O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

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ESTÁCIO FAP – FACULDADE DO PARÁ CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO ALEXANDRE LINS BENTES PIQUEIRA RIBEIRO DIORDE CORRÊA TEIXEIRA O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE BELÉM 2011

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Trabalho de Conclusão de Curso como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo.

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ESTÁCIO FAP – FACULDADE DO PARÁ

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO

ALEXANDRE LINS BENTES PIQUEIRA RIBEIRO

DIORDE CORRÊA TEIXEIRA

O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS

VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

BELÉM

2011

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ALEXANDRE LINS BENTES PIQUEIRA RIBEIRO

DIORDE CORRÊA TEIXEIRA

O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES

ÉTICOS DA JUVENTUDE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Curso de Jornalismo da Faculdade do Pará - FAP, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, com Habilitação em Jornalismo, sob orientação do Prof. Msc. Fabrício Mattos. Área de Concentração: Telejornalismo

BELÉM

2011

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ALEXANDRE LINS BENTES PIQUEIRA RIBEIRO

DIORDE CORRÊA TEIXEIRA

O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES

ÉTICOS DA JUVENTUDE

Trabalho de Conclusão de Curso qualificado como exigência parcial para obtenção do

grau de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade da Faculdade do Pará – FAP, pela seguinte banca examinadora:

Belém, PA, __ / __ / 2011.

Prof. Msc. Fabrício Mattos (Orientador) Estácio FAP – Faculdade do Pará

Prof. Msc. Renato Nascimento (Avaliador 1) Estácio FAP – Faculdade do Pará

Prof. Msc. Viviane Menna (Avaliador 2) Estácio FAP – Faculdade do Pará

Prof. Esp. Arcângela Sena. (Avaliador 3) Estácio FAP – Faculdade do Pará

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 5 CAPÍTULO I – A QUESTÃO DAS JUVENTUDES ...................................................... 9 1.1 As Diferenças entre Juventudes e Adolescência ........................................................ 9 1.2 Condição Juvenil ...................................................................................................... 10 1.3 Os Diferentes Tipos de Juventudes .......................................................................... 13 1.4 A Mídia na formação de valores da juventude ......................................................... 15 1.4.1 As juventudes e a televisão .................................................................................... 16 CAPÍTULO II – TELEJORNALIMO POLICIAL E SOCIEDADE.............................. 18 2.1 Telejornalismo e sociedade ...................................................................................... 18 2.2 Jornalismo e sensacionalismo ................................................................................... 20 2.2.1 História do Sensacionalismo ................................................................................. 21 2.2.2 O conceito de sensacionalismo .............................................................................. 24 2.3 O Telejornalismo policial sensacionalista ................................................................ 26 2.3.1 O Programa Rota Cidadã 190 como exemplo de Telejornalismo Policial Sensacionalista ............................................................................................................... 27 CAPÍTULO III – TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE ........................................................................ 31 3.1 Ética, Moral e Deontologia ....................................................................................... 31 3.2 A pesquisa em recepção e os grupos de jovens que a compõem .............................. 32 3.2.1 Grupo A: Perfil e Características ........................................................................... 33 3.2.2 Grupo B: Perfil e Características ........................................................................... 38 3.4 A audiência jovem do Telejornalismo Policial........................................................ 47 3.5 Os Valores Éticos da Juventude e os valores do Telejornalismo Policial ................ 52 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 63 APÊNDICES .................................................................................................................. 67

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INTRODUÇÃO

Os mais de dez anos de vivência e participação com os grupos sociais ligados às

questões de juventude pesaram na escolha do tema deste trabalho. As opiniões dadas

pelos jovens com os quais possuo contato me fazem perceber o jovem como um sujeito

de opiniões ativas e não apenas um receptor de ideias. O contato com as juventudes das

periferias e seu contato com a violência social de seus cotidianos são temas sempre

questionados por eles.

Além disso, a reclamação do preconceito que sofrem por serem moradores de

bairros que estão nas manchetes policia do dia-a-dia contribuíram para a realização de

uma análise mais aprofundada sobre como não apenas a periferia, mas outras classes

sociais recebem estas informações. O jovem que está entre o ‘ainda criança’ e o ‘quase

adulto’ recebe todos os dias informações de vários meios: desde a escola e grupos de

amigos, até a televisão e os jornais diários.

Os meios de comunicação e o próprio jornalismo têm um papel fundamental na

concepção dos valores éticos e de cidadania para estes sujeitos. A própria história desta

profissão a coloca em um lugar especial para a sociedade.

Percebemos que o sensacionalismo ocupa o espaço antes reservado para o

pensamento crítico. O jornalismo policial aparece como principal símbolo da prática

jornalística sensacionalista contemporânea. O telejornalismo policial utiliza-se de uma

linguagem popular, sensacionalista e mais opinativa do que informativa para agradar o

público e adquirir audiência.

Nesse sentido, o telejornalismo policial apresenta e difunde valores e verdades

ligadas a sua própria estrutura comunicativa. É um gênero que busca apresentar os

acontecimentos policiais, ocorridos principalmente nas periferias. No entanto que

valores éticos são veiculados por este jornalismo? Para quais setores da sociedade este

gênero jornalístico fala? Qual o papel deste jornalismo no processo de formação de

valores éticos das juventudes? Como jovens de diferentes classes sociais recebem tal

discurso?

Sendo assim, esta pesquisa busca contribuir para o aprofundamento da discussão

sobre a dimensão ética do trabalho jornalístico, compreendendo o processo

comunicativo em sua totalidade, não só no âmbito da produção, mas principalmente no

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da recepção das mensagens, percebendo o jornalismo como o discurso formador da

opinião pública. Dessa forma, o objeto desta pesquisa é o processo de recepção do

telejornalismo policial pela juventude.

A pesquisa discute, portanto, a forma que este gênero jornalístico representa a

sociedade, e que resultados são reproduzidos por estes telespectadores singulares: os

jovens. Ela é estruturada também como uma contribuição aos estudos de recepção, desta

vez aplicada ao telejornalismo policial, buscando compreender sua relevância social.

Neste sentido, apresentam-se como objetivos desta pesquisa:

• Objetivo Geral

Compreender como os valores éticos das juventudes são influenciados pelo

jornalismo policial.

• Objetivos Específicos

- Realizar entrevistas com jovens buscando compreender suas visões sobre o

jornalismo;

- Elencar e classificar as opiniões dos jovens sobre o jornalismo policial;

- Identificar os principais valores propagados pelo discurso do jornalismo

policial sensacionalista;

- Identificar os principais valores propagados pelo discurso dos grupos juvenis;

- Classificar as semelhanças e diferenças entre os discursos dos grupos de jovens

e o discurso do telejornalismo policial no processo de recepção midiática.

METODOLOGIA

Num primeiro momento, a pesquisa realizou um trabalho de campo exploratório,

ou seja, aquele que tem por objetivo “a descrição das características de determinada

população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. (GIL,

2002, p. 46). Este momento teve como objetivo identificar as concepções de jornalismo

e os programas jornalísticos mais referenciados pela juventude. Como exemplo de

grupo juvenil, foram escolhidos jovens moradores de um bairro situado na periferia de

um grande centro urbano, o bairro do Benguí, na cidade de Belém.

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Participou da fase inicial da pesquisa, um grupo formado por seis jovens de

idade entre 14 e 26 anos1. Este grupo foi escolhido pela proximidade de um dos

pesquisadores, que participa de uma ONG na localidade em questão que possui os

jovens como público alvo de suas atividades.

Identificou-se a citação dos telejornais policiais como os programas de maior

audiência por este público e ainda foi percebida a proximidade das opiniões dos jovens

com as propagadas por estes telejornais.

Esta fase exploratória nos permitiu delimitar o objeto de pesquisa e definir a

metodologia adequada para ser aplicada no segundo momento da investigação,

elaborada como um estudo de campo2, com coleta de dados realizada a partir da técnica

de grupos focais. Segundo Costa (2009), Grupos focais são “um tipo de pesquisa

qualitativa que tem como objetivo perceber os aspectos valorativos e normativos que

são referência de um grupo em particular. São na verdade uma entrevista coletiva que

busca identificar tendências” (COSTA, 2009, p.181).

Sendo assim, a pesquisa adotará as perspectivas dos estudos de recepção

midiáticos, buscando compreender a apropriação destes programas por distintos grupos

de jovens.

Como exemplo de jornalismo policial sensacionalista foi escolhido o programa

“Rota Cidadã 190”, pois foi o mais citado na fase exploratória, além de ser um

programa local, evidenciando o critério de proximidade das notícias divulgadas. Foi

escolhido um programa completo, de média de 35 minutos de duração, de cinco blocos,

que será exibido para os dois grupos de jovens. O objetivo da exibição é compreender

as diferenças e semelhanças entre os distintos grupos de jovens no processo de recepção

midiática.

Considerando que a vivência de juventude é distinta entre indivíduos envolvidos

por diferentes elementos socializadores (como escola, família, classe social, entre

outros), foi definida a realização desta pesquisa com 20 jovens de faixa etárias entre 14

1 Consideramos a juventude como uma fase da vida que é marcada pela formação de valores do sujeito e corresponde às consolidações de valores e objetivos pessoais e sociais que ao serem alcançados elevam o indivíduo ao patamar de adulto. Nesse sentido, a juventude tem inicio com a adolescência e não necessariamente termina com a formação biológica do corpo, o que nos permite considerar como membro da juventude sujeitos biologicamente adultos, mas com metas e projetos ainda não alcançados para atingirem a fase adulta. 2 Segundo Antonio Carlos Gil, o estudo de campo é quando “a pesquisa é desenvolvida por meio da

observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo” (Id., Ibid., p.58).

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e 22 anos de idade, divididos em dois grupos formados por 10 jovens cada. O primeiro

grupo (Grupo A) é formado por moradores da periferia, mais especificamente do bairro

do Benguí, que é constantemente mencionado nas matérias exibidas pelo programa. A

escolha do bairro do Benguí leva em consideração o critério de proximidade das

notícias veiculadas e o grupo receptor.

O segundo (Grupo B) é composto por 10 jovens moradores do bairro do

Umarizal, localizado no centro da cidade. A escolha deste bairro se dá por sentido

oposto, ou seja, leva em consideração que esta localidade é pouco mencionada no

programa e há um relativo distanciamento entre o grupo receptor e as notícias

veiculadas.

O que há de comum entre os dois grupos receptores é que ambos sofrem a

mesma problemática, a violência, porém o programa apresenta o envolvimento destes

grupos de forma diferenciada.

Após a exibição do programa, será realizado um debate sobre o jornalismo

policial, o sensacionalismo e os valores éticos propagados por estes tipos de programas.

Este debate será realizado com um roteiro guia (Apêndice A) composto de dez

perguntas estruturadas que serão aplicadas aos dois grupos, buscando abordar os limites

e conseqüências deste telejornalismo policial. Pretende-se identificar também quais os

meios e veículos que eles utilizam para se informar, aplicando um questionário

contendo estes levantamentos de dados (Apêndice B). Estes questionários serão

respondidos individualmente.

Após a coleta de dados, o material levantado será analisado a partir de fichas de

pesquisas elaboradas com as categorias presentes no discurso do jornalismo policial

sensacionalista e no discurso dos jovens entrevistados, realizando uma perspectiva

comparada entre os discursos.

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CAPÍTULO I – A QUESTÃO DAS JUVENTUDES

1.1 As Diferenças entre Juventudes e Adolescência

Juventude e adolescência são dois conceitos utilizados com intensidade no

cotidiano e muitas vezes são confundidos e erradamente utilizados como sinônimos.

Esta confusão se dá pelo fato dos dois termos representarem o processo de formação de

um indivíduo para a fase adulta. Porém, o jovem e o adolescente possuem importantes

diferenças.

Ao analisarmos o conceito de adolescência, observamos a origem do termo em

latim “adolecer” ou “adolescere”, que significa crescer, desenvolver-se. Definimos

ainda que “a adolescência começa na puberdade, as alterações físicas que desencadeiam

a maturação sexual” (KAY, 2002, p.66). Dessa forma, identificamos adolescência como

uma série de mudanças corporais e psicológicas, ou seja, é um conceito ligado à

dimensão biológica do ser humano.

O conceito de juventude é mais abrangente. Este status ultrapassa a formação

biológica e corresponde às consolidações de valores e objetivos pessoais e sociais que,

ao serem alcançados, elevam o indivíduo ao patamar de adulto. O jovem, portanto,

dimensiona-se individualmente e sob a influência de aspectos psicossociais, num percurso de (in)definições: busca identitária, tendência de estar em grupo, deslocamento constante de situações e vínculos, atitude de contestação e insatisfações sociais, intelectualização dos fatos, mudanças de humor, separação do universo familiar, questionamento dos valores sociais, fatores que se desenvolvem em pleno vigor na adolescência. (SOUSA, 2006, p.11)

Dessa maneira, podemos caracterizar o jovem como o indivíduo em processo de

formação de valores e objetivos de vida. Para este sujeito, existem indefinições acerca

dos mais variados temas sociais. A eles são impostas certas responsabilidades por parte

da sociedade, são atribuídos o papel de ‘futuro da nação’. Porém, as juventudes

vivenciam os mesmos problemas dos adultos, como o desemprego, a violência, falta de

apoio a educação e tantos outros. Estas carências se contrapõem para que o jovem

exerça o papel esperado pela sociedade. É preciso dar importância à idéia de que estes

indivíduos necessitam de apoio saudável para formar seus primeiros valores sociais, os

quais nortearão seu processo de socialização. Histórica e socialmente, a juventude tem sido encarada como uma fase de vida marcada por uma certa instabilidade associada a determinados problemas sociais. Se os jovens não se esforçam por contornar esses problemas, correm mesmo riscos de serem apelidados de irresponsáveis ou desinteressados. (PAIS, 1990, p.141)

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Entendemos dessa maneira que juventude e adolescência são duas dimensões

que indicam o processo de formação para a vida adulta, porém em sentidos diferentes. A

adolescência se define em relação ao desenvolvimento biológico, ou seja, tem início

com o começo da puberdade e tem como objetivo principal o desenvolvimento do

corpo. Por outro lado, a juventude é caracterizada como o momento em que o indivíduo

inicia o desenvolvimento de suas opiniões básicas e o fortalecimento de valores que o

orientarão no processo de socialização de todas as outras etapas da vida.

Consideramos que a juventude também tem início na puberdade, porém, não

tendo um prazo concreto para seu final. Isto acontece porque a condição juvenil faz

parte da dimensão social do ser humano, tanto em seu processo de formação subjetiva e

individual, quanto a sua formação coletiva e intersubjetiva. Nesse sentido, não se trata

de um enfoque biológico desta dimensão humana, e sim sociológico.

Se observa um razoável consenso em dar prioridade aos critérios derivados de um enfoque biológico e psicológico, no entendimento de que o desenvolvimento das funções sexuais e reprodutivas representa uma profunda transformação da dinâmica física, biológica e psicológica que diferencia o adolescente da criança. (UNESCO, 2004, p.23)

Porém, pode ocorrer que mesmo após a formação biológica de seu corpo, o

adulto biológico ainda esteja no processo de juventude, ou seja, definindo suas ideias e

objetivos. Como observou uma de nossas entrevistadas, que afirma essa dimensão de

transição que faz parte da juventude. "Considero-me jovem, pois ainda tenho muitas

coisas pela frente. Possuo muitos objetivos para serem alcançados". (SILVA, 2011)

Concluímos assim que a adolescência e a juventude são definidas como fases de

formação do ser humano. Os dois estágios são momentos importantes e devem ter

atenção da sociedade, pois levam o individuo e os grupos sociais à fase adulta. Os

membros da sociedade que fazem parte da condição adulta devem, por sua vez,

contribuir e apoiar para que o “pré-adulto” possa desenvolver sua formação de maneira

socialmente salutar.

