O TRABALHO DO AVIADOR AGRÍCOLA: A ATIVIDADE DE ... · F225t O trabalho do ... a existência de uma...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA AGRÍCOLA JULIANA APARECIDA ALVES DE FARIA O TRABALHO DO AVIADOR AGRÍCOLA: A ATIVIDADE DE PULVERIZAÇÃO AÉREA SOB UMA PERSPECTIVA ERGONÔMICA CAMPINAS 2017

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    FACULDADE DE ENGENHARIA AGRCOLA

    JULIANA APARECIDA ALVES DE FARIA

    O TRABALHO DO AVIADOR AGRCOLA:

    A ATIVIDADE DE PULVERIZAO AREA SOB UMA

    PERSPECTIVA ERGONMICA

    CAMPINAS

    2017

  • JULIANA APARECIDA ALVES DE FARIA

    O TRABALHO DO AVIADOR AGRCOLA:

    A ATIVIDADE DE PULVERIZAO AREA SOB UMA

    PERSPECTIVA ERGONMICA

    Dissertao apresentada Faculdade de Engenharia

    Agrcola da Universidade Estadual de Campinas

    como parte dos requisitos exigidos para a obteno do

    ttulo de Mestra em Engenharia Agrcola, na rea de

    concentrao de Gesto de Sistemas na Agricultura e

    Desenvolvimento Rural.

    Orientador: Prof. Dr. Mauro Jos Andrade Tereso

    Coorientador: Prof. Dr. Roberto Funes Abraho

    ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE VERSO FINAL

    DA DISSERTAO DEFENDIDA PELA ALUNA

    JULIANA APARECIDA ALVES DE FARIA, E

    ORIENTADA PELO PROF. DR. MAURO JOS

    ANDRADE TERESO.

    CAMPINAS

    2017

  • FICHA CATALOGRFICA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    BIBLIOTECA DA REA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE

    Informaes para Biblioteca Digital

    Ttulo em outro idioma: The work of the agricultural aviator: the aereal spraying activity

    from an ergonomic perspective

    Palavras-chave em ingls: Ergonomics, Pulverization, Pilots, Aviation rea de concentrao: Gesto de Sistemas na Agricultura e Desenvolvimento Rural

    Titulao: Mestra em Engenharia Agrcola

    Banca examinadora: Mauro Jos Andrade Tereso [orientador], Wellington Pereira Alencar de

    Carvalho, Sandra Francisca Bezerra Gemma, Marco Antnio Gomes Barbosa Data de defesa: 20-02-2017

    Programa de Ps-Graduao: Engenharia Agrcola

    Faria, Juliana Aparecida Alves de, 1975-

    F225t O trabalho do aviador agrcola: a atividade de pulverizao area sob

    uma perspectiva ergonmica / Juliana Aparecida Alves de Faria.

    Campinas, SP : [s.n.], 2017.

    Orientador: Mauro Jos Andrade Tereso.

    Coorientador: Roberto Funes Abraho.

    Dissertao (mestrado) Universidade Estadual de Campinas,

    Faculdade de Engenharia Agrcola.

    1. Ergonomia. 2. Pulverizao. 3. Pilotos. 4. Aviao. I. Tereso,

    Mauro Andrade Jos,1959-. II. Abraho, Roberto Funes,1959-. III.

    Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia

    Agrcola. IV. Ttulo.

  • Este exemplar corresponde redao final da Dissertao de Mestrado defendida por Juliana

    Aparecida Alves de Faria, aprovada pela Comisso Julgadora em 20 de fevereiro de 2017, na

    Faculdade de Engenharia Agrcola da Universidade Estadual de Campinas.

    ___________________________________________________________________

    Prof. Dr. Mauro Jos Andrade Tereso Presidente e Orientador

    FEAGRI/UNICAMP - Campinas

    __________________________________________________________________

    Prof. Dr. Wellington Pereira Alencar de Carvalho Membro Titular

    UFLA Lavras

    _________________________________________________________________

    Profa. Dra. Sandra Francisca Bezerra Gemma Membro Titular

    FCA/UNICAMP Limeira

    A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de

    vida acadmica do discente.

  • DEDICATRIA

    Consagro esta produo ao meu esposo Douglas pelo apoio incondicional, meu

    filho Otvio grande motivador das minhas conquistas, a Nina sem ela grande parte disto nada

    seria possvel, aos meus pais Sr. Dalmir e Sra. Jacira, irmos Jpiter e Jussara, cunhado e

    cunhada, sobrinhos Felipe, Manuela, Isabela e Eduardo, primos e primas, tios e tias, amigos e

    a todos que fizeram parte deste captulo da minha histria de alguma forma e em qualquer

    proporo, sero lembrados sempre por mim com muito carinho.

  • AGRADECIMENTOS

    Aos meus orientadores os professores Dr. Mauro Jos Andrade Tereso e Dr.

    Roberto Funes Abraho pela sensibilidade e sabedoria para conduzir este trabalho.

    Ao meu grande e estimado amigo Luiz Carlos Fonseca por tudo, pela parceria e

    pela honra de tua amizade.

    Ao amigo e conselheiro respeitado Prof. Dr. Marco Antnio Gomes Barbosa pelo

    exemplo e por viabilizar a oportunidade desta conquista.

    Ao Prof. Dr. Wellington Pereira Carvalho pela motivao, por tanto incentivo e por

    ser a minha grande referncia nesta pesquisa.

    A eficiente e pronta dupla de amigos pela colaborao, Franciele e Lucas Rocha.

    Ao tenente coronel aviador Alexander Simo pelo exemplo de competncia e

    simplicidade para conduzir o que lhe confere como misso.

    Aos amigos Carmem Aparecida Herrera e Frederico Queiroz pelo apoio e pelo

    suporte sero inesquecveis.

    Aos pilotos da aviao agrcola e as empresas fabricantes de aeronaves que

    contriburam e acreditaram nos objetivos desta proposta de trabalho.

    A Secretaria do Curso, pela cooperao e acolhimento.

    Ao programa CAPES/CNPQ pela bolsa cedida para financiamento desta proposta

    de pesquisa.

    A importncia deste trabalho tem incio na partilha de tantas pessoas que se fizeram

    essenciais para o desfecho deste tema. Muitas no sero explicitadas neste trecho demarcado

    pelo espao restrito embora sempre lembradas e reconhecidas igualmente como parte desta

    conquista.

  • RESUMO

    A escassez de pesquisas de opinio, voltadas as atividades do piloto especializado

    em operaes agrcolas e o volume de acidentes, a maioria atribudos a falha humana, foram

    as razes que motivaram esta pesquisa. O objetivo foi qualificar a interferncia dos aspectos

    ergonmicos, atravs da identificao das dificuldades enfrentadas na dinmica de trabalho,

    segundo o ponto de vista dos pilotos. A pesquisa de campo, permitiu investigar e confrontar as

    posies dos envolvidos no setor de aviao agrcola, por meio de questionrios e de entrevistas

    semiestruturadas. Os dados sofreram tratamento quantitativo, atravs do mtodo comparativo-

    dedutivo. Constatouse dificuldades dos pilotos, de ordem organizacional (suporte de equipes

    de solo nas fases de planejamento e execuo das tarefas) e operacional (posicionamento

    desfavorvel da alavanca do flap, do assento, do manche e dos pedais), alm de calor e rudo

    constante, que tambm causam muito desconforto. O contato com partculas do material

    aplicado durante a pulverizao tambm foi identificado como fator de incmodo e

    preocupao com possvel fonte de contaminao pelos pilotos. Para os projetistas de aeronaves

    agrcolas consideram que seus produtos so dotados de recursos suficientes para as operaes

    desta natureza. Esta tambm a opinio do responsvel pelas investigaes de acidentes areos,

    que defende apenas pequenas melhorias nos projetos. Um maior envolvimento dos pilotos no

    processo de melhoria das aeronaves seria fundamental para se alcanar resultados mais efetivos.

    O estudo mostrou por fim, a existncia de uma grande lacuna entre teoria e prtica,

    fundamentada pelos anseios e dificuldades mencionados pelos pilotos para melhores condies

    de trabalho.

    Palavras-chave: Piloto Agrcola; Aviao Agrcola; Ergonomia; Projeto de

    Produto; Anlise da Atividade.

  • ABSTRACT

    The scarcity of opinion polls, focusing on the activities of the pilot specialized in

    agricultural operations and the volume of accidents, most attributed to 'human error', were the

    reasons that motivated this research. The objective was to qualify the interference of the

    ergonomic aspects, through the identification of the difficulties faced in the dynamics of work,

    according to the point of view of the pilots. The field research allowed to investigate and

    confront the positions of those involved in the agricultural aviation sector, through

    questionnaires and semi-structured interviews. Data were quantitatively treated using the

    comparative-deductive method. Pilot difficulties, organizational (support of ground teams in

    the planning and execution phases of the tasks) and operational difficulties (unfavorable

    positioning of the flap lever, seat, joystick and pedals), as well as heat and noise Constant,

    which also causes a lot of discomfort. The contact with particles of the material applied during

    the spraying was also identified as a nuisance factor and concern with possible source of

    contamination by the pilots. For agricultural aircraft designers, they consider that their products

    are endowed with sufficient resources for operations of this nature. This is also the opinion of

    the person in charge of the investigations of aerial accidents, that defends only minor

    improvements in the projects. Greater involvement of pilots in the aircraft improvement process

    would be crucial if more effective results were to be achieved. The study showed, finally, the

    existence of a great gap between theory and practice, based on the anxieties and difficulties

    mentioned by pilots for better working conditions.

