O Tocoismo perante os desafios da globalização

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O Tocoísmo perante os desafios da globalização 1 O TOCOISMO PERANTE OS DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO António Neves Álvaro 1 Culto Tocoísta no ex-Bairro Indígena, Rua do Buco Zau em 1975 RESUMO: Com a globalização, verifica-se um processo de integração social à escala mundial, ocorrendo uma integração política, económica, cultural, social, religiosa e espiritual que nos faz viver numa comunidade global e plural, fazendo desaparecer os anteriores modos de vida dos povos, civilizações e religiões. E ao proporcionar o «encontro dos diferentes», cuja dinâmica gera o pluralismo e a homogeneização cultural, que impõe aos «diferentes» valores que lhes são alheios, gera reacções de ajustamento ou de resistência a globalização. As reacções do Tocoísmo à globalização, inserem-se dentro da problemática da padronização cultural no mundo global, pois, a sua abertura no «encontro dos diferentes», não só lhe exige adequar os seus valores ao que é global, mas também lhe obriga a renunciar a sua perspectiva de orientação divina para o mundo. E as duas prováveis reacções Tocoístas (positiva e negativa) ante a globalização, hão de ter sérias implicações na sociedade, na vida da Igreja e do Tocoísta em si. PALAVRAS CHAVES: Tocoísmo, globalização e pluralismo cultural e religioso 1 Tema inicialmente elaborado no âmbito da realização da 1ª Conferência de Quadros da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo que teve lugar em Luanda, no Centro Religioso do Palanca de 07 à 09 de Março de 2013. O mesmo foi melhorado com o intuito de caracterizar os principais fenómenos e processos que emergem em torno do globalismo Tocoista que acelera o seu revivalismo.

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O TOCOISMO PERANTE OS DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO

António Neves Álvaro1

Culto Tocoísta no ex-Bairro Indígena, Rua do Buco Zau em 1975

RESUMO:

Com a globalização, verifica-se um processo de integração social à escala mundial, ocorrendo uma integração política, económica, cultural, social, religiosa e espiritual que nos faz viver numa comunidade global e plural, fazendo desaparecer os anteriores modos de vida dos povos, civilizações e religiões. E ao proporcionar o «encontro dos diferentes», cuja dinâmica gera o pluralismo e a homogeneização cultural, que impõe aos «diferentes» valores que lhes são alheios, gera reacções de ajustamento ou de resistência a globalização. As reacções do Tocoísmo à globalização, inserem-se dentro da problemática da padronização cultural no mundo global, pois, a sua abertura no «encontro dos diferentes», não só lhe exige adequar os seus valores ao que é global, mas também lhe obriga a renunciar a sua perspectiva de orientação divina para o mundo. E as duas prováveis reacções Tocoístas (positiva e negativa) ante a globalização, hão de ter sérias implicações na sociedade, na vida da Igreja e do Tocoísta em si.

PALAVRAS CHAVES: Tocoísmo, globalização e pluralismo cultural e religioso

1 Tema inicialmente elaborado no âmbito da realização da 1ª Conferência de Quadros da Igreja de Nosso Senhor

Jesus Cristo no Mundo que teve lugar em Luanda, no Centro Religioso do Palanca de 07 à 09 de Março de 2013. O mesmo foi melhorado com o intuito de caracterizar os principais fenómenos e processos que emergem em torno do globalismo Tocoista que acelera o seu revivalismo.

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1. CONSIDERAÇÕES GERAIS Nos últimos tempos, tem sido possível o conhecimento e a compreensão das diferentes sociedades, culturas e suas reacções face aos rápidos processos de transformação social geradores de instabilidades sociais, graças aos aturados estudos das religiões realizados pelas Ciências das Religiões, estudos estes que permitem entender melhor a razão de ser dos povos e civilizações que se globalizam e que em muitos casos vêm produzindo múltiplos apelos à violência e aos «fundamentalismos» face ao “choque de civilizações2”. Razão pela qual, falar dos desafios da globalização para o Tocoísmo, é um exercício complexo e muito arriscado, isto, pela originalidade do tema, da dimensão do fenómeno e do seu impacto directo nas várias civilizações, sociedades, culturas, povos e religiões, que de forma inesperada viram-se envolvidas numa situação estranha, que lhes impõe novos e sérios desafios para a sua sobrevivência enquanto realidade social. Nesta apresentação, vamos procurar abordar o tema numa perspectiva que nos possa permitir analisar transversalmente o fenómeno, muito mais na sua dimensão cultural, e assim podermos compreender como os Tocoístas agem/reagem e se ajustam/resistem perante este conjunto de transformações globais (politicas, económicas, tecnológicas, culturais, religiosas, ideológicas e espirituais) e como tiram proveito do mesmo para a expansão e globalização do Tocoísmo, sem perderem a sua essência identitária. Daí a importância que se reveste o estudo do Tocoísmo3, pois, mais dia, menos dia, o Tocoísmo reagirá ante a padronização cultural que resulta da globalização e que rapidamente relativiza todas as culturas no mundo dentro dos valores ocidentais da modernidade liberalista. Na verdade, não gostaríamos que a reacção do Tocoísmo aos efeitos nefastos da globalização trouxessem fechamentos, tensões ou violências para com outras culturas e religiões no mundo. A versão actual do presente trabalho teve apenas como motivação o estudo (levantamento e observação) dos vários fenomenos que ocorrem no Tocoismo e destina-se para fins académicos, pois, procura olhar o Tocoismo numa perspectiva mais racional e não Tocoísta. Daí as incompreensões que causará a muitos, pelo que pedimos já as nossas desculpas, uma vez que os Tocoistas não estão habituados a serem vistos de forma exógena. E os factos que serão descritos são verídicos, não reflectem como tal a vontade e o pensamento do autor desta dissertação, pois, grande parte dos mesmos foram apresentados e defendidos por cada um dos grupos à quando da realização dos processos de reunificação e reconciliação dos Tocoístas ocorridos de 1986 à 1998, processos estes que produziram uma vasta quantidade de documentação e que pode ser consultada por qualquer investigador, aferindo assim a veracidade dos factos que serão narrados.

2 De acordo a encyclopedia - encydia beta, in http://pt.encydia.com/, “Choque de civilizações é o nome que recebe

uma teoria a respeito das relações internacionais. Tal como se conhece hoje em dia, foi formulada em um artigo de Samuel Huntington publicado na revista estadounidense Foreign Affairs em 1993 e transformado posteriormente em um livro em 1996”».

3 De facto, o estudo científico do Tocoismo está em curso. Nos proximos momentos surgirão muitos trabalhos interessantes sobre o Tocoismo.

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1.1. Globalização/mundialização

O termo globalização4 tornou-se comum para designar o fenómeno da modernidade que surge com a evolução das tecnologias de comunicação de massa que são cada vez mais rápidos, eficazes e baratos5. E resulta do acesso universal dos meios de comunicação de massa, onde a sua face mais visível é a internet, a rede mundial de computadores que possibilita um fluxo de trocas e intercâmbio de ideias, de informações e não só em todo mundo. A globalização como tal6,é um «processo de interacção e integração entre as pessoas, empresas e governos organizações religiosas, Igrejas, etc, de diferentes nações, culturas e civilizações». Este processo tem sido impulsionado pela política e pela evolução tecnológica das últimas décadas,eaproxima, interliga, expande valores e realidades locais para todo mundo e pretende uma integração do mundo e do pensamento em um só mercado7. Anthony Gindes define-a como sendo “a interdependência crescente entre povos diferentes, regiões e países em todo mundo, na medida em que as relações económicas e sociais abrangem todo o mundo” (693:2004). O termo globalização é muito mais usual em países como a Inglaterra e Alemanha, ao passo que os Franceses utilizam a expressão “mundialização” para identificar o «conjunto de transformações mundiais8». Mas a popularização do termo globalização deveu-se muita mais a influência da língua inglesa sobre os profissionais do mundo económico-financeiro. E para além da utilização da palavra “mundialização”, em torno do termo globalização também gravita a palavra “internacionalização9”.

4 Baptista afirma que globalismo enquanto ideologia «“é a visão do mercado mundial, da ideologia do

neoliberalismo”, da substituição da política e de todas instâncias (cultura, sociedade civil, ecologia, religião) pelo logos mercadológico, ou melhor, pela política do mercado total». In: Paulo A. Nogueira Baptista, Globalização e as teologias da libertação e do pluralismo religioso, Horizonte: Belo Horizonte, v.5, n. 9, p.68. dez. 2006.

5“A tecnologia tem sido o principal condutor da globalização”, uma vez que o desenvolvimento da tecnologia de informação “proporciona ferramentas aos agentes económicos para identificar e captar oportunidades económicas de forma muito mais rápida, gerando a fase da expansão capitalista, pois a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém, obtêm-se como consequência o aumento acirrado da concorrência”. In: Wikipedia.

6 É um fenómeno gerado pela dinâmica do capitalismo que procura formar uma aldeia global que permita a rápida expansão do mercado, já que nos países centrais ditos desenvolvidos os mercados internos estão saturados. In: Wikipédia.

7A maior parte dos estudiosos sobre a globalização são unânimes em afirmarem que ela teve a sua origem no período que vai do fim da segunda guerra mundial quando a economia capitalista atingiu o seu auge com a expansão acelerada e ininterrupta da internacionalização da economia, tendência que foi intensificada com a entrada em cena de instituições internacionais, e o fim da guerra-fria que provocou um impacto nos sectores industrializados, gerando um estímulo para novos avanços com o objectivo de se promover uma nova humanidade. Neste período, começaram a surgir mudanças na Europa oriental e nos Estados Unidos da América, depois nos países do terceiro mundo, no extremo oriente e no Japão na década de 80. Na nova ordem social, surgem outros centros de poder, abrangendo várias escalas: local, regional, continental e mundial.

8 Segundo Baptista, Wanderley define mundialização ao “processo de aumento gradativo de relações, contactos e fluxos que se estabelecem entre os mais variados povos, ocupando regiões dispersas do mundo, nos campos económicos, político, cultural e religioso. Desde sempre este processo foi tenso, repleto de tensões e conflitos”. In: Paulo A. Nogueira Baptista, Globalização e as teologias da libertação e do pluralismo religioso, Horizonte: Belo Horizonte, v.5, n. 9, p.57. dez. 2006.

9 Baptista define internacionalização “como sendo um processo ‘endógeno’ ou ‘exógeno’, portanto, atinge a dinâmica interna ou externa que acontece substancialmente nos Estados e entre Estados e entidades que transcendem aos Estados, especialmente, com o surgimento da sociedade capitalista”. Por sua vez, Wanderley a define “como o conjunto de relações intraestatais, interestatais e com o surgimento de instâncias supranacionais nas quais as decisões são tomadas fora do âmbito nacional”. In: Paulo A. Nogueira Baptista, Globalização e as teologias da libertação e do pluralismo religioso, Horizonte: Belo Horizonte, v.5, n. 9, p.58. dez. 2006.

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E vários defensores da globalização afirmam que este processo permite que as populações e sociedades mais pobres tenham um rápido desenvolvimento económico, dando-lhes a possibilidade de melhorarem os seus padrões de vida. Mas os que defendem o contráriosão de opinião que a criação dum mercado livre sem restrições tem beneficiado apenas as empresas multinacionais do mundo ocidental, em detrimento das empresas locais10. Dai que a resistência à globalização (movimento anti-globalização11) tomou forma quer a nível de governos, como das populações por via das organizações da sociedade civil. São factores globalizantes, as mudanças políticas verificadas desde o fim da segunda guerra mundial (1945), o rápido crescimento das formas de governação regionais e internacionais, a difusão cultural ocidental, as novas e intensificadas formas de produção e de consumo (transnacionais), o avanço tecnológico e sua difusão (fluxo de informação, a comunicação diversificada e via satélite, a internet, telefone, fax, etc…), o crescente poderio das forças globalizantes, isto é, os meios de comunicação globais (meios de comunicação de massa, internet, a multimédia, as redes sociais, a publicidade, etc). A globalização causou profundas mudanças no mundo que transforma permanentemente as nossas vidas, verificando-se actualmente a intensificação da interdependência; a transformação dos sistemas globais, quebrando as formas padronizadas ou tradicionais da vida; aproximação crescente entre países, povos, nações e culturas; a intensificação das redes comerciais (integração económica e financeira) e as novas formas de produção e de consumo que são cada vez mais globais. Quanto aos seus riscos, cabe-nos afirmar que a globalização é um processo de integração social aberto e contraditório, com consequências difíceis de se prever e controlar12. São vários os perigos e riscos, e que vão desde os ambientais, resultantes do aumento do ritmo e de desenvolvimento industrial (a poluição, o aquecimento, a desflorestação, etc); os de saúde - uso de produtos químicos na alimentação, vírus, uso de transgénicos; a desigualdade cada vez maior entre ricos e pobres, criando assimetrias regionais dependentes, etc. Logo, a globalização ao não ser um fenómeno pacífico, apresenta aspectos positivos e negativos para o Tocoísmo, pois, os Tocoístasactualmenteao invés de mundializarem os seus valores, infelizmente procuram à todo custo «mundanizarem o Tocoismo13» devido a sua preocupação em ajustarem-se a dinâmica imposta pelo mundo, esquecendo-se da sua missão e de que a Igreja de Cristo havia sido Relembrada em 1949. A perspectiva da acção do Tocoísmo ao enquadrar-se no “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura (S. Marcos 16:15)”, que foi reafirmada por Simão Toco na Assembleia Geral ocorrida em Mahenge/Leopoldville no dia 26 de Julho de 1949 quando anuncia que “a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo foi relembrada ontem dia 25.07.1949 e toda autoridade sobre ela me foi dada por Nosso Senhor Jesus Cristo, idetransmitir à toda gente tudo quanto vistes e ouvistes neste lugar”, visa a reevangelização dos Cristãos e não

10 Celso Furtado, Os desafios da globalização. http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/desafiosglob2.html 11Ver Wikipedia 12 Idem. 13 Expressão constantemente utilizada por Maturino Nzila, para referir o complexo dos Tocoistas perante os

defensores da teologização do Tocoísmo na perspectiva do Cristianismo actualmente difundido, isto é, da necessidade de adequar-se o Tocoísmo à teologia Cristã.

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só, e consequente conversão na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo relembrada em África.

1.2. Tocoísmo Para esta reflexão, usaremosa definição14concebida pelos próprios Tocoístas. Para Nzila (2008:18), o Tocoísmo "é uma doutrina religiosa fundamentada no verdadeiro ensinamento de Jesus Cristo, que liberta o homem das trevas do pecado. É um cristianismo puro, a autêntica doutrina de Cristo e que havia sido ocultada ao longo dos séculos", que teve a sua origem em 25 de Julho de 1949 em Leopoldville actual Kinshasa, com a Relembrança15da Igreja de Cristo fundada por Jesus Cristo no ano 33 d.C. e deixada aos Apóstolos. E enquanto ideologia16, o Tocoísmo afirma-se como um movimento renovador de valores, que se pretende a escala mundial, sendo uma força que procura influenciar a marcha do mundo visando a instauração do reinado de Cristo. Esta ideologia tem por fim proceder a revisão de valores no mundo, assente nos ideais espirituaistransmitidos por Deus à Simão Gonçalves Toco e pelo Espirito Santo aos Tocoistas, e fundamenta-se em três elementos revisionistas:

• Na visitação de Deus17à segunda casa, a casa de Esaú após a Casa de Jacob ter sido visitada;

• Na Relembrança religiosa e espiritual; • E no resgate da bênção perdida por Esaú18.

14 Os Estudiosos sobre o Tocoísmo no período colonial e na actualidade, (Margarido, Gonçalves, Pereira),

concluíram que o mesmo "tem por base a crença messiânica da transformação do mundo para a instauração do paraíso na terra, sinalizando a chegada do Messias e do fim dos tempos" e "surge como uma resposta concreta a uma situação de crise". Para esta apresentação, utilizaremos cinco principais tipos de fontes internas sobre o Tocoísmo: 1. As epístolas de Simão Toco e seus relatórios; 2. Os registos, actas e relatórios da Igreja no período de 1950-1961; 1962-1974; 1975-1983e1984-2000; 3. Os depoimentos recolhidos nos Ngunga Ngele (fontes primárias/secundárias sobre o Tocoísmo); 4. Os registos, informações e relatórios da PIDE e do Governo Belga sobre Simão Toco e os Tocoistas.5. Registos do Tocoísmo e da acção dos Tocoistas em todo seu universo.

15 É de referir que com a Relembrança, o Tocoísmo reata uma realidade judaico-cristã num contexto afro-cristã, daí que nas acções dos Tocoístas está implícita uma gama de elementos histórico-geográfico-culturais que vai resultar num perfeito sincretismo sócio-religioso, que produz o que é comummente designado por Tocoísmo. Entende-se por Relembrança, “… ao conjunto de actos que tiveram o seu ponto culminante nos acontecimentos do dia 25.07.1949 e nos dias seguintes até ao repatriamento para Angola, como consequência da descida do Espírito Santo solicitado em Julho de 1946, através dos quais se dá o reaparecimento da Igreja de Cristo no mundo e o retorno de grande parte dos aspectos directamente a ela relacionadas”. A Relembrança ocorre quando um grupo de 12x3-1 Cristãos, membros do Coro de Kibokolo, pertencentes a Igreja Baptista da Sociedade Missionária Baptista (BMS), dirigidos por Simão Gonçalves Toko e reunidos em oração, perguntam à Deus sobre o pedido do Espírito Santo feito em 1946 na Conferência Internacional Missionária Protestante de Leopoldville. Neste acto foi derramado o Espírito Santo que relembra a Igreja de Cristo e toda realidade nela existente no tempo de Cristo e dos Apóstolos. In, «A Relembrança da Igreja de Cristo», pag. 11.

16 Argumentos extraídos da obra “A Ideologia dos Tocoístas”. Nela, afirma-se que a ideologia dos Tocoístas é “uma forma de expressão sociocultural ou de autodeterminação cultural de um povo oprimido e subjugado; a mais pura perfeição religiosa face a degeneração dos verdadeiros ensinamentos de Cristo; a via que permitirá a instauração da espiritualidade, sinónimo de fraternidade, justiça social, solidariedade, alegria, amor a natureza e a intimidade com o sobrenatural”.

17 Ohino oficial dos Tocoistas Rei do Céu andará composto na BMS de Mbanza Kongo por Nenkaka é por demais evidente: "Deus visita Africa, suas trevas dissipa".

18 Toco após a operação que lhe foi submetida ao coração em Outubro de 1973 nos Açores/Portugal, disse: "Afinal o que o meu Deus me dissera ainda em Angola de que eu deveria ir à Europa recuperar a bênção de Esaú é o que acabava de se cumprir. Quer dizer, os homens ao doarem o seu sangue para o meu corpo, devolveram por intermédio do sangue a bênção que Jacob havia roubado ao Esaú. Génesis 27:1-40. Viram o que o capítulo diz. Eu fui à Europa a buscar da vossa bênção. E trouxe a vossa bênção que tinha sido usurpada desde o tempo de Esaú.

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Logo, o Tocoísmo enquanto crença religiosa e ideologia, veio pautar a fé e a conduta dos Tocoístas, modelando os seus hábitos, costumes e «maneira de pensar, sentir e agir» dentro da perspectiva do messiado evidenciado por Simão Gonçalves Toco.

Visto desta maneira, o Tocoísmo apresenta-se na sociedade global, como uma realidade social portadora de todos os principais elementos geradores de resistências e de reacções ao relativismo cultural do globalismo. Aliás, o seu hino oficial «Voluntários de Cristo em fileira19» composto por Simão Toco em Luanda em 1962, é uma autêntica declaração à guerra santa Tocoísta, ao proclamar uma luta por Cristo, «contra o mundo e contra as paixões do mal», apelandoa militância dos Tocoístas na guerra “da qual nasce a paz», opondo-se deste modo à tudo que fere a moral de Deus no mundo.

1.3. O Tocoísmo perante os valores da modernidade liberalista

Iniciaremos a abordagem deste subcapítulo com uma interessante e indagante questão: Que valores o Tocoísmo defende na sociedade? Será que os valores que defendesão compatíveis com os difundidos na sociedade moderna liberalista?

Fruto da nossa constatação e militância no Tocoísmo, podemos afirmar que os Tocoístas são defensores de uma “perfeição social e de nobres princípios elementares para a existência de uma humanidade de paz, de concórdia, de amor, sem ambições desmedidas e sem conflitos”, por issoopõem-se a tudo que fere a moral de Deus como já nos referimos. “O Tocoísmo trouxe valores sociais mais cómodos para se viver num mundo de perfeita harmonia e paz”, tal como se disse na obra, AIdeologia dos Tocoístas. Do levantamento até aqui realizado em torno do Tocoísmo pelo movimento literário do GCNET, apurou-se que com a Relembrança, Simão Gonçalves Toco e o Espírito Santotrouxeram ao mundo valores como o amor, a generosidade, a espiritualidade, a honestidade, a humildade, a solidariedade, o humanismo, o amor à natureza e a espiritualidade. E estes valores difundidos peloTocoísmo, de antemão estão em oposição à certos valores da modernidade liberalista, e são uma alternativa aos valores do liberalismoindividualistacapitalista, isto é, uma nova forma de estar na sociedade moderna20. Também foi possível verificar que o Tocoísmo surge e implanta-se em sociedades modernas, e é um fenómeno sincrético religioso de autóctonesque emerge nas sociedades modernas, afirmando-se como uma religião de todos os tempos. Só por isso, trouxe consigo valores do antigo testamento e outros novos valores espirituais que se fundem com os da modernidade e da cultura africana. Leiam Hebreus 7:3. Doze vezes fui gerado, este nascimento é o último. O mundo só vê o Simão que é homem alto; mas o Cristo que é mais baixo e tem falado às pessoas a partir das minhas costelas, ninguém consegue vê-lo". Profecias de Mayamona, pag. 95-96.

19 1. Voluntários de Cristo em Fileiras; Prometemos por Cristo lutar; Levantemos a sua bandeira; E à ele que faremos reinar. 2. Nós queremos marchar na vanguarda; Desfraldando o invencível pendão; Ser de Cristo a ninguém a covarda; Que de Cristo é já todo cristão. 3. Nós lutamos por Cristo na terra; Contra o mundo e contra as paixões do mal; Ser linguista é um nome da guerra; Guerra santa da qual nasce a paz. 4. Antes a morte em batalha de Cristo; Que na lama covarde morrer; Derramar nosso sangue por Cristo; E no sangue de Cristo vencer. CORO: Cristo vence, Cristo reina; Jesus Cristo triunfará.

20E é nesta “nova forma do Tocoísta estar na sociedade moderna liberalista” onde reside todo o problema do Tocoísmo com o capitalismo e as suas várias formas de representação social: a económica, a política, a ideológica, a tecnológica, a cultural, a espiritual, etc. Pois, o Tocoísta enquanto ser social, ajusta o seu agir aos ditames de Deus, ainda que isto signifique sacrificar a sua criatividade intelectual e a sua própria liberdade enquanto individuo.

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Logo, do ponto de vista de valores, podemos afirmar seguramente que o Tocoísmo não é compatível em muitos aspectos com grande parte dos valores difundidos pelo liberalismo capitalista na sociedade moderna, muito menoscomos valores que o comunismo difundiu num passado muito recente, mas sim, por um meio-termo21. A aberturaque o Tocoísmo admite aos crentes (escolhas, opções e preferências individuais), deve estar pautado dentro dos parâmetros e valores pré-estabelecidos por Deus. A sua acção deve cingir-se dentro da ética espiritual, onde muitos dos seus aspectos são incompatíveis com os valores liberalistas e individualistas da cultura ocidental. Daí a razão do Tocoísmo privilegiar a solidariedade em detrimento doindividualismo (a liberdade do indivíduo de auto decidir o que quer, o que julga ser melhor para si) e o comunitarismo ao invés do liberalismo (a competitividade e a livre concorrência no mercado). É também incompatível com o comunismo propalado pela ideologia Marxista-Leninista que negava a existência de Deus e defendia o primado da matéria sobre o espírito. Um outro aspecto que o Tocoísmo defende é o princípio da naturalidade na humanidade. Os preceitos da Igreja conformam estes valores e ao mesmo tempo os conserva, pois, estão intimamente ligados com a sua espiritualidade. Uma vez que um dos pressupostos da fé do Tocoísta tem haver com a sua conduta moral e cívica, e sendo o cumprimento das normas (preceitos) o princípio fundamental da fé, logo quem viola uma das normas, torna-se incrédulo. Isto porque quando o profeta orienta que algo deve ser assim, aquilo faz parte da fé do crente. Neste caso, a função fundamental da fé é fazer renascer o crente e por este facto, os Tocoístas tornaram-se numa nova criatura em Cristo na sociedade. É aí onde reside a relação entre fé e os valores defendidos pelos Tocoístas. Quem tem fé, satisfaz o que Deus requer de si; quem se identifica e porta-se mal como Tocoísta, é sinónimo de que não tem féeopõe-se aos ditames de Deus22. Aqui está o que se tornou hoje num verdadeiro dilema social para o Tocoísta e provavelmente no futuro serámuito mais ainda: aceitar os ditames de Deus (ditos e feitos dos Profetas) ou abraçar os valores da modernidade que se opõem grandemente aos ditames de Deus. Resumindo, grande parte dos valores ocidentais da modernidade afastam-no de Deus. Crença dos Tocoístas23 A crença dos Tocoístas é um princípio unificador, pois, todos crêem em Jeová Deus Todo-poderoso; em Jesus Cristo, o Salvador e no Espírito Santo, o Consolador. Acreditam aindana Relembrança da Igreja de Cristo; que Cristo virou o casaco; no retorno físico-corporal de Mayamona no final dos tempos; na unicidade e indivisibilidade do Tocoísmo; na assistência espiritual do Espírito Santo e dos Mensageiros através do Vaticínio,e na origem espiritual dos preceitos da Igreja.

21 O comunitarismo evidenciado pelos Tocoistas, privilegia a solidariedade social, mas admite e respeita as

pequenas iniciativas individuais, privadas e colectivas. 22 Vide em 2.5 sobre o globalismo Tocoísta no mercado global. 23Nzila (2008:12-13) é muito mais profícuo ao afirmar de que os Tocoístas acreditam: na existência dos anjos

(criaturas de Deus e invisíveis ao olho humano, mas que desempenham missões importantes no Universo); na segunda vinda de Cristo; na ressurreição dos mortos, no Juízo Final; na Vida Eterna; nos homens de Deus ou profetas enviados por Deus, o Todo-poderoso; mencionados ou não na Bíblia Sagrada, em diferentes épocas e lugares da terra para transmitirem a sua vontade aos povos, sendo o senhor Simão Gonçalves Toco o Último Mensageiro de Deus que encerrou a carreira dos profetas no segundo milénio do Cristianismo.

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Ideal Tocoista24 Do estudo que vem sendo realizado pela Nova Esperança Tocoísta a respeito dos «ditos e feitos» de Simão Toco, foi possível compreender que ele mostrou o caminho do bem que conduz o homem a salvação e a vida eterna, a felicidade dum além que se contrasta com a felicidade dum estado mundano, terrestre e temporal. Em outras palavras, diríamos que Deus idealizou a Relembrança da Igreja de Cristo que havia desaparecido no mundo, para cumprimento do seu plano. E este caminho é“a perfeição cristã face a degeneração dos verdadeiros ensinamentos de Cristo; a instauração de um movimento de salvação universal inspirado e iluminado pelo Espírito Santo”. Aqui a espiritualidade é sinónimo de fraternidade, justiça social, solidariedade, alegria, amor a natureza e a intimidade com o sobrenatural. Logo, emerge uma visão revolucionária de uma nova e suprema ordem mundial, face as injustiças sociais no mundo e é uma forma de expressão sociocultural e de autodeterminação cultural de um povo oprimido.

Para Simão Toco, Cristo governará este mundo. Oprojecto de acção Tocoísta é algo por demais ambiciosoe visa produzir uma revisão de valores no mundo; elevar a humanidade à um estado de perfeição espiritual e natural - o aperfeiçoamento da humanidade; a conquista e melhoramento do status social dos verdadeiros adoradores de Deus; bem como a instauração de uma nova ordem mundial sob reinado de Cristona Cidade Santa do Grande Rei e de um movimento de salvação universal inspirado e iluminado pelo Espírito Santo. O Tocoísmo afirma-se como um factor activo na evolução sociocultural das comunidades no mundo e aspira a ocorrência de mudanças socio-político a escala mundial, combatendo assim os obstáculos do verdadeiro progresso humano. 1.4. Pensadores sobre o Tocoísmo Na sequência da nossa abordagem, é imperioso que saibamos como esta categoria de actores do Tocoísmo está constituída, pois, à si pesa a responsabilidade de projectar o Tocoísmo no mercado global. A priori, os pensadores no Tocoísmo são elementos que detêm um certo conhecimento científico, mas também exibem um saber Tocoísta - conhecimento espiritual Tocoísta. Estes dois conhecimentos devem ser dominados por esta categoria de Intelectual25. 1.4.1. Ideólogos Tocoístas Para que o Tocoísmo até aqui se pudessefirmar, houve na verdade pensadores que souberam interpretar o projecto de Deus implementado por Simão Toco desde o Coro de Kibokolo,

24 Consta na obra «A Relembrança da Igreja de Cristo», pág.17. Reproduzimos quase na íntegra por afigurar-se

necessária. 25 Ser intelectual Tocoísta implica necessariamente fazer uso do seu intelecto para pensar, reflectir, analisar e

estudar as concepções, fenómenos e acontecimentos do seu tempo, a fim de encontrar soluções compatíveis com os propósitos de Deus para si e para a humanidade. Este saber do Tocoísta é conferido nas Instituições de Ensino académico e Tocoísta. Normalmente, o intelectual é alguém que é definido pelo meio social em que está inserido, que o distingue como alguém que está ligado a prática científica e académica (Instituições do Ensino Superior) e que é portador de uma autoridade científica. O seu saber tecnico-cientifico, opõe-se ao saber não técnico e não científico. E tem uma relação privilegiada com o poder e relaciona-se com a sociedade através do seu status de intelectual. In: Tocomania, edição nº 01, pág. 04. Vide rodapé nº 28, 40 e 59.

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cujas acções foram determinantes no percurso da acção Tocoísta. Porém, enquanto único gestor da agenda da acção dos Tocoístas, o protagonismo de Simão Toco até 1984 foi excessivamente evidente, ofuscando grandemente a mente de muitos dos seus seguidores, que por este facto abdicaram-se da sua acção racional. Não obstante ao que acabamos de referir, é possível apontar alguns ideólogos Tocoístas que se bateram para a materialização do projecto Tocoísta. Destacam-se os Mensageiros (Profetas e Anjos)26 que assumiram a nobre missão de assessorarem os Tocoístas em toda a sua acção mediante o vaticínio, mas que têm a sua esfera de actuação limitada e dependente do consentimento dos responsáveis da Igreja; os Anciãos e Conselheiros que velam pela vida espiritual e doutrinária da Igreja, discernindo os bons dos maus espíritos, fiscalizando a acção dos Vates e cooperando com os Mensageiros na concretização dos desígnios de Deus na terra. Seguem-se os Vates, os Visionários27e os escassos pensadores que o Tocoísmo teve até muito recentemente28, não obstante os Redactores exercerem um edificante papel neste período de afirmação e de implantação do Tocoísmo. 1.4.2. Intelligentzia Tocoísta (Pensadores sobre o Tocoísmo)

Para a Revista Tocomania, edição nº 01, esta categoria de pensadores sobre o Tocoísmo “refere-se ao conjunto de pensadores com mentes iluminadas, dedicados em actividades intelectuais, capazes de fornecerem uma visão compreensiva do mundo (ideal Tocoísta), visando a purificação da Igreja, a disseminação da ideologia e do saber Tocoísta, bem como a reconstrução da sociedade em que estão inseridos, tendo como base edificadores, os valores espirituais emanados por Deus, a saber, a espiritualidade, o humanismo, a solidariedade, a humildade, o amor etc. Daí a Intelligentzia Tocoísta ser um movimento de intelectuais, que possuem atitudes criativas, amantes da verdade e dos valores legados por Deus à humanidade através de Simão Toco e do Espirito Santo, opondo-se deste modo a imobilidade e irracionalidade actualmente evidenciadas pelos Tocoístas”.

26 Deus, constatando que Toco se ausentaria por longo tempo do seio dos Tocoístas face a grandiosidade do

projecto de acção Tocoísta, estabelece o Vaticínio e a assistência dos profetas Israelitas, que os assessoram na execução do seu programa. Assim, em 28 de Junho de 1950 no Vale de Loge, Deus envia os profetas (Mensageiros) e demais entidades espirituais na Igreja.

27 O mlayswanismo (arrebatamento) no Tocoísmo é uma das principais experiencias dos Visionários Tocoístas que teve vários casos, mas o mais mediatizado foi o que ocorreu com o Ancião Mbona Pedro em Luanda em 1950 quando foi transportado espiritualmente por Simão Toco parao Vale do Loge, a fim de ser submetido a uma formação espiritual durante 12 dias, e em Novembro de 1983 quando Simão Toco transmutando-o, leva-o a visualizar a Cidade Santa do Grande Rei no norte de Angola. Este Ancião actualmente se encontra em Benguela, onde reside desde 1953. Para além de outros, houve também o caso de Simão Masanza no Vale do Loge.