1.2 Condição Juvenil

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO), considera como condição juvenil o momento da vida em que o sujeito em

processo de formação passa para atingir a condição adulta. Dessa forma, a condição

juvenil é uma fase passageira, mas fundamental para o processo humano.

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O processo de socialização do ser humano depende deste momento do indivíduo.

É aqui que ele define suas primeiras metas de vida e se constrói os valores fundamentais

para a sua trajetória. Dessa forma, são pelo menos cinco os elementos que compõem em

termos ideais-objetivos a condição juvenil. São estes

a obtenção da condição adulta, como uma meta; a emancipação e a autonomia, como trajetória; a construção de uma identidade própria, como questão central; as relações entre gerações, como um marco básico para atingir tais propósitos; e as relações entre jovens para modelar identidades, ou seja, a interação entre pares como processo de socialização (UNESCO, 2004).

Para alcançar o status de adulto, o indivíduo busca sua independência financeira

e social. O jovem busca a tão sonhada liberdade e reconhecimento de sujeito ativo pela

sociedade. Até chegar ao seu objetivo, este indivíduo percorrerá um longo caminho de

aprendizagem. A jornada do jovem está aberta para a novidade. O ‘novo’ se torna

atrativo para este público, porém, o jovem dá valor à segurança.

Nesta fase, ele começa a se juntar em grupos de indivíduos com certas

características em comum. Faixa etária, sexo, classe social e tantos outros aspectos são

tomados por estes sujeitos na formação de grupos. O processo de socialização começa a

impulsionar estes sujeitos para a condição de adultos. Segundo Avelar e Cintra, os

jovens também formam grupos como forma de resistência a estas transformações

sociais. “A resistência faz surgir muitas juventudes. Grupos, às vezes fechados, para

negar a sociedade que os agride, que não os acolhe” (DIDONER; SOARES, 1992,

p.14).

O jovem, como um sujeito em processo de transformação, passa por uma

indefinição de valores. O que lhe agrada em um momento pode ser diferente em outro.

Essa indefinição de valores lhe é assegurada, pois estes sujeitos vivem um momento de

transição, organizado pela própria sociedade. Ou seja, a sociedade repassa de forma

parcelada as responsabilidades e direitos do adulto aos jovens, e este status, de certo

modo, não é conquistado, mas imposto pela sociedade, que vê o jovem como uma

pessoa que não é mais criança, mas também não é adulto.

Esse estigma imposto pela sociedade deve ser evitado. O jovem não é um sujeito

social passivo. Ele está inserido na sociedade e possui seu papel social ativo. Desse

modo, “convém lembrar que os jovens não são nem crianças grandes nem adultos

pequenos” (UNESCO, 2004, p.201). É um agente social que, embora esteja moldando

seus conceitos, não realiza este processo de forma passiva. Eles fazem seus julgamentos

e opinam em relação a cada tema social. Se ainda não possuem opinião formada, estes

buscam elementos próximos para formá-la e assim ir desenvolvendo até considerar-se

seguro para viver a fase adulta.

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Quando mais objetivos e valores de vida o jovem vai definindo, mais adulto e

responsável este se sente. O processo vai depender de fatores externos, que contribuem

para concretizar seus valores. Neste sentido, entendemos que o jovem possui a

expectativa de usufruir a condição adulta. Busca para si responsabilidades. É nesta fase

que eles buscam o primeiro emprego, que lhe dará certo poder aquisitivo na sociedade

capitalista e assim é considerado uma pessoa ativa.

Na sociedade capitalista, o dinheiro é que ocupa o centro das atenções. Uma pessoa vale pelo dinheiro que possui ou que pode produzir. Você mesmo já deve ter se referido a um colega como “É aquele que tem uma moto preta” ou “aquele do Gol vermelho”, por exemplo. O psicanalista Erich Fromm caracterizou nossa sociedade como aquela que dá mais importância ai ter do que ao ser: é por isso que uma pessoa vale, e até mesmo é identificada, pelo carro que possui e não por aquilo que ela de fato é: um bom amigo, um cara simpático etc. (GALLO, 2007, p.106)

Ao conquistar o poder de compra, o jovem percebe que não é mais criança, e

sente a liberdade e a responsabilidade que é criada quando se torna um sujeito

consumidor na sociedade capitalista. É certo que ainda quando criança ele já seja

considerado um consumidor. Porém, a liberdade de compra, o poder de escolha que

agora possui, o diferencia do outro estágio.

Estas conquistas garantem ao jovem a oportunidade de auto-desenvolvimento.

Além do emprego, estes indivíduos se deparam a proximidade de finalizar o ensino

médio. Após isso, pode continuar o estudo em níveis superior ou mesmo técnico. Essas

escolhas fazem parte do trânsito entre a infância e a condição adulta. A escolha será

decisiva para sua vivência como adulto. Entendemos que esta é mais uma imposição de

responsabilidades que a sociedade entrega ao jovem para que este se torne adulto.

por mais que se alongue a condição juvenil em termos de tempo, permanecendo mais anos no sistema educacional, adiando o ingresso ao mercado de trabalho e a constituição de novas famílias, é inevitável que os jovens se transformem em adultos. Por definição, a condição juvenil é transitória e se perde com a passagem dos anos. (UNESCO, 2004, p.26)

Nesse marco, a emancipação constitui um eixo central da trajetória que os jovens

deverão recorrer entre a total dependência dos pais e responsáveis e a autonomia da

condição adulta. Essa trajetória deverá enfrentar múltiplos e complexos desafios que

dificultam a formação de identidade própria. Por uma parte, a natureza da transição em

si supõe a existência de um processo contínuo de mudanças; por outra, tais mudanças

implicam o risco de afetar as identidades construídas. Em outras palavras, o indivíduo

está sujeito a uma tensão particular: deve mudar, mas, ao mesmo tempo, deve continuar

sendo ele mesmo (FILGUEIRA, 1998).

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1.3 Os Diferentes Tipos de Juventudes

Embora compreendamos o conceito de juventude, é necessário compreender que

esta definição abrange vários grupos diferentes. Dizemos isso ao entender que o jovem é

um sujeito em processo de formação de valores e essa formação é subjetiva e coletiva.

Definimos que o processo de juventude tem começo com as alterações

biológicas que iniciam na adolescência. A puberdade é a porta de entrada para que o

indivíduo se torne adulto. Dizemos isso considerando o lado biológico e o lado

subjetivo do sujeito. O jovem e o adolescente encontram na puberdade os desafios

iniciais de se tornarem adultos e tem os primeiros contatos com as incertezas da vida.

Do ponto de vista demográfico, os jovens são, principalmente, um grupo populacional que corresponde a uma determinada faixa etária que varia segundo contextos particulares, mas que, geralmente, está localizada entre os 15 e os 24 anos de idade. No caso de áreas rurais ou de pobreza extrema, o limite se desloca para baixo e inclui o grupo de 10 a 14 anos; em estratos sociais médios e altos urbanizados se amplia para cima para incluir o grupo de 25 a 29 anos. (UNESCO, 2004, p.25)

Neste período, estes indivíduos serão bombardeados com regras e obrigações

impostas pela sociedade que deverão ser seguidas se caso queiram ser considerados

adultos. A cobrança é grande, é um verdadeiro choque para o indivíduo. A luta para

entrar no mercado de trabalho, realizar sua formação educacional, embasar seus

objetivos e valores pessoais e tantas outras escolhas podem deixar o jovem perdido na

sociedade.

O processo de formação de valores se baseia em elementos externos. E ao

pararmos para pensar, entenderemos que há uma infinidade de fatores que contribuem

para que a juventude tenha significados “distintos para pessoas de diferentes estratos

socioeconômicos, e é vivida de maneira heterogênea, segundo contextos e

circunstâncias” (UNESCO, 2004, p.25). Partindo deste pressuposto, utilizamos o termo

juventudes no plural.

A forma de viver a juventude para um jovem dos grandes centros urbanos será

diferente para o jovem rural. Assim como um jovem morador da periferia de uma

cidade terá uma noção diversa de um jovem residente de um bairro do centro desta

mesma cidade. Cada um possui em seu cotidiano elementos diferenciados que

contribuem para a construção de seus valores e objetivos pessoais. Ao analisarmos desta

maneira, percebemos que “existem muitos e diversos grupos juvenis, com

características particulares e específicas” (UNESCO, 2004, p.27).

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É errôneo afirmar que a cultura de uma localidade é igual à de outra. Mesmo em

duas periferias de uma mesma cidade, a particularidades terão certas diferenças. Isso

porque o modo de viver das pessoas é subjetivo e leva em consideração fatores externos

como educação, renda, informação e tantos outros componentes. Objetivos, valores

éticos e morais, o modo de ver o mundo se modifica a partir de tais especificações.

Sabemos que neste momento da vida, o indivíduo procura segurança. Ele busca

a fase adulta, sabe das incertezas do caminho, porém, precisa se sentir confiante para

caminhar rumo a sua meta. Assim, encontram a segurança na formação de grupos de

indivíduos com características próximas. Assim identificando-se um com os outros

passarão por esta fase com maior serenidade. São vários grupos de jovens com

características diferentes, porém, todos os grupos possuem o mesmo objetivo que é

tornar-se adulto e emancipar-se.

Tornar-se adulto, como já visto, é concluir a formação de seus valores e

objetivos pessoais e dessa forma assumir responsabilidades. “A partir do momento em

que vão contraindo estas responsabilidades, os jovens vão adquirindo o estatuto de

adultos” (PAIS, 1990, p.141). Até chegar ao estado de adulto, o individuo percorrerá

um longo caminho. Terá contato com diversos fatores externos. No processo de

formação de sua identidade, o jovem é incentivado por elementos presentes em seu

cotidiano. A UNESCO define estes elementos como ‘agentes socializadores’ e destaca

entre eles a família, a escola, os grupos de jovens e a mídia.

A socialização juvenil, entendida como o processo de transmissão de normas, valores e costumes, tem, entre os seus objetivos, assegurar a reprodução social, através de ‘agentes socializadores’, entre os quais se destacam a família, a escola, os grupos de jovens e a mídia. (UNESCO, 2004, p.64)

Respeitando a ideia da existência de diversos grupos juvenis, identificamos

então que mais diversos ainda são os elementos socializadores que envolvem estes

sujeitos. Assim, devemos ter atenção para a forma de contribuição destes componentes.

Sabendo dessas diversidades e entendendo a meta das juventudes, podemos

estudar o modo que estes sujeitos formam seus valores. Podemos considerá-los se como

elementos de uma pesquisa. Para isso, se fazem necessárias a reflexão e atenção sobre

estas particularidades. Agrupá-los levando em consideração suas semelhanças externas

como classes sociais, local em que residem, seus ambientes escolares e outros fatores

são fundamentais para o pesquisador.

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1.4 A Mídia na formação de valores da juventude

A família é o primeiro “agente socializador” dos jovens, pois faz parte de seu

cotidiano. Porém, com o mundo globalizado, principalmente nos grandes centros

urbanos, vamos encontrar um aumento no relacionamento dos jovens com a mídia.

Para entendermos o que é mídia, podemos analisar a palavra por si. O termo

“mídia” é uma derivação do termo em latim media, plural de medium, que quer dizer

"meio". Atualmente, ao dizer "a mídia" entendemos que estamos falando do "meios de

comunicação de massa". Segundo Lúcia Avelar e Antonio Cintra “a primeira ideia de

meios de comunicação de massa, aquela que logo vem à cabeça é a de emissoras de

televisão e de rádio, jornais e revistas. Sem dúvida, sem dúvida, estes estão entre os

mais importantes da mídia.” (AVELAR; CINTRA, 2007, p.405).

Vivemos na sociedade da informação. Não sabemos ainda se a mídia ultrapassou

o poder de influência da família neste processo, mas percebemos que por meio dela é

possível reunir de alguma forma os principais elementos influentes para a formação de

valores destes sujeitos.

É válido lembrar que os jovens são atraídos pelo ‘novo’ e a tecnologia é um

elemento atrativo a este público. Como já indicado, a mídia é um dos agentes

socializadores que merece destaque.

Os meios eletrônico falam a linguagem dos jovens e também o conteúdo desejado, que repercute no seu íntimo. Falam continuamente do imaginário, dos sonhos, de situações diferentes das vividas no dia-a-dia, mas também contam o dia-a-dia. (DIDONÉ; SOARES, 1992, p.38)

Embora a chegada da televisão em território brasileiro date nos anos 50,

podemos considerá-la um dos meios de comunicação mais recentes. Soma-se ainda a

este valor de novidade o avanço de sua tecnologia. Junto à televisão, encontramos ainda

a internet, este último sim, uma novidade no meio comunicacional. A internet chegou

no país nos anos 90 e está se popularizando com maior ênfase nos últimos anos. A

globalização contribui para que ela seja difundida em todos os cantos do mundo e faz do

Brasil um dos países com maior número de usuários mundiais.

A internet e televisão estão relacionadas ao dia-a-dia do jovem dos centros

urbanos. Sejam estes da periferia ou centro da cidade, a democratização da internet

oferece um número crescente de informações aos jovens. Outras mídias, como o jornal

impresso e o rádio não são esquecidas por este público, porém, o jovem encontra na

televisão e na internet a sua preferência.

A tecnologia provocou uma explosão do tempo e do espaço. Os jovens puderam, assim, aproximar-se uns dos outros para além das barreiras dos países, das raças, das crenças. A era eletrônica revolucionou o modo de viver

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16

e a história. Os jovens podem ficar imediatamente na “mesma onda”. (DIDONÉ; SOARES, 1992, p.54)

Aprofundando a análise da televisão, encontramos um grande leque de produtos

como novelas, programas de entretenimento, filmes, telejornais e tantos outros que de

algum modo contribuem para a formação de valores do jovem. As empresas de

comunicação criam uma programação segmentada para cada público e o jovem é de

interesse de tais programações.

Existem diversos programas segmentados ao interesse de determinados grupos

sociais, possuindo influência para a formação de opinião de seus espectadores. As

juventudes se tornaram uma parcela do objetivo destes produtos midiáticos e por seu

meio se sociabilizam. Considerando a mídia como um agente socializador, é importante

termos a noção de como se dá sua relação junto a estes sujeitos. Entre os diversos

produtos deste meio, damos ênfase nesta pesquisa ao telejornalismo policial e a

recepção deste gênero pelas juventudes.

Antes de explorarmos a recepção das mensagens deste gênero jornalístico pelo

público jovem, é importante analisar de forma mais específica o gênero em si. Analisar

suas principais características como história, linguagem, objetivos e outras

características deste gênero relacionadas são temas do segundo capítulo. Dessa forma,

poderemos passar a pesquisa de fato e assim compreender o processo de comunicação.

1.4.1 As juventudes e a televisão

A televisão está presente na vida do jovem. A tecnologia que alia a imagem e o

som fascina este publico. De fato, não é apenas o jovem, mas vivemos na sociedade da

imagem. A televisão tem espaço especial no conjunto dos meios de comunicação e é

elemento quase que essencial nas residências de todas as famílias. Utilizada como fim

de entretenimento ou de informação, a televisão tem a facilidade de aproximar o fictício

do real.

Já vimos que as juventudes utilizam-se de elementos externos para se

sociabilizarem e assim criar suas identidades. Por outro lado, quando os jovens não

encontram esta contribuição em elementos socializadores como a família, escola, igreja

e outros, os meios de comunicação, e principalmente a televisão torna-se o principal

meio de socialização. Desse modo, percebemos o porquê do valor do veículo para este

público.

