O TRABALHO DO AVIADOR AGRÍCOLA: A ATIVIDADE DE ... · F225t O trabalho do ... a existência de uma...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA AGRCOLA
JULIANA APARECIDA ALVES DE FARIA
O TRABALHO DO AVIADOR AGRCOLA:
A ATIVIDADE DE PULVERIZAO AREA SOB UMA
PERSPECTIVA ERGONMICA
CAMPINAS
2017
-
JULIANA APARECIDA ALVES DE FARIA
O TRABALHO DO AVIADOR AGRCOLA:
A ATIVIDADE DE PULVERIZAO AREA SOB UMA
PERSPECTIVA ERGONMICA
Dissertao apresentada Faculdade de Engenharia
Agrcola da Universidade Estadual de Campinas
como parte dos requisitos exigidos para a obteno do
ttulo de Mestra em Engenharia Agrcola, na rea de
concentrao de Gesto de Sistemas na Agricultura e
Desenvolvimento Rural.
Orientador: Prof. Dr. Mauro Jos Andrade Tereso
Coorientador: Prof. Dr. Roberto Funes Abraho
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE VERSO FINAL
DA DISSERTAO DEFENDIDA PELA ALUNA
JULIANA APARECIDA ALVES DE FARIA, E
ORIENTADA PELO PROF. DR. MAURO JOS
ANDRADE TERESO.
CAMPINAS
2017
-
FICHA CATALOGRFICA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
BIBLIOTECA DA REA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE
Informaes para Biblioteca Digital
Ttulo em outro idioma: The work of the agricultural aviator: the aereal spraying activity
from an ergonomic perspective
Palavras-chave em ingls: Ergonomics, Pulverization, Pilots, Aviation rea de concentrao: Gesto de Sistemas na Agricultura e Desenvolvimento Rural
Titulao: Mestra em Engenharia Agrcola
Banca examinadora: Mauro Jos Andrade Tereso [orientador], Wellington Pereira Alencar de
Carvalho, Sandra Francisca Bezerra Gemma, Marco Antnio Gomes Barbosa Data de defesa: 20-02-2017
Programa de Ps-Graduao: Engenharia Agrcola
Faria, Juliana Aparecida Alves de, 1975-
F225t O trabalho do aviador agrcola: a atividade de pulverizao area sob
uma perspectiva ergonmica / Juliana Aparecida Alves de Faria.
Campinas, SP : [s.n.], 2017.
Orientador: Mauro Jos Andrade Tereso.
Coorientador: Roberto Funes Abraho.
Dissertao (mestrado) Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Engenharia Agrcola.
1. Ergonomia. 2. Pulverizao. 3. Pilotos. 4. Aviao. I. Tereso,
Mauro Andrade Jos,1959-. II. Abraho, Roberto Funes,1959-. III.
Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia
Agrcola. IV. Ttulo.
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Este exemplar corresponde redao final da Dissertao de Mestrado defendida por Juliana
Aparecida Alves de Faria, aprovada pela Comisso Julgadora em 20 de fevereiro de 2017, na
Faculdade de Engenharia Agrcola da Universidade Estadual de Campinas.
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Mauro Jos Andrade Tereso Presidente e Orientador
FEAGRI/UNICAMP - Campinas
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Wellington Pereira Alencar de Carvalho Membro Titular
UFLA Lavras
_________________________________________________________________
Profa. Dra. Sandra Francisca Bezerra Gemma Membro Titular
FCA/UNICAMP Limeira
A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de
vida acadmica do discente.
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DEDICATRIA
Consagro esta produo ao meu esposo Douglas pelo apoio incondicional, meu
filho Otvio grande motivador das minhas conquistas, a Nina sem ela grande parte disto nada
seria possvel, aos meus pais Sr. Dalmir e Sra. Jacira, irmos Jpiter e Jussara, cunhado e
cunhada, sobrinhos Felipe, Manuela, Isabela e Eduardo, primos e primas, tios e tias, amigos e
a todos que fizeram parte deste captulo da minha histria de alguma forma e em qualquer
proporo, sero lembrados sempre por mim com muito carinho.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus orientadores os professores Dr. Mauro Jos Andrade Tereso e Dr.
Roberto Funes Abraho pela sensibilidade e sabedoria para conduzir este trabalho.
Ao meu grande e estimado amigo Luiz Carlos Fonseca por tudo, pela parceria e
pela honra de tua amizade.
Ao amigo e conselheiro respeitado Prof. Dr. Marco Antnio Gomes Barbosa pelo
exemplo e por viabilizar a oportunidade desta conquista.
Ao Prof. Dr. Wellington Pereira Carvalho pela motivao, por tanto incentivo e por
ser a minha grande referncia nesta pesquisa.
A eficiente e pronta dupla de amigos pela colaborao, Franciele e Lucas Rocha.
Ao tenente coronel aviador Alexander Simo pelo exemplo de competncia e
simplicidade para conduzir o que lhe confere como misso.
Aos amigos Carmem Aparecida Herrera e Frederico Queiroz pelo apoio e pelo
suporte sero inesquecveis.
Aos pilotos da aviao agrcola e as empresas fabricantes de aeronaves que
contriburam e acreditaram nos objetivos desta proposta de trabalho.
A Secretaria do Curso, pela cooperao e acolhimento.
Ao programa CAPES/CNPQ pela bolsa cedida para financiamento desta proposta
de pesquisa.
A importncia deste trabalho tem incio na partilha de tantas pessoas que se fizeram
essenciais para o desfecho deste tema. Muitas no sero explicitadas neste trecho demarcado
pelo espao restrito embora sempre lembradas e reconhecidas igualmente como parte desta
conquista.
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RESUMO
A escassez de pesquisas de opinio, voltadas as atividades do piloto especializado
em operaes agrcolas e o volume de acidentes, a maioria atribudos a falha humana, foram
as razes que motivaram esta pesquisa. O objetivo foi qualificar a interferncia dos aspectos
ergonmicos, atravs da identificao das dificuldades enfrentadas na dinmica de trabalho,
segundo o ponto de vista dos pilotos. A pesquisa de campo, permitiu investigar e confrontar as
posies dos envolvidos no setor de aviao agrcola, por meio de questionrios e de entrevistas
semiestruturadas. Os dados sofreram tratamento quantitativo, atravs do mtodo comparativo-
dedutivo. Constatouse dificuldades dos pilotos, de ordem organizacional (suporte de equipes
de solo nas fases de planejamento e execuo das tarefas) e operacional (posicionamento
desfavorvel da alavanca do flap, do assento, do manche e dos pedais), alm de calor e rudo
constante, que tambm causam muito desconforto. O contato com partculas do material
aplicado durante a pulverizao tambm foi identificado como fator de incmodo e
preocupao com possvel fonte de contaminao pelos pilotos. Para os projetistas de aeronaves
agrcolas consideram que seus produtos so dotados de recursos suficientes para as operaes
desta natureza. Esta tambm a opinio do responsvel pelas investigaes de acidentes areos,
que defende apenas pequenas melhorias nos projetos. Um maior envolvimento dos pilotos no
processo de melhoria das aeronaves seria fundamental para se alcanar resultados mais efetivos.
O estudo mostrou por fim, a existncia de uma grande lacuna entre teoria e prtica,
fundamentada pelos anseios e dificuldades mencionados pelos pilotos para melhores condies
de trabalho.
Palavras-chave: Piloto Agrcola; Aviao Agrcola; Ergonomia; Projeto de
Produto; Anlise da Atividade.
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ABSTRACT
The scarcity of opinion polls, focusing on the activities of the pilot specialized in
agricultural operations and the volume of accidents, most attributed to 'human error', were the
reasons that motivated this research. The objective was to qualify the interference of the
ergonomic aspects, through the identification of the difficulties faced in the dynamics of work,
according to the point of view of the pilots. The field research allowed to investigate and
confront the positions of those involved in the agricultural aviation sector, through
questionnaires and semi-structured interviews. Data were quantitatively treated using the
comparative-deductive method. Pilot difficulties, organizational (support of ground teams in
the planning and execution phases of the tasks) and operational difficulties (unfavorable
positioning of the flap lever, seat, joystick and pedals), as well as heat and noise Constant,
which also causes a lot of discomfort. The contact with particles of the material applied during
the spraying was also identified as a nuisance factor and concern with possible source of
contamination by the pilots. For agricultural aircraft designers, they consider that their products
are endowed with sufficient resources for operations of this nature. This is also the opinion of
the person in charge of the investigations of aerial accidents, that defends only minor
improvements in the projects. Greater involvement of pilots in the aircraft improvement process
would be crucial if more effective results were to be achieved. The study showed, finally, the
existence of a great gap between theory and practice, based on the anxieties and difficulties
mentioned by pilots for better working conditions.
Keywords: Agricultural Pilot; Agricultural Aviation; Ergonomics; Product Design;
Activity Analysis.
