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José Roberto de Vasconcelos Costa* Editor de “Astronomia no Zênite” (www.zenite.nu) INTRODUÇÃO Réplicas em escala do Sistema Solar existem por todo o mundo, principalmente na Europa e Estados Unidos. Elas ilustram o afastamento dos planetas em relação ao Sol, ajudando a compreender o que os livros didáticos geralmente não conseguem ilustrar. Mostra-se impraticável, por exemplo, reproduzir numa mesma página as enormes distâncias interplanetárias junto às dimensões comparativas entre os corpos celestes. O modelo Terra – Lua já nos dá uma noção dessa dificuldade. Graficamente, ele poderia ser representado como mostra a Figura 1. Contudo, a distância entre a Terra e a Lua ainda é muito pequena diante da imensidão do Sistema Solar. Cerca de 400 vezes maior, por exemplo, é a distância entre a Terra e o Sol. Torna-se evidente que representar o Sistema Solar, mesmo em escala reduzida, requer bastante espaço. Apesar da dificuldade, seria muito oportuno construir esse modelo, como [1] atestam os muitos que já existem pelo mundo . Lúdicos e convidativos, essas réplicas em escala permitem não somente uma melhor compreensão da estrutura geral do nosso sistema planetário, como também auxiliam na fixação de conceitos fundamentais de Geometria e Ciência, além da própria noção de escala e diversos outros possíveis desdobramentos. O Sistema Solar no Parque Fernando Medeiros 29 *- Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, secretário nacional da ONG “The Planetary Society”, Diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Planetários (ABP) e Editor-chefe da revista “Planetaria” (ISSN 2358-2251). Figura 1: Terra e Lua em uma escala que respeita o tamanho e a distância entre os astros. V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)

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José Roberto de Vasconcelos Costa*Editor de “Astronomia no Zênite” (www.zenite.nu)

INTRODUÇÃO

Réplicas em escala do Sistema Solar existem por todo o mundo, principalmente na Europa e Estados Unidos. Elas ilustram o afastamento dos planetas em relação ao Sol, ajudando a compreender o que os livros didáticos geralmente não conseguem ilustrar.

Mostra-se impraticável, por exemplo, reproduzir numa mesma página as enormes distâncias interplanetárias junto às dimensões comparativas entre os corpos celestes. O modelo Terra – Lua já nos dá uma noção dessa dificuldade. Graficamente, ele poderia ser representado como mostra a Figura 1.

Contudo, a distância entre a Terra e a Lua ainda é muito pequena diante da imensidão do Sistema Solar. Cerca de 400 vezes maior, por exemplo, é a distância entre a Terra e o Sol. Torna-se evidente que representar o Sistema Solar, mesmo em escala reduzida, requer bastante espaço. Apesar da dificuldade, seria muito oportuno construir esse modelo, como

[1]atestam os muitos que já existem pelo mundo .

Lúdicos e convidativos, essas réplicas em escala permitem não somente uma melhor compreensão da estrutura geral do nosso sistema planetário, como também auxiliam na fixação de conceitos fundamentais de Geometria e Ciência, além da própria noção de escala e diversos outros possíveis desdobramentos.

O Sistema Solar no ParqueFernando Medeiros

29

*- Mestre em Ensino de Ciências Naturais e Matemática, secretário nacional da ONG “The Planetary Society”, Diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Planetários (ABP) e Editor-chefe da revista “Planetaria” (ISSN 2358-2251).

Figura 1: Terra e Lua em uma escala que respeita o tamanho e a distância entre os astros.

V.2 - N.1 - Novembro de 2016 ISSN 2446-9254 ISSN 2447-0295 (on line)

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PROJETO

Pensando nisso, e na escassez desses modelos no Brasil, propusemos à direção do Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte a instalação de um Sistema Solar em escala ao longo das trilhas que atraem tantos visitantes para uma boa caminhada.

Os marcos dessa escala são placas de sinalização, como mostrado na Figura 2, correspondentes ao Sol e os oito planetas do Sistema Solar, além dos planetas anões Ceres, no Cinturão Principal de asteroides, e Plutão, no Cinturão de Kuiper, como é chamado o anel de asteroides externo do Sistema Solar.