Os meios de comunicação social podem representar uma mediação para os jovens quando os valores sociais não os fascinam, quando não encontram junto à escola, igrejas, partidos políticos e família, canais por onde projetar

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17

dúvidas, indagações e alteridade. Daí poderem os meios eletrônicos desempenhar um papel substitutivo de informação, interlocução, de forma silenciosa, solitária. (DIDONÉ; SOARES, 1992, p.26)

Entendemos que os meios de comunicação seguem a tendência da sociedade em

capitalista na qual estão inseridos. Eles pertencem a empresas que utilizam a

comunicação para a geração de lucro.

Aprofundando a análise da televisão, encontramos um grande leque de produtos

como novelas, programas de entretenimento, filmes, telejornais e tantos outros que de

algum modo contribuem para a formação de valores do jovem. As empresas de

comunicação criam uma programação segmentada para cada público e o jovem é de

interesse de tais programações.

Existem, portanto, diversos programas segmentados ao interesse de

determinados grupos sociais, possuindo influência para a formação de opinião de seus

espectadores. As juventudes se tornaram uma parcela do objetivo destes produtos

midiáticos e por seu meio se sociabilizam. Na televisão os jovens têm, de certo modo,

uma janela que une o mundo real do fictício.

Os meios eletrônicos deste século introduziram a imagem e com ela uma nova forma de saber, de informar, de divertir, de sonhar, de demonstrar verdades e afirmações. A imagem faz o real físico mais próximo, traz na velocidade da imagem televisiva a instrução e a informação sobre processos de acumulação de experiências profissionais, fruto de longas pesquisas, como se fossem resultantes de um processo produtivo recente. (DIDONÉ; SOARES, 1992, p.25)

Considerando a mídia como um agente socializador, é importante termos a

noção de como se dá sua relação junto a estes sujeitos. Entre os diversos produtos deste

meio, damos ênfase nesta pesquisa ao telejornalismo policial e a recepção deste gênero

pelas juventudes.

Antes de explorarmos a recepção das mensagens deste gênero jornalístico pelo

público jovem, é importante analisar de forma mais específica o gênero em si. Analisar

suas principais características como história, linguagem, objetivos e outras

características deste gênero: são os temas relacionados no segundo capítulo, elaborando

o referencial da pesquisa e assim compreender o processo de recepção da comunicação.

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CAPÍTULO II – TELEJORNALIMO POLICIAL E SOCIEDADE

2.1 Telejornalismo e sociedade

O jornalismo é compreendido pela sociedade contemporânea com uma

importante função democrática. É possível afirmar que seu exercício ultrapassa o

sentido profissional e se torna uma prática social, responsável pelo bem comum por

meio da comunicação da informação, que é um bem de interesse público. Nesse sentido,

é possível afirmar que o jornalismo “é a informação de fatos correntes, devidamente

interpretados e transmitidos periodicamente à sociedade, com o objetivo de difundir

conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem comum.”

(BELTRÃO, 1992, p.67.)

A televisão está presente em quase todo o território brasileiro3, podendo ser

considerada o principal meio de comunicação da nossa sociedade. Sendo assim, no

meio televisivo, o telejornalismo é a principal forma de constituição do interesse e da

opinião pública. Unindo o vídeo e o áudio, ele transmite a informação de forma mais

atrativa ao público, o que o torna mais envolvente, e com grande poder de persuasão. O

telejornal, aliando as características deste meio, se torna o principal difusor de notícias

para a sociedade contemporânea.

Prova disto é a perda gradual do controle da informação pelos jornais e rádios e

a dominação da TV como “eixo da informação pública”. A prioridade agora está voltada

para os telejornais como principal meio para conseguir a informação em sua volta de

uma maneira mais objetiva. “Os profissionais de rádio e jornalismo impresso se

informam pela televisão para determinar os temas que serão desenvolvidos; a

construção do intelectual social se faz nas telas de TV” (RICON, 2003 apud HAGEN,

2008, p.29).

Os profissionais que atuam nesta área buscam a melhor maneira possível para

que os telespectadores adquiram confiança nos telejornais. Eles procuram a

3 Flávio Porcello, em pesquisa realizada sobre a TV no Brasil, aponta que “De 1994 até 2004, os brasileiros compraram mais de 40 milhões de aparelhos de televisão, número superior ao de todos os aparelhos de TV comprados desde o início das transmissões no país (1950) até a implantação do plano real. Nas classe média e alta, o índice de aparelhos nas casas é de 100%; na classe emergente é de 96% e na classe pobre é de 87%.” (PORCELLO, 2008, p. 50)

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19

aproximação da realidade adotando os devidos cuidados para não ocultarem ou

silenciarem os principais fatos ocorridos na informação retratada. Desta forma, os

acontecimentos precisam ser apresentados na íntegra, ou seja, os jornalistas procuram

construir o seu material de acordo com a realidade contemporânea para informar a

população.

Este é o meio de comunicação que mais se aproxima do público, pois é através

da imagem que podemos ver o que está acontecendo pelo mundo afora. É o recurso da

visualização que nos trás a sensação de realidade, ou seja, os telejornais funcionam

como uma referência de estabilidade e segurança para as pessoas no mundo que as

cerca. A confiança, a crença e a segurança são centrais para a sobrevivência do homem,

e a TV, de certa forma consegue trazer isto às pessoas.

Segundo Porcello (2005, p.39) o componente visual é a prioridade da televisão,

pois ela aumenta o pesar da imagem em relação à palavra. Desta forma, o telespectador

decodifica mais facilmente, os códigos visuais do que os verbais. Se um sujeito diz que

o acontecimento “apareceu na TV” o outro ouvinte considera o ocorrido como um fato

real, ou seja, “Se apareceu na TV, então aconteceu”, principalmente se tratando dos

países latino-americanos. Nestes países, a televisão tem uma grande aceitação perante a

população, pois a recepção da imagem é mais forte que a voltada para a palavra escrita,

até mesmo por conta da alfabetização tardia da população.

Para a maioria das pessoas, os telejornais são a primeira informação que elas recebem do mundo que as cerca: como está a política econômica do governo, o desempenho do Congresso Nacional, a vida dos artistas, o cotidiano do homem comum, entre outras coisas. (VIZEU, 2005, p.6)

O jornalismo televisivo, assim como os outros meios, possui o papel de

comunicar à sociedade o que é informação de interesse público, ou seja, o que é notícia.

A sociedade por sua vez, busca isto do telejornalismo e deposita esta responsabilidade

aos jornalistas responsáveis pelo meio.

Os telejornais funcionam como uma janela para a realidade, mostrando que o mundo circundante existe, está lá e tudo não se transformou num caos, a vida segue a sua normalidade. É um lugar de referência. (Id, 2008, s/n)

Portanto, o telejornalismo toma para si a informação e, utilizando dos recursos

que o meio televiso proporciona, permite que a realidade possa ser dita de diferentes

sentidos, ou seja, “é na edição do telejornal que o mundo é recontextualizado” (Id.,

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2005, p.14). Nessa recontextualização do mundo, é possível perceber também

contradições no âmbito da construção da informação jornalística. O aumento de

programas sensacionalistas é uma dessas principais contradições no mercado televisivo

atual.

2.2 Jornalismo e sensacionalismo

O jornalismo produzido pelas empresas de comunicação busca a audiência do

público. Essa é a ideia de qualquer empreendimento de uma sociedade capitalista, e a

audiência gera receita e a sobrevivência de cada empresa jornalística. Cada meio e

veículo possui artifícios próprios para atrair a atenção do público.

A sociedade busca a informação e dá audiência para o veículo que melhor

atender suas necessidades. Assim, é importante entender o processo de comunicação

que se dá quando há identificação entre o emissor da mensagem e seu receptor.

Na sociedade contemporânea, as máquinas já fazem mais que perfeitamente o

trabalho de vários profissionais, porém, no âmbito jornalístico elas não conseguem

repassar a emoção de um fato e este é o grande diferencial do jornalista. Segundo

FRANCO (2004, s/n ), “não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana

e, portanto, antijornalística”.

É importante refletir até onde é possível desenvolver a emoção no jornalismo.

Existe alguma regra para o uso da emoção? São questionamentos no imaginário do

jornalista. Quando uma publicação recorre ao máximo da utilização da emoção para

prender a audiência do público, corre o risco de ser estigmatizada como uma publicação

sensacionalista.

No entanto, há uma diferença significativa entre o jornalismo com emoção e o

jornalismo sensacionalista. No jornalismo, o uso da emoção contribui para uma melhor

compreensão da informação pelo público, já no jornalismo sensacionalista

há exagero e desproporção, quer no aspecto gráfico quer nos temas quer na linguagem usada. Quando essa linha orientadora e esse estilo caracterizam a generalidade das matérias publicadas e se repete ao longo do tempo, nós podermos dizer que estamos perante um jornal sensacionalista. (Ou de uma televisão: a lógica é semelhante). (PINTO, 2004, s/n)

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Nesse sentido, o meio televisivo oferece grande proporção de recursos

sensacionalistas. Seja por meio das imagens, dos textos ou mesmo com efeitos de

sonoplastia. Na “guerra da audiência” corre-se o risco da emoção sufocar a informação.

Por esse motivo, “se um jornal (telejornal, ou radiojornal) é tachado de sensacionalista,

significa para o público que o meio não atendeu às suas expectativas”, (ANGRIMANI,

1995, p.14).

Sabemos que a imparcialidade é um mito no jornalismo. Até mesmo em uma

nota-pé está presente a parcialidade, um objetivo em si com a informação. Porém, o

jornalista tem a missão de buscar ao máximo se distanciar de tais juízos de valores. A

utilização de recursos para manipular a emoção do público vai contra este princípio, seja

qual for o recurso utilizado para este fim.

2.2.1 História do Sensacionalismo

O início do sensacionalismo aplicado aos meios de comunicação é algo incerto e

difícil de precisar. Entretanto, podemos afirmar que este tipo de jornalismo já está

enraizado na imprensa desde seus primórdios. Algumas enciclopédias conferem o

começo de tudo ao final do século XIX, e atribuem aos editores Joseph Pulitzer e

William Radolp Hearste a responsabilidade pela criação desta maneira de realizar o

trabalho jornalístico. O sensacionalismo desta época ainda guarda marcas que podem

ser percebidas até os dias de hoje.

Na Europa do século XIX, o sensacionalismo já era aplicado com bastante

ênfase na imprensa. Na França, por exemplo, tivemos entre os anos 1560 e 1631 os

primeiros jornais franceses: Gazette de France e Nouvelles Ordinaires. Ambos eram

bem parecidos aos jornais sensacionalistas atuais e traziam muitas informações

fantásticas que agradavam a todos.

Antes mesmo destes dois jornais, já haviam surgidos brochuras, que eram

chamadas de “occasionnels”, onde predominava o exagero, a falsidade, imprecisões e

inexatidões.

Os fait divers é uma expressão de calão jornalístico que geralmente não tem

muita importância ao se tratar do acontecimento jornalístico padrão, considerando o

caráter de interesse público das notícias. Nos fait divers, os fatos são revestidos de uma

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lógica espetacular ligando o entretenimento, diversão e jornalismo. Podemos afirmar

que o fait divers em geral não compromete significativamente a vida das pessoas, e são

acontecimentos curiosos e inusitados do cotidiano. Para Auclair, o fait divers visa à

atração do leitor, ou seja, utiliza-se de acontecimentos de interesse humano.

O fait divers, como informação auto-suficiente traz em sua estrutura imanente uma carga suficiente de interesse humano, curiosidade, fantasia, impacto, raridade, humor, espetáculo, para causar uma tênue sensação de algo vivido no crime, no sexo e na morte. Consequentemente, provoca impressões, efeitos e imagens (...). A intenção de produzir o efeito de

sensacionalismo no fait divers visa atrair o leitor pelo olhar na manchete que anuncia um acontecimento produzido, jornalística ou discursivamente, para ser consumido ou reconhecido como espetacular, perigoso, extravagante, insólito, por isso, atraente. (AUCLAIR, 1970 apud ANGRIMANI, 1995, p.26, grifos no original)

Podemos apontar como alguns exemplos de fait divers notícias sobre fenômenos

naturais, acontecimentos misteriosos, naufrágios, incêndios, inundações, pequenos

escândalos, suicídios, execuções, acidentes de carro, roubo a mão armada, entre outros.

Em 1836, dois jornais inauguraram de fato a imprensa popular do País: o La

Presse e o Le Siècle, com seus folhetins sensacionalistas. Algo que fazia muito sucesso

na França eram os chamados “canards”, que eram jornais populares de apenas uma

página, impressos na parte frontal e que comportavam título, ilustração e texto.

“Canards” significam conto absurdo, fato não verídico, cambalacho e um pouco depois

ficou conhecido com folhetim ilustrado. Os “canards” mais procurados eram os que

relatavam acontecimentos sensacionalistas como: crianças martirizadas, assassinatos,

cadáveres cortados em pedaços, enterrados e queimados. Assim como eclipse, cometas,

grandes catástrofes, tremores de terra, inundações, desastres de trem e naufrágios. Os

jornaleiros da época saíam às ruas para vender sua matéria prima sensacionalista,

gritando com todas as forças diversos acontecimentos sensacionalistas chegando a irritar

pessoas mais sensíveis. Danilo Angrimani apresenta alguns exemplos de manchetes dos

“canards” e dos “occasinnels”:

‘Um crime abominável! Um homem de 60 anos cortado em pedaços’ com o subtítulo: ‘Enfiado em uma lata e jogado como ração aos porcos’. Outra manchete: ‘Um crime pavoroso: seis crianças assassinadas por sua mãe’. Mais uma: ‘Um crime sem precedentes! Uma mulher queimada viva por seus filhos’. (ANGRIMANI, 1995, p. 20)

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Já nos Estados Unidos, tivemos como o primeiro jornal o Publick Ocurrences

surgido no ano de 1690, onde já apresentava algumas características sensacionalistas. O

Ocurrences teve apenas uma edição publicada, onde nela relatava uma história

inventada que na época gerou muita repercussão, aonde dizia que o rei francês tinha

tomado “liberdades imorais” com a mulher do príncipe e que, por isso, “o príncipe tinha

se ofendido”. Além de informar a população ao respeito de uma epidemia de sarampo

que atingia a cidade de Boston, e na matéria o jornal utilizava termos como “selvagens

miseráveis” para referir-se aos índios.

Mas foi somente no século XIX, que o sensacionalismo ganhou força e impulso

na imprensa através das técnicas de impressão, do desenvolvimento do telefone, do

surgimento dos anúncios, da expansão do telégrafo e das redes de cabos submarinos. A

partir daí os jornais que se limitavam apenas a retratar sobre política, começam a

divulgar assuntos de interesse humano, ou seja, deixam o tédio de lado para começar a

divulgar matérias sensacionalistas sobre assassinatos, suicídios e distúrbios de rua.

Nesse sentido, o interesse da população passou a ser o foco dos jornais para garantir a

fidelidade do público com os mesmos.

O marco do jornalismo sensacionalista norte-americano foi na década de 1880,

quando surgiram os dois jornais de Joseph Pulitzer e Willian Radolph Hearts: o New

York World e o Morning Journal. Ambos utilizavam de recursos sensacionalistas na

divulgação de suas notícias, e publicavam dramas delineados com títulos chamativos,

notícias sem importância e informações distorcidas, além de provocar fraudes

incoerentes de todos os tipos para beneficiar-se. Estes periódicos chegaram a apresentar

falsas entrevistas e histórias, além de quadrinhos coloridos e artigos superficiais.

Promoviam também, premiações e sorteios para os leitores.