28 Do levantamento que o GCNET fez sobre a história da literatura do Tocoísmo, verificou-se que ao longo do período de 1943-1984 a acção dos intelectuais foi quase nula por razões que a seu tempo virão a ribalta, prejudicando de que maneira a Igreja, visto que o contributo destes afigura-se extremamente necessário para que houvesse o progresso que se pretende. Neste período, o único intelectual no Tocoísmo foi Simão Gonçalves Toco e os demais abstiveram-se. Em outras palavras diremos que no geral, a racionalidade na acção dos Tocoístas foi quase nula, pois, tal como hoje, os Tocoístas sempre estiveram dependentes do Tabernáculo e dos Vates. Podemosenumeraralguns Tocoistas que nada mais fizeram senão reproduzir a realidade trazida ao mundo pela Relembrança: 1. Os Redactores, destacando-se Daniel Araújo Mfinda, Domingos Afonso Nzila Pereira, Luvualu David, Donfonso F. Manzambi, Vuaituma Sebastião, Pedro Nsolani, Makolokila João, Pedro Mumbela, NdombaxiMalungu, Sansão Afonso, dentre outros; 2. OsCopistas, dentre eles Manuel David Paxe, António Mário Kuva Makanga, Gonçalves Francisco, Maturino P. Nzila e António Neves Álvaro, Paracleto Mumbela, etc; 3. Os Escritores são: Maturino Pedro Nzila, Pedro Santos Agostinho, Melo Nzeyitu Josias, Simão Kibeta, Albino Joaquim Kisela. Logo, osTocoistólogos surgem apenas depois do ano 2000, mas imprimindo a sua acção racional.

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Quanto a sua constituição, refere que “este movimento está constituído por vários Intelectuais Tocoístas e não só, mas que por ora trabalham isoladamente, estando na forja a criação pela Nova Esperança Tocoísta do MLT: Movimento Literário Tocoísta, que visa tão-somente aglutinar todas ideias e sinergias tendentes a harmonizar as acções racionais desenvolvidas pelos Tocoístas na sociedade. Pelos seus feitos e empenho em prol do conhecimento e divulgação da essência do Tocoísmo, é indiscutível que o GCNET-Grupo Nova Esperança Tocoísta adstrita a Direcção - 12 Mais Velhos, está na vanguarda deste movimento de Intelectuais Tocoístas, mas fazem parte dele os Escritores Tocoístas, incluindo a emergente Editoria Mumbeliana, os investigadores sociais, os estudantes universitários que defendem suas teses sobre o Tocoísmo, dentre outros produtores intelectuais”.

A Intelligentzia Tocoísta deve agir dentro das orientações e do princípio de obediência no «espírito e letra» do pensamento de Simão Toco(seus «ditos e feitos»). Estes não devem evidenciar o seu racionalismo exacerbado como tal, que possa pôr em causa o projecto de acção do Tocoísmo emanado por Deus e apresentado por Mayamona. A fonte deste para estar viva deve ser inspirada permanentemente pelo Espírito Santo que detém todos os dons e sabedoria. Fazendo isto, a Igreja dos velhos tempos estará de volta, pois, o estudo sistemático do pensamento dos Tocoístas permitirá que se tenha exposta a rica e imensa realidade ocultada até aqui e que se aloja em suas mentes.

1.4.3. Tocoistólogos

Já na era pós «hibernação Tocoísta», o despertar Tocoísta trás consigo uma nova categoria de pensadores que fazem parte da Intelligentzia Tocoísta: os Tocoistólogos que têm a missão de resgatarem a essência do Tocoísmo - os seus genuínos valores e realizarem os mais variados estudos em torno do Tocoísmo enquanto fenómeno social29, numa perspectiva cientifica eTeológica. Quem são e o que fazem? Aqui vamos encontrar de início duas categorias de Tocoistólogos: os Tocoístas e os Investigadores sociais não Tocoístas. A nível dos Tocoístas, a Nova Esperança Tocoísta desde 2004 desencadeou um movimento literário Tocoísta com abordagens numa perspectiva académica-teológica e que tem ajudado grandemente no despertar dos Tocoístas, pois, trás constantemente novos dados, interpretações e correcções sobre os «ditos» e «feitos» de Simão Toco, tidas como esquecidas ou ocultadas no Universo Tocoísta. O impacto que tiveram as obras já produzidas, tem contribuído significativamente no processo de reevangelização e de recuperação dos genuínos valores do Tocoísmo. Também é salutar o valioso trabalho de mestrado de Abel M. V. Paxe sobre as «Dinâmicas de Resiliência Social nos Discursos e Práticas Tocoístas no Icolo e Bengo». Fazem parte desta categoria, as várias monografias e teses de Tocoístas e não só, artigos, revistas, sites e blogs que se debruçam sobre o «discurso e prática» de Simão Toco e dos Tocoístas.

29 Mas qual será a conduta e atitude que os Tocoistólogos devem evidenciar na sua acção? Eles devem: • Direccionar a sua acção a partir das fontes primárias e secundarias do Tocoísmo; • Conhecer os «ditos e os feitos» de Simão Gonçalves Toco; • Conhecer a história e a historiografia da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo; • Conhecer o Ideal e o projecto de acção Tocoísta; • Agir dentro do princípio da unicidade e indivisibilidade do Tocoísmo. O intercâmbio e a concertação de ideias

entre os produtores (actores e autores) literários é uma premissa fundamental na acção do intelectual Tocoísta; • Banir a presunção e a má interpretação das profecias de Simão Toco; • Conhecer as normas de funcionamento do Vaticínio na Igreja; • Acautelar-se da tendência de alguns Vates que se apresentam na Igreja como profetas (ressurgimento).

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A nível dos não Tocoístas, temos a destacar dois investigadores sociais que em Portugal trabalham seriamente nos arquivos relacionados com o Tocoísmo existentes na Torre do Tombo recolhidos pelo Governo colonial Português. Tratam-se do Antropólogo Português Ruy Blanes e da Historiadora Brasileira Cléria Fereira e que felizmente têm partilhado este material de valor acrescentado sobre a Igreja e os Tocoístas. É tarefa dos Tocoistólogos na era pós hibernação Tocoísta (depois de 25.07.1999):

• Defender a essência e pureza do Tocoísmo; • Realizar os mais variados estudos em torno do Tocoísmo; • Proceder estudossistemáticossobreo pensamento de Simão Toco, dos Ngunga Ngele e

dos Tocoístas em torno daquilo que se pode chamar de: o pensamento filosófico, social, político, económico, tecnológico, jurídico, matemático, psicológico, sociológico, terapêutico, arquitectónico, artístico, antropológico, estilístico, comercial dos Tocoístas;

• Resgatar a memória colectiva dos Tocoístas, tendo em vista a reposição do seu património histórico;

• Produzir a História Geral do Tocoísmo; • Divulgar o Ideal e o projecto de acção Tocoísta; • Resgatar os genuínos valores do Tocoísmo, suscitando uma onda afirmativa de

sentimento Tocoísta que penetrará no Universo Tocoísta; • Resgatar a identidade dos Tocoístas30; • Trabalhar no processo de Tocoistização da sociedade31, visando a salvação do mundo e

instauração do reinado de Cristo, cuja cidade santa estará no norte de Angola; • Reparar os erros e falsidades até aqui introduzidos no Tocoísmo, chamando os pérfidos

Tocoístas a razão; • Definir os passos que devem ser dados à longo prazo, com vista a criação de um Fórum

de Convergências Tocoísta ou uma Convenção Tocoísta, que terá como finalidade a congregação de todos actores do Universo Tocoísta e a formulação dos princípios sociais que regerão a pacíficae sã convivência na sociedade;

• Conformar a ordem Tocoísta, que regerá a sociedade a emergir na Cidade Santa do Grande Rei;

• Anunciar o evangelho de Cristo.

30 A Identidade dos Tocoístas já foi tema de abordagem e uma brochura foi lançado pelo Grupo Coral Nova

Esperança Tocoísta em 2008. Ai foi dito que “a Identidade Tocoísta é a relembrança da identidade do Povo eleito de Deus - Israel, pois, O Tocoísmo é a revisão de toda obra divina já feita no mundo”. Vários elementos constituem a «identidade Tocoístas», dentre os quais destacam-se os seguintes: A história e geografia da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, a ética, usos e costumes dos Tocoístas e o património cultural e espiritual da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, etc. A estrela de oito quinas é o principal símbolo de identidade dos Tocoístas e existe de duas formas: como símbolo material e como símbolo espiritual; como símbolo material ela nos identifica sobremaneira no contexto das nações: "A estrela de oito quinas representa o (8) oitavo Reino de Deus na terra". Este é o maior património que África possui em relação aos demais continentes (S. Mateus 2:2-3).

31 Hoje por hoje, a Tocoindade já é um facto no mundo.Tocoindade é a qualidade do que é ser Tocoísta e pode definir-se como sendo, o conjunto dos Tocoístas espalhados pelo mundo fora, coesos pela homogeneidade da fé, cultura, instituições e leis. Pode ser entendida ainda pelos seus valores culturais e normas que distinguem os Tocoístas de outros grupos sociais, pois, estes têm consciência de possuírem uma identidade própria que os diferencia dos demais grupos sociais no mundo. E é por todos visíveis, que hoje já não é difícil qualificar uma determinada acção como sendo Tocoística.

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A trajectória da acção literária no Tocoísmoapresenta-noso seguinte percurso dos seus actores:1º os Redactores/Escreventes e os Escritores não Tocoístas (1943-1984); 2º os Copistas (1943 a actualidade); 3º os Escritores Tocoístas (desde 1998); 4º os Tocoistólogos (desde 2004) e que culminará com o surgimento do MLT-Movimento LiterárioTocoísta ou a Intelligentzia Tocoísta como tal. Também foi possível verificar que no período de 1971 à 1984, alguns Redactores/Escreventes em Luanda e Ntaya produziram documentos (relatórios circunstanciais da Igreja e Biografias de Simão Toco),baseando-seem fontes orais não credíveis, ignorando-se os Ngunga Ngele que exerceram significativos papéis na Igreja no período de 1949-1961 enquanto fontes primárias e secundarias de muitos acontecimentos e factos sobre o Tocoísmo. Este intencional erro foi seguido pelos Escritores Tocoístas que desde 1998 vêm publicando suas obras e que se basearam unicamente nos escritos dos Redactores/Escreventes de que nos referimos há pouco32. Daqui se pode facilmente compreender que na literatura Tocoístaexista várias correntes e historiografias que estão ancoradas na tradição oral e escrita dos seus respectivos Anciãos33. 1.5. Tendências do revivalismo Tocoísta após um período de hibernação Não nos seria possível falar dos desafios da globalização para o Tocoísmo, sem que para taldisséssemos como se manifesta a dinâmica activística dentro de si e que grupos estão mais propensos a reacções positivas e negativas deste fenómeno. Daí que é imperioso que estudos

32E para se evitar cair novamente neste erro, daí a Nova Esperança Tocoísta na sua acção literária ter feito

inicialmente um levantamento historiográfico e bibliográfico sobre o Tocoísmo. 33 «“A acção dos “Ngunga Ngele” após o repatriamento, esteve bem firmada na acção profética do Dirigente

Simão Gonçalves Toco. O Espírito Santo foi o sopro da vida que os conduziu à Cristo Jesus, permitindo-lhes o pleno conhecimento da revelação de Deus. Foi graças ao Espírito Santo que conseguiram orientar na verdade a Igreja de Cristo relembrada em África e manterem-se em perfeita sintonia com o Dirigente sempre em desterro. Os Anciãos são os fiéis depositários da mensagem de Deus trazida por Toco. São testemunhas do que ele disse e fez. Após sua morte, os Anciãos dirigidos pelos 12 Mais Velhos, anunciam que Mayamona é o enviado do Senhor, o restaurador da Igreja de Cristo e que Jesus Cristo é o Senhor e salvador da humanidade”. A fonte Anciânicaestáconstituída pela memória dos Anciãos sobre ensinamentos de Toco; sobre a revelação de Deus; e pelos feitos que resultam do Vaticínio. Ao passo que o Ensino religioso dos Anciãos - a Catequese, está composto: pelo ensino oral do Evangelho de Cristo; pelas instruções espirituais e religiosas aos Anciãos e Conselheiros e aos Catecúmenos; epelo ensino da doutrina da Igreja de Cristo.

Tradição oral: Esta tradição surge após a morte do Dirigente e formou-se na base da acção profética de Simão Toco e que foi se evidenciando ao longo da acção evangélica dos Anciãos da Igreja desde 1949. Eé constituída pelas pregações de Toco (seus ditos e feitos), pela manifestação do poder de Deus na acção dos Tocoistas; da contemplação da Sua glória na acção dos Ngunga Ngele e pelo Tabernáculo do Senhor onde continuam a fluir as mensagens divinas. Finalidade da formação da tradição oral dos Anciãos: Para o ensino da doutrina aos catecúmenos e para pregação oral dos Anciãos no culto.

Tradição escrita: Esta tradição encontra-se em formação. Toco legou-nos muito material escrito em Português e em Kikongo, onde está depositada toda mensagem que recebeu do Senhor para a humanidade e que precisa de ser recolhido, seleccionado e compilado em brochuras. A Torre do Tombo em Portugal e a Igreja de Ntaya têm se revelado como as fontes com acervo documental dos Tocoistas melhor organizados. Neste caso, temos as epístolas e as directrizes do Dirigente, os anúncios e profecias de Mayamona, o material litúrgico para a catequese e culto, as recomendações espirituais dos mensageiros, as revelações divinas, o testemunho de fé dos Anciãos e outros materiais. A compilação da “memória dos Anciãos da Igreja” levará muito mais tempo para ser recolhida em forma de depoimentos, testemunhos ou narrativas, para posterior tratamento e publicação como sendo, “História da acção dos Anciãos ou vida e obra dos Anciãos”. Esta memória está constituída por relatos, testemunhos, actos, feitos, etc e grande parte dela já está recolhida e tratada pelo GCNET».Extraída da obra: A Relembrança da Igreja de Cristo, pág. 78-81.

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sejam feitos, que proporcionem elementos fiáveis e que sirvam de base para a avaliação do Tocoísmo quanto ao seu ajustamento ou resistência as múltiplas transformações globais que se operam no mundo. E para este trabalho, importa apenas que falemos como se manifesta o revivalismo Tocoísta após ter se observado um período de 15 anos de «hibernação» no Tocoísmo. Não é novidade para ninguém se dissermos que a morte de Simão Toco provocou um tremendo assolo no Tocoísmo, levando a um retrocesso marcado por mortes, prisões, lutas de poder, separações, inimizades e ódio profundo entre irmãos. O período de 1984-1999 foi de autêntico distanciamento e desencontros, onde muitos Tocoístas esqueceram-se dos ensinamentos que receberam, uns escandalizaram-se e outros tornaram-se em verdadeiros inimigos da Igreja, combatendo-a de várias formas. Logo, estes 15 anos podem ser caracterizados como tendo sido um período de uma certa estagnação, de profunda crise e de um estado de hibernação Tocoísta. E a desunião destes foi acelerada pela acção do misticismo espiritista e pela desinformação religiosa (mentira), uma vez que surgiram muitos «pseudo enviados-mensageiros», todos em nome de Simão Toco, e com práticas e discursos contrários, remetendo a população Tocoísta numa tremenda confusão. Por este facto, é fácil compreender-se como registaram-se estes acontecimentos, se tivermos em conta que nesta época poucos conheciam os «ditos» e os «feitos» de Simão Toco, e os que discerniam os «enviados» eram também poucos, daí que a Igreja foi toda ela remetida na situação acima descrita. Mas apesar de tímidas, também houve acções positivas neste período, muito particularmente em Luanda, visto que para além do fenómeno «ressurgimento de Simão Toco» que tornou-se prática na maior parte dos grupos Tocoístas, verificou-se igualmente manifestações de nova efusão do Espírito Santo em Luanda e Ntaya, as primeiras tendências de retorno a essência do Tocoísmo, o ecumenismo Tocoísta, a construção do templo da «Igreja Mundial» e a realização do Jubileu Tocoísta que teve lugar no dia 25 de Julho de 1999, por sinal num domingo. Deste quadro negro, emergiram vários grupos no seio dos Tocoístas e dentre muitos, vamos aqui avaliar apenas quatro categorias de revivalistas Tocoístas e suas respectivas tendências internas que se apresentam activamente na sociedade. 1.5.1. Principais tendências revivalistas no activismo Tocoísta

Tal como já referimos, orevivalismo Tocoísta actual está marcado por quatro principais tendências que resultam das suas respectivas matrizes identitárias e ideológica-doutrinais34, produzindo também quatro principais variantes do Tocoísmo, a saber: a variante Padrã ou Ngunga Ngele, a variante Modernista, a variante Tradicionalista e a variante Etnicista, tendo como actores, os principais grupos que emergiram no seio da Igreja após a morte do Dirigente, que são: os Doze Mais Velhos (a designação sempre existiu na Igreja

34 Para melhor se compreender as identidades ideológico-doutrinaria dos grupos que constituem o actual

revivalismo Tocoísta, há que se recuar na génese da formação das próprias comunidades Tocoistas e Igrejas, conhecer os seus principais actores, sua situação religiosa pré-Tocoísta e factores que estão na base da sua adesão ao Tocoísmo. E de 1950 à 1974 como se orientavam religiosamente, sua ligação com o Vale do Loge até 1961 e com Luanda até 1974, grau de instrução Tocoísta dos seus Anciãos e Conselheiros, e como lidaram com a problemática do Espirito na Igreja. Isto porque cada um destes quatro grupos tiveram varias influencias extra-Tocoistas ao longo deste período e a maioria não teve acesso ao verdadeiro ensino e doutrina administrado por Simão Toco.

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desde 23.11.1949 - são os antigos discípulos de Simão Toco e membros do Coro de Kibokolo desde 1943 e que está na origem do Tocoísmo), a Cúpula, o Mboma e as 18 Classes e 16 Tribos. Cada um destes grupos, desde Março de 1984, de forma unilateral vem disputando a liderança Tocoísta e reclama ser a legítima linhagem de sucessão35 do legado deixado por Simão Gonçalves Toco, produzindo dinâmicas e realidades Tocoístas díspares, com discursos e práticas contrários aos de Mayamona - Simão Gonçalves Toco, actual principal causa de desunião dos Tocoistas.

Com excepção da Direcção da Igreja dirigida pelos Doze Mais Velhos que tem no Coro de Kibokolo a linhagem de sucessão espiritual deixada por Simão Toco e dos do Mboma que procuram a todo custo adoptar o princípio da linhagem de sucessão consanguíneo de Simão Toco, os demais grupos Tocoístas engendraram a estratégia de liderança utilizada pela Cúpula, consubstanciada no fenómeno ressurgimento de Simão Toco, que face a forte regionalização Tocoísta (veje a pag. nº 33) assiste-se actualmente a tendência de etnização de Simão Toco, onde algumas «Tribos da Igreja» procuram fazer emergir dentro de si o seu Simão Toco como estratégia de ascensão à liderança, tendo como recurso o misticismo espiritista36 e a mentira religiosa37. Este fenómeno continuará por mais algumas décadas.

35 Linhagem de sucessão no Tocoísmo: No «Manual de Ensino Tokoísta» pág. 170, esta problemática foi tratada

como se segue: “Que linhagens de sucessão foram promovidas na Igreja a revelia ao espirito e orientação do Profeta Simão Gonçalves Toko? Após a morte do Dirigente Simão Gonçalves Toko, muitos responsáveis da Igreja, em desobediência a orientação do Profeta Simão Gonçalves Toko instituíram as seguintes linhagens de sucessão na Igreja:

a. Linhagem Pastoral: reivindicada pelo 1º e 2º Pastores: A Igreja dirigida pelos irmãos da Cúpula dos Anciãos e Conselheiros lidera as estatísticas dos Vates que já se levantaram, uns apresentando-se como «Mensageiros» e outros como o próprio «Profeta Simão Gonçalves Toco», enquanto as 18 Classes e 16 Tribos conheceram até aqui dois casos apenas: José Kanhanga (JC-Jesus Cristo, letras gordas) e Mateus Rogeiro (Cristo Negro). Bem podemos ver como estes dois Vates de Jesus Cristo e Arcanjo Miguel usaram a condição de Vate para orquestrarem mecanismos que lhes possibilitaram a ascenção na liderança da Igreja. Impaciente, o 1º Pastor procurou outra via para acelerar a sucessão de Simão Toko, ao contactar em 1982 os irmãos do Grupo Ntemu António e realizarem o polémico ritual tradicional na campa do velho NdombeleBitopo, pai de Simão Toko;

b. Linhagem de Representação: reivindicada pelas 18 Classes e 16 Tribos: Segundo estes irmãos, cabia as 18 Classes e 16 Tribos enquanto órgão directivo da Igreja, indicar quem deveria suceder Simão Toko na liderança, daí a sua demarcação da Igreja deixada por Simão Toko em 1985/86, após os irmãos da Cúpula o terem feito em 22 de Abril de 1984, logo a seguir a morte do Dirigente;

c. Linhagem consanguínea: reivindicada pelos membros do Grupo Ntemu António Kisenda (IPPL/MBOMA) ou alguns parentes consanguíneos do Dirigente e retomada pela Direcção Universal: Quanto a problemática da sucessão familiar, Toko em 1950 a partir do Colonato do Vale do Loge, deixou orientações bem claras quer aos seus familiares, quer a Igreja, relativamente ao posicionamento de equidistância que seus familiares deviam adoptar nos assuntos da Igreja. Nos anos 80, voltou a reiterar aos seus parentes, para não se imiscuíssem nos assuntos da Igreja;

d. Linhagem de mensageirismo (aparições, enviados e ressurgimentos): defendida pela ex-Cúpula de Anciãos e Conselheiros e pelo irmão Mateus Rogeiro então das 18 Classes e 16 Tribo e Direcção Centro-Sul do irmão Osório Marcos. O Vaticínio é a via comummente utilizada pela Cúpula e seus dissidentes e que pelos vistos continuará a ser muito utilizada face a cega obediência dos Tokoístas aos espíritos que surgem na Igreja e a ausência da análise e fiscalização dos mesmos, tal como recomendara o Dirigente”.

36 Sobre o espiritismo no Tocoísmo, faremos recurso as observações constantes na pág. 156-157 da obra «O encontro de Catete e as demais manifestações divinas na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo» que diz: “Oespiritismoenquanto um contravalor no seio dos Tocoístas é um facto inegável. Ele existe e coexiste com o Vaticínio e é uma problemática muito séria, actual e que vem produzindo efeitos nefastos na vida de muita gente. E estes dois processos espirituais (vaticínio e espiritismo) se confundem, principalmente naquelas comunidades e Igrejas cujo Anciãos não tiveram uma preparação espiritual ao nível dos desafios espirituais assumidos pela Igreja, que é a de «quebrar o poder das forças ocultas». Aí, por razões várias, os seus Vates (os dissimuladores de espíritos ou falsos Vates) passaram àagentes do espiritismo. O Vaticínio torna-se muito delicado por causa do comportamento das pessoas e a existência de dois tipos de espíritos (Espírito de Deus e espírito de Satanás); … osdois Espíritos aparecem a operar na Igreja. O primeiro edifica e o segundo é destruidor. O Espírito Santo guia os

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E para a sua descrição, utilizaremos como critério de avaliação os seguintes aspectos: 1. Origem do grupo; 2. Sua constituição; 3. O que o diferencia dos outros grupos; 4. Onde e como assimilou os «ditos e feitos» de Simão Toco e como as põe em prática; 5. Qual o seu despertar hibernético;6. Qual o seu grau de desvios ao Tocoísmo Padrão38; 7. Suas dinâmicas internas; 8. Rostos mais visíveis.

Revivalistas Conservadoritas - Ngunga Ngele

Constituído na sua maioria pelos Ngunga Ngele que implantaram o Tocoísmo em várias localidades e em condições adversas, tendo convertido para a Igreja de Cristo povos com realidades socioculturais diferentes, sendo eles Bakongo, repatriados de Leopoldville para várias partes de Angola e não falantes das línguas locais (o português, Kimbundu, Umbundu, etc). Foram seus principais eixos de acção no país de 1950 à 1961: 1º Vale do Loge/Norte de Angola/RDC; 2º Luanda/Noroeste e Centro/Nordeste; e 3º Benguela/Centro/Leste e Sul de Angola. Os integrantes deste Grupo estão na origem do surgimento do Tocoísmo, pois, a partir do Coro de Kibokolo puderam assimilar os «ditos» de Toco e vivenciaram os seus «feitos» ao longo do período de 1943-1984 e suas práticas religiosas estão muito próximas do Tocoísmo padrão difundido por Simão Toco e pelo Espirito Santo. Esta tendência do Tocoísmo vive uma experiência ímpar, com suas dinâmicas internas, onde a sua linha dura (a dos Radicalistas) procura manter a sua posição hegemónica perante osPuritanos e as sempre emergentes correntes Reformistas e Pragmáticas, sem esquecer da dinâmica dos Ana Ngunza, e todos procuram legitimar também as suas realidades históricas, culturais e sociais na Igreja. Muitos dos Ana Ngunza que constituíram a Casa de Oração,

membros da Igreja ao bom caminho; enquanto o espírito Satânico desencaminha os membros da Igreja. A presença dos dois Espíritos na Igreja depende da permissão dos próprios membros. Senão Deus destinou um só Espírito à sua Igreja. O outro é infiltrado”. E esta situação está na base da crise de valores e da cegueira espiritual reinante seio dos Tocoístas.

37 A mentira e a desinformação religiosa (deturpação e fabricação de novos e falsos dados sobre o Tocoísmo) de um tempo a esta parte passou a ser uma realidade entre os Tocoístas, daí a necessidade que se instalou em alguns círculos do universo Tocoísta, em se passar a crivo todo dado e facto sobre a Igreja e Simão Toco. A atitude de criação de novos e falsos dados, vinda de responsáveis da Igreja, demonstra o seu não acatamento das determinações de Deus e a não observância da inviolabilidade das orientações e recomendações de Simão Gonçalves Toco e do Espírito Santo.

38 O Tocoísmo Padrão é aquele que está em harmonia com os ensinamentos de Simão Toco e que reflecte a luz do Espirito Santo. Este Tocoísmo sobreviverá ante a «decantação» que abalou a Igreja desde os anos 60 e que foi anunciada em 1953 e recapitulada em Fevereiro de 1975 no Ntaya quando Toco disse: «Há pessoas que não estão a agir em conformidade com a sã doutrina. Uns estão a fazer as coisas de propósito para me experimentarem. Mas digo: vão enganando os homens do mundo, porque à mim, ninguém pode enganar. Continuem a praticar as vossas maldades enquanto é cedo. Porque há-de chegar o momento em que muitos se arrependerão. O fim não está longe. A Igreja passará por um processo de decantação. Todos vós passareis por sete depurações. Não vos esqueçais: Sete vezes sereis peneirados. E só depois de passardes por estas sete depurações, é que cada um poderá cantar a sua vitória na fé. Saibam o que foi dito: “Muitos chamados e poucos escolhidos”. É isto que irá acontecer-vos, visto que muitos no vosso meio não quereis deixar os maus caminhos. Orai bastante, para que possa estar na porta de entrada no reino de Deus. Digo isto, por ser sentimentalista, e vir favorecer a entrada de muita gente». In: Profecias de Mayamona, pag. 129.

O Tocoísmo padrão é igualmente aquele que não perdeu a sua pureza e desvirtuou-se a sua essência, pois, na mesma obra, pag. 117refere que Toco dissera em 1975:“No meu regresso dos Açores, eu disse aos Anciãos e Conselheiros de que ainda não era o momento de meter as mãos no trabalho da Igreja, porque verifiquei que a Igreja já não se encontrava conforme a trouxemos”.. Disse mais a partir dos Açores sobre os «Verdadeiros Tocoistas»:“Os cristãos que não querem unir-se com os seus iguais, não são verdadeiros seguidores de Cristo. Ele veio ao mundo e ensinou o AMOR. Não querem saber o que Espírito diz: se o Simão morrer, que fareis no meio da Igreja?Por isso se totalizou 40.478 Tocoístas verdadeiros, mas se não porem-se a pau, esse número será dividido em 8 partes e o quociente será chamado verdadeiros seguidores de Cristo. Muitos chamados e poucos escolhidos”. In: Profecias de Mayamona, pag. 92.

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após longo tempo de afastamento, no ano de 2000 regressaram a sua procedência. De notar que a «disputa» existente em Luanda desde 1962 entre os Ngunga Ngele de Luanda/Benguela (Radicalistas) e os do Vale do Loge/Ntaya (Puritanos)39, vem gerando uma certa imobilidade no seu seio, por causa do conflito instalado entre os defensores do primado da espiritualidade e do retorno na Igreja dos valores Tocoístas a ela relacionados (Vale do Loge/Ntaya - «Igreja rural») como premissa da acção, e os defensores do primado da autoridade administrativa da «Igreja urbana» e da intelectualidade40. Esta situação em parte resulta da autonomia que as três «Igrejas» gozavam até 1961 (a Igreja do ColonatoVale do Loge, de Luanda e de Benguela), como consequência directa dos condicionalismos causados pela liberdade vigiada imposta pela PIDE e pela Administração colonial. O seu grau de desvio ao genuíno Tocoísmo não é muito acentuado, mas do ponto de vista espiritual nota-se uma certa crise no exercício dos dons espirituais que possuem, isto, na gestão da acção da Igreja. Também verifica-se que na actual configuração do Colégio dos 12 Mais Velhos, estão representados elementos do Grupo dos Radicalistas Conservadores e dos Puritanos moderados41.

Os rostos mais visíveis dos protagonistas Conservadoristas são: Daniel Araújo Mfinda, Pedro Ntumissungu Cardoso, Manuel Toco Diakenga, Sebastião Muntu Makunzi, Pedro Nzila, Mpululu Joseph, Muanga Pedro, Luvualu David, Mbona Pedro, Mavembo Sebastião, Makuikila Monteiro, Pedro Kanga, Makolokila João, Donfonso Fernando Manzambi e Vuamambu João David, dentre outros. Tem como principais tendências internas os seguintes grupos: os Radicalistas, os Puritanos, os Reformistas, os Ana Ngunza e os Pragmáticos. Revivalistas Modernistas - Cúpula

Até aqui foi possível verificar que a sua principal característica reside no seu activismo e protagonismo evidenciado desde os anos de 1955 em assumirem a liderança da Igreja. São os evangelizados pelos Ngunga Ngele (conservadores da pureza do Tocoísmo, quer os Puritanos, como os Radicalistas) e sua principal frente opositora em Luanda e Benguela, que firmaram-se no Tocoísmo e impuseram a sua própria dinâmica ante a liderança dos Ngunga Ngele que tiveram dificuldades de se afirmarem nos centros urbanos (modernos) com uma realidade sociocultural diferente da de Leopoldville, mas portadora de valores sociais urbanos, que também foram evidenciados por Simão Toco que teve uma educação ocidental, oferecendo-lhesaoportunidade de adoptarem estilos de vida muito virados a ociosidade (glória mundana e temporal), incompatíveis na altura aos valores Tocoístas baseados na espiritualidade. O Grupo emerge a partir das Comunidades que surgiram, quer nos principais centros urbanos do país, quer no seu interior, como consequência directa da ausência de uma supervisão e fiscalização orientadora das actividades da Igreja por parte dos Ngunga Ngele no período de 1950 à 1974, e as novas elites que aí emergiram, impuseram a sua lógica de acção no Tocoísmo. Com excepção da evangelização via epístolas, assimilaram os «ditos» e certos

39 Aqui está uma evidência do impacto que o Tocoísmo teve no meio Rural e Urbano, pois, produziu ao longo de

34 anos (1950-1984) realidades socio-religiosas que opuseram (Tocoistas defensores do primado da espiritualidade como premissa da acção religiosa e os defensores do primado da autoridade administrativa e intelectual), elementos oriundos do mesmo grupo (Coro de Kibokolo) em Leopoldville em 1950 de onde foram repatriados para Angola em Janeiro de 1950.

40 Confira ainda os rodapés nº 25, 28 e59. 41 A fixação dos Puritanos em Luanda nas últimas duas décadas vem produzindo no seu seio uma erosão dos

princípios puritanistas, gerando novas tendências, onde os mais moderados, que influenciados pela vivência na urbe, procuram harmonizar a sua maneira de «pensar, sentir e agir Tocoísta» com a dos Radicalistas e formam o actual Colégio dos 12 Mais Velhos em Luanda.

