas categorias espaciais estruturantes

da forma urbana A configuraccedilatildeo dos espaccedilos livres eacute variaacutevel nas cidades brasileiras por

diversas questotildees como caracteriacutesticas territoriais bioma configuraccedilatildeo paisagiacutestica pela

existecircncia ou ausecircncia de planos urbanos e principalmente pelos processos de urbanizaccedilatildeo e

de transformaccedilatildeo da paisagem

A cidade eacute um conjunto de elementos sistemas e funccedilotildees e os espaccedilos livres formam um dos

principais sistemas capaz de estruturar toda a configuraccedilatildeo urbana De acordo com Tardin

(2010) e DrsquoAgostini amp Cunha (2007) sistema eacute um conjunto de elementos passiacutevel de

estabelecer inter-relaccedilotildees fiacutesicas funcionais estruturais morfoloacutegicas e relativas agrave vivecircncia

da paisagem abertas e intricadas entre si com seu entorno e com as pessoas que o

vivenciam

De acordo com Morin (2008) apud Queiroga (2014) o conceito de sistema implica natildeo

somente elementos inter-relacionaacuteveis mas tais relaccedilotildees constituem uma organizaccedilatildeo e uma

estrutura relativamente estaacutevel que caracteriza o sistema como um todo A organizaccedilatildeo

54 |

sistecircmica por sua vez conteacutem as relaccedilotildees que definem o sistema e que o transformam

alterando sua estrutura possibilitando sua permanecircncia e contendo a possibilidade concreta

de sua dissoluccedilatildeo Para o autor o termo exprime multiplicidade totalidade diversidade

organizaccedilatildeo e complexidade

A noccedilatildeo de sistema auxilia o estudo dos espaccedilos livres urbanos e o entendimento das suas

relaccedilotildees de interdependecircncia complementaridade e hierarquia Segundo Schlee et al

(2009) considerando-se a paisagem como um macrossistema complexo formado de

subsistemas os espaccedilos livres urbanos constituem um dos seus subsistemas inter-

relacionados com outros subsistemas urbanos e rurais e que podem se justapor ao Sistema

de Espaccedilos Livres ou se sobrepor total ou parcialmente enquanto sistemas de accedilotildees

[] entende-se como sistemas de espaccedilos livres (SEL)

urbanos os elementos e as relaccedilotildees que organizam e

estruturam o conjunto de todos os espaccedilos livres de um

determinado recorte urbano independentemente de sua

dimensatildeo qualificaccedilatildeo esteacutetica funcional e de sua

localizaccedilatildeo e propriedade sejam eles puacuteblicos ou privados

[] toda cidade possui um sistema de espaccedilos livres que eacute

produzido durante seu processo de formaccedilatildeo tanto pelo

Poder Puacuteblico como pela iniciativa privada (MACEDO 2010

p 3 e 4)

O autor afirma que todas as cidades independente do seu porte de suas caracteriacutesticas

culturais e histoacutericas possuem um Sistema de Espaccedilos Livres Essa afirmaccedilatildeo incita diversas

questotildees que conduziram esta pesquisa pontos voltados ao objeto de estudo a cidade de

Patos de Minas uma cidade meacutedia

O SEL DE UMA MEGAacuteLOPOLE OU METROacutePOLE Eacute

DIFERENTE DO SEL DE UMA PEQUENA CIDADE OU DE

UMA CIDADE MEacuteDIA

O MESMO TIPO DE ANAacuteLISE QUE SE APLICA PARA O

ENTENDIMENTO DO SEL DE UMA CIDADE DE GRANDE

PORTE PODE SER APLICADO PARA UMA CIDADE DE

MEacuteDIO PORTE

EXISTEM TIPOS DE ESPACcedilOS LIVRES FUNCcedilOtildeES OU

RELACcedilOtildeES QUE CARACTERIZAM O SISTEMA DE ESPACcedilOS

LIVRES DE UMA CIDADE MEacuteDIA

55 |

23 OS ESPACcedilOS LIVRES NAS

CIDADES MEacuteDIAS

O espaccedilo livre eacute parte estruturante da forma urbana ele se configura em diferentes