Os repórteres dos dois jornais passaram a servir de fato aos consumidores,

utilizavam truques e técnicas sensacionalistas para atrair ao público com o objetivo de

conseguir derrubar a concorrência e ser líder no mercado. Hearts e Pulitzer agora

travavam uma guerra mercantil entre os jornais em busca da liderança comercial.

Naquele momento, vale ressaltar que ainda era um mundo sem TV e poucas

alternativas para o lazer. Por isso, os jornais alcançavam circulações espantosas para

aquela época. Nesse sentido, é importante realçar que a falta de imagem facilitava

bastante a vida dos jornalistas do momento, podendo escrever as notícias que

desejassem sem a contestação dos seus leitores. Na virada do século dezenove para o

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século vinte, os jornais de Pulitzer e Hearst obtinham tiragens de até um milhão de

exemplares ao dia. No entanto vale destacar que isto só era possível por conta do alto

índice de alfabetização dos Estados Unidos.

Depois de tantos escândalos causados pelo sensacionalismo da época, o

jornalismo praticado passou a perder credibilidade. Ou seja, as pessoas gostavam de

todo aquele “circo” que era montado pelos jornais, porém começaram a enxergar que

tudo não passava de uma guerra para conseguir dinheiro através dos interesses das

pessoas. Portanto, a partir do início do século XX, já se sabia que quem ousasse seguir a

via sensacionalista entraria em rota de colisão com a confiabilidade.

No Brasil, os primeiros indícios de sensacionalismo introduzidos na imprensa

foram através dos folhetins, a partir de 18404.

2.2.2 O conceito de sensacionalismo

Diversos autores tentam conceituar o sensacionalismo de acordo com as suas

próprias formas, e esses conceitos levam sempre as mesmas considerações, de que o

sensacionalismo é uma forma de tornar a notícia sensacional, ou seja, exacerbar o uso

da emoção através de alguns artifícios gráficos, de imagens ou até mesmo no uso de

alguns termos exagerados que às vezes se tornam desnecessários. Tudo isso com apenas

um intuito, atrair o público para que origine audiência e consequentemente gerar cada

vez mais renda para os veículos de comunicação. Portanto, a maioria dos autores define

o sensacionalismo como uma forma de ganhar dinheiro através do uso exagerado de

fatos e alguns acontecimentos jornalísticos.

Sensacionalismo é a produção de noticiário que extrapola o real, que superdimensiona o fato. Em casos mais específicos, inexiste a relação com qualquer fato e a “notícia” é elaborada como mero exercício ficcional. O termo “sensacionalista” é pejorativo e convoca a uma visão negativa do meio que o tenha adotado. Um noticiário sensacionalista tem credibilidade discutível. (ANGRIMANI, 1995, p.16)

4 Mas foi através de palestras da Semana de Estudos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ocorridas em 1969, que a história da imprensa brasileira começou a ser sistematizada. Como aponta Márcia Franz “As palestras Semana de Estudos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ocorridas em 1969, sistematizaram um pouco da história da imprensa brasileira. O termo começou a ter repercussão nos artigos de Brito Broca, autor de A

vida literária no Brasil – 1900, livro sobre as inovações da imprensa brasileira e do escritor Afonso Lima Barreto, que realizou uma comparação entre os jornais nas primeiras décadas do século XX”. (FRANZ, 2006, p. 20)

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Nesse sentido, o sensacionalismo é algo que foge da realidade através de seus

exageros em cima do acontecimento retratado. Ou seja, na abordagem sensacionalista

da notícia, é possível perceber que o jornalismo torna-se um elemento menor em relação

à emoção e à opinião, utilizadas explicitamente para atrair ao público, fazendo com que

o meio de comunicação que está utilizando esta abordagem perca um pouco da

credibilidade perante aos seus leitores, ouvintes, internautas e/ou telespectadores. Ainda

neste sentido, é possível situar o discurso sensacionalista como um

modo de produção discursivo da informação de atualidade, processado por critérios de intensificação e exagero gráfico, temático, lingüístico e semântico, contendo em si valores e elementos desproporcionais, destacados, acrescentados ou subtraídos no contexto de representação ou reprodução de real social (PEDROSO, 1983 apud ANGRIMANI, 1995, p. 14).

Logo, o discurso da autora retrata bem o exagero da linguagem utilizada por

veículos sensacionalistas, assim como relata a intensificação da utilização gráfica para

conseguir chamar a atenção do público como, por exemplo, apresentando imagens mais

chocantes possíveis. Por isso, podemos perceber que o que vende é a dimensão

espetacular do exagero.

O Sensacionalismo é uma das palavras mais usadas quando se quer deixar um

meio de comunicação ou um jornalista sem credibilidade, pois grande parte da

população utiliza esta expressão para condenar uma notícia ou matéria publicada, não

importando à situação. A primeira impressão das pessoas é tachar a informação como

sensacionalista, e muitas vezes isto se dá de uma maneira errônea, ou seja, de uma

maneira imprecisa, pois nem todas as situações onde ocorrem erros ou deslizes

jornalísticos podem ser consideradas sensacionalistas. Deste modo, utilizam este termo

para quase todas as situações.

De acordo Danilo Angrimani, a linguagem utilizada pelo sensacionalismo não

pode ser formal, ou seja, ela não pode ser muito elegante ou sofisticada, ela tem que ser

exageradamente coloquial, usando bastantes gírias e até mesmo palavrões

(ANGRIMANI, 1995, p.16). Através das informações do autor, podemos perceber que a

utilização da linguagem coloquial facilita bastante para as pessoas se sentirem mais

próximas dos fatos, ou seja, trata-se de trazer a população para a notícia, como se quem

estivesse assistindo, lendo ou ouvindo ficasse vivenciando o acontecimento relatado.

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Portanto, podemos perceber que o principal objetivo do sensacionalismo é lucrar

através de sua matéria prima exagerada, escandalosa e às vezes até mesmo inventada, e

tudo isto é conseguido através dos interesses maciços da população por acontecimentos

sangrentos e desastrosos.

2.3 O Telejornalismo policial sensacionalista

O jornalismo policial utiliza o cidadão comum como principal personagem das

matérias. Nascidos nos jornais impressos sensacionalistas da Inglaterra e dos Estados

Unidos, no século XIX, este tipo de jornalismo trazia textos e imagens apelativas como

crianças martirizadas ou violentadas e cadáveres de todas as formas.

Passados dois séculos, o jornalismo policial encontra-se presente em todos os

meios de comunicação. Jornal impresso, rádio, TV e internet trazem essas

características sensacionalistas históricas da editoria.

De certo modo, o jornalismo policial diferencia-se das outras editorias. Enquanto

editorias de esporte, cultura e política têm como personagens principais de suas matérias

pessoas públicas como esportistas, artistas, autoridades e políticos, o jornalismo policial

“trata de pessoas privadas que praticaram ou sofreram algum ato de violência”,

(GENTILLI, 1998, s/n).

A TV adotou este tipo de jornalismo e é notável que quase todas as emissoras

brasileiras possuem programas neste estilo, seja em âmbito nacional ou regional. Estes

programas são apresentados em geral por pessoas que nem sempre são jornalistas, mas

trazem em seu perfil a linguagem popular, utilizando-se de gírias próprias e com

discurso opinativo.

Estes programas ultrapassaram as antigas fronteiras da editoria que se limitava

às rondas nos interiores das delegacias e às escutas de rádio na frequência da policia, e

passaram a fazer parte das rondas e operações policias nas grandes cidades.

Em 1991, que o jornalismo sensacionalista começou a aparecer de fato na

televisão brasileira. Através do programa Aqui, Agora; que tinha como slogan “o

telejornalismo vibrante que mostra a vida como ela é”. O programa surgiu com o

objetivo de alavancar a audiência do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT, e de fato

conseguiu. Com o seu conteúdo completamente inovador nunca visto na TV brasileira,

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27

chamou a atenção com reportagens que iam ao ar praticamente sem edição ou cortes,

causando uma enorme polêmica, pois o lema do programa era “quanto mais sangue,

melhor”.

O Aqui, Agora; foi inspirado no programa argentino Nuevo Diário, trazendo

assuntos policiais em tom sensacionalista. Em 1993, chegou ao ponto de mostrar ao

vivo e sem cortes um suicídio de uma adolescente. Em 1997, o programa chegou a sua

extinção. Porém, deixou rastros marcantes na história da televisão brasileira. Prova disto

foi à proliferação contínua da criação de programas nos mesmos moldes.

Deste então surgem programas de todos os lados com aspecto sensacionalista.

Os apresentadores aparecem na tela expondo-se indignados com toda aquela violência,

puro cinismo, pois, se isso acontecesse a própria matéria-prima de seus programas

seriam extintas.

Aproveitando o crescimento dos programas sensacionalistas policiais, surgiram

também, os de auditório, que vinham com muito entretenimento, fofoca sobre

celebridades, informação, shows musicais, sorteios entre outros, tudo com um só

objetivo: a audiência.

Na opinião de Eugenio Bucci estes não são programas jornalísticos, pois

confundem o público ao dizer que fazem reportagens, e, inclusive, “ao usar em vão a

expressão jornalismo, estão contribuindo para abalar a credibilidade de uma instituição

vital para o funcionamento da democracia” (BUCCI, 2000 apud BISTANE E

BACELLAR, 2008, p.81).

2.3.1 O Programa Rota Cidadã 190 como exemplo de Telejornalismo Policial Sensacionalista

O Rota Cidadã 190, apresentado pelo jornalista Joaquim Campos é o primeiro

programa policial da televisão paraense com grande enfoque na atuação das operações

polícias. Está no ar há mais dois anos, com uma audiência que merece destaque na

televisão paraense.

O programa surgiu no dia 19 de Fevereiro de 2009, e já completou mais de 100

exibições durante toda sua trajetória. Segundo seus idealizadores, o objetivo principal

do Rota Cidadã 190 (doravante denominando apenas de “Rota”) é acompanhar o

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28

trabalho das Policias Civil e Militar do Estado do Pará em suas ações diárias de combate

a violência.

O programa vai ao ar apenas aos sábados, com apresentação às onze horas da

manhã e em algumas ocasiões é reapresentado às oito horas da noite. O Rota é dividido

em cinco blocos e sua duração total é de uma hora.

O Rota já produziu notícias veiculadas inclusive nacionalmente, através da Rede

Bandeirantes de Televisão. Um exemplo de reportagem que repercutiu nacionalmente

foi o de um casal que feito refém durante horas, na Avenida Pedro Álvares Cabral. A

matéria foi exibida no programa ‘Brasil Urgente’ apresentado pelo jornalista José Luiz

Datena.

A estrutura do Rota possui certos elementos que podem identificá-lo e classificá-

lo como um programa sensacionalista. Ana Lúcia Enne identifica as principais

características do jornalismo sensacionalista. Segundo a autora, o sensacionalismo

precisa ter as seguintes características:

a) a ênfase em temas criminais ou extraordinários, enfocando preferencialmente o corpo em suas dimensões escatológica e sexual; b) presença de marcas da oralidade na construção do texto, implicando em uma relação de cotidianidade com o leitor; c) a percepção de uma série de marcas sensoriais espalhadas pelo texto como a utilização de verbos e expressões corporais (arma “fumegante”, voz “gélida”, “tremer” de terror etc.), bem como a utilização da prosopopéia como figura de linguagem fundamental para dar vida aos objetos em cena; d) a utilização de estratégias editoriais para evidenciar o apelo sensacional: manchetes “garrafais”, muitas vezes seguidas por subtítulos jocosos ou impactantes; presença constante de ilustrações, como fotos com detalhes do crime ou tragédia, imagens lacrimosas, histórias em quadrinho reconstruindo a história do acontecimento, etc.; e) na construção narrativa, a recorrência de uma estrutura simplificadora e maniqueísta; f) relação entre jornal sensacionalista e seu consumo por camadas de menor poder aquisitivo, que, por diversas razões, seriam manipuladas e acreditariam estar consumindo uma imprensa “popular” (...) quando, no fundo, estariam consumindo um jornalismo comercial feito para vender e alienar. (ENNE, 2007, p. 71).

A autora elencou as características do sensacionalismo para o jornal impresso.

Porém, algumas destas características podem ser percebidas também no jornalismo

televisivo. Para compreendê-las, é necessário adaptar as características do jornalismo

sensacionalista apontadas por Ana Lúcia Enne (2007) ao telejornalismo policial

sensacionalista.

O primeiro elemento apontado pela autora diz respeito à ênfase em temas

criminais e extraordinários. Em relação ao extraordinário, o Rota exibe reportagens

Page 29: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

29

policiais que apresentam a polícia como defensora da sociedade e mostram operações

espetaculares da polícia. Por exemplo, operações onde a polícia utiliza-se de bombas

para combater a criminalidade, deslocamento de grandes efetivos policiais, e entre

outros. O escatológico também está presente no Rota. Tomamos como exemplo o

próprio programa que foi apresentado na nossa pesquisa, onde mostrou um suspeito que

para fugir da polícia entrou em uma fossa para não ser encontrado, o destaque desta

notícia foi chamar o suspeito de “rato”.

Quanto ao segundo elemento, que enfatiza a presença da oralidade na construção

do texto, implicando em uma relação de cotidianidade com o leitor, podemos perceber

que no programa o apresentador (Joaquim Campos) utiliza-se de “gírias” e discursos

populares com intuito de defender seus conceitos próprios. Nesse sentido, Campos

consegue estabelecer através de sua fala uma relação de naturalidade e familiaridade

com seus telespectadores. Além disso, as matérias empregam o uso de termos policias

como: “O elemento”, “O nacional”, “O detento”. Além de narrarem a notícia com a

utilização de algumas siglas.

A terceira característica citada pela autora retrata as marcas sensoriais

espalhadas pelo texto. No caso de um programa televisivo, percebemos que isto se dá

através da edição do material audiovisual. Na edição de um programa de telejornalismo

sensacionalista, são adicionados elementos de sonoplastia como músicas para cenas de

ação e prisão, assim como efeitos visuais como animações.

O quarto elemento retrata o uso de estratégias editorias para evidenciar o apelo

sensacional. O Rota mostra diversas imagens de operações policiais que “chocam”

bastante os seus telespectadores, utilizando-se de cenas fortes dando a idéia de mostrar

“a íntegra do acontecimento” ou, como afirma seu apresentador, “sem cortes”.

A quinta característica diz respeito ao simplismo e maniqueísmo do discurso

sensacionalista. No Rota o maniqueísmo está claro quando se contrapõe, por exemplo,

“Trabalhador X Vagabundo”, “Bandido X Polícia”, “Viciados X Cidadão”, entre outros.

A simplificação e divisão do mundo em “bons” e “maus” são marcas do telejornalismo

policial sensacionalista. No caso do Rota, essas marcas são presentes principalmente no

discurso do apresentador, mas também podemos encontrá-las nas reportagens exibidas.

No último elemento apresentado por Enne (2007), diz respeito à venda de jornais

e a alienação da população em relação a eles. No caso do Rota (e dos programas do

telejornalismo policial sensacionalista) encontramos um discurso de fácil assimilação

Page 30: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

30

por todos os públicos (apesar de ser voltado para o popular) com elementos de humor e

características espetaculares do fait divers, como recursos estilísticos para atrair a

audiência e vender espaço de merchandising no programa e adquirir patrocinadores nos

intervalos comerciais.

Por fim, o Rota é um programa policial de forte apelo opinativo e seu discurso é

apresentado como se fosse o “espelho da verdade”, ou seja, apresentando os fatos de

uma maneira imparcial, jornalística e defensores do interesse público.