    Keywords: Agricultural Pilot; Agricultural Aviation; Ergonomics; Product Design;

    Activity Analysis.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURAS

    Figura 1 - Nmero de aeronaves agrcolas por regio no Brasil ..................................... 38

    Figura 2 - Foto do interior da cabine de uma aeronave agrcola, modelo Ipanema, destaque

    para estado de conservao da aeronave em especial para o visor de volume de produto

    (improvisado com escrita a caneta) ................................................................................. 54

    Figura 3 - Contribuio dos fatores humanos e do equipamento, ao longo do tempo .... 57

    Figura 4 - Percentual de acidentes por tipo de operao da aviao ocorridos no perodo

    entre 2006 e 2015 ............................................................................................................ 59

    Figura 5 - Estatsticas de causas dos principais acidentes ocorridos com aeronaves

    agrcolas entre 2007 e 2012 ............................................................................................. 61

    Figura 6 - Tipos de ocorrncias e possveis causadores dos acidentes aero agrcolas entre

    2006 e 2015 ..................................................................................................................... 62

    Figura 7 - Formatos de manobras adotadas pelos pilotos durante as operaes: A) Curva

    clssica/balo; B) Racetrack ............................................................................................ 73

    Figura 8 - Formato de manobra preferida pelos pilotos para as operaes de

    pulverizao: curva clssica, indicao de certo e errado ao se manobrar a aeronave ao

    final da faixa .................................................................................................................... 73

    Figura 9 - Simulao ergonmica da cabine do avio Ipanema da Embraer .................. 87

    QUADROS

    Quadro 1 - Estrutura e disposio dos equipamentos e dispositivos em alguns modelos de

    aeronaves agrcolas .......................................................................................................... 33

    Quadro 2 - Distribuio e concentrao da frota de aeronaves agrcolas entre os estados

    brasileiros ........................................................................................................................ 37

    Quadro 3 - Modelo de Procedimento Operacional Padro (POP) ................................... 48

    Quadro 4 - Modelo de relatrio operacional ................................................................... 51

    Quadro 5 - Quantidade de acidentes, acidentes com fatalidades, fatalidades, aeronaves

    destrudas e incidentes graves por segmento da aviao versus tipo de ocorrncia ........ 63

    Quadro 6 - Descrio das etapas de construo da pesquisa e identificao das aes, dos

    envolvidos e do local de realizao com indicador de aproveitamento para cada fase

    distinta, e resumo final para o recorte alvo (respostas dos pilotos) ................................. 68

  • GRFICOS

    Grfico 1 - Variao de idade dos pilotos agrcolas ........................................................ 76

    Grfico 2 - Tempo de experincia como piloto agrcola ................................................. 76

    Grfico 3 - Ano de certificao como piloto agrcola ..................................................... 77

    Grfico 4 - Grau de instruo acadmica os pilotos agrcolas ........................................ 78

    Grfico 5 - Regio de atuao ......................................................................................... 80

    Grfico 6 - Vnculo Empregatcio do piloto .................................................................... 81

    Grfico 7 - Quantidade de meses trabalhados no ano ..................................................... 82

    Grfico 8 - Jornada de trabalho semanal ......................................................................... 83

    Grfico 9 - Treinamentos realizados pelos pilotos agrcolas ........................................... 84

    Grfico 10 - Idade da frota de aeronaves utilizadas para as atividades agrcolas ........... 86

    Grfico 11 - Nvel de satisfao dos pilotos em relao ao valor dos salrios

    recebidos .......................................................................................................................... 88

    Grfico 12 - Intervalo mnimo para manuteno de rotina entre as revises da

    aeronave ........................................................................................................................... 89

    Grfico 13 - Problemas e dificuldades enfrentadas durante as operaes ....................... 91

    Grfico 14 - Dificuldades enfrentadas durante as operaes para realizao das tarefas

    prescritas .......................................................................................................................... 92

    Grfico 15 - Relato de intoxicao por agrotxicos sofrida pelos pilotos durante a

    realizao das atividades de trabalho............................................................................... 95

    Grfico 16 - Na opinio dos pilotos quais os fatores responsveis pelos incidentes e

    acidentes na aviao agrcola .......................................................................................... 97

    Grfico 17 - Segundo os pilotos quais as normas e regras, devem ser seguidas para

    desempenho de suas tarefas nas empresas para as quais prestam seus servios ............. 98

    Grfico 18 - Na opinio dos pilotos, quais as normas e regras, so difceis de serem

    cumpridas durante a execuo de suas tarefas de rotina ................................................. 99

    Grfico 19 - Avaliao dos pilotos em relao ao espao para acomodao dentro da

    cabine das aeronaves agrcolas, utilizadas para o seu trabalho ..................................... 101

    Grfico 20 - Na opinio dos pilotos quais os fatores provocam incmodo durante o voo

    para realizao das operaes agrcolas ........................................................................ 102

    Grfico 21 - Na opinio dos pilotos quais os pontos de maior desconforto dentro da cabine

    das aeronaves agrcolas, durante a realizao das suas tarefas...................................... 103

  • Grfico 22 - Na opinio dos pilotos quais os fatores que tm maior efeito negativo durante

    a realizao das suas atividades ..................................................................................... 104

    Grfico 23 - Segundo os pilotos, quais so os sintomas sentidos durante a realizao dos

    voos ................................................................................................................................ 105

    Grfico 24 - As vantagens reconhecidas pelos pilotos agrcolas na utilizao do

    equipamento DGPS durante as operaes ..................................................................... 108

    Grfico 25 - As desvantagens reconhecidas pelos pilotos agrcolas na utilizao do

    equipamento DGPS durante as operaes ..................................................................... 109

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio de frota aero agrcola por modelo no Brasil .............................. 39

    Tabela 2 - Comparativo de rea de produo de gros, safras 2014/2015 e 2015/2016. 40

    Tabela 3 - Quantidade de acidentes, acidentes com fatalidades, fatalidades, aeronaves

    destrudas e incidentes graves por segmento da aviao versus modelo da aeronave

    (cdigo ICAO) do Segmento Agrcola ............................................................................ 64

    Tabela 4 - Variao do IMC (ndice de massa corporal) dos pilotos agrcolas............... 79

    Tabela 5 - Quantidade de horas extras semanais praticadas regularmente...................... 82

    Tabela 6 - Modelo de aeronave utilizada pelos pilotos estudados .................................. 85

    Tabela 7 - Anlise de responsabilidades do piloto para realizao das tarefas

    prescritas .......................................................................................................................... 90

    Tabela 8 - Equipamentos utilizados pelos pilotos, para a aplicao de produtos por via

    slida .............................................................................................................................. 107

    Tabela 9 - Equipamentos utilizados para a aplicao de produtos por via lquida ........ 107

  • LISTA DE SIGLAS

    RAB Registro Aeronutico Brasileiro

    PIB Produto Interno Bruto

    SAE Aero Agrcola

    TDP Tomada de potncia

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    POP Procedimento operacional padro

    EUA Estados Unidos da Amrica

    CAVAG Curso de Aviao Agrcola

    EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronutica S.A

    ANAPLA Associao Nacional de Aplicadores Areos

    CENEA Centro Nacional de Engenharia Agrcola

    ABRAPA Associao Brasileira dos Produtores de Algodo

    ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil no Brasil

    CHT Certificado de Habilitao de Trnsito

    IT Instruo Normativa

    CENIPA Centro de Investigao e Preveno de Acidentes Aeronuticos

    ICAO International Civil Aviation Organization

    OACI Organizao de Aviao Civil Internacional

    SST Segurana e Sade no Trabalho

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    SERIPA Sexto Servio Regional de Investigao e Preveno de Acidentes

    Aeronuticos

    SNA Sindicato Nacional dos Aeronautas

    DGPS Differential Global Positioning System

    UBV Ultrabaixo volume

    SINDAG Sindicato Nacional das Empresas de Aviao Agrcola

    OMS Organizao Mundial da Sade

    IMC ndice de massa corporal

    CCF Certificado de Capacitao Fsica

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    EPI Equipamentos de Proteo Individual

    EPC Equipamentos de Proteo Coletiva

    SHP Shaft Horse Power ( Potncia de eixo)

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Mundial_da_Sa%C3%BAde
  • SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................... 17

    1.1 FORMULAO DO PROBLEMA ..................................................................... 19

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA .............................................................................. 19

    1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 19

    1.2.2 Objetivos Especficos .................................................................................. 19

    1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 20

    2 REVISO DE LITERATURA .................................................................................. 23

    2.1 AVIAO AGRCOLA ...................................................................................... 29

    2.1.1 A trajetria da aviao agrcola no Brasil. ............................................... 29

    2.1.2 Panorama scio econmico e comercial da aviao agrcola ............... 37

    2.1.3 Aspectos da Atividade do piloto de aviao agrcola ............................... 44

    2.1.4 Segurana na Aviao Agrcola ................................................................. 55

    2.1.5 Ergonomia na aviao agrcola .................................................................. 64

    3 METODOLOGIA ....................................................................................................... 67

    3.1 NATUREZA DA PESQUISA .............................................................................. 67

    3.2 ATORES ENVOLVIDOS .................................................................................... 67

    3.3 PROCEDIMENTOS ............................................................................................. 67

    3.4 ANLISE DOS DADOS ...................................................................................... 71

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................... 72

    4.1 DESCRIO DA ROTINA DE TRABALHO DOS PILOTOS AGRCOLAS

    ENTREVISTADOS NESTE ESTUDO. ..................................................................... 72

    4.2 RESULTADOS DE ANLISE DOS DADOS DO QUESTIONRIO APLICADO

    AOS PILOTOS AGRCOLAS ................................................................................... 74

    4.2.1 Elementos demogrficos e funcionais ........................................................ 75

    4.2.2 Atuao Profissional ................................................................................... 80

    4.2.3 Avaliao da tarefa ..................................................................................... 87

    4.2.4 Avaliao da atividade ................................................................................ 89

    4.2.5 Aspectos de segurana do trabalho ........................................................... 94

    4.2.6 Normas e regras operacionais .................................................................... 97

  • 4.2.7 Conforto operacional ............................................................................... 100

    4.2.8 Interface piloto e equipamentos ............................................................... 106

    4.3 RESULTADO DE ENTREVISTA APLICADA A REPRESENTANTES DE

    EMPRESAS FABRICANTES DE AERONAVES AGRCOLAS. ......................... 110

    4.4 RESULTADO DE ENTREVISTA APLICADA AO RESPONSVEL PELO

    DEPARTAMENTO DE INVESTIGAO DOS ACIDENTES DE AVIAO

    AGRCOLA. ............................................................................................................. 115

    4.5 SNTESE DE CONFRONTO DAS OPINIES DOS ATORES DA PESQUISA:

    OS REPRESENTANTES DE EMPRESAS FABRICANTES DE AERONAVES

    AGRCOLAS, O RESPONSVEL PELO DEPARTAMENTO DE

    INVESTIGAO DOS ACIDENTES E OS PILOTOS DE AVIAO AGRCOLA.