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«feitos» de Simão Toco através dos Ngunga Ngele que não foram muito profícuos na sua contínua acção evangelizadora, daí os váriosdesvios que se verifica ante o Tocoísmo Padrão. A tendência que emerge da Cúpula é intrigante, pois, é produto das suas fortes dinâmicas internas, marcadas pelas lideranças de Mpanzu Filémon, Kutendana João (Sengher), Afonso da Silva Botaz (Benguela), António Ferreira Lopes “Mfwenge”, Vemba Ambrósio(Mbasi a Mbuta), Lopes Cayengue, José Carlos Pinto (Cabinda) e de outros42, contendo no seu seio muitos funcionários da Administração do Estado. No quadro da disputa da liderança da Igreja, sempre foram hábeis em forjaram factos religiosos e espirituais (misticismo Tocoísta) que marcaram em parte o triste percurso do Tocoísmo de 1955 à 2000, pois que, apoiando-se algumas vezes numa base numérica de crentes (Igrejas Urbanas; Tribos Norte, Sulana, Weste e Bembe; mantendo até aqui desinformado os seus sedentos e ansiosos crentes que não tiveram a oportunidade de interiorizarem e assimilarem os «ditos» e reais «feitos» de Simão Toco que deliberadamente lhes são ocultados) e noutras em fenómenos como a politização do Tocoísmo (violando-se categoricamente o preceito da não filiação partidária), a etnização de Simão Toco através do seu pseudo ressurgimento (aparições, mensageiros e personificação), tem sabido tirar proveito das fraquezas dos outros grupos, tendências internas e das oportunidades ímpares oferecidas pela Administração do Estado, visando a sua manutenção, liderança e agora, a transformação da Igreja enquanto Instituição Social que se globaliza, num gigantesco império no mercado globalista (Evangelho Social), que o levará evidentemente a desfazer-se de grande parte dos genuínos valores espirituais do Tocoísmo (preceitos) que se mostram inibidores ante o pluralismo e o relativismo cultural globalista como mais a frente nos iremos referir. Com o novo modelo de organização religiosa adoptado em 2000 (Episcopado), as tendências Misticistas, Reformistas e Pragmáticas diluem-se numa nova realidade Tocoísta em formação, sob mando inicial dos Radicalistas Modernistas mas que por hora é gerida pela Staff que o Bispo Afonso Nunes elegeu, afastando estrategicamente muitos Radicalistas que perderam o seu protagonismo na liderança da Igreja (Vemba Ambrósio, Simão Kibeta, o próprio Representante Geral da Igreja Luzaisso A. Lutango que aceitou subalternizar-se como Bispo Auxiliar entregando a liderança da Igreja a um Vate, dentre muitos). E todos aqueles que não se revêem neste princípio de acção religiosa estão a separarem-se, pois, as dinâmicasinternas neste grupo não ocorrem sem conflitos de vária natureza. Aconteceu com a nova e expressiva tendência Centro-Sul do Bispo Primaz Osório Marcos (este grupo também já produziu dissidências dentro de si) ancorado no Mensageiro de Kapelongo (1996-2000), com o fenómeno Zazismo em Agosto de 2012 (Soyo e a Classe da Calembaem Luanda) e vai acontecer brevemente dentro das Tribos de Ntaya/Maquela do Zombo e Norte, por causa do problema relacionado com o Sacerdotismo consanguíneo instituído na Igreja e do estatuto religioso que se procura dar aos familiares de Simão Toco que não consegue reunir consensos, pois, qualquer uma das opções a serem adoptadas, ferirá os princípios que proporcionaram o acordo de união entre a Cúpula e o Mboma43.

42 Toco em 1983, despediu-se destes irmãos através dos seguintes capítulos que enviou a cada um deles: Salmos de David 41:5-9 e Actos dos Apóstolos 20:28-36. Posteriormente mandou distribuir os mesmos à todos os Tocoistas.

43 A Tribo Norte que sempre garantiu a sua base “maioritária”, não abdicará este trunfo em detrimento de uma “minoria” da Tribo do Ntaya-Makela do Zombo. Estes por sua vez têm Ntaya e o Sacerdócio como principal trunfo para se imporem no mando da Igreja como actualmente se pode verificar, onde tem conseguido suplantar em alguns sectores os radicalistas da ex-Cupula. Mas a tentativa de integrar no sacerdócio familiares de Simão Toco que sempre militaram no Grupo dos 12 Mais Velhos-Ngunga Ngele, ameaça deitar por terra esta estratégia, pois, a «força espiritualda sua mística», foge-lhes das mãos. E com a perca do controlo do Sacerdócio, os partidários do Tocoísmo tradicionalista (Mboma) saberão criar novos cenários espirituais, para manterem o aparente controle da situação. Mas é de reconhecer que com a erecção do enorme património em Luanda, isto ha-decaucionar os actos de muitos dos seus membros, conforme ficou demonstrado na tentativa de separação ocorrida em 2012 orquestrada pelo movimento do Ancião DiunguDiungu da Tribo Weste e que não logrou êxito.

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Dentro desta categoria podemos encontrar as seguintes tendências internas mais enérgicas: os Radicalistas, os Misticistas, os Reformistas,os Filhos dos Bons Seguidores e por último os Pragmáticos. Revivalistas Tradicionalistas - Mboma

De acordo com a vasta documentação sobre o assunto, o revivalismo tradicionalista teve a sua origem visível em Agosto de 1962, quando Simão Toco decide fixar no Ntaya antigo os Tocoístas deslocados de guerra do Colonato do Vale do Loge e que entram em choque com os Tocoístas da Comunidade de Ntaya aí residentes, situação que vem se agravar ainda mais de 1964 à 198244. Sua principal característica foi o esforço que empreendeu desde 1962 (com a criação da Regedoria de Ntaya, principal Missão Tocoísta depois do Vale do Loge), em adequar o Tocoísmo aos valores difundidos pela religião Kidista existente na região do Zombo antes do surgimento do Tocoísmo, um pouco estudado por Silva Cunha45. As fontes internas do Tocoísmo apontam como sendo uma das principais fontes do espiritismo no Tocoísmo46 e de desestabilização da acção dos Ngunga Ngele no Ntaya e em Luanda, a partir do «casamento» que houve entre estes e a Cúpula nos finais dos anos 70 e início de 80. De acordo a historiografia Tocoísta, antes do seu «casamento» com a Cúpula, afirmou-se como a principal frente de afronta e conflitualidade espiritual à Simão Gonçalves Toco

44 Como se pode verificar na obra publicada pela Nova Esperança Toco sob titulo «Cometa Crente», pág. 13 e

confirmada no documento de 30 páginas sob o título «Reformas ocorridas na INSJCM e a razão da nossa existência» elaborado apela IPPL-Igreja Prenda Palanca (Mboma), datada de 28.02.1997 no âmbito do processo de reunificação, este Grupo de Tocoistas, apesar de aderir ao Tocoísmo, sempre teve a sua religião pré-Tocoísmo, cuja data fixam-na em 1937, situação que se tornou visível a quando do caso «Sebastião Lucila» em 1969/70 e «MbelaNod» em Setembro de 1982.

45 Está na base desta situação, o choque cultural que resulta dos valores éticos-morais emanados no Tocoísmo através do Vaticínio e que remeteu os Tocoistas num conflito espiritual com as «religiões tradicionais» anteriormente existentes nas zonas que posteriormente vieram a sofrer maior influencia do Tocoísmo. Dentre os vários movimentos espiritistas, o que mais reagiu ante a acção dos Tocoistas na região do Zombo face ao «choque cultural» provocado pelos valores que difundiam, foi o movimento tradicionalista que emanou do remanescente do Kidismo e do Kimbanguísmo que aderem ao Tocoísmo na região Zombo. Já a 28 de Julho de 1949, Jesus Cristo alertara a Simão Toco: «“sofrereis muitos anos, mas não será aqui em Leopoldville onde o Espírito verdadeiro dos discípulos de Cristo poderá trabalhar verdadeiramente, porque o diabo espalhou o seu espírito maligno nesta cidade para vos confundir. Sereis presos pelas autoridades Belgas, mas tu Simão, mesmo que os teus irmãos abandonem a Igreja de Cristo, tu aguentes. A Bíblia e o Espírito Santo que recebestes irão ajudar-te.Diga aos teus irmãos, que depois da cadeia, levareis a bola para Angola, vossa terra natal, mas não tenhais medo. Sereis perseguidos ao máximo e espalhados para quase toda parte de Angola”. A bola quer dizer, a palavra de Deus” e estando nos Açores, Toco escreve: «Dito e certo. O que o Espirito me dizia foi o que aconteceu naquela terra. A palma da mão virou, quer dizer, a palma da mão é o negro e o branco. Mas para Angola, nunca o Espirito de Deus me dissera que expulsássemos os brancos. Mas sim, “vão para a vossa terra levar a bola e hão-de ensinar quase a maior parte de Angola, brancos, negros e mestiços. Mas vão sofrer primeiramente. Orai sempre ao vosso Jeová Deus, mesmo que as autoridades portuguesas não queiram. Entrem nas vossas casas e façam a oração de Pai Nosso que está nos céus. Eu nunca vos abandonarei, se perseverarem até a minha vinda”. Foi o que o Espirito nos disse, mas o espirito que opera nos Kimbanguistas meteu confusão em tudo e começaram a expandir o Kimbanguísmo em Angola; E começamos a expulsar os Kimbanguistas que se introduziram no meio do Tocoísmo e a mandar calar os seus espíritos. Mas esse trabalho está demorando porque estou muito longe. Mas graças à Deus e em colaboração com os meus irmãos, a acção deste espirito está diminuindo». Profecias de Mayamona pag. 43.

46 Em outra ocasião Toco afirma: “Muita coisa se passou... O que é certo,encontramos em Maquela do Zombo o espírito maligno que dificultou o trabalho. Era o espírito daqueles que lutam para ganharem o mundo, os Kimbanguistas, Mpadistas e Machuas de Brazzaville, mas eu consolava sempre os verdadeiros Tocoistas, confortando-os na verdadeira fé em Nosso Senhor Jesus Cristo”. Profecias de Mayamona pag. 43. E este espírito agigantou-se no Ntaya no período de 1976-1983. A documentação produzida no quadro da conflitualidade entre Puritanos e os do Mboma, apontam a ocorrência de acontecimentos muito graves e desumanas praticados por Tocoistas. Até foi criado uma milícia e um destacamento dentro do Ntaya e registou-se inclusive homicídio por disparo de arma de fogo.

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(caso Sebastião Lucila em 1969/70 e Maria Kunga e João Zino nos anos 1976/82), aos Tocoístas provenientes do Colonato do Vale do Loge residentes no Ntaya, de desvio as normas do Vaticínio na Igreja e da tentativa de imposição do princípio de sucessão consanguíneo de Simão Toco na liderança Tocoísta. Esta tendência sempre esteve aliada à Cúpula em oposição aos Doze Mais Velhos (Ngunga Ngele), tendo o 1º Pastor Kutendana João como um dos principais elos de ligação (a principal evidência disto foi a criação da IPPL-Igreja Prenda Palanca-Mboma e o rito que realizam na campa do pai de Simão Toco, NdombeleLobitopo). Não tiveram a possibilidade de assimilarem de Simão Toco os «ditos e feitos», mas sim através dos «Puritanos» e que pouco puseram em prática, visto que o caso «Lucila» os distanciou ainda mais de Simão Toco. Em Setembro de 1982 regista-se a divisão de Ntaya em duas parte e Pedro Massukinini, Mbela Nod, declara o fim destes com o reforço que recebe do abismo de onde solicitara “7.000 espíritos malignos47”. Com a vinda do Bispo Afonso Nunes, a principal revindicação destes prende-se com a necessidade da “Nkambanização Tocoísta” do Ntaya, um antigo projecto que tem sido difícil de se implementar no Tocoísmo e que num futuro breve resultará num verdadeiro «conflito patrimonial Tocoísta» de proporções inimagináveis e que envolverá não somente o Governo angolano (tendo recentemente ditado o destino político dos dois últimos Administradores do Município de Maquela do Zombo), mas também os titulares do Governo Provincial do Uíge, do INAR-Instituto dos Assuntos Religioso, dos Ministérios da Justiça e da Cultura, a própria presidência da República, como ocorreu em 1988/92 e quiçá, a reedição na versão Tocoísta do eterno conflito Israelo-árabe sobre a posse de «Jerusalém», um conflito religioso de carácter espiritual entre os Puritanos/Radicalistas Conservadoristas - «Tocoístas espiritualistas» e os Tradicionalistas/Radicalistas Modernistas «Tocoístas espiritistas». Vide em 3.2.3, a), p.58. O projecto do controlo unilateral do túmulo de Simão Tocoe da sua família por parte da união Mboma/Cúpula, será um dos principais factores deste provável “conflito” na era global. Dito de outra forma, é um contra censo dentro do Universo Tocoísta a pretensão hegemónico desta «união Tocoísta» em unilateralmente apropriar-se do património do Tocoísmo de que não foram actores, mesmo sabendo que é uma obra de muitos e que os seus protagonistas dos anos 50 (Luanda e Loge) e 60 (Ntaya) estarem ainda em vida e fazerem parte de outros GruposTocoístas.E isto levanta várias inquietações: o porquê desta atitude conflituosa? Quais são as suas verdadeiras motivações perante esta situação? Quem são os seus ideólogos e o que pretendem alcançar com estes actos?

Os rostos mais visíveis deste grupo são: João Zino, João Mabingabinga, Domingos Videira, Sebastião Lucila, Maria Kunga, Pedro Massukinini (Mbela Nod), AntónioSoki,Ntemu António Kissenda, Domingos Luwawae Paulo Pedro, dentre outros. Tem como tendências na sua acção os seguintesTocoístas: os Misticistas, os Reformistas e os Pragmáticos.

Revivalistas Etnicistas - 18 Classes e 16 Tribos

O último grupo de revivalistas Tocoístas é o que pouco se tem para dizer,devido ao seu «fechamento». Constituído na sua maioria pelos Tocoístas da Região Kimbundu (Catete e

47Segundo Vasco Nzila, «… O irmão Pedro Masukininihavia nos dito no Ntaya quando se criou uma Comissão composta por Vasco Pedro Nzila e Pululu Francisco: “Eu mandei uma carta lá no abismo e pedi o reforço de 7.000 espíritos e quem tentar levantar a cabeça vai apanhar”. Para o efeito, fez-se um trabalho espiritual com todos os Vates do Ntaya, para podermos chegar à Luanda epara impedir que estes espíritos do anti-Cristo entrassem na Igreja. No último dia, foi-se na casa do Dirigente, mas este disse: “não quero ver ninguém a fazer trabalho espiritual cá, porque o mesmo espírito que fostes impedir no Ntaya já cá entrou, visto ser carnal o trabalho que lá fizestes”. E a Igreja dividiu-se. Portanto, é este conflito que está em todas as nossas divisões. O objectivo é somente único». Nzila, as Crises no Tocoísmo, pag. 50.

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Malange) e Côkwe convertidos no Tocoísmo de 1962 à 1974. Em Luanda, foram muito activos nas actividades da Igreja, mas apenas tiveram contacto com os «ditos» de Simão Toco por via das epístolas e quando em vez, através dos Anciãos dos Radicalistas Modernistas que muito se conflituavam e raramente dos Radicalistas Conservadoristas. Depois da morte de Simão Toco, sua principal característica residiu na tentativa de adaptar etnicamente a liderança da Igreja, à liderança política então evidente em Angola (MPLA), acção protagonizada por alguns responsáveis de Catete que utilizaram o espiritismo e o fenómeno ressurgimento de Simão Toco (José Canhanga e Mateus Rogério). E estes se mostraram radicais (tentativa do uso do Vaticínio para atingir fins políticos) e quiseram associar o facto de Simão Toco ter sido ungido por Deus em Catete em Abril de 1950, terra natal do Presidente António Agostinho Neto, para transformar esta localidade num santuário Tocoísta e no Centro das teofanias de Deus no Tocoísmo, projecto que foi retomado actualmente pelo Bispo Afonso Nunes. Resta-nos saber como o grupo das 18 Classes e 16 Tribos reagirá em função deste projecto que saiu da sua alçada. Com as carramuças ocorridas em 1986 e 1987 que resultaram na morte e prisão dos elementos propensos a politização do Tocoismo48, os Misticistas separaram-se dos demais (Mateus Rogeiro e Tabernáculo do Senhor) e para alguns destes, verifica-se um novo período de «hibernação Tocoísta», onde os Pragmáticos pressionam os Reformistas a serem mais ousados e cooperativistas com os grupos moderados dentro do Universo Tocoísta. O fechamento continua a ser uma das suas características actuais mais evidentes. Por falta de informação religiosa, nestes revivalistas há um acentuado desvio ao Tocoísmo padrão e foram seus protagonistas: Cristóvão Tavares, José Kanhanga, Mateus Rogeiro, Gabriel Simão Manuel, Tiago dias da Costa, João Pedro Alfredo, José António Victorino, Rui Mário Sachivama, João Simão, António Adão Tomé, António Monteiro, Ernesto Dias Messo, dentre outros. São suas principais tendências internas: os Radicalistas, os Misticistas, os Reformistas e os Pragmáticos. 1.5.2. Caracterização das tendências internas do revivalismo Tocoísta

Apurar os traços que caracterizam os distintos «grupos internos» dentro do Universo Tocoísta, é mesmo uma tarefa difícil e que requer um aturado trabalho de campo49. Mas partindo da nossa experiencia naquilo que constitui o quotidiano dos Tocoístas, bem como da literatura existente, vamos procurar descreve-los (seus traços) tendo em atenção os seguintes aspectos: 1. O que defendem ou combatem? 2. Como está marcado o conservadorismo Tocoísta, omodernismo Tocoísta, o tradicionalismo Tocoísta, o etnicismo Tocoísta em cada um destes grupos que se interlaçam? 3. Como interpretam os ensinamentos de Simão Toco e os adaptam ao progresso social e científico? 4. Suas clivagens? 5. Suas fortes inclinações a certos temas candentes e 6. De que tipo de Tocoísmosão partidários.

48 O Tribunal Popular Revolucionário de Luanda, no dia 17.02.1989 procedeu a condenação de 18 Anciãos deste

Grupo a prisão efectiva, sendo 08 à 19 anos de prisão, 03 à 16 anos, 01 à 15 anos, 01 à 10 anos, 04 à 6 anos e 01 à 5 anos de prisão respectivamente. Estes em 1992 beneficiam da amnistia geral no âmbito do processo de paz angolano.

49 Vale lembrar que o autor desta apresentação em termos de posicionamento dentro do Universo Tocoísta, é produto de três principais realidades tendenciais e revivalisticas. Sendo filho de pai Radicalista Modernista fortemente influenciado por Puritanos de onde nos anos 50 assimilou os «ditos» e «feitos» de Toco após ter passado na Missão da BMS em Kibokolo como estudante (1952-1956), e de mãe que pertenceu a Comunidade onde emerge o movimento Tradicionalista Tocoísta.Militou na Igreja de Cabinda de 1972 à 1986 e na Cúpula de 1986-1988, de onde toda família foi transferida oficialmente para a Direcção dirigida pelos 12 Mais Velhos após negociações entre as respectivas Tribos das duas Direcções Tocoistas. De 1990 à 1993 fez parte de um colectivo de cinco jovens Tocoistas no Huambo (em cumprimento do serviço militar) constituído por alguns Tocoistas activos das 18 Classes e 16 Tribos, tendo se tornado membro do GCNET em 1993 até a presente data.

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• Radicalistas (Conservadoristas, Modernistase Etnicistas)

Surgem todos em Luanda (Igreja Urbana), mas a sua configuração começa a ser melhordesenhada nos conflitos de 1964-1974, tendo o «caso Zander50» em 1964 propiciadoo maior momento de clivagens entre os mesmos. O aparecimento das Consolações em 1965 e posteriormente as Classes e os 40 Mancebos só veio dar corpo e estrutura as tendências entãopatentes, situação que ficou muito claro com o surgimento oficial das Tribos em 1975-76 e com o aparecimento da Cúpula de Anciãos e Conselheiros no período do «Buraco» e das prisões - (Junho de 1976 à Janeiro de 1979). São partidários de uma ideologia hegemónica (radicalismo nas suas posições), cujo activismo sempre foi evidente. Estão representados pelas figuras que lideraram o protagonismo da Igreja em Luanda de Agosto de 1974 até as separações formais dos Tocoístas ocorridas em Abril de 1984 entre Modernistas e Conservadoristas/Etnicistas com Panzu Filemon e Kutendana João a frente e em 1986 entre (Conservadoristas e Etnicistas com Muanga Pedro e Cristóvão Tavares a liderarem). Cada um destes Radicalistas defende o Tocoísmoa sua maneira, mas todos com o seu enfoque direccionado no primado da liderança da Igreja e têm uma forte inclinação na politização do Tocoísmo (menos os Conservadoristas). É preciso não perder-se de vista que a existência de três correntes de Radicalistas (Conservadoristas, Modernistas e Etnicistas) tem a sua respectiva génese baseada em factores que não será possível ser abordado neste trabalho. Para eles, os ensinamentos de Simão Toco devem ser seguidos àrisca quando se trata de liderarem a Igreja, mas em relação a fonte do Tocoísmo para as suas acções, buscam-na nos seus respectivos Anciãos que se divergem quanto ao conteúdo dos «ditos e feitos» de Simão Toco e somente os Radicalistas Modernistas procuram adaptá-los ao progresso social e daí tirar todas as vantagens materiais e sociais dela decorrente. Por esta razão, apareceram nos Modernistas os Reverendos, Bispos e outras designações de «elevação de status» sempre renunciadas anteriormente pelo próprio Simão Toco.

As três tendências de Radicalistas têm clivagens com os Puritanos. De 1984 à 1987 registaram-se entre os Radicalistas Modernistas e Etnicistas fortes conflitos que afectaram muitas famílias, eao mesmo tempoverifica-se fortes afinidades dos dois com os respectivos Misticistas de cada grupo. São partidários de um tipo de Tocoísmo que os caracteriza: o Tocoísmo padrão, o Tocoísmo moderno e o Tocoísmo popular.

• Puritanos (Conservadoristas)

Os Puritanos e os Radicalistas Conservadoristas têm a mesma origem - o histórico Coro de Kibokolo em Leopoldville, mas dividiram-se em Fevereiro de 1950 quando uns foram enviados para o Colonato do Vale do Loge51e outros para Luanda e mais tarde alguns de

50É Donfonso F. Manzambi quem nos descreve o sucedido:“Terminado este ano de 1963, em Janeiro de 1964, quando festejávamos o fim do ano de 1963, abriu-se mais outras confusões no seio da Igreja. Mas não eram os Tocoístas que tinham lutado. Então os traidores, os bufos foram mentir as autoridades que houve uma luta entre os Tocoístas e desta luta resultou na morte de uma pessoa e as autoridades portuguesas tomaram medidas de acabar com os cultos”. In: «A trajectória histórica da Igreja de Cristo», 2009, pág 26. De referir que o TocoístaZander que havia sido dado por morto reaparece dias depois, mas o conflito que se abriu daí entre os Tocoistas, foi de proporções alarmantes.

51 Simão Toco estando no Colonato do Vale do Loge anuncia: ”Não fui eu quem vos escolhi. Foi o próprio Deus que me tinha enviado para ir a vossa busca, porque vos tem consagrado para lhe construirdes as suas santas cidades. Tendes uma grande missão de Deus para cumprirdes. Hão-de construir-lhe três cidades: A primeira cidade é esta que agora começastes aqui, na região do Bembe; A segunda cidade será erguida na região do Zombo; A terceira cidade será erguida na região do Kwimba. Serão estas três cidades santas que ireis erguer para o vosso Deus. Estas cidades terão o mesmo estatuto que têm as Missões da BMS. Por isso, trabalhem, porque futuramentetudo isso será vosso”. Disse mais: “Bem-aventurados sois vós que saístes duma cidade cheia de glória mundana para a mata. Mais fácil será a salvação para vós do que os vossos irmãos que foram para Luanda. Porque saíram da cidade de Leopoldville para outra com maior glória mundana”.Profecias de Mayamona, pág. 50.

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Luanda foram enviados para Benguela. Valeu-lhes o epiteto de Puritanos, pelo facto de no período de Fevereiro à Novembro de 1950 trabalharem arduamente com Simão Toco no processo de implementação de uma série de acções de índole sacerdotais e espirituais no âmbito da implantação da Igreja de Cristo no mundo após sua relembrança em 25.07.194952. Com eles e somente eles, Simão Toco depois do encontro com Deus em Catete em Abril de 1950, cria as verdadeiras condições para o saudável funcionamento da Igreja que devia ser conduzida pelos Tocoístas na sua ausência física, isto é, durante as suas deportações e exilo. Daí a institucionalização do Vaticínio na Igreja, a criação do Tabernáculo e as várias realizações que executa até Novembro de 1950, data que se retira do Vale do Loge em direcção ao Sul de Angola. E estes acontecimentos vieram demonstrar a natureza divina e universal da Igreja relembrada em Leopoldville. Puritanos também porque continuam defendendo a pureza espiritual do Tocoísmo que se perdeu nos últimos tempos. Para eles, o primado da espiritualidade é a premissa incondicional da acção religiosa e são acérrimos do puro exercício do vaticínio no Tocoísmo e da conservação do património espiritual do Tocoísmo (ditos, feitos inéditos de Simão Toco e práticas Tocoístas até aqui não reveladas no Universo Tocoísta), principal causa da sua recusa por parte dos Místicistas tradicionalistas e pelos Radicalistas Modernistas.

De 1950 à 1984, sempre estiverem em áreas rurais (Vale do Loge e Ntaya) e estão representados pelas figuras que travaram fortes disputas com os Revivalistas Tradicionalistas no Ntaya e os Revivalistas Modernistas em Luanda (particularmente de 1979-1983 pela afeição e prelecção que Simão Toco sempre teve por eles). São seus protagonistas Daniel Araújo Mfinda, Pedro Ntumissungu Cardoso, Manuel Toco Diakenga, Sebastião Muntu Makunzi, Pedro Nzila, Domingo Afonso Nzila Pereira, Pedro Mumbela, Augusto Mfumuzingi, Sebastião Binga Nimba Toco, dentre outros53. Tem relações ténuas, mas não discordantes com todos os grupos que defendem o legado espiritual deixado por Simão Toco, quer com os Ana Ngunza, Reformistas e Pragmáticos. A sua acção em Luanda está bloqueada/condicionada pelos RadicalistasConservadoristas e os seus Ana Ngunza e Reformistas, encontraram na Nova Esperança Tocoísta, no Coro de David, Voluntario de Cristo em Fileira e noutros Grupos constituído por jovens, o seu local propício de actuação, onde desenvolvem suas acções em prol do Tocoísmo. São partidários de um Tocoísmo muito próximo do Tocoísmo padrão.

52 É de referir que de Fevereiro de 1950 à Novembro, altura em que Toco parte com a família para Luanda em

direcção ao Colonato de Caconda, desenvolve inúmeras acções de índole espiritual e não só, todas enquadradas dentro dos propósitos de Deus manifestes em Catete, dentre as seguintes: A criação de um conjunto de condições materiais e espirituais para o funcionamento da Igreja de Cristoem toda sua extensão; A materialização no Colonato do Vale do Loge de uma série de orientações recebidas de Jeová Deus em Catete; A normalização das práticas religiosas que se estende até 1955; A preparação dos Anciãos para conduzirem a Igreja na sua ausência física face as missões que haveria de cumprir noutras localidades; A oração (jejum) de pedido do Espirito dos Profetas na Igreja para auxiliar os Tocoistas no âmbito das missões da Igreja de Cristo; A oração de pedido para o surgimento dos movimentos de luta armada em Angola, visando a descolonização de Angola; O concerto com Deus no monte Sinai para a salvação de toda humanidade; A descida do Espirito dos Profetas na Igreja a partir do Vale do Logeaos28 de Junho de 1950; A institucionalização do Vaticínioe do Tabernáculo do SenhornaIgreja de Cristo (a comunicação generalizada entre Deus e os crentes da Igreja de Cristo) e a realização de vários ritos que culminaram com o cumprimento dos propósitos de Deus, tido como importantes para os planos de Deus na terra.

53 A lista é enorme. Só no Vale do Loge eram mais de 600 e no Ntaya acima de 1500 elementos. O Maestro Tocoísta de todos os tempos Simão Lázaro, é um Puritanista por essência, mas teve fulgurosas passagens junto dos Radicalistas Conservadoristas e Etnicistas.

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• Reformistas (Conservadoristas, Modernistas, Tradicionalistas e Etnicistas) A reforma na Igreja (o reformismo Tocoísta) passou a ser apanágio dos Tocoistas54 a partir dos apelos de Simão Toco nos idos anos de 1971-1974 e esteve associada ao pecado e a desordem dos Tocoístas, por causa das suas lutas de poder e incompetências dos líderes da Igreja de então. Como se disse nas Profecias de Mayamona, rodapé nº 101, pág. 87,“na visão de Toco, esta reforma era global, desde o interior de cada um até o social, passando pela restruturação e adaptação da Igreja aos ventos dos tempos modernos... A tónica do discurso da sua correspondência de 1971 à 1974, para além da resolução dos vários problemas que lhe colocavam resultantes dos conflitos entre Tocoístas, estava assente em apenas dois aspectos: na reforma no Tocoísmo e na evangelização daqueles que não conheceram os seus anúncios nas etapas anteriores. Infelizmente os responsáveis da Igreja nesta altura, não cumpriram com as suas orientações”. Numa das passagens das suas epístolas, dizia Toco: “Este ano é o ano de arrependimento. Este ano é o ano de pedir perdão a Deus dos nossos pecados e diga tudo o que fez a Ele. I S. João 1:9. À partir de agora, todas as desordens que haviam nos tempos passados não podem mais existir. Começamos a orientar a Igreja de 1973 até a sua vinda, mas há no Tocoísmo pessoas que não querem cumprir a reforma e estão se tornando hipócritas e escarnecedores. Durante os anos a seguir, continuarão as reformas. Seguir-se-ão novas ordens na Igreja. Nós também vamos fazer uma reforma na nossa Igreja de Cristo. Vamos tirar certas leis Tocoístas e aumentar algumas porque o mundo religioso de hoje está fazendo reformas. Temos de facilitar certas coisas que fazem desviar os servos de Cristo noutros caminhos e vamos cumprir o que a Bíblia manda. Portanto, a reforma da Igreja continuará. Cedo ou tarde essa Igreja há-de ser encontrada pelo próprio dono, Cristo Jesus”. In: Profecias de Mayamona, pag.87-88. No entanto, a reforma devia ser feita tendo em atenção o princípio espiritual da Igreja: a Relembrança e o Vaticínio. Logo, a mesma estava relacionada com o seu activismo e não com o seu relativismo ante aos credos e dinâmicas das demais religiões como se verifica hoje em grande medida nos Reformistas e Modernistas Tocoistas. Os Reformistas emergem nos centros urbanos nos mais variados quadrantes da sociedade Angolana e em Tocoístas com uma certa instrução, quer escolar como religiosa (algumas vezes, cominstrução religiosa não Tocoísta que procuram introduzir no Tocoísmo). Estes aceitam grande parte dos «ditos» do profeta, mas reclamam reformas profundas na Igreja em quase todos sectores, principalmente na sua doutrina e preceitos, apelando ao pluralismo Cristão de que o Tocoísmo se defende. Também clamam pelo atraso que se verifica na Igreja por razões de ordem religiosa (fechamento do Tocoísmo). São todos partidários de um Tocoísmo moderno ou de um modernismo Tocoísta, que deve ser mais pluralista, ecuménico e aberto ao progresso religioso. São pouco apegados aos rígidos preceitos da Igreja e tendem a adoptar um Vaticínio muito mais virado ao avivamento espiritual e carismático de pendor pentecostalista (quer o de origem ocidental/Brasileiro, como o que provem da RDC). Logo, o Vate usando o seu carisma e prerrogativas, tende a ser considerado como um «profeta Tocoísta ou um emissário de Deus», o que é contra o princípio do Vaticínio que só admite um único profeta no seio do Tocoísmo (Simão Toco) e que

54 Toco apelava aos Tocoistas a procederem reformas em quase todas áreas que conformam as práticas Tocoistas

(trajar dos Tocoistas, casamento, noivado, na administração com a criação de Classes, 40 Mancebos, Sucursais e no funcionamento correcto da Igreja. Estas orientações já foram compiladas pela Nova Esperança Tocoistae estão na obra «Directrizes do Dirigente - Para o melhor funcionamento da Igreja de Cristo».

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considera o Vate apenas como um simples «envelope» e nada mais. Dai que os Misticistas espiritistas exploram este lado fraco dos Reformistas e, aproveitando dos seus parcos conhecimentos sobre os «ditos e feitos» de Toco, associados a sua baixa espiritualidade, engendram constantemente o surgimento de pseudo enviados de Simão Toco que são muito bem acolhidos. Epor esta via, sãoencetadas muitofacilmenteasdesejadas reformas/mudanças. Aqui, os Misticistas utilizam o Vaticínio para as suas acções «espíritas» que se consubstanciam na realização de «milagres» e «obras» que arrastam milhares de Tocoístas. Na generalidade, os Reformistas de várias correntes Tocoístas defendem:

� A reforma administrativa e doutrinária na Igreja; � O primado simbólico e devocional de Jesus Cristo na acção eclesiástica Tocoísta, como

figura central no culto. A exaltação de Simão Toco pela maioria dos Tocoístas é tida pelos Reformistas (principalmente os Teólogos e os Reformistas de influência Católica, Baptista, Evangélica e pentecostalista) como um desvio ao Cristianismo;

� A abolição de alguns hinos «proféticos» enigmáticos e dos «discursos» e «práticas» Tocoístas que consideram não terem carácter ou sustentabilidade teológica;

� A corrente dosReformistas de pendor pentecostalista declara a Bíblia como a única autoridade divina na Igreja, em contravenção com a prática eclesiástica que se observa no UniversoTocoísta, que dão o mesmo estatuto aos «ditos» de Simão Toco, relacionando-os com a Bíblia Sagrada. Isto é: Toco sabe o que Cristo disse; e procuram a todo custo libertar a mulher Tocoísta do cumprimento dos«pesados» preceitos que julgam não ter sustentabilidade bíblica: o não uso de jóias,desfriso, a maquilhagem, o uso do «véu», o não uso de trajes masculino, etc.