categorias tipologias e caracteriacutesticas no meio urbano principalmente pela introduccedilatildeo ao

longo da histoacuteria de diferentes padrotildees urbaniacutesticos nas cidades O processo de urbanizaccedilatildeo

das cidades eacute uma soma e por vezes ateacute uma sobreposiccedilatildeo de padrotildees morfoloacutegicos esses

traccedilados geram diferentes paisagens com diferentes tipos de espaccedilos livres Incorporando ao

sistema um rico mosaico espacial formado por diferentes porcentagens de espaccedilos livres

intra lote caracteriacutesticos de traccedilados distintos por diferentes tipos de praccedilas aacutereas de

preservaccedilatildeo parques ruas e avenidas Aacutereas essas que apresentam diversos conflitos e

possuem um intenso potencial de transformaccedilatildeo

Segundo Macedo et al (2012) as cidades brasileiras possuem padrotildees morfoloacutegicas

semelhantes isso fica evidente na repeticcedilatildeo dos tipos de traccedilado (ortogonais orgacircnicos

radiais) e nos padrotildees de mancha urbana (linear tentacular compacta mista) O que confere

a especifidade das diversas cidades eacute a forma como elas estatildeo inseridas em seu contexto

territorial os arranjos espaciais seus padrotildees culturais socioeconocircmicos a legislaccedilatildeo

municipal as tipologias e funccedilotildees dos espaccedilos livres e a paisagem urbana Nas cidades meacutedias

brasileiras a forma como os padrotildees morfoloacutegicos se adequam ao suporte fiacutesico

transformando paisagem a local confere ao Sistema de Espaccedilos Livres diferentes dinacircmicas

espaciais funcionais e tipoloacutegicas

Como dito anteriormente neste trabalho a proposta natildeo eacute discutir o que determina uma

cidade como de meacutedio porte ou natildeo mas entender essas cidades como centro urbanos em

crescimento onde novos traccedilados e dinacircmicas urbanas satildeo somadas agrave cidade existente

transformando a paisagem local Na atual conjuntura brasileira segundo Tacircngari et al(2009)

apoacutes a deacutecada de 1980 as cidades meacutedias passaram a crescer mais rapidamente em

comparaccedilatildeo com as metroacutepoles um processo de diminuiccedilatildeo do movimento migratoacuterio em

direccedilatildeo agraves megaloacutepoles e o seu direcionamento para as cidades meacutedias que apresentam

grande potencial de crescimento econocircmico e tecircm seus atributos esteacuteticos e econocircmicos

56 |

valorizados atraveacutes da propagaccedilatildeo da ideia de que cidades de meacutedio porte podem apresentar

mais qualidade de vida que as grandes metroacutepoles

As cidades meacutedias reproduzem os padrotildees morfoloacutegicos e culturais vindos do contexto das

grandes cidades e das pequenas cidades ou povoados de seu entorno Um exemplo dessa

influecircncia vinda das grandes cidades satildeo os condomiacutenios fechados propostos inicialmente

pelo mercado imobiliaacuterio como locais de seguranccedila e lazer proacuteximos aos grandes centros

urbanos esse mesmo padratildeo de condomiacutenio fechado eacute aplicado nas cidades meacutedias onde a

criminalidade eacute bem menor e as distacircncias a serem percorridas satildeo mais curtas Um exemplo

da influecircncia vinda das pequenas cidades e povoados proacuteximos satildeo as chaacutecaras pastos e

plantaccedilotildees presentes dentro malha urbana

Patos de Minas eacute um exemplo de cidade meacutedia em crescimento que recebe influecircncias

culturais e de padrotildees morfoloacutegicos uma cidade que possui caracteriacutesticas especiacuteficas de seu

suporte fiacutesico de seu processo histoacuterico e cultura que influenciam diretamente na malha

urbana as tipologias de espaccedilos livres e os tipos de apropriaccedilatildeo desses espaccedilos