    .................................................................................................................................. 118

    5 CONCLUSO ........................................................................................................... 120

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................121

    APNDICES

    APNDICE 1 TCLE 1 - PILOTOS DE AVIAO AGRCOLA ............................ 129

    APNDICE 2 TCLE 2 - PROJETISTAS AERONAVES.......................................... 131

    APNDICE 3 TCLE 3 - INVESTIGAO DE ACIDENTES ................................. 133

    APNDICE 4 PRIMEIRO ROTEIRO DE ENTREVISTAS APLICADO TESTE

    PILOTO 1 ...................................................................................................................... 135

    APNDICE 5 QUESTIONRIO ADAPTADO (BASEADO NO TESTE PILOTO

    1) .................................................................................................................................... 140

    APNDICE 6 - ROTEIRO DE ENTREVISTA PROJETISTAS INDSTRIA

    AVIAO AGRCOLA EMPRESAS 1 E 2. ................................................................ 149

    APNDICE 7 - ROTEIRO DE ENTREVISTA SERIPA VI - INVESTIGAO DE

    ACIDENTES AVIAO AGRCOLA. ....................................................................... 153

    ANEXOS

    ANEXO 1 RESULTADO DE APRECIAO DO COMIT DE TICA EM

    PESQUISA DA UNICAMP -CAMPUS CAMPINAS ................................................. 156

  • ANEXO 2 - CERTIFICADO DE PARTICIPAO NO SEMINRIO NACIONAL DE

    AVIAO AGRCOLA 2015 PRIMAVERA DO LESTE / MT ............................. 157

    ANEXO 3 - CERTIFICADO DE PARTICIPAO NO SEMINRIO NACIONAL DE

    AVIAO AGRCOLA 2016 CACHOEIRA DO SUL / RS .................................. 158

    ANEXO 4 - CERTIFICADO DE PARTICIPAO NO CONGRESSO SINDAG

    SINDICATO NACIONAL DAS EMPRESAS DE AVIAO AGRCOLA 2016

    BOTUCATU / SP .......................................................................................................... 159

    ANEXO 5 - SUMA IG-068 PT-VYV-1. RELATRIO FINAL SIMPLIFICADO

    ACIDENTE AGRCOLA CENIPA, 2015. ................................................................ 160

  • 17

    1 INTRODUO

    O agronegcio um segmento de grande importncia para a economia nacional.

    Para garantir que o setor agropecurio contribua com a economia significativamente, reduzindo

    custos de produo e consequente aumento de produtividade, sem esquecer do impacto

    ambiental causado pelo excesso de agrotxicos, preciso se investir em tcnicas de preciso.

    O mtodo de preciso na agricultura pode potencializar a eficincia na utilizao de insumos

    atravs de recursos eletrnicos e de informtica, como, por exemplo, sensores, atuadores,

    computadores de bordo, controladores de pulverizao, controladores de adubao,

    mapeamento e aplicao via satlite (MENEZES e MARTINS, 2009).

    Na agricultura de preciso est a aviao agrcola, tambm referida como operao

    aero agrcola ou aplicao area. apresentada nas regulamentaes do setor como uma

    atividade econmica de aplicao de qualquer substncia destinada nutrio de plantas,

    tratamento do solo, propagao da vida vegetal, controle de pragas (ZANATTA, 2015).

    Os pilotos de aviao agrcola durante a atividade de pilotagem repetem manobras

    onde necessrio ter, alm de grande habilidade, tambm muita ateno durante toda a

    trajetria do voo de combate (pulverizao). A cabine das aeronaves agrcolas o posto de

    trabalho onde o aviador trabalha sob tenso constante. Durante o trabalho necessrio alm de

    foco nos dispositivos e equipamentos operacionais da cabine, preciso estar atento a tantos

    outros detalhes como: condies meteorolgicas, presena de obstculos, clculos de produo,

    o tempo para executar as atividades, manuteno da aeronave, etc.

    Considerando a evoluo tecnolgica o trabalho se transforma surgindo novos

    parmetros para analisar a sua relao com o homem trabalhador, exaltando a necessidade de

    incorporar a esta anlise no apenas o comportamento do homem, mas tambm o ambiente no

    qual ocorre a atividade e que a condiciona e as consequncias deste para o indivduo e para a

    produo (ABRAHO e PINHO, 2002).

    A sofisticao do trabalho viabilizada tambm pela informatizao e mecanizao,

    trouxe benefcios, mas com eles tambm alguns inconvenientes ao trabalhador, como aumento

    das exigncias mentais e psquicas. A atividade passa a solicitar do operador maior empenho

    mental, sobretudo solicitaes de memria e consequente antecipao (FALZON e

    SOUVAGNAC, 2007).

    A rotina de trabalho dos pilotos agrcolas complexa, uma juno de esforo fsico

    e intelectual. preciso buscar alternativas e recursos que facilitem a vida cotidiana no trabalho

  • 18

    atravs de tecnologias, sempre enfatizando o homem como ator principal deste contexto

    (BOTTO et al., 2015).

    Esta complexidade das tarefas um gerador de stress pois, ao tentar reduzir esta

    complexidade h uma ao sobre o esforo do operador. O operador tentar meios de mitigar

    os efeitos gerados pelo constrangimento da tarefa e buscar meios alternativos. Aparece o stress

    quando um dficit percebido entre os recursos estimados e os constrangimentos percebidos.

    O operador no tem mais recursos disponveis neste momento que ocorre alm da fadiga o

    esgotamento emocional (FALZON e SOUVAGNAC, 2007).

    Promover a anlise das atividades de trabalho dos pilotos de aviao agrcola

    atravs do prisma ergonmico pode de certa maneira explicar os episdios recorrentes da

    insatisfao destes profissionais quanto a atividade em determinadas circunstncias e

    possibilidades dos fatores que colaboram para o risco de incidentes e acidentes vigentes neste

    segmento.

    Segundo Dejours (2004), sob ponto de vista clnico, o trabalho de certa maneira

    o empenho da personalidade para responder a uma tarefa delimitada por presses (materiais e

    sociais). E mesmo quando o trabalho bem concebido, com organizao rigorosa, instrues e

    procedimentos claros, muitas vezes impossvel atingir o esperado respeitando as prescries,

    pois as situaes comuns de trabalho so permeadas por acontecimentos inesperados, panes,

    incidentes, anomalias de funcionamento, incoerncia organizacional, imprevistos provenientes

    tanto da matria, das ferramentas e das mquinas, quanto dos outros trabalhadores, colegas,

    chefes, subordinados, equipe, hierarquia, clientes. Em sntese, sempre existe uma diferena

    entre o trabalho prescrito e o trabalho real nesta situao o trabalhador atua como agente

    regulador e transforma o modelo operatrio com base em sua experincia pessoal para garantir

    a continuidade das atividades.

    A pesquisa levanta as hipteses dos problemas e como eles so tratados pelos

    pilotos em sua rotina de trabalho, a partir de uma abordagem intrnseca amparada pela

    compreenso da estrutura interna da atividade de pilotagem agrcola. A integrao do piloto

    anlise do seu trabalho guiou-o para a redescoberta das suas atividades e possibilitou no apenas

    identificar as dificuldades, mas tambm formatos alternativos de operao adaptados por eles

    para driblar a situaes de desconforto. Considerando tambm a participao dos demais

    envolvidos neste contexto de trabalho, que segundo Daniellou e Bguin (2007), em ergonomia

    interpreta-se pelas aes sem visar a exausto do que tenha lhes motivado, propondo uma

    modelizao que esclarece, melhor que as precedentes, as questes colocadas, e abre novas

    possibilidades de ao a um conjunto de atores.

  • 19

    1.1 FORMULAO DO PROBLEMA

    A pilotagem em voos agrcolas alvo de grande especulao investigativa por ser

    uma atividade de risco, considerando as condies e outras particularidades envolvidas neste.

    Para ser um piloto, especializado nesta modalidade, necessria formao

    especfica para atuao em atividades aero agrcolas.

    Durante as atividades o piloto de aviao agrcola lida com o perigo durante todo o

    tempo. E quando da ocorrncia de acidentes costuma-se dedicar a fatores humanos a causa

    da fatalidade. No ponto de vista ergonmico a avaliao do trabalho se faz atravs da descrio

    da atividade que se define como o conjunto de fenmenos de ordem fisiolgica, cognitiva,

    psquica e social que o trabalhador utiliza para realizar a tarefa.

    importante qualificar e dimensionar atravs de clara e objetiva fundamentao

    cientfica a extenso bem como significado do que classificam como erro humano. Dentro

    do contexto do trabalho as atitudes e comportamentos humanos tm como base de ordem: fsica,

    cognitiva e organizacional.

    Este trabalho pretende identificar de forma clara e sucinta os determinantes da

    atividade da aviao agrcola: os fatores ambientais, organizacionais, operacionais, fsicos e

    biomecnicos atravs da apreciao dos pilotos em relao ao seu trabalho. A questo

    norteadora desta pesquisa : Na percepo dos pilotos, quais as dificuldades encontradas e

    como elas interferem na sua atividade?

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

    1.2.1 Objetivo Geral

    Identificar as dificuldades e revelar os determinantes e suas consequncias para o

    trabalho dos pilotos de aviao agrcola.

    1.2.2 Objetivos Especficos

    Entender as tarefas solicitadas aos pilotos de aviao agrcola, considerando

    aspectos ergonmicos, fsicos, cognitivos e organizacionais;

    Identificar parmetros projetuais das aeronaves que foram apontados como

    problemas segundo opinio dos usurios - os pilotos da aviao agrcola;

  • 20

    Sistematizar as percepes dos pilotos de aviao agrcola para compreenso do seu

    trabalho;

    Confrontar a opinio dos pilotos acerca das aeronaves agrcolas com a dos seus

    projetistas e investigadores de acidentes.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    No Brasil 72 milhes de hectares so pulverizados pela aviao agrcola todos os

    anos. Segundo o RAB - Registro Aeronutico Brasileiro, o pas fechou 2015 com 2035

    aeronaves, em 2010 eram 1560. O setor registra desta forma um crescimento de 33% em cinco

    anos. Junto frota cresce tambm o nmero de pilotos formados em 2010 se certificaram 98

    pilotos agrcolas em 2015 foram formados 191 pilotos equivalendo a 95% de crescimento do

    nmero de profissionais neste segmento (SIMO, 2016).

    Em pases onde o agronegcio um dos principais alicerces da economia, a aviao

    agrcola tambm se destaca. E no preciso muito esforo para constatar que no Brasil no

    diferente j que o agronegcio representa uma fatia de 21% do PIB brasileiro. O Registro

    Aeronutico Brasileiro contabiliza mais aeronaves registradas como SAE - Aero agrcola do

    que aquelas destinadas ao transporte regular de passageiros. Como atividade area, a aviao

    agrcola apresenta diversas caractersticas prprias e um ambiente operacional

    significativamente diferente dos demais segmentos da aviao. Apenas para enfatizar alguns

    fatores que caracterizam a atividade aero agrcola podemos citar a realizao de manobras a

    baixa altura, o manuseio e aplicao de agrotxicos e outros insumos agrcolas, operaes com

    carga varivel, utilizao de pistas no pavimentadas, baixa infraestrutura de suporte, entre

    outros. Todos esses fatores contribuem para que os riscos associados operao sejam

    consideravelmente superiores queles verificados para os demais segmentos da aviao,

    bastando observar que, embora a aviao agrcola represente uma fatia de 5% da frota nacional,

    ela responsvel por cerca de 25% do total de acidentes da aviao civil brasileira (RASO,

    2015).

