O Terror é Marginal - Os Caminhos Até o Cinema de Terror Brasileiro

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    O TERROR É MARGINAL

    Os Caminhos até o Cinema de Terror Brasileiro

    por

    Mariana Rodrigues dos Santos Araújo

     Artigo apresentado para a

    disciplina de Produção de Texto

    Profª. Maria Cristina Góes

    Departamento de Letras

    PUC- Rio

    2015

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    RESUMO: 

    Este artigo trata das origens do Terror no cinema brasileiro, tirando como pontos de análise os filme ‘À Meia Noite Levarei Sua Alma’ (1963), de José Mojica Marins, ‘Mar Negro’, (2013), de Rodrigo Aragão e ‘Amor só de mãe’ (2003) de Dennison Ramalho. Traça um 

    paralelo entre a cultura do terror e o popular (tradição oral, pulps, quadrinhos e rádio) e compara o cinema brasileiro de terror com outros gêneros produzidos no país e com o terror  produzido fora do Brasil.

    palavras-chave: cinema de terror; exploitation; cinema brasileiro; horror; cultura popular

    INTRODUÇÃO

    Para falar de Terror no Brasil precisamos nos aventurar pela marginalidade das produções 

    culturais. Por mais religioso e supersticioso que o brasileiro possa ser, e que nosso folclore seja 

    repleto de figuras com grande potencial horrorífico, nosso lado macabro nunca conseguiu se 

    estabelecer como gênero nas rodas da intelectualidade do país. A alta literatura e o cinema 

    vanguardista se mantiveram eximidos do Terror e, quando tanto, esbarravam em conceitos do 

    tema sem muita dedicação, ou sem fazer dele um meio. O que não equivale a dizer que o 

    gênero não foi prolífico em nossas ficções de uma maneira geral.

     Além do rico Folclore brasileiro e da disposição do nosso povo para crendices e superstições, o 

    Terror garantiu seu lugar na indústria de comunicação de massa e do cinema popular (mesmo 

    que, nesse último caso, sem muita constância). Durante a primeira metade do século XX o 

    gênero se espraiou em literatura pulp (papel jornal), quadrinhos e programas de rádio. Mas foi 

    no cinema da segunda metade do século que surgiu seu maior expoente: Zé do Caixão - que 

    viria a ser a figura mais associada ao Terror Brasileiro até hoje, servindo como inspiração para 

    uma nova geração de cineastas que, mais de quarenta anos depois, ainda acredita na nossa 

    competência para o nefasto.

    Este artigo se ocupa em abordar as aparições do Terror como gênero no cinema brasileiro, a 

    partir, principalmente, dos longa-metragens ‘À Meia Noite Levarei sua Alma’ (1963), de José 

    Mojica Marins e ‘Mar Negro’ (2008), de Rodrigo Aragão e do curta ‘Amor Só de Mãe’ (2003), de 

    Dennison Ramalho. Depois de referir as raízes na tradição oral e religiosidade e as influências 

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    e semelhanças com a produção cultural impressa e radiofônica, são analisadas a estética e 

    temática desse segmento do audiovisual nacional; o que o torna tão tipicamente brasileiro e de 

    Terror.

    Quando comparamos as primeiras fitas da personagem Zé do Caixão com o cinema da época, 

    facilmente percebemos o egresso de Mojica em relação a seus contemporâneos. Enquanto a 

    totalidade do Cinema Novo, ou mesmo o Cinema Marginal se preocupa com ideologias 

    políticas e lutas sociais, Mojica se dedica aos transtornos da psyché de personagens que em 

    nada se relacionam (ou se importam) com a luta política, chegando a ser considerado 

    conservador pela intelectualidade. Apesar do sucesso de publico alcançado pelo coveiro, as 

    fitas de baixo orçamento começam a perder força, em grande parte por conta das pressões do 

    regime militar. Tanto, que somente em 2008 Zé consegue lançar ‘Encarnação do Demônio’ e 

    terminar a trilogia iniciada (acidentalmente, ao longo do artigo será explicado o porquê) com ‘À 

    Meia Noite Levarei Sua Alma’.