� A maioria dos Reformistas argumentam que Toco deixou uma pesada e inconcisa herança, apelando ao retorno do Tocoísmo ao Cristianismo.

O rol de apelações dos Reformistas Tocoístas é tanto, que apenas o passado Tocoísta e a acção dos Misticistas os «prendem» na Igreja, situação que está a ser muito difícil para a juventude com uma certa instrução teológica extra-Tocoista. Esta realidade arrastou muitos Tocoístas para as Igrejas carismáticas e pentecostalistas com doutrinas de «prosperidade social» e outros ainda criaram suas próprias congregações Tocoístas que vão se multiplicando cada vez mais.

Os Reformistas têm clivagens com os Puritanos, Radicalistas (Conservadores, Modernistas e Etnicistas), os Ana Ngunza e a Casa de Oração. Como já nos referimos, os Radicalistas Modernistas e os Misticistasespiritistastêmsabido tirar proveitos junto destes e torna-los num perfeito aliado, ao satisfazer suas espectativas psicológicas e espirituais com a emergência constante de «novos profetas» que trazem sempre novos discursos. Também os Reformistas têm como dócil aliado os Pragmáticos. Depois dos Pragmáticos, os Reformistas formam o grosso da população no Universo Tocoísta e com os apelos dos pseudo «enviados» Pedro Sangumba (Março de 1984), «Mensageiro» Fernando Tchiwale (Dezembro de 1996) e Afonso Nunes em 2000 como pseudo «personificação de Simão Toco», a maior parte aderiram a Igreja da «Direcção Universal». Logo, daqui podemos concluir que os Reformistas Conservadoristas e Etnicistas que abandonaram estes grupos devido as crises,

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separando-se ou criando novas congregações Tocoistas55, apresentam características que precisam ser muito bem estudadas.

• Ana Ngunza (Conservadoristas e Puritanistas)

Quem são os Ana Ngunza (Filhos dos profetas) na Igreja? Este grupo de Tocoístas quase desconhecido no Universo Tocoísta, na verdade foi criado em Luanda aos 09 de Março de 1976 por Simão Toco, para o anúncio da Boa Nova56. São jovens Tocoístas (de Luanda e Ntaya), filhos dos antigos repatriados do Congo Belga em 1950 para Angola, os "Ngunga Ngele". Um dos seus responsáveis em Luanda é o Ancião Domingos Pensa Kibeta e no Ntaya foi o Mais Velho João Fernando (Jean Jean). Devido a crise reinante no Tocoísmo, depois da morte do profeta, os Ana Ngunza de Luanda (filhos dos Radicalistas Conservadoristas) criaram a Casa de Oração que congregava também um bom número dos filhos dos responsáveis da Cúpula (Radicalistas modernistas), que no cômputo geral pouco ou nada fizeram em prol do Tocoísmo, pois, muitos deles deixaram de observar os preceitos da Igreja e de se rever no ideal Tocoísta.Alguns dos rostos visíveis Casa de Oração foram Chico Afonso, José Podia, Diassongui Sebastião, Ndunguidi Daniel, Sebastião Ndokizowa, Felix Miguel Mfingui, o Pastor Mbanza e tantos outros e constituíram até o ano de 2000 uma espécie de jovens intelectuais do Tocoísmo. Em 2000, com o surgimento do actual Bispo Afonso Nunes, os mais radicais tiveram que aderir ao Revivalismo Modernista e Conservadorista, restando actualmente um grupo muito reduzido. Os Ana Ngunza do Ntaya mantiveram-se leais aos seus Anciãos até ocorrer o êxodo das populações de Ntaya para Luanda, onde alguns dos seus membros vêem emprestando o seu dinamismo na acção da Igreja dirigida pelos 12 Mais Velhos. Os Ana Ngunza de Luanda que não aderiram a Casa de Oração, formaram o Coro Luvuvamu e mais tarde o Coro 25 de Julho adstrito a Direcção da Igreja dirigida pelos 12 Mais Velhos.

Com o surgimento da Nova Esperança Tocoísta em 1992 e do seu activismo espiritual em 1994, estes, mediante suas acções e discursos vem reclamando igualmente o estatuto de Ana Ngunza, prosseguindo assim a sua missão que visa promover a unificação dos Tocoístas no mundo através do resgate dos valores espirituais do Tocoísmo e de todo legado espiritual deixado por Simão Toco: seus «ditos e feitos57».

Os Ana Ngunza representam uma das categorias de Tocoístasmais desconcertantes, pois, sendo intelectuais assumidos nos anos de 1976-1984, estando na fonte do Tocoísmo e tendo o beneplácito de Simão Toco, deles esperava-se muito mais do que fizeram. A sua abstenção e afastamento junto dos seus Anciaos58 foi fatal para o Tocoísmo, pois, com a sua acção, bem

55 Foram os casos de LundiMbongo, Augusto Bernardo, Afonso Makiese, «profeta» Isaías da Igreja Profética

Mundial, João Miguel Joana, Osório Marcos, António Zaza (Zazismo), Tabernáculo Central, Luísa Kininga no Wamba/Sanza Pombo, etc.

56 Os Anciãos da Cúpula rejeitaram junto de Simão Toco esta denominação, apresentando a de «Filhos de Bons Seguidores».

57 Seu périploàtodos grupos revivalistas do Tocoísmo de 1994 à 1998, as suas jornadas de reflexão sobre vida e obra de Simão Toco que realizam de 02 a 10 de Janeiro de cada ano, bem como os seus festivais musico-culturais que envolve grupos corais dos demais grupos de Tocoistas, muito contribuíram para a aproximação dos Tocoistas desavindos. O seu movimento literário vem correspondendo com a expectativa do grupo, permitindo que muitos Tocoistas pudessem conhecer melhor a realidade histórica do Tocoísmo, contribuindo assim no processo de reevangelização dos Tocoístas e da recuperação dos seus genuínos valores.

58 Verificou-se que muito dos integrantes dos 40 Mancebos (A,B,C e D) e alguns Ana Ngunzaà quem também Toco depositara sua confiança para o anúncio do «Evangelho» e do «caminho do bem», desistiram da Igreja, porque encaravam-na como um lugar de analfabetos com quem deviam manter uma certa distância, pois, aelite que liderou os destinos da Igreja esteve maioritariamente constituído por iletrados e semi-analfabetos, que nutriam uma certa aversão aos racionais intelectuais. O seu distanciamento em parte está provido de razão, porque muitos Anciãos

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teriam alterado o curso trilhado pela Igreja desde 1984.Os de Luanda até o ano de 2000, defenderam sem sucesso um neutralismo Tocoísta procuraram evidenciar o seu intelectualismo59. No geral, verificou-se a ausência de uma acção coordenada e de intercâmbio entre os de Luanda e os de Ntaya, situação que teve consequências dramáticas para o Tocoísmo. Os mesmos continuam interpretando os ensinamentos de Simão Toco dentro duma visão muito próxima da de Simão Toco, e assumem-se como os guardiões do legado do Tocoísmo, mas têmdificuldadesde adaptarem este ensinamento ao progresso social. Apenas a Nova Esperança Tocoísta tem procurando aplicar os métodos científicos na sua acção de resgate da memória colectiva dos Tocoístas. Os Ana Ngunza travam clivagens com os Reformistas, Modernistas, Misticistas e Pragmáticos. A Nova Esperança Tocoísta (Reformistas Puritanistas) desde o seu surgimento, regista na sua acção fortes clivagens comos Ana Ngunza Conservadoristas, apesar de actualmente baixar de intensidade, a semelhança das clivagens que se verificam entre os Radicalistas Conservadoristas e os Puritanos. É também hostilizado pelos Radicalistas Conservadoristas, Modernistas e por todos osMisticistas espiritistas. Sofre igualmente afrontas por parte dos Reformistas e nos seus discursos reclama não ser bem compreendido pelos Pragmáticos. Esta reacção dos Tocoístas ante a acção da Nova Esperança, é um caso que merece ser muito bem estudado. Pouco se sabe acerca dos Filhos dos Bons Seguidores da Ex-Cúpula. • Misticistas (Tradicionalistas, Modernistase Etnicistas) A acção dos Misticistas no seio do Tocoísmoéalgovisível,inegáveleque ditou em muitos momentos o percurso trilhado pelos Tocoístas. Tal como ocorreu com o misticismo em outras religiões, no Tocoísmo esta corrente de crentes “busca...a comunhão com a identidade, com consciente ou consciência de uma derradeira realidade, divindade, verdade espiritual, ou Deus através da experiência directa ou intuitiva60”. Os entendidos no assunto afirmam que o

que estavam na condução dos destinos da Igreja, temiam os intelectuais e perseguiram-nos, fazendo tudo para desencorajá-los a agirem em prol da Igreja. Estes não evidenciavam a consumação do projecto de acção Tocoísta, mas sim a preservação dos seus cargos e nada fizeram para superarem-se académica e intelectualmente. Os Anciãos na generalidade, não passaram o testemunho a nova geração, tornaram os seus cargos vitalícios e vetam a possibilidade de haver sucessão e ascensão. Com isto, um número considerável de Tocoístas estão em casa e esperam um milagre ou uma oportunidade específica: A viragem da realidade dos factos e a mudança do sistema das coisas. Aguardam pelo tio Mayamona e pelo cumprimento das suas profecias. Esta é a razão do grande protagonismo apresentado pela Direcção liderada pelo Bispo Afonso Nunes. A nova geração de Tocoistas têm uma crença apoiada naquilo que os seus Anciãos viram, ouviram e esperam. A maioria é dependente ou seguidista. Outros perderam o ânimo e a confiança neles, e somente acreditam em Mayamona e nos seus ditos e feitos.

59De facto, Toco apelara aos Mancebos e defensores da Igreja: "… O Tocoísmo deve procurar Mancebos que saibam uma língua comum, para mais cedo ou mais tarde puderem fazer algo importante para a segunda vinda de Cristo. Mas é pena que os rapazes que estudam a língua portuguesa não se interessam servir à Cristo. Pobre africano que até aqui não pensam, nem prevêem o futuro…Vós Mais Velhos, não deveis invejar os rapazes que sabem a língua portuguesa e que estão vos ajudando na palavra de Deus, porque se não haver cristãos que saibam o português, quando vós Mais Velhos morrerem, quem ficará no vosso lugar? Eu gostaria que os rapazes que estudam nas escolas superiores e filhos dos Tocoistas, não esquecessem da Igreja de Cristo para mais cedo ou mais tarde a defenderem. Quero que os jovens estudem até ao ensino superior para que mais tarde ou mais cedo, venham a ser os defensores da Igreja". Directrizes 7:345-346;11:145. Vide rodapé nº 25, 28 e 40.

60 Segundo a Wikipedia e «o que é Misticismo» de Wiliam Stoddart, Misticismo «do grego µυστικός, transliterado mystikos, um iniciado em umareligião de mistérios» é uma religião que procura enfatizar a atenção imediata da relação direta e íntima com Deus, ou com a espiritualidade, com a consciência da Divina Presença. E “vai além da religião tradicional por permitir uma experiência direta e pessoal com a divindade ou com a espiritualidade em questão. Porém essa união com o todo só é possível através de uma dedicação espiritual que capacita o ser humano a se livrar das tentações mundanas. O iniciado que alcançou o ‘segredo’ é chamado um ‘místico’”.

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misticismo é um “... sistema religioso que possui Deus como transcendente”, e que resulta numa “... religião em seu estado mais apurado61”. Mas William Stoddart em «O que é Misticismo?» foi muito mais profundo ao caracterizar o misticismo “... como a dimensão interior ou espiritual contida em todas as religiões - cada religião sendo entendida como uma Revelação Divina separada e específica. A religião compreende uma “periferia” e um “centro”; em outras palavras, um exoterismo e um esoterismo. O exoterismo é a expressão ou veículo providencial do esoterismo interno a ele, e o esoterismo é a essência supra-formal do exoterismo correspondente. É por isso que o misticismo ou esoterismo - erroneamente visto por alguns como não-ortodoxo - não pode de forma alguma subverter o formalismo religioso do qual ele é a seiva”. Aqui está o fundamento que melhor nos permite compreender a essência da acção dos Misticistas62no seio do Tocoísmo.A par de tudo que se disse e ficou por se dizer sobre misticismo, temos a ressaltar a existência da “experiência mística”, “doutrina mística” e “via ou caminho místico” no Tocoismo63, ou mesmo da sua “heresia intrínseca, que não é nada mais que uma violação grosseira da ‘sua ‘estruturaformal”. E posto isto, cabe-nos agora discorrermos sobre o fenómeno espiritual que nos propusemos descrever: a acção dos Misticistas Tocoístas. De referir que vamos nos ater apenas ao misticismo espiritista dos Tradicionalistas, Modernistas e Etnicistas, buscando o entendimento sobre o assunto na vasta documentação existente a respeito dos fenómenos e processos adversos que vêm produzindo no Tocoísmo. Correntes místicas no revivalismo Tocoísta A semelhança do que ocorreu nas demais religiões que desenvolveram suas correntes místicas, oTocoísmo não foge a regras e produziu o seu misticismo que ainda não foi estudado e muito menos sistematizado. No Tocoísmo, as crenças paralelas à religião principal, o esoterismo ou a «... religião de mistérios», correspondem ao gnosticismo Cristão, a Kabala Judaica e ao sufismo Islâmico. Isto porque as crenças místicas da maioria dos Tocoístas (busca da elevação espiritual64) proporcionaram que para além do vaticínio, houvesse aqueles que se aproveitassem desta tendência dos Tocoístas, e evidenciassem as suas tradicionais práticas espirituais estranhas ao Tocoísmo, atrapalhando-os e desviando-os nesta busca da espiritualidade.E atendendo as suas várias realidades espirituais, é evidente que

61 “...Na prática o misticismo só surge dentro do arcabouço de uma das religiões reveladas. De fato, seria justo

dizer que o misticismo constitui a dimensão interior ou espiritual de toda religião. Misticismo é esoterismo, enquanto que o arcabouço religioso exterior é o respectivo exoterismo. O exoterismo é para todos, ao passo que o correspondente esoterismo é somente para aqueles que a ele se sentem chamados”. In: «o que é Misticismo» de Wiliam Stoddart.

62 De acordo com a Wikipedia,"o místico é aquele que aspira a uma união pessoal ou a unidade com o Absoluto, que ele pode chamar de Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo, etc”.

63 Para Wiliam Stoddart «o alegado objeto tanto da “experiência mística” quanto da “doutrina mística” é a Realidade Suprema. A doutrina mística pode chamá-la de Um, Si, Puro Ser, ou outro nome, e a experiência mística é considerada como sendo a união com ela, em qualquer grau e de qualquer modo que seja. Com este fim, fala-se também de “via mística” ou “caminho místico”. A doutrina mística e a metafísica ou teologia mística são uma única e mesma coisa. A experiência mística, quando num grau total ou ao menos suficiente, é a salvação ou liberação. E o propósito do caminho místico é a “realização espiritual”, isto é, a progressão do exterior ao interior, da crença à visão, ou, em termos escolásticos, da Potência ao Ato».

64É mística para os seres humanos todas as coisas empregues para criar a relação direta com a espiritualidade: uma vela, uma oração, um vaso de flores, um totem, “pois é o instrumento usado por estes para criar a relação deste poder... O homem acredita no poder da vela e da oração, mas não sabe como este poder age” http://meeu.com.br/ceu/tag/misticismo/. O vaticínio como tal, está em volta de acções de natureza mística.

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nem todos grupos Tocoístas praticam o mesmo misticismo. O Misticismo dos Conservadoristas (Puritanistas e Radicalistas) difere do dos demais5, pois, está muito próximo do praticado por Simão Toco a partir do Coro de Kibokolo e no Vale do Loge. E apesar da aparente semelhança e analogias em muitos aspectos, o misticismo Tradicionalistas, Modernistas e Etnicistas (Misticismo espiritista66) que tem muitos protagonistas, está muito mais próximos das experiências místicas extra-Tocoista. A acção dos espíritos através dos Misticistas espiritistas não é um fenómeno recente no Tocoísmo, pois, esta corrente de Tocoístas existe desde a primeira hora e esteve semprepresente em todas suas fases de evolução, sendo responsável por grande parte dos acontecimentos que marcaram o período negro do Tocoísmo.Mas a Igreja de Cristo foi levantada no mundo para contrapor-se as forças do mal e livrar todos que estiverem presos nas garras de satanás.E há muita gente no Tocoísmo que se diz Vate, mas que não trabalha com Espírito de Deus, mas sim, com os espíritos de seus antepassados. Outros trabalham com os Génios do mal e espíritos de maléficos67. O difícil problema que os Tocoístas enfrentam é como distinguirem a acção do espiritismo que é um contravalor no Tocoísmo, em relação a acção do Vaticinio68, ou seja, como distinguir um dooutro, se são fenómenos espirituais? Partindo do facto de que a sistematização do Tocoísmo está a ocorrer apenas no período do revivalismo, situação que vem favorecendo a possibilidade dos actuais grupos puderem introduzir as suas «ideologias» e «doutrinas» diferentes das da Igreja, tarefa que os

65Deus simplificou a sua relação directa e íntima com os Tocoistas, ao instituir o Vaticínio em Junho de 1950, tendo como protagonistasosVates, Pombos, Sacerdotes, Mensageiros (Profetas e Anjos), Anciãos e Conselheiros, Discernidores de Espirito e os Visionários. O mlayswanismo (arrebatamento) até aqui tem sido uma das principais experiências místicas dos Visionários Tocoístas, onde oscasos mais mediatizados foram os ocorridos com o Ancião Mbona Pedro em Luanda em finais de 1950 e Novembro de 1983 e Simão Masanza em 1950. A experiencia espiritual pessoal guiada é outra forma de realização espiritual esotérica Tocoísta. Para mais informações sobre o assunto, consulte a obra «O encontro de Catete e as demais manifestações divinas na INSJCM» recentemente produzida pelo GCNET.

66 Utilizamos aqui a expressão misticismo ao invês de espiritismo (doutrina dos que se comunicam com espiritos) por julgarmos ser mais tecnicamente abrangente em termos de fenómenos espirituais esotéricos e também para evitar que haja uma certa conotação com outros factores do fenómeno, como a sua ruralidade ou origem urbana, ou mesmo com o espiritismo sistematizado por Allan Kardec. E por misticismo espiritista queremos qualificar a acção doGrupo de Tocoistas que praticam uma acção de interferência no ritmo normal da vida à partir do plano extra-físico. Os espiritualistas enxergam o espiritismo (a magia, a feitiçaria, os adivinhos, curandeiros, encantadores, quimbandeiros, Umbandistas, candobletistas, e demais espiritistas) como uma acção de interferência no ritmo normal da vida à partir do plano extra-físico, já que aqueles que se entregam a ela sabem que o mundo espiritual determina em grande parte a dinâmica do mundo físico e que, de lá, fica as vezes bem mais fácil influir sobre as situações e as pessoas, pois se conta com a influência mental subtil e a invisibilidade. Porém, em 1949, Deus enviou o Espírito Santo a África que veio contrapor estas práticas. In: “Encontro de Catete e demais manifestações divinas na Igreja de Cristo”, Pag 153.

67A «magia maléfica» ou «feitiçaria» foi usada pelos nossos antepassados como recurso para determinar as causas dos infortúnios que viviam (doenças, acidentes, mortes, seca, chuvas torrenciais, trovoadas), apontando sempre alguém como causador destes infortúnios. E hoje, as religiões reconhecem a existência de duas forças ocultas que lutam pelo controlo da humanidade, as forças demoníacas e as forças activas ou vivas de Deus. Os religiosos responsabilizam os demónios como causadores dos infortúnios vividos pela humanidade, como guerras, desastres, pestes, falta de sorte … e dizem que as forças activas são defensoras dos homens.

68Espiritismo no Tocoísmo é um contravalor em relação ao Vaticínio onde se pratica o espiritualismo. Bem sabemos que esta pratica não regulada, confunde-se em grande medida com as praticas espirituais exercidas pelos africanos antes do contacto com o cristianismo. Daí que muitos ao se converterem no Tocoísmo, não abdicaram das suas tradicionais práticas espiritistas pré-cristãs.

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«Misticistas» melhor sabem fazer, podemos concluir que são defensores de um Tocoísmo adaptado as suas «aspiraçõesecrenças», o que vem demonstrar como Simão Toco esteve certo ao bloquear suas acções desde 1953. Daí que estes combatem os Tocoístas Conservadores e procuram a todo custo «desconstruir» os seus feitos: as crises do Tocoismo são antes de tudo conflitos espirituais.

Mas como está marcado o misticismo Tocoísta?A sua configuração estrutural não difereda dos grupos anteriormente descritos. Tão-somente as evidencias registadas ao longo da história do Tocoísmo nos permitem distingui-los em misticismo espiritualista (Conservadorista) e misticismo espiritista (Tradicionalistas, Modernistas e Etnicistas). Apenas o estudo historico-biografico dos seus protagonistas nos poderão ajudar a determinar em concreto o seu conteúdo e que fins perseguem na Igreja. Das acções praticadas desde 1984 podemos aferir o seguinte:

• A divisão e todos grandes desvios que ocorrem desde 1982 no seio dos Tocoístastem sido actos engendrados pelos Misticistas espiritistas. As recentes crises no Tocoísmo são antes de tudo conflitos espirituais.;

• As constantes evocações e celebrações de rituais na campa do ancião Bitopo (Lobitopo) no Sadi e em locais tradicionalmente conhecidos, com o intuito de influenciarem os acontecimentos que ocorrem no seio dos Tocoístas Tradicionalistas e Modernistas (Veja rodapé nº 55);

• A veneração de Simão Toco, da sua família carnal, do seu túmuloe do túmulodo seu pai; • A dissimulação de espíritos no seio dos Tocoístas69; • A realização de práticas espirituais e o uso de símbolos estranhos ao Tocoísmo (estrela

sob fundo circular, o Leão e figuras dentro do templo), não criados por Simão Toco quando esteve em vida (Segundo orientações dos Anciãos da Igreja, nenhuma imagem

69Depoimento do Pastor António MarioKuvaMakanga: «A matéria espiritual é uma matéria muito complicada para

as Igrejas que trabalham com o Espírito Santo visivelmente. É assim que Paulo na sua quinta carta ao I Têssalonicenses, capitulo 5, versículo 19 e 20 ele escreve: “Não extingai o espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo e retém o bem”. Isto escrevia Paulo depois da morte de Cristo. Nós da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, queria vos dizer, está ali a irmã Sofia André que não me deixa mentir, euAntónio Mário já tive a minha vaticinadora. Eu preso na Segurança do Estado em Makela no Uíge, houve uma menina que ficou inspirada e estava lá a trabalhar o senhor António Mário. É coisa que não sabiam? É verdade. E é exacta-mente na matéria espiritual que nos convém que a juventude esteja bem firmada. A irmã que estava habitada chama-se Sivi. Fez oito dias que não comia, nem bebia. Isto aconteceu em Ntaya/Makela do Zombo em 1988 quando eu estava preso. O António Mário preso comia, bebia e trabalhava. Mas o António Mário em espírito na irmã Sivi precisou de uma criada para lhe transportar água e lhe dar de comer e beber. São coisas que vemos nesta Igreja. Por essa experiência mesmo é que quando você diz: “Éh, éh...”. Quem é? “Sou eu, o João Baptista”. E nós recorremos logo na Bíblia. Estará correcto o que vai dizer? Porque vivemos estas situações com o irmão Tumissungu Cardoso em 1953. Vivemos esta situação aqui em Luanda com o irmão Pululu Alberto no mesmo ano. Vivemos também esta situação com o irmão Dielumbaka Alberto. Esses dois eram Vates de Simão Gonçalves Toco. Vivemos esta situação nos anos de 1950/51 com o irmão Paulo Alfredo no Bembe. Vivemos esta situação em Dimuka no ano de 1958. Um Vate meteu os Anciãos e Conselheiros num rio de Dimuka das 20 às 24 horas à espera de um navio que os levaria aos Estados Unidos de América. A testemunha ocular que viveu esta situação chama-se Pinto Makuta, está cá. Era o Representante Geral da Igreja no Uige. Isto não são coisas contadas. Foram realmente vividas. Também tivemos um outro Simão Toco no Kuilu Pombo e que fez as suas proezas. Temos o irmão Sebastião Lucila em Ntaya/Makela do Zombo que no lugar de profetizar o oitavo reino de Cristo, ele profetizava o sétimo reino. Temos o caso concreto que é recente, do irmão Mateus Rogério das 18 Classes e 16 Tribos onde estava habitado o senhor Simão Toco dentro duma casa. Temos o profeta Isaías do Kuanza Sul. Temos o caso do irmão Abraão - António Zaza, etc, etc. Então quando chegamos na matéria espiritual, é preciso a juventude estar instruída para que não caia nas heresias. As heresias não começaram agora. Elas surgiram desde Arão e Moisés no antigo Israel. Portanto, é esta parte que queria rematar nesta matéria que dá muita dor de cabeça. Muito obrigado». In: O Vaticínio na Igreja de Cristo, págs. 26-27.

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deve figurar dentro do templo e o retracto de Simão Toco só aparece no período da comemoração do aniversário da sua morte ou nascimento);

• Múltiplas manifestações espíritas no seio dos Tocoístas já referenciadas no rodapé nº 55; • Tendência de substituição do Vaticínio pelas práticas espiritas70; • Combate aos verdadeiros Vates; • A promoção do «mensageirismo» no Tocoísmo como mecanismo de ascensão na

liderança. São as aparições, os enviados e os ressurgimentos de Simão Toco defendidos pela Ex Cúpula, pelas 18 Classes e 16 Tribo (antes de separaram-se) e pela Direcção Centro-Sul do Bispo Primaz Osório Marcos71, dentre os variadíssimos factos espiritas ocorridos até a presente data.

Esta categoria de Tocoístas revivalistas procuram interpretar os ensinamentos de Simão Toco não necessariamente como este legou a humanidade, pois, com excepção dos Conservadoristas que praticam um Tocoísmo muito próximo do padrão, nota-se a tendência dos demais introduzirem actualmente suas crenças nas práticas Tocoístas. Apenas os MisticistasModernistas tendem adapta-los ao progresso social, mas já de uma forma muito deturpada.

Como temos vindo a referenciar, os Misticistas rivalizam-se entre si, verificando-se fortes afinidades entre os Tradicionalistas e Modernistas que agem em frentes diferentes, mas de forma concertada contra os Conservadoristas, ou seja, é a união entre os Tocoístas espiritistas que preservaram as práticas tradicionais oriundas da cultura tradicional africana que vinham sendo combatidas desde 1949 e a dos Tocoístas modernistas que sempre manifestaram tendências temporais72.Entre os Misticistas Modernistas e Etnicistas vem se registando conflitos de proporções alarmantes, daí o distanciamento existente entre ambos. Mas são ténuas, senão mesmo de equidistância as relações entre os Misticistas Conservadoristas e os Etnicistas e quase não existe qualquer ligação entre os MisticistasPuritanistaseosEtnicistas. Os Misticistasespiritista (Tradicionalistas, Modernistas e Etnicistas) têm fortes inclinações a promoverem figurais espirituais (enviados, mensageiros e visionários de Simão Toco),

70 Vamos recorrer as sábias declarações do Reverendo Samuel Mambu Domingos concedida ao JET: «Os Vates

na Igreja não foram preparados do ponto de vista profético... Aqueles que O adoram (Deus) em Espirito e em verdade devem ser localizados nas Igrejas espirituais. Mas no entanto, o próprio satanás, ele não deixa nunca que essas pessoas trabalhem sem seguir atrás deles e consegue, uma vez que ele sabe que as pessoas são mais amigos do Espirito, quer dizer, são pessoas que crêem verdadeiramente no Espirito Santo e é fácil desencaminhar essas pessoas: “Deus disse isso”. E as pessoas aceitam e acabam por arranjar até alas. A divisão de qualquer Igreja espiritual, o movimento que divide a Igreja provem dos irmãos que têm o dom de profetizar. Porque é facil a gente crer que é o avô fulano que disse e não dizer que é o Secretário fulano ou Ancião fulano que disse. Nunca leva povo nenhum, mas os ‘profetas’ isso leva”... Onde temos o perigo todo da Igreja é aí. É aí onde há a divisão da Igreja». In: JET-Jornal Evangélico Tocoista, Ano-2, Edição nº 04, de 20.07.1999, Suplemento II-III. E o Tocoísmo conheceu muitos falsos Vates, isto é, muitos espiritistas. As realidades mais marcantes foram as que ocorreram no Ntaya (Lucila, Maria Kunga e Massukinini) e Luanda (Vie Sassa, JC, AntonioZaza, Mateus Rogeiro e os casos da actualidade).

71 Via utilizada por estes face a cega obediência dos Tocoistas aos espíritos que surgem, por não estrem preparados para lidarem com os fenómenos espirituais.

72“O casamento perfeito entre estas duas correntes (Tradicionalistas e Modernistas) para melhor fazerem frente aos Tocoístas espiritualistas, num momento crucial da vida do Tocoísmo, remeteu a Igreja numa crise profunda sem precedentes que precipitou a morte de Toco conforme denúncia sua e dos Anciãos 12 Mais Velhos, bem como a consequente divisão da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo declarada pela Cúpula em Abril de 1984 após o fim do cumprimento unilateral dos 90 dias, em memória do desaparecimento físico de Toco, marcando o início do aparecimento dos «mensageiros de Simão Toco do pós morte», cujo primeiro «mensageiro» foi o então adolescente Pedro Sandumba ainda em 1984, não obstante o «Erasto Tesoureiro da Cidade –NlundiMbongo» iniciar as suas proezas anos antes”. In: “O vaticínio na Igreja de Cristo”, pág. 11.

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preservam práticas, costumes e tradições locais (das regiões) e na generalidade são partidários de um Tocoísmo esotérico ou de um esoterismo Tocoísta que procuram evidenciar. Por tudo que se disse até aqui, fica o alerta de que o Vaticínio desregrado torna-se muito delicado por causa do comportamento das pessoas e da existência de dois tipos de espíritos (Espírito de Deus e o espírito de Satanás) que aparecem a operarem nos Tocoístas. O Espírito Santoedificae guia os Tocoístas para o bom caminho e o segundo é infiltrado, destruidor e desencaminha os Tocoístas.Daía existência demuitos falsos Vates73que são dissimuladores espíritos, mentirosos (charlatões),burladores epromotores de acções maléficas. • Pragmáticos (Conservadoristas, Modernistas, Tradicionalistas e Etnicistas)

O pragmatismo Tocoísta é resultado dos tempos modernos. A nova geração de Tocoístas surgidos noperíododopós morte de Simão Toco, não foi educado religiosamente nos Sucursais e Lares comona época das gerações precedentes (a de 1949-1974 e a de 1974-1984)74. Logo, são portadores de ideais liberais e pragmáticos, defendendo um Tocoísmoliberal. Seus gostos eestilos de vida estão associados aos valores democráticos e do liberalismo. Sua principal característica reside no facto de serem um dos principais partidários do activismo Tocoísta. Daí o pragmatismo Tocoísta estar marcado pelo seu esforço em ver o Tocoísmo muito mais voltado para as questões sociais e práticas da vida social e cristã, como a educação, a moralidade, as acções humanitárias, os direitos humanos, a comunicação, o ecumenismo, etc. Estes, são partidários de um Pluralismo Tocoísta muito mais na perspectiva da relativização dos valores Tocoístas aos do Cristianismo e da modernidade. Combatem o Conservadorismo Tocoísta e todo tido de inactivismo.Encontram nos Reformistas um ideal parceiro nas suas acções, mas são «presas» fáceis dos Radicalistas e dos Misticistas que lhes impõem a sua lógica de mando, por desconhecerem grande parte dos reais «ditos e feitos» de Simão Toco. Isto pressupõe dizer que os Pragmáticos Conservadoristas e Etnicistas apresentamcaracterísticas que os demais Pragmáticos não possuem e que lhes permitem manter a sua espectativa religiosa nos grupos a que pertencem75. Pelo facto de grande parte serem filhos de Tocoístas e não conheceram outros credos e culturas, ou por se converterem recentemente ao Tocoísmo, têm grande respeito e admiração pela figura de Simão Toco enquanto Profeta venerado e testemunhado por muitos, cujo ensinamentos procuram adaptar ao progresso social e científico. Quase todos eles são

73 Muitos Vates são acusados de promoverem acções maléficas e engendrarem deturpações no seio da Igreja de

Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo. São os efeitos indesejáveis que resultam do exercício de um vaticínio desregrado na Igreja.

74 Primeira geração de Tocoístas (1949 à 1974 - 25 anos). Estes na sua maioria antes de serem Tocoístas eram Católicos, Protestantes, Metodistas, Kidistas, Kimbanguistas, ateus, etc. Consequentemente possuíam outros credos e certo tipo de fé. A sua conversão ao Tocoísmo, na maior parte deles foi por intermédio de milagres, prodígios, sinais e promessas fiáveis. Foi um momento impar que viveram e desta forma renunciaram tudo para seguirem a Cristo. Aceitaram as prisões, açoites, torturas, desterros, trabalhos forçados e mortes para ganharem Cristo e a vida eterna. Segunda geração de Tocoístas (1974 à 1999 - 25 anos). Estes Tocoístas nasceram na Igreja e não conheceram outros credos ou culturas tradicionais. A sua conversão foi mediante a aceitação voluntária de Cristo Jesus como seu único Salvador. Não creram por causa dos sinais, prodígios ou milagres. A Igreja é parte integrante da história da sua vida. São osfieis continuadores da grande obra erguida pôr Deus por intermédio de Simão Toco e de seus Anciãos pertencentes a primeira geração.