    Na aviao agrcola, o piloto opera uma aeronave monomotora, com mnimo de

    infraestrutura, geralmente em pistas no pavimentadas, decolando sempre com o mximo de

    carga possvel, nos perodos mais quentes (safras de vero), e realizando dezenas de decolagens

    por dia. O trabalho do piloto agrcola muito mais perigoso em relao ao piloto executivo, ou

    de linha area regular, tambm muito mais penoso devido s particularidades da operao,

    tem uma concentrao de trabalho durante 4 e 5 meses. O trabalho tem incio antes de o sol

  • 21

    nascer e s termina com o pr do sol, chegando a fazer at 90 decolagens e pousos em nico

    dia de trabalho. No perodo de pico de uma safra, o piloto voa at doze horas em um dia. Nos

    quatro ou cinco meses de safra, voa aproximadamente 400 horas e faz 2000 decolagens em

    mdia. O desgaste nestas decolagens bastante alto, pois necessrio que o piloto tenha a

    percia para decolar em pista reduzida, com capacidade total de carga e ateno suficiente para

    que no ocorra um acidente (PRADO, 2002).

    O conhecimento gerado a partir deste enfoque ergonmico da atividade de trabalho

    nas da aviao agrcola deve contribuir para a melhoria das condies de trabalho,

    pavimentando estratgias de mudanas para favorecer o piloto durante as operaes. Daniellou

    (2007); Piso e Menegon (2010), acreditam que exercendo seu papel de maneira articulada o

    ergonomista pode contribuir vastamente para melhoria do trabalho aps estudo detalhado da

    atividade de trabalho, nas escolhas de concepo, propondo uma dupla construo social e

    tcnica. A construo social visa posicionar o ergonomista em relao aos diferentes atores do

    processo de concepo, e permitir que ele desenvolva com eles interaes pertinentes. A

    construo tcnica consiste em reunir os elementos que permitem abordar a atividade, mas

    tambm de ter sua disposio um amplo leque de conhecimentos relativos ao funcionamento

    humano no trabalho.

    Para Hayward et al. (2013), a anlise sistmica dos eventos de segurana aborda os

    elementos que compe a fatalidade e um modelo de investigao realizado atravs de um

    programa de treinamento denominado Human Factors in Flight Safety, que tem por objetivo

    consolidar a compreenso da dinmica de acidentes/incidentes e de como tais eventos podem

    ser prevenidos com o uso de metodologia til identificao de condies latentes, ameaas e

    fatores de riscos. Este formato investigativo diferenciado contribui para a correo dos

    elementos integrantes antes que o fato ocorra e cause danos s pessoas e s propriedades.

    Todos os profissionais envolvidos neste processo operacional representam

    importncia fundamental para a garantia da efetividade do sistema. Mas, a ao humana ainda

    apontada como coadjuvante para a maioria dos acidentes areos, abrindo vasto campo de

    estudo para a melhoria contnua do sistema de aviao (ESCUDEIRO, 2015).

    Segundo Silveira (2004), a aviao agrcola consolidou-se hoje no mercado

    mundial como servio areo especializado e por tal seu uso precisa ser observado e cuidado.

    Todavia, h uma carncia de trabalhos acadmicos sobre o assunto.

    Pelo exposto, verificou-se a necessidade de desenvolver um projeto de pesquisa

    com a finalidade de avaliar os aspectos que realmente influenciam o desempenho confortvel e

    seguro dos pilotos agrcolas. Este projeto buscou compreender os fatores geradores de risco na

  • 22

    aviao agrcola, atravs do conhecimento do sistema de organizao do trabalho e de

    informaes coletadas junto ao elemento chave deste processo: o piloto.

  • 23

    2 REVISO DE LITERATURA

    sabido que o Brasil possui terras frteis disponveis, clima privilegiado, gua em

    abundncia, tecnologia avanada e pessoal capacitado, podendo, dessa forma expandir

    significativamente a agricultura de forma sustentvel, com o uso racional dos recursos naturais

    e a consequente preservao ambiental, como divulgado nas publicaes de Brasil (2006), que

    conclui, com base nestas caractersticas, que nosso pas constitui um dos poucos competidores

    do setor em condies de suprir o aumento da demanda global por alimentos nos prximos

    anos.

    O Brasil deve permanecer destacado com tendncia de elevao de presena no

    comrcio mundial de soja, milho, carne bovina, carne de frango e carne suna. Alm da

    importncia em relao a esses produtos o Brasil dever manter a liderana no comrcio

    mundial em caf e acar. As projees regionais indicam os maiores aumentos de produo,

    e de rea, da cana-de-acar, no estado de Gois, Minas Gerais, e Mato Grosso. O Estado de

    So Paulo tambm projeta expanses elevadas de produo e de rea desse produto. O

    crescimento da produo agrcola no Brasil deve continuar acontecendo com base na

    produtividade. Estudos mostram que a produtividade total tem crescido em mdia 3,5% ao ano

    ao longo dos ltimos 38 anos. Essa taxa elevada se comparada taxa mdia mundial que tem

    sido de 1,84% ao ano (BRASIL, 2015).

    Esta evoluo agrcola tambm prevista no Plano Agrcola e Pecurio 2014/2015

    com crescimento da agricultura brasileira suportada pelo aumento na produtividade, em

    polticas pblicas adequadas e no empreendedorismo do produtor rural tem se expandido e

    consolida-se na integrao econmica regional e nas reas de fronteira agrcola. A produo de

    gros se superou em duas dcadas, atingindo 188,7 milhes de toneladas em 2013, atingindo

    taxas de crescimento de produtividade (3,2%) duas vezes superior da rea (1,7%). Na safra

    2013/14, o Brasil colheu 193,5 milhes de toneladas de gros e em 2014/15 a expectativa foi

    de 200 milhes de toneladas. (MAPA, 2015)

    Com o crescimento da produo agrcola e consequente esforo para produo em

    larga escala, cresce tambm a necessidade de tecnologias capazes de proporcionar maior

    agilidade e segurana aos processos de produo das grandes lavouras. Seguindo este raciocnio

    j dizia Goodman (2008) e Mengel (2015), com os nveis de produo crescentes a cada ano,

    devem existir tcnicas de colheita, plantio e manuteno que acompanhem o tamanho destas

    culturas. A tcnica mais utilizada para o controle e manuteno destas lavouras atualmente

    por aplicao de agrotxicos.

  • 24

    No podendo ignorar a expressiva contribuio da produo agrcola no Brasil para

    a economia nacional preciso rever talvez em futuro o modelo agrcola adotado no Pas que

    est fortemente vinculado ao uso de agrotxicos, considerando-se que a agricultura brasileira

    se centra em um modelo de desenvolvimento voltado a ganhos de produtividade. Os agrotxicos

    so levados aos locais de ao por meio do veculo. Esta operao realizada com o auxlio de

    mquinas com caractersticas adequadas a cada tipo e extenso de cultura. Os veculos podem

    ser slidos ou lquidos. Entre os slidos, podem ser utilizados o talco e os granulados, enquanto

    que entre os lquidos a gua o veculo mais empregado. Entre as mais usualmente praticadas

    como mtodos de aplicao esto: via slida, via liquida ou via gasosa, escolhidas mediante

    estado fsico do material a ser aplicado. A gua o veculo mais utilizado como diluente, na

    falta deste pode-se empregar a aplicao via slida (MARTINS, [2015?]).

    De acordo com Miller e Ellis (2000) para garantir uma aplicao de qualidade

    importante que se tenha colocao e distribuio correta do produto fitossanitrio no alvo. A

    aplicao alcana nvel satisfatrio de qualidade e aproveitamento quando a escolha da ponta

    de pulverizao acertada pois a partir da se obtm: tamanho de gota ideal, conforme o

    desejado. Importante considerar respectivamente: a velocidade de distribuio do lquido, o

    volume de calda, as condies ambientais, a presso de trabalho, a formulao dos agrotxicos

    e as caractersticas da calda e do alvo.

    Uma das causas de ineficincia das aplicaes so os equvocos durante a calibrao

    dos equipamentos. Quando desregulados os pulverizadores, com pontas inadequadas ou

    desgastadas e com doses excessivas de agrotxicos, no alcanam os resultados esperados nas

    aplicaes alm de provocar contaminao ambiental. Pulverizadores devem sofrer reviso e

    manuteno peridica, que pode ser feita por tcnicos, pelo prprio agricultor ou ainda por

    instituies oficiais, no caso de ser necessria a emisso de certificados ou relatrios de

    inspeo, torna-se uma ferramenta a obteno de eficincia nas aplicaes (DORNELLES et

    al., 2009).

    Existe um dficit de estudos no Brasil voltados a avaliao de pulverizadores.

    Lacuna esta que favorece a ocorrncia de operaes arriscadas com dano direto ao meio

    ambiente e ser humano. Palladini e Mondim (2007) encontraram em seus estudos no Estado de

    Santa Catarina 64,8% de no conformidades nos equipamentos em uso nos tratamentos

    fitossanitrios de culturas. Detectaram tambm ocorrncias de super dosagens de at 25,4% de

    lanamentos de agrotxicos no meio ambiente desnecessrios.

    Na maior parte dos pases, as inspees peridicas tm sido realizadas utilizando-

    se unidades mveis e adotando-se visitas programadas aos usurios dos equipamentos. Ao final

  • 25

    de cada inspeo, relatrios sobre as condies do pulverizador e de orientao so gerados.

    Em alguns pases, a certificao inclui autorizao ou no da continuidade do uso dos

    equipamentos (DORNELLES et. al, 2009).

    Alm da escolha adequada dos equipamentos e dispositivos o sucesso de uma

    aplicao depende tambm das condies ambientais como a temperatura, a umidade do ar e o

    vento; do tipo das regulagens e do acionamento da mquina a ser empregada; e da superfcie a

    ser tratada solo, folha, frutos, sementes, ramos, etc.

    A utilizao de agrotxicos exige um equipamento adequado cuja escolha deve ser

    criteriosa. Em geral, um mesmo defensivo pode ser aplicado por mais de um processo e somente

    o estudo dos vrios fatores indicar qual deve ser adotado. Dentre esses fatores temos: solo,

    clima, ocorrncia e qualidade da gua, hospedeiro, patgeno, princpio ativo, veculo, operador

    e mquina. O operador o principal fator a ser considerado na aplicao de defensivos agrcolas

    por diversas razes. A principal delas que o prprio ser humano o elo final da cadeia de

    produo e utilizao de alimentos e fibras. Desta forma, toda e qualquer agresso

    desnecessrias ao meio ambiente, com a aplicao incorreta de defensivos agrcolas, iro refletir

    no bem-estar do prprio ser humano. Sendo o operador uma parte integrante de um sistema de

    aplicao de defensivos agrcolas, deve-se preocupar com a sua adequada instruo no uso e

    manuteno dos equipamentos, bem como os cuidados no manuseio dos defensivos a serem

    utilizados para se aumentar a segurana e eficcia e diminuir os riscos da aplicao (MARTINS,

    [2015?]).