    Entretanto, este início de século tem revelado terreno bastante fértil para o Cinema Brasileiro 

    de Terror. O surgimento de novos nomes como Dennison e Aragão vêm revitalizando a cena e, 

    por vezes, até conseguindo um espaço nos circuitos comerciais. Em busca de uma identidade 

    própria, fazem cinemas bem distintos, ainda que sincronicos no brasileirismo.

    O REGIONAL

    Não seria errado dizer que o Terror existe desde os primórdios da narrativa oral. Não enquanto 

    gênero, já que essa concepção é relativamente recente, nem em sua totalidade, já que a 

    mitologia poderia facilmente ser classificada em outras esferas do Fantástico; mas no que toca 

    as interferências de elementos sobrenaturais sobre o mundo material, especialmente as de 

    intenções perniciosas. E construção do Brasil como nação, não é novidade pra nós, cruza uma imensa variedade de povos e, por consequência, de mitologias.

     À pajelança nativa das tribos da América e as criaturas protetoras da mata, foram 

    acrescentados lobisomens, magos e vampiros europeus e entidades da natureza oriundas do 

    continente africano. Novas religiões chegavam e se adaptam à realidade colonial tropical: o 

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    catolicismo, o candomblé, a umbanda e, mais recentemente o espiritismo, o protestantismo e 

    até o budismo e xintoísmo durante a imigração japonesa. Todas carregando suas respectivas 

    imagens metafísicas capazes de agir em nivel terreno, controlando doenças, pragas, desastres 

    naturais e, por vezes, incorporando em seres mundanos.

    Roberto causo chega a afirmar que “tamanha presença do sobrenatural na vida quotidiana nos 

    remete à noção de que o único modo de compreender a América Latina - e Brasil em especial - 

    é recorrer à projeção de elementos absurdos, bizarros e sobrenaturais sobre o cotidiano – a 

    assunção básica do realismo mágico” (CAUSO, 2003, p. 103)

    Porém, pouco ou quase nada desse potencial horrorífico tão arraigado na nossa realidade foi 

    francamente explorado pela Literatura erudita. O tanto que era presente nas tradições orais era 

    rejeitado pelos grandes nomes das Letras brasileiras. Os guardiões da floresta, como Sacis e Caiporas ficaram restritos a histórias infantis e literatura de cordel. Seria desonesto dizer que 

    as religiões foram inexistentes, mas raríssimas vezes seu caráter nefasto foi assentido ou de 

    muita relevância nas tramas. Provavelmente encarados como resquícios do impulso animista, 

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    estando um patamar abaixo do racional. O que se via no Brasil de literatura de horror era 

    basicamente literatura traduzida

    Os ingleses é que se pelam por casas mal-assombradas, e os autores 

    fornecem, por meio da literatura, o que não se encontra com freqüência na realidade. Entre nós, parece que se dá o contrário: há muitas lendas, superstições e assombrações, e há pouco quem se aproveite do tema para escrever. (MONTEIRO, 1959, Prefácio)

    O INDUSTRIAL

    O Terror nacional inaugura amplo espaço de publicação e distribuição somente por volta de 

    1930, com o advento da literatura pulp, publicação originalmente americana, de baixíssimo 

    custo, feita da sobra do papel, que ficou conhecido no Brasil como papel jornal. Muito próximo 

    plasticamente dos quadrinhos, ambos são vistos como esteticamente inferiores e descartáveis.

     As histórias (...) eram, em tudo, muito semelhantes às norteamericanas: feitas para causar sensação e para serem lidas com rapidez, privilegiavam as cenas impactantes em vez da coerência narrativa; procuravam oferecer uma seqüência de ações rápidas que dessem pouco espaço à reflexão; recorriam a clichês para facilitar o 

    reconhecimento; tinham um estilo que dava pouco espaço às marcas “autorais” (CANEPA, 2008, p.87)

     As temáticas são das mais variadas, porém o Terror vai paulatinamente ganhando destaque, 

    sendo frequentemente associado a este tipo de arte. Pela celeridade necessária à produção 

    dessas publicações, os escritores muitas vezes recorrem a casos sensacionalistas do 

    cotidiano, sobretudo os crimes de sangue, baseados no que lêem nos jornais e ouvem nas 

    ruas. A primeira revista desse tipo estritamente dedicada ao Horror e à Fantasia ‘Detective - A 

    Revista das Emoções’ é lançada em 1936.