75 Os elementos de caracter podem ser de natureza social ou religiosa.

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resultado de uma branda socialização religiosa, pois, partilham ideais e valores Tocoístas, mas estando fortemente enraizados nos ideais liberais da sociedade moderna. Seu ponto forte é o domínio das TICs e o facto de serem racionais intelectuais bem inseridos nas modernas sociedades a que pertencem. Resta saber como estes se posicionarão ante o Tocoísmo à nível das diásporas e nas sociedades ocidentalizadas, ou seja, que tipo de Tocoísmo serão partidários aí.

TENDÊNCIAS ACTUAIS DO REVIVALISMO TOCOISTA

Conservadoristas (Doze Mais Velhos)

Modernistas (Cúpula)

Tradicionalistas (Mboma)

Etnicistas (18 Classes e 16 Tribos)

• Radicalistas • Puritanos • Misticistas • Reformistas • Ana Ngunza • Pragmáticos

• Radicalistas • Misticistas • Reformistas • Filhos dos Bons

Seguidores • Pragmáticos

• Misticistas • Reformistas • Pragmáticos

• Radicalistas • Misticistas • Reformistas • Pragmáticos

Até que ponto podemos encontrar algum denominador comum entre as quatro categorias de revivalistas Tocoístas e suas respectivas tendências internas? As evidências mostram existir sim um denominador comum76, não obstante que com o passar do tempo, a matriz ideológica-doutrinária de cada uma das categorias vai se firmando cada vez mais, fruto das suas experiências, emergindo assim novos elementos culturais no seio destes e que estão a produzir variações nos aspectos identitários destes: presentemente estamos perante uma identidade Tocoísta Padrãe suas respectivas variantes. A tónica do activismo Tocoísta está marcada pela existência de uma ordem Tocoísta constituída por

76De acordo o JET-Jornal Evangélico Tocoísta, edição nº 10, de 23.11.2010, pág. 16, “1. Todos os Tocoístas

acreditam em: Deus Pai, o Todo-Poderoso; Nosso Senhor Jesus Cristo, o Salvador; Espírito Santo, o Consolador, Instrutor e Guia; Venerável Dirigente Simão Gonçalves Toco, o Mensageiro de Deus, Bom Pastor; Igreja de Nosso Senhor Jesus; Cristo no Mundo, relembrada em 25.07.1949; Bíblia Sagrada, o Livro Sagrado. 2. Têm ainda: os mesmos Mandamentos da Lei de Deus; os mesmos Preceitos da Igreja; os mesmos Ritos; os mesmos hinos centrais (Rei do céu andará, Voluntários de Cristo em fileira, Quando a vida terreal findará, Quando o Senhor Jesus regressar e Hinos de casamento, Santa Ceia e fúnebres); os mesmos dias de celebrações: 5 de Abril (em 1943, o Profeta Simão Toko funda o Coro de Kibokolo do qual nascera a Igre-ja, no ex. Congo Belga); 25 de Julho (em 1949, desce o Espírito Santo e a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo é relembrada, isto aconteceu na cidade de ex.Leopoldville, actual Kinshasa - RDC, na altura sob o domínio Belga); 22 de Outubro (em 1949, o Profeta Simão Gonçalves Toco e seus discípulos são presos pelas autoridades colonialistas belgas no ex. Congo Belga); 31 de Agosto (em 1974, o Profeta Simão Toco regressa em África proveniente dos Açores -Portugal onde cumprira 11 anos de cativeiro); 25 de Dezembro (ano 7, nasce nosso senhor Jesus Cristo «Na-tal»); 10 de Janeiro (1984), após seu desaparecimento físico a 1 de Janeiro do mesmo ano, os restos mortais do Profeta Simão Toco são enterrados na localidade de Ntaya - Maquela do Zombo); 24 de Fevereiro (1918), nasce o Profeta Simão Toco na localidade de Zulumongo-Sadi-Maquela do Zombo, na província angolana do Uige); mesmas datas de baptismo e Santa Ceia: Abril; Agosto; Dezembro.3. Seguem todos a mesma Doutrina. 4. Todos contam a mesma História da Igreja. 5. Dedicam, todos, a mesma reverência à esposa do Profeta Simão Gonçalves Toco, a Dona Rosa Maria Toco, e que reconhecem como sua Mãe sofredora e símbolo de sofrimento da Mulher Cristã em África. 6. Reconhecem os 12 Mais Velhos como verdadeiros iniciadores da Igreja e foram constituídos, pelo Profeta Simão Gonçalves Toco, como principais Sacerdotes da Igreja de Nosso senhor Jesus Cristo no Mundo, com missão análoga dos 12 Apóstolos de Cristo e que vem exercendo desde 23 de Novembro de 1949, data em que foram eleitos por mandato perene. 7. Respondem todos pelos mesmos atributos: Tocoísta, Cristão ou Adorador de Deus”.

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muitos ideais e visões, visto que na sua projecção social, as actuais lideranças Tocoístas não se fiam no mesmo Ideal Tocoísta (ver mais adiante) traçado por Simão Gonçalves Toco, por a desconhecerem. E perante esta dura realidade (dinâmicas, activismos e revivalismos Tocoísta díspares), impõe-se aos auto-denominados«Tocoístas espiritualistas», portadores dos genuínos valores espirituais, a urgente responsabilidade em difundirem o Tocoísmo padrão dentro do Universo Tocoísta, sob pena do mesmo vir a ser desvirtuado como se assiste presentemente, pois, “todos reclamam serem Tocoístas, mas auto-excluem-se; todos apresentam discursos e práticas diferentes contradizendo-se em muitos aspectos; todos têm o seu «Simão Gonçalves Toco» e cada grupo pratica um Vaticínio diferenciado dos demais. É um sacrilégio admitir isto no seio do Tocoísmo ante a presença dos Anciãos Ngunga Ngele, os iniciadores do Tocoísmo e que pouco ou nada fazem para evitarem tais situações anómalas tenham lugar na sociedade, em defesa do património e legado espiritual deixado por Simão Gonçalves Toco no mundo77. Distintos Tocoismos Dentro do Universo Tocoísta, e face ao revivalismo (activismo) e o inactivismo Tocoísta, os quatro grupos são partidários de Tocoismos distintos que são: o Tocoísmo padrão (genuíno), o Tocoísmo Moderno, o Tocoísmo Tradicionalista, o Tocoísmo Popular e o Tocoísmo esotérico muito enraizado em todos. Por conseguinte, as respectivas tendências internas evidenciam por seu turno «Tocoismos» muito mais díspares e contraditórios, a saber: o conservadorismo Tocoísta, o modernismo Tocoísta, o tradicionalismo Tocoísta, o etnicismo Tocoísta. E estes se multiplicaram em Puritanismo Tocoísta, Radicalismo Tocoísta, Misticismo Tocoísta, Reformismo Tocoísta, Pragmatismo Tocoísta, NeutralismoTocoísta, Intelectualismo Tocoísta, Pluralismo Tocoísta, Liberalismo Tocoísta, globalismo Tocoísta, cientificidade Tocoísta, esoterismo Tocoísta, a Tocoistização social, etc. Neste trabalho, não analisamos a questão relacionada com o nacionalismo Tocoísta que surgirá dentro de algumas décadas, uma vez que só agora estar em curso o processo da sua internacionalização no mundo. O que há de factoe que também não nos debruçamos sobre ele, é a tendência regionalista do Tocoísmo em Angola78, muito impulsionada pelo modelo de organização eclesiástica adoptada com a criação das Tribos na Igrejaequeproporcionouaté

77 Podemos ler no prefácio da obra “Profecias de Mayamona” de que «A acção dos “Ngunga Ngele” sempre esteve firmada na acção profética do Dirigente, enquanto fiéis depositários da mensagem de Deus trazida por ele. Estes são testemunhas do que ele disse e fez. Daí que o Evangelho de Cristo que lhes foi concedido através dos seus ensinos e profecias, é a fonte permanente da verdade e que dá vida e orienta a Igreja de Cristo relembrada em África. Todos os Tocoístas e Igrejas, serão verdadeiros, tão-somente se aceitarem este ensino e revelação de Deus, e não só manterem-se fiéis à ela, mas também defendê-la e conservá-la contra todas as distorções ou adulterações. Rejeitar os ensinos dos Anciãos da Igreja, é rejeitar o próprio Mayamona e quem lhe enviou na terra. E torna-se tarefa de todos dar continuidade da missão e mistérios apostólicos, anunciando continuamente ao mundo e aos Tocoístas a mensagem trazida por eles, através da proclamação e do ensino fieis no poder do Espírito Santo. Só por isso, a revelação de Deus à Mayamona conforme foi transmitida aos Tocoístas de 1942 à 1984, nunca deve ser substituída ou revogada por revelações, testemunho ou profecias posteriores a morte do profeta».

78~ Igrejas Regionais em Angola: “Por determinação do Dirigente, existem 16Regiões Eclesiásticas da Igreja em

Angola, sedeadas no interior da República de Angola e representadas na Direcção Central da Igreja em Luanda pelas 16 Tribos. As Igrejas Regionais são as comunidades representativas de crentes, constituídas pelas Classes circunscritas à um determinado espaço geográfico; A Igreja tem o seu principio de divisão territorial que é anterior a independência de Angola”. In: «Manual de Ensino Tokoísta», pág. 154-155.Daí a existência de 05 regiões eclesiásticas na Província do Uige e uma em toda região Sul de Angola. Uma questão para reflexão de todos.

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aqui a existência de 16 Regiões Eclesiásticas em Angola, a saber: as Tribos Sulana, Weste, Nambuangongo, Malange, Luanda, Catete, Muxima, Dembos, Dande, Bembe, Damba, Kibokolo, Ntaya-Maquela do Zombo (e RDC), Norte, Côkwe e N’Dalatando. E em cada uma destas regiões eclesiásticas (Igrejas Regionais), existe uma Direcção regional local que se comunica com as Igrejas e estas as Classes locais, e de igual modo com a Direcção da Tribo em Luanda. Importa que se saibacomo cada um dos grupos e tendênciasreagirá ante a globalização e por conseguinte, como vão globalizar o Tocoísmo num mundo cada vez mais globalizante. Na verdade, a nossa tarefa no próximo capítulo será a de avaliar os desafios do Tocoísmo e o tipo de globalismo a ser evidenciado por cada um deles.

2. O DUPLO PROCESSO DE DIFUSÃO DE VALORES NO TOCOISMO NA ERA

GLOBAL

Antes de entrarmos no que interesse abordar, é preciso recordar que um duplo processo de difusão do Tocoísmo ocorre neste momento: o processo deresgate dos seus genuínos valores que se perderam desde a morte de Simão Toco, notando-se já uma acção interna de Reevangelização dos Tocoístas visando a uniformização dos seus valores no Universo Tocoísta e em simultâneo, vai se difundindo no mundo global estes mesmos valores.Mas se na verdade o Tocoísta vê-se lançado neste duplo processo de difusão, é mister que saibamos qual é a sua missão em concreto, o que vai globalizar e o que aspira no mundo global. Para Simão Toco e o Espírito Santo, Angola foi o país consagrado por Deus para o representar, elegendo-o para sede da Sua Igreja e dos seus propósitos no final dos tempos79. Daí que a finalidade última da acção dos Tocoístas é governar na Cidade Santa do Grande Rei. Tocoanunciaraque“este mundo será entregue à vós Tocoístas que a governarão”.Este é o significado do símbolo de identidade do Tocoísta, a sua estrela de oito pontas que o torna distinto no mundo80. 2.1. As díspares dinâmicas no Universo Tocoísta

As crises que se vivem no Tocoísmo, devem-se a factores exógenos, como a transversalidade territorial e cultural da sua acção, portadora de várias realidades socioculturais, étnicas, políticas e religiosas81, que exigiram uma configuração interna da Igreja de então (1950-1984), cuja estrutura pudesse acomodar e harmonizar esta amálgama de realidades que a

79 Assim está pincelada a ideologia dos Tocoísta. As oito nações que Deus deu o Seu poder para representarem ou

organizarem bem o mundo são: Babilónia, Egipto, Grécia, Roma, França, Alemanha, Inglaterra e América. 80No Manual de Ensino Tokoístapodemos ler na pág. 172-173: “Esta estrela é composta de oito pontas, sendo que

cada uma corresponde a um reino que Deus levantou na terra para fazer reinar a justiça no mundo. Daniel 7:27. Esta estrela tem ainda os seguintes significados: a) Significa a «Luz de Deus para toda a humanidade» e é sinónimo de perfeita harmonia (paz), alegria (júbilo) e música (canto); b) O Selo do Deus vivo que marca os servos de Deus. Apocalipse 7:1-8; c) Mostra que África também recebeu a luz de Deus; d) Simboliza que o reino de Deus está muito próximo; e) Como símbolo religioso, representa os oito reinos que Deus levantou na terra; e) Mas ela existe também em forma de um octograma, constituído pela união de dois quadrados e que formam uma estrela de oito pontas, conhecida entre os Tocoístas por «Ntetembwankilelo», símbolo do povo eleito de Deus no final dos tempos”.

81 Incluindo as das religiões tradicionais como o Kidismo que os Anciãos da Igreja identificaram nos actos dos irmãos do Mboma/IPPL, que passados 60 anos adquiriu uma vitalidade tal, que quase destruía o Tocoísmo nos anos 1982-1983.

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precederam, bem como a factores endógenos como as que analisamos no capitulo anterior, onde os forjadores Misticistas espiritistas estão na origem da emergência de vários acontecimentos que ditaram o percurso do Tocoísmo.

Como consequência, as crises que surgiram na Igreja após 1961, ganharam contornos de feição estruturante e de carácter etnicista, conservadorista, tradicionalista emodernista, que passados 50 anos, irreversivelmente se apresentam como novas tendências revivalistas dentro do Universo Tocoísta. Já as crises do pós 1984, produziram os distintos «grupos» com ideais, visões e horizontes que não se fiam no Ideal traçado por Deus para a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo e que evidenciam distintas dinâmicas activistas, uns mais propensos a reacções positivas (ajustamento) e outros negativas (resistência) face aos desafios que a globalização impõe actualmente ao Tocoísmo.

2.2. Principais desafios do Tocoísmo no âmbito da globalização Dos vários desafios porque passa hoje o Tocoísmo, o principal sem dúvidaprende-se com a sua capacidade de adaptar-se as transformações mundiais, explorando ao máximo as vantagens que a globalização oferece para a difusão da sua realidade e a de estar a altura para responder as inúmeras exigências que as recentes gerações e tendências Tocoístas colocam a Igreja-mãe de Angola, enquanto principal centro e fonte do Tocoísmo.E estes desafios podem ser resumidos nos seguintes:

• Na sua capacidade de internacionalizar-se no mundo, sem que haja grandes desvios ao Tocoísmo padrão, face as fortes influências das realidades socioculturais e políticas dos países onde o mesmo se vai expandindo82;

• Na complexidade da modernidade enquanto fenómeno social que dá substância a globalização e que projecta a emergência de sociedades delivre mercado, de concorrência e de competição, portadora de valores que em muitos aspectos não são compatíveis com os difundidos pelo Tocoísmo. Até aqui vemsetravando um conflito pouco perceptívele que está exigindo do Tocoísmo a flexibilização dos seus preceitosevalores, para que as Igrejas locais ou nacionais possam dar respostas esperadas ao nível das preocupações sociais e espirituais dos seus membros“modernistas”, isto é, socializados muito mais com base nos valores da modernidade. Se não houver ajustamento na próxima década, os Tocoístas Modernistas, Reformistas e Pragmáticos encarregar-se-ão de imporem os seus ideais e logica de vida no Tocoísmo;

• Na relativização cultural que procura padronizar todos os valores culturais e espirituais de acordo a cultura ocidental que se apresenta como um sério risco para o Tocoísmo que está perdendo a sua espiritualidade e essência identitária. Hoje já é visível perante os Tocoístas Modernistas, como estes estão sacrificando alguns princípios Tocoístas em detrimento do «Evangelho Social» e do pluralismo Cristão83;

• A revolução tecnológica (TICs, redes sociais, sites, Blogs e os vários dispositivos

multimédia), está impor aos Tocoístas uma nova dinâmica e outra forma de estar na

82 Já analisamos que Tocoismos são praticados em Angola. Dada a multiplicidades de Tocoismos em Angola -

sua fonte no mundo, corre-se o risco de internacionalizar-se também as várias variantes ao invés do Tocoísmopadrão. 83 O Tocoísmo ao procurar ajustar-se e globalizar-se no mercado pluralista e ao pluralismo Cristão que tanto

vem se defendendo, quer no CICA como noutros fóruns religiosos, pode vir a desfazer-se de parte dos seus valores espirituais (preceitos) que se mostram inibidores ante o relativismo cultural e o pluralismo cristão.

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sociedade global, o que os impulsiona a serem mais actuantes, mas se expõem ao mundo de forma desconcertante (uma abertura ao mundo sem a prévia definição do modelo e estratégia de acção a ser implementado no processo de internacionalização do Tocoísmo). Esta situação deve ser muito bem ponderada para não se criar desequilíbrios e vir desestruturar o próprio Tocoísmo e toda a sua realidade espiritual. A evidência actual pode ser encontrada no facebook, onde se verifica esta angustiante desordem e falta de fundamentos sólidos na acção dos Tocoístas perante o duplo mercado: o do Universo Tocoísta e o do Universo Religioso mundial (Cristão e não Cristão);

• Um dos mais intrigantes desafios do Tocoísmo está relacionado com a inevitável e incontornável necessidade de criação do mercado Tocoista84, (vide 3.2) pressuposto imprescindível para uma real inserção no mercado global. Aqui será posto a prova a criatividade inovadora dos Tocoístas, que neste dilema desobrevivência, terão que decidir e agir muito, mas muito rápido mesmo: ou aderem aos ditames do globalismo capitalista ou terão deenfrentar o alto preço a ser pago pela sua recusa. A oscilação que se verifica no mundo Islâmico é um exemplo disto. Mas partindo do princípio de que o Tocoísmo não está organizado e nem preparado para recusar as imposições do globalismo, resta-lhe a consolação de criarem ao menos o seu próprio mercado no âmbito do globalismo Tocoísta eassim atenuarem os efeitos corrosivos da globalização;

• É também desafio dos Tocoistas, aperfeiçoarem a ciência (a cientificação do Tocoísmo no mundo global), que passa por uma eficiente gestão e exercício do Vaticínio, onde Deus deve ser integrado nos seus projectos socio-religiosos;

• O derradeiro desafio do Tocoísmo residirá acima de tudo, na capacidade dos Conservadores (Radicalistas e Puritanistas)85 em concertarem acções tendentes ao seu activismo (globalismo Tocoísta), apelando o engajamento dos Misticistas. Esta acção proporcionará a difusão de um Tocoísmo menos difuso, menos fragmentado e muito mais orientado aos seus reais propósitos no mundo.

2.3. Desafios do Tocoísmo face ao pluralismo e relativismo cultural

A globalização tem produzido uma consciência planetária e insere-se dentro da perspectiva universalista da humanização dos seres humanos que antes encontravam-se dispersos em suas respectivas culturas, congregados em torno das suas línguas, etnias e estados-nações, mas que por ora estão cada vez mais unidos na terra, até aqui a única que têm para morar. Visto desta forma, a globalização representa um momento impar na humanidade: todos encontram-se num único lugar - no planeta terra. Por isto, o presente pluralismo planetário resulta de um longo processo histórico civilizacional, de incremento dos contactos entre povos, línguas e nações, e compreende tanto o processo de mundialização do nosso universo, como da internacionalização das suas instituições, culminando com a globalização não só da sociedade, mas inclusive dos nossos pensamentos, crenças, valores e tudo que nos rodeia, pressuponde que haja uma «consciência ética mundial» - um pluralismo.

84 A existência de um «mercado Tocoísta» implica necessariamente que se crie uma «marca Tocoísta» para os

produtos dos criadores Tocoístas, o que podemos dizer não ser algo a temer, porque os Tocoístas têm os seus valores que já se constituíram em marcas genuinamente Tocoístas. Agora será necessário que os pensadores Tocoistas os transformem em produtos de consumo para o mercado.

85Na união dos Ngunga Ngele, está o pressuposto incontornável para a unidade dos Tocoístas na sua acção de internacionalização.

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A globalização culturalestá no centro dos demais processos de globalização, pois selecciona e dissemina os valores e a visão do mundo de acordo os interesses da economia liberalista de mercado livre, transformou a própria cultura em mercadoria86, os prepara e os consolida. É partindo do princípio de que a globalização impõeao Tocoísmo o seu ajustamento obrigatório as mudanças que se operam no mundo, corre-se o risco de ficar pelo caminho em caso de sobressaltos no seu activismo, situação que ameaça de que maneira reduzir à zero o papel da Igreja na sociedade global. Daí se pode inferirqueno“encontro dos diferentes87”, são inúmeras as desvantagens que este processo causa ao Tocoísmo:

• A perca da sua identidade como resultado da relativização dos valores, ideais e visão do mundo - produzindo novos horizontes e novas expectativas Tocoístas;

• Desvirtualização e fragmentação (decomposição já em curso) do Tocoísmo face a sua abertura para o mercado global que lhe obrigará a ajustar-se aos valores do capitalismo liberalista;

• O risco da Igreja de Angola perder o seu estatuto de Centro do Tocoísmo no âmbito do surgimento nasdiásporas, de novos espaços territoriais Tocoístas que pela sua pujança social poderão emergir como “Novos Centros Tocoístas” e articular-se também oTocoísmo enquanto religião88;

• O risco do surgimento de «Igrejas, Classes e Sucursais virtuais» sem território e sem pessoal religioso89. Isto fará deslocar o sentidohumanizado de Igreja, produzindo situações actualmente inimagináveis;

A par destes desafios um tanto quanto controláveis (de ajustamento a globalização), surgirão outros de natureza reactiva, de resistência a globalização e estas sim preocupam-nos de que maneira: • A defesa da identidade Tocoísta ameaçada (fechamento ante o relativismo

moral,simbólico e espiritual), forçará os Radicalistas, Puritanistas e Misticistas a erguerem o seu «muro» ante os efeitos nefastos da globalização (cultural, religiosa e espiritual);

• A crise que o Tocoísmo há-de enfrentar no âmbito do pluralismo/relativismo cultural e religioso na sociedade global (mercado), forçará por um lado a sua decomposição, mas por outro, reforçará os sectores mais radicais a encontrarem mecanismos de autodefesa para evitarem o sacrifico da sua identidade e da suadecomposição;

• A resistência ideológicaTocoísta, apelará o Vaticínioem seu socorro, situação que produzirá «novos saberes» na humanidade e acelerará a cientificação do Tocoísmo no mundo global. Confira em 3.2 relativamente a necessidade do aperfeiçoamento da ciência pelos Tocoístas.

86 Em Ciências Sociais esta problemática foi amplamente discutida pela «escola crítica de Frankfurt» quando se

procedeu os estudos sobre o impacto social das Indústrias Culturais. 87Paulo A. Nogueira Baptista, Globalização e as teologias da libertação e do pluralismo religioso, Horizonte:

Belo Horizonte, v.5, n. 9, p.67. dez. 2006. 88O primeiro sinal deste fenómeno foi o que sucedeu há bem pouco tempo na Igreja de Portugal, onde o seu então

Representante procurou quebrar o vínculo com a Igreja de Angola. Teve sanção máximo: expulsão do Tocoísmo. 89 Já se nota a necessidade da existência no Tocoísmo de Web-Igrejas, Web-Vaticínio, Web-Cultos, Web-

Pastores, Web-Secretários, Web-Vates, Web-Fiscais e Web-Anciãos e Conselheiros. Na próxima década o “Web-Tocoísmo” será por demais expressivo, pois, as diásporas e os Tocoistas Pragmáticos ditarão esta realidade.

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2.4. Impacto dos multimédias no Tocoísmo É bem verdade que as novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), já fazem parte do quotidiano dos Tocoístas e por meio delas, estes vêem evidenciando a sua condição de servos do Senhor, procurando ser fiel no que receberam. Mas na verdade, qual tem sido o impacto dos dispositivos multimédias no Tocoísmo? Na generalidade, oimpactodos multimédias no Tocoísmo tem sido estrondoso, pois, desvirtualizaram o natural papel educador dos pais (aos filhos) e dos Anciãos (aos crentes). Senão vejamos:

a. A TV por satélite tornou-se no principal inibidor das actividades dos Sucursais90, desestruturando a base da acção educativa da Igreja e dos chefes de famílias nos lares Tocoístas;

b. Os telemóveis invadiram a esfera do sagrado na Igreja: o templo e o Tabernáculo. E o protagonismo que outrora o Tabernáculo teve em termos de transmissão de informação inter-Igrejas, tende a desaparecer com o surgimento dos telemóveis e da internet. E enquanto mecanismo de comunicação até aqui utilizado pelos Tocoístas, esta situação poderá remeter o Vate menos instruído a um conflito quanto ao desempenho do seu papel na Igreja;

c. A internet nos centros urbanos diminuiu o protagonismo dos Vates como recurso de comunicação inter-Igrejas e entre responsáveis;

Mas que proveito o Tocoísmo pode tirar destas inovações tecnológicas a disposição de vastas gerações de Tocoístas? Partindo do que se observa actualmente nos Tocoístas,muito particularmente nos Tocoístas Pragmáticos, os vários dispositivos multimédia, desde os MP3/4/5, Ipod, Ipad, Ifone, etc, são um poderoso meio para a difusão audiovisual não só do Evangelho de Cristo, mas também de todos os valores que conformam a realidade Tocoísta e que deve ser aproveitado pela Igreja. O mesmo se pode falar dos sites, blogs, youtube, Skype, as redes sociais (principalmente o Facebook e o Twiter) que oferecem inúmeras oportunidades de comunicação rápida, dinâmica em tempo real. Hoje, passou a ser anormal qualquer organização, grupo ou pessoa não possuir uma conta numa das redes sociais. E é o que neste momento está a ocorrer no facebookcom os Tocoístasdealgumas gerações, que se tornou na maior montra que congrega a «Intelligentzia Tocoísta», onde cada grupo de Tocoístas91 procura expor a realidade da sua Comunidade, Direcção, Classe, localidade ou grupo a que pertence, ressaltando o quanto os Tocoístas não comungam na totalidade a mesma história, doutrina, identidades e práticas cristãs. Isto

90 Segundo o Manual de Ensino Tokoísta pág. 156-157, Sucursal“é a célula (núcleo) de oração onde os irmãos

que comungam a mesma fé adoram o Senhor diariamente... funciona nas residências dos membros da Igreja e realizam-se todos os dias no período nocturno das 19 às 20 horas e estão dependentes funcionalmente da Classe e metodologicamente da Direcção Pastoral (catequese) e do Tabernáculo (Vaticínio)”.

91O revivalismo Tocoísta está constituído pelos seguintes grupos: 1. Revivalistas Conservadoritas - Ngunga Ngele; 2. Revivalistas Modernistas - Cúpula; 3. Revivalistas Tradicionalistas - Mboma; 4. Revivalistas Etnicistas - 18 Classes e 16 Tribos; Mas estes grupos apresentam varias tendências internas: a dos Radicalistas (Conservadoristas, Modernistas e Etnicistas); a dos Puritanos (Conservadoristas); a dos Reformistas (Conservadoristas, Modernistas, Tradicionalistas e Etnicistas); a dos Ana Ngunza (Conservadoristas); a dos Misticistas (Conservadoristas, Tradicionalistas, Modernistas e Etnicistas) e a dos Pragmáticos (Conservadoristas, Modernistas, Tradicionalistas e Etnicistas).

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é por demais compreensível, se tivermos em linha de conta o passado recente da Igreja, marcado por separações, conflitos e dissidências. E a partilha do mesmo espaço virtual aproxima e contribuí positivamente para que os Tocoístas tenham uma postura mais virada a construção da Igreja do amanhã, alicerçada no mesmo Ideal, legado e ensinamentos de Simão Toco e nas orientações do Espirito Santo. O conhecimento da história da Igreja, doutrina, anúncios, feitos, práticas e profecias de Simão Toco é muito necessário para cada Tocoísta neste espaço virtual. E esta acção na verdade, possibilita a muitos Tocoistas terem uma noção mais próxima do genuíno Tocoísmo, diminuindo o distanciamento que os separava até aqui. Mas é bem verdade que este espaço virtual Tocoísta onde se notabiliza o pluralismo Tocoísta, tornou-se num fórum de convergência e divergência de Tocoístas, capitalizando assima atenção dos quatro grupos atrás referenciados e nele se está travando uma silenciosa batalha sobre o Tocoísmo. Com esta difusão, o Tocoísmo trabalha já no resgate dos seus genuínos valores que se perderam desde a morte de Simão Toco, uniformizando-os no Universo Tocoísta. O desafio está lançado, pois, transformar o Tocoísmo e a sua cultura numa marca, será sinónimo de torna-lo numa religião universal, com raízes bem firmadas em Angola. Estes são os principais efeitos que o processo globalização vem produzindono Tocoísmo e que mais dia, menos dia forçará a sua reacção ante o relativismo cultural e religioso.

2.5. O globalismo Tocoísta no mercado global

Segundo os experts entendidos na matéria, a globalização enquanto ideologia (globalismo), ou seja, a visão do mercado mundial na perspectivaneo-liberal,o mesmo vem gerando a «americanização» do mundo, com consequências trágicas em muitas sociedades. O Tocoísmo ressente-se desta realidade e terá de enfrentar o globalismo cara-cara se quiser sobreviver. E isto pressupõe a recusa do modelo de globalização imposta até aqui pela ideologia neoliberal92, e produzir, por sua vez, o globalismo Tocoísta dentro da perspectiva salvífica relembrista93, não-(neo)liberal. Situações desafiantes surgirão, com vista a configuração do «mercadoTocoísta» numa perspectiva comunitarista94, tarefa que deverá ser realizada pelos ideólogos

92«Do ponto de vista económico, político, social, cultural e também religioso, a globalização promove uma

“padronização” empobrecedora, produzindo consequências nefastas e profundas: “A ‘aldeia planetária’ tende a converter-se em mercado mundial. De fato, o imperialismo desse tipo de economia do sistema econômicoatual é gerador de miséria para três quartas partes da humanidade”, na visão de um teólogo da TdPR (GEFFRÉ, 2001, p. 85). Isso atinge a identidade dos povos, inclusive religiosa, provocando “fragmentação que conduz às crispações identitárias e às rivalidades violentas para a conquista do podereconômico e político” (GEFFRÉ, 2001, p. 85)». Paulo A. Nogueira Baptista, Globalização e as teologias da libertação e do pluralismo religioso, Horizonte: Belo Horizonte, v.5, n. 9, p.68. dez. 2006.

93Álvaro (2011:15) define a Ideologia Tocoísta como sendo “... o conjunto de ideias, valores, princípios, crenças e atitudes intrínsecas a natureza dos adoradores de Deus que aspiram alcançar a Cidade Santa do Grande Rei, a Nova Jerusalém e que condiciona a sua experiência e interesses”. Afirma ainda que “antigamente foi dito: ‘não haverá salvação sem que venha dos Judeus?’ S. João 4:22. Para os Tocoístas, agora a salvação virá por intermédio dos adoradores de Deus da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo - Os Tocoístas”.

94Já aqui o dissemos que o comunitarismo privilegia a solidariedade social, mas admite e respeita as pequenas iniciativas individuais e privadas.

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Tocoístas(Mensageiros, Vates, Visionários e outros pensadores Tocoistas) e pela Intelligentzia Tocoísta. Confira em 3.2. Daí que o globalismo Tocoísta enquanto desafio de sobrevivência do Tocoísmo ante o mercado, deve centrar-se:

• Nas implicações da ideologia neoliberal na vida dos Tocoistas e da sociedade global; • Na defesa da dignidade da pessoa humana; • E no dialogo inter-cultural e inter-religioso que deve existir na humanidade.

Este processo também não poderá ser desencadeado sem que para tal se transforme a cultura Tocoísta num produto para o mercado global, e se trabalhe já dentro do Universo Tocoísta para que o pluralismo e relativismo Tocoísta não se desviem dos seus genuínos e espirituais valores (preceitos), ultrapassando assim o actual dilema destes quanto a aceitação social dos ditames de Deus (ditos e feitos de Simão Toco) em detrimento dos valores da modernidade que os opõem grandemente e os afastam de Deus95.

3. POSSÍVEIS REACÇÕES DO TOCOISMO ANTE O GLOBALISMO Desde o seu surgimento e ao longo de todo seu percurso, o Tocoísmo sempre esteve exposto perante contextos desafiantes que lhe impuseram vários condicionalismos para a sua sobrevivência enquanto instituição e realidade social, mas este sempre soube estar a altura dos desafios que se lhe colocaram, criando vários mecanismos de ajustamento as circunstâncias adversas, não obstante os seus «efeitos perversos» gerarem situações indesejáveis ou mesmo novas realidades no Tocoísmo96.