    Aplicao e pulverizao so duas coisas distintas. Pulverizao o processo fsico-

    mecnico de transformao de uma substncia lquida em partculas ou gotas e a aplicao a

    deposio de gotas sobre um alvo desejado, com tamanho e densidade adequados ao objetivo

    proposto (ANDEF, 2013).

    Os pulverizadores so classificados quanto forma de deslocamento e se dividem

    em: costal (homem ou animal), padiola, carrinho (homem ou animal), trator (3 pontos ou

    arrasto), auto propelido, avio e helicptero agrcola. Quanto ao acionamento do mecanismo

    distribuidor podem ser: manual, motor acoplado e TDP (tomada de potncia) do trator.

    So mquinas construdas com a finalidade de subdividir a calda em gotculas de

    tamanho uniforme, distribuindo as na superfcie a ser tratada. Outra funo de pulverizador

    permitir uma dosagem adequada do defensivo sobre o local a ser tratado. de fundamental

    importncia para a agricultura, j que atravs deste equipamento que se consegue fazer o

    controle de pragas e doenas, tornando vivel a produo agrcola (MARTINS, [2015?]).

  • 26

    No Brasil os pulverizadores, atomizadores tratorizados e os avies tripulados so

    veculos de grande utilidade para as grandes reas plantadas (RASI, 2008).

    Ferreira (2015) aponta a pulverizao area como uma das formas de aplicao de

    agrotxicos em vigor no Brasil com boas perspectivas de crescimento nos prximos anos.

    Para os produtores, se equacionando o tempo e a rea de aplicao, sem se

    considerar a uniformidade e por tal a qualidade de aplicao dos agrotxicos em condies

    adversas dos solos, sem risco de compactao e amassamento da cultura, a pulverizao area

    significa lucro, contudo, para evitar disperso na aplicao, os avies chegam a voar a apenas

    trs ou quatro metros do solo, que deixa a operao ainda mais arriscada (NEIVA, 2017).

    Concomitante aos ganhos de produtividade no setor agrcola a pulverizao por via

    area ganha mercado com evoluo robusta como demonstrado em coletas realizadas pelo

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, atestando um incremento de 5,18%, nas

    ltimas seis safras comparando-se 2013/2014 com 2012/2013 das reas colhidas das principais

    culturas: algodo, arroz, feijo, soja, cereais de inverno, banana e de cana-de-acar. Com

    exceo das culturas de milho e sorgo que reduziram rea pulverizada por aviao agrcola

    (IBGE, 2014).

    Entretanto, neste panorama de projeo e perspectiva do setor de servios aero

    agrcolas, deve se concentrar tambm a ateno nas condies de trabalho dos envolvidos neste

    contexto. Uma forma eficaz de assegurar que esta prestao de servios respeite as normas de

    segurana ambiental e humana o investimento em aes de fiscalizao que devem ser

    intensificadas em resposta ao grande crescimento da demanda do setor agropecurio por estes

    servios, visando pronta averiguao de denncias de aplicaes indevidas por pulverizao

    area bem como denncias sobre operadores clandestinos (MAPA, 2015). O acompanhamento

    deste tipo de profissional garante a preveno de intercorrncias durante a realizao das

    atividades em voo. Os voos de treinamento, o reconhecimento de reas de aplicao e pistas de

    pouso antecipados, estas aes devem ser responsabilidade de um profissional especializado,

    este que ajusta a tarefa prescrita para a conduo da atividade, tornando o voo seguro e

    consequentemente mitigando surpresas no decorrer do trabalho do piloto agrcola.

    Os pilotos agrcolas geralmente seguem modelos de procedimentos cedidos pelas

    empresas contratantes ou quando autnomos se baseiam nestes para organizar as suas

    atividades. O procedimento operacional padro - POP tem por objetivo descrever um roteiro

    padro para a prtica eficaz e segura da aplicao area. O procedimento descrito envolve

    diretamente o piloto agrcola e indiretamente o coordenador, secretaria de operaes, tcnico

    executor, auxiliar de pista e mecnico de manuteno de aeronaves. Quanto s

  • 27

    responsabilidades do piloto agrcola, esto: a correta execuo dos servios de aplicao,

    seguindo rigorosamente os critrios tcnicos e normativos da empresa e dos rgos reguladores

    sem se distanciar da segurana de voo, seguir o fluxograma operacional; do coordenador, a

    integrao com os pilotos e demais membros do departamento operacional sem se desviar das

    funes descritas em seu POP. A secretaria de operaes, o tcnico executor, o auxiliar de pista

    e o mecnico de manuteno de aeronaves possuem POPs especficos e devem segui-lo

    criteriosamente.1

    As tarefas prescritas pelo planejamento operacional padro so habitualmente

    adaptadas conforme o modo operatrio particular de cada operador. Deste modo, pode-se alterar

    o que se foi planejado e calculado, que se chama de regulao da tarefa. O jeitinho de se

    adaptar as tarefas, podem significar economia de tempo operacional e consequentemente ganho

    em produtividade. Contudo, Dejours e Abdouchli (2011), chamam a ateno para a capacidade

    dos indivduos de transformar um procedimento em conduta, porm que no satisfaz tarefa

    descrita que lhes caberia. Esta capacidade de interpretao do trabalho pelos indivduos pode

    resultar em modos operatrios novos facilitando o trabalho e tornando-o mais confortvel para

    os seus executores.

    Segundo Ferreira (2016), o trabalho prescrito uma orientao do que deve ser feito

    em detalhes e a obrigao de fazer dentro do que foi determinado por algum. sempre

    sentenciado e cobrado por terceiros, estes a quem dada autonomia e autoridade para reclamar

    seu cumprimento.

    O perfil das atividades desempenhadas na aviao agrcola sugere uma interao

    harmnica entre as reas envolvidas no processo, para que se obtenha xito nas operaes com

    conforto e segurana para o operador. Esta integrao importante para que se estabelea uma

    conexo de confiana entre as partes envolvidas: o operador, a mquina e a equipe de suporte

    como um todo. H necessidade de se atualizar conceitos nestes aspectos, uma vez que os postos

    de trabalho j no so os mesmos de antigamente, as funes e profisses tambm

    acompanharam a evoluo tecnolgica e social e evoluram. Foram criadas e transformadas

    para atender as novas necessidades e demandas de mercado. A definio mais acertada para a

    relao entre homens, mquinas e sistema, sempre atual nas palavras de autores como

    1 Manual de Procedimento Operacional Padro - POP n : 002/2013 estabelecido em :

    01/11/2013 revisado em 27/10/2014 da empresa de aviao agrcola Aerotek

  • 28

    Grandjean (1998) que preconiza esta interao como uma relao de reciprocidade entre a

    mquina e o ser humano que a opera, permitindo a comunicao entre os elementos do

    processo de deciso que se tornam cada vez mais rpidos.

    Iida (2005) v a interao do sistema homem mquina ambiente como o pilar

    de fundamentao para a pesquisa ergonmica. Nesta relao o homem e a mquina se

    complementam para desenvolver determinado trabalho.

    A aviao agrcola possui caractersticas prprias que a diferenciam de todos os

    outros ramos da aviao. O alto volume de trabalho, os longos perodos de afastamento nas

    entressafras, as condies precrias de descanso, o voo baixa altura, as manobras muito

    prximas ao limite operacional da aeronave, o contato dirio com produtos txicos, so alguns

    fatores que, se adequadamente gerenciados, certamente tero seus riscos mitigados,

    proporcionando a esse importante segmento da aviao, desenvolvimento com maior segurana

    (SIMO, 2010).

    O pioneiro dos estudos relacionados ergonomia na aeronutica e sistema espacial

    foi desenvolvido por Vladimir Popov, que dirigiu o Laboratrio de Problemas Especiais sob o

    Departamento de Psicologia do Trabalho do Instituto de Psicologia de Moscou. Ele identificou

    muitos aspectos ergonmicos relevantes na aviao e nos sistemas espaciais; e participou do

    programa espacial sovitico da poca (SILVA e PASCHOARELLI, 2010).

    O risco de acidentes na aviao agrcola proporcionalmente maior que nas outras

    categorias de aviao. No Brasil, entre 2008 e 2014 estes episdios cresceram cerca de 60%,

    concomitante ao crescimento da frota de aeronaves agrcolas em 72%, segundo dados do

    Registro Aeronutico Brasileiro RAB. Em 78% das principais causas atribudas pelo processo

    de investigao devem -se: a perda de controle em voo (fator humano/ pilotagem); coliso em

    voo com obstculos (fator humano e planejamento); a falha de motor em voo (fator

    manuteno) e a perda de controle no solo (fator humano/ pilotagem/infraestrutura). Contudo

    deve-se considerar que a proporo de crescimento uniforme dos dois fatores, crescimento de

    acidentes e de aeronaves, pode sugerir falha tambm no projeto da aeronave, apontando

    indstria e aos rgos de fiscalizao, a necessidade de se investigar com acurcia a qualidade

    e condio operacional destes equipamentos, alm das condies de trabalho e seus

    determinantes (RAB, 2008).

    O suporte dado aos pilotos durante as operaes agrcolas no campo falham nos

    seguintes aspectos: nas questes de cunho organizacional, como a falta de equipe de suporte

    em solo para orientao e planejamento das aes e tarefas (clculo de rea, reconhecimento de

    obstculos, etc.) e a presso por produo e tempo, nos aspectos de ordem fsica: condio de

  • 29

    pista para pouso e decolagem, configurao da cabine das aeronaves (distribuio dos

    instrumentos, disposio dos pedais e curso das alavancas de comando, etc.) e nos aspectos

    cognitivos: interface com tecnologia disponvel (o DGPS equipamento para clculo e definio

    de rea pulverizada). Os pilotos acreditam que, estes aspectos comprometem o desempenho

    eficiente de suas tarefas, alm de significar risco de acidentes durante as suas atividades

    (SILVEIRA,2004; RANGEL, 2007).