    Um dos mais prolíficos escritores de pulp a trabalhar com o gênero é o paulista Rubens 

    Francisco Lucchetti, que viria inclusive a colaborar com Mojica nos argumentos dos filmes do 

    Zé do Caixão. Escreve muitas vezes por trás de heterônimos e, notavelmente, todas suas 

    revistas vendem muito bem.

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    Também nas HQs o Terror é diretamente abordado. Após a revista americana Terror Negro ser  

    traduzida para o português, os editores não puderam deixar de notar a aceitação do público, o 

    que impulsiona o surgimento de diversas revistas no mesmo formato, ainda se resumindo a 

    traduções de estórias gringas. Só depois que o estudo de um psiquiatra alemão vincula o 

    crescimento da violência à temática dos quadrinhos, e os editoriais americanos enfrentam grande censura, que as editoras brasileiras incentivam os artistas nacionais a escrever as 

    próprias histórias. Os escritores passam a fazer adaptações de histórias americanas em 

    contextos próprios, subervetendo e criando uma identidade própria, frequentemente brincando 

    com os clichés presentes nas histórias de terror.

    Lucchetti lança ainda a revista O Estranho Mundo de Zé do Caixão, que mistura “ HQs com 

    fotonovelas e matérias sobre os famosos “testes de atores”, nos quais Mojica submetia os 

    candidatos a variados tipos de torturas e vexames.” (CANEPA, 2008, p.93), abandonando o ambiente gótico e se ambientando em cenários tropicais. Lucchetti considera Zé do Caixão “o 

    primeiro personagem de horror genuinamente brasileiro”

    Paralelamente às impressões marginais, há no rádio um programa que trata de reconstituir  

    histórias de horror enviadas por ouvintes. ‘Incrível! Fantástico! Extraordinário!’, comandado pelo 

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     Almirante, ficou no ar por doze anos. Toda semana levando a sonoplastia macabra da 

    radionovela às casas brasileiras.

    O CINEMA

    Permeando a década de 1960, o cinema nacional vê grande perspectiva de crescimento e 

    inovação. Após declínio das grandes produtoras de chanchadas, entramos no período de 

    afirmação do cinema moderno brasileiro. Jovens cineastas independentes tentam sua sorte no 

    cinema de guerrilha e a sétima arte, que até então era tida como mero entretenimento barato, 

    se vê pela primeira vez no mesmo nível de consideração da literatura e do teatro. Começa a 

    era do “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, ou o processo de intelectualização do 

    cinema (no Brasil e no mundo). Se por um lado, Mojica não se identifica com essa 

    intelectualidade, por outro ele se beneficia desse terreno próprio para novos gêneros, lançando 

    o primeiro filme a assumir o gênero de Terror, ‘À Meia Noite Levarei Sua Alma’.

    Isso até que os embates com o regime militar começam a se intensificar, o que torna as 

    produções cada vez mais escassas até que quase silenciadas. Somente meados da década de 

    1990 vemos a industria do cinema voltar a acontecer de maneira significativa. Já nos anos 

    2000 as promessas de mais uma expansão à moda industrial enfrenta sua resistência e 

    festivais de cinema começam a brotar espalhados pelo país. E os novos jovens cineastas 

    podem voltar sua criatividade para os mais diversificados gêneros novamente. O terror ganha 

    destaque sobretudo com as obras do capixaba Rodrigo Aragão, que coleciona prêmios (no 

    estrangeiro) e de Dennison Ramalho, que inclusive participa das filmagens de ‘Encarnação do 

    Demônio’ com Mojica.

    Cinema autoral

     As inovações estéticas e temáticas da década de 1960 já nos permitem falar em cinema de 

    autor no Brasil. A linguagem artística se foca em privilegiar os traços peculiares de cada diretor, 

    se opondo ao que ocorria na época das chanchadas em que os atores eram as grandes 

    estrelas e a montagem obedecia aos padrões das produtoras.