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31

CAPÍTULO III – TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

3.1 Ética, Moral e Deontologia

Para início deste debate é importante situar as diferenças e complementaridade

entre a ética e a moral. Desde o início da história humana houve a necessidade de se

estipular normas e regras de condutas para orientar o comportamento e conviver em

relativa harmonia. Cada cultura e grupos humanos podem ter suas próprias normas,

porém, estas normas variam historicamente. A este conjunto de normas e valores

denominamos de moral.

Rogério Christofoletti aponta para esta caracterização da moral:

A moral é isso: um conjunto de valores que orientam a conduta, as ações e os julgamentos humanos. Valores como bondade, justiça, liberdade, igualdade, respeito à vida, entre tantos outros. É com base em valores morais que fazemos escolhas sobre nossas condutas e atuamos diante de situações cotidianas. (CHRISTOFOLETTI, 2008, p.16)

Por outro lado, a ética tem uma relação intrínseca com a moral. Enquanto a

moral representa o conjunto de valores de uma sociedade, a ética vem a ser a prática

destas normas e valores questionando-os quando aplicados em relação à sociedade. A

ética parte do indivíduo em relação à sociedade, portanto, possui duas dimensões: uma

individual e outra social.

Francisco José Karam atenta para o fato da ética ser um “conceito que discute o

comportamento humano e valida determinados procedimentos, atribuindo valores como

bem e mal, certo e errado” (KARAM, 2003, p.130). A prática da ética se baseia no bem

comum em que se situa no terreno da indagação moral, julgando-a. Assim, a ética e a

moral se relacionam.

Aquilo que os fazem com a moral, isto é, como fazem os valores funcionarem, é o que se convencionou chamar ética. Se a moral coloca normas, padroniza, é dura e sinalizadora, a ética é reflexiva, maleável, praticante e questionadora. A moral é como uma tabua de mandamentos; a ética é o pensamento sobre as regras e nossas relações com o mundo: se vamos ou não acatar as normas, e por que fazemos uma coisa e não outra. (CHRISTOFOLETTI , 2008, p.16)

Compreendemos que a ética é uma prática humana com formada com valores

individuais e coletivos. Consideramos que a ética está baseada no critério de escolha dos

Page 32: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

32

sujeitos e estas escolhas podem interferir tanto individual como socialmente. Desta

forma, a responsabilidade caminha junto ao julgamento. A ética

é um conjunto de processos mentais e reflexivos que derivam em práticas concretas na vida. Pensamentos levam a julgamentos, que formam conceitos e que motivam ações. Essas ações acabam influenciando pessoas, incomodando outras, aliviando terceiras. Podem gerar benefícios ou prejuízos, cenários positivos e negativos. Um ato não se encerra nele mesmo. Há consequências. De novo, entra em cena a responsabilidade. (Id.,ibid., p.18).

Como já apresentado, a ética toma por base o bem comum, ou seja, a

responsabilidade perante a sociedade. Podemos dizer, portanto, que a ética tem uma

dimensão mais universal, constrói comportamentos válidos e reconhecidos socialmente,

pois baseados no bem comum.

Algumas profissões lidam de maneira mais substancial com a promoção do bem

comum em relação à sociedade. Trata-se da deontologia, ou seja, “a ética profissional,

de deveres e valores específicos de uma certa atividade produtiva” (Id.,ibid., p. 21).

Nesse sentido, os procedimentos profissionais precisam ser reconhecidos pelos

membros da sociedade como validos e de interesse para o bem comum. No campo da

comunicação, especialmente o jornalismo, esta relação social é mais ampla. A

deontologia do jornalismo aponta para as responsabilidades relativas ao uso da

informação, que é considerada direito universal da pessoa humana.

No caso das profissões próprias do campo dos meios de comunicação, tais como o jornalismo, as relações públicas e a publicidade e a propaganda, a ética interroga suas fronteiras, seus valores, sua aplicação geral e em cada caso especificamente. Assim, possibilita análises e julgamentos sobre a procedência e validade da aplicação prática dos valores profissionais, ainda que estejam em constante movimento, tal como o processo de produção e constituição humanos (FILHO, 2009, p.131).

A dimensão ética e também deontológica do jornalismo é percebida pelos

diferentes grupos juvenis que compõem esta pesquisa. De fato, a dimensão do

jornalismo e sua responsabilidade ética é amplamente debatida por estes sujeitos, cada

qual com suas particularidades de valores e morais.

3.2 A pesquisa em recepção e os grupos de jovens que a compõem

A presente pesquisa realizou levantamentos quantitativos e qualitativos sobre

jovens de diferentes situações sócio-econômicas, representados aqui em dois grupos

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33

distintos de bairros que compõem o centro e a periferia de uma mesma cidade: Belém,

capital do Estado do Pará, cidade mais populosa da Região Amazônica. Assim adotou-

se a perspectiva dos estudos de recepção midiática. Estas pesquisas, segundo Nilda

Jacks e Ana Carolina Escosteguy consistem em uma junção da análise da audiência com

a análise de conteúdo. Segundo as autoras,

Em outras palavras a análise da recepção pode ser definida como “análise da audiência – com – análise de conteúdo”, o que tem dupla natureza, qualitativa e empírica. Nestas pesquisas são coletados dados sobre a audiência através de observação e entrevistas em profundidade a aplicados métodos qualitativos e análise desses dados e do conteúdo dos meios. O que caracteriza, entretanto, a análise da recepção são os procedimentos comparativos entre os discursos dos meios e o da audiência, e entre a estrutura do conteúdo e a estrutura da resposta da audiência em relação a este conteúdo. (ESCOSTEGUY; JACKS, 2005, p. 42)

A pesquisa levou em consideração que os grupos possuem diferentes agentes

socializadores que contribuem para o processo de formação dos seus valores,

direcionando atenção especial para o papel da mídia na construção dos valores desses

jovens.

Nesse sentido, apresentaremos a partir de agora os perfis e características de

cada grupo, buscando elaborar uma análise compreensiva de cada um deles.

3.2.1 Grupo A: Perfil e Características

O grupo A da pesquisa é composto por dez jovens de baixa renda familiar,

residentes nos bairros do Benguí, Parque Verde, Tapanã e Cordeiro, situados no

município de Belém, e pertencente ao DABEN (Distrito Administrativo do Bengui). O

distrito engloba ainda outros bairros, como Coqueiro, São Clemente, Una e Pratinha.

O Censo Demográfico do ano 2000, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e estatísticas), indica que o DABEN possui 237.303 habitantes, que

equivalem a 18,5% da população total de Belém. Além disso, o distrito possui 56.383

domicílios representando 19% dos domicílios totais da capital paraense. Esta população

é composta por 115.218 homens e 122.085 mulheres. Identificamos ainda que a renda

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34

mensal dos responsáveis pelos domicílios5 no DABEN equivale a R$ 562,63, ou a 3,76

salários mínimos.

Por meio de questionário definido pelos pesquisadores, identificamos que a

televisão é o meio de comunicação mais utilizado pelos jovens do DABEN. O

levantamento aponta que ela é utilizada por 60% destes jovens como o principal meio

para informação. Em segundo lugar aparece a internet, representando 30% dos

entrevistados, seguida pelo jornal impresso, identificado por 10% dos jovens.

GRÁFICO 1 – PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO QUE OS JOVENS UTILIZAM PARA SE INFORMAR

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Dessa forma, compreendemos que estes jovens possuem uma maior

identificação pelos meios de comunicação com maiores apelos visuais. Esta informação

ainda é confirmada ao analisarmos que o meio de comunicação rádio não foi citado por

nenhum dos participantes.

Quanto à audiência dos jovens em relação aos programas televisivos diários,

percebemos que o Jornal Liberal é o mais assistido, por 37% dos entrevistados. Em

seguida, encontramos os telejornais Balanço Geral, Metendo Bronca e SBT Pará com

audiência de 13% cada, seguido por 12% pelo programa Barra Pesada. Do restante dos

entrevistados, 6% assistem a outros programas apresentados diariamente e 6% afirmam

não assistirem a nenhum telejornal diário.

5 No ano 2000, o salário mínimo tinha o valor de R$ 151,00.

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35

GRÁFICO 2 – PROGRAMAS QUE OS JOVENS COSTUMAM ASSISTIR (DIARIAMENTE)

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Se considerarmos que os programas Balanço Geral, Metendo Bronca, SBT Pará

e Barra Pesada possuem características do jornalismo policial sensacionalista, é possível

perceber que os jovens telespectadores do grupo A já possuem uma afinidade e uma

familiaridade com o discurso deste tipo de jornalismo. Já que estes programas

equivalem 51% da audiência analisada.

Quanto ao quadro que representa a audiência dos programas semanais,

encontramos o ROTA com maior índice de audiência desse público, com 46% da

preferência. O programa Liberal Comunidade encontra-se em segundo lugar na lista,

com 23% de audiência do público do Grupo A, e o ECO RECORD aparece em terceiro

lugar, com 15%. O restante do púbico se divide em 8% de audiência ao programa É do

Pará e os outros 8% afirmando assistir outros programas.

GRÁFICO 3 – PROGRAMAS QUE OS JOVENS COSTUMAM ASSISTIR (SEMANALMENTE)

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Page 36: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

36

O gráfico em questão confirma a audiência expressiva do ROTA por este grupo.

Além disso, percebemos que o segundo colocado da lista de programas semanais, o

programa “É do Pará”, possui exatamente a metade da audiência apresentada pelo

ROTA, que equivale a 23% dos telespectadores do grupo analisado. Estes dados

reforçam a familiaridade deste público pelo jornalismo policial sensacionalista.

O programa Rota Cidadã chama a atenção na pesquisa, considerando a audiência

de quase a metade do público entrevistado no Grupo A.

GRÁFICO 4 – FREQUÊNCIA QUE OS JOVENS ASSISTEM AO PROGRAMA ROTA CIDADÃ 190

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Ao serem perguntados sobre a frequência com que assistem ao programa, 40%

deles responderam que acompanham o programa sempre que possível; 30% dos

entrevistados disseram que o assistem ao menos uma vez ao mês. Além desses dados, a

pesquisa aponta que 20% destes jovens assistem o ROTA todas as semanas, enquanto

apenas 10% declararam que nunca haviam assistido.

É possível compreender que além da audiência expressiva do programa pelo

Grupo A e considerando as duas primeiras variáveis de frequência dos jovens em

relação ao programa (“Toda Semana” e “Sempre que possível”), o Rota chega a atingir

um índice de audiência de aproximadamente 60%. Percebemos ainda que apenas 10%

Page 37: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

37

nunca assistiram o programa. Portanto, é possível concluir que 90% dos jovens podem

ser considerados como público do Rota.

Ao analisarmos a opinião dos jovens do DABEN a respeito da qualidade do

programa, identificamos que 40% o consideram regular. Outros 20% julgam-no bom,

enquanto 30% consideram o programa ruim e outros 10% como excelente.

GRÁFICO 5 – OPINIÃO DOS JOVENS SOBRE O PROGRAMA

10%

20%

40%

30%

Qual a opinião sobre o programa?

Excelente

Bom

Regular

Ruim

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Considerando estes dados, podemos dizer que 70% dos entrevistados, de certo

modo, julgam o programa como aceitável para assistir. Além disso, a porcentagem de

pessoas que consideram o programa ruim equivale a 30% o que contradiz ao dado sobre

a freqüência que estes jovens dizem assistir o Rota. Na questão da audiência, 90%

afirmam assistir o programa ao menos uma vez por mês.

Este detalhe merece certa atenção na pesquisa e podemos levar em consideração

inicialmente que o jovem busca a informação, porém se sente incomodado com a forma

do programa, inclusive questionando sua credibilidade jornalística, como disse o jovem

Genilson Araújo. “Assisto para saber como está o índice de violência no bairro. Mas

não dá para confiar em tudo o que se diz no programa” (ARAÚJO, 2011).

Os dados da pesquisa nos fazem compreender que o jornalismo policial

sensacionalista está inserido no dia-a-dia destes jovens do DABEN e a audiência por

parte deles é expressiva comparada a outros gêneros de programas.

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38

3.2.2 Grupo B: Perfil e Características

O grupo B da pesquisa é composto por dez jovens de classe média residentes

principalmente no bairro do Umarizal, mas também dos bairros do Reduto e Nazaré,

que fazem parte do DABEL (Distrito Administrativo de Belém)6.

Segundo dados do censo de 2000, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística), o DABEL possui 11% da população total da capital paraense,

ou seja, possui 140.574 habitantes sendo 60.595 homens e 79.979 mulheres. Seu

número de domicílios é de 36.606 que corresponde a 12,4% do total. Sua renda média é

a maior dentre todos os distritos do município, chegando a R$ 2.476,95, equivalendo à

época a aproximadamente 16,4 salários mínimos, esse era o valor do rendimento médio

dos responsáveis pelos domicílios7. Quanto a sua área de lazer, o DABEL desfruta de

um total de 59 praças públicas para os seus habitantes, tornando-se a área com o maior

número de espaços públicos de lazer.

O DABEL é um distrito, portanto, pouco populoso, e engloba diversos bairros de

Belém, sendo alguns em sua totalidade e outros em apenas algumas partes. Estes bairros

são: Batista Campos, Cidade Velha, Campina, Reduto, Nazaré, Umarizal, São Brás,

Marco, Jurunas, Cremação e Guamá.

No Grupo B, percebemos que o principal meio de comunicação que os jovens

utilizam para se informar é a internet, ou seja, os participantes usam meios jornalísticos

online na busca de informação, pois a internet apareceu em primeiro lugar com 60% de

preferência dos membros do grupo, seguido da televisão com 30% dos entrevistados e

por último o jornal impresso com apenas 10%.

6 É interessante notar a denominação do distrito, que apesar de abranger apenas os bairros que compõem o centro da cidade, é chamado de Distrito Administrativo de Belém, como se representasse todo o município. 7 No ano 2000, o salário mínimo tinha o valor de R$ 151,00.

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39

GRÁFICO 6 – PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO QUE OS JOVENS UTILIZAM PARA SE INFORMAR

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Nesse sentido, podemos identificar a preferência dos jovens pelo uso do

computador ao invés da própria televisão, que é tão utilizada pela maioria população

brasileira. Além disto, entendemos que os jovens deste grupo buscam a interatividade,

ou seja, é através da internet que é possível ter acesso a ferramentas que dão a

possibilidade de troca de informações.

Não podemos deixar de enfatizar também, que isto só é possível por conta do

poder aquisitivo que este grupo tem, ou seja, os membros têm acesso a computadores

em suas próprias casas ou mesmo acesso a computadores individuais.

Tratando-se da audiência que os programas televisivos diários possuem,

compreendemos que a maioria ficou atrelada a emissora afiliada à Rede Globo de

Televisão, pois a porcentagem dos jovens do Grupo B que assistem ao Jornal Liberal

ficou em 40%. Logo em seguida aparece o programa Metendo Bronca da RBA, com

20% dos telespectadores. Além de 40% dos entrevistados afirmarem que não assistem

nenhum desses programas no dia a dia.

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GRÁFICO 7 – PROGRAMAS QUE OS JOVENS COSTUMAM ASSISTIR (DIARIAMENTE)

40%

20%

40%

Programas Diários

Jornal Liberal

Metendo Bronca

Nenhum

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Sendo assim, se considerarmos que o Jornal Liberal é um programa com um

índice de informação jornalisticamente padronizada, percebemos que quase a metade

deste grupo tem a preferência pelo mesmo, mostrando que talvez o grupo B não esteja

tão atrelado a programas com teor sensacionalista.

Já em relação à audiência dos programas que são exibidos semanalmente,

percebemos que a grande maioria deste grupo opta por não assistir nenhum deles, pois

60% dos entrevistados afirmaram não ter o hábito de assistir programas semanais da

grade de programação televisiva paraense.