Além do modelo em si, uma página na Internet foi elaborada, tanto para divulgação permanente do projeto como no sentido de auxiliar os educadores em atividades em sala de aula que utilizem a escala.

Pensando nas crianças e jovens que realizam visitas escolares ao Parque da Cidade, optou-se por não alongar o modelo do Sistema Solar pela extensão máxima das trilhas, restringindo-se àquelas que os estudantes percorrem durante as visitas guiadas (Figura 3).

Figura 2: Placa de Sinalização - Sistema Solar no Parque. Foto: Acervo do autor.

Figura 3: Trilhas do Sistema Solar no Parque (representadas em laranja).

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OBJETIVOS

As principais linhas de ação desse projeto são a Popularização do Conhecimento Científico e a Educação Ambiental. Podemos destacar também uma série de objetivos específicos, tais como:

Ÿ Despertar o interesse de crianças, jovens e o público em geral por meio de uma instalação permanente, de fácil execução, baixo custo e sem impacto ambiental, onde será destacado o caráter lúdico como forma de difundir o conhecimento científico;

Ÿ Constituir-se em mais um estímulo à prática da caminhada pelas trilhas do Parque, uma vez que percorrê-las poderá ser entendido como uma “viagem pelo Sistema Solar”, e cada passo percorrido equivale, literalmente, a milhões de quilômetros no espaço;

Ÿ Estimular novas ações ambientais no Parque da Cidade por meio da compreensão de que o clima no planeta é determinado principalmente pela posição da Terra no Sistema Solar, mas também sofre influências das atividades humanas;

Ÿ Auxiliar estudantes do Ensino Fundamental e Médio em disciplinas de Ciências Naturais e Matemática por meio da compreensão de escalas integradas de tamanho e distância;

Ÿ Despertar a curiosidade pelo Universo e a consciência da fragilidade do nosso mundo, assim como da nossa responsabilidade para com o ambiente natural;

Ÿ Compreender os movimentos da Terra e dos planetas e a importância do Sol;

Ÿ Conhecer a real distribuição dos planetas do Sistema Solar, partindo do Sol;

Ÿ Entender a reclassificação de Plutão e a estrutura de asteroides que existe além da órbita de Netuno, o último planeta do Sistema Solar reconhecido hoje;

Ÿ Se apropriar da forma como a Ciência moderna trabalha; como os cientistas recolhem, julgam e manejam informações e como isso produz novos conhecimentos;

JUSTIFICATIVAS

Temas astronômicos sempre despertaram curiosidade no ser humano. Sondamos o desconhecido para explorar múltiplos modos de interagir com o ambiente.

Uma das descobertas mais reveladoras e com maior impacto sobre nossa compreensão do Universo se refere às enormes escalas envolvidas – no espaço e no tempo.

Representar essas escalas é sempre desafiador, já que não lidamos com distâncias (ou períodos de tempo) tão grandes em nosso cotidiano. Além disso, como já mencionado, frequentemente as publicações impressas exibem representações simplificadas e/ou fora de escala do Sistema Solar, já que fazê-lo da forma correta pode ser impraticável.

É por isso que fazemos uso de reduções ou modelos do Universo. Entre eles está a representação em escala do Sistema Solar, que normalmente é construída numa área ao ar livre.

Algumas vezes são feitos modelos temporários, objetivando uma atividade pontual ou a [2]

gravação de um vídeo . Outras vezes os modelos são permanentes, sendo encontrados não somente em museus, mas também em parques, avenidas ou mesmo entre cidades.

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No Brasil há poucos modelos em escala do Sistema Solar, e geralmente eles ficam em áreas mais reservadas, como o interior de um campus universitário (exemplo do Campus I da USP

[3]de São Carlos , no interior paulista) ou o acesso a um museu (exemplo do MAST, Museu de

[4]Astronomia e Ciências Afins , no Rio de Janeiro).

Mesmo quando se estendem por uma grande área, o modelo em si não ocupa tanto espaço, uma vez que é constituído por placas, totens ou esculturas, que além de despertar curiosidade provocam no público o desejo de encontrar todos os astros, levando-os a percorrer a réplica em sua totalidade.