Se observarmos em Patos de Minas as caracteriacutesticas da condiccedilatildeo de cidade meacutedia como por

exemplo a localizaccedilatildeo estrateacutegica entre cidades de maior e menor porte Percebemos que a

cidade atrai pessoas do entorno para desfrutar de suas potencialidades econocircmicas e de seus

aparatos de lazer (parques praccedilas locais de exposiccedilatildeo agropecuaacuteria) o que contribui

diretamente para geraccedilatildeo de renda e uso dos espaccedilos A cidade possui uma relaccedilatildeo direta

com cidades de maior porte que servem de escoamento da produccedilatildeo e suprimento de

mercadorias essa relaccedilatildeo de proximidade atrai para cidade eventos e exposiccedilotildees e pode

motivar influecircncias sobre as tipologias de espaccedilos livres gerados (assim como o processo de

globalizaccedilatildeo tambeacutem pode exercer esse papel)

Eacute nesse contexto de crescimento das cidades meacutedias e influecircncias morfoloacutegicas e culturais

que o Sistema de Espaccedilos Livres precisa ser pensado e entendido como uma infraestrutura

baacutesica para o desempenho da vida cotidiana urbana Segundo Souza amp Macedo (2014) o SEL

deve oferecer condiccedilotildees de habitabilidade urbana e para isso eacute necessaacuterio que se estabeleccedila

um diagnoacutestico baseado na existecircncia ou ausecircncia de uma seacuterie de atributos urbanos

necessaacuterios e qualitativos que deveriam orientar accedilotildees poliacuteticas e projetos de maneira a

formar um Sistema de Espaccedilos Livres integrado agrave paisagem local e a demanda da populaccedilatildeo

57 |

O autor afirma que eacute preciso fazer uma leitura da cidade de seus condicionantes conflitos e

potencialidades para entender como se estrutura o SEL suas funccedilotildees e seu potencial de

transformaccedilatildeo e organizaccedilatildeo na cidade

Partimos para anaacutelise da forma urbana patense buscando o entendimento de como as

caracteriacutesticas especiacuteficas do suporte fiacutesico da organizaccedilatildeo espacial da situaccedilatildeo fundiaacuteria e

dos tipos de usos e funccedilotildees exercidas pelos espaccedilos livres estruturam o Sistema de Espaccedilos

Livres de Patos de Minas

24 OS ESPACcedilOS LIVRES NA FORMA URBANA DE

PATOS DE MINAS

Para o entendimento do papel dos espaccedilos livres na forma urbana de Patos de Minas a

anaacutelise foi dividida em trecircs principais enfoques RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA CONFIGURACcedilAtildeO

ESPACIAL e RELACcedilAtildeO DE USOS DO SOLO A leitura da cidade apresentada por esses trecircs

acircngulos somada ao entendimento de paisagem forma urbana e da formaccedilatildeo e

transformaccedilatildeo da malha urbana patense apresentados no capiacutetulo anterior nos possibilitam

o entendimento do Sistema Espaccedilos Livres de Patos de Minas como um todo com suas

categorias tipoloacutegias e relaccedilotildees sistecircmicas

Os trecircs principais enfoques foram determinados com base nas principais caracteriacutesticas da

cidade nas suas peculiaridades na sua condiccedilatildeo de cidade de meacutedio porte Provavelmente

um outro tipo de cidade com outras caracteriacutesticas de paisagem demandaria outro segmento

de anaacutelise

58 |

241

RELACcedilAtildeO ECOLOacuteGICA

ESPACcedilOS LIVRES x SUPORTE ambiental

O principal objetivo desse subcapiacutetulo eacute analisar as caracteriacutesticas do suporte ambiental sobre

o qual a cidade de Patos de Minas foi implantada buscando identificar quais espaccedilos livres

presentes na cidade incorporam esses elementos da paisagem O suporte ambiental eacute parte

da paisagem urbana ele eacute formado por elementos como corpos drsquoaacutegua vegetaccedilatildeo relevo

solos e clima

Estatildeo cada vez mais presentes nos planos diretores e na legislaccedilatildeo ambiental denominaccedilotildees

como reservas florestais puacuteblicas e privadas parques lineares parques ecoloacutegicos unidades