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LISTA DE ILUSTRAES
FIGURAS
Figura 1 - Nmero de aeronaves agrcolas por regio no Brasil ..................................... 38
Figura 2 - Foto do interior da cabine de uma aeronave agrcola, modelo Ipanema, destaque
para estado de conservao da aeronave em especial para o visor de volume de produto
(improvisado com escrita a caneta) ................................................................................. 54
Figura 3 - Contribuio dos fatores humanos e do equipamento, ao longo do tempo .... 57
Figura 4 - Percentual de acidentes por tipo de operao da aviao ocorridos no perodo
entre 2006 e 2015 ............................................................................................................ 59
Figura 5 - Estatsticas de causas dos principais acidentes ocorridos com aeronaves
agrcolas entre 2007 e 2012 ............................................................................................. 61
Figura 6 - Tipos de ocorrncias e possveis causadores dos acidentes aero agrcolas entre
2006 e 2015 ..................................................................................................................... 62
Figura 7 - Formatos de manobras adotadas pelos pilotos durante as operaes: A) Curva
clssica/balo; B) Racetrack ............................................................................................ 73
Figura 8 - Formato de manobra preferida pelos pilotos para as operaes de
pulverizao: curva clssica, indicao de certo e errado ao se manobrar a aeronave ao
final da faixa .................................................................................................................... 73
Figura 9 - Simulao ergonmica da cabine do avio Ipanema da Embraer .................. 87
QUADROS
Quadro 1 - Estrutura e disposio dos equipamentos e dispositivos em alguns modelos de
aeronaves agrcolas .......................................................................................................... 33
Quadro 2 - Distribuio e concentrao da frota de aeronaves agrcolas entre os estados
brasileiros ........................................................................................................................ 37
Quadro 3 - Modelo de Procedimento Operacional Padro (POP) ................................... 48
Quadro 4 - Modelo de relatrio operacional ................................................................... 51
Quadro 5 - Quantidade de acidentes, acidentes com fatalidades, fatalidades, aeronaves
destrudas e incidentes graves por segmento da aviao versus tipo de ocorrncia ........ 63
Quadro 6 - Descrio das etapas de construo da pesquisa e identificao das aes, dos
envolvidos e do local de realizao com indicador de aproveitamento para cada fase
distinta, e resumo final para o recorte alvo (respostas dos pilotos) ................................. 68
-
GRFICOS
Grfico 1 - Variao de idade dos pilotos agrcolas ........................................................ 76
Grfico 2 - Tempo de experincia como piloto agrcola ................................................. 76
Grfico 3 - Ano de certificao como piloto agrcola ..................................................... 77
Grfico 4 - Grau de instruo acadmica os pilotos agrcolas ........................................ 78
Grfico 5 - Regio de atuao ......................................................................................... 80
Grfico 6 - Vnculo Empregatcio do piloto .................................................................... 81
Grfico 7 - Quantidade de meses trabalhados no ano ..................................................... 82
Grfico 8 - Jornada de trabalho semanal ......................................................................... 83
Grfico 9 - Treinamentos realizados pelos pilotos agrcolas ........................................... 84
Grfico 10 - Idade da frota de aeronaves utilizadas para as atividades agrcolas ........... 86
Grfico 11 - Nvel de satisfao dos pilotos em relao ao valor dos salrios
recebidos .......................................................................................................................... 88
Grfico 12 - Intervalo mnimo para manuteno de rotina entre as revises da
aeronave ........................................................................................................................... 89
Grfico 13 - Problemas e dificuldades enfrentadas durante as operaes ....................... 91
Grfico 14 - Dificuldades enfrentadas durante as operaes para realizao das tarefas
prescritas .......................................................................................................................... 92
Grfico 15 - Relato de intoxicao por agrotxicos sofrida pelos pilotos durante a
realizao das atividades de trabalho............................................................................... 95
Grfico 16 - Na opinio dos pilotos quais os fatores responsveis pelos incidentes e
acidentes na aviao agrcola .......................................................................................... 97
Grfico 17 - Segundo os pilotos quais as normas e regras, devem ser seguidas para
desempenho de suas tarefas nas empresas para as quais prestam seus servios ............. 98
Grfico 18 - Na opinio dos pilotos, quais as normas e regras, so difceis de serem
cumpridas durante a execuo de suas tarefas de rotina ................................................. 99
Grfico 19 - Avaliao dos pilotos em relao ao espao para acomodao dentro da
cabine das aeronaves agrcolas, utilizadas para o seu trabalho ..................................... 101
Grfico 20 - Na opinio dos pilotos quais os fatores provocam incmodo durante o voo
para realizao das operaes agrcolas ........................................................................ 102
Grfico 21 - Na opinio dos pilotos quais os pontos de maior desconforto dentro da cabine
das aeronaves agrcolas, durante a realizao das suas tarefas...................................... 103
-
Grfico 22 - Na opinio dos pilotos quais os fatores que tm maior efeito negativo durante
a realizao das suas atividades ..................................................................................... 104
Grfico 23 - Segundo os pilotos, quais so os sintomas sentidos durante a realizao dos
voos ................................................................................................................................ 105
Grfico 24 - As vantagens reconhecidas pelos pilotos agrcolas na utilizao do
equipamento DGPS durante as operaes ..................................................................... 108
Grfico 25 - As desvantagens reconhecidas pelos pilotos agrcolas na utilizao do
equipamento DGPS durante as operaes ..................................................................... 109
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuio de frota aero agrcola por modelo no Brasil .............................. 39
Tabela 2 - Comparativo de rea de produo de gros, safras 2014/2015 e 2015/2016. 40
Tabela 3 - Quantidade de acidentes, acidentes com fatalidades, fatalidades, aeronaves
destrudas e incidentes graves por segmento da aviao versus modelo da aeronave
(cdigo ICAO) do Segmento Agrcola ............................................................................ 64
Tabela 4 - Variao do IMC (ndice de massa corporal) dos pilotos agrcolas............... 79
Tabela 5 - Quantidade de horas extras semanais praticadas regularmente...................... 82
Tabela 6 - Modelo de aeronave utilizada pelos pilotos estudados .................................. 85
Tabela 7 - Anlise de responsabilidades do piloto para realizao das tarefas
prescritas .......................................................................................................................... 90
Tabela 8 - Equipamentos utilizados pelos pilotos, para a aplicao de produtos por via
slida .............................................................................................................................. 107
Tabela 9 - Equipamentos utilizados para a aplicao de produtos por via lquida ........ 107
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LISTA DE SIGLAS
RAB Registro Aeronutico Brasileiro
PIB Produto Interno Bruto
SAE Aero Agrcola
TDP Tomada de potncia
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
POP Procedimento operacional padro
EUA Estados Unidos da Amrica
CAVAG Curso de Aviao Agrcola
EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronutica S.A
ANAPLA Associao Nacional de Aplicadores Areos
CENEA Centro Nacional de Engenharia Agrcola
ABRAPA Associao Brasileira dos Produtores de Algodo
ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil no Brasil
CHT Certificado de Habilitao de Trnsito
IT Instruo Normativa
CENIPA Centro de Investigao e Preveno de Acidentes Aeronuticos
ICAO International Civil Aviation Organization
OACI Organizao de Aviao Civil Internacional
SST Segurana e Sade no Trabalho
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
CEP Comit de tica em Pesquisa
SERIPA Sexto Servio Regional de Investigao e Preveno de Acidentes
Aeronuticos
SNA Sindicato Nacional dos Aeronautas
DGPS Differential Global Positioning System
UBV Ultrabaixo volume
SINDAG Sindicato Nacional das Empresas de Aviao Agrcola
OMS Organizao Mundial da Sade
IMC ndice de massa corporal
CCF Certificado de Capacitao Fsica
CLT Consolidao das Leis do Trabalho
EPI Equipamentos de Proteo Individual
EPC Equipamentos de Proteo Coletiva
SHP Shaft Horse Power ( Potncia de eixo)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Mundial_da_Sa%C3%BAde -
SUMRIO
1 INTRODUO .......................................................................................................... 17
1.1 FORMULAO DO PROBLEMA ..................................................................... 19
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA .............................................................................. 19
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 19
1.2.2 Objetivos Especficos .................................................................................. 19
1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 20
2 REVISO DE LITERATURA .................................................................................. 23
2.1 AVIAO AGRCOLA ...................................................................................... 29
2.1.1 A trajetria da aviao agrcola no Brasil. ............................................... 29
2.1.2 Panorama scio econmico e comercial da aviao agrcola ............... 37
2.1.3 Aspectos da Atividade do piloto de aviao agrcola ............................... 44
2.1.4 Segurana na Aviao Agrcola ................................................................. 55
2.1.5 Ergonomia na aviao agrcola .................................................................. 64
3 METODOLOGIA ....................................................................................................... 67
3.1 NATUREZA DA PESQUISA .............................................................................. 67
3.2 ATORES ENVOLVIDOS .................................................................................... 67
3.3 PROCEDIMENTOS ............................................................................................. 67
3.4 ANLISE DOS DADOS ...................................................................................... 71
4 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................... 72
4.1 DESCRIO DA ROTINA DE TRABALHO DOS PILOTOS AGRCOLAS
ENTREVISTADOS NESTE ESTUDO. ..................................................................... 72
4.2 RESULTADOS DE ANLISE DOS DADOS DO QUESTIONRIO APLICADO
AOS PILOTOS AGRCOLAS ................................................................................... 74
4.2.1 Elementos demogrficos e funcionais ........................................................ 75
4.2.2 Atuao Profissional ................................................................................... 80
4.2.3 Avaliao da tarefa ..................................................................................... 87
4.2.4 Avaliao da atividade ................................................................................ 89
4.2.5 Aspectos de segurana do trabalho ........................................................... 94
4.2.6 Normas e regras operacionais .................................................................... 97
-
4.2.7 Conforto operacional ............................................................................... 100
4.2.8 Interface piloto e equipamentos ............................................................... 106
4.3 RESULTADO DE ENTREVISTA APLICADA A REPRESENTANTES DE
EMPRESAS FABRICANTES DE AERONAVES AGRCOLAS. ......................... 110
4.4 RESULTADO DE ENTREVISTA APLICADA AO RESPONSVEL PELO
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAO DOS ACIDENTES DE AVIAO
AGRCOLA. ............................................................................................................. 115
4.5 SNTESE DE CONFRONTO DAS OPINIES DOS ATORES DA PESQUISA:
OS REPRESENTANTES DE EMPRESAS FABRICANTES DE AERONAVES
AGRCOLAS, O RESPONSVEL PELO DEPARTAMENTO DE
INVESTIGAO DOS ACIDENTES E OS PILOTOS DE AVIAO AGRCOLA.
.................................................................................................................................. 118
5 CONCLUSO ........................................................................................................... 120
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................121
APNDICES
APNDICE 1 TCLE 1 - PILOTOS DE AVIAO AGRCOLA ............................ 129
APNDICE 2 TCLE 2 - PROJETISTAS AERONAVES.......................................... 131
APNDICE 3 TCLE 3 - INVESTIGAO DE ACIDENTES ................................. 133
APNDICE 4 PRIMEIRO ROTEIRO DE ENTREVISTAS APLICADO TESTE
PILOTO 1 ...................................................................................................................... 135
APNDICE 5 QUESTIONRIO ADAPTADO (BASEADO NO TESTE PILOTO
1) .................................................................................................................................... 140
APNDICE 6 - ROTEIRO DE ENTREVISTA PROJETISTAS INDSTRIA
AVIAO AGRCOLA EMPRESAS 1 E 2. ................................................................ 149
APNDICE 7 - ROTEIRO DE ENTREVISTA SERIPA VI - INVESTIGAO DE
ACIDENTES AVIAO AGRCOLA. ....................................................................... 153
ANEXOS
ANEXO 1 RESULTADO DE APRECIAO DO COMIT DE TICA EM
PESQUISA DA UNICAMP -CAMPUS CAMPINAS ................................................. 156
-
ANEXO 2 - CERTIFICADO DE PARTICIPAO NO SEMINRIO NACIONAL DE
AVIAO AGRCOLA 2015 PRIMAVERA DO LESTE / MT ............................. 157
ANEXO 3 - CERTIFICADO DE PARTICIPAO NO SEMINRIO NACIONAL DE
AVIAO AGRCOLA 2016 CACHOEIRA DO SUL / RS .................................. 158
ANEXO 4 - CERTIFICADO DE PARTICIPAO NO CONGRESSO SINDAG
SINDICATO NACIONAL DAS EMPRESAS DE AVIAO AGRCOLA 2016
BOTUCATU / SP .......................................................................................................... 159
ANEXO 5 - SUMA IG-068 PT-VYV-1. RELATRIO FINAL SIMPLIFICADO
ACIDENTE AGRCOLA CENIPA, 2015. ................................................................ 160
-
17
1 INTRODUO
O agronegcio um segmento de grande importncia para a economia nacional.
Para garantir que o setor agropecurio contribua com a economia significativamente, reduzindo
custos de produo e consequente aumento de produtividade, sem esquecer do impacto
ambiental causado pelo excesso de agrotxicos, preciso se investir em tcnicas de preciso.
O mtodo de preciso na agricultura pode potencializar a eficincia na utilizao de insumos
atravs de recursos eletrnicos e de informtica, como, por exemplo, sensores, atuadores,
computadores de bordo, controladores de pulverizao, controladores de adubao,
mapeamento e aplicao via satlite (MENEZES e MARTINS, 2009).
Na agricultura de preciso est a aviao agrcola, tambm referida como operao
aero agrcola ou aplicao area. apresentada nas regulamentaes do setor como uma
atividade econmica de aplicao de qualquer substncia destinada nutrio de plantas,
tratamento do solo, propagao da vida vegetal, controle de pragas (ZANATTA, 2015).
Os pilotos de aviao agrcola durante a atividade de pilotagem repetem manobras
onde necessrio ter, alm de grande habilidade, tambm muita ateno durante toda a
trajetria do voo de combate (pulverizao). A cabine das aeronaves agrcolas o posto de
trabalho onde o aviador trabalha sob tenso constante. Durante o trabalho necessrio alm de
foco nos dispositivos e equipamentos operacionais da cabine, preciso estar atento a tantos
outros detalhes como: condies meteorolgicas, presena de obstculos, clculos de produo,
o tempo para executar as atividades, manuteno da aeronave, etc.
Considerando a evoluo tecnolgica o trabalho se transforma surgindo novos
parmetros para analisar a sua relao com o homem trabalhador, exaltando a necessidade de
incorporar a esta anlise no apenas o comportamento do homem, mas tambm o ambiente no
qual ocorre a atividade e que a condiciona e as consequncias deste para o indivduo e para a
produo (ABRAHO e PINHO, 2002).
A sofisticao do trabalho viabilizada tambm pela informatizao e mecanizao,
trouxe benefcios, mas com eles tambm alguns inconvenientes ao trabalhador, como aumento
das exigncias mentais e psquicas. A atividade passa a solicitar do operador maior empenho
mental, sobretudo solicitaes de memria e consequente antecipao (FALZON e
SOUVAGNAC, 2007).
A rotina de trabalho dos pilotos agrcolas complexa, uma juno de esforo fsico
e intelectual. preciso buscar alternativas e recursos que facilitem a vida cotidiana no trabalho
-
18
atravs de tecnologias, sempre enfatizando o homem como ator principal deste contexto
(BOTTO et al., 2015).
Esta complexidade das tarefas um gerador de stress pois, ao tentar reduzir esta
complexidade h uma ao sobre o esforo do operador. O operador tentar meios de mitigar
os efeitos gerados pelo constrangimento da tarefa e buscar meios alternativos. Aparece o stress
quando um dficit percebido entre os recursos estimados e os constrangimentos percebidos.
O operador no tem mais recursos disponveis neste momento que ocorre alm da fadiga o
esgotamento emocional (FALZON e SOUVAGNAC, 2007).
Promover a anlise das atividades de trabalho dos pilotos de aviao agrcola
atravs do prisma ergonmico pode de certa maneira explicar os episdios recorrentes da
insatisfao destes profissionais quanto a atividade em determinadas circunstncias e
possibilidades dos fatores que colaboram para o risco de incidentes e acidentes vigentes neste
segmento.
Segundo Dejours (2004), sob ponto de vista clnico, o trabalho de certa maneira
o empenho da personalidade para responder a uma tarefa delimitada por presses (materiais e
sociais). E mesmo quando o trabalho bem concebido, com organizao rigorosa, instrues e
procedimentos claros, muitas vezes impossvel atingir o esperado respeitando as prescries,
pois as situaes comuns de trabalho so permeadas por acontecimentos inesperados, panes,
incidentes, anomalias de funcionamento, incoerncia organizacional, imprevistos provenientes
tanto da matria, das ferramentas e das mquinas, quanto dos outros trabalhadores, colegas,
chefes, subordinados, equipe, hierarquia, clientes. Em sntese, sempre existe uma diferena
entre o trabalho prescrito e o trabalho real nesta situao o trabalhador atua como agente
regulador e transforma o modelo operatrio com base em sua experincia pessoal para garantir
a continuidade das atividades.
A pesquisa levanta as hipteses dos problemas e como eles so tratados pelos
pilotos em sua rotina de trabalho, a partir de uma abordagem intrnseca amparada pela
compreenso da estrutura interna da atividade de pilotagem agrcola. A integrao do piloto
anlise do seu trabalho guiou-o para a redescoberta das suas atividades e possibilitou no apenas
identificar as dificuldades, mas tambm formatos alternativos de operao adaptados por eles
para driblar a situaes de desconforto. Considerando tambm a participao dos demais
envolvidos neste contexto de trabalho, que segundo Daniellou e Bguin (2007), em ergonomia
interpreta-se pelas aes sem visar a exausto do que tenha lhes motivado, propondo uma
modelizao que esclarece, melhor que as precedentes, as questes colocadas, e abre novas
possibilidades de ao a um conjunto de atores.
-
19
1.1 FORMULAO DO PROBLEMA
A pilotagem em voos agrcolas alvo de grande especulao investigativa por ser
uma atividade de risco, considerando as condies e outras particularidades envolvidas neste.
Para ser um piloto, especializado nesta modalidade, necessria formao
especfica para atuao em atividades aero agrcolas.
Durante as atividades o piloto de aviao agrcola lida com o perigo durante todo o
tempo. E quando da ocorrncia de acidentes costuma-se dedicar a fatores humanos a causa
da fatalidade. No ponto de vista ergonmico a avaliao do trabalho se faz atravs da descrio
da atividade que se define como o conjunto de fenmenos de ordem fisiolgica, cognitiva,
psquica e social que o trabalhador utiliza para realizar a tarefa.
importante qualificar e dimensionar atravs de clara e objetiva fundamentao
cientfica a extenso bem como significado do que classificam como erro humano. Dentro
do contexto do trabalho as atitudes e comportamentos humanos tm como base de ordem: fsica,
cognitiva e organizacional.
Este trabalho pretende identificar de forma clara e sucinta os determinantes da
atividade da aviao agrcola: os fatores ambientais, organizacionais, operacionais, fsicos e
biomecnicos atravs da apreciao dos pilotos em relao ao seu trabalho. A questo
norteadora desta pesquisa : Na percepo dos pilotos, quais as dificuldades encontradas e
como elas interferem na sua atividade?
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.2.1 Objetivo Geral
Identificar as dificuldades e revelar os determinantes e suas consequncias para o
trabalho dos pilotos de aviao agrcola.
1.2.2 Objetivos Especficos
Entender as tarefas solicitadas aos pilotos de aviao agrcola, considerando
aspectos ergonmicos, fsicos, cognitivos e organizacionais;
Identificar parmetros projetuais das aeronaves que foram apontados como
problemas segundo opinio dos usurios - os pilotos da aviao agrcola;
-
20
Sistematizar as percepes dos pilotos de aviao agrcola para compreenso do seu
trabalho;
Confrontar a opinio dos pilotos acerca das aeronaves agrcolas com a dos seus
projetistas e investigadores de acidentes.
1.3 JUSTIFICATIVA
No Brasil 72 milhes de hectares so pulverizados pela aviao agrcola todos os
anos. Segundo o RAB - Registro Aeronutico Brasileiro, o pas fechou 2015 com 2035
aeronaves, em 2010 eram 1560. O setor registra desta forma um crescimento de 33% em cinco
anos. Junto frota cresce tambm o nmero de pilotos formados em 2010 se certificaram 98
pilotos agrcolas em 2015 foram formados 191 pilotos equivalendo a 95% de crescimento do
nmero de profissionais neste segmento (SIMO, 2016).
Em pases onde o agronegcio um dos principais alicerces da economia, a aviao
agrcola tambm se destaca. E no preciso muito esforo para constatar que no Brasil no
diferente j que o agronegcio representa uma fatia de 21% do PIB brasileiro. O Registro
Aeronutico Brasileiro contabiliza mais aeronaves registradas como SAE - Aero agrcola do
que aquelas destinadas ao transporte regular de passageiros. Como atividade area, a aviao
agrcola apresenta diversas caractersticas prprias e um ambiente operacional
significativamente diferente dos demais segmentos da aviao. Apenas para enfatizar alguns
fatores que caracterizam a atividade aero agrcola podemos citar a realizao de manobras a
baixa altura, o manuseio e aplicao de agrotxicos e outros insumos agrcolas, operaes com
carga varivel, utilizao de pistas no pavimentadas, baixa infraestrutura de suporte, entre
outros. Todos esses fatores contribuem para que os riscos associados operao sejam
consideravelmente superiores queles verificados para os demais segmentos da aviao,
bastando observar que, embora a aviao agrcola represente uma fatia de 5% da frota nacional,
ela responsvel por cerca de 25% do total de acidentes da aviao civil brasileira (RASO,
2015).
Na aviao agrcola, o piloto opera uma aeronave monomotora, com mnimo de
infraestrutura, geralmente em pistas no pavimentadas, decolando sempre com o mximo de
carga possvel, nos perodos mais quentes (safras de vero), e realizando dezenas de decolagens
por dia. O trabalho do piloto agrcola muito mais perigoso em relao ao piloto executivo, ou
de linha area regular, tambm muito mais penoso devido s particularidades da operao,
tem uma concentrao de trabalho durante 4 e 5 meses. O trabalho tem incio antes de o sol
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21
nascer e s termina com o pr do sol, chegando a fazer at 90 decolagens e pousos em nico
dia de trabalho. No perodo de pico de uma safra, o piloto voa at doze horas em um dia. Nos
quatro ou cinco meses de safra, voa aproximadamente 400 horas e faz 2000 decolagens em
mdia. O desgaste nestas decolagens bastante alto, pois necessrio que o piloto tenha a
percia para decolar em pista reduzida, com capacidade total de carga e ateno suficiente para
que no ocorra um acidente (PRADO, 2002).
O conhecimento gerado a partir deste enfoque ergonmico da atividade de trabalho
nas da aviao agrcola deve contribuir para a melhoria das condies de trabalho,
pavimentando estratgias de mudanas para favorecer o piloto durante as operaes. Daniellou
(2007); Piso e Menegon (2010), acreditam que exercendo seu papel de maneira articulada o
ergonomista pode contribuir vastamente para melhoria do trabalho aps estudo detalhado da
atividade de trabalho, nas escolhas de concepo, propondo uma dupla construo social e
tcnica. A construo social visa posicionar o ergonomista em relao aos diferentes atores do
processo de concepo, e permitir que ele desenvolva com eles interaes pertinentes. A
construo tcnica consiste em reunir os elementos que permitem abordar a atividade, mas
tambm de ter sua disposio um amplo leque de conhecimentos relativos ao funcionamento
humano no trabalho.
Para Hayward et al. (2013), a anlise sistmica dos eventos de segurana aborda os
elementos que compe a fatalidade e um modelo de investigao realizado atravs de um
programa de treinamento denominado Human Factors in Flight Safety, que tem por objetivo
consolidar a compreenso da dinmica de acidentes/incidentes e de como tais eventos podem
ser prevenidos com o uso de metodologia til identificao de condies latentes, ameaas e
fatores de riscos. Este formato investigativo diferenciado contribui para a correo dos
elementos integrantes antes que o fato ocorra e cause danos s pessoas e s propriedades.
Todos os profissionais envolvidos neste processo operacional representam
importncia fundamental para a garantia da efetividade do sistema. Mas, a ao humana ainda
apontada como coadjuvante para a maioria dos acidentes areos, abrindo vasto campo de
estudo para a melhoria contnua do sistema de aviao (ESCUDEIRO, 2015).
Segundo Silveira (2004), a aviao agrcola consolidou-se hoje no mercado
mundial como servio areo especializado e por tal seu uso precisa ser observado e cuidado.
Todavia, h uma carncia de trabalhos acadmicos sobre o assunto.
Pelo exposto, verificou-se a necessidade de desenvolver um projeto de pesquisa
com a finalidade de avaliar os aspectos que realmente influenciam o desempenho confortvel e
seguro dos pilotos agrcolas. Este projeto buscou compreender os fatores geradores de risco na
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aviao agrcola, atravs do conhecimento do sistema de organizao do trabalho e de
informaes coletadas junto ao elemento chave deste processo: o piloto.
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2 REVISO DE LITERATURA
sabido que o Brasil possui terras frteis disponveis, clima privilegiado, gua em
abundncia, tecnologia avanada e pessoal capacitado, podendo, dessa forma expandir
significativamente a agricultura de forma sustentvel, com o uso racional dos recursos naturais
e a consequente preservao ambiental, como divulgado nas publicaes de Brasil (2006), que
conclui, com base nestas caractersticas, que nosso pas constitui um dos poucos competidores
do setor em condies de suprir o aumento da demanda global por alimentos nos prximos
anos.
O Brasil deve permanecer destacado com tendncia de elevao de presena no
comrcio mundial de soja, milho, carne bovina, carne de frango e carne suna. Alm da
importncia em relao a esses produtos o Brasil dever manter a liderana no comrcio
mundial em caf e acar. As projees regionais indicam os maiores aumentos de produo,
e de rea, da cana-de-acar, no estado de Gois, Minas Gerais, e Mato Grosso. O Estado de
So Paulo tambm projeta expanses elevadas de produo e de rea desse produto. O
crescimento da produo agrcola no Brasil deve continuar acontecendo com base na
produtividade. Estudos mostram que a produtividade total tem crescido em mdia 3,5% ao ano
ao longo dos ltimos 38 anos. Essa taxa elevada se comparada taxa mdia mundial que tem
sido de 1,84% ao ano (BRASIL, 2015).
Esta evoluo agrcola tambm prevista no Plano Agrcola e Pecurio 2014/2015
com crescimento da agricultura brasileira suportada pelo aumento na produtividade, em
polticas pblicas adequadas e no empreendedorismo do produtor rural tem se expandido e
consolida-se na integrao econmica regional e nas reas de fronteira agrcola. A produo de
gros se superou em duas dcadas, atingindo 188,7 milhes de toneladas em 2013, atingindo
taxas de crescimento de produtividade (3,2%) duas vezes superior da rea (1,7%). Na safra
2013/14, o Brasil colheu 193,5 milhes de toneladas de gros e em 2014/15 a expectativa foi
de 200 milhes de toneladas. (MAPA, 2015)
Com o crescimento da produo agrcola e consequente esforo para produo em
larga escala, cresce tambm a necessidade de tecnologias capazes de proporcionar maior
agilidade e segurana aos processos de produo das grandes lavouras. Seguindo este raciocnio
j dizia Goodman (2008) e Mengel (2015), com os nveis de produo crescentes a cada ano,
devem existir tcnicas de colheita, plantio e manuteno que acompanhem o tamanho destas
culturas. A tcnica mais utilizada para o controle e manuteno destas lavouras atualmente
por aplicao de agrotxicos.
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No podendo ignorar a expressiva contribuio da produo agrcola no Brasil para
a economia nacional preciso rever talvez em futuro o modelo agrcola adotado no Pas que
est fortemente vinculado ao uso de agrotxicos, considerando-se que a agricultura brasileira
se centra em um modelo de desenvolvimento voltado a ganhos de produtividade. Os agrotxicos
so levados aos locais de ao por meio do veculo. Esta operao realizada com o auxlio de
mquinas com caractersticas adequadas a cada tipo e extenso de cultura. Os veculos podem
ser slidos ou lquidos. Entre os slidos, podem ser utilizados o talco e os granulados, enquanto
que entre os lquidos a gua o veculo mais empregado. Entre as mais usualmente praticadas
como mtodos de aplicao esto: via slida, via liquida ou via gasosa, escolhidas mediante
estado fsico do material a ser aplicado. A gua o veculo mais utilizado como diluente, na
falta deste pode-se empregar a aplicao via slida (MARTINS, [2015?]).
De acordo com Miller e Ellis (2000) para garantir uma aplicao de qualidade
importante que se tenha colocao e distribuio correta do produto fitossanitrio no alvo. A
aplicao alcana nvel satisfatrio de qualidade e aproveitamento quando a escolha da ponta
de pulverizao acertada pois a partir da se obtm: tamanho de gota ideal, conforme o
desejado. Importante considerar respectivamente: a velocidade de distribuio do lquido, o
volume de calda, as condies ambientais, a presso de trabalho, a formulao dos agrotxicos
e as caractersticas da calda e do alvo.
Uma das causas de ineficincia das aplicaes so os equvocos durante a calibrao
dos equipamentos. Quando desregulados os pulverizadores, com pontas inadequadas ou
desgastadas e com doses excessivas de agrotxicos, no alcanam os resultados esperados nas
aplicaes alm de provocar contaminao ambiental. Pulverizadores devem sofrer reviso e
manuteno peridica, que pode ser feita por tcnicos, pelo prprio agricultor ou ainda por
instituies oficiais, no caso de ser necessria a emisso de certificados ou relatrios de
inspeo, torna-se uma ferramenta a obteno de eficincia nas aplicaes (DORNELLES et
al., 2009).
Existe um dficit de estudos no Brasil voltados a avaliao de pulverizadores.
Lacuna esta que favorece a ocorrncia de operaes arriscadas com dano direto ao meio
ambiente e ser humano. Palladini e Mondim (2007) encontraram em seus estudos no Estado de
Santa Catarina 64,8% de no conformidades nos equipamentos em uso nos tratamentos
fitossanitrios de culturas. Detectaram tambm ocorrncias de super dosagens de at 25,4% de
lanamentos de agrotxicos no meio ambiente desnecessrios.
Na maior parte dos pases, as inspees peridicas tm sido realizadas utilizando-
se unidades mveis e adotando-se visitas programadas aos usurios dos equipamentos. Ao final
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de cada inspeo, relatrios sobre as condies do pulverizador e de orientao so gerados.
Em alguns pases, a certificao inclui autorizao ou no da continuidade do uso dos
equipamentos (DORNELLES et. al, 2009).
Alm da escolha adequada dos equipamentos e dispositivos o sucesso de uma
aplicao depende tambm das condies ambientais como a temperatura, a umidade do ar e o
vento; do tipo das regulagens e do acionamento da mquina a ser empregada; e da superfcie a
ser tratada solo, folha, frutos, sementes, ramos, etc.
A utilizao de agrotxicos exige um equipamento adequado cuja escolha deve ser
criteriosa. Em geral, um mesmo defensivo pode ser aplicado por mais de um processo e somente
o estudo dos vrios fatores indicar qual deve ser adotado. Dentre esses fatores temos: solo,
clima, ocorrncia e qualidade da gua, hospedeiro, patgeno, princpio ativo, veculo, operador
e mquina. O operador o principal fator a ser considerado na aplicao de defensivos agrcolas
por diversas razes. A principal delas que o prprio ser humano o elo final da cadeia de
produo e utilizao de alimentos e fibras. Desta forma, toda e qualquer agresso
desnecessrias ao meio ambiente, com a aplicao incorreta de defensivos agrcolas, iro refletir
no bem-estar do prprio ser humano. Sendo o operador uma parte integrante de um sistema de
aplicao de defensivos agrcolas, deve-se preocupar com a sua adequada instruo no uso e
manuteno dos equipamentos, bem como os cuidados no manuseio dos defensivos a serem
utilizados para se aumentar a segurana e eficcia e diminuir os riscos da aplicao (MARTINS,
[2015?]).
Aplicao e pulverizao so duas coisas distintas. Pulverizao o processo fsico-
mecnico de transformao de uma substncia lquida em partculas ou gotas e a aplicao a
deposio de gotas sobre um alvo desejado, com tamanho e densidade adequados ao objetivo
proposto (ANDEF, 2013).
Os pulverizadores so classificados quanto forma de deslocamento e se dividem
em: costal (homem ou animal), padiola, carrinho (homem ou animal), trator (3 pontos ou
arrasto), auto propelido, avio e helicptero agrcola. Quanto ao acionamento do mecanismo
distribuidor podem ser: manual, motor acoplado e TDP (tomada de potncia) do trator.
So mquinas construdas com a finalidade de subdividir a calda em gotculas de
tamanho uniforme, distribuindo as na superfcie a ser tratada. Outra funo de pulverizador
permitir uma dosagem adequada do defensivo sobre o local a ser tratado. de fundamental
importncia para a agricultura, j que atravs deste equipamento que se consegue fazer o
controle de pragas e doenas, tornando vivel a produo agrcola (MARTINS, [2015?]).
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No Brasil os pulverizadores, atomizadores tratorizados e os avies tripulados so
veculos de grande utilidade para as grandes reas plantadas (RASI, 2008).
Ferreira (2015) aponta a pulverizao area como uma das formas de aplicao de
agrotxicos em vigor no Brasil com boas perspectivas de crescimento nos prximos anos.
Para os produtores, se equacionando o tempo e a rea de aplicao, sem se
considerar a uniformidade e por tal a qualidade de aplicao dos agrotxicos em condies
adversas dos solos, sem risco de compactao e amassamento da cultura, a pulverizao area
significa lucro, contudo, para evitar disperso na aplicao, os avies chegam a voar a apenas
trs ou quatro metros do solo, que deixa a operao ainda mais arriscada (NEIVA, 2017).
Concomitante aos ganhos de produtividade no setor agrcola a pulverizao por via
area ganha mercado com evoluo robusta como demonstrado em coletas realizadas pelo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, atestando um incremento de 5,18%, nas
ltimas seis safras comparando-se 2013/2014 com 2012/2013 das reas colhidas das principais
culturas: algodo, arroz, feijo, soja, cereais de inverno, banana e de cana-de-acar. Com
exceo das culturas de milho e sorgo que reduziram rea pulverizada por aviao agrcola
(IBGE, 2014).
Entretanto, neste panorama de projeo e perspectiva do setor de servios aero
agrcolas, deve se concentrar tambm a ateno nas condies de trabalho dos envolvidos neste
contexto. Uma forma eficaz de assegurar que esta prestao de servios respeite as normas de
segurana ambiental e humana o investimento em aes de fiscalizao que devem ser
intensificadas em resposta ao grande crescimento da demanda do setor agropecurio por estes
servios, visando pronta averiguao de denncias de aplicaes indevidas por pulverizao
area bem como denncias sobre operadores clandestinos (MAPA, 2015). O acompanhamento
deste tipo de profissional garante a preveno de intercorrncias durante a realizao das
atividades em voo. Os voos de treinamento, o reconhecimento de reas de aplicao e pistas de
pouso antecipados, estas aes devem ser responsabilidade de um profissional especializado,
este que ajusta a tarefa prescrita para a conduo da atividade, tornando o voo seguro e
consequentemente mitigando surpresas no decorrer do trabalho do piloto agrcola.
Os pilotos agrcolas geralmente seguem modelos de procedimentos cedidos pelas
empresas contratantes ou quando autnomos se baseiam nestes para organizar as suas
atividades. O procedimento operacional padro - POP tem por objetivo descrever um roteiro
padro para a prtica eficaz e segura da aplicao area. O procedimento descrito envolve
diretamente o piloto agrcola e indiretamente o coordenador, secretaria de operaes, tcnico
executor, auxiliar de pista e mecnico de manuteno de aeronaves. Quanto s
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responsabilidades do piloto agrcola, esto: a correta execuo dos servios de aplicao,
seguindo rigorosamente os critrios tcnicos e normativos da empresa e dos rgos reguladores
sem se distanciar da segurana de voo, seguir o fluxograma operacional; do coordenador, a
integrao com os pilotos e demais membros do departamento operacional sem se desviar das
funes descritas em seu POP. A secretaria de operaes, o tcnico executor, o auxiliar de pista
e o mecnico de manuteno de aeronaves possuem POPs especficos e devem segui-lo
criteriosamente.1
As tarefas prescritas pelo planejamento operacional padro so habitualmente
adaptadas conforme o modo operatrio particular de cada operador. Deste modo, pode-se alterar
o que se foi planejado e calculado, que se chama de regulao da tarefa. O jeitinho de se
adaptar as tarefas, podem significar economia de tempo operacional e consequentemente ganho
em produtividade. Contudo, Dejours e Abdouchli (2011), chamam a ateno para a capacidade
dos indivduos de transformar um procedimento em conduta, porm que no satisfaz tarefa
descrita que lhes caberia. Esta capacidade de interpretao do trabalho pelos indivduos pode
resultar em modos operatrios novos facilitando o trabalho e tornando-o mais confortvel para
os seus executores.
Segundo Ferreira (2016), o trabalho prescrito uma orientao do que deve ser feito
em detalhes e a obrigao de fazer dentro do que foi determinado por algum. sempre
sentenciado e cobrado por terceiros, estes a quem dada autonomia e autoridade para reclamar
seu cumprimento.
O perfil das atividades desempenhadas na aviao agrcola sugere uma interao
harmnica entre as reas envolvidas no processo, para que se obtenha xito nas operaes com
conforto e segurana para o operador. Esta integrao importante para que se estabelea uma
conexo de confiana entre as partes envolvidas: o operador, a mquina e a equipe de suporte
como um todo. H necessidade de se atualizar conceitos nestes aspectos, uma vez que os postos
de trabalho j no so os mesmos de antigamente, as funes e profisses tambm
acompanharam a evoluo tecnolgica e social e evoluram. Foram criadas e transformadas
para atender as novas necessidades e demandas de mercado. A definio mais acertada para a
relao entre homens, mquinas e sistema, sempre atual nas palavras de autores como
1 Manual de Procedimento Operacional Padro - POP n : 002/2013 estabelecido em :
01/11/2013 revisado em 27/10/2014 da empresa de aviao agrcola Aerotek
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Grandjean (1998) que preconiza esta interao como uma relao de reciprocidade entre a
mquina e o ser humano que a opera, permitindo a comunicao entre os elementos do
processo de deciso que se tornam cada vez mais rpidos.
Iida (2005) v a interao do sistema homem mquina ambiente como o pilar
de fundamentao para a pesquisa ergonmica. Nesta relao o homem e a mquina se
complementam para desenvolver determinado trabalho.
A aviao agrcola possui caractersticas prprias que a diferenciam de todos os
outros ramos da aviao. O alto volume de trabalho, os longos perodos de afastamento nas
entressafras, as condies precrias de descanso, o voo baixa altura, as manobras muito
prximas ao limite operacional da aeronave, o contato dirio com produtos txicos, so alguns
fatores que, se adequadamente gerenciados, certamente tero seus riscos mitigados,
proporcionando a esse importante segmento da aviao, desenvolvimento com maior segurana
(SIMO, 2010).
O pioneiro dos estudos relacionados ergonomia na aeronutica e sistema espacial
foi desenvolvido por Vladimir Popov, que dirigiu o Laboratrio de Problemas Especiais sob o
Departamento de Psicologia do Trabalho do Instituto de Psicologia de Moscou. Ele identificou
muitos aspectos ergonmicos relevantes na aviao e nos sistemas espaciais; e participou do
programa espacial sovitico da poca (SILVA e PASCHOARELLI, 2010).
O risco de acidentes na aviao agrcola proporcionalmente maior que nas outras
categorias de aviao. No Brasil, entre 2008 e 2014 estes episdios cresceram cerca de 60%,
concomitante ao crescimento da frota de aeronaves agrcolas em 72%, segundo dados do
Registro Aeronutico Brasileiro RAB. Em 78% das principais causas atribudas pelo processo
de investigao devem -se: a perda de controle em voo (fator humano/ pilotagem); coliso em
voo com obstculos (fator humano e planejamento); a falha de motor em voo (fator
manuteno) e a perda de controle no solo (fator humano/ pilotagem/infraestrutura). Contudo
deve-se considerar que a proporo de crescimento uniforme dos dois fatores, crescimento de
acidentes e de aeronaves, pode sugerir falha tambm no projeto da aeronave, apontando
indstria e aos rgos de fiscalizao, a necessidade de se investigar com acurcia a qualidade
e condio operacional destes equipamentos, alm das condies de trabalho e seus
determinantes (RAB, 2008).
O suporte dado aos pilotos durante as operaes agrcolas no campo falham nos
seguintes aspectos: nas questes de cunho organizacional, como a falta de equipe de suporte
em solo para orientao e planejamento das aes e tarefas (clculo de rea, reconhecimento de
obstculos, etc.) e a presso por produo e tempo, nos aspectos de ordem fsica: condio de
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pista para pouso e decolagem, configurao da cabine das aeronaves (distribuio dos
instrumentos, disposio dos pedais e curso das alavancas de comando, etc.) e nos aspectos
cognitivos: interface com tecnologia disponvel (o DGPS equipamento para clculo e definio
de rea pulverizada). Os pilotos acreditam que, estes aspectos comprometem o desempenho
eficiente de suas tarefas, alm de significar risco de acidentes durante as suas atividades
(SILVEIRA,2004; RANGEL, 2007).
2.1 AVIAO AGRCOLA
2.1.1 A trajetria da aviao agrcola no Brasil.
As primeiras culturas surgem e com elas tambm os problemas, na poca em
proporo recproca a presena de pragas, plantas invasoras, j sinalizam disputa do espao na
lavoura e comprometem a produo quase de subsistncia para pequenos cultivos. Em
sequncia os surtos, como por exemplo, o de lagartas, gafanhotos ou fungos, podem pr em
risco at a sobrevivncia de uma populao inteira. Para controlar e combate-los houve a
necessidade da criao de um agente com propriedades especficas. Um dos primeiros produtos
utilizados, para este controle foram a base de arsnico. A aplicao destes agrotxicos era
trabalhosa. Com frequncia, eram esfregados com panos ou vassouras nas plantas ou at mesmo
jogados sobre elas. As pequenas culturas se transformam em monoculturas em grande escala,
necessrias para atender ao consumo de populaes urbanas cada vez maiores e acelera-se o
problema, pois alm de exigir mtodos de aplicao em grande escala, agrava-se o surgimento
de pragas. Impulsionados pela necessidade no incio do sculo XX, alguns sistemas
mecanizados de aplicao de defensivos so inventados. A maior parte deles era em forma de
p, e sistemas de polvilhamento costumavam ser compostos de um tonel cheio de p inseticida
(em sua maioria compostos arsnicos, altamente txicos) dentro do qual girava uma ventoinha,
movida por um pequeno motor ou mesmo fora braal, formando uma nuvem de p. Muitos
destes sistemas eram carregados em carroas puxadas por mulas, em um processo muito lento
(SILVEIRA, 2004).
O primeiro voo agrcola data de 3 de agosto de 1921, s 15:00. Os mentores
intelectuais da ao foram os entomologistas C.R. Nellie, e H.A. Gossard, tendo como demanda
um ataque de praga de mariposas (Catalpa Sphinx) a reflorestamentos de rvores catalpa,
cujos troncos retos, eram usadas para fazer postes. Eles convenceram as autoridades do exrcito
em McCook Field, prximo a Dayton, Ohio, a tentar o uso de avies para aplicar arsenato de
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chumbo, o nico inseticida conhecido na poca que controlava a mariposa. Outra ao no
mesmo ano teria sido protagonizada por um francs radicado nos EUA, Etienne Darmoy, que
construiu um equipamento constitudo de um hopper para cerca de 50 quilos de p e uma
porta de sada deslizante, com uma alavanca girada a mo para promover a sada do p. Este
equipamento foi instalado ao lado da cabine traseira de uma aeronave Curtiss JN-6H Jenny.
O piloto escolhido foi o ento tenente John A. Macready, e Darmoy foi junto no assento traseiro
para acionar o polvilhador (ANDERSON, 1997).
O agente florestal alemo Alfred Zimmermann em 1911, considerado o pai da
aviao agrcola por ser um dos idealizadores do uso do avio para fins agrcolas. Em sequncia,
em 1921 tem incio a aplicao comercial da aviao agrcola nos EUA. Nesta verso da histria
o agrotxico era manuseado e jogado no solo por um passageiro. As tcnicas evoluram e, em
1943, as aplicaes j eram realizadas em baixo volume (10 a 30 l/ha). O primeiro avio
projetado especificamente para uso agrcola foi a aeronave AG1, desenvolvido em 1950 nos
EUA. No Brasil, o primeiro voo agrcola deu se em 1947, no Rio Grande do Sul (estado que
sempre se destacou neste tipo de aplicao), para o combate a uma praga de gafanhotos2.
Arajo (2015) cita o ano 1947 como data de incio das atividades da aviao
agrcola, com aeronaves adaptadas pelos prprios pilotos, pulverizando lavouras de caf na
cidade de Pelotas RS, tendo participao nestes episdios pioneiros como, por exemplo, o
piloto Clvis Candiota. Passados dezoito anos aps o primeiro voo, em 1965 era ento
regulamentado no Brasil o Curso de Aviao Agrcola CAVAG, criado pelo Decreto n
56.584, de 20.7.1965, o primeiro curso para capacitao de pilotos civis para operaes aero
agrcolas. Atuante entre 1967 e 1991, formou 1083 pilotos agrcolas.
Mas a aviao nacional, no s agrcola, teve grande impulso a partir do final dos
anos 60. O projeto e construo das primeiras aeronaves utilizadas para as operaes de
pulverizao no Brasil aconteceu em 1969 quando foi normalizado, pelo Decreto-Lei n 917 e
fundada a Empresa Brasileira de Aeronutica S.A. (EMBRAER), em So Jos dos Campos/SP.
Aps fechar o convnio com o Ministrio da Aeronutica o projeto foi executado pela empresa
indstria aeronutica Neiva Ltda., que passou posteriormente a ser a subsidiria da EMBRAER,
instalada em Botucatu/AS. O prottipo chamado de PP-ZIP, de julho de 1970, fez seu primeiro
2 Matria Piloto Agrcola. Site InfoAviao, 2010. Disponvel em:
Acesso em: 23 fev. 2016
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voo ainda neste ano, passando o seu nome para EMB-200 Ipanema. Esta aeronave possua
motor Lycoming de 260 hp (horse power) e capacidade de carga de 550kg. Em 1971 em So
Paulo, cria-se a primeira organizao do setor de aviao agrcola no pas, a Associao
Nacional de Aplicadores Areos - ANAPLA. O motor Lycoming de 300 hp utilizado pela
primeira vez no avio EMB-201 Ipanema no ano de 1974, sua capacidade de carga era de 750kg
ou 680 litros. Com a expanso da fronteira agrcola, principalmente para os cerrados do Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia, entre outros, iniciou-se um mercado promissor para a
aviao agrcola. A aviao agrcola expandiu-se nessas regies devido principalmente ao tipo
de relevo predominante e ao tamanho das propriedades que cultivam principalmente a cultura
da soja (SCHMIDT, 2006).
Com a criao do Centro Nacional de Engenharia Agrcola (CENEA), em 1975
(Decreto 76.895/75) o CAVAG passou a ser ento uma das atribuies do CENEA. Aps a
extino do CENEA, em 1990, o Ministrio da Agricultura realizou ainda mais um CAVAG,
em 1991, encerrando ento esta atividade, que passou a ser exercida a partir da exclusivamente
pela iniciativa privada, por delegao de competncia do Ministrio da Agricultura e
homologao pelo Ministrio da Aeronutica.
De acordo com a Associao Brasileira dos Produtores de Algodo ABRAPA
(2015) os avies pulverizam uma rea estimada de 25 milhes de hectares, correspondente a
40% da rea agrcola brasileira. Com a possibilidade de que a agricultura avance nos prximos
dez anos sobre 35 milhes de hectares ocupados hoje com pastagens, a rea a receber
pulverizaes areas deve aumentar na mesma proporo e incorporar mais 14 milhes de
hectares nesse prazo.
So 72 milhes de hectares pulverizados todos os anos no pas, este nmero
representado pela produo agrcola brasileira, que nos ltimos 15 anos aumentou 110,2% para
24,2% de crescimento das reas de cultivo. Estes efeitos so resultados dos investimentos em
tecnologia, os quais fizeram a produtividade ter incremento de 3,83% a cada ano, desde o incio
da dcada passada. Evidenciando a importncia do desenvolvimento das tecnologias de
aplicao, para os ganhos de produtividade. (BRASIL,2006; SIMO,2010)
Para sustentar tamanha produo se faz necessria a utilizao agrotxicos para
cultivo e manuteno de lavouras, contudo a sociedade por desconhecimento ou cultura insiste
na tese de que os agrotxicos so prejudiciais ao homem e ao meio ambiente, devido s notcias
relacionadas contaminao ambiental. Entretanto, o uso dessas substncias tem ganhado cada
vez mais importncia por permitirem uma produo em larga escala devido ao combate de
agentes patognicos. Deve ser feita uma utilizao de maneira racional contextualizada na
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proteo dos compartimentos ambientais, evitando, assim, a contaminao do solo e da gua,
os danos sade humana e animal e o aparecimento de pragas, doenas e plantas daninhas mais
resistentes (LEITE e SERRA, 2013).
Simo (2010), Costa (2009) e Carvalho (2005) afirmam que a consequncia da
extino da aplicao de agroqumicos na agricultura no mundo seria a reduo da produo de
alimentos com queda de 40% a 45% e o custo da alimentao seria acrescido de 50% a 75%,
alm do comprometimento na qualidade dos alimentos e fibras produzidos.
A aplicao de produtos por via area consequncia natural da necessidade de
produo de alimentos em reas extensas e em grande escala (DRESCHER, 2012).
Vrias formas de aplicao podem ser utilizadas pelos agricultores; todavia, a
modalidade area apresenta diversas vantagens sobre todos os outros modais de pulverizao,
tais como: preciso, eficcia, rapidez, economia, uniformidade, controle rpido de pragas e
doenas, menor risco de poluio ambiental, alm de no provocar danos cultura, no
transportar vetores e ainda permitir a aplicao com solo encharcado (SCHRODER, 2004;
CARVALHO, 2005; ARAJO, 2006; COSTA, 2009).
Tecnologias surgem na aviao agrcola vislumbrando a soluo de parte dos
problemas presentes nesta atividade, como: descoberta de nova tecnologia para o
posicionamento e trajetria durante a operao, com informaes de referncia geogrfica em
tempo real, para o controle da deriva e para o desenvolvimento de novos agrotxicos. Todavia
no se sabe se estas descobertas esto gerando novos constrangimentos aos pilotos agrcolas,
portanto, existe a necessidade do desenvolvimento de novos estudos, para explorar os efeitos
do surgimento destas tecnologias s mudanas ocorridas e seu impacto nas condies de
segurana e sade no trabalho (ZANATTA, 2012).
No quadro 1 esto alguns modelos de aeronaves utilizadas no Brasil pelos pilotos
agrcolas como instrumento de trabalho. Ao observar a ilustrao reconhecemos alguns pontos
que, conforme sua posio na cabine, sugerem desconforto para os pilotos durante a atividade
de trabalho. Nesta imagem so destacados: - alavanca de flap; - o campo de visada dos
marcadores de indicao de volume do hopper; o assento (relao de distncia que
compromete a visibilidade dos instrumentos e acesso a alavanca de operao, pedais e outros
dispositivos). Lembrando que estas aeronaves, tem configurao padronizada pelos rgos
responsveis como a ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil no Brasil.
-
33
Quadro 1 - Estrutura e disposio dos equipamentos e dispositivos em alguns modelos de
aeronaves agrcolas
IPANEMA
1) Dimenso interna da cabine da aeronave agrcola.
IPANEMA 202
2) Painel EMB 202 distribuio dos
instrumentos de voo e pulverizao.
3) Visor de indicao de volume do tanque do
hopper3 aeronave EMB 202.
4) Painel de comando das alavancas de
voo(vermelha, amarela e preta), flap (amarela),
aplicao slido lquido (vermelha)
5) Destaque posicionamento da alavanca de
flap muito prximo ao assento do piloto (risco
de contato com corpo do piloto)
3 o reservatrio de produtos para pulverizao (hopper) instalado entre o piloto e o motor, de
aeronaves utilizadas em operaes agrcolas.
-
34
Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao
AT 401 B
6) Distribuio espacial dos instrumento na cabine da aeronave.
AT 401 B
7) Viso espacial da area externa pelo piloto.
AT 802
8) Posio de acionamento das alavancas de
pulverizao posio de conforto.
9) idem a 13 ( preta pulverizao - cinza comando
de voo).
10) Pedal com dupla funo: 1- frenagem da aeronave; e 2- acionamento do leme.
-
35
Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao
AIR TRACTOR
11) Instrumento de navegao e orientao. 12) Disposio dos intrumento do painel de
comando da aeronave.
13) Relao assento e monitor de comando 14) Painel de comandos de dispositos de controle
de voo
PIPER PAWNEE
15) Alavanca de pulverizao vermelha. 16) Indicador de volume dentro da cabine
CESSNA AG TRUCK
17) Relao de espao interno da cabine x
ocupao piloto 18) Espao interno da cabine no ocupado
-
36
Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao
19) Trava (vermelho) do manche avio
estacionado 20) Painel de controle de dispositivos
TURBO THRUSH
21) Espao interno da cabine 22) Posio dos dispositivos no painel de
comandos
23) Janela de acesso a cabine ( necessrio pisar em uma das asas da aeronave para subir)
THRUSH
24) Relao de distncia assento painel 25) Manche com botes de comando e tela DGPS
-
37
Quadro 1: Estrutura e disposio dos equipamentos e ... continuao
26) Painel com DGPS 27) Aeronave cabine dupla
2.1.2 Panorama scio econmico e comercial da aviao agrcola
O Brasil tem a segunda maior frota de avies agrcolas do mundo. A frota se
concentra em 11 estados. O estado com maior concentrao de aeronaves agrcolas,
respectivamente o que detm maior rea de produtividade de gros no Brasil atualmente, o
Mato Grosso. A regio que tem o maior nmero de aeronaves desta categoria, o Centro-Oeste
(MT, GO, MS), seguido do Sul (RS, PR), Sudeste (SP, MG), Nordeste (BA, MA) e o Norte
(TO, RO), conforme ilustra o quadro 2 e a figura 1.
Quadro 2 - Distribuio e concentrao da frota de aeronaves agrcolas entre os estados
brasileiros
ESTADO N AERONAVES
AGRCOLAS
1 Mato Grosso 478
2 Rio Grande do Sul 425
3 So Paulo 287
4 Gois 239
5 Paran 141
6 Bahia 102
7 Mato Grosso do Sul 100
8 Minas Gerais 72
9 Maranho 31
10 Tocantins 27
11 Rondnia 19
FROTA BRASIL 1921
Fonte: Adaptado SIMO (2016).
4
6 1
33
-
38
Figura 1 - Nmero de aeronaves agrcolas por regio no Brasil
Fonte: Adaptado SIMO (2016).
Na matria Conhea a aviao agrcola 4 so descritas as aeronaves utilizadas em
voo agrcola no Brasil. Mquinas pequenas, leves, que voam baixo (quase prximo ao cho) e
fazem manobras perigosas a fim de cuidar de uma zona de cultivo. Existem cerca de 2.000
aeronaves desse tipo em operao, uma frota que coloca o pas na segunda posio no mundo
em nmeros de aeronaves para esse fim. Dentro do segmento existem trs principais categorias
de aeronaves disponveis: leve = PA-18 e similares; mdia = Ipanema e similares, pesada = Air
tractor e similares. As aeronaves utilizadas para a pulverizao nas lavouras tm capacidade
variada, em funo do uso ao qual se destinam. Entre os avies mdios (com reservatrio para
at 900 litros) esto o Piper Pawnee, Cessna AG-Wagon, Ag-truck e o Ipanema.
Dentre os avies de maior capacidade, de 1000 a 4000 litros, existem o Air
Tractor e o Thrush, avies importados de ampla utilizao em reas extensas tais como as
encontradas no Mato Grosso, Gois, Oeste Baiano ou Norte de Minas Gerais. Na categoria das
aeronaves de grande porte, que costumam ser pouco utilizadas, temos ainda o Grumann, um
biplano agrcola ou o Dromader. A empresa americana importante fabricante em fornecimento
de aeronaves para operao agrcola, semeadura e combate a incndio, Thrush Aircraft, vem
garantindo um crescimento robusto dentro do restrito mercado de aeronaves agrcolas.
4 Conhea a aviao agrcola. Blog Hangar 33, 2015. Disponvel em: Acesso em: 22 nov. 2016
http://blog.hangar33.com.br/conheca-a-aviacao-agricola/http://blog.hangar33.com.br/conheca-a-aviacao-agricola/ -
39
Recentemente a companhia se associou a General Electric (GE) para produzir a nova gerao
da aeronave 510G equipada com o motor de turbina GE H80, permitindo melhorias no
desempenho de decolagem em altitudes mais altas e em dias quentes, muito comuns no Brasil.
Outra fabricante estrangeira com espao no pas a Cessna, predominando o modelo A188B
Agtruck. A empresa fabricante do Air-Tractor (sries 400, 500, e 800) detm forte participao
no mercado aero agrcola no Brasil. Alm destas encontramos tambm nos cus brasileiros a
marca Piper Aircraft, nos modelos PA-25-235 e PA-25-260.
Produzida pela Embraer, a aeronave Ipanema a lder no mercado de aviao
agrcola no Brasil, com cerca de 60% de participao em nmero. Esse modelo utilizado
principalmente na pulverizao de fertilizantes e agrotxicos, evitando perdas por amassamento
na cultura e flexibilizando a operao. Outras marcas vm ganhando espao no mercado
nacional conforme mostra a tabela 1.
A idade da frota aero agrcola operante no pas de 22 anos, dos avies adaptados
o mais antigo um PA-18, ano 1951. Dos avies especficos o mais antigo um PIPER pa-25-
135 (Pawnee), ano 1962 (SIMO, 2016).
Tabela 1 - Distribuio de frota aero agrcola por modelo no Brasil
Modelo Quantidade
Laviasa 16
PZL 18
Thrush 20
Piper 144
Air Tractor 257
Cessna 282
Embraer - Neiva 1220
Fonte: Simo (2016)
At 2015 eram 231 empresas de aviao agrcola homologadas, 35% delas
concentradas no estado do RS, 51% distribudas entre os estados de SP, PR, GO, MT e MS.
Regies estas que detm a maior quota de produo de gros no pas. Confirmando assim a
presena das empresas de aviao agrcola nas reas de maior demanda de trabalho para o setor
(SIMO, 2016).
A regio centro-sul, que compreende os estados do centro-oeste, sudeste e sul do
Brasil se distncia em quantidade de rea cultivada e produo de gros das demais. Quo
maior a necessidade de produo em escala para determinados cultivos maior tambm ser a
-
40
demanda por tcnicas alternativas de manuteno da lavoura tal como a modalidade de
pulverizao area que se expande nestas regies acompanhando os indicadores de produo.
O comparativo de rea, produtividade e produo de gros - produtos selecionados
safras 2014/2015 e 2015/2016 do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento da
Secretaria de Poltica Agrcola e Departamento de Crdito e Estudos Econmicos do Brasil, na
tabela 2 destaca-se os estados do MT e PR, como maiores produtores de gros e
consequentemente com maior rea cultivada esto o centro-oeste e o sul do pas. Estas regies
mantm produtividade com uma taxa de variao entre 16% e 5,2%. Em relao rea de
cultivo a variao ainda menor est entre 3,1% e 1,0% entre 2014 e setembro de 2016, o que
significa que a produo de gros quase a mesma em proporo. O MT foi responsvel pela
produo de 51.718,8 mil t/ ano safra 2014/15 e j so 43.425,1 mil t produzidas de 2015 at
set/16. O Paran segue logo atrs ocupando o posto de segundo maior produtor com nmeros
que vo de 37.659,1 mil t - 14/15 a 35.694,5 mil t 15/16. No geral o Brasil vem se mantendo
em nveis de excelncia de produo. Os investimentos em pesquisas e tecnologia acompanham
tal desenvolvimento, apesar de apontar ainda grande deficincia em relao aos pases ditos em
fase de maior desenvolvimento. As previses de crescimento em futuro prximo so as
melhores.
Tabela 2 - Comparativo de rea de produo de gros, safras 2014/2015 e 2015/2016.
REGIO/UF
REA (em mil ha)
Safra 14/15 (a) Safra 15/16 (b) VAR. % (b/a)
NORTE 2.489,8 2.540,5 2,0
NORDESTE 8.104,9 7.391,3 8,8
NORTE NORDESTE 10.594,7 9.931,8 6,3
CENTRO-OESTE 22.873,4 23.583,9 3,1
SUDESTE 5.105,3 5.303,3 3,9
SUL 19.341,3 19.492,8 0,8
CENTRO-SUL 47.320,0 48.380,0 2,2
BRASIL 57.914,7 58.311,8 0,7
Fonte: Adaptado MAPA (2016)
As culturas que mais necessitam de tratamento fitossanitrios so a soja, arroz,
algodo, milho, cana, banana e pastagens (BELLINI, 2007; RASI, 2008).
-
41
No Brasil a aviao agrcola efetiva em quase todos os tipos de cultura, conforme
detalhado por Silveira (2004).
Destacam-se, os cinco principais tipos de cultivos, quais sejam:
(i) O arroz se destaca no sul do pas, pela rea cultivada e pela produo.
Acometida por doenas, das quais, se destacam patgenos fngicos causadores de manchas,
como a brusone (Pyricularia grisea (Cooke Sacc), mancha parda (Drechslera oryzae (Breda de
Hann) Subr. & Jain (sin. Bipolaris oryzae), mancha estreita (Cercospora janseana Miyek),
escaldadura (Microdochium oryzae), queima das bainhas (Rhizoctonia oryzae Riker & Gooch)
e manchas dos gros (Phoma sp., Drechslera oryzae, Curvularia lunata, Nigrospora oryzae,
Alternaria sp., Fusarium sp.). Para combate destas doenas uma medida eficaz aplicao de
agrotxicos de parte area e na cultura do arroz irrigado, com irrigao por inundao, a
utilizao de equipamentos terrestres para pulverizao dificultada, sendo a tecnologia de
aplicao area com o uso de aeronaves a mais apropriada neste tipo de cultura (CORREA et
al., 2004; DALLAGNOL et al., 2006; CELMER et al.., 2007).
(ii) O milho das grandes culturas aquela que menos utiliza a aviao agrcola.
As aplicaes da ureia na fase inicial do crescimento do cultivo, de micronutrientes foliares na
fase vegetativa e de defensivos nas emergncias so econmicas e eficazes.
(iii) O algodo h aproximadamente trinta anos, quando uma enorme infestao
de lagartas atacou a regio de Santa Helena, em Gois, os agricultores em desespero chegavam
a lanar mo de at 25 aplicaes de defensivos por safra na tentativa de controlar a praga. A
cultura muito vulnervel a pragas, em que o total de aplicaes costuma ser superior a dez.
Com o moderno manejo integrado de pragas conseguiram reduzir os tratamentos para menos
da metade, cerca de 3 ou 4 aplicaes por safra. O aparecimento do bicudo, em meados dos
anos 80, voltou a exigir tratamento mais intensivo, de 6 aplicaes anuais, porm, s foram
empregadas quando a infestao era significativa, atingindo em mdia 3% dos capulhos5.
(iv) A soja recebe em geral 4 aplicaes ao todo, durante o cultivo, sendo: -
Herbicidas normalmente empregados contra as invasoras de folhas largas, no preparo da
palha, no caso do plantio direto, ou logo depois da semeadura; - Defensivos inseticidas ou
lagarticidas, quando sua manifestao se mostra significativa; - Fertilizantes molibdnio e
mangans, os dois microelementos mais necessrios e dos quais o solo geralmente carente; -
Fungicidas quando a umidade do ar e a temperatura alta estimulam o crescimento de fungos.
5 Cpsula dentro da qual se forma o algodo.
-
42
(v) A Cana-de-Acar semelhante soja, para a cana-de-acar, tambm so
programadas 4 aplicaes, a saber: -Herbicidas geralmente aplicados na pr-emergncia, at
no mximo trs meses aps o plantio; -Reguladores de Crescimento os mais usados so os
glifosatos, aplicados durante a fase de maior desenvolvimento da planta; - Metarhizium para
o controle da cigarrinha, que ataca as plantaes na mesma fase; - Polvilhamento de Inimigos
Naturais das Lagartas e Cigarrinhas so insetos que os prprios produtores criam em
laboratrio e que esto, hoje, muito difundidos nas grandes plantaes .
A aviao agrcola um segmento que tem muita demanda e pouca oferta de
profissionais. O investimento na carreira de piloto agrcola ainda alto. Contudo se investe
acreditando no retorno rpido pelas ofertas constantes de trabalho. O valor aproximado
investido em um curso de formao de um piloto agrcola pode variar de um local para outro.
No Sudeste o custo de R$ 56.832,00 para formao de piloto privado/piloto comercial mais
R$ 30.000,00 para o curso de piloto agrcola, includas as horas de voo6.
Quanto remunerao do piloto, conforme Santos (2005) pode ser efetuada por
servio temporrio (safra) atravs de porcentagem (varivel de 5% a 15%) sobre o valor bruto
cobrado por hectare aplicado ou por salrio fixo, quando o empregado registrado na empresa
aplicadora. No primeiro caso, h maior interesse do piloto em procurar render ao mximo seu
trabalho, independente para si e de maneira bastante frequente, efetuar pulverizaes mesmo
em condies climticas fora das especificaes mnimas, recomendadas pela tecnologia de
aplicao, principalmente nas pocas de maior demanda de servios. Entretanto, no uma
atitude generalizada, existindo empresas com senso profissional que exigem de seus pilotos, o
cumprimento adequado das recomendaes tcnicas essenciais para se obter o melhor resultado
dos defensivos aplicados.
Diante das crescentes exigncias que a agricultura moderna impe, a aviao
agrcola firma-se como uma alternativa tecnolgica de preciso e rapidez, aspectos necessrios
para atender ao crescimento do agronegcio. Cabe salientar que a frota brasileira de avies
novos no acompanha este crescimento, j que muitas empresas de menor porte do preferncia
aquisio de avies usados por requerer investimento menor e com nvel de produtividade
semelhante aos novos (CEZERE e VANIN, 2013).
6 Matria Piloto Agrcola. Site InfoAviao, 2010. Disponvel em:
Acesso em: 23 fev. 2016
-
43
As diferenas de valor entre o equipamento terrestre e areo de pulverizao
conforme descrito na Revista Destaque Rural 7 (2014), onde o valor baixo de uma aeronave
usada em torno de R$ 350.000,00, em relao a um equipamento terrestre auto propelido de R$
450.000,00. Por isso muitos produtores esto adquirindo avies agrcolas. Um avio agrcola
novo, totalmente equipado e pronto para o trabalho, custa em torno de R$ 850.000,00,
financivel. O que, de imediato, nos remete ao raciocnio de que, comparado a um equipamento
terrestre auto propelido, que pode chegar a R$ 700.000,00, o avio apresenta vantagens e se
tornou atrativo a inmeros produtores.
A pulverizao com aeronaves agrcolas (avies e helicpteros) quando
comparadas a pulverizadores terrestres so mais rpidas e alcanam maior eficincia na
distribuio do produto. Alm de ter como vantagem o fato de conseguir operar em condies
como em episdios de chuvas intensas ou em solos encharcados. Contudo, a frota de aeronaves
agrcolas no Brasil ainda pequena para atender a demanda de servios, considerando a rea
possvel de ser aplicada com avies agrcolas, fato este que compromete a aplicao,
ocasionando frustraes e migraes dos produtores para pulverizadores auto propelidos.
Soma-se a isto, a sobrecarga operacional de cada avio, onde as aplicaes subsequentes
normalmente vo ocorrer em condies climticas desfavorveis ao modo de ao do defensivo,
causando derivas prejudiciais, danosas s reas vizinhas, as pessoas, aos animais e ao meio
ambiente (SANTOS, 2005).
Em 2010, o Brasil tinha 1.500 avies agrcolas em operao. O mercado potencial
para essas aeronaves era de 10.000 unidades. Esse potencial de mercado leva em considerao
somente as reas agrcolas atualmente exploradas. Por exemplo, o Estado do Mato Grosso ainda
tem aproximadamente 60% do potencial de reas agrcolas para serem exploradas pelas
extensivas culturas da soja e do algodo. Para os prximos anos esperado um grande
desenvolvimento de novas tecnologias na rea de aplicao com aeronaves agrcolas no Brasil.
Empresas fabricantes de avies agrcolas e equipamentos do Brasil e de outros pases estaro,
7 Revista Destaque Rural - 2014 Disponvel em: Acesso
em: 14 nov. 2016
http://www.destaquerural.com.br/ -
44
nos prximos anos, buscando esse grande mercado potencial da aviao agrcola no Brasil que
existe ainda a ser conquistado8.
A operao aero agrcola hoje, uma alternativa de grande viabilidade para
manuteno de culturas, podendo proporcionar alto rendimento operacional permitindo
solues rpidas em pequenos intervalos de tempo. Possibilita tambm o alcance de resultados
satisfatrios com custo equiparado aos benefcios, isto quando so adotados os procedimentos
tcnicos adequados, com mo de obra qualificada (BAYER et al., 2011).
Womac et.al. (1997) tambm destaca a importncia da seleo apropriada dos
acessrios para a aplicao, garantindo eficincia e qualidade do combate com: uniformidade
de aplicao, cobertura de gotas sem risco potencial de deriva e, consequentemente, a preciso
e segurana na distribuio dos agrotxicos.
2.1.3 Aspectos da Atividade do piloto de aviao agrcola
O trabalho dos aviadores agrcolas composto de tarefas que vo literalmente do
nascer ao pr do sol. Primeiro o deslocamento das aeronaves at as propriedades cujas lavouras
recebero o tratamento atravs do processo areo. Ao chegar ao destino, tem incio o voo de
reconhecimento de rea. Antes, porm, checado o motor, abastecida e calibrada a aeronave.
Tudo acompanhado pelo piloto que ir executar as operaes no local. Aps, planejada a rota
e forma de pulverizao, formato de curvas, variando em funo da topografia e das
caractersticas da cultura que ser tratada. De forma estratificada podemos dizer que primeiro
acontece, a fase de preparao para o voo: -clculo de rea pulverizada; -interao das
condies meteorolgicas; -carga do avio (calibragem); -etapas que precedem o voo; -
conferncia dos equipamentos; -verificao da jornada de trabalho (tempo para cumprir a
demanda); -checagem geral da aeronave; -aferio dos equipamentos; e -verificao das
condies de segurana da aeronave. Com o voo em execuo: controlar a sada do produto
(bicos/ barra); observar a rea todo o tempo (presena de obstculos); ateno quantidade de
combustvel (geralmente abastecem menos para no pesar a aeronave e assim comprometer o
8 Matria Piloto Agrcola. Site InfoAviao, 2010. Disponvel em:
Acesso em: 23 fev. 2016
-
45
desempenho da mquina) e finalizao do voo: aterrissagem; recolhimento da aeronave;
verificao e conferncia de possveis danos durante a atividade e, enfim, descanso em
alojamentos nas prprias propriedades contratantes ou hotis circunvizinhos.
O posto de trabalho do piloto impe grandes exigncias ao condutor deste
equipamento. A grande maioria dos estudos cientficos sobre a estao de trabalho do aviador
menciona os aspectos de natureza da ergonomia cognitiva, fsica e da biomecnica com
implicaes e exigncias fisiolgicas sobre a conduta do piloto (RANGEL,2007).
Caldwell (2009) e Licati (2015) observaram a consequncia do crescimento
abrupto das operaes areas como reflexo direto nos pilotos, como causa de fadiga por
extensas das jornadas de trabalho e perturbaes do ritmo biolgico, problemas estes que afetam
de forma significativa as operaes aeronuticas.
A aviao se insere no contexto do trabalho como qualquer outra atividade
profissional; entretanto, por apresentar uma atuao muito peculiar, requer elevados nveis de
controle de operao, o contnuo desenvolvimento de tecnologias e grande mobilidade pessoal
e organizacional. Para trabalhar dentro deste contexto complexo e dinmico, o ser humano
desenvolve novas habilidades, sempre acrescentando esforos de adaptao e superao, nem
sempre totalmente estudados e reconhecidos (BAUER e WEINER, 2010).
Segundo Grandjean (1998) e Silva (2010) a anlise da tarefa fundamental para o
conhecimento aprofundado das reais necessidades e dificuldades dos usurios que atuam em
um dete