95 Foi esta questão que o anónimo autor Português da revista Prisma levantou em Agosto de 1974 na sua carta aberta à Simão Gonçalves Toco: “Nesta problemática vejo o ponto principal da minha discussão com Simão Toco. No momento messianístico não posso ver uma degeneração, mas só uma perfeição duma religião sincrética. Eu penso que com a sua autoridade...e sua personalidade carismática, o senhor Simão Toco pode realizar em Angola uma obra exemplar para o futuro da evolução religiosa em todo mundo. Não limite a sua actuação no quadro actual até agora reduzido sob pressões exteriores, mas que com a sua filosofia característica do princípio, traduza e desmistifique as palavras dos dias passados, e toda ... «humanidade há-de» entender o valor do seu ensino. Cristo não queria a injustiça, a brutalidade, a arrogância e o materialismo …, mas sim a fraternidade, o amor, a alegria e espiritualidade como os africanos conheceram entre si. Estes seus ensinos têm uma significação enorme na situação actual do nosso mundo. Todos dependemos duma revisão dos valores. Conceito que indicam as ameaças para a humanidade: insensatez, imoralidade, anonimidade, industrialização total e a produção como o princípio supremo, descrevem a vida nos países da Europa e na América. Possa o Simão Toco intensificar consequência dos seus apelos antigos, o combate contra estes obstáculos dum verdadeiro progresso humano. Não deixe estiolar a sua comunidade a uma seita religiosa entre muitas outras parecidas, mas ocupe o seu lugar em frente dos Quimbanguistas, integrando e alinhando-lhes na sua filosofia ampliada e actualizada e iniciando assim um grande movimento. Um movimento da salvação mundial a realizar, inspirado e iluminado pelo Espírito Santo, seguindo o exemplo e a vontade de Jesus Cristo. Um tal fenómeno sincrético africano Cristão distinguir-se-ia entre todos os outros até agora nascidos, os quais nunca foram um facto activo na evolução sociocultural nas respectivas sociedades, em contrapartida aos cultos da gnosis, que definiram também a filosofia do seu tempo. Seria uma força que podia influenciar a marcha do mundo, comparável talvez com o calvinismo, ilustrado por Max Weber como elemento de arranque no desenvolvimento do capitalismo e factor importantíssimo na formação, sobretudo da sociedade americana. Estou convencido que o seu movimento renovado vai ter um futuro grande, ficando fiel aos seus valores originais e aproveitando as suas possibilidades num quadro não limitado pelas fronteiras de Angola. Sim, ajude Angola a desenvolver-se num país de gente feliz guardando os valores tradicionais dos seus povos. Mas além disso, leve à gente de todas as cores, os bens do homem negro: a sua alegria, a sua sobriedade, a sua solidariedade, o seu amor à natureza e a sua intimidade com o sobrenatural”.

96 São os casos do aparecimento das Tribos, das Classes, dos 12 Vice, dos Sacerdotes, dos Mayembe, sem falarmos das deportações, desterros quer geraram a regionalização do Tocoísmo.

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É visível que o Tocoísmo soube triunfar perante fenómenos colossais, como o do repatriamento de cerca de 3.000 Tocoístas do ex-Congo Belga (actual RDC) para Angola de 1950 à 1953, o da emergência do moderno nacionalismo angolano (1950-1974) justamente no período da implantação do Tocoísmo em Angola, o da descolonização de Angola (1961-1975) marcado por desterros, deportações e exílios dos Tocoistas, o da independência nacional e de instauração de um Estado guiado pelos princípios da ideologia Marxista-Leninista (1975-1992) ou mesmo com o reacender da guerra civil que assolou o país de1992 à 200297. E hoje, o Tocoísmo vê-se confrontado com a globalização que lhe impõe novos e sérios desafios para a sua sobrevivência como realidade social.Os Tocoístas são unânimes em afirmarem que mais uma vez darão a volta a situação. 3.1.Possíveis reacções o Tocoísmo a globalização

Pelo que se vem dizendo até aqui, é imperioso que se compreenda como a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo e os Tocoístas lidarão com este fenómeno que lhes exige rápidas respostas ao conjunto de transformações globais, sem no entanto perderem a sua identidade ante a padronização cultural que relativiza os valores culturais dos povos no mundo global. Numa antevisão dos cenários possíveis àreacção do Tocoísmo a globalização,poderemoster:

� Um ajustamento do Tocoísmo (em curso) à globalização nas suas várias dimensões, criando-se assimnovas realidades sociais Tocoístas que lhe permitirão tirar o máximo proveito das oportunidades e vantagens oferecidas por este fenómeno;

� Um segundo cenário queserámarcado pela resistênciado Tocoísmo aos aspectos negativos da globalização que possam devasta-lo, e as prováveis reacções irão desde o seu fechamento, as tensões, até o desencadear de violências para com outras culturas, realidades sociais e religiões.

As duas prováveis reacções Tocoístas (positiva e negativa) ante a globalização, hão de ter sérias implicações na sociedade, na vida da Igreja e do Tocoísta em si.

3.2. A criação do «mercado Tocoísta» como pressuposto imprescindível para uma real

inserção do Tocoísmo no mercado global (Reacção de ajustamento) No actual cenário da globalização, os Tocoístas para conquistarem a sua posição no mercado global deverão possuir «produtos» e «serviços religiosos e sociais» voltados para o «consumo98» e a satisfação das necessidades específicas destes, e que os venha fortalecer edignificarpsicológica e espiritualmente. Mercado Tocoísta A globalização cultural e económica apresenta vantagens e desvantagens aos seus actores, pois, pressupõe que haja uma padronização dos valores culturais dos povos e civilizações que

97 Este período ficou marcado por um êxodo rural de jovens do Ntaya para Luanda e não só, bem como do caso

«destruição do tabernáculo no Palanca» protagonizado por jovens Puritanos do Ntaya radicados em Luanda, em retalhação da acusação em Maio de 1999 pelo grupo Mboma dos Anciãos Puritanos à UNITA que os raptou até Kimbele.

98 Não se pode perder de vista que estamos na era das sociedades de consumo.

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participam no mercado global.E a inserção neste mercado global permite não só a ampliação da esfera de actuação de cada actor que conscientemente assume correr vários riscos, mas simultaneamente também lhe oferece múltiplas oportunidades, dentro de um ambiente de acirrada competitividade entre os vários concorrentes que participam dele e perante os mesmos clientes. Logo, podemos aferir que a presença Tocoísta no mercado global pressupõe ter uma estratégia segura de participação, sem a qual, entrar no mercado será um suicídio altruístapré-anunciado. Aqui, a criação do mercadoTocoísta99funcionará como um mecanismo que visa por um lado difundir e internacionalizar os valores Tocoístas, e por outra,proteger e conservarestes mesmos valores para que se possa atenuar os actuais efeitos corrosivos da globalizaçãoperante a Igreja. A existência de um «mercado Tocoísta» inserido no mercado global, implicará também a existência de «produtos e marcas Tocoísta» ao serviço dos «consumidores» que se identificam com o produto e do seu respectivomarkentig. É por demais sabido que os Tocoístas são ricos em valores que deverão ser transformados em «produtos de mercado». A lista é enorme, mas vamos nos limitar nos seguintes:1.na simbologia Tocoísta; 2. no nkembu; 3. Namúsica e no hino Tocoísta; 4. nos serviços de cura espiritual; 5. no Vaticínio; 6. no estilismo Tocoísta (a moda); 7. no turismo religioso (produto turístico Tocoísta-lugares de memórias); 8. Na literatura, dentre outros. O aperfeiçoamento das ciências pelos Tocoístas Face a grandiosidade dos desafios travados peloTocoísmona era global, o Tabernáculo terá que ser chamado para instruir o homem no conhecimento técnico-científicosegundo o saber divino - a ciência divina e a intuição divina que ilumina a mentedo homem (a luz divina)100. Pela via do Vaticínio, os Tocoístas para instaurarem o reino de Cristo no mundo ante a actual sociedade desespiritualizada, terão que se empenhar a fundo, a começar pela sua espiritualização. Egerir o Vaticínio para este fim, será uma premissa fundamental na era global,da qual dependerá a sobrevivência do Tocoísmo.E tudo isto passa pela produção intelectual no âmbito da Intelligentzia Tocoísta, mas terá que haver «projectos específicos» que integrem Deus, onde se apelará a sua presença e intervenção directa. Feito desta forma, a produção do conhecimento cientifico no Tocoísmo (a cientificação Tocoísta) será útil à sociedade e oTocoísmo aperfeiçoará as ciências.Como foi dito na Revista Tocomania, edição de 2012, “apesar dos cientistas actualmente declararem que a religião tornou-se objecto de estudo das ciências, mas os Tocoistas terão um contributo muito grande nas ciências. Isto porque têm o Espirito Santo que dita todo conhecimento humanamente produzível. Mas também o Espirito Santo até aqui não accionou este conhecimento no mundo, porque bem sabe que o mundo actualmente é governado pelo império das trevas (por Satanás) que também é um império espiritual, que lança as sombras e trevas à luz no mundo, para que o homem não veje além e não esteje em contacto com Deus”.

99 A existência de mercados mundiais implica a existência de Instituições mundiais que lhes sirvam de alicerce e

que exerçam uma função reguladora. 100 A intuição é “ ...uma das cinco formas como Deus se comunica com os homens e sendo um dom inato, isto

ocorre quando o Espírito de Deus faz subir na mente do homem coisas que não estavam na sua imaginação ou pensamento. Estando a caminho ou no seu lugar, a pessoa sente subirem-lhe na mente instruções, soluções ou chaves das soluções e outras coisas mais sobre problemas diversos. Esta é uma forma de comunicação de Deus com os homens, muito arriscado, porque nem sempre a pessoa dá conta que estão a falar-lhe. A intuição está associada ao dom de sabedoria ou de discernimento, que lhe permite examinar ou analisar os espíritos”. In: «O encontro de Catete e outras manifestações divinas na Igreja de Cristo», pag. nº 24. As cinco formas de comunicação divina no Tocoísmo são: Encarnação, Intuição, Visão, Sonho e Vaticínio.

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Mas primeiro terão que libertar a mente dos Tocoístas que sempre esteve presa nos limites que lhe havia sido fixado no passado101, pois, até hoje falta-lhe a autonomia mental102. Também foi dito nesta revista que o “Tocoísta detém um saber superior ao da racionalidade humana”. Mas o verdadeiro problema está em como e quando usá-lo. Já em 1950 Simão Toco anunciara: “Os Tocoistas frequentarão escolas espirituais de seis meses”. Mbona Pedro em 1950 foi nesta Escola, mas apenas frequentou-a durante 12 dias e de lá saiu de lá como um grande bordador, desenhador e visionário. Agora vejamos: se o que a frequentou durante 12 dias, fez grandes maravilhas em Angola, o que será de quem frequentá-la durante seis meses? É evidente que de lá sairá como um grande génio103. Toco também dissera: “As coisas da Igreja e do mundo estão caminhando em paralelo, mas no futuro, tudo será manifestado e o mundo conhecerá quem é Simão Toco. Cristo virá e estabelecerá neste mundo o seu Reino. E este mundo será entregue à vós Tocoistas que a governarão. Vós jovens, estudem para que tenham conhecimentos da ciência, porque os vossos pais que já não podem estudar, serão arrebatados (mlayswa a singa mlayswa) durante três dias para adquirirem estes conhecimentos e que lhes permitirão governar. Estas coisas de Deus parecem-se com as coisas políticas, mas o que as difere é que na política pode-se mentir, ao passo que na palavra de Deus a mentira não tem lugar, porque mentir é condenável. Deus entregará Angola nas mãos dos Tocoistas. As coisas espirituais não são para brincadeiras. Tudo isto vos será revelado no futuro”. Ideologia Tocoísta, pag. 60.

101“Porquê que o Tocoístaracionalcontinua preso neste limite fixado por Toco? Como se pode concluir, Simão

Toco aqui forma todo o cosmo do ser Tocoísta e do universo. Ele tornou-se o centro da mente dos Tocoistas e disto não há duvidas. Depois dele sair deste mundo e abandonar o seu corpo físico, Simão Toco voltou ao céu em espirito e passou a fazer parte do sistema cósmico de força e luz divina que ilumina a mente humana. E o ser humano já não pode passar para além dos limites que lhe foram fixados; nem pode pensar para além deste limite sem que seja por permissão de Simão Toco, porqueele está no trono da sabedoria divina. Depois dele regressar ao céu, ele passou a ser a sabedoria de Deus. Esta sabedoria que somente foi dado uma percentagem de 10% ao ser humano. Dos 10% de sabedoria divina que o homem recebeu, ele só tem a capacidade de explorar 10% ou seja, 1% da sabedoria divina. Quando o homem explora 15% da sabedoria que lhe é dada, torna-se num superdotado, e 20% torna-se num génio. São os casos dos génios como Newton, Einstein, Da Vinci, e tantos outros”. In: Tocomania, edição nº 01, 2012.

102Os Tocoístas até aqui não conseguirem tirar o máximo proveito da presença do Espírito Santo e da assistência espiritual dos Mensageiros de Deus. Porque o Espírito é uma ferramenta que Deus deu aos Tocoístas e a humanidade; é um candeeiro; é um sol que Deus deu-lhes para iluminar o mundo; é um poderque foi entregue aos Tocoístas para dominarem sobre o poder do império das trevas. E com isto, os Tocoístas tinham que arrombar e levar a sua luz dentro do império das trevas. O Tabernáculo tem estas funções: a de instruir o homem no conhecimento técnico-científico para a vida na sociedade.In: Tocomania, edição nº 01, 2012.

103Sobre a instrução para o Vaticínio, podemos ler noTocomania, edição nº 01, 2012: “Existe toda uma necessidade de haver uma instrução para o vaticínio, para que os Vates estejem bem preparados e assim oferecerem melhores serviços a Igreja e a sociedade. O Vaticínio bem gerido pode trazer progressos para o mundo e é a salvação de África. A tecnologia que Africa procura e que o ocidente oculta e não lhes revela, o segredo desta tecnologia está mesmo no Vaticínio. São instituições Tocoistas que conferem o saber: 1. Coro de Kibokolo; 2. Tabernáculo; 3. Sucursal; 4. Escola dominical para Catecúmenos; 5. Escola de Profetas para formação de Vates; 6. Escola para Mancebos; 7. Escola para Anciãos e Conselheiros e 8. Escola divina para Sacerdotes. Mas qual o modelo da racionalidade dos Tocoistas? Será o do Simão Toco ou o dos Mensageiros? O Tocoísta deverá: ser portador de um poder sobrenatural e de um saber divino; ter acesso a ciência divina; ter a autonomia mental;, uma mente criativa, iluminada (pura e de santidade, sem contaminação do pecado); ser defensor das liberdades fundamentais do homem, promotor da dignidade da pessoa humana e forte sentido humano da vida (humanista); e ser anunciador de acontecimentos vindouros à escala mundial”. In: Tocomania, edição nº 01, 2012.

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3.2. Reacções negativas dos Tocoístas perante os desafios da globalização Já o dissemos, que a globalização enquanto processo de transformações globais que corrói os valores culturas das civilizações, povos e nações, não é um processo pacífico e muito menos se desencadeia sem resistências, pois, para além de produzir mudanças à escala mundial (nova ordem global,capitalismo global, governação global, sociedade civil global, civilização global, aldeia global), é também geradora de dominação cultural, política, económica e espiritual.

Indo de encontro a realidade histórica, cultural e espiritual dos Tocoístas, podemos questionar: até que ponto os Tocoístas serão tolerantes ante os efeitos nefastos da globalização?

O apelo espiritual dirigido ao Grupo Coral Nova Esperança Tocoístahájáduas décadas, segundo a qual deveriam“guardar bem a tradição da sua religião, que sempre estará em contradição com as demais tradições”, reflecte muito bem como os Tocoístas reagirão ao impacto negativo darelativizaçãocultural, religiosa e espiritual.

E não é tudo, visto que a tolerância até aqui evidenciada pelos Tocoistas resultar do aparente agir pacífico e silencioso de Simão Toco. Em momentos críticos da sua história, os Tocoistas manifestaram reacções específicasante situações que lhes afligiam e deste agir Tocoistas e pode depreender:

• Que o agir de Simão Toco e dos Conservadores (Radicalistas e Puritanos), tal como o dos seus Misticistas, sempre foi um agir silencioso, sem alarido e sob providênciadivina. É a luta espiritual anunciada e utilizada pelos Tocoistas104;

• Que o agir dos demais Tocoistas tem sido de forma oposta ao agir de Simão Toco e dos Ngunga Ngele, manifestando-se alaridos e reacções visíveis, e em alguns casos assume proporções alarmantes e registáveis.

E quando Toco Simão estivesse em situações de extremoaperto, sua reacção era enérgica e drástica, atitude em parte que se repete com os Ngunga Ngele, cujo silêncio e passividade desgastante é por todos conhecido. Foi assim a quando do repatriamento para Angola em Janeiro de 1950105; voltou a suceder assim em Novembro de 1950 a quando da sua despedida para o Sul de Angola106; ocorreu o mesmo a quando da sua ida a Portugal em Julho de 1963;

104 Este agir foi evidente a quando do repatriamento do Congo Belga para Angola; ao longo do período colonial

durante os desterros, deportações e exilo; a quando do surgimento dos movimentos de libertação, particularmente a UPA; durante a segunda luta de libertação nacional e a quando da ocorrência das 15 prisões que se seguiram de 1976 à 1979. A nível dos Puritanos houve uma reacção enérgica somente quando se pós fim ao Destacamento da ODP do Ancião Domingos Videira que tanto os atormentava no Ntaya.

105 Toco respondendo um dos responsáveis Belgas a quando do repatriamento disse-lhe: “A sua pergunta é boa, mas saiba que não somente suportarei e velarei pela vida e o futuro destes, como também a tua própria vida está nas minhas mãos. Vocês acorrentaram aqui no Congo o Kimbangu, mas à mim não poderão acorrentar. Vão repatriar-me para a minha terra, mas saibam que esta terra também não vos pertence. Por isso, hei-de vos repatriar também. O meu repatriamento para Angola, será também o vosso repatriamento, porque esta terra não vos pertence. Eu vou e voltarei, mas tu irás de vez. Porque quando eu voltar, não encontrarei este Governo Belga”. Profecias de Mayamona, pág. 48.

106“Hei-de seguir ao Sul de Angola, mas saibam que mesmo que os portugueses me encerrem no fundo do mar, receberão sempre as minhas cartas. E caso os portugueses tratarem-me com respeito, eu também resolverei tudo com calma e ainda nos veremos aqui no Vale do Loge. Mas se quiserem mostrar-me a sua força, então, também usarei da força e eclodirá a guerra no país. E se assim acontecer só nos encontraremos lá no cruzamento do

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registou-se outra vez em 1975 quando invadiram a sua residência pelos militantes do MPLA107; e novamente aconteceu em 1982 durante a sua despedida aos Ngunga Ngele do Ntaya e a Tribo Cokwe108, só para citar estes casos. De modo que é bastante previsível como os Tocoistas hão-de agir quer nos momentos de crise aparente, quer nos períodos de extremo aperto. Mas deve-se ter em conta que aqui também serão díspares as reacçõesde cada grupo e tendências internas, assim como são dísparesos Tocoismos evidenciados por estes, suas dinâmicas, seus discursos e práticas, como tivemos a oportunidade de aflorar ao longo desta apresentação em 1.5 e 2.1. E para a descrição destas mesmas reacções Tocoistas ao globalismo, permitam-nos que recorramosa quatro elementos avaliativos: 1. factores que proporcionam reacções Tocoistas; 2. tendências reactivas dos grupos Tocoistas; 3. tipos de reacções Tocoistas e seus actores; 4. implicações destas reacções, quer para o Tocoísmo, quer para a sociedade. 3.2.1. O fechamento-retracção dos Tocoistas

A globalização ao proporcionar o «encontro dos diferentes», cuja dinâmica gera o pluralismo, a homogeneização cultural, impõe aos demaisvaloresque lhes são alheios, e tudo isto cria condições para o crescimento da «globalização dos horizontes» e de uma nova visão do mundo. É aqui onde reside overdadeiroproblema da globalização para o Tocoísmo e de onde provem os factores que produzem o seu fechamento ou retracção, pois, a sua abertura neste «encontro», não só adequa os seus valores ao que é padrão na era global, mas também exige que neguem os «ditos e feitos» de Simão Toco e renunciem a assistência espiritual dos Mensageiros de Deus e toda a sua identidade enquanto «povo eleito de Deus109», isto é, a renúncia da Relembrança enquanto perspectiva de orientação divina para o mundo. Daí os fechamentos dos Tocoistas serem respostas concretas no «encontro dos diferentes», um mecanismo de autodefesa dos seus valores, diante do aprofundamento das desigualdades

caminho”. Profecias de Mayamona, pág. 54.O Cruzamento aqui referido é o Ntaya e que aconteceu em finais de Julho e principio de Agosto de 1962. A guerra aqui aludida é a guerra de libertação nacional.

107 Reagindo a invasão disse: «A Igreja não divide nada! Tanto no Norte como no Sul, a Igreja é só uma. Não podemos dividir Angola em três partes. Eu contínuo com a minha missão. Não posso dividir Angola. Os movimentos está bem. Eu estive nos Açores e não me calei. Como se compreende? Eu não tenho discutido com ninguém e agora as FAPLA volta e meia vêm prejudicar a minha casa? Mas que raio de brincadeira é esta? Se eu quiser revoltar-me, revolto-me aqui em Luanda. Não quero aborrecimentos. Se quiser revoltar-me, revolto-me. A minha guerra é espiritual! Não é carnal! A gente quer paz! Vêm inquietar-nos toda a noite! Só FAPLA. Eu não gosto apresentar queixa. Eu só apresento queixa ao meu Deus. Eu se quisesse, podia apresentar há muito tempo. Eu agora não falo mais ao mundo! Vai rebentar a guerra. Isto tem sido uma brincadeira. A própria guerra ainda não veio. Eu posso morrer, mas lembrem-se disto: VAI VIR OUTRA GUERRA! Não temos armas nenhuma. Aguardem o futuro».Profecias de Mayamona, págs. 131-132.

108 «Quando Deus mudar este sistema iníquo de governação, vós também sereis transformados. Porque é à vós seus filhos que Deus entregará o Reino. Os governantes angolanos tencionam mandar uma comissão para vir ter comigo, mas não estão encontrar a maneira como começarem. Se na verdade virem pedir-me alguma coisa sobre a Igreja, já tenho uma resposta: “Se quiserem que a minha trabalhe, tragam primeiro tudo que me retiraram: São 42 malas de roupas, minhas e das meninas, carros, gravadores, rádios, televisores, dinheiro, etc e os bancos da Igreja que foram destruídos”. Caso não devolvam todas estas coisas, haverá muita pancada. E aqueles que escaparem, darão valor a palavra de Deus. Por isso, quando ouvirdes alguns arrebentamentos na cidade de Luanda durante três dias, não vos assusteis. Mas entrai nas vossas casas, e orai mais três dias, o dobro do ano de 1975. Mas não tenhais medo».Profecias de Mayamona, págs. 144-145.

109 «Antigamente foi dito: “Não haverá salvação sem que venha dos Judeus ” S. João 4:22. Para os Tocoístas, agora, a salvação virá por intermédio dos adoradores de Deus da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo - Os Tocoístas». Ideologia dos Tocoísta, pág. 13.

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produzidas pelo globalismo110, criando para sua defesa um “muro” ao que é plural, diferente e desestabilizador.

Identificados que estão os principais factores que causam fechamentos, cabe-nos agora caracterizar que tendências reactivas são evidentes nos vários grupos Tocoistas, suas reacções, actores e implicações.

Díspares fechamentos no Universo Tocoísta

Apesar de ser uma tendência geral do Tocoísmoperanteo pluralismo cultural e religioso, é visível que grupos Tocoistas estão mais propensos a utilizarem este recurso para a sua autodefesa no «encontro dos diferentes». Também é evidente que os fechamentos entre eles não são uniformes, registando-se três tendências de fechamentos: a) Do grupo em relação aos demais dentro do Universo Tocoísta; b) Do grupo diante das autoridades governamentais (apenas os Modernistas evidenciam abertura) e c) Do grupo ante o globalismo.

a. Fechamento no Tocoísmo

� Conservadores (Ngunga Ngele): No quadro do processo de sucessão de Simão Toco na liderança da Igreja, estes desde 1984 fecharam-se para não perderem o controlo do legado do Tocoísmo herdado a partir do Coro de Kibokolo a morte de Toco. E não só fizeram isto, como também privaram o Tocoísmo todo dos «ditos» e «feitos» de Simão Toco111;

� 18 Classes e 16 Tribo (Deus disse): Ao não encontrarem receptividade dentro do Universo Tocoísta relativamente a sua entusiástica difusão de que, «Simão Toco é Jesus Cristo na raça negra», retraiu-se procurando novas vias da sua acção;

� Tradicionalistas (ala Misticista): Não querem abdicar do seu antigo intento de gerirem todos os processos de dinâmica Tocoísta na região do Zombo. Após sua separação em 29 de Setembro de 1982 junto dos Puritanos no Ntaya, o fechamento continua com estes e demais Tocoistas, com excepção em relação a Cúpula com quem se uniu no quadro da Direcção Universal liderada pelo Bispo Afonso Nunes;

� Cúpula: Sempre manifestou abertura aos demais grupos Tocoistas, na base do princípio de «integração», visto ter a maioria dos Tocoistas sob sua responsabilidade, condição que nunca foi aceite, nem mesmo pelos membros do «Sucursal do Bairro Operário» e esta situação foi responsável pelo fracasso do último processo de reconciliação falhada em finais de 1998.

No quadro do pluralismo religioso e da tendência dos Modernistas em ajustarem-se aos valores da modernidade, e tendo em linha de conta de que os Reformista exigem o retorno do Tocoísmo ao Cristianismo, verifica-se uma retracção dos sectores mais conservadores do Tocoísmo (alguns Radicalistas, os Puritanos, os Misticistas e os Ana Ngunza), erguendo o seu «muro» de separação ao pluralismo religioso e espiritual.

110 A globalização fortalece os fortes e enfraquece os fracos, separa as pessoas, enriquece uns poucos em

detrimento da pobreza de muitos, criando assimetrias e um grande fosso entre ricos e pobres. 111 É salutar a atitude dos Puritanos que no âmbito do trabalho que vem sendo realizado pela Nova Esperança

Tocoista e pela Editora Mumbeliana, disponibilizaram o acervo do Vale do Loge e Ntaya e predispuseram-se a revelar todos factos ocorridos ao longo do percurso do Tocoísmo. Semelhante trabalho também foi feito em Benguela, restando apenas Luanda.

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b. Fechamento ante as autoridades governamentais Como era de esperar, diante das autoridades governamentais registam-se também fechamentos nos três grupos, por existir uma pesadaherança colonial e um deficit muito elevado no relacionamento do Tocoísmo com os movimentos de libertação no período de luta armada nacional112. Com o Estado Angolano, os Tocoistas fecharam-se na clandestinidade no período negro que marcou a ideologia Marxista-Leninista no país e que a Igreja não se verguou113, existindo muitas profecias anunciadas por Simão Toco sobre o assunto e que os Tocoistas ainda hoje aguardam pelo seu cumprimento. O Tocoísmo é uma religião muito rica, não somente em termos de valores e aspectos morais, mas também em termos económicos e sociais. Por isso, são várias as implicações que advêm destes fechamentos, que vão desde a sua auto-exclusão social, gerando muito atraso e pouca contribuição a sociedade, tal como os Conferencistas em Março de 2013 concluíram: “...que a auto-exclusão política do Tocoísmo, tem resultado em sérias consequências sociais, eclesiásticas e espirituais que contribuem negativamente para o desenvolvimento social da própria Igreja”.

c. Fechamento de cada grupo perante o globalismo Quanto a reacção a globalização, muito já se disse. Esta atitude até é compreensível se analisarmos como estes sempre foram hostilizados por todas as forças vivas em Angola e não só. E justamente quando a «paz» chega ao país, eis que surge um terrível e “virtual” adversário que tudo devasta e tudo arrasa. Daí que o Tocoísmo fechar-se-á contra o pluralismo e a padronização de valores, como forma de se defender dos nefastos efeitos da globalização: O Tocoísmo erguerá o «seu muro» diante dos diferentes. Os grupos que mais se fecharão ante a globalização são os que referenciamos no final da alínea a), deste item, pois, os Modernistas e Pragmáticos entregar-se-ão ao pluralismo e por não criaremauto-defesas, correm o risco de serem decompostos pelo globalismo que não admitirá duplicidades de valores no mercado global.

112 Recomendação de Simão Toco: “Todos os Tocoistas têm de ter a mesma fé, oração, orientação e o mesmo respeito para com os nossos superiores ou autoridades do Estado, pagando-lhes todo o respeito. Mesmo que as autoridades nos persigam, temos de manifestar sempre a nossa obediência e é isso que se chama verdadeiro Cristão Tocoísta. Obedecemos tudo que as nossas autoridades do Estado ordenam, menos uma coisa: NÃO ACEITAREMOS E NEM DEIXAREMOS DE ORAR ...; Devem dar a conhecer aos governos a vossa maneira de realizar o serviço de Deus, assim como o vosso modo de vestir. A Igreja não pode mais trabalhar na clandestinidade. E não quero que haja inimizades com os governos, principalmente aos Tocoístas que residem noutros países...; Caso algum governo recuse autorizar que façam livremente o trabalho de Deus, então, todos os crentes reúnam e solicitem aos mesmos governantes, para consentirem a vossa saída deste país”. Directrizes, pág. 112,119 e 120.

113 As relações entre Simão Toco e o governo pós independência foram muito más. Reagindo as 15 prisões de que foi alvo de 22.06.1976 à 31.01.1979, Toco disse: “Não esperava receber tantos maus tratos das mãos dos meus próprios compatriotas, nem sequer os colonialistas portugueses chegaram até este ponto. Mas digo-vos a verdade, que de maneira como tendes me cortejado e despedaçando o meu corpo, assim ficará também despedaçado este país”. Nas suas conclusões, a Conferencia de Quadros realizado em Março de 2013 foi unanime em afirmar “que as relações entre a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo e o Governo da República de Angola, nunca foram boas na medida em que este último sempre procurou aniquilar o Dirigente Simão Gonçalves Toco e a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo e Que o Tocoísmo é incompatível com a politica partidária de acordo com o preceito nº5 da Igreja e do hino oficial da Igreja que diz “Voluntários de Cristo em fileira” ; S. Mateus 22:21. O Preceito nº5 diz que o Tocoísta não deve filiar-se a UPA e em nenhum partido politico que não seja verdadeiramente cristão”..

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Para alguns grupos, o fechamento a globalização trará como implicaçõeso retardamento do seu progresso, expansão e crescimento, mas em compensação, evitará a sua decomposição e ajudará a conservar a sua essência, valores e princípios diante do mundo global.

3.2.2. As tensões no seio dos Tocoistas

A globalização enquanto fenómeno real de grande magnitude que afecta todos, penetrando em nossos contextos sociais, o seu impacto se reflecte nas nossas vidas pessoais, na maneira como pensamos acerca de nós próprios e nas nossas relações com os outros.

A resistência Tocoísta ante a padronização de valores, o processo de empobrecimento cultural e das identidades que fragmenta (fragiliza as realidades sociais locais), situação imposta pela ideologia globalista neoliberal, será sinal de negação do modelo globalista do capitalismo e não será no seio dos Tocoístas um processo pacifico, pois irá gerar tensões. Mas estamos em crer que o bom senso há de prevalecer e os Tocoístas reinventarão uma nova forma de estar na sociedade que se globaliza ocidentalmente. Os factores geradores de tensão no seio dos Tocoistas são vários e vão desde as tensões motivadas pela transversalidade territorial e cultural da sua acção, que é portadora de várias realidades sócio-culturais, étnicas, políticas e religiosas; as diferenças étnicas e o choque cultural entre os Tocoistas (Tribo) e demais religiosos (pág. 53-54); as frustrações dos líderes; as pressões de vária ordem; o medo da homogeneização que está no centro dos debates sobre os efeitos nefastos da globalização, a hostilização política, social e religiosa de que os Tocoístas foram alvos na sociedade até 1983, tal como da desobediência e inobservância das recomendações de Simão Toco, das orientações espirituais, normas e doutrina da Igreja por parte dos Tocoístas.

a. Tensões dentro do Universo Tocoísta O quadro diversificado de activismos no revivalismo Tocoísta, que onde apresenta díspares tendências identitárias e ideológico-doutrinárias revela, é evidente que isto os desvirtua, pois, já o dissemos que“todos reclamam serem Tocoístas, mas auto-excluem-se; todos apresentam discursos e práticas diferentes contradizendo-se em muitos aspectos; todos têm o seu «Simão Gonçalves Toco» e cada grupo pratica um Vaticínio diferenciado dos demais”. Daí serem díspares as tensões que os grupos apresentam no Universo Tocoísta.