GRÁFICO 8 – PROGRAMAS QUE OS JOVENS COSTUMAM ASSISTIR (SEMANALMENTE)

20%

20%60%

Programas Semanais

É do Pará

Rota Cidadã 190

Nenhum

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

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41

Dois programas que são apresentados aos finais de semana foram citados: É do

Pará (Liberal) e Rota Cidadã 190 (RBA). Ambos apareceram na pesquisa com 20% de

preferência do grupo entrevistado.

Portanto, percebemos que aqui houve um equilíbrio dos jovens deste grupo por

um programa sensacionalista e outro que apresenta matérias culturais do Estado do

Pará.

Em relação ao programa Rota Cidadã 190, percebemos que, apesar do Grupo B

não ter o considerado como jornalístico, os jovens o assistem com certa freqüência, já

que 40% dos entrevistados afirmaram acompanhar o programa pelo menos “uma vez ao

mês” e 30% “todas as vezes que é possível”, gerando um total de 70% de frequência de

audiência. Nesse sentido, pode-se considerar que há controvérsia de entre a opinião

apresentada pelo grupo e os dados elencados através da pesquisa. Os outros 30% dos

telespectadores, afirmaram que nunca tinham assistido ao programa.

GRÁFICO 9 – FREQUÊNCIA QUE OS JOVENS ASSISTEM AO PROGRAMA ROTA CIDADÃ 190

30%

40%

30%

Rota Cidadã

Todas as vezes que é possível

Uma vez ao mês

Nunca assistiu

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Debatendo sobre a opinião dos jovens do grupo B em relação ao programa,

podemos entender que houve um equilíbrio, pois 30% dos entrevistados classificaram o

programa como regular. Logo em seguida, houve um empate em 20% para bom e 20%

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para ruim, e os outros 30% para os jovens que nunca tinham assistindo o programa,

portanto, não poderiam opinar sobre o mesmo.

GRÁFICO 10 – OPINIÃO DOS JOVENS SOBRE O PROGRAMA

20%

30%20%

30%

Opinião

Bom

Regular

Ruim

Nunca assistiu

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Portanto, se considerarmos a somatória dos índices ‘regular’ e ‘bom’, podemos

concluir que 50% do grupo considera o programa como aceitável para ser assistido.

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43

3.3 O Jornalismo Para A Juventude

A pesquisa demonstrou que os principais meios que os jovens utilizam para se

informar são a televisão e a internet em ambas as classes sociais. Esses dados

demonstram um forte apelo visual buscado pelos jovens. Os dados totais que

apresentam os resultados da pesquisa com os dois grupos demonstram isto, pois

percebemos que meios como o rádio não foi nem ao menos citado pelos participantes,

independente da classe social em que pertencem ou do local em que residem.

GRÁFICO 11 – PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO QUE OS JOVENS UTILIZAM PARA SE INFORMAR

50%42%

8%

Qual o principal meio de comunicação dos

jovens?

Televisão

Internet

Jornal Impresso

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Na pesquisa realizada, foi debatido o conceito de jornalismo junto ao Grupo A.

Na discussão foi identificado que os jovens do DABEN percebem o jornalismo como

uma atividade social com foco na divulgação de informação de interesse público e com

objetivo de orientar a sociedade. Além disso, o discurso dos jovens levou em conta que

o jornalista deve buscar sempre a neutralidade diante das informações.

Percebemos isso nos discursos realizados por dois jovens do DABEN. “O

objetivo do jornalismo é informar sempre ouvindo ‘os dois lados da moeda’. Não

apenas se basear em um fato” (LOBATO, 2011). Para o jovem Raimundo Dias, “o

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jornalismo é um formador de opinião. Ele está ali justamente para nos orientar como

devemos nos posicionar na sociedade” (DIAS, 2011).

Ao ser questionado sobre se o programa Rota Cidadã poder ser considerado um

programa jornalístico, todo o Grupo A respondeu positivamente. Os jovens levaram em

consideração a capacidade do programa informar as ações policiais. O discurso do

participante Josiel Melo é exemplar neste sentido. Para ele, o jornalismo “tem como

objetivo informar a sociedade. Temos informação de esporte, no caso do ‘Rota Cidadã’

ele informa a ação da policial. É jornalismo policial” (MELO, 2011).

Um dos participantes do grupo enfatiza ainda a dimensão informativa do

programa e o apresenta como um serviço público para o combate à violência. Segundo

ele, “o programa tem um lado bom. Ele fez com que as pessoas denunciassem mais e

isso facilitou o trabalho da polícia. De uma forma ou outra ele contribui para a

diminuição da violência dessa forma: informando” (LOBATO, 2011).

Apesar do grupo de jovens do DABEN considerarem um programa jornalístico

do gênero policial, há controvérsias na forma de como a informação é repassada. Os

jovens se sentiram incomodados pelas opiniões do apresentador. Isto é confirmado no

discurso de Julle Oliveira que o aponta o programa como jornalístico, porém “o

problema é que ele traz uma opinião já formada, uma opinião aberta” (OLIVEIRA,

2011).

O grupo fez ainda um comparativo entre jornalismo com teor informativo com o

jornalismo mais opinativo. Assim, comparando o modelo de apresentação das

informações pelo apresentador do Rota Cidadão, Joaquim Campos e a forma utilizada

pelo apresentador do Jornal Nacional, William Bonner.

Se a gente olhar o jeito que o Joaquim Campos trabalha e comparar com o jeito que o William Bonner se comunica com seus públicos, percebe que o Bonner toma mais cuidado com as palavras que utiliza. Bonner toma cuidado para não expor a opinião dele. No caso do Joaquim é diferente. Ele faz questão de mostrar a opinião dele e não está apenas expondo a opinião, ele quer impor a opinião para o público como a certa. Willian Bonner pode até passar a opinião dele, mas é bem mais oculta. (DIAS, 2011)

Em relação às entrevistas realizadas com o Grupo B, formados por jovens

pertencentes ao distrito DABEL, notamos que quatro membros dos dez participantes do

debate manifestaram-se negativamente ao serem interrogados se o programa era

jornalístico ou não, ou seja, as respostas para a pergunta “Você acha que o programa

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45

Rota Cidadã 190 é um programa jornalístico?” foram unânimes, ao considerarem o Rota

como não sendo jornalístico e sim sendo apenas um programa sensacionalista.

Os jovens do grupo B enfatizaram as funções sociais do jornalismo como:

informação, difusão, interesse público entre outros e puseram como primordial o ato de

praticar a informação de maneira clara, coesa e sucinta, sem enrolar os telespectadores,

ouvintes e leitores. Ressaltaram também, que é da função do jornalismo trazer educação

as pessoas, mostrando como elas devem ir atrás dos seus direitos para conseguir

instrução e ensino, ou seja, de acordo com este grupo é papel do jornalista divulgar

como a população deve cobrar dos políticos uma melhoria na educação do país.

Além disto, os jovens mostram-se indignados pela forma satirizada que o Rota

se desenvolve. Falaram que o programa se torna algumas vezes até humorístico e não

jornalístico, pois se preocupam tanto em atrair os seus telespectadores através do humor

que esquecem o maior dever do jornalismo, a informação. Percebemos bem isto através

da fala do participante Gilberto Motta,

Jornalismo para mim seria em primeira parte informativa, de prestar esclarecimentos à população dos fatos reais. Não é satirizar, não é colocar uma coisa engraçada, é simplesmente informar, não aumentando, não denegrindo uma situação para vender matéria. (MOTTA, 2011).

Foi comentado também, que o programa se resume apenas aos bairros mais

pobres e que isto não é correto, pois os bairros de classe média e alta também possuem

violência assim como os de população com renda mais baixa. Além disto, a questão se o

programa era apenas local foi levantada por alguns dos participantes, por que o Rota só

mostrava acontecimentos da capital e não dos interiores como foi falado pelo

participante Carleno Costa:

É um meio para informar as pessoas como já foi falado, [o jornalismo] é prevenção, mostrar por exemplo,(...) a violência no nosso estado, (...) não tem que mostrar só aqui em Belém, tem que mostrar nos outros interiores, como Marabá, Parauapebas, já que é do Pará. E outra coisa, ele quer mostrar a violência? Ele não tem que mostrar isso de uma forma satirizante, ele tem que mostrar pra população de quem a gente deve cobrar isso (...) E o político? Que tem que botar segurança, que tem que dar educação pra essas crianças. Já que a população não tem informação, então eles tem que levar a educação a população. Então o que a população tem que fazer? Ir na prefeitura e buscar os seus direitos. (COSTA, 2011)

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46

Através da participação deste integrante, percebemos que houve uma pressão em

relação aos políticos do país. Pois o participante julga que é função do jornalismo

mostrar aos telespectadores como e de quem eles devem cobrar mudanças sociais. O

jovem relata também, que é papel do jornalista incentivar à população a ir cobrar dos

políticos educação e o combate a violência para que se possa ter uma melhoria em

relação a estes problemas sociais.

O forte viés crítico do Grupo do DABEL é perceptível, pois os participantes

usam o conceito do sensacionalismo para classificar o Rota como um programa

sensacionalista. Percebemos bem isto no trecho da fala de um dos participantes:

É um programa, como já foi comentado, que não é um programa de jornalismo, é um programa de sensacionalismo, ou seja, você que tem um programa paralelo de outra emissora ou até mesmo na mesma emissora. Você prepara matérias culturais, você faz um estudo do que vai apresentar você faz uma edição, você chega e conversa com profissionais, você vê que nesse programa [Rota Cidadã 190] até a edição dos fatos são erradas, ao invés de colocar o nome correto de um lugar ou de uma pessoa, para quem não conhece aquele local, não consegue localizar onde o programa está se referindo. (MOTTA, 2011)

Portanto, entendemos que para o Grupo B a única coisa com que o programa se

preocupa é com o seu lado sensacionalista. Para um dos participantes os produtores do

Rota não se dão ao trabalho de revisar a edição do programa, identificando vários erros

de edição.

Para Gilberto, o programa tem uma edição desenvolvida de uma maneira

errônea, pois quando eles deixam de editar o programa corretamente, pode deixar alguns

telespectadores confusos sem entender de onde vem aquela informação, pois nem

mesmo o lugar está escrito corretamente na edição.

É interessante perceber, no entanto, que as interpretações conceituas do

jornalismo nos dois grupos são bem próximas, apesar do Grupo A considerar o

programa como jornalístico e o Grupo B não. Para os dois grupos o jornalismo

corresponde a uma prática que possui uma importante função social: levar informação

ao público com responsabilidade, educar a população, incitar a população à busca pelos

direitos, a neutralidade no repasse das informações, além de apresentá-la de maneira

clara, coesa e sucinta. Estas características do jornalismo são comuns e complementares

nos dois grupos, no entanto, a forma de interpretação do jornalismo a partir de um

modelo (o programa Rota Cidadã 190) é totalmente diferente.

Page 47: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

47

Podemos apontar diferenças importantes entre a recepção dos dois grupos em

relação ao mesmo programa televisivo, o Rota Cidadã. Distinguimos como principal

controvérsia o ponto onde cada grupo analisa se o programa é ou não jornalístico. Os

jovens do grupo do DABEN o consideram em sua totalidade como o Rota sendo um

programa jornalístico, ou seja, para o Grupo A eles prestam o serviço público a

sociedade através do combate a violência. Já para o Grupo B, que é composto pelos

jovens do DABEL, o Rota deixa de ser jornalístico para vir a ser um programa

sensacionalista que inclusive utiliza o humor para atrair e entreter o público, ou seja, ao

contrário do primeiro grupo, os jovens do DABEL na sua totalidade não consideram o

Rota como sendo um programa jornalístico, pois para eles o programa deixa de educar a

população, além de alienar o público com seu lado humorístico.

3.4 A audiência jovem do Telejornalismo Policial

Em relação aos dois grupos é perceptível que o Rota Cidadã 190 alcançou a

maior audiência entre todos os programas. Além disso, existe uma alta freqüência de

audiência do programa entre os grupos de jovens analisados.

O gráfico abaixo apresenta o Rota como o programa mais assistido entre os

jovens, este dado constatado pela pesquisa é particularmente interessante, pois o

programa tem um alto índice de audiência entre os jovens, independente da classe

social.

GRÁFICO 12 – PROGRAMAS QUE OS JOVENS COSTUMAM ASSISTIR SEMANALMENTE (TOTAL)

35%

13%13%

9%

30%

Qual destes programas você costuma

assistir? (semanalmente)

Rota Cidadã 190

É do Pará

Liberal Comunidade

ECO Record

Outro

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Page 48: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

48

Em relação à freqüência da audiência que o Rota possui, os dados totais atestam

que o programa tem uma audiência pouco flutuante entre os grupos de jovens

pesquisados. Se considerarmos a junção das variáveis ‘Toda Semana’ e ‘Todas as vezes

que é possível’, teremos uma soma de 45% de freqüência, que para um programa de

exibição semanal pode ser considerada alta. Em relação às pessoas que desconhecem o

programa temos uma porcentagem de apenas 20% nos dois grupos entrevistados, o que

atesta o quanto o programa é conhecido deste público, como demonstrado no gráfico

abaixo (Gráfico 13).

GRÁFICO 13 – FREQUÊNCIA QUE OS JOVENS ASSISTEM AO PROGRAMA ROTA CIDADÃ 190 (TOTAL)

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Quando perguntados sobre a qualidade do programa Rota Cidadã 190 a

totalidade da opinião dos jovens do DABEN e do DABEL demonstram uma visão geral

em que o programa pode ser considerado aceitável pela audiência, já que 50% dos

participantes o consideram “Regular”, 29% o consideram “Bom” e 7% o consideram

“Excelente”. Ou seja, 86% dos entrevistados consideram o programa como admissível.

Apenas 14% do público consideram o Rota como “Ruim”, ou seja, não são os

telespectadores habituais do programa.

Page 49: O TELEJORNALISMO POLICIAL NA CONSTRUÇÃO DOS VALORES ÉTICOS DA JUVENTUDE

49

É possível concluir que o Rota tem uma inserção importante entre o público

jovem, independente da classe social e do local de moradia, quando analisado em

termos totais, como demonstrado no gráfico abaixo (Gráfico 14).

GRÁFICO 14 – OPINIÃO DOS JOVENS SOBRE O PROGRAMA (TOTAL)

Elaboração dos autores, com base nos dados da pesquisa.

Além dos dados quantitativos a pesquisa buscou também compreender a visão

dos jovens sobre o conteúdo do programa. Foi perguntado aos dois grupos como eles

percebem a questão da opinião no discurso do telejornalismo policial sensacionalista.

O grupo de jovens do DABEN considerou que no discurso do programa Rota

Cidadã a exposição de opinião se destaca. Desse modo, consideraram o programa mais

opinativo do que informativo. Estes jovens fizeram referência ainda para o jornalismo

ser um formador de opinião, porém, evidenciando a idéia de que o jornalista deve ser

neutro no momento que repassa uma informação. Esta afirmação pode ser vista no

discurso de um dos jovens do DABEN. “Todos nós assistimos os jornais para saber o

que acontece na sociedade. Porém, o jornalista deve ser neutro nas informações que

passa”, (DIAS, 2011).

Uma das jovens pertencente ao Grupo A considerou que assiste o Rota Cidadã,

porém, sente-se incomodada pela forma que o apresentador age no programa. “Ele deve

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50

informar, mas sem expor a opinião. O apresentador deve deixar para que a própria

pessoa decida a opinião” (Oliveira, 2011).