    2.1 AVIAO AGRCOLA

    2.1.1 A trajetria da aviao agrcola no Brasil.

    As primeiras culturas surgem e com elas tambm os problemas, na poca em

    proporo recproca a presena de pragas, plantas invasoras, j sinalizam disputa do espao na

    lavoura e comprometem a produo quase de subsistncia para pequenos cultivos. Em

    sequncia os surtos, como por exemplo, o de lagartas, gafanhotos ou fungos, podem pr em

    risco at a sobrevivncia de uma populao inteira. Para controlar e combate-los houve a

    necessidade da criao de um agente com propriedades especficas. Um dos primeiros produtos

    utilizados, para este controle foram a base de arsnico. A aplicao destes agrotxicos era

    trabalhosa. Com frequncia, eram esfregados com panos ou vassouras nas plantas ou at mesmo

    jogados sobre elas. As pequenas culturas se transformam em monoculturas em grande escala,

    necessrias para atender ao consumo de populaes urbanas cada vez maiores e acelera-se o

    problema, pois alm de exigir mtodos de aplicao em grande escala, agrava-se o surgimento

    de pragas. Impulsionados pela necessidade no incio do sculo XX, alguns sistemas

    mecanizados de aplicao de defensivos so inventados. A maior parte deles era em forma de

    p, e sistemas de polvilhamento costumavam ser compostos de um tonel cheio de p inseticida

    (em sua maioria compostos arsnicos, altamente txicos) dentro do qual girava uma ventoinha,

    movida por um pequeno motor ou mesmo fora braal, formando uma nuvem de p. Muitos

    destes sistemas eram carregados em carroas puxadas por mulas, em um processo muito lento

    (SILVEIRA, 2004).

    O primeiro voo agrcola data de 3 de agosto de 1921, s 15:00. Os mentores

    intelectuais da ao foram os entomologistas C.R. Nellie, e H.A. Gossard, tendo como demanda

    um ataque de praga de mariposas (Catalpa Sphinx) a reflorestamentos de rvores catalpa,

    cujos troncos retos, eram usadas para fazer postes. Eles convenceram as autoridades do exrcito

    em McCook Field, prximo a Dayton, Ohio, a tentar o uso de avies para aplicar arsenato de

  • 30

    chumbo, o nico inseticida conhecido na poca que controlava a mariposa. Outra ao no

    mesmo ano teria sido protagonizada por um francs radicado nos EUA, Etienne Darmoy, que

    construiu um equipamento constitudo de um hopper para cerca de 50 quilos de p e uma

    porta de sada deslizante, com uma alavanca girada a mo para promover a sada do p. Este

    equipamento foi instalado ao lado da cabine traseira de uma aeronave Curtiss JN-6H Jenny.

    O piloto escolhido foi o ento tenente John A. Macready, e Darmoy foi junto no assento traseiro

    para acionar o polvilhador (ANDERSON, 1997).

    O agente florestal alemo Alfred Zimmermann em 1911, considerado o pai da

    aviao agrcola por ser um dos idealizadores do uso do avio para fins agrcolas. Em sequncia,

    em 1921 tem incio a aplicao comercial da aviao agrcola nos EUA. Nesta verso da histria

    o agrotxico era manuseado e jogado no solo por um passageiro. As tcnicas evoluram e, em

    1943, as aplicaes j eram realizadas em baixo volume (10 a 30 l/ha). O primeiro avio

    projetado especificamente para uso agrcola foi a aeronave AG1, desenvolvido em 1950 nos

    EUA. No Brasil, o primeiro voo agrcola deu se em 1947, no Rio Grande do Sul (estado que

    sempre se destacou neste tipo de aplicao), para o combate a uma praga de gafanhotos2.

    Arajo (2015) cita o ano 1947 como data de incio das atividades da aviao

    agrcola, com aeronaves adaptadas pelos prprios pilotos, pulverizando lavouras de caf na

    cidade de Pelotas RS, tendo participao nestes episdios pioneiros como, por exemplo, o

    piloto Clvis Candiota. Passados dezoito anos aps o primeiro voo, em 1965 era ento

    regulamentado no Brasil o Curso de Aviao Agrcola CAVAG, criado pelo Decreto n

    56.584, de 20.7.1965, o primeiro curso para capacitao de pilotos civis para operaes aero

    agrcolas. Atuante entre 1967 e 1991, formou 1083 pilotos agrcolas.

    Mas a aviao nacional, no s agrcola, teve grande impulso a partir do final dos

    anos 60. O projeto e construo das primeiras aeronaves utilizadas para as operaes de

    pulverizao no Brasil aconteceu em 1969 quando foi normalizado, pelo Decreto-Lei n 917 e

    fundada a Empresa Brasileira de Aeronutica S.A. (EMBRAER), em So Jos dos Campos/SP.

    Aps fechar o convnio com o Ministrio da Aeronutica o projeto foi executado pela empresa

    indstria aeronutica Neiva Ltda., que passou posteriormente a ser a subsidiria da EMBRAER,

    instalada em Botucatu/AS. O prottipo chamado de PP-ZIP, de julho de 1970, fez seu primeiro

    2 Matria Piloto Agrcola. Site InfoAviao, 2010. Disponvel em:

    Acesso em: 23 fev. 2016

  • 31

    voo ainda neste ano, passando o seu nome para EMB-200 Ipanema. Esta aeronave possua

    motor Lycoming de 260 hp (horse power) e capacidade de carga de 550kg. Em 1971 em So

    Paulo, cria-se a primeira organizao do setor de aviao agrcola no pas, a Associao

    Nacional de Aplicadores Areos - ANAPLA. O motor Lycoming de 300 hp utilizado pela

    primeira vez no avio EMB-201 Ipanema no ano de 1974, sua capacidade de carga era de 750kg

    ou 680 litros. Com a expanso da fronteira agrcola, principalmente para os cerrados do Mato

    Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia, entre outros, iniciou-se um mercado promissor para a

    aviao agrcola. A aviao agrcola expandiu-se nessas regies devido principalmente ao tipo

    de relevo predominante e ao tamanho das propriedades que cultivam principalmente a cultura

    da soja (SCHMIDT, 2006).

    Com a criao do Centro Nacional de Engenharia Agrcola (CENEA), em 1975

    (Decreto 76.895/75) o CAVAG passou a ser ento uma das atribuies do CENEA. Aps a

    extino do CENEA, em 1990, o Ministrio da Agricultura realizou ainda mais um CAVAG,

    em 1991, encerrando ento esta atividade, que passou a ser exercida a partir da exclusivamente

    pela iniciativa privada, por delegao de competncia do Ministrio da Agricultura e

    homologao pelo Ministrio da Aeronutica.

    De acordo com a Associao Brasileira dos Produtores de Algodo ABRAPA

    (2015) os avies pulverizam uma rea estimada de 25 milhes de hectares, correspondente a

    40% da rea agrcola brasileira. Com a possibilidade de que a agricultura avance nos prximos

    dez anos sobre 35 milhes de hectares ocupados hoje com pastagens, a rea a receber

    pulverizaes areas deve aumentar na mesma proporo e incorporar mais 14 milhes de

    hectares nesse prazo.

    So 72 milhes de hectares pulverizados todos os anos no pas, este nmero

    representado pela produo agrcola brasileira, que nos ltimos 15 anos aumentou 110,2% para

    24,2% de crescimento das reas de cultivo. Estes efeitos so resultados dos investimentos em

    tecnologia, os quais fizeram a produtividade ter incremento de 3,83% a cada ano, desde o incio

    da dcada passada. Evidenciando a importncia do desenvolvimento das tecnologias de

    aplicao, para os ganhos de produtividade. (BRASIL,2006; SIMO,2010)

    Para sustentar tamanha produo se faz necessria a utilizao agrotxicos para

    cultivo e manuteno de lavouras, contudo a sociedade por desconhecimento ou cultura insiste

    na tese de que os agrotxicos so prejudiciais ao homem e ao meio ambiente, devido s notcias

    relacionadas contaminao ambiental. Entretanto, o uso dessas substncias tem ganhado cada

    vez mais importncia por permitirem uma produo em larga escala devido ao combate de

    agentes patognicos. Deve ser feita uma utilizao de maneira racional contextualizada na

  • 32

    proteo dos compartimentos ambientais, evitando, assim, a contaminao do solo e da gua,

    os danos sade humana e animal e o aparecimento de pragas, doenas e plantas daninhas mais

    resistentes (LEITE e SERRA, 2013).

    Simo (2010), Costa (2009) e Carvalho (2005) afirmam que a consequncia da

    extino da aplicao de agroqumicos na agricultura no mundo seria a reduo da produo de

    alimentos com queda de 40% a 45% e o custo da alimentao seria acrescido de 50% a 75%,

    alm do comprometimento na qualidade dos alimentos e fibras produzidos.

    A aplicao de produtos por via area consequncia natural da necessidade de

    produo de alimentos em reas extensas e em grande escala (DRESCHER, 2012).

    Vrias formas de aplicao podem ser utilizadas pelos agricultores; todavia, a

    modalidade area apresenta diversas vantagens sobre todos os outros modais de pulverizao,

    tais como: preciso, eficcia, rapidez, economia, uniformidade, controle rpido de pragas e

    doenas, menor risco de poluio ambiental, alm de no provocar danos cultura, no

    transportar vetores e ainda permitir a aplicao com solo encharcado (SCHRODER, 2004;

    CARVALHO, 2005; ARAJO, 2006; COSTA, 2009).

    Tecnologias surgem na aviao agrcola vislumbrando a soluo de parte dos

    problemas presentes nesta atividade, como: descoberta de nova tecnologia para o

    posicionamento e trajetria durante a operao, com informaes de referncia geogrfica em

    tempo real, para o controle da deriva e para o desenvolvimento de novos agrotxicos. Todavia

    no se sabe se estas descobertas esto gerando novos constrangimentos aos pilotos agrcolas,

    portanto, existe a necessidade do desenvolvimento de novos estudos, para explorar os efeitos

    do surgimento destas tecnologias s mudanas ocorridas e seu impacto nas condies de

    segurana e sade no trabalho (ZANATTA, 2012).

    No quadro 1 esto alguns modelos de aeronaves utilizadas no Brasil pelos pilotos

    agrcolas como instrumento de trabalho. Ao observar a ilustrao reconhecemos alguns pontos

    que, conforme sua posio na cabine, sugerem desconforto para os pilotos durante a atividade

    de trabalho. Nesta imagem so destacados: - alavanca de flap; - o campo de visada dos

    marcadores de indicao de volume do hopper; o assento (relao de distncia que

    compromete a visibilidade dos instrumentos e acesso a alavanca de operao, pedais e outros

    dispositivos). Lembrando que estas aeronaves, tem configurao padronizada pelos rgos

    responsveis como a ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil no Brasil.

  • 33

    Quadro 1 - Estrutura e disposio dos equipamentos e dispositivos em alguns modelos de

    aeronaves agrcolas

    IPANEMA

    1) Dimenso interna da cabine da aeronave agrcola.

    IPANEMA 202

    2) Painel EMB 202 distribuio dos

    instrumentos de voo e pulverizao.

    3) Visor de indicao de volume do tanque do

    hopper3 aeronave EMB 202.

    4) Painel de comando das alavancas de

    voo(vermelha, amarela e preta), flap (amarela),

    aplicao slido lquido (vermelha)

    5) Destaque posicionamento da alavanca de

    flap muito prximo ao assento do piloto (risco

    de contato com corpo do piloto)

    3 o reservatrio de produtos para pulverizao (hopper) instalado entre o piloto e o motor, de

    aeronaves utilizadas em operaes agrcolas.