� Conservadores (Ngunga Ngele): Tal como nos referimos em 1.5.1, desde 1962 que se evidência visivelmente a disputa entre Radicalistas Conservadoristas e Puritanos, e tudo por causa da Sede Espiritual da Igreja que até 1961 esteve no Vale do Loge, enquanto a Sede Administrativa permanecia em Luanda onde se encontravam os primeiros integrantes dos 12 Mais Velhos. A tensão entre ambos gira em torno da problemática da espiritualidade e do intelectualismo. Por sua vez, regista-se tensõesmuito visíveisentre Conservadoristase os Modernistas desde o período do «Buraco» até o corte de relações oficiais declarado pelos primeiros com o surgimento do fenómeno «personificação» no Tocoísmo;

� Verificam-se relações muito tensas por parte dos Radicalistas, principalmente entre os Modernistas e os Etnicistas, ao ponto destes últimos deixaram de saudar e de recepcionar correspondências oficiais dos demais;

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� Por causa do fechamento dos inéditos «ditos e feitos» de Simão Toco e da sua mística, os Puritanistas e os Ana Ngunza sofrem fortes repulsas por parte de todos os Radicalistas, Misticistas, Reformistas e dos Pragmáticos;

� Já é sabido que os Puritanos e os Tradicionalistas não se cruzam desde 1962-64, altura que se instalou o conflito entre ambos. A principal causa tem sido a recusa do passado altruísta dos Puritanos e do seu protagonismo evidenciado no Vale do Loge e que se repetiu no Ntaya;

� Também é conhecido a permanente tensão existente entre a ex-Cúpula e as 18 Classes e 16 Tribos. Passado décadas, o quadro não se alterou.O santuário e a peregrinação em Catetesão factores que futuramente agravarão atensão entre ambos, para além do reconhecimento que o último espera do primeiro, um formal pedido de perdão relativamente aos males que lhes causaram a quando das escarramuças ocorridas em Domingos João/Catete e em Luanda (15 de Fevereiro de 1987);

� A semelhança dos Radicalistas, os Misticistas também estão sob forte tensão entre si, pois, cada um dos quatro grupo de revivalistas apresenta o seu Simão Toco e evidencia um vaticínio diferente da instituída pelo Espirito Santo na Igreja a partir do Vale do Loge114;

� Os Reformistas que exigem a abertura e o “retorno do Tocoísmo ao Cristianismo”, enfrentam muitos dissabores ante a acção dos Conservadores, Radicalistas e dos Misticistas, que tudo fazem para bloquearem esta tendência reformista que pode pôr em perigo o Tocoísmo no quadro do actual pluralismo religioso.

Uma segunda natureza de tensões entre Tocoistas, pode ser constatado à nível das suas «Tribos115». Partindo do facto de que os Tocoistas na sua separação procuraram preservar a estrutura da Igreja mãe, a divisão da Igreja é em primeira instância a separação dos membros de cada uma das respectivas Tribos nos diferentes grupos Tocoistas, situação que os enfraquece muito mais ainda. Assim sendo, é de esperar que as Tribos de Ntaya-Maquela do Zombo, Kibokolo, Damba, Norte, Sulana, Bembe, Weste e Catete sejam as que maior fragmentação sofreram. As Tribos Norte e Sulana ao serem as de maior extensão territorial e que mais Tocoistas possuem, são igualmente as que enfrentam realidades e dinâmicas socio-culturais que muito pressionam a Igreja no sentido de lhes conferir um «novo estatuto» que lhes possibilite acomodar e harmonizar as várias tendências e realidades histórico-culturais dos seus povos, áreas e que influenciam na fé evidenciada por estes Tocoistas.

114 A existência de vários pseudo Simão Gonçalves Toco é o principal factor que divide os Tocoistas e gera

vários grupos no seio dos Tocoistas. Importa que os Tocoistólogos procedam um estudo sistematico dos processos que ocorrem nos actuais ressurgimentos e respectivos factores que estão na origem da emergencia destes fenomenos.

115«Na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, as Tribos são representações à nível da Direcção Central da Igreja, em Luanda, capital da República de Angola, das 16 Igrejas Regionais ou regiões eclesiásticas de Angola. Pela missão específica da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo que é essencialmente espiritual, a Tribo na Igreja Central tem dupla natureza: Espiritual, cujos princípios de fé baseiam-se na Bíblia Sagrada, nos Dez mandamentos da Lei de Deus e nos preceitos da Igreja; Administrativa, cujo os princípios de organização, funcionamento e estruturação estão definidos nos Estatutos da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, isto é, o princípio de “Divisão de tarefas”». In: Manual de Ensino Tokoísta, pág. 156.

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Após surgimento do Bispo Afonso Nunes, na tentativa de resolver a tensões conflituais que há muito se arrastavam na Tribo Sulana, fez emergir dentro dela dois grupos: A Tribo de Efraim (Sulanos do Kuanza Sul) e a Tribo de Manassés (toda região Sul de Angola. Estes na sua maioria constituem o Grupo do Bispo Primaz Osório Marcos).

TRIBOS MAIS EXPRESIVAS EM CADA GRUPOS TOCOISTA

Conservadoristas (Doze Mais Velhos)

Modernistas

(Cúpula)

Tradicionalistas

(Mboma)

Etnicistas

(18 Classes e 16 Tribos) • Ntaya/M.Zombo • Kibokolo • Damba

• Sulana • Norte • Damba

• Ntaya/M.Zombo

• Malange • Catete • Cokwê

b. Tensões ante as autoridades governamentais

As tensões com as autoridades surgem devido as desconfianças que os Governos Belga, Português e Angolano sempre tiveram em relação ao Tocoísmo, situação que levou-lhes a tomarem medidas preventivas quanto a uma provável acção politica ou «subversiva» destes116. No pós independência, o quadro de desconfianças não mudou, havendo acções e medidas muito mais duras contra os Tocoistas, pois, no período de 1975-1992, os Tocoistas viveram uma fase de muito «aperto» e exclusão por razões politico-ideológicos. Entre 1987-88, o Governo inclusive imiscuiu-se directamente nos assuntos internos da Igreja, violando-se a Lei Constitucional e o seu principio da laicidade entre o Estado e a Religião, promovendo um processo eleitoral dos Tocoistas na Banca do Militante aos 19.01.1987, do qual resultou a reclamada legitimação da liderança do Bispo Auxiliar Luzaisso Lutangu, estatuto que apenas a personificação veio arrebatar. A partir de 1992, regista-se fortes pressões do INAR-Instituto Nacional dos Assunto Religiosos e do Partido (MPLA) à Igreja e os Modernistas que se mostram muito próximos do Governo e do Partido da situação em Angola, procuram tirar o máximo proveito desta aproximação, muito contestada desde 2008 até pelos próprios Tocoistas.

c. Tensões entre Simão Toco e alguns Entidades

As tensões vivenciadas por Simão Toco servem de referencial quando quisermos avaliar as reacções dos Tocoistas nesta situação. Daí que elegemos algumas figuras de destaque na sociedade angolana, com que Toco travou momentos um tanto quanto sombrios: 1. António de Oliveira Salazar: Simão Toco de 1943 à 1969 manteve com Salazar uma

relação muito tensa, pois, Toco almejava a descolonização de Angola negada pelo então Presidente do Conselho de Ministros de Portugal. E os primeiros contactos oficiais entre ambos datam de Julho de 1946 a quando da Conferência Missionária de Leopoldville,

116 Os vários receios manifestados pelo Governo colonial Português em relação aos Tocoistas, vem provar que

com a sua disseminação em Angola, o Tocoísmo foi um autêntico despertar, cujo processo de «tomada de consciência» dos angolanos desencadeado por eles, repercutiu na ordem social estabelecida em Angola neste período, obrigando os Colonos a reagirem. Daí os desterros, prisões e exílios dos Tocoistas.

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quando Toco e seus adeptos endereçaram-lhe, através do Representante de Portugal na Conferencia Missionária de Leopoldville em Julho de 1946, Senhor Pinto Ribeiro, uma carta onde manifestavam o desejo da auto-determinação dos africanos. Em resposta, Salazar desafia Toco e diz: “contento-me mais em ver um pássaro que canta de baixo da árvore, do que o canta por acima dela”. Por isso Toco afirma: “Convém que eu vá à Portugal. Porque sem que vá, vós não alcançareis o que desejais117”. E a quando da «queda» de Salazar em Portugal, Toco anunciara aos Tocoistas: «Apraz informar-vos que cá, o Mais Velho embicou e girou de tontura118. Ele não contava que as coisas poderiam acabar conforme estão acontecer. Realmente ele é um homem com poderes extraordinários… Contudo, num pequeno jogo que tivemos cá em Portugal, constatei que pelos seus poderes, o Mais Velho ainda conseguia subir até a sexta nuvem. Em outras palavras diria que o Mais Velho tem o 6º ano em ciências ocultas. Pois, quando lhe fiz subir a sétima nuvem, ele já não conseguiu. Por isso, o jogo terminou, a árvore caiu, os ramos se espalharam. Tomem agora o tronco e prendam-no em cadeia fortificada». Felizmente para Toco, Salazar não o conseguir eliminar como era seu desejo ao puxá-lo a Portugal;

2. Mobutu Sesse Seko: Outra figura de destaque que sempre procurou estar distanciado de Simão Toco. E todas tentativas de aproximação de Toco foram um fracasso. O porquê, quem o diz é mesmo Simão Toco: «Sabeis que fui a Kinshasa, na República do Zaïre (RDC) e quis encontrar-me com o Presidente Mobutu Sesse Seko, mas as três vezes que fui a sua residência, diziam-me sempre que não estava. Ele andou a fugir-me. Porque foi aconselhado para não receber-me, pois, caso me recebesse, seria o fim do seu poder. Os seus conselheiros insinuaram-lhe de que “o Simão Toco costuma neutralizar poderes alheios”, enquanto, eu não fui ter com ele com a intenção de tirar-lhe o seu poder de magia, pois, se fosse esse o caso, tê-lo-ia feito mesmo a qualquer distância da terra em que me encontrasse. Eu fui ter com Mobutu, porque queria receber dele um esclarecimento sobre a razão que o levou a mandar matar o Bamba Emanuel. Também, por ter sido ele quem apoiou a FNLA durante a luta de libertação, daí o importante papel que ele tem a desempenhar para a independência de Angola. Pois, se Angola não alcançar a independência como deve ser, saibam que os outros países de África que ainda não estão livres, encontrarão muitas dificuldades para serem independentes. Porque Angola será a base de partida para o banimento do colonialismo em África.

117 Nesta altura, Toco afirmara no Coro de Kibokolo: “Depois de cumprir a missão no Sul de Angola, chegarei em

Portugal para me encontrar com Salazar face à face. Porque quando ele escutar a minha fama, se se dignar vir cá em Angola ao meu encontro, tudo bem, eu não irei. Mas se não vier cá, então irei ao seu encontro. Porque se não me encontrar com Salazar, esta terra jamais será independente. Salazar não me conhece. Mas eu conheço-o. Por isso, hei-de chegar a Portugal para quebrar a cadeia onde mantém presos os países africanos. E digo-vos mais: neste momento em todo os povos e línguas do mundo, não existe nenhum Chefe de Estado ou Rei com poderes semelhantes ou superiores à de Salazar. E o único que pode fazer-lhe frente neste momento, sou eu. Na batalha que iremos travar, caso Salazar vença, Portugal continuará a subjugar os africanos. Mas caso perca, os países africanos que ocupa, ficarão libertos”. In: Profecias de Mayamona, pág. 32 (rodapé n. 54) e 54-55. Em 1950 no Vale do Loge volta anunciar a necessidade da sua ida à Portugal, que somente ocorre em 1962 após a apresentação do Plano de Paz, em finais de 1962 e que foi rejeitada por Salazar.

118 Salazar teve uma aparatosa queda no verão de 1968, quando se encontrava na varanda da sua residência, o que fez com que fosse operado com urgência. Apesar da operação, permaneceu imobilizado até a sua morte em 29 de Julho de 1969. Em Fevereiro de 1975, dirigindo-se aos militar das FNLA, Toco pergunta: «Será que fostes vós que disparastes a arma que atingiu o senhor Oliveira Salazar? Ou fostes vós que arremessastes a pedra que o matou?». Segundo Toco, «Portugal tinha um poder oculto que devorava os homens de Deus, pois, não podemos nos esquecer que foi em Portugal onde saiu à Irmã Lúcia, Vidente de Fátima, que pôs de sentido o Vaticano e o ocidente desde 1917 com o anúncio dos três “segredos” da mãe de Deus. Toco teve duas missões imprescindíveis em Portugal: Resgate dos poderes de Ntotela revestido em Salazar e a bênção perdida de Esaú». In: Profecias de Mayamona, pág 123, 96-97 e rodapé.

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Mobutu fugiu-me com o medo perder o poder da sua magia. Saibam que ele continuará no trono só por causa do problema de Angola, e não pelo poder da sua magia, pois, se assim não fosse, ele já estaria fora do trono. Mas deixem-no resolver o problema de Angola, depois verá como será julgado. E vereis que da maneira como fugiu-me, será da mesma forma como irá fugir do trono quando chegar o tempo do seu julgamento. Ele acabou com o Congo, mas saibam que o Congo voltará». In: Profecias de Mayamona, Pag. 119-120;

3. António Agostinho Neto: Uma terceira e renomada entidade presidencial com quem Toco teve relações complicadas, foi o Presidente Agostinho Neto, não obstante terem vivido e estudados juntos nos anos 30. Na tentativa de mediar o conflito previsível em Angola a quando do Governo de Transição (1974-75), Toco não foi bem-sucedido nos contactos que manteve com o Presidente Neto que o aconselhara: "Senhor Simão Toco, eu conheço-o tão bem, fomos colegas no Liceu Salvador Correia e compreendo as tuas preocupações. Mas quero dizer-lhe o seguinte: A sua carreira é outra e a minha também é outra. Por isso, cuide bem da Igreja e deixe aos políticos resolverem os problemas políticos". Em resposta, Toco retorquiu: “Mas eu não quero meter-me no seu caminho ou no vosso caminho. Estou preocupado com os filhos deste país, porque antevejo para Angola uma guerra cruel, longa e de consequências imprevisíveis. Uma guerra que tem que ser evitada, porque causará muitas mortes. Já que devo sair do vosso caminho, estou agradecido. Mas a partir de agora, espero que também vocês os políticos não se metam no meu caminho, ou seja, não quero que hostilizem a Igreja de Cristo… em outra ocasião, Toco disse: «Deus consagrou um período de 24 anos para Agostinho Neto governar Angola. Mas quando assumiu o poder declarou: “não existe Deus”. Então lhe foram cortados os vinte anos e meio e se lhe deu três anos e meio que começam em Novembro de 1975 e terminaram em Maio de 1979. Durante os meses de Junho, Julho e Agosto; a sentença só foi determinada no dia 10 de Setembro. Deus pediu-lhe a sua alma». In: Profecias de Mayamona, Pag. 146.

4. António Spínola: após o 25 de Abril e libertado que estava Simão Toco, em Setembro de 1974, um mês após o seu regresso à Angola, este retorna a Portugal a convite do General António Spínola, a fim de participar na Conferência de Paz para Angola realizada em Lisboa em finais de Setembro de 1974 visando a descolonização de Angola. Neste encontro, Spínola convida-o a assumir a presidência de Angola independente, mas este recusa tal proposta, situação que aumentou ainda mais as suspeitas dos líderes dos movimentos de libertação contra ele e os Tocoistas: O Senhor Spínola disse: “Olhando para Angola, não vemos outra pessoa que possa aguentar o país. Porque se forem outros a dirigirem Angola, irão destruí-lo. Portanto, para que isso não aconteça, a única pessoa confiada que achamos é o senhor Simão”. Respondeu Toco: «Não, houve aqueles que pegaram em armas durante anos. É a esses que deve ser entregue o país». «Áh, mas esses não servem…Não, entreguem à eles. Se não poderem e se destruírem o país, mais tarde surgirá quem irá endireitá-lo». In: Profecias de Mayamona, pag. 117-118.

5. Diangyenda Kuntima. Nesta prelecção, a última figura que destacamos é o então líder Kimbanguista e filho do profeta Simão Kimbangu, com quem Simão Toco desejou muita aproximação. Mas este, preferiu distância tal como o seu amigo Mobutu119.

119«Durante a minha estadia em Kinshasa, muitos líderes religiosos vinham visitar-me por saberem que me

encontrava naquela cidade; E tinha muito desejoso de encontrar-me com o Diangyenda Kuntima, o filho de

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d. Tensões perante as demais religiões

No quadro da confrontação entre valores religiosos e espirituais em Angola, é mister que as tensões que resultam daí, produzem um efeito retorno aos Tocoistas. Temos a destacar nesta apresentação os seguintes casos: � Igreja Kimbanguísta: A relação entre Tocoistas e Kimbaguistas desde os anos de 1950

em Kinshasa foram tensas. Tudo pelo facto de Simão Toco ter organizado uma Igreja que apresenta muitas semelhanças e afinidades com o Kimbanguísmo. São os casos da cor verde e a denominação utilizada pelas duas Igrejas; o local de origem das mesmas e a «insubordinação» dos Tocoistas que na óptica Kimbanguísta, se poem em pé de igualdade com a obra erguida por Kimbangu Simon enquanto percursor do messianismo Kongo. Actualmente, alguns Kimbanguistas da ala 26=1 reclamam que os Tocoistas plagiaram os seus projectos, nomeadamente, o templo de Nkamba, a indumentária com retractos de Mama Mwilu e Simão Kimbangu, a Escola, etc; de facto, na historiografia Tocoísta, Simão Kimbangu desempenhou o papel de S. João Baptista e coube-lhe a honrosa missão de testificar aos seus adeptos a vinda de Simão Toco nas terras do Zombo ao afirmar: “Apenas vim abrir o caminho daquele que há-de vir. Eu vim ensinar-vos a união de Cristo. O verdadeiro Cristo não é este que os colonizadores trouxeram, pois deturparam os seus ensinamentos. Mas não serei eu, porque serei preso. A minha atrás, virão mais três. Eles prenderão o Simão, mas quando verem que os Bazombo que gostam de comércio abandonarem os seus negócios e seguiram um Simão, então sabereis que ele é superior à mim. Eu serei acorrentado pelos Belgas, mas aquele que vos falo, lhe será dado todo o poder e possuirá uma força extraordinária que homem nenhum neste mundo será capaz de prender-lhe com cordas ou cadeias nos seus braços. Este homem é aquele que enfrentará e dirá ‘vou’ sem receio. E virá completar todo o trabalho e vos mostrará aquilo que deveis fazer. Ele conduzir-vos-á e restaurará a terra da promessa. Ele atrairá à si uma grande multidão e será preso. Posteriormente será enviado nas terras do Bembe onde será colocado num vale”. In: Manual de Ensino Tokoísta, pág. 21. No âmbito do Vaticínio, espiritualmente Kimbangu assume-se como Tocoísta e não Kimbanguísta, ocupando na hierarquia espiritual um lugar não cimeiro à Simão Toco que preside os desígnios de Deus na humanidade;

Kimbangu Simon. E como não o via, julguei que não estava informado sobre a minha presença em Kinshasa, por isso, mandei alguns emissários a fim de avisar-lhe de que tinha chegado, E que tinha saudades suas, tendo respondido que estava informado sobre a minha presença, mas que nada tinha para falar comigo e que não abandonaria os seus aposentos para ir ao meu encontro. Em resposta, enviei novamente emissários dizendo: “Digam a Diangyenda, que eu tenho-o por filho; porque o trabalho que faço é o mesmo que foi realizado pelo seu pai Kimbangu. Eu sou visitante neste país e no respeito da nossa cultura, não é o visitante que vai ao encontro do dono da terra, mas o inverso, pois, eu também tenho o meu país. Se fosse ele a visitar Angola, eu deixaria a minha casa e iria visitá-lo”. Dias depois decidi visitá-lo, mas respondeu-me que não seria possível receber-me no dia proposto, porque já tinha uma saída agendada. Com esta recusa, não pude encontrar-me com ele. E interrogo-me, por que é que o Diangyenda recusou encontrar-se comigo, se ambos estamos engajados na missão de servir o Senhor, sendo realmente um homem de Deus? Será que Diangyenda não me conhece? Então que tipo de homem de Deus é ele? Mas é muita pena mesmo, pois não sabe o que está a fazer. Ele não sabe que eu e o seu pai Kimbangu somos irmãos; e recebemos a mesma missão de Deus9. Eu quis pôr-lhe em contacto com o seu pai Kimbangu Simon. Pois o que ele tem em mente até hoje, é que o seu pai está morto. Kimbangu não está morto, eu sei onde ele se encontra. Eu sei onde ele está. Mas, já que ele recusou encontrar-se comigo, também não tenho que obrigá-lo e ele que continue acreditando naquilo que acredita». In: Profecias de Mayamona, pag. 120-121.

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� IEBA-Igreja Evangélica Baptista de Angola: Filha e herdeira da BMS-Baptist Missionary Society (Missão de Kibokolo) de onde estudou Simão Toco e surgiram os Tocoistas à partir de Kinshasa em 1949, após repatriamento destes para Angola, Toco e os Tocoistas foram tidos como «persona non grata», ao terem afrontado os Missionários e “perturbarem” o trabalho religioso destes na região do Zombo e Bembe. E com a IEBA, registou-se sempre uma relação de distanciamento, não obstante o respeito que Simão Toco nutre juntos de alguns responsáveis desta congregação e seus antigos colegas. A quando das prisões em Leopoldville (1949 e 1950), bem como durante o desterro em Angola (Janeiro de 1950), os Reverendos da BMS foram muito duros nas suas declarações as autoridades Belgas e Portuguesas, quanto a acção dos Tocoistas. Aliás, Toco em Dezembro de 1962 foi clara ao afirmar: “Não é o Estado quem conspira contra os Tocoistas para os prender, mas sim as Igrejas Católica e Protestante”;

� Igreja Católica: O relacionamento sofrível por que passaram os Tocoistas por parte da Igreja Católica data desde o surgimento do Tocoísmo e decorre do contexto da situação colonial, cujo papel desempenhado pela Igreja Católica, diga-se, Igreja do Estado, foi determinante para a colonização. E o messianismo Tocoísta enveredou por uma acção contrária a da Acção Catolica120. Hoje as coisas já não são vistas desta forma, mas as sequelas ainda persistem, embora a nova geração de religiosos agirem muito mais no âmbito do ecumenismo religioso. A peregrinação à Catete e a Muxima por ambas, no futuro gerará concorrência e buscas de protagonismos e acirrará ainda mais novas tensões entre Católicos e Tocoistas;

� Bundu dia Kongo: O ressurgimento do movimento da religião tradicional Kongo procura enaltecer os valores culturais Kongo e tal como os Mpadistas e os seguidores de Nkimpa Vita, apesar de uma certo respeito e reconhecimento que têm do Simão Toco, excluem os Tocoistas dos anais dos feitos no Kongo. Tudo porque consideram-lhes de «traidores do Kongo», ao terem abraçado os Deuses, livros sagrados e religião dos brancos;

120 «É preciso que não esqueçamos que o período que antecede a Relembrança coincide com o do anúncio dos

três segredos em Fátima/Portugal aos três Pastorinhos e o da Acção Católica. A AC - Acção Católica é um movimento transformador de mudança, de recristianização da humanidade secularizada. É também um movimento de reacção à modernidade (secularização) à escala mundial. Com o lançamento deste movimento (entre 1800-1960), a partir do pontificado de Pio VII, Leão XIII, Gregório XVI e Pio IX, a Cúria Romana pretendeu reconquistar a condição de Centro de referência da humanidade e ser um instrumento válido para a recristianização da sociedade modernizante. O Vaticano para ter novamente o controlo da sociedade, concebeu a seguinte estratégia: Procedeu a centralização politico-doutrinaria e afastou as ideias iluministas, liberais e modernistas na Igreja; Reformou o Clero, formando novo Clero, dotando-o de uma política conservadora (criação de instituições afins e reforma do sistema do ensino); aplicou a teoria dos círculos concêntricos, pois, entendeu que para recristianizar a sociedade devia partir do indivíduo para a família, da família para a sociedade e da sociedade para o Estado. Assim voltou a sua acção para o indivíduo mediante a acção discursiva (para combater os males da sociedade moderna emitiu varias Encíclicas) e acção formativa, desenvolvendo a piedade e a caridade (criou varias associações, como Apostolado da Oração, Pia União das Filhas de Maria, Congregação Mariano, etc) e a educação escolarizada, criando um sistema de ensino, com o fim de educar a juventude dentro dos princípios fundamentais da REFORMA TRANSMONTANA E CONSERVADORA. Surgem os seminários Maiores e Menores, os Colégios Femininos e Masculinos, as casas dos rapazes, etc. Este projecto de reforma da sociedade falhou e no período do pós 2ª guerra mundial, a Cúria Romana traçou novas estratégias de reforma social que se cingiram na organização dos fiéis numa Militância mais produtiva, face a existência de Partidos políticos actuantes e de movimentos sindicais e profissionais que ofuscavam a acção do movimento Católica. A AC organiza uma estratégia de acompanhamento do indivíduo em todos os seus momentos e lugares da sua vida: do nascimento à velhice; da cidade ao campo; da religião à política e em todas as actividades. Esta descrição foi feita com base na “Acta Scientiarum” 21 (1): 215, 1999. ISSN 1415-6814, de Ivan Aparecido Manoel, sob título: A ação católica Brasileira: notas para estudo». In: Ideologia dos Tocoistas, pag. 11-12.

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� Igrejas do Espirito Santo (Mpeve ya Nlongo): Existem uma variedade de Igrejas

desta natureza em toda região Kongo, Luanda e Leste de Angola. A CIESA-Conselho das Igrejas do Espirito Santo, por iniciativa do Soba Salomão da MEESA-Missão Evangelica do Espirito Santo em Angola e tendo recebido um impulso do actual Reverembo Tocoistas Samuel Mambu Domingos, procurou pôr ordem na acção espiritual destas pequenas «Igreja», mas sem sucesso. Resta saber, com o passar dos anos, em que pê esta associação se encontra. O factor que gera tensão com os Tocoistas reside na «desordem espiritual» destes, com o agravante de fazerem recursos de algumas práticas espirituais Tocoistas; de muitos hinos de exaltação e invocação dos Tocoistas; de muitas Entidades Espirituais (Anjos, Profetas e Patriarca Hebraicos) que existem no Vaticínio e inclusive, regista-se a presença espiritual do senhor Simão Toco que difundem mensagens e discursos muitas vezes díspares e contraditórias. Mais dia, menos dia, os Tocoistas quererão impor ordem espiritual nestas Igrejas, pois, produzem muita confundibilidade, visto que engendram muitos conflitos nas famílias devido a problemática da feitiçaria;

� Islão: O principal mote da discórdia de alguns Tocoistas, está no facto da expansão Islâmica cercar o Tocoísmo, impondo-lhe uma nova dinâmica na acção religiosa, desafio que os Tocoistas se viram lançados no seu próprio «espaço natural de acção». No seio da “elite Tocoísta”, face a ocorrência deste incidente, há vozes segundo as quais, “os muçulmanos não nos devem ensinar nada sobre religião, porque na nossa terra quando falamos a verdade, não vamos consentir ameaças de ninguém”. Quanto aos dogmas, há muitas afinidades entre ambos, com excepção do tratamento que o Islão da ao género e a politica (não laicidade). Mas as declarações do Bispo Afonso Nunes ao Jornal Semanário Angolense de 11.05.2013, produziu uma reacção enérgica por parte destes nos Mídias, que teve um efeito reflectivo no seio dos Tocoistas121.

e. Tensões diante do globalismo

Uma das questões que desde início procuramos responder face ao “choque de civilizações” foi: como os Tocoistas reagirão ante os desafios e os efeitos negativos que a globalização lhes impõe? Será que continuarão a ser tolerantes? De tudo que expusemos até aqui sobre a acção dos Tocoistas, podemos concluir que eles não são tão passivos como aparentam ser e a seu nível,têm dado as devidas respostas que a globalização merece (ajustamento e resistência). Por isso, em termos de fechamento e tensão, diremos que actualmente verifica-seresistências sem confrontação aberta, mas que a situação

121. Reagindo o Senhor Afonso Nunes que na qualidade de líder da Igreja Tocoísta afirmara de que a “religião

Islâmica é financiada por um banco com o objectivo de apoiar a sua penetração em Angola”, a Direcção da Comunidade Islâmica de Angola - COIA ,replicou dizendo: “… A religião Islâmica é a mais antiga religião revelada que os colonizadores encontraram em África, incluindo na Africa Austral, onde temos exemplos como Moçambique com um norte totalmente Islâmico, com mais de 62% da população Muçulmana; O Islão é uma religião com uma doutrina bem fundamentada há mais de mil anos, que não pode ser comparada com o Tocoísmo que surgiu sem uma doutrina, sem uma ideologia, em fim, uma Igreja oportunista que se aproveitou da presença do colonialismo para se afirmar; Não existe um banco a financiar a penetração do Islão em Angola e a Direcção desta Comunidade se vê no direito de fazer uma exigência, por meios judiciais, para que o Senhor Afonso Nunes venha provar as suas afirmações. A terra pertence toda ela à Deus e quando foi criada, Deus não pediu conselhos ao Senhor Nunes, nem ao fundador do Tocoísmo. Queremos alertar a população Angolana, que o Islão não tem nada que pode prejudicar a sã convivência entre nós”;

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tendem a se tornar insustentável, porque os Tocoistas lançaram-se ao ataque: estão a internacionalizar-se e lá onde vão, haverá também resistências e reacções das populações, culturas e civilizações locais e isto despertará nos Tocoistas faculdades até aqui não exploradas no «encontro com os diferentes». E é crível que perante o contexto de competitividade, ser tolerante ha-de ser sinonimo de fracasso, o que os Tocoistas não admitirão. Recusa do globalismo Do ponto de vista de valores, já se vive tensões sérias no que toca a inibição de muitos serviços espirituais que caíram em desuso (Sucursais, a comunicação a distancia via Vate, a assistência espiritual a enfermos, o Luvuvamu por parte das Senhoras, etc). Os multimédias invadiram os espaços sagrados e nota-se os desarranjos que isto causa na sua acção. Eo Tocoísta moderno sente-se inseguro estar «despido» dos seus multimédias nos locais considerados «sagrados121». E os grupos que mais ressentem este «choque da modernidade globalista», são os Misticistas e os Puritanos, porque os Pragmáticos, Reformistas e Modernistas, sentem muito pouco desconforto estarem munidos destes «arsenais» nos lugares indicados.

3.2.3. Conflitos no seio dos Tocoistas

Em face do que afloramos antes, bem como o crescente hibridismo religioso entre diferentes religiões e credos, e atendendo a concorrência religiosa e o confronto competitivo existente no mercado global, a paz entre as religiões está sendo um novo desafio a enfrentar no mundo. Aliás, as guerras que se vive actualmente no mundo, têm um fundo e uma feição de cunho religioso, resultante da resistência a exploração dos recursos (riquezas) nos espaços religiosamente incompatíveis com a globalização cultural ocidental. E no «encontro dos diferentes», o confronto inter-religioso é um dos mais violentos mecanismos de auto-defesa utilizado por alguns para fazerem face aos nefastos efeitos da globalização, que, como dissemos, está a aprofundar as desigualdades sociais, produzindo muitas mudanças culturais e desequilíbrios em várias sociedades. Por isso, cabe-nos neste último item descrever que tendências conflitivas poderão emergir no seio dos Tocoistas que na generalidade se apresentam na sociedade como cidadãos «tolerantes e pacíficos». Precisamos também avaliar quem são os seus prováveis actores e quais serão as suas implicações.

a. Conflitos dentro do Universo Tocoísta A historiografia Tocoísta nos apresenta um quadro diversificado de acções de confrontação e de conflitos protagonizados por Tocoistas, e uma variedade de factores e formas de reacção, situação que embaraça o nosso trabalho de avaliação, pois, torna muito euxastivo o levantamento e análise de dados. E este não é o nosso propósito aqui. Daí que nos cingiremos apenas naqueles factos conflituais que ao longo do tempo tiveram uma relevância no agir Tocoista.

121 Dentro do Templo, nas reuniões religiosas, nas sessões de oração, nos ensaios dos grupos corais, no

Tabernáculo, no óbito e funeral, nas visitas religiosas, etc.