Para o participante Josiel Melo, a utilização destas características lhe faz julgar

que o programa não tem compromisso com o telespectador e afirma ainda que o Rota

Cidadã se objetiva apenas às opiniões de seu apresentador. Continuando com o

discurso, Josiel diz que o objetivo do apresentador é apenas mostrar a ação da polícia

para o favorecimento da própria instituição. Mostrando ela combatendo de forma

eficiente a criminalidade que, segundo ele, não é a realidade. Nessa linha de

pensamento, o jovem do DABEN afirma, num tom altamente crítico, que “a forma que

o apresentador apresenta suas idéias é sem ética. (...) Assisto para saber como está a

ação da polícia na cidade, mas a forma que ele apresenta sua opinião é um lixo.”

(MELO, 2011).

O debate com o Grupo A apresentou ainda a necessidade que os participantes

sentem do programa realizar uma maior discussão sobre o lado social do fato. Segundo

os jovens, o programa deixa a desejar nesse critério e no discurso de um dos

participantes percebe-se que eles esperam que o programa contribua para a solução do

problema social em questão ao invés da exposição de valores pessoais do apresentador.

Eles só colocam o meliante como a pessoa que não presta, mas eles não perguntam para o garoto o porquê que ele fez isso, o que ele estava passando antes. Eu não estou defendendo ninguém, mas tem a questão social ligada no contexto da pessoa. Ele deveria informar e buscar uma solução para o problema (LOBATO,2011).

Os jovens consideram ainda que o produto do programa é a violência, porém, a

violência dos bairros localizados na periferia da cidade são os alvos principais do

programa. Dessa forma, segundo eles, “o programa cria o estereótipo de que os

bandidos estão apenas na periferia” (MELO, 2011).

As afirmações feitas pelos participantes do Grupo A permitem compreender que

o Rota Cidadã possui a opinião do apresentador como principal objetivo do programa.

Estes jovens mostram-se incomodados com o formato e desejariam que o programa se

comprometesse mais ao lado informativo e de serviço público do jornalismo, ou seja,

contribuir para a solução dos problemas. Por outro lado, eles afirmam que o programa

contribui para o preconceito contra a periferia.

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Para o Grupo B, formado por jovens do distrito do DABEL, a terceira pergunta

(Apêndice A) da pesquisa onde foram questionados se os participantes do grupo

consideravam o programa mais informativo ou opinativo. As respostas foram unânimes

ao considerarem o Rota sendo bem mais opinativo do que informativo, ou seja, para

todos os participantes que se manifestaram após a pergunta, acham que só o que importa

é a opinião do apresentador do programa, pois eles não mostram aos telespectadores o

que realmente aconteceu por completo, não explicam porque aqueles suspeitos entraram

para o mundo da criminalidade, além de não mostrarem se aqueles acusados realmente

ficaram presos ou foram soltos. Podemos perceber isto através de um trecho da fala do

participante João Carlos Frazão,

Pra mim ele mais opina, porque o próprio Joaquim (o apresentador) só direciona esses casos para os bairros mais pobres, diz que só tem bandido, ele não mostra a denúncia, diz que é vagabundo sem ter defesa nenhuma, não mostra o que acontece, se os bandidos ficaram presos ou foram soltos, ou seja, o ato só de mostrar para dar a sensação de segurança para a sociedade, “ah! o cara ta sendo preso, aquele vagabundinho está sendo preso” [Joaquim Campos], ninguém sabe o que acontece com ele, então é só de momento, a opinião dele naquele momento é só o que importa. (FRAZÃO, 2011)

A fala de Frazão chama atenção também pela crítica em relação à criação de

estereótipos e preconceitos sobre os moradores da periferia. Já para Diandra Arantes, o

programa deixa de ser imparcial, pois em todo momento o apresentador coloca sua

opinião

Eu acho que um dos principais problemas do programa, principalmente do apresentador, seria a falta de imparcialidade, Porque em todo momento ele coloca a opinião dele dizendo que teoricamente os criminosos são os errados e enquanto isso os delegados e etc. são os heróis da história assim como os policiais. (ARANTES, 2011).

Além dos argumentos apresentados acima, percebemos também que alguns

jovens questionados através desta pergunta, apontam que o programa também deixa de

ser informativo porque eles nunca buscam a origem do problema, ou seja, sempre ficam

restritos apenas a mostrarem os acontecimentos em bairros mais pobres onde as pessoas

não têm instrução nenhuma.

Nesse sentido, não mostram o passado daqueles acusados, não mostram o porquê

que aquelas pessoas roubam, ou seja, não informam o porquê que aquelas pessoas tão

fazendo isso. Para Victor Noronha,

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52

O programa não está se mostrando informativo. Porque ele mostra os fatos que aconteceram, mas onde estão as soluções? Eles estão julgando as pessoas que roubaram e tudo mais. Eles não estão mostrando o passado, digamos que eles estão apenas julgando as pessoas, sem conhecer a história delas, onde estão as soluções? Por que essas pessoas se tornaram assim? Elas tiveram a educação que realmente precisavam? Eles tiveram a educação dos pais, da escola ou simplesmente eles não tiveram oportunidade? (NORONHA, 2011)

Portanto, percebemos que no Grupo B em sua totalidade, só o que importa para

o programa é a opinião, deixando a informação para o segundo plano. Pois através dos

argumentos elencados acima, entendemos que para os jovens o Rota deveria preocupar-

se um pouco mais com o seu lado informativo, principalmente das matérias que estão

sendo apresentadas no programa. Além de prestar esclarecimentos aos telespectadores

sobre a origem do problema que está sendo retratado no momento.

Mesmo considerando a audiência significativa do programa pelos jovens do

DABEN e do DABEL, estes consideram o programa com tendência opinativa e o que

compromete a satisfação final.

É possível perceber que os dois grupos criticaram o tom fortemente opinativo do

Rota Cidadã, deixando claro que as opiniões do apresentador prejudicam o lado

informativo do programa, e questionando qual sua real contribuição social na busca de

soluções para os problemas apresentados.

3.5 Os Valores Éticos da Juventude e os valores do Telejornalismo Policial

No segundo momento da pesquisa de recepção com os grupos, foram mostrados

trechos de algumas falas do apresentador onde o mesmo expõe suas opiniões no

programa. Após a apresentação, os jovens foram questionados com algumas perguntas

para compreendermos o que eles acham desta maneira que o programa se desenvolve.

Ao fazer a chamada para uma reportagem ocorrida no bairro do Benguí, periferia

de Belém, o apresentador faz o seguinte comentário: “Vamos fazer um passeio pelo

bairro do Benguí, aliás, o Benguí tem fornecido muita matéria prima para o nosso

programa” (CAMPOS, 2011, grifos dos autores).

Ao utilizar o termo “muita matéria prima”, o apresentador se refere às

reportagens policiais no local, ou seja, relaciona o bairro com a violência. Esta forma de

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53

se referir ao bairro incomodou os jovens do grupo do DABEN. Para eles, o apresentador

mostrou-se preconceituoso aos bairros da periferia.

Os jovens chamaram atenção para a violência não ser algo exclusivo dos bairros

mais pobres da cidade. Além disso, eles afirmaram que o apresentador, ao expor este

discurso, contribui para o preconceito contra os moradores dos bairros das periferias.

Pessoas de outros bairros acabam pensando que o foco da criminalidade está na periferia. aí fica a imagem de mesmo você sendo estudante ou sendo trabalhador, mas se estiver com alguém de outro local e essa pessoa bobear, você vai roubar ela. Pode até ser que o programa não queira passar isso, mas acaba passando isso para a sociedade. (MELO, 2011)

Em parte do programa, o faz a chamada para uma reportagem em que um

adolescente é preso após um assalto. Para se referir ao adolescente infrator o

apresentador utiliza a denominação de vagabundinho. Além disso, utiliza a expressão

“vagabundinho com 17 anos, 11 meses e 29 dias e meio” dando referência à idade do

adolescente (que ainda não pode ser considerado adulto perante a lei) e assim tendo que

passar por medidas sócio-educativas como determina o Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Os jovens do DABEN se sentiram incomodados com a exposição de opinião do

apresentador. Segundo eles, ao utilizar o termo “vagabundinho” o apresentador teve o

único objetivo de ofender o adolescente em questão. Podemos compreender essa ideia

no discurso de um dos jovens do grupo. “É uma forma de denegrir, de ofender o garoto.

Quando queremos ofender alguém, usamos esses termos no diminutivo” (MELO, 2011).

Ao final dessa matéria, o apresentador expõe sua opinião sobre a sanção penal

que, segundo ele, deveria ser aplicada aos crimes envolvendo adolescentes. Joaquim

Campos diz que “Podia pegar pai e mãe e ‘socar’ na cadeia! Alguém tem que se

responsabilizar!” (CAMPOS, 2011). Para o apresentador, os pais dos adolescentes

infratores deveriam pagar pelas infrações praticadas pelos adolescentes.

Quando questionados em relação a esta postura (e à legalidade e dimensão ética

que a envolve), mais uma vez os jovens se mostraram contrários à opinião do

apresentador e reafirmaram que o programa não apresenta discussões sobre as possíveis

soluções dos problemas que ocasionam as infrações dos adolescentes. Um dos

participantes do DABEN aponta para a perversidade que partem esses programas,

inclusive afirmando que o apresentador não se importa para a questão social da

juventude.

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O povo gosta de ver que tem alguém em pior situação que a dele. O povo gosta de ver o bandido apanhando, o bandido levando ‘porrada’. Mas a gente não pensa no que ele passa. Muitos são viciados e é a droga que leva eles a fazerem isso. O Joaquim Campos não quer saber desse lado, ele vai logo acusando. “De menor” ele têm é raiva, ainda mais aquele que faz sequestro. (DIAS, 2011).

O participante Márcio Lobato reafirma a ideia de que falta discussão sobre os

problemas sociais e a melhor apuração sobre os motivos que levam os adolescentes a

cometerem infrações.

Aqui por exemplo, têm vários jovens reunidos com um objetivo que é adquirir conhecimentos, mas sabe-se lá se os que estão presos tiveram essa oportunidade. O jornalismo deveria ver os dois lados e não ridicularizar o rapaz que cometeu a infração. Ele deveria informar e buscar uma solução para o problema (LOBATO, 2011).

Outro ponto analisado no programa foi o comentário ao final de uma reportagem

em que populares tentaram linchar um acusado de assalto. Os populares foram

impedidos por conta da força policial que chegou para apreender o suspeito. O

apresentador se referiu ao caso incentivando o ato dizendo que “enquanto a polícia não

chega, mano, salve-se quem puder. Quando a polícia chegar tem que parar. Eu sei que a

intenção de vocês é a melhor possível para o vagabundo, mas a polícia tem que fazer o

seu trabalho” (CAMPOS, 2011).

Os jovens do DABEN consideraram polêmica a opinião do apresentador.

Primeiramente pelo fato da falta de neutralidade de Joaquim Campos. Desde o início do

debate este ponto foi apresentando, porém, ao apresentar esta opinião, os jovens do

Grupo A embora não considerasse correta a apresentação da opinião de Joaquim

Campos, houve identificação da opinião.

Esse é um exemplo do constrangimento que a gente passa. O vagabundo chega com uma arma e te humilha. Quando a gente pega um vagabundo desses como no exemplo, dá para fazer “miséria” com ele. Essa vontade vem porque o que a gente passa é humilhante. Ele chega e diz: ‘Passa, Passa tudo!’ ele te xinga, xinga a tua mãe. É uma coisa humilhante e a vontade que nos dá é partir para cima e fazer uma barbárie se nós tivermos essa oportunidade. Mas nessas horas tem que ter razão para pensar para agir. Não acho certo fazer isso, mas que da vontade fazer isso, dá. (MELO, 2011).

Percebemos por esta opinião que os jovens dos bairros de periferias estão mais

próximos da violência. Nos bairros das periferias ocorrem os maiores números de furtos

pequenos, assaltos a mão armada, estupros e crimes contra a vida de uma maneira geral.

O fato destes jovens serem alvos destes assaltantes acaba por incitar também um

sentimento de vingança social.

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Todos os jovens do Grupo A possuem experiência com esses tipos de violência,

muitos deles até mais de uma situação. No debate, percebeu-se certa revolta por conta

da violência sofrida por eles, que afirmaram até mesmo se sentirem vingados ao verem

os infratores em situações de maus tratos. Este sentimento indica que há uma relação de

concordância entre o conteúdo apresentado pelo programa e a resposta positiva da

audiência, o que inclusive é lembrado por uma participante do grupo. “As pessoas até se

sentem vingadas por assistirem os bandidos apanhando. Este é um dos motivos também

do programa ter tanta audiência” (SOUZA, 2011).

A ideia pode ser confirmada com a fala seguida de outro jovem do grupo.

“Como a gente não pode fazer isso com eles, a gente pelo menos vê a policia fazendo”.

(DIAS, 2011). Percebe-se com isso que o programa possui audiência significativa com

o público da periferia por haver uma concordância entre as opiniões do apresentador e

deste público. Além disso, ao serem questionados no geral se são favoráveis com a surra

aos meliantes, 60% do Grupo A afirmou concordar com a iniciativa.

O último trecho do programa a ser analisado se refere ao conceito de cidadão e

como os infratores deveriam ser tratados pela polícia segundo o apresentador. Joaquim

Campos diz que “cidadão é quem paga imposto, é quem trabalha. Esses vagabundos têm

que baixar o cacete mesmo!” (CAMPOS, 2011), ou seja, aprova que a policia tenha que

agir de maneira mais bruta com os infratores.

Este conceito apresentado por Joaquim Campos levou os jovens expor a opinião

de que os cidadãos são de fato os ‘trabalhadores’ e que os ‘meliantes’ devem receber

um tratamento diferenciado, ou seja, mais brutal por parte da polícia (e da própria

sociedade, segundo eles).

Porém, eles afirmam que a polícia não faz isso apenas com os meliantes e

reafirmaram que o programa tenta passar uma boa imagem da polícia. “O problema é

que a policia faz isso também com o pai de família trabalhador. Tudo bem se eles

fossem fazer o que ele diz apenas com o vagabundo, mas muita gente de bem passa por

esse constrangimento” (MELO, 2011).

O mesmo participante chama atenção para a questão do programa já possuir um

roteiro elaborado onde são definidos os personagens bons e maus. Com isso,

favorecendo o lado da polícia.

O programa apenas defende a policia. Mostra apenas a parte boa da policia. É um Big Brother. E quem os personagens principais? São o major da ROTAM

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(Ronda Ostensiva Tática Metropolitana) Neil e o delegado da Policia Civil Eder Mauro. A policia só chega em parada dada. Mas isso na TV. Quando a gente precisa cadê se eles aparecem (MELO, 2011).

Percebemos assim que o Rota Cidadã possui diversas críticas por conta das

opiniões do apresentador. Porém, em dados momentos, há uma concordância de idéias

dos jovens da periferia com as do apresentador do Rota Cidadã. Esta igualdade de idéias

é entendida pelos próprios participantes do Grupo A como uma forma de atrair

audiência e ainda da periferia ser o público do programa. “O Rota Cidadã 190 tem um

público alvo que é o povão” (DIAS, 2011). Além disso, contribui para que estas

opiniões sejam difundidas cada vez mais e assim não tendo alterações de idéias.

Percebeu-se ainda a revolta por conta dos jovens da periferia com as ações

policiais. Embora audiência do programa, eles mostraram-se incomodados com o

tratamento dado a policia. O questionamento por parte dos jovens refere-se ainda ao seu

cotidiano. A violência sofrida por eles e a falta de assistência policial nos bairros da

periferia, são camufladas pelo programa, conforme eles apontam.

Tratando-se ainda do segundo momento da pesquisa de recepção realizada com

os grupos. Porém, neste momento, dando enfoque ao Grupo B, que é composto por

jovens do Distrito Administrativo de Belém. Percebemos que houve algumas

semelhanças e diferenças em relação ao Grupo A.