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    Em meio ao Cinema Novo e o Marginal que compõem os cineclubes da época surge Zé do 

    Caixão, o coveiro iconoclasta de capa e cartola, que dividiria as opiniões da classe intelectual 

    cinematográfica. Mojica não é um acadêmico nem se preocupa com as ideologias políticas e 

    sociais. Sua proposta é pura e simplesmente contar das perturbações mentais de sua 

    personagem e conquistar o público. E conseguiu. O protagonista de ‘À Meia Noite Levarei sua 

     Alma’ cai nas graças do brasileiro e se firma desde então como ícone do nosso Foclore. Tanto 

    que mesmo após a morte da personagem no final do filme, Mojica se vê pressionado a 

    ressicitá-lo e dar continuidade à saga. As aparições na televisão marcaram a carreira do 

    cineasta paulista, que até ganha programas próprios, em que investiga acontecimentos 

    sobrenaturais supostamente enviados por espectadores.

    Suas fitas não se incluem em nenhuma corrente cinematográfica dá época, no entanto não 

    seria correto dizer que não fez escola. O surgimento de Zé do Caixão desencadeia uma série 

    de produções fundamentadas no modo brasileiro de fazer Terror. Com destaque para Ivan 

    Cardoso, no Rio de Janeiro, que mistura obrigatoriamente Comédia e Terror, inventando o 

    Terrir, termo cunhado pelo próprio Ivan e para Boca do Lixo, corrente que se aproveita de 

    equipamentos das falidas produtoras paulistas para fazer cinema. Já mais recentemente, os 

    novos cineastas empenhados em fazer Terror não negam (nem teriam como negar) as 

    influências nesse alicerce.

    Principalmente nas locações, podemos notar o brasileirismo e o popularismo aflorando. 

    Dificilmente (para não dizer nunca) o Terror nacional trata da realidade das classes média e 

    alta e preocupações burguesas, em contraposto ao Terror americano, onde são lugar comum. 

    Os cenários retratam casas rudimentares, de pau a pique, localizadas em mangues, costas, 

    favelas e no geral em lugares ermos. As personagens eram tambem bastante simplórias: o 

    pescador, o coveiro, o policial militar… Todos criam fácil identificação por parte da audiência.

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    Imagem de À Meia Noite Levarei Sua alma, 1963 Imagem de Amor Só de Mãe, 2003

     A religiosidade e crendice são extremamente exploradas pelos três cineastas a que este artigo 

    se refere. Rituais satânicos invocam entidades maléficas, aparições e espíritos voltam dos 

    mortos para cobrar dívidas e criaturas grotescas surgem com sede de sangue.

    Transbordamentos

    O amadorismo marca as fitas de Mojica e Aragão. Não tanto as de Dennison. As equipes são 

    formadas muitas vezes por amigos e pessoas com boa vontade de fazer Terror brasileiro. Os 

    atores, em sua maioria, não são estudantes de teatro nem consagrados no ramo. O tom declamatório misturado aos diáogos duvidosos são traços distintivos dessas narrativas.

    Os atores parecem representar a si mesmos, sensação reforçada pela espontaneidade do sotaque e pelos erros de sintaxe. A coexistência paradoxal de artificial e natural, convenção e autenticidade, imaginação e realidade, permite dois modos de expressão. O primeiro é o choque, caro aos surrealistas, em que a anormalidade, o excesso, o sonho, o irracional ou o sobrenatural surgem em um contexto estável e corriqueiro. (...) O segundo modo de expressão é a comicidade involuntária. (AGABITI, 2005)

    Essa comicidade involuntária parece ser explorada por Aragão já de forma proposital, 

    configurando o charlatanismo como característica típica do Terror, obrigatória na estática trash 

    moderna, que gosta de evidenciar o baixo-orçamento. Mas isso não se resume às atuações e 

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    diálogos. Os efeitos especiais e caracterizações do capixaba prezam o inverossímil e, 

    poderia-se dizer, o ridículo. As criaturas são grotescas e quase amórficas. Em ‘Mar Negro’ 

    Rodrigo chega a transformar um de seus atores em albino, em clara chacota com os padrões 

    gringos que dominam a indústria.