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� As desinteligências ocorridas entre Tocoistas no Vale do Loge desde 1953 até a dispersão nas matas, produziram conflitos sérios nesta comunidade Tocoísta até aqui não reveladas. A quando da dispersão em Setembro de 1961, estes encontravam-se há muito divididos em dois grupos;

� As rixas e confrontações entre Tocoistas ocorridas entre 1953-1961 em Luanda muito prejudicaram o saudável funcionamento da Igreja, situações que proporcionaram ricas oportunidades a PIDE para engendrar as suas acções de enfraquecimento da acção dos Tocoistas, enquanto moderno movimento messiânico;

� A situação causada por Sebastião Lucila no Ntaya que levou-lhe a suicidar-se em 1970, agudizou ainda mais o conflito entre os do Colonatos e os não Colonatos residentes na Missão do Ntaya até a sua formal divisão em Setembro de 1982;

� O caso Zander que levou ao encerramento da Igreja em 1964 deixou muitas cicatrizes no seio dos Tocoistas, e propiciou maus momentos na vida da Igreja de Luanda;

� A criação de um Destacamento da ODP no Ntaya no início dos anos 80 dirigido pelo Ancião e Pastor Tocoísta Domingos Videira e que culminou na repressão, arbitrários encarceramentos, maus tratos e mortes de Tocoistas oriundos do Vale do Loge e residentes no Ntaya, até hoje deixou marcas traumatizantes na vida de muitas famílias, problema que Simão Toco não resolveu e muito menos as autoridades governamentais e a Igreja conseguem resolver;

� O caso relacionado com o desvio dos 10.500.000 (Dez milhões e quinhentos mil Kuanzas), dinheiro contribuído pelos Tocoistas para a viagem que seria realizada no norte de Angola (6.000.000) em 1981 e para a compra dos instrumentos musicais (4.500.000) em 1982. De acordo a documentação existente sobre o assunto, a Cúpula perante as 18 Classes e 16 Tribo e o próprio Simão Toco, não conseguiu justificar o paradeiro deste valor122;

� A divisão dos Tocoistas no Ntaya em 1982 sob um ambiente de confrontação física, levou alguns Tocoistas à morte e separação de muitas famílias e casais;

� O cerco impingido pela «Cúpula» à Simão Toco na sua residência na Terra Nova de 1979-84 até hoje vivamente reclamado pelos Conservadoristas, principalmente pelos Puritanos, que segundo estes, produziu dramáticos conflitos no Tocoísmo, factos que ainda não vieram a público e que estão na origem da Trombose que Simão Toco vinha

122 O Ancião Vasco Nzila descreve o sucedido: «Neste mesmo ano de 1983, precisamente no dia 29 de Agosto foi

quando surgiram os problemas na Igreja de Luanda, porque neste dia ainda me lembro. A Igreja no ano de 1981/82 tinha contribuído dinhei-ro para a compra de instrumentos musicais. Os nossos músicos e os homens da cultura que tínhamos, no caso concreto o irmão Simão Lázaro, foram ter com o Dirigente e apresentaram a ideia da Igreja contribuir dinheiro para compra de instrumentos. Existe documentos que aproximavam o montante para a compra de instrumentos ao valor de quatro milhões e meio de Kwanzas (4.500.000.00. Naquele tempo era difícil falar-se em milhões, porque era muito dinheiro. Infelizmente com esse dinheiro não se fez a compra dos instrumentos, mas o dinheiro foi gasto. Na verdade, o dinheiro não apareceu e a Igreja lem-brou-se que 1982 havia igual-mente feito uma contribuição no valor de seis milhões Kwanzas (6.000. 000) quando o Dirigente estava para viajar no Norte de Angola e na verdade nem o dinheiro da viagem e nem o dinheiro dos instrumentos apareceu. Quando foi-se ao fundo da questão, chegou-se a conclusão que os seis elementos da Cúpula que estavam envolvidos no problema do dinheiro são: Panzo Filemon, António Ferreira Lopes “Mfwenge”, Lopes Martins Panzo, Samuel Mam-bu Domingos, Ndombaxi Malungo e o tesoureiro Lello Manuel António. quando o próprio tesoureiro Lello Manuel António regressou da viagem, ele encontrou que o assunto ainda não estava consumado, repreendeu os outros de que “não deviam apresentar as contas sem que eu o tesoureiro estivesse presente”. Bom apresentou as suas contas e em vez do saldo crescer, o saldo diminuiu ainda para 450 Kwanzas, enquanto que as mesmas contas feitas pelos representantes das Classes e Tribos, nós encontramos um saldo de 1.750 Kwanzas. O saldo não era igual ao apresentado por eles. E nós indagamos. “Então, o que realmente aconteceu, se nas mesmas contas apresentadas por vós, nós somamos as entradas e subtraímos as saídas, o que estamos a encontrar é um saldo de 1750? Como é que vocês apresentam este saldo de 450 Kwanzas?”. Ai não houve uma justificação que convencesse os membros da Igreja». In: as Crises no Tocoismo, pág. 30-31.

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padecendo desde 1982 sem que a Cúpula autorizasse que lhe fosse oferecido uma assistência médica ao nível da enfermidade, tal até a sua morte123;

� Os vários casos de conflito que foram tratados por Simão Toco na sua residência entre os anos 1979 e 1984124, uns conheceram o seu desfecho, outros não.

A nível dos grupos Tocoistas registaram-se também conflitualidade: � Entre Puritanos e Tradicionalistas: Isto ocorre no Ntaya em 1963-64, agudizando-se

após a morte de Sebastião Lucila em 1970 e volta a ocorrer entre os anos de 1982-84 e Março-Maio de 1999. O fulcro da questão tem haver com o projecto dos Tradicionalistas que pretendem transformar o Ntaya num «Nkamba dos Tocoistas» sob sua gestão, e isto pressupõe a apropriação do túmulo de Simão Toco e de seus pais, e a tutela da sua família consanguíneo;

� Entre Modernistas e Etnicistas: Os segundos continuam acusar os Modernistas de estarem por detrás do seu desaire ocorrido em Domingos João/Catete (1986) e em Luanda em Fevereiro de 1987125;

123 A morte de Simão Toco constitui um dossier que muitos responsáveis Tocoistas temem rever, porque reside

nele factos arrepiantes protagonizados por Tocoistas contra o seu próprio Dirigente. Só por isso, o funeral e consequente enterro de Toco foi um autêntico acto de conflito entre os quatro grupos de Tocoistas aqui avaliados e por falta de consenso, o rituo fúnebre recomendado por Simão Toco para o seu enterro até hoje está por se realizar. No dia 10.01.1984, quem celebrou o acto fúnebre foi um Sacerdote Kimbanguista.

124O caso que mais mexeu com Simão Toco e a Igreja e que deixou sequelas ao Tocoismo foi o do Mboma (que significa Jibóia).O Ancião Pedro Muika (filho), narrou na obra do Ancião Garcia Miala sobre a Génese dos Conflitos do Ntayao seguinte: «Quando houve a reunião sobre o Ancião João Zino na casa do Dirigente, o Dirigente perguntou o nome de todos os rios que estão no Município de Makela do Zombo. Seguidamente, ele per-gunta se trouxeram cassetes áudio para se gravarem as orientações e acrescenta: “O problema de Ntaya já data de longo tempo. De tudo que tratamos ontem, a resolução final será hoje. Qual é a vossa decisão Anciãos?”. O Ancião Panzo Filemon responde: “Dirigente, este problema já iniciou à muito tempo, convém que você mesmo encontres a solução”. Foi assim que o Dirigente ao dizer que “se a sentença dependesse de mim, esses homens mereceriam a morte”, então o irmão Ambrósio Mbengi que estava sentado na comitiva do Ancião João Zino diz: “Dirigente, o que nós vimos, é que «Mboma kafwe, maki kemafwe», isto é, quenem a jibóia e nem os ovos devem morrer”. Então, o Ancião Sebastião Muntu Makunzi em réplica diz: “Sim, deve ser mesmo assim. Mas nós conhecemos essa parábola da seguinte maneira:‘Os mais velhos contaram-nos esta parábola, afirmando que quando a jibóia saiu na mata veio encontrar na capoeira os ovos da galinha e sentou-se à volta dos ovos.A galinha regressando nos seus ovos, encontra a jibóia a volta dos mesmos e então gritou. Quando esta grita, a aldeia toda apercebeu-se da existência do perigo e vieram com catanas, pedras, barrotes, paus e ao veri-ficarem, encontraram a jibóia e nada pude-ram fazer. Então, os mais velhos usando a sua sabedoria, chamaram as formigas kissonde. As formigas quando chegaram, come-çaram a picar a jibóia e esta não suportando o sofrimento, abandonou os ovos e meteu-se novamente na mata. E a galinha voltou nos seus ovos’.Foi assim que nós conhecemos esta parábola”. Então o Dirigente interroga: “Quem não ouviu de que enquanto eu estivesse em vida, ninguém podia profetizar em meu nome nem em nome da tia Rosa?”. Ninguém respondeu. Foi assim que o Dirigente diz: “Por mim, a jibóia que devia apanhar a moca para morrer, seriama senhora Kunga e o regedor João Zino. Porque são eles que foram buscar os maus espíritos que estão a estragar o Ntaya. Todos os rios que mencionei, é onde saíram as sereias que se introduziram no Ntaya e estão a destruir tudo. Aquele lugar onde fui vos colocar, que lugar é?”. Eles responderam: “Estamos na fonte do Lunzamba”; “O quê que este Lunzamba foi?”;“Foi uma aldeia”.“E agora, o que é hoje?”; Porque “é uma lagoa”. E o Dirigente diz: “Cristo é muito misericordioso, porque senão, o Ntaya deveria mergulhar-se na água tal como o Lunzamba”. Depois pergunta: “O que significa Ntaya?”. Ninguém deu resposta e ele acrescenta: “O significado de Ntaya é: Se continuarem a brincar, no futuro vocês hão de fugir. Este problema da Igreja, se vocês não acabarem, será o próprio Cristo quem há-de resolver”. Foi assim que ele disse: “Vão e se entendam. Essas cassetes todas que foram gravadas, são para serem escutadas no fim do culto.Caso não se entenderem, saibam quem virá solucionar o problema da Igreja será o Cristo”. O Ancião Álvaro Manuel acrescenta: Neste mesmo dia, o Dirigente deu o capítulo de Daniel 5:25-29. Este é o capítulo dado ao senhor João Zino pelo Dirigente, porque eu estive na resolução deste assunto desde o primeiro dia e o Dirigente disse: “Senhor João Zino, o teu trabalho terminou. Já não estás direito no caminho de Deus. Vão e se entendam com os outros, as formigas kissonde adiantaram no Ntaya”. Mas quando chegaram no Ntaya, os membros do «Mboma» desprezaram as orientações do Dirigente».

125 Reveja o rodapé nº 48, pag. 20.

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� De acordo com a documentação produzida pelas “Igrejas Tocoistas”, o mensageirismo dos Modernistas enquadra-se na problemática do conflito de poder e serve de um hábil mecanismo de ascensão e conservação da liderança Tocoísta. E este conflito ocorre no âmbito do conflito espiritual dos Tocoistas;

� Entre a UniãoModernistas/Tradicionalistas e os Conservadoristas (Radicais e Puritanos): Actualmente assiste-se um conflito patrimonial e de controlo da família de Simão Toco, que está envolvendo as autoridades governamentais do Uíge e de Luanda. O mesmo aconteceu em Benguela e na Huila entre a União Modernistas/Tradicionalistas e a Direcção Centro-Sul de Osório Marcos;

� Entre Misticistas Modernistas e a ala dura dos Tradicionalistas: Muito recentemente, pudemos acompanhar com muito suspense o caso “Banana Pão” que há um ano paralisou as obras da Igreja no Ntaya e que segundo os residentes desta localidade (de ambos os lados), o caso “Banana Pão” está na origem de algumas mortes que aí ocorreram, incluindo a do Sacerdote Ntemu António e do enfermeiro Pedro Mayamona;

� O derradeiro facto está relacionado com o Zazismo de António Zazaque despoletou em 2012 no Soyo e na Paróquia de Calemba em Luanda. Sabe-se apenas que o Ancião DiunguDiungu tentou liderar um movimento de protesto interno contra o Bispo Nunes, mas parece não ter tido o impacto desejado.

Resumindo, os principais conflitos entre Tocoistas na era global giram em torno da herança e sucessão de Simão Toco na liderança na Igreja e como consequência directa disto, no conflito patrimonial. Os desvios a doutrina e preceitos hão-de proporcionar momentos de clivagens sérias, mas também assistiremos um novo fenómeno pouco perceptível actualmente: A IGREJA POR AINDA NÃO TER ELABORADO UM PROJECTO QUE CONFIRA E SALVAGUARDE O ESTATUTO DOS FILHOS E HERDEIROS DOS NGUNGA NGELE (OS ANA NGUNZA), HÁ-DE ENFRENTAR UM DURO CONFLITO COM OS MESMOS QUANTO A QUESTÃO DOS DIREITOS ACTORIAIS DOS FEITOS DOS SEUS PROGENITORES E TUTELANDOS.

A principal consequência destas reacções tem sido o agravamento do distanciamento entre os Tocoistas e o endurecimento dos discursos e práticas dos seus líderes que não são visionários, visto que por causa do orgulho, fortuitamente sacrificam uma obra erguida por alguns com suor, lágrima e sangue.

Pelas evidências até aqui registadas, os mais violentos grupos no Tocoísmo são: 1. Misticistas Tradicionalistas (Ntaya); 2. Misticistas e Radicalistas Etnicistas (Luanda); 3. Radicalistas Modernistas (Luanda) e 4. Juventude Puritana (Luanda).

b. Conflitos ante as autoridades governamentais O período colonial foi fértil de acontecimentos sócio-políticos que marcaram as várias mudanças sociais e por causa da violência repressiva de que os Tocoistas foram alvos pelos colonos, estes manifestaram neste período actos de confronto aberto contra a situação colonial e a Missionação.

Foram os casos:

� Da revolta massiva dos Tocoistas aos 17.03.1953, na sequência da detenção dos responsáveis da Congregação de Luanda. Em causa esteve a recusa do pagamento de imposto exigido pelo Governo Português126;

126 Segundo Nzuzi António e Mbona Pedro, o governo colonial não honrou o seu compromisso com os Tocoistas, segundo as quais apenas pagariam imposto durante três, fim dos quais seriam libertados.

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� Do uso da estrela em forma de distintivo, mesmo sob forte protesto dos Administradores, Chefes de Postos e Colonos, tornando-se na principal causa de desobediência as autoridades portuguesas;

� Da entoação em Dezembro de 1950 do hino "pela pátria cantaremos" em substituição do habitual hino nacional Português "Viva pátria, viva o povo português, heróis do mar…", durante o içar matinal da bandeira no Posto Administrativo de que os Tocoistas eram obrigados a fazer todos os domingos, isto, na presença do Senhor António Lopes «Poeira». O facto ocorreu no Posto Administrativo (hoje, Administração do Distrito do Rangel) e as reacções não se fizeram esperar127.

� Da realização no Vale do Loge da «greve de braços caídos» como protesto por ter se "proibido os serviços religiosos e a utilização do distintivo, até que se provasse a acusação feita por um deles de que tinha sido condenado a morte pelo Conselho de velhos128".

� Do não acatamento da ordem de saudarem, acenar as bandeirinhas e desejarem boas vindas ao Bispo Católico que foi inaugurar as novas residências, a ponte e a Capela no Colonato do Vale do Loge em 1958. Em sinal de repúdio da presença do Bispo Católico no Colonato, lá onde se encontravam perfilados para o receberem, assim que o viram chegar, deram costas ao Bispo e não acenaram as bandeirinhas que lhes foram entregues129. E quando foram repreendidos por evidenciarem tal comportamento, replicaram em uníssono: "Vocês mandam café. Não mandam Igreja".

Podemos identificar ainda os seguintes actos de protesto: � Sensibilização das pessoas de 1950 à 1961, despertando-as sobre a situação social do

angolano, constituindo-se num acto de tomada de consciência da sua condição de colonizado;

� A utilização de cânticos com tons políticos (exemplos de Mfingi tatu meso mafwa; Voluntários de Cristo em fileira; Pela pátria cantaremos, Nutala vana ndose zeto ntetembwe za nkielelo - reparem nas nossas testas, as estrelas da alva). O canto foi uma poderosa arma utilizada pelos Tocoistas na evangelização e despertar dos angolanos no período colonial;

� Orar com olhos abertos e a cabeça erguida para cima; � Oposição declarada a Igreja Católica e as Missões da BMS e Filafricana/Kalukembe; � Actos de desobediência civil as medidas injustas das Administrações, Chefes de Postos

ou Colonos; � Resistência declarada a ideologia colonial, (ética e traje) e da doutrina Católica e dos

Missionários através da disseminação do Tocoísmo na sociedade colonial (sua doutrina e ideologia foram consideradas subversivas) em desobediência as ordens das autoridades coloniais;

127O hino da autoria de Simão Gonçalves Toco dizia: «Pela pátria cantaremos, temos nação feliz; cantaremos louvor do valente país, desfraldando a bandeira e contra adversário lutar; viva, viva sempre a nossa pátria, com a vitória marchar, marchar». Foi entoado em Dezembro de 1950. E o Poeira reagiu dizendo: "Para, para, para. Quem vos mandou entoar este hino? Angola é província de Portugal. Esperem a vossa vez…", Agostinho (s/d:143). Facto confirmado por Mbona Pedro e Nzuzi António Manuel presentes no acto. O hino foi dirigido pelo Mestre do Coro Dituvwila Miguel, já falecido. 128 António Pais dos Santos da Fonseca Ferrão, relatório da Junta de Exploração do Café sobre os 7 anos de actividades (1950-1956) do Colonato do Vale do Loge, p.38. 129 Factos descritos pelos Relatórios da PIDE e pelos Tocoistas Maria António, Simão Lutonda e Vasco Nzila.

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� Registaram-se ainda outros casos isolados no Vale do Loge, Luanda e noutras localidades, cuja punição resultaram em desterros para S. Tomé, Baía dos Tigres e São Nicolau.

Já na era pós independência, lamentavelmente houve situações menos boas entre o Tocoísmo e o Estádio Angolano, marcadas por actos de resignação e clamor num primeiro momento130 e de reacção em 1986-87 ante as medidas restritivas e de exclusão da governação.

No primeiro momento (1975-88), regista-se um confronto de «discursos e práticas» entre Simão Toco e o Presidente Neto que devido a Ideologia Marxista-Leninista adoptada pelo Estado Angolano, culminou com os acontecimentos de Julho de 1975 e as prisões de 1976 à 1979. Foi o período muito negro para o Tocoísmo. Neste período ocorreram:

� Invasão a residência de Simão Toco em 1975; � Morte de Tocoistas nos bairros por estes não se filiarem aos Movimentos que estavam

em conflito militar (Maio-Novembro de 1975); � Destruição do Tabernáculo do Senhor e invasão da residência de Simão Toco:

22.06.1976; � Prisões sistemáticas desencadeados pelas autoridades e que eram acompanhadas de

maus tratos: 1976-1981; � Recusa do governo para que Simão Toco pudesse viajar ao norte de Angola: 1981; � Encerramento da “Igreja Tocoísta” de 1976 até 1984;

Depois segue-se o período pós Simão Toco, de 1984 até o triplo reconhecimento da Igreja em Maio de 1992. Aqui podemos destacar:

� O caso Ntemu e as reacções da então DNAR - Direcção Nacional dos Assuntos Religiosos;

� O desaire dos Tocoistas em Domingos João/Catete (1986) e Luanda em 1987; � O encerramento da Igreja em 1987-1988131; � A eleição dos Representantes da Igreja na Banca do Militante em Janeiro de 1987; � A colagem Modernista-Governo.

Estes e muitas outras reacções ocorridas, revelam até que ponto os Tocoistas sabem reagir quando está em causa os seus nobres e ideais valores. Aliás, Simão Toco orientou-lhes: “Aceitem tudo do Estado, menos deixarem de orar”. E acrescenta: “Se um determinado Estado não vos deixar orar, organizem-se e abandonem aquele país132”.

c. Conflitos entre os Movimentos de Libertação Nacional e os Tocoistas

Foram várias as razões que estiveram na base deste desentendimento entre os Tocoistas e os movimentos armados, que deveu-se as incompatibilidades evidentes entre ambos, incluindo o

130“Eu não gosto apresentar queixa. Eu só apresento queixa ao meu Deus. Eu se quisesse, podia apresentar há

muito tempo. Eu agora não falo mais ao mundo! Vai rebentar a guerra. Isto tem sido uma brincadeira. A própria guerra ainda não veio. Eu posso morrer, mas lembrem-se disto: VAI VIR OUTRA GUERRA!Não temos armas nenhuma. Aguardem o futuro… Não esperava receber tantos maus tratos das mãos dos meus próprios compatriotas, nem sequer os colonialistas portugueses chegaram até este ponto. Mas digo-vos a verdade, que de maneira como tendes me cortejado e despedaçando o meu corpo, assim ficará também despedaçado este país” TOCO, Simão Gonçalves, 2012, Profecias de Mayamona, pág 132,141-142.

131 Exposição cronológica sobre a situação da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo,feita pelos 12 Mais Velhos, aos 22.11.1988.

132 TOCO, Simão Gonçalves, 2004, Directrizes - Para o melhor funcionamento da Igreja, Luanda, p. 120.

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PDA que era de inspiração Tocoísta. Pois, todos eles apresentaram incompatibilidades ideologias com o Tocoísmo:

• Filiação ideológica. Os Tocoistas adoptam a «neutralidade positiva», isto é, o não-alinhamento a nenhum dos blocos emergidos após a 2ª Guerra Mundial em 1945, para se evitar o retorno à dependência económica e política que estava sendo combatida;

• O carácter violento da luta desencadeada pelos movimentos, largamente teorizada por Franc Fanon, Amílcar Cabral e Mário Pinto de Andrade, contrasta com o ideal pacifista e a postura de neutralidade evidenciada por Simão Toco, particularmente entre 1961 e 1963;

• Postura pacifista e ecuménica de Toco em relação ao conflito, tendo feito uma digressão ao norte de Angola a pedido do Governo Português, apelando o regresso das populações fugidas nas matas em 1961. De seguida, apresenta ao Governo Português uma proposta de paz para Angola133;

• Os Tocoistas desencadeiam a luta espiritual e ideológica contra Portugal, uma luta não armada, ao passo que os principais protagonistas da luta armada em Angola optam pelo uso da violência;

• O carácter unitário do Tocoísmo ante um nacionalismo bastante fraccionado e controverso;

• A falta de formação académica dos líderes Tocoistas, associado ao problema do não domínio da língua portuguesa e do seu fechamento (sem contacto com nenhuma instituição ou governo no exterior) e a inacção dos poucos assimilados Tocoistas, e dos constantes desterros de Simão Toco, propiciaram o distanciamento estes e os movimentos;

• Actuação dos Tocoistas no interior do país, associado a um contacto directo com o colonizador, ante uma luta de guerrilha feita na clandestinidade e dirigida a partir do exterior do país.

E para encerrar o conflito que se instala134 com os Movimentos de Libertação, internamente Simão Toco lança o preceito da «não filiação política135» que vigora ate a presente data.

133“Durante a minha estadia em Angola, fui ao palácio do Estado de Angola, palácio do senhor Governador

Geral para emprestar-me alguns soldados para acompanharem os Tocoistas voluntários de Cristo, A fim de irem em todas as matas de Angola sem armas na mão para prenderem todos os terroristas que abundam nas fronteiras, etc. Mas não sei o que é que o Governo e seus Chefes trataram. Não quiseram, porque julgaram que eu estava a brincar ou estava maluco”. TOCO, Simão Gonçalves, 2012, Profecias de Mayamona, pág 69 e carta de Toco endereçado ao Governador Geral de Angola datada Outubro de 1962.

134Alerta aos Políticos Angolanos: Em 1975 antes da Independência desabafa: «Eu falei aos políticos para se entenderem e repartirem-se os principais cargos. Isto é, se o primeiro mais votado for eleito Chefe de Estado, o segundo pode ser nomeado como Primeiro-Ministro e o terceiro pode ser nomeado Ministro da Defesa. Onde está o mal? O Doutor Savimbi disse-me que ele não tem problema, aceita qualquer uma das pastas, nem que for a de Ministro da Defesa; O senhor Holden Roberto disse-me que ele não tem problema, mas que o problema está com o Neto. E por que não podem entender-se os três?E formarem um governo que inclua portugueses na governação, para vos transmitirem os seus conhecimentos em matéria de governação? Não para vos governarem, mas para vos transmitirem as suas experiências. Isto vos permitirá uma transição pacífica do poder. É preciso notar que os países de África que se tornaram independentes e afastaram completamente os europeus nos seus governos sem que tivessem um período de transição de poder, estão hoje cada vez mais pobres e os povos vivem mal. Muitos povos vivem na miséria por falta de maturidade dos seus dirigentes. Por isso, Angola deveria adoptar uma governação que servisse de modelo para toda África.Os erros cometidos por muitos países africanos não devem ser repetidos em Angola. Porque os angolanos nunca dirigiram o país, então precisam aprender com os portugueses. Os dirigentes portugueses não ficariam cá para sempre. Passariam a ser substituídos paulatinamente à medida que fossem perdendo a sua habilidade física, enquanto os angolanos se irão formando. Apenas os militares deverão ser mudados já pelos angolanos. Saibam que durante o período colonial muitas pessoas não tiveram a oportunidade de

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No período de Transição e do pós independência, Simão Toco reagiu discursiva e energicamente contra os abusos cometidos pelos militares da FNLA na véspera das Independencia136, alertando-os que pagariam muito caro com esta acção, tendo prevenindo também das consequências que resultariam da “governação sem Deus”adaptada em Angola pelo MPLA-PT.

d. Conflitos perante o globalismo Há muito se vaticinou que “o choque de civilizações” dominaria a política global e que os principais conflitos ocorreriam entre grupos e países de diferentes civilizações,pois, as fendas assimétricas entre civilizações que têm na cultura como principal fonte conflitual, haveriam de gerar antagonismos na era global, que associados ao fanatismo religioso desencadeariam situações de desequilíbrios no mundo. E hoje, vivemos exactamente isto. A globalização apenas veio acelerá-los e destapar as diferenças existentes entre culturas, civilizações e povos. A resistência do Tocoísmo enquadra-se precisamente dentro deste cenário mundial que resulta do “choque cultural” entre povos, nações e religiões, cujas reacções aos aspectos negativos da globalização, geralmente tem sido sinónimo de “desejo de resposta” a incompreensões, ao rebaixamento ou mesmo a dependência (sujeição económica, politica, cultural, tecnológica, religiosa, etc). Daí a nossa preocupação em sabermos como os Tocoistas hão deresponder diante “das incompreensões, do rebaixamento e da dependência cultural e religiosa”. Já nos referimos que estes manifestam dois “agires”: o agir silencioso, sem alarido e sob providência divina (luta espiritual) e o agir com alaridos e respostas visíveis que assumem mesmo proporções alarmantes na sociedade. E é um dado adquirido que o Tocoísmo reagirá ante a padronização cultural que resulta da globalização. Também é verdade que a reacção do Tocoísmo no “encontro com os diferentes” produziu fechamentos, tensões e conflitos (violências).Resta-nos tão somente saber que tipos de conflitos poderão ocorrer no seio dos Tocoistas no âmbito da globalização e quem serão os seus prováveis.

Se partirmos das evidências descritas neste terceiro capítulo, veremos que existem duas tendências em termos de manifestação conflitual nos Tocoistas, que são: a de conflitos sem violência e com o uso da força física.

estudarem. A maior parte da população angolana ainda é analfabeta. Por isso, os angolanos precisam formar-se primeiro, só assim poderão substituir os europeus na governação.Foi isso que eu conversei com os três presidentes dos movimentos de luta armada, os senhores Agostinho Neto, Holden Roberto e Savimbi. Mas o Presidente Neto respondeu-me: "Senhor Simão Toco, eu conheço-o tão bem, fomos colegas no Liceu Salvador Correia e compreendo as tuas preocupações. Mas quero dizer-lhe o seguinte: A sua carreira é outra e a minha também é outra. Por isso, cuide bem da Igreja e deixe aos políticos resolverem os problemas políticos". Mas eu não quero meter-me no seu caminho ou no vosso caminho. Estou preocupado com os filhos deste país, porque antevejo para Angola uma guerra cruel, longa e de consequências imprevisíveis. Uma guerra que tem que ser evitada, porque causará muitas mortes. Já que devo sair do vosso caminho, estou agradecido. Mas a partir de agora, espero que também vocês os políticos não se metam no meu caminho, ou seja, não quero que hostilizem a Igreja de Cristo». TOCO, Simão Gonçalves, 2012, Profecias de Mayamona, pág 121-123.

135 O que pressupõe a criação de um partido político "verdadeiramente cristãos", do qual os Tocoistas deverão filiar-se. É ponto assente que em 1963, nem o MPLA, nem a UPA/FNLA, nem o MDIA e muito menos o PDA na altura eram partidos "verdadeiramente cristãos".

136 Estas alertas constam na obra Profecias de Mayamona, p. 121-135.

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d.1.Conflitos sem violência Antevê-se que venham ocorrer dentre vários, três tipos de conflitos desta natureza: os conflitos de valores, o conflito ideológico eo confronto de saberes. � Os conflitos de valores resultam do pluralismo e do relativismo cultural. Muito se disse

sobre esta problemática que produz a padronização de valores para que sejam homogéneos no mercado global. No quadro da globalização do Tocoísmo, esta tendência despoletará nos sectores mais conservadores da doutrina, ética e preceitos da Igreja. Seus actores são: Conservadoristas, Ana Ngunza, Misticistas;

� O conflito ideológico (modelo globalista neo-liberal do mercado) enquadra-se no âmbito da Resistência ideológica: O projecto de acção Tocoísta visa elevar a humanidade a um estado de perfeição espiritual e natural, mediante a conquista e o melhoramento do status social dos verdadeiros adoradores de Deus, tal como a instauração de um movimento de salvação universal inspirado e iluminado pelo Espírito Santo. Esta acção tem por finalidade remover os verdadeiros obstáculos do progresso humano. Logo, este conflito que se arrasta desde a era colonial agudizará, forçando que os Tocoistas adoptem mecanismos de coabitação no mundo. O Ancião e Vidente Mbona Pedro em Benguela disse: “O Tocoísmo no mundo não faz sociedade com ninguém, muito menos com qualquer instituição”. E os ideólogos Tocoistas encarregar-se-ão de dar corpo a esta realidade social;

� Confronto de saberes (cientificação Tocoísta): falamos que os Tocoístas apelarão o

Vaticínio em seu socorro, situação que produzirá «novos saberes» na humanidade e acelerará a cientificação do Tocoísmo no mundo global, aperfeiçoando assim a ciência, corrigindo muitos erros produzidos pelos iluministas nos séculos das luzes e que estão na origem do actual intelectualismo e modernismo ocidental. Esta tarefa será levada a cabo pelos pensadores Tocoistas, com o apoio do Vaticínio;

d.2.Conflitos com violência (o vazio religioso e o aproveitamento que se pode fazer da cegueira de muitos religiosos)

Com este ponto, atingiremos o pico da nossa abordagem, mas infelizmente somos forçados a antevermos que actos poderão manchar a acção dos Tocoistas, a semelhança do que ocorreu num passado muito recente em Angola. E é bem verdade que vários questionamentos são colocados quanto a acção dos Tocoistas e um deles prende-se com o facto da conflitualidade entre os Tocoistas atingir níveis assustadores, com escassas possibilidades de reconciliação. Diremos que três factores concorrem para esta situação: o choque cultural, os conflitos espirituais e o confronto inter-religioso. � O choque cultural já é evidente no mundo, tal como as suas consequências. Por isso,

não é novidade para ninguém afirmar que alguns Tocoistas são propensos a agirem de forma violenta, logo que sentirem “cair” os «muros» erguidos pelos Radicalistas, Puritanistas e Misticistas para defesa da sua identidade religiosa que constantemente tem estado em decomposição e fragmentação (padronizando-se a identidade global, a cultural global, a religião global e a espiritualidade global). Os sectores mais radicais do Tocoísmo procurarão mecanismos de auto-defesa para evitarem o sacrifício da sua fé.

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Uma delas será o desejo de responder as incompreensões, por via do choque directo com o “virtual e real agressor cultural”;

� Os conflitos espirituais (desespiritualização Tocoísta) causada pelos inibidores

espirituais do Tocoísmo (os multimédias e os valores liberalistas da modernidade) e pelos “novos actores espirituais” que apresentam novos discursos e práticas díspares e contrárias aos de Simão Toco e do Espirito Santo. Insere-se nesta problemática, as múltiplas aparições, enviados e ressurgimentos de Simão Toco que produziram muita confundibilidade no Tocoismo. A purificação da Igreja e o resgate dos valores Tocoistas em curso, que proporcionarão o purgamento destes discursos e práticas que já estão enraizados em muitos Tocoistas, será uma outra fonte de conflitos na Igreja, no Tocoísmo e nas famílias;

� O confronto inter-religioso que muito prende a atenção dos cientistas e de líderes das nações que estão no comando das políticas mundiais, é outra inegável realidade no mundo e no Tocoísmo. Manter a actual «paz entre as religiões e credos», tal como entre os Tocoistas, é um gigantesco desafio que o mundo enfrenta, pois, no «encontro dos diferentes», o confronto inter-religioso é um dos mais violentos mecanismos de auto-defesa utilizada por alguns, para fazerem face aos nefastos efeitos do mercado globalista. O conflito patrimonial Tocoista em vista, enquadra-se dentro desta perspectiva de confronto. Este conflito terá várias frentes (internas e externas) e envolverá o Universo Tocoísta no seu todo. Algumas vezes, tal como sucedeu na recente tensão com o Islão, o mesmo funcionará como um factor de união e solidariedade Tocoísta, mas noutras produzirá mesmo distanciamentos.

Mas vamos acreditar que o bom senso venha prevalecer e que os Tocoistas saibam ser humildes e continuarem tolerantes como foi Simão Toco e assim construir-se um Tocoismo inclusivo, virado para a unidade, sem mentiras, mistificações, integralismos, capitulações ou manipulações. Em guisa de conclusão diremos que a globalização, face as transformações que produz, impôs um ajustamento ao Tocoísmo, cujo sectores mais conservadores e radicais procuram mecanismo de resistência diante dos aspectos nefastos deste processo mundial.

Bem-haja Tocoísmo no mundo global

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� S/AUTOR, As estratégias das Pequenas Empresas diante dos desafios da globalização

� Celso Furtado, Os desafios da globalização. http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/desafiosglob2.html