de conservaccedilatildeo aacutereas de proteccedilatildeo permanente (APPrsquos) aleacutem de referecircncias agrave

sustentabilidade e agrave ecologia Essas denominaccedilotildees muitas vezes geram espaccedilos livres

voltados agrave funccedilatildeo de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental Entretanto os espaccedilos livres

vinculados ao suporte fiacutesico natildeo possuem somente a funccedilatildeo de conservaccedilatildeo ambiental eles

possuem outros papeacuteis no meio urbano como recreaccedilatildeo infraestrutura urbana contribuir

com a drenagem pluvial possibilitar microclimas urbanos mais agradaacuteveis contribuir para

manutenccedilatildeo da biodiversidade e valores esteacuteticos Segundo Queiroga (2012) a

permeabilidade do solo e a cobertura arboacuterea permitem a conservaccedilatildeo de paisagens com

melhor desempenho ambiental mitigando problemas comuns nas aacutereas urbanas a qualidade

da aacutegua e do ar a manutenccedilatildeo da qualidade do solo controle de erosatildeo abastecimento dos

aquiacuteferos e regulaccedilatildeo das enchentes

Os espaccedilos livres vinculados ao suporte ambiental como os corpos drsquoaacutegua e a vegetaccedilatildeo

constantemente satildeo alvo de degradaccedilatildeo ambiental o que ressalta a sua funccedilatildeo ambiental

dentro do sistema Entretanto a mitigaccedilatildeo desses problemas natildeo eacute uma questatildeo pertinente

apenas ao planejamento ambiental das cidades De acordo com Jacobs (2001) as aacutereas livres

puacuteblicas estruturam o espaccedilo urbano satildeo o principal suporte espacial para o encontro e a

vivecircncia urbana Segundo a autora a degradaccedilatildeo do espaccedilo urbano observada pela reduccedilatildeo

de aacutereas puacuteblicas de lazer deficiecircncia na arborizaccedilatildeo urbana excessiva impermeabilizaccedilatildeo do

solo aumento da temperatura e criaccedilatildeo de ilhas de calor danos ambientais diversos

diminuiccedilatildeo da qualidade da ambiecircncia urbana e perda de qualidade de vida constitui um

59 |

problema que extrapola a esfera fiacutesicaespacial constituindo um problema social visto que

desencoraja o uso da rua e dos espaccedilos livres como locais de encontro necessaacuterios para a

manutenccedilatildeo das praacuteticas sociais

Ao longo do processo de urbanizaccedilatildeo das cidades brasileira foram comuns situaccedilotildees em que

aacutereas de reserva natural foram desmatadas para dar lugar a loteamentos coacuterregos foram

canalizados e desapareceram da paisagem urbana ou foram canalizadas a ceacuteu aberto tiveram

sua APP desmatada e impermeabilizada para dar lugar a avenidas e aacutereas construiacutedas como

no caso da Figura 26

Figura 26 Coacuterrego do Monjolo em Patos de Minas canalizado a ceacuteu aberto na deacutecada de 1970 com APP desmatada e grande parte do seu entorno impermeabilizado Agraves margens do coacuterrego a Av Faacutetima Porto Foto Acervo pessoal 2014

Atualmente esse tipo de tratamento de supressatildeo da vegetaccedilatildeo das APPrsquos em aacutereas

urbanizadas eacute cada vez mais incomum7 o que contribui para a conservaccedilatildeo desses recursos

naturais Entretanto gradativamente mais a legislaccedilatildeo ambiental trata a funccedilatildeo ambiental dos

espaccedilos como algo isolado entendendo as APPrsquos como locais onde natildeo podem existir

intervenccedilotildees desconsiderando que esses espaccedilos podem estar vinculados a outras funccedilotildees

como por exemplo recreaccedilatildeo educaccedilatildeo ambiental valorizaccedilatildeo da paisagem De acordo com

7 Os casos excepcionais nos quais eacute permitido a supressatildeo da vegetaccedilatildeo em APP estatildeo definidos pela Resoluccedilatildeo CONAMA 36906