  • 34

    Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao

    AT 401 B

    6) Distribuio espacial dos instrumento na cabine da aeronave.

    AT 401 B

    7) Viso espacial da area externa pelo piloto.

    AT 802

    8) Posio de acionamento das alavancas de

    pulverizao posio de conforto.

    9) idem a 13 ( preta pulverizao - cinza comando

    de voo).

    10) Pedal com dupla funo: 1- frenagem da aeronave; e 2- acionamento do leme.

  • 35

    Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao

    AIR TRACTOR

    11) Instrumento de navegao e orientao. 12) Disposio dos intrumento do painel de

    comando da aeronave.

    13) Relao assento e monitor de comando 14) Painel de comandos de dispositos de controle

    de voo

    PIPER PAWNEE

    15) Alavanca de pulverizao vermelha. 16) Indicador de volume dentro da cabine

    CESSNA AG TRUCK

    17) Relao de espao interno da cabine x

    ocupao piloto 18) Espao interno da cabine no ocupado

  • 36

    Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao

    19) Trava (vermelho) do manche avio

    estacionado 20) Painel de controle de dispositivos

    TURBO THRUSH

    21) Espao interno da cabine 22) Posio dos dispositivos no painel de

    comandos

    23) Janela de acesso a cabine ( necessrio pisar em uma das asas da aeronave para subir)

    THRUSH

    24) Relao de distncia assento painel 25) Manche com botes de comando e tela DGPS

  • 37

    Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao

    26) Painel com DGPS 27) Aeronave cabine dupla

    2.1.2 Panorama scio econmico e comercial da aviao agrcola

    O Brasil tem a segunda maior frota de avies agrcolas do mundo. A frota se

    concentra em 11 estados. O estado com maior concentrao de aeronaves agrcolas,

    respectivamente o que detm maior rea de produtividade de gros no Brasil atualmente, o

    Mato Grosso. A regio que tem o maior nmero de aeronaves desta categoria, o Centro-Oeste

    (MT, GO, MS), seguido do Sul (RS, PR), Sudeste (SP, MG), Nordeste (BA, MA) e o Norte

    (TO, RO), conforme ilustra o quadro 2 e a figura 1.

    Quadro 2 - Distribuio e concentrao da frota de aeronaves agrcolas entre os estados

    brasileiros

    ESTADO N AERONAVES

    AGRCOLAS

    1 Mato Grosso 478

    2 Rio Grande do Sul 425

    3 So Paulo 287

    4 Gois 239

    5 Paran 141

    6 Bahia 102

    7 Mato Grosso do Sul 100

    8 Minas Gerais 72

    9 Maranho 31

    10 Tocantins 27

    11 Rondnia 19

    FROTA BRASIL 1921

    Fonte: Adaptado SIMO (2016).

    4

    6 1

    33

  • 38

    Figura 1 - Nmero de aeronaves agrcolas por regio no Brasil

    Fonte: Adaptado SIMO (2016).

    Na matria Conhea a aviao agrcola 4 so descritas as aeronaves utilizadas em

    voo agrcola no Brasil. Mquinas pequenas, leves, que voam baixo (quase prximo ao cho) e

    fazem manobras perigosas a fim de cuidar de uma zona de cultivo. Existem cerca de 2.000

    aeronaves desse tipo em operao, uma frota que coloca o pas na segunda posio no mundo

    em nmeros de aeronaves para esse fim. Dentro do segmento existem trs principais categorias

    de aeronaves disponveis: leve = PA-18 e similares; mdia = Ipanema e similares, pesada = Air

    tractor e similares. As aeronaves utilizadas para a pulverizao nas lavouras tm capacidade

    variada, em funo do uso ao qual se destinam. Entre os avies mdios (com reservatrio para

    at 900 litros) esto o Piper Pawnee, Cessna AG-Wagon, Ag-truck e o Ipanema.

    Dentre os avies de maior capacidade, de 1000 a 4000 litros, existem o Air

    Tractor e o Thrush, avies importados de ampla utilizao em reas extensas tais como as

    encontradas no Mato Grosso, Gois, Oeste Baiano ou Norte de Minas Gerais. Na categoria das

    aeronaves de grande porte, que costumam ser pouco utilizadas, temos ainda o Grumann, um

    biplano agrcola ou o Dromader. A empresa americana importante fabricante em fornecimento

    de aeronaves para operao agrcola, semeadura e combate a incndio, Thrush Aircraft, vem

    garantindo um crescimento robusto dentro do restrito mercado de aeronaves agrcolas.

    4 Conhea a aviao agrcola. Blog Hangar 33, 2015. Disponvel em: Acesso em: 22 nov. 2016

    http://blog.hangar33.com.br/conheca-a-aviacao-agricola/http://blog.hangar33.com.br/conheca-a-aviacao-agricola/
  • 39

    Recentemente a companhia se associou a General Electric (GE) para produzir a nova gerao

    da aeronave 510G equipada com o motor de turbina GE H80, permitindo melhorias no

    desempenho de decolagem em altitudes mais altas e em dias quentes, muito comuns no Brasil.

    Outra fabricante estrangeira com espao no pas a Cessna, predominando o modelo A188B

    Agtruck. A empresa fabricante do Air-Tractor (sries 400, 500, e 800) detm forte participao

    no mercado aero agrcola no Brasil. Alm destas encontramos tambm nos cus brasileiros a

    marca Piper Aircraft, nos modelos PA-25-235 e PA-25-260.

    Produzida pela Embraer, a aeronave Ipanema a lder no mercado de aviao

    agrcola no Brasil, com cerca de 60% de participao em nmero. Esse modelo utilizado

    principalmente na pulverizao de fertilizantes e agrotxicos, evitando perdas por amassamento

    na cultura e flexibilizando a operao. Outras marcas vm ganhando espao no mercado

    nacional conforme mostra a tabela 1.

    A idade da frota aero agrcola operante no pas de 22 anos, dos avies adaptados

    o mais antigo um PA-18, ano 1951. Dos avies especficos o mais antigo um PIPER pa-25-

    135 (Pawnee), ano 1962 (SIMO, 2016).

    Tabela 1 - Distribuio de frota aero agrcola por modelo no Brasil

    Modelo Quantidade

    Laviasa 16

    PZL 18

    Thrush 20

    Piper 144

    Air Tractor 257

    Cessna 282

    Embraer - Neiva 1220

    Fonte: Simo (2016)

    At 2015 eram 231 empresas de aviao agrcola homologadas, 35% delas

    concentradas no estado do RS, 51% distribudas entre os estados de SP, PR, GO, MT e MS.

    Regies estas que detm a maior quota de produo de gros no pas. Confirmando assim a

    presena das empresas de aviao agrcola nas reas de maior demanda de trabalho para o setor

    (SIMO, 2016).

    A regio centro-sul, que compreende os estados do centro-oeste, sudeste e sul do

    Brasil se distncia em quantidade de rea cultivada e produo de gros das demais. Quo

    maior a necessidade de produo em escala para determinados cultivos maior tambm ser a

  • 40

    demanda por tcnicas alternativas de manuteno da lavoura tal como a modalidade de

    pulverizao area que se expande nestas regies acompanhando os indicadores de produo.

    O comparativo de rea, produtividade e produo de gros - produtos selecionados

    safras 2014/2015 e 2015/2016 do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento da

    Secretaria de Poltica Agrcola e Departamento de Crdito e Estudos Econmicos do Brasil, na

    tabela 2 destaca-se os estados do MT e PR, como maiores produtores de gros e

    consequentemente com maior rea cultivada esto o centro-oeste e o sul do pas. Estas regies

    mantm produtividade com uma taxa de variao entre 16% e 5,2%. Em relao rea de

    cultivo a variao ainda menor est entre 3,1% e 1,0% entre 2014 e setembro de 2016, o que

    significa que a produo de gros quase a mesma em proporo. O MT foi responsvel pela

    produo de 51.718,8 mil t/ ano safra 2014/15 e j so 43.425,1 mil t produzidas de 2015 at

    set/16. O Paran segue logo atrs ocupando o posto de segundo maior produtor com nmeros

    que vo de 37.659,1 mil t - 14/15 a 35.694,5 mil t 15/16. No geral o Brasil vem se mantendo

    em nveis de excelncia de produo. Os investimentos em pesquisas e tecnologia acompanham

    tal desenvolvimento, apesar de apontar ainda grande deficincia em relao aos pases ditos em

    fase de maior desenvolvimento. As previses de crescimento em futuro prximo so as

    melhores.

    Tabela 2 - Comparativo de rea de produo de gros, safras 2014/2015 e 2015/2016.

    REGIO/UF

    REA (em mil ha)

    Safra 14/15 (a) Safra 15/16 (b) VAR. % (b/a)

    NORTE 2.489,8 2.540,5 2,0

    NORDESTE 8.104,9 7.391,3 8,8

    NORTE NORDESTE 10.594,7 9.931,8 6,3

    CENTRO-OESTE 22.873,4 23.583,9 3,1

    SUDESTE 5.105,3 5.303,3 3,9

    SUL 19.341,3 19.492,8 0,8

    CENTRO-SUL 47.320,0 48.380,0 2,2

    BRASIL 57.914,7 58.311,8 0,7

    Fonte: Adaptado MAPA (2016)

    As culturas que mais necessitam de tratamento fitossanitrios so a soja, arroz,

    algodo, milho, cana, banana e pastagens (BELLINI, 2007; RASI, 2008).

  • 41

    No Brasil a aviao agrcola efetiva em quase todos os tipos de cultura, conforme

    detalhado por Silveira (2004).

    Destacam-se, os cinco principais tipos de cultivos, quais sejam:

    (i) O arroz se destaca no sul do pas, pela rea cultivada e pela produo.

    Acometida por doenas, das quais, se destacam patgenos fngicos causadores de manchas,

    como a brusone (Pyricularia grisea (Cooke Sacc), mancha parda (Drechslera oryzae (Breda de

    Hann) Subr. & Jain (sin. Bipolaris oryzae), mancha estreita (Cercospora janseana Miyek),

    escaldadura (Microdochium oryzae), queima das bainhas (Rhizoctonia oryzae Riker & Gooch)

    e manchas dos gros (Phoma sp., Drechslera oryzae, Curvularia lunata, Nigrospora oryzae,

    Alternaria sp., Fusarium sp.). Para combate destas doenas uma medida eficaz aplicao de

    agrotxicos de parte area e na cultura do arroz irrigado, com irrigao por inundao, a

    utilizao de equipamentos terrestres para pulverizao dificultada, sendo a tecnologia de

    aplicao area com o uso de aeronaves a mais apropriada neste tipo de cultura (CORREA et

    al., 2004; DALLAGNOL et al., 2006; CELMER et al.., 2007).