PORQUE O PARQUE DA CIDADE

O Parque Dom Nivaldo Monte, com sua relevância ecológica, foi, sem dúvida, o lugar ideal em nossa cidade para implantação desse modelo do Sistema Solar em escala.

Utilizando placas indicativas dispostas ao longo de trilhas pavimentadas, percorridas diariamente pelos frequentadores do lugar, o modelo foi inaugurado no dia 3 de junho de 2016 durante uma solenidade aberta ao público como parte das comemorações da Semana do Meio Ambiente de Natal, e contou com a presença do prefeito da cidade, Carlos Eduardo, e do Secretário Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Marcelo Rosado, além de outras autoridades.

Essa “Trilha do Sistema Solar”, como vem sendo chamada, já se constitui num atrativo a mais para as caminhadas, proporcionando uma atividade lúdica na construção e consolidação de conhecimentos científicos, sendo utilizado muitas vezes como ponto de partida para reflexões sobre a importância de cuidar do ambiente natural urbano – e do mundo em que vivemos como um todo. Objetivos que são consoantes com os do próprio Parque da Cidade, como unidade de conservação ambiental.

E a ciência, cada vez mais, precisa chegar ao grande público. Assistimos uma onda de descobertas nos mais variados campos que conduzem, por exemplo, à resolução de problemas na área de saúde, à minimização dos efeitos de catástrofes naturais, à melhoria das condições de trabalho e ao incremento na produtividade das corporações e instituições ou na produção de alimentos.

O desenvolvimento científico tem estado intimamente ligado ao desenvolvimento das sociedades – mas também traz novos desafios e ameaças. Reconhece-lo e criar uma postura crítica é tão importante quanto ser um cidadão que participa e tem interesse nas decisões e nos rumos políticos que influenciam a todos.

Conhecer mais e interessar-se por Ciência é fundamental para toda nossa sociedade e não somente para os profissionais que a praticam. Ela é uma ferramenta essencial para as nossas melhores esperanças.

Compreendendo esse contexto, ansiamos levar em última instância e por meio deste projeto, um modo de pensar a Ciência e as questões ambientais, sempre integradas com o nosso cotidiano, enriquecendo ainda mais a visita ao Parque da Cidade, único do gênero em todo país, até onde sabemos, com um modelo permanente em escala do Sistema Solar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto pretende contribuir para melhorar a aprendizagem em Ecologia, Ciências Naturais e Matemática e assim favorecer a criação de uma consciência crítica para o desenvolvimento de uma cultura de autoestima, que em última instância procura diminuir as desigualdades sociais da população por meio do conhecimento científico.

O público alvo abrange o público de todas as faixas etárias, bem como os educadores e educandos do Ensino Fundamental e Médio. O modelo “Sistema Solar no Parque” também atua no segmento do Turismo Cultural e Científico de Natal.

A página na Internet (www.zenite.nu/o-sistema-solar-no-parque) contem uma descrição mais detalhada do modelo, com sugestões de atividades a serem realizadas em sala de aula para as faixas de Ensino Fundamental e Médio.

O projeto foi dos autores do blog “Astronomia no Zênite”, sendo o primeiro do gênero aberto ao público na região Nordeste. A execução foi uma parceria entre a equipe do Parque Dom Nivaldo Monte e a UNI-RN. O acesso é gratuito e as escolas da região podem agendar visitas guiadas.

REFERÊNCIAS

[1] Solar System model. In: Wikipedia{,} The Free Encyclopedia. Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Solar_System_model>. Acesso em 1 mai 2016.

[2] To Scale: The Solar System. Disponível em <https://vimeo.com/139407849>. Acesso em 4 jan 2016.

[3] Sistema Solar em escala. In CDA - Setor de Astronomia - CDCC/USP. Disponível em <http://www.cdcc.usp.br/cda/dispositivos/sistema-solar/index.html>. Acesso em 11 nov 2015.

[4] Um passeio pelo Campus do MAST . In MAST. Disponível em < http://www.mast.br/informast_mensal/2014/janeiro_2014/vale_a_pena_conferir_03.html>. Acesso em 11 nov 2015.

W. Júnior

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