     As fotografias são mal calculadas e pouco cuidadosas. Não é raro vermos luzes estouradas 

    que sequer poderiam ter vindo de algum lugar do cenário e câmeras desfocadas. Já Dennison 

    prima por um cinema mais clássico, ou pelo menos mais encaixado no padrão televisivo. Tanto 

    iluminação quanto efeitos são mais responsáveis; as filmagens contam com equipes e atores 

    profissionais. Talvez por isso, tenha se dedicado quase integralmente a ralização de 

    curta-metragens, partindo somente este ano para o primeiro longa como diretor.

    Os três se assemelham na temática. Não só do Horror, mas do gore e do exploitation. O 

    conteúdo erótico é sempre salientado e o exagero dá o tom. As cenas de tortura e sangue são 

    completamente exibicionistas e teatrais. No caso de Mojica até bastante reais, dado que 

    submete não só suas personagens, mas seus atores a certos tipos de violência.

    Imagem de Mar Negro, 2013

     As personagens além de simplórias, abordam basicamente de figuras mal vistas pela 

    sociedade. 

    Neste trecho, Angela José fala do cinema marginal, mas poderia muito bem estar  

    se referindo às películas de horror nacionais:

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    dava voz a personagens totalmente desestruturados que se encontravam à margem da sociedade, porque, para além da militância política existiam as prostitutas, bandidos, homossexuais, drogados, pervertidos, degenerados. Era a estética do grotesco, onde o kitsch, o burlesco, as imagens sujas e desfocadas predominavam. Histórias estranhas, com 

    personagens estranhos, anti-heróis da realidade brasileira (JOSÉ, 2007, p.159)

    Enfim, tudo o que não queríamos ver em nós mesmos. Tipos que passam longe do que hoje 

    conhecemos do entretenimento de massa, a não ser pelos programas policiais, e que mesmo o 

    Cinema Novo não se aprontou tanto em estampar. Os marginais urbanos e rurais, desprezados 

    pela sociedade, ganham o protagonismo.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    No vai e vem da indústria cinematográfica brasileira, o cinema de Terror ganha novo espaço e 

    muitas outras faces. Desde produções independentes, de fundo de quintal, com ambições não 

    muito maiores que viralizar no YouTube até produções profissionalíssimas em conjunto com 

    distribuidoras de peso e nome no Brasil, se encarregam de levar angústia e tormento ao 

    público. As obras de Horror conseguem novamente adentrar os circuitos comerciais, e 

    ultimamente podemos ver até propagandas da TV. Zé do Caixão, agora um pouco afastado das produções devido a sua condição de saúde, virou figura cult. Gringos apaixonados por seus 

    títulos ajudaram um bocado.

    Mojica abriu os caminhos e um número considerável de cineastas segue por ele - ainda bem. 

    Não só do Horror, mas de todo o prisma do Fantástico. As novas caras como Dennison e 

     Aragão mostram que nem só de comédia romântica vive o brasileiro.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

     AGABITI, A. Um Arranjo Prosaico e Extravagante: Portal Brasileiro de Cinema, 2005

    acesso dez/2015

    http://www.portalbrasileirodecinema.com.br/mojica/especiais/06_01.php

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    CÁNEPA, L. L. Medo de Que?: Uma história do horror no cinema brasileiro: Biblioteca Digital

    Unicamp. Campinas, 2008

    acesso dez/2015

    CAUSO, R. S. Ficção científica, fantasia e horror no Brasil, 1875 a 1950: Editora UFMG, Minas

    Gerais, 2003 

    JOSÉ, A. Cinema marginal, a estética do grotesco e a globalização da miséria: Revista Alceu,

    Rio de Janeiro, - v.8 - n.15 - p. 155 a 163 - jul./dez., 2007

    acesso dez/2015

    MONTEIRO, J. O Conto Fantástico - Panorama do Conto Brasileiro: Civilização Brasileira, Rio

    de Janeiro, Prefácio, 1959

    REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS

     ARAGÂO, R Mar Negro: Fábulas Negras, Espírito Santo, 2013

    MARINS, J. M. À Meia Noite Levarei Sua Alma: Cinematográfica Apolo, São Paulo, 1963

    RAMALHO, D. Amor Só de Mãe: Olhos de Cão Prod. Cinematográficas, São Paulo, 2003

    http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/Alceu_n15_Jose.pdfhttp://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000446825