    (ii) O milho das grandes culturas aquela que menos utiliza a aviao agrcola.

    As aplicaes da ureia na fase inicial do crescimento do cultivo, de micronutrientes foliares na

    fase vegetativa e de defensivos nas emergncias so econmicas e eficazes.

    (iii) O algodo h aproximadamente trinta anos, quando uma enorme infestao

    de lagartas atacou a regio de Santa Helena, em Gois, os agricultores em desespero chegavam

    a lanar mo de at 25 aplicaes de defensivos por safra na tentativa de controlar a praga. A

    cultura muito vulnervel a pragas, em que o total de aplicaes costuma ser superior a dez.

    Com o moderno manejo integrado de pragas conseguiram reduzir os tratamentos para menos

    da metade, cerca de 3 ou 4 aplicaes por safra. O aparecimento do bicudo, em meados dos

    anos 80, voltou a exigir tratamento mais intensivo, de 6 aplicaes anuais, porm, s foram

    empregadas quando a infestao era significativa, atingindo em mdia 3% dos capulhos5.

    (iv) A soja recebe em geral 4 aplicaes ao todo, durante o cultivo, sendo: -

    Herbicidas normalmente empregados contra as invasoras de folhas largas, no preparo da

    palha, no caso do plantio direto, ou logo depois da semeadura; - Defensivos inseticidas ou

    lagarticidas, quando sua manifestao se mostra significativa; - Fertilizantes molibdnio e

    mangans, os dois microelementos mais necessrios e dos quais o solo geralmente carente; -

    Fungicidas quando a umidade do ar e a temperatura alta estimulam o crescimento de fungos.

    5 Cpsula dentro da qual se forma o algodo.

  • 42

    (v) A Cana-de-Acar semelhante soja, para a cana-de-acar, tambm so

    programadas 4 aplicaes, a saber: -Herbicidas geralmente aplicados na pr-emergncia, at

    no mximo trs meses aps o plantio; -Reguladores de Crescimento os mais usados so os

    glifosatos, aplicados durante a fase de maior desenvolvimento da planta; - Metarhizium para

    o controle da cigarrinha, que ataca as plantaes na mesma fase; - Polvilhamento de Inimigos

    Naturais das Lagartas e Cigarrinhas so insetos que os prprios produtores criam em

    laboratrio e que esto, hoje, muito difundidos nas grandes plantaes .

    A aviao agrcola um segmento que tem muita demanda e pouca oferta de

    profissionais. O investimento na carreira de piloto agrcola ainda alto. Contudo se investe

    acreditando no retorno rpido pelas ofertas constantes de trabalho. O valor aproximado

    investido em um curso de formao de um piloto agrcola pode variar de um local para outro.

    No Sudeste o custo de R$ 56.832,00 para formao de piloto privado/piloto comercial mais

    R$ 30.000,00 para o curso de piloto agrcola, includas as horas de voo6.

    Quanto remunerao do piloto, conforme Santos (2005) pode ser efetuada por

    servio temporrio (safra) atravs de porcentagem (varivel de 5% a 15%) sobre o valor bruto

    cobrado por hectare aplicado ou por salrio fixo, quando o empregado registrado na empresa

    aplicadora. No primeiro caso, h maior interesse do piloto em procurar render ao mximo seu

    trabalho, independente para si e de maneira bastante frequente, efetuar pulverizaes mesmo

    em condies climticas fora das especificaes mnimas, recomendadas pela tecnologia de

    aplicao, principalmente nas pocas de maior demanda de servios. Entretanto, no uma

    atitude generalizada, existindo empresas com senso profissional que exigem de seus pilotos, o

    cumprimento adequado das recomendaes tcnicas essenciais para se obter o melhor resultado

    dos defensivos aplicados.

    Diante das crescentes exigncias que a agricultura moderna impe, a aviao

    agrcola firma-se como uma alternativa tecnolgica de preciso e rapidez, aspectos necessrios

    para atender ao crescimento do agronegcio. Cabe salientar que a frota brasileira de avies

    novos no acompanha este crescimento, j que muitas empresas de menor porte do preferncia

    aquisio de avies usados por requerer investimento menor e com nvel de produtividade

    semelhante aos novos (CEZERE e VANIN, 2013).

    6 Matria Piloto Agrcola. Site InfoAviao, 2010. Disponvel em:

    Acesso em: 23 fev. 2016

  • 43

    As diferenas de valor entre o equipamento terrestre e areo de pulverizao

    conforme descrito na Revista Destaque Rural 7 (2014), onde o valor baixo de uma aeronave

    usada em torno de R$ 350.000,00, em relao a um equipamento terrestre auto propelido de R$

    450.000,00. Por isso muitos produtores esto adquirindo avies agrcolas. Um avio agrcola

    novo, totalmente equipado e pronto para o trabalho, custa em torno de R$ 850.000,00,

    financivel. O que, de imediato, nos remete ao raciocnio de que, comparado a um equipamento

    terrestre auto propelido, que pode chegar a R$ 700.000,00, o avio apresenta vantagens e se

    tornou atrativo a inmeros produtores.

    A pulverizao com aeronaves agrcolas (avies e helicpteros) quando

    comparadas a pulverizadores terrestres so mais rpidas e alcanam maior eficincia na

    distribuio do produto. Alm de ter como vantagem o fato de conseguir operar em condies

    como em episdios de chuvas intensas ou em solos encharcados. Contudo, a frota de aeronaves

    agrcolas no Brasil ainda pequena para atender a demanda de servios, considerando a rea

    possvel de ser aplicada com avies agrcolas, fato este que compromete a aplicao,

    ocasionando frustraes e migraes dos produtores para pulverizadores auto propelidos.

    Soma-se a isto, a sobrecarga operacional de cada avio, onde as aplicaes subsequentes

    normalmente vo ocorrer em condies climticas desfavorveis ao modo de ao do defensivo,

    causando derivas prejudiciais, danosas s reas vizinhas, as pessoas, aos animais e ao meio

    ambiente (SANTOS, 2005).

    Em 2010, o Brasil tinha 1.500 avies agrcolas em operao. O mercado potencial

    para essas aeronaves era de 10.000 unidades. Esse potencial de mercado leva em considerao

    somente as reas agrcolas atualmente exploradas. Por exemplo, o Estado do Mato Grosso ainda

    tem aproximadamente 60% do potencial de reas agrcolas para serem exploradas pelas

    extensivas culturas da soja e do algodo. Para os prximos anos esperado um grande

    desenvolvimento de novas tecnologias na rea de aplicao com aeronaves agrcolas no Brasil.

    Empresas fabricantes de avies agrcolas e equipamentos do Brasil e de outros pases estaro,

    7 Revista Destaque Rural - 2014 Disponvel em: Acesso

    em: 14 nov. 2016

    http://www.destaquerural.com.br/
  • 44

    nos prximos anos, buscando esse grande mercado potencial da aviao agrcola no Brasil que

    existe ainda a ser conquistado8.

    A operao aero agrcola hoje, uma alternativa de grande viabilidade para

    manuteno de culturas, podendo proporcionar alto rendimento operacional permitindo

    solues rpidas em pequenos intervalos de tempo. Possibilita tambm o alcance de resultados

    satisfatrios com custo equiparado aos benefcios, isto quando so adotados os procedimentos

    tcnicos adequados, com mo de obra qualificada (BAYER et al., 2011).

    Womac et.al. (1997) tambm destaca a importncia da seleo apropriada dos

    acessrios para a aplicao, garantindo eficincia e qualidade do combate com: uniformidade

    de aplicao, cobertura de gotas sem risco potencial de deriva e, consequentemente, a preciso

    e segurana na distribuio dos agrotxicos.

    2.1.3 Aspectos da Atividade do piloto de aviao agrcola

    O trabalho dos aviadores agrcolas composto de tarefas que vo literalmente do

    nascer ao pr do sol. Primeiro o deslocamento das aeronaves at as propriedades cujas lavouras

    recebero o tratamento atravs do processo areo. Ao chegar ao destino, tem incio o voo de

    reconhecimento de rea. Antes, porm, checado o motor, abastecida e calibrada a aeronave.

    Tudo acompanhado pelo piloto que ir executar as operaes no local. Aps, planejada a rota

    e forma de pulverizao, formato de curvas, variando em funo da topografia e das

    caractersticas da cultura que ser tratada. De forma estratificada podemos dizer que primeiro

    acontece, a fase de preparao para o voo: -clculo de rea pulverizada; -interao das

    condies meteorolgicas; -carga do avio (calibragem); -etapas que precedem o voo; -

    conferncia dos equipamentos; -verificao da jornada de trabalho (tempo para cumprir a

    demanda); -checagem geral da aeronave; -aferio dos equipamentos; e -verificao das

    condies de segurana da aeronave. Com o voo em execuo: controlar a sada do produto

    (bicos/ barra); observar a rea todo o tempo (presena de obstculos); ateno quantidade de

    combustvel (geralmente abastecem menos para no pesar a aeronave e assim comprometer o

    8 Matria Piloto Agrcola. Site InfoAviao, 2010. Disponvel em:

    Acesso em: 23 fev. 2016

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    desempenho da mquina) e finalizao do voo: aterrissagem; recolhimento da aeronave;

    verificao e conferncia de possveis danos durante a atividade e, enfim, descanso em

    alojamentos nas prprias propriedades contratantes ou hotis circunvizinhos.

    O posto de trabalho do piloto impe grandes exigncias ao condutor deste

    equipamento. A grande maioria dos estudos cientficos sobre a estao de trabalho do aviador

    menciona os aspectos de natureza da ergonomia cognitiva, fsica e da biomecnica com

    implicaes e exigncias fisiolgicas sobre a conduta do piloto (RANGEL,2007).

    Caldwell (2009) e Licati (2015) observaram a consequncia do crescimento

    abrupto das operaes areas como reflexo direto nos pilotos, como causa de fadiga por

    extensas das jornadas de trabalho e perturbaes do ritmo biolgico, problemas estes que afetam

    de forma significativa as operaes aeronuticas.

    A aviao se insere no contexto do trabalho como qualquer outra atividade

    profissional; entretanto, por apresentar uma atuao muito peculiar, requer elevados nveis de

    controle de operao, o contnuo desenvolvimento de tecnologias e grande mobilidade pessoal

    e organizacional. Para trabalhar dentro deste contexto complexo e dinmico, o ser humano

    desenvolve novas habilidades, sempre acrescentando esforos de adaptao e superao, nem

    sempre totalmente estudados e reconhecidos (BAUER e WEINER, 2010).

    Segundo Grandjean (1998) e Silva (2010) a anlise da tarefa fundamental para o

    conhecimento aprofundado das reais necessidades e dificuldades dos usurios que atuam em

    um dete