Após a apresentação do trecho do programa onde o apresentador Joaquim

Campos refere-se a uma matéria produzida no bairro do Benguí, onde mostra que um

jovem de menor é preso em flagrante pela polícia. Um dos jovens do grupo do DABEL

manifesta-se negativamente sobre a atitude do Rota ao sair mostrando jovens infratores

desta maneira. Pois ele relata que apenas o fato de colocar tarja no rosto dos menores

não significa que o programa está preservando a identidade do menor, ou seja, para este

participante do grupo B, o programa utiliza-se de uma maneira até mesmo criminosa

(SIC) onde expõe os suspeitos desta forma. “O programa mostra um monte de menor, às

vezes só tapando a cara não quer dizer nada, porque às vezes eles têm uma tatuagem ou

algo assim, aí marca a pessoa (...), tira o direito de imagem.” (VASCONCELOS, 2011)

Em outro trecho tratado pela pesquisa realizada com o grupo do DABEL, foi

apresentado aos jovens uma parte do programa onde a polícia consegue ‘estourar’ uma

boca de fumo autuando alguns viciados que estavam no local. Após a apresentação da

matéria produzida pelo Rota, o apresentador faz comentários aos seus telespectadores

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57

chamando uma das suspeitas de ‘índia’, e ainda brincava em frente as câmeras do

programa que não sabia se a acusada era um ‘índio’ ou uma ‘índia’, ou seja,

ridicularizando a acusada para todos os telespectadores que assistiam ao programa.

Para Augusto, a atitude dos produtores do Rota é incorreta, pois o programa já

sai afirmando que os acusados que são apresentados em suas matérias são criminosos. O

participante questiona qual o crime da mulher e o porquê de ela estar sendo presa. Para

ele, o Rota está até mesmo incentivando a violência, pois o fato de sair mostrando essas

pessoas sem (que não tenha o direito de defesa alguma, segundo ele) pode gerar certas

vinganças por parte dos acusados. Nesse sentindo, causando até um receio por parte da

população a denunciar alguns criminosos.

Você vê como o apresentador fala “Ah! Esse marginal, esse não sei o que aí... você compara com outros jornais que dizem “fulano de tal foi preso suspeito por tal crime”, no programa [Rota Cidadã 190] ele já acusa, “esse fulano cometeu tal coisa”, afirmando! Ou seja, é muito diferente uma coisa da outra. (VASCONCELOS, 2011).

Outro trecho que chamou a atenção na participação de Augusto foi quando ele

afirmou que para ele o programa também não deixa de estar praticando crimes “Eles

zombam das pessoas utilizando imagens de carnaval, isto é crime contra honra! Eles

também estão cometendo algum crime e quem comete crime, para mim é criminoso do

mesmo jeito.” (VASCONCELOS, 2011).

Podemos entender que para este participante, o programa é tão criminoso quanto

a sua própria matéria prima (os acusados) que eles utilizam em seu programa, e julgam

como se fossem criminosos sem ao menos terem o seu direito de defesa.

Tratando-se da questão onde o apresentador do programa incentiva a população

quando ele fala que enquanto a polícia não chegar a população pode ‘meter a porrada’

nos vagabundos. Uma das participantes concorda em parte com o apresentador, pois ela

relata que às vezes a população já está tão revoltada com tanta violência no dia a dia,

que ela relata que às vezes as pessoas acham que os criminosos devem ser realmente

tratados desta forma, ou seja, devem ser tratados com a mesma violência que os

bandidos agem com a população, percebemos bem isto quando ela fala

Eu acho que olhando por outro lado também, a população às vezes já está tão revoltada pra essas coisas [a violência] que acontecem, de não poder sair na rua, que às vezes acaba assistindo um programa desse e acham que as pessoas [bandidos] merecem serem expostas desse jeito, merecem ser agredidas por

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raiva, ódio da população de não ter mais segurança ou de poder sair na rua e caminhar assim livremente. Ou seja, a população que fica presa e não os bandidos. (BENTES, 2011)

Já o participante Gilberto pensa de uma maneira diferente, pois ele afirma que se

todas as pessoas fossem desta maneira, a sociedade seria uma verdadeira anarquia, todo

mundo se acharia no direito de fazer e acontecer. “Eu acho assim que o fato que ocorre

“justiça com as próprias mãos”. Já pensou se todo mundo fosse agir deste jeito? Seria

uma anarquia! Porque todo mundo se acharia no direito de fazer e acontecer.”

(MOTTA, 2011).

Ou seja, podemos entender que no mesmo grupo houve algumas controvérsias

em relação a esta questão, onde a participante Camila, concorda em parte com o

apresentador do programa, ao afirmar que em algumas ocasiões estes acusados até

merecem serem expostos e ‘apanharem’ da população por conta de toda esta violência

que eles proporcionam nos dias atuais. Em controvérsia a opinião da outra jovem, o

participante Gilberto já acha que seria uma confusão se todas as pessoas concordassem

com a opinião do apresentador do programa, pois todo mundo se acharia no direito de

fazer e acontecer violando as leis da sociedade humana.

Enquanto ao questionamento relacionado ao objetivo do programa, os jovens do

Grupo B enfatizaram o lado do Merchandising do Rota, alguns jovens levantaram a

questão que o grande objetivo do programa é ganhar dinheiro através das desgraças dos

outros, ou seja, ganhar dinheiro e audiência através do sensacionalismo aplicado pelo

programa. Victor Noronha enfatiza bem isto através de uma de suas participações “o

objetivo que deveria ser era informar, mas não é isto que acontece! Eles só querem

ganhar dinheiro com isso, através do sensacionalismo e o entretenimento das pessoas.

(NORONHA, 2011)

Já para Gilberto Motta “o programa deixa de ser jornalístico em sua essência,

mas sim um programa sensacionalista que se aproveita do comércio em diversas

oportunidades, porque você expõe os produtos para serem consumidos. (MOTTA,

2011)

Tratando-se da última questão levantada pela pesquisa, que diz respeito à

pergunta “Você acha que o programa Rota Cidadã 190 exerce o jornalismo de uma

forma ética? Por quê?” Os jovens do grupo do DABEL foram unânimes ao apontarem o

Rota como sendo um programa antiético.

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O grupo considera a falta de ética do programa por diversos fatores como: Julgar

as pessoas sem ter provas, incentivar a violência, satirizar e ridicularizar o ser humano

entre outros.

Para Leonardo Ribeiro, o programa deixa de ser ético quando ele passa a

humilhar as pessoas na frente das câmeras, além de mostrarem alguns viciados onde não

podem ser julgados como criminosos e sim como apenas doentes que talvez precisem de

ajuda.

“Se fosse ético de verdade eles não estariam humilhando as pessoas na frente da câmera e nem mostrando a cara de viciados que deveriam ser considerados doentes, (...) a primeira vez é uma coisa, eles caíram errado no mundo do crime... mas quem nunca errou? (RIBEIRO, 2011)

Já João Carlos Frazão, levanta à questão do incentivo a violência que Joaquim

Campos, o apresentador, utiliza em seu programa. “Não é ético. Principalmente quando

ele fala que enquanto a polícia não chegar, todos podem meter o cacete!”. (FRAZÃO,

2011).

Após o debate junto aos dois grupos, podemos perceber algumas semelhanças

entre eles. Entendemos que apesar do Rota ter uma audiência significativa perante os

jovens, o mesmo sofre algumas críticas em relação a condução do programa. Os grupos

sentem-se incomodados pela forma opinativa a qual o apresentador dirige o programa.

Além disso, questionam a falta de compromisso do jornalismo como uma atividade

social com objetivo de buscar soluções a certos problemas públicos que a sociedade

enfrenta no dia a dia. Ou seja, deixa de prestar serviços como a informação que é

primordial no mundo jornalístico para conseguir atingir seus interesses que é definido

pelos jovens como obter audiência e ganhar dinheiro em cima de desgraças.

Além desses pontos, os grupos do DABEN e DABEL se mostram incomodados

por conta da exploração da violência apresentado pelo programa quase que

exclusivamente nos bairros de periferias. Ambos os grupos compreendem que a

violência exista em toda a cidade, mas apenas a periferia é explorada pelo programa.

Nesse sentido, os participantes dos dois os grupos acreditam que a forma como o

programa é realizado contribui para o aumento do preconceito contra os moradores

destes bairros.

Por fim, encontramos certas semelhanças de opiniões entre os jovens e o

Joaquim Campos, especialmente em relação ao grupo de jovens da periferia.

Percebemos que estes jovens têm em seu cotidiano a presença da violência e assim são

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mais atingidos por ela. Dessa forma, a revolta contra os infratores pode ser vista de

forma mais evidente por este grupo e aí o relacionamento da ideia do grupo da periferia

ser a principal audiência do programa.

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CONCLUSÃO

Esta pesquisa apresentou o perfil do jornalismo policial a partir de um programa

específico do telejornalismo paraense. Analisando as características de seu formato, foi

possível identificá-lo como um programa sensacionalista, que possui como principal

público os telespectadores das periferias da cidade. Assim, identificou-se a expressiva

audiência do programa para com o público jovem das periferias e ainda com os jovens

moradores de bairros do centro da cidade. Buscou-se então compreender os conceitos de

jornalismo e valores éticos destes dois públicos distintos através da recepção das

mensagens apresentadas pelo programa para cada um dos grupos de jovens. Neste

sentido, a pesquisa apresentou uma dupla dimensão, quantitativa e qualitativa,

procurando entender a relação entre mídia e juventude.

O grupo de jovens do DABEN, periferia da cidade, considera o jornalismo

ligado à ação primordial de informar um fato. Dessa forma, programas apresentando

opiniões de forma aberta, mas se ao mesmo tempo informam algum acontecimento são

considerados jornalísticos por este grupo, porém um jornalismo sensacionalista. Este

formato de fazer jornalismo foi criticado pelo grupo, entretanto, identificou-se uma

audiência significativa a programas neste formato pelos participantes. Embora as

críticas aos programas sensacionalistas, o Grupo A reconheceu que tais programas são

feitos para o ‘povão’. No caso do Rota Cidadã, percebeu-se certas identificações de

valores nas opiniões dos jovens para com as opiniões do apresentador Joaquim Campos.

Porém, mesmo com as concordâncias de opiniões, os jovens do DABEN continuaram a

criticar o apresentador se referindo à importância da neutralidade para quem pratica o

jornalismo.

Além disso, concluímos que tais programas sensacionalistas focalizam matérias

ocorridas principalmente na periferia por se tratar de seu principal público. A questão da

proximidade das matérias aliadas ao discurso coloquial dos apresentadores e repórteres

de tais programas contribui para esta inferência. Porém, estes jovens sentem a

necessidade do debate mais aprofundado das questões sociais. Embora seja audiência de

desses programas, os jovens da periferia identificam a necessidade de uma discussão

mais ampla sobre as questões sociais que envolvem as notícias apresentadas e criticam

ainda mais a forma como o Rota Cidadã apresenta a polícia como efetiva.

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Por parte do grupo de jovens do DABEL, centro da cidade, o excesso de opinião

de tais programas faz com que estes jovens . O jornalismo, para eles deve ser praticado

levando os conceitos da busca pela neutralidade e da apuração. Tais valores do

jornalismo devem estar presentes nos programas para que possam ser considerados

jornalísticos pelo Grupo B fazendo com que o Rota Cidadã fosse tratado apenas como

um programa sensacionalista e não jornalístico. Os jovens do centro, assim como da

periferia, deixaram claros a necessidade de se discutir mais o teor social nas notícias e

assim contribuir para o alcance de soluções para certas mazelas sociais como as drogas

e os diversos tipos de violências.

Mesmo com as críticas, percebeu-se uma audiência significante por parte do

grupo ao ROTA que foi dividida igualmente com outro programa regional e de perfil

oposto ao programa policial. Não se percebeu identificação das ideias do apresentador

junto ao público do centro da cidade. A necessidade em saber sobre os acontecimentos

policiais na cidade torna-se neste ponto de vista o principal motivo da audiência dos

jovens de classe média ao programa.

Por fim, concluímos com a pesquisa que os jovens de diferentes classes sociais e

localidades são considerados públicos destes programas jornalísticos sensacionalistas,

porém, é o grupo da periferia a audiência mais assídua. Assim, é permitido também

analisar estes jovens não apenas como telespectadores num papel apenas passivo. Há

um conceito crítico por ambos os grupos a respeito desse formato jornalístico, além do

que a característica do jovem de sentir a necessidade de discutir questões relacionadas

ao meio que o cerca.

Por outro lado, explanamos a importância da forma como agem estes programas.

Isso porque a mídia é considerada como um dos principais agentes socializadores das

juventudes. Chama-se atenção aos conceitos que ela contribui para serem disseminados.

O jovem está em processo de socialização e necessita de elementos que possam

contribuir para seu desenvolvimento social de forma saudável. As juventudes mostram-

se interessadas por informações, porém, fica necessário um consenso por parte da mídia

sobre o que deve ser considerado importante para o desenvolvimento deste público.

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APÊNDICE A – ROTEIRO GUIA DA ENTREVISTA APLICADA AOS GRUPOS FOCAIS

PRIMEIRA PARTE

1) Você acha que o programa Rota Cidadã 190 é um programa jornalístico?

Por quê? 2) Em sua opinião, o que é jornalismo? Qual o papel do jornalismo? 3) Na sua visão o programa Rota Cidadã 190 dá mais informação ou opinião? Por quê?

SEGUNDA PARTE 4) Exibição do trecho do programa em que são apreendidos adolescentes do bairro do Benguí. (3’58’-4’20’/ 7’20’-8’20’ – bloco 2) Exibir o comentário completo de Joaquim Campos e perguntar a opinião dos jovens. O que vocês pensam desta opinião?

5) Exibição do trecho do programa em que o apresentador incita o espancamento por parte da população aos infratores. (9’02’ / 9`20’ – bloco 1). Exibir o comentário completo de Joaquim Campos e perguntar a opinião dos jovens. O que vocês pensam sobre esta forma de justiça? 6) Exibição do trecho do programa em que o apresentador define seu conceito de cidadão e defende um tratamento mais bruto por parte da polícia e população aos infratores. (7’56’ - 8’28’’ – bloco 3). Exibir o comentário completo de Joaquim Campos e perguntar a opinião dos jovens. Você concorda com este conceito e a forma de tratamento? 7) Exibição do trecho do programa em que o apresentador diz o objetivo principal do programa. (8’23” - 8’40’’ – bloco 5/2). Exibir o comentário completo de Joaquim Campos e perguntar a opinião dos jovens. Você considera que este é o objetivo do programa? 8) Você acha que o programa Rota Cidadã 190 exerce o jornalismo de uma forma Ética? Por quê?

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APÊNDICE B – COMO OS JOVENS SE INFORMAM?

1) Qual o principal meio de comunicação que você utiliza para se informar? a) Televisão b) Rádio c) Internet d) Revista e) Jornal Impresso f) Outros ________________________________________

2) Quais destes programas você costuma assistir?

Diariamente a) Barra Pesada b) Jornal Liberal c) Metendo Bronca d) Balanço Geral e) SBT Pará f) Jornal da Cultura g) Nenhum h) Outros (Qual?) _________________________________ Semanalmente

a) Rota Cidadã 190 b) É do Pará c) Liberal Comunidade d) ECO Record e) Nenhum f) Outros (Qual?) _________________________________

3) Com que freqüência você assiste o programa Rota Cidadã 190? a) Toda semana b) Todas as vezes que é possível c) Uma vez ao mês d) Nunca assisti

4) Qual sua opinião sobre o programa?

a) Excelente b) Muito Bom c) Bom d) Regular e) Ruim f) Muito Ruim