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O Trabalho do Espírito
Santo na Salvação
A. W. Pink (1886-1952)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
Ago/2017
2
P655
Pink, A. W. – 1886 -1952
O trabalho do Espirito Santo na salvação – A. W. Pink
Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de
Janeiro, 2017.
30p.; 14,8 x 21cm
1. Teologia. 2. Vida Cristã 3. Graça 4. Fé. 5. Alves,
Silvio Dutra I. Título CDD 230
3
Introdução pelo Tradutor
Por conta de uma formação deficiente, mesmo
depois de convertidos a Cristo, tivemos, por
muitos anos, noções incorretas sobre a salvação,
especialmente quanto à santificação, e isto nos
trouxe conflitos, dúvidas, temores e falta de
crescimento espiritual que poderiam ter sido
evitados, caso tivesse sido devidamente instruído
quanto aos caminhos do Senhor.
Qual é a função da Lei de Deus na salvação e na
vida do salvo?
Qual é a função do Evangelho?
Como a Lei e o Evangelho atuam no trabalho de
nos salvar do pecado, do diabo e do fascínio do
mundo, para um andar na Luz, por uma vida
santificada ao Senhor?
Como as tribulações devem ser encaradas, e qual
é a contribuição que elas podem prestar ao refino
da fé?
Estas e muitas outras perguntas devem ser
devidamente respondidas para uma vida cristã
sadia e bem orientada.
4
A fonte para estas respostas deve ser
fundamentada exclusivamente no ensino das
Escrituras, e o Seu grande instrutor, é o Espírito
Santo.
Antes de tudo, como ponto de partida, deve ser
dito que ninguém poderá ser salvo por Cristo, se
antes não for convencido pelo Espírito e pelo
testemunho das Escrituras, do quanto Deus odeia
o pecado, e que a morte de Cristo na cruz foi para
pagar a nossa dívida de pecados, e nos resgatar
para uma vida de comunhão com Deus.
Mas, não basta ser convencido de que se é pecador
e culpado diante de Deus, para ser salvo, pois é
preciso também haver arrependimento dessa
condição, e um voltar-se para Deus para ser
purificado e perdoado.
Este retorno não é feito com pagamento de
promessas, macerações, sacrifícios ou qualquer
meio religioso, senão somente crer em Cristo, e
nele exclusivamente para ser o nosso Senhor e
Salvador.
É preciso entregar a Ele, pela fé, o governo total
de nossa vida, e pedir-lhe humildemente que tenha
misericórdia de nós, perdoe os nossos pecados, e
nos salve.
5
Enquanto a Sua paz sobrenatural não penetrar o
nosso ser, e não percebermos que há uma nova
inclinação em nós, que nos leva a detestar o
pecado, e a amar a Deus e a Sua Palavra, tendo os
nossos olhos espirituais abertos para entendê-la,
devemos continuar orando para que isto ocorra,
comprovando assim, que fomos de fato salvos.
Quem realiza toda esta operação de salvação em
nós é o Espírito Santo, e sem a sua operação, nada
disto será possível.
6
O Trabalho do Espírito Santo na Salvação
Em Atos 19, aprendemos que, quando o apóstolo
Paulo chegou a Éfeso, perguntou a alguns
discípulos de João Batista. “Recebestes vós o
Espírito Santo quando crestes?" (V. 2) E nos é
dito: "Responderam-lhe eles: Não, nem sequer
ouvimos que haja Espírito Santo."
É triste dizer que a história se repetiu. Sem dúvida,
os membros de centenas de chamadas "igrejas"
(em que há o modernismo e a dominação do
mundo) aos quais se fizesse a mesma pergunta,
eles seriam obrigados a dar uma resposta idêntica.
A razão pela qual os discípulos de Éfeso nada
sabiam sobre o Espírito Santo era, provavelmente,
porque tinham sido batizados na Judeia pelo
precursor de Cristo (João Batista) e depois
retornaram a Éfeso, onde permaneceram
ignorantes quanto ao que aconteceu no dia de
Pentecostes, quando o Espírito Santo foi
derramado em Jerusalém. Mas a razão pela qual
os membros da "igreja" nada sabem sobre a
terceira Pessoa da Divindade, é porque os
pregadores sob os quais estão assentados para
ouvi-los, estão silenciosos em relação a Ele, ou
lhes passando noções incorretas sobre quem seja
7
o Espírito Santo e o seu trabalho na nossa
salvação.
Nem é muito melhor a situação, em muitas igrejas
que ainda são contadas como ortodoxas, ou seja,
que sustentam corretamente a doutrina bíblica.
Embora a Pessoa do Espírito não seja repudiada e,
embora o nome dele possa ocasionalmente ser
mencionado - ainda, com poucas raras exceções,
há algum ensinamento bíblico definitivo dado a
respeito dos ofícios e operações do divino
Consolador. Quanto ao Seu trabalho na salvação,
isso é muito pouco compreendido, mesmo pelos
professantes cristãos. (Nota do tradutor: é muito
comum, em nossos dias, neste século XXI, ver o
Espírito Santo sendo associado apenas a uma
noção de que deve ser buscado para que a pessoa
possa ter sucesso profissional, financeiro,
sentimental, e qualquer outro, menos aquele para
o qual nos foi enviado do céu como um dom, a
saber, para operar e desenvolver a nossa salvação,
especialmente na obra de regeneração (novo
nascimento) e santificação (remoção do pecado e
revestimento das virtudes de Cristo), além,
evidentemente de todo o Seu trabalho relativo à
nossa consolação, dando-nos firmeza de fé nas
tribulações, sabedoria nos assuntos comuns da
vida, etc, em razão da Sua habitação em nós, e
governo, instrução e direção de nossas vontades.)
8
Na maioria dos lugares em que o Senhor Jesus
ainda é formalmente reconhecido como o único
Salvador para os pecadores, o ensino atual do dia
é que Cristo tornou possível que os homens
fossem salvos - mas que eles mesmos deveriam
decidir se eles deveriam ser salvos. A ideia agora
que é tão prevalecente é que Cristo é oferecido à
aceitação do homem, e que ele deve "aceitar
Cristo como seu Salvador pessoal", "dar seu
coração a Jesus", "tomar sua posição para Cristo",
etc., se o sangue da Cruz deve ser de proveito
pelos seus pecados. Assim, de acordo com esta
concepção, a obra final de Cristo, a maior obra de
todos os tempos e em todo o universo, depende da
vontade inconstante do homem de saber se deve
ser um sucesso ou uma falha!
Entrando agora em um círculo muito mais estreito
na cristandade, em lugares onde ainda é admitido
que o Espírito Santo tem uma missão e um
ministério em conexão com a pregação do
Evangelho, a ideia geral prevalece mesmo que,
quando o Evangelho de Cristo é fielmente
pregado, o Espírito Santo convence homens de
pecado e revela a eles a necessidade de um
Salvador. Mas, além disso, poucos estão
preparados para isto. A teoria que prevalece nestes
lugares é que o pecador tem que cooperar com o
Espírito, que ele mesmo deve ceder ao "esforço"
do Espírito, ou ele não pode ser salvo. Mas, essa
9
teoria perniciosa e insultante de Deus nega duas
coisas: argumentar que o homem natural é capaz
de cooperar com o Espírito Santo, é negar que ele
está "morto em transgressões e pecados" porque
um homem morto é incapaz de fazer qualquer
coisa. E dizer que as operações do Espírito no
coração e na consciência de um homem podem ser
resistidas é negar a Sua onipotência!
Antes de prosseguir, e para abrir o caminho para
o que se segue, algumas palavras devem ser ditas
sobre "o meu Espírito não contenderá sempre com
o homem" (Gênesis 6: 3) e "vocês sempre
resistem ao Espírito Santo." (Atos 7:51). Agora,
essas passagens se referem à obra externa do
Espírito, isto é, ao Seu testemunho através da
Palavra pregada. 1 Pedro 3: 18-20 mostra que foi
o Espírito de Cristo em Noé quem "se esforçou"
com os antediluvianos quando o patriarca pregou
a eles. (2 Pedro 2: 5). Então, em Atos 7, as
próximas palavras explicam v. 52: "A qual dos
profetas não perseguiram vossos pais?" Como
Neemias disse: "Não obstante, por muitos anos os
aturaste, e testemunhaste contra eles pelo teu
Espírito, por intermédio dos teus profetas; todavia
eles não quiseram dar ouvidos; pelo que os
entregaste nas mãos dos povos de outras terras."
(Neemias 9:30).
10
O trabalho externo do Espírito, o seu testemunho
através das Escrituras, quando cai no ouvido
exterior do homem natural, é sempre "resistido" e
rejeitado, o que só demonstra solene e
completamente o fato de que "a mente carnal é
inimizade contra Deus." (Romanos 8: 7). Mas o
que agora salientamos é que a Escritura revela
outra obra do Espírito Santo, uma obra que é
interna, imperceptível e invisível. Este trabalho é
sempre EFICAZ. É o trabalho do Espírito na
salvação, iniciado no coração no novo
nascimento, continuado ou sustentado durante
todo o curso da vida cristã na Terra, e concluído e
consumado no Céu. É a isso que se refere
Filipenses 1: 6: "Aquele que começou um bom
trabalho em você irá completa-lo." Isto é o que
está em vista no Salmo 138: 8: "O Senhor
aperfeiçoará o que me concerne." Esta obra é
realizada pelo Espírito em cada um dos "eleitos de
Deus", e neles somente. (Nota do tradutor:
Entenda-se por eleitos de Deus, aqueles que são
separados por Ele para uma vida santificada, que
seja vitoriosa sobre o pecado, de forma a poder
participar da natureza do próprio Deus, e formar
íntima familiaridade e comunhão com Ele. Todo
aquele que deseja isto, comprova para si mesmo
que é eleito de Deus, pois é a estes que o Pai
procura para serem seus filhos e adoradores.
Quem buscar a Deus por outros motivos, poderá
então estar em autoengano ou então receber
11
auxílios temporais que não podem lhe garantir a
entrada na vida eterna, pois isto, é sempre pela fé,
pelo arrependimento, para uma vida santificada.)
Foi bem dito que "a parte e o ofício do Espírito
Santo na salvação dos eleitos de Deus, consiste
em renová-los. Ele vivifica os herdeiros da glória
com uma vida espiritual, ilumina suas mentes para
conhecer Cristo, revela-Lhe, Fornece-O a seus
corações e os leva a construir todas as suas
esperanças de glória eterna nEle. Ele expande o
amor do Pai em seus corações e lhes dá um senso
real, em que a experiência de Seu trabalho
gracioso e eficaz em suas almas, os leva a dizerem
com o salmista: "Bem-aventurado aquele a quem
tu escolhes, e fazes chegar a ti, para habitar em
teus átrios! Nós seremos satisfeitos com a
bondade da tua casa, do teu santo templo." (Salmo
65: 4)."
Um dos delírios do dia, é que uma crença
evangélica em Cristo está dentro do poder do
homem não renovado, de modo que, ao realizar o
que é ingenuamente chamado de "simples ato de
fé", ele se torna um homem renovado. Em outras
palavras, supõe-se que o homem seja o iniciante
de sua própria salvação. Ele dá o primeiro passo,
e Deus faz o resto; ele "crê" e então Deus entra e
o salva. Isso não é nada além de uma negação
vazia do trabalho do Espírito. Se há uma ocasião
12
mais do que outra quando o pecador necessita do
poder do Espírito - é no início. "Aquele que nega
a necessidade do Espírito no começo, não pode
acreditar em Seu trabalho nos estágios
posteriores, e não acredita na necessidade do
trabalho do Espírito. A dificuldade mais poderosa
e insuperável está no início. Se o pecador pode
superar isso sem o Espírito, ele pode facilmente
superar o resto. Se ele não precisa do Espírito para
capacitá-lo a acreditar, ele não precisará dele para
capacitá-lo a amar." (H. Bonar)
(Nota do Tradutor: Para a conversão inicial que
consiste na justificação (perdão de todos os
pecados e aceitação na condição de filho de Deus
justificado, isto é, considerado justo por Ele, por
causa de ter sido revestido com a justiça de Cristo
no momento da conversão) e na regeneração
(novo nascimento) do Espírito Santo, conforme
Jesus falou sobre ela a Nicodemos em João 3, o
pecador deve confiar tão somente no trabalho que
Jesus fez por Ele morrendo e ressuscitando em seu
lugar, e crer que Deus o salvará inteiramente por
pura graça e misericórdia, independentemente de
qualquer obra do penitente que dEle se aproxima
com o coração contrito, sentindo a necessidade de
ser purificado e limpo de seus pecados. O que vem
a seguir, a saber, a necessidade da sua
santificação, mediante a progressão de sua
transformação pela aplicação da Palavra de Deus
13
pelo Espírito Santo, abrirá um conflito
permanente até a morte do crente, por causa das
duas naturezas que agora nele habitam, ou seja, a
influência do velho homem, do corpo de pecado,
da carne, o que é a mesma coisa, para designar a
antiga natureza pecaminosa, e a nova influência
da habitação do Espírito Santo que o inclina a
amar a Deus, a Sua vontade e Palavra. Por esta
luta da carne contra o Espírito, e do Espírito contra
a carne, o crente é levado a perceber que há um
trabalho real espiritual sendo realizado em sua
vida, pois sempre que se dispõe para a carne, a
vida de Deus é diminuída nele, e sempre que se
dispõe para o Espírito, caminha em novidade de
vida, em verdadeira santificação.)
A obra do Espírito é aplicar a redenção que o
Senhor Jesus comprou para o Seu povo - e os
filhos de Deus devem a sua salvação tanto ao
Espírito quanto a Cristo.
Em Tito 3:5, a salvação dos redimidos é
expressamente atribuída ao Espírito: "Não em
virtude de obras de justiça que nós houvéssemos
feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou
mediante o lavar da regeneração e renovação pelo
Espírito Santo." Se for perguntado, em que
sentido dos homens pode ser dito "salvos pela
renovação do Espírito”, a resposta é óbvia: há uma
série de verdades para as quais nenhum vínculo
14
pode faltar. Somos salvos pelo divino propósito,
porque Deus nos escolheu para a salvação; somos
salvos pela expiação, como o fundamento
meritório de todos, somos salvos pela fé, como o
vínculo da união com Cristo, somos salvos pela
graça, em contraste com as obras realizadas;
somos salvos pela verdade pela transmissão do
testemunho de Deus, e, como aqui, somos salvos
pela renovação do Espírito Santo, como
produzindo fé no coração." (Smeaton)
15
REGENERAÇÃO é pelo Espírito Santo
"Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos
delitos e pecados." (Efésios 2: 1). A vivificação
daqueles que estão mortos nas transgressões é
obra da terceira Pessoa da Trindade: "O que
nasceu do Espírito é espírito". (João 3: 6) O
homem natural está morto espiritualmente. Ele
está vivo no pecado e no mundo – mas morto para
Deus, alienado da vida de Deus. (Efésios 4:18). Se
essa verdade solene fosse realmente crida, haveria
um fim da controvérsia sobre o assunto atual. Um
homem morto não pode "cooperar" com o
Espírito, nem pode "aceitar a Cristo". Em 2 Cor 3:
5 lemos: "Não que sejamos suficientes para pensar
cousa alguma." Isso é dito dos cristãos. Se o
regenerado não tem capacidade para "pensar"
espiritualmente, ainda menos os não regenerados
(não nascidos de novo do Espírito) são capazes
disto.
"O homem natural não recebe as coisas do
Espírito de Deus, porque são loucura para ele,
nem pode conhecê-las, porque elas são
discernidas espiritualmente." (1 Cor. 2:14). O que
poderia ser mais simples? O "homem natural"
caído em seu estado não regenerado. A menos que
ele nasça do Espírito, ele é completamente
desprovido de discernimento espiritual. Nosso
16
Senhor expressamente declarou: "Exceto que um
homem nasça de novo, ele não pode ver o reino de
Deus." (João 3: 3). O "homem natural" não pode
ver a si mesmo, a sua ruína, a sua depravação, a
imundície de sua própria justiça. Não importa o
quão claramente a verdade de Deus lhe é
apresentada, sendo cego, ele não pode discernir o
seu significado, espiritualidade ou adequação à
sua necessidade. Uma compreensão espiritual do
Evangelho é tão verdadeiramente devida à
operação do Espírito Santo - como Ele é o Autor
da Revelação divina. A vida espiritual deve
preceder a visão espiritual, e o próprio Espírito
deve entrar no coração antes que haja vida. "E
porei em vós o meu Espírito, e vivereis."
(Ezequiel 37:14)
O trabalho do Espírito na regeneração é um
milagre divino que é o resultado de Seu derramar
de poder sobrenatural. Está vivificando um
cadáver espiritual; é a vida de uma alma morta. O
próprio pecador não pode realizá-lo por um ato de
sua própria vontade mais do que ele poderia criar
um universo. Este milagre de graça é falado na
Escritura como "a grandeza de seu poder para nós
os que cremos, de acordo com o funcionamento
de seu poderoso poder, que Ele operou em Cristo
quando o ressuscitou dentre os mortos." (Efésios
1:19, 29). O mesmo poder que foi usado para
ressuscitar Cristo dentre os mortos é apresentado
17
na regeneração. A ressurreição de Cristo é o
padrão exemplar de nossa ressurreição espiritual,
segundo a qual, como o Espírito fez com Ele,
então, trabalha em nós uma obra conforme a sua
ressurreição. Como a ressurreição de Cristo é o
primeiro passo para o seu reino e glória eternos, a
regeneração é a primeira introdução aberta a todas
as bênçãos desse estado de graça em que o filho
de Deus agora é apresentado." (S.E. Pierce).
(Nota do tradutor: Este trabalho de regeneração do
Espírito Santo, transformando pecadores em
filhos de Deus, continua sendo realizado na Terra,
todos os dias, desde que Ele foi derramado no dia
de Pentecostes, depois da ascensão de Jesus ao
Céu. Este é o grande milagre que todos devem
buscar, pois Deus está disposto a concedê-lo a
todo o que crer em Jesus. Ressurreição de corpos,
restauração de visão a cegos físicos, cura de
coxos, podem ter sido reduzidos grandemente em
número desde que a Palavra de salvação do
Evangelho foi confirmada por tais sinais,
especialmente por meio dos apóstolos, mas o
grande propósito da vinda de Jesus a este mundo,
continua em marcha, confirmando, que Ele se
manifestou, antes de tudo, para a salvação de
nossas almas.)
18
APTIDÃO para o Céu é pelo Espírito Santo
Nosso título para a glória no Céu é unicamente
pela Justiça de Cristo; nossa aptidão pessoal para
isso está na nossa regeneração pelo Espírito Santo.
Toda a nossa aptidão para o estado celestial foi
forjada em nós na regeneração, a qual foi
instantânea, e aconteceu de uma vez para sempre
na primeira vez que tivemos um encontro pessoal
com Jesus, na conversão – a propósito,
simultaneamente, e da mesma maneira, ocorreu a
nossa justificação. Escrevendo aos Colossenses
regenerados, o apóstolo disse: "Dando graças ao
Pai, que nos fez aptos a participar da herança dos
santos na luz". E então ele mostra em que esta
"aptidão" consiste: "Quem nos libertou do poder
das trevas e nos transpôs para o reino de Seu Filho
amado" (v. 13). Seu título está fora deles; Sua
"aptidão" está dentro deles. O Espírito Santo criou
neles uma natureza que é capacitada para
conhecer e desfrutar o Deus Triúno.
Em nosso estado não regenerado (de não
convertidos), estávamos completamente sob o
poder das trevas, isto é, do pecado e de Satanás, e
não éramos menos capazes de livrar-nos dessa
escravidão - do que Jonas conseguiria escapar do
ventre do grande peixe. Nós estávamos "sentados
na escuridão" e "na região e sombra da morte".
19
(Mateus 4:16). Nós éramos "escravos",
"encadeados" e em "prisão". (Isaías 61: 1). Nós
estávamos "sem esperança, e sem Deus no
mundo". (Efésios 2:12). Deste estado terrível,
toda alma renovada foi "libertada" pelo poderoso,
soberano e invencível poder do Espírito Santo, e
foi "trazida para o reino do amado Filho de Deus".
Então, cada leitor renovado tribute homenagem,
adoração e louvor iguais ao Espírito Santo quanto
ao Pai e ao Filho.
20
JUSTIFICAÇÃO e SANTIFICAÇÃO são do
Espírito Santo
"E tais fostes alguns de vós; mas fostes lavados,
mas fostes santificados, mas fostes justificados
em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do
nosso Deus." (1 Coríntios 6:11). Esta é uma
Escritura notável, e pouco ponderada. Seríamos
levados muito longe do nosso tema se tentássemos
uma exposição completa dela. Duas coisas aqui
apenas apontaríamos: as três bênçãos salvadoras
enumeradas neste versículo são referidas,
primeiro, ao "Nome" ou aos méritos de Cristo
como Sua própria causa de aquisição; e depois ao
Espírito Santo que faz nos eleitos a Sua própria
aplicação eficaz. Ele é quem ilumina suas mentes
e abre seus corações para assumir e ter certeza de
que eles são "lavados, santificados e justificados".
21
A FÉ é do Espírito Santo
Um servo de Deus profundamente instruído
escreveu uma vez a um jovem pregador: "Nunca
representem a fé como um ato tão "simples" de
que a obra do Espírito não é necessária para
produzi-la". No entanto, isso é o que foi
comumente feito. Um grande número de
evangelistas dos últimos cem anos mostraram um
zelo que não era conforme o conhecimento
(Romanos 10: 2), e manifestaram uma
preocupação muito maior para ver as almas salvas
do que pregar a verdade de Deus em sua pureza.
Em seus esforços para mostrar a simplicidade do
"caminho da salvação", perderam de vista as
dificuldades da salvação (Lucas 18:24; 1 Pedro
4:18): na sua pressão sobre a responsabilidade do
homem de acreditar, eles ignoraram o fato de que
ninguém pode acreditar até o Espírito Santo
transmitir fé. (Nota do tradutor: o que deve nos
levar a orar em favor daqueles que necessitam de
salvação, para que o Espírito Santo opere em seus
corações, conduzindo-os a crerem em Cristo para
serem salvos.) Apresentar Cristo ao pecador e
depois jogá-lo de volta à sua própria vontade, é
zombar dele em sua impotência; a obra do Espírito
no coração é uma necessidade tão real e urgente,
como foi a obra de Cristo na Cruz. Que o coração
realmente acredite e confie em Deus é um ato
22
espiritual, um "bom fruto", e se o homem caído
possui o poder inerente para fazer o bem, então,
apresentar-lhe a Expiação é completamente
desnecessário.
(Nota do tradutor: este é outro ponto fundamental
para que haja salvação. Enquanto o Espírito Santo
não conduzir o não ainda regenerado a enxergar
espiritualmente o quanto é desprovido de justiça
própria e qualificações diante de Deus, que o vê
como um coitado, pobre, cego, nu, miserável,
pecador, uma árvore ruim que necessita ser feita
boa, para que possa dar bom fruto espiritual, ele
não poderá ser convertido. Não é fácil livrar
alguém da autojustiça. Se o Espírito não fizer este
trabalho, o pecador continuará se achando justo
aos olhos de Deus, independentemente do modo
que viva, sempre se comparando e se julgando
mais justo que outros, por não cometer os mesmos
grosseiros pecados que eles cometem. Todavia, é
a sua condição de ser pecador que é abominável
aos olhos de Deus. Ainda que nada fizesse, e
ficasse parado em um canto, não pode ser
aceitável a Deus, se não for justificado por Ele por
meio da fé em Cristo. É tão somente por causa de
Jesus, e da obra que Ele fez por nós, que somos
aceitáveis a Deus, e não por qualquer coisa boa
que exista em nós, que a propósito não há
nenhuma habitando em nossa natureza terrena
decaída no pecado. Por isso somos salvos pela fé
23
– o meio designado por Deus, porque a fé exclui
qualquer obra ou ato nosso para a nossa salvação,
e dá toda a honra e glória à graça de Jesus.)
Não há um termo intermediário entre a vida e a
morte; nenhum estágio intermediário entre
conversão e não conversão. A doação da vida
eterna é instantânea; nós somos "criados em
Cristo Jesus". (Efésios 2:10).
Quão perversamente o homem inverte a ordem da
verdade de Deus. Eles pedem aos pecadores
mortos que venham a Cristo, supondo que eles
tenham o poder ou vontade de fazê-lo.
Considerando que Cristo declarou clara e
enfaticamente que "Ninguém pode vir a mim, se o
Pai que me enviou não o trouxer; e eu o
ressuscitarei no último dia." (João 6:44). Ah, é o
Espírito que deve trazer Cristo a mim, revelá-lo
em mim antes que eu possa realmente conhecê-
Lo. "Vir a Cristo" é um ato interno e espiritual,
não externo e natural. Verdadeiramente, "o
homem natural não recebe as coisas do Espírito de
Deus, nem pode conhecê-las, porque elas são
discernidas espiritualmente." (1 Coríntios 2:14).
Não podemos "vir a Cristo" até nascer de novo.
(João 3: 3).
A salvação é algo mais que um fato objetivo que
nos foi apresentado; é uma operação subjetiva
24
operada dentro de nós. Como não é pelo
discernimento natural que eu descubro minha
necessidade de Cristo, então não é por minha
força natural e vontade que eu "venho" a Ele.
Deve haver vida e luz (visão) antes que possa
haver movimento. Um bebê deve nascer, e ter
visão e força, também, antes que ele seja capaz de
"vir" para seu pai. Crer em Cristo é um ato
sobrenatural, o produto do poder sobrenatural.
Pode-se, por meio de frases gramaticais e
proposições das Escrituras, ensinar-se a verdade
espiritual a alguém, mas ele não pode iluminar sua
mente com respeito a isso. Ele pode dizer a um
homem que Deus é santo - mas ele não pode lhe
conferir a consciência de que Deus é santo. Ele
pode dizer-lhe que o pecado é infinitamente
odioso - mas ele não pode gerar nele um
sentimento ou percepção no coração de que é
assim.
Para aqueles que estavam bem familiarizados com
Ele externamente, Cristo disse: "Vocês não Me
conhecem nem a meu Pai." (João 8:19). Um
homem pode "conhecer" o caminho da justiça "(2
Pedro 2:21), teoricamente, intelectualmente - mas
isso é um assunto muito diferente de um
experimento espiritual em conhecê-lo. "Ora,
temos o mesmo espírito de fé, conforme está
escrito: Cri, por isso falei; também nós cremos,
por isso também falamos." (2 Coríntios 4:13).
25
Aqui é dito do Espírito de Deus segundo a obra
que Ele realiza.
O título "Espírito de fé" intima que o Espírito
Santo é o Autor da fé, pois todos os homens não
têm fé, isto é, não é dado a todos e não pertence a
todos (2 Tessalonicenses 3: 2). A designação
significa que a causa da fé é o Espírito Santo que
produz esse efeito por um chamado invisível, um
convite que acompanha, de acordo com o bom
prazer de Sua vontade, a proclamação externa do
Evangelho. A fé, portanto, da qual Ele é o Autor,
não é afetada pela própria força do ouvinte - ou
pela vontade efetiva do ouvinte ... A operação
especial do Espírito inclina o pecador, que não
estava disposto a receber os convites do
Evangelho, pois é somente Ele, agindo como o
Espírito da fé, que remove a inimizade da mente
carnal para as doutrinas da cruz que, senão por
isso, lhe pareceriam desnecessárias, ou tolas ou
ofensivas." (Smeaton).
Escrevendo aos santos filipenses, o apóstolo
declarou: "A você é dado ... crer nele". (1:29). A
fé é o "dom" de Deus como Efésios. 2: 8,9 afirma
positivamente. Não é um dom oferecido para a
aceitação do homem, mas, de fato, conferido aos
filhos de Deus. Ela é transmitida a cada um dos
"eleitos de Deus" em seu tempo designado pelo
Espírito Santo. Não é produzida pela vontade da
26
criatura, mas é "fé da operação de Deus" (Col
2:12). É a "obra" do Espírito, por Sua ação
sobrenatural. O Espírito Santo é dado por Cristo
para este fim, para que cada um daqueles para
quem Ele morreu possa ser levado a um
conhecimento salvador da verdade; portanto,
somos informados de "Quem por Ele (não por
nossas vontades) acredita em Deus". (1 Pedro
1:21). Em 1 Cor 3: 5 é dito: "Pelos quais crestes,
e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada
um." Então em Efésios 6:23 é declarado: "Paz seja
com os irmãos, e amor com fé, da parte de Deus
Pai e do Senhor Jesus Cristo." O próprio grau e
força de nossa fé é determinado unicamente por
Deus: "Porque pela graça que me foi dada, digo a
cada um dentre vós que não tenha de si mesmo
mais alto conceito do que convém; mas que pense
de si sobriamente, conforme a medida da fé que
Deus, repartiu a cada um." (Rom12: 3) Se, pela
graça, você é verdadeiramente um "crente", que o
leitor dê a Deus, o Espírito, honra, glória e louvor
por isso.
(Nota do tradutor: Vemos quão errada e
prejudicial é a noção generalizada que muitos têm
de que é pela fé que eles têm em Deus que serão
salvos. A ênfase está na capacidade deles crerem,
e não raro, isto não passa de crer que Deus exista.
Este tipo de fé não é a que salva, senão somente a
que foi citada anteriormente, que é obra do
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Espírito Santo em nossas mentes e corações,
levando-nos a crer na obra que Jesus fez para a
nossa salvação, bem como em amar os Seus
mandamentos, tendo verdadeira honra e apreço
pela Lei de Deus, para que seja escrita em nossas
mentes e corações, progressivamente, à medida
que vamos nos despojando do pecado em todas as
suas formas, e nos santificando mais e mais,
vivendo de acordo com os preceitos de Deus.
Somente a verdadeira fé que salva, que é um dom
do Espírito, e obra sua em nós, pode operar tais
coisas espirituais, e transformar-nos
verdadeiramente em pessoas santas, que vivem
conforme a descrição do seu comportamento nas
Escrituras.)
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Salvação é totalmente APLICADA pelo
Espírito Santo
"Mas nós devemos sempre dar graças a Deus
por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus
vos escolheu desde o princípio para a santificação
do espírito e a fé na verdade." (2 Tessalonicenses
2:13). A missão do Espírito na terra é aplicar aos
eleitos de Deus a redenção proposta por Deus Pai
e comprada por Deus Filho para eles. O Espírito
Santo está aqui para cumprir nas almas dos
herdeiros da glória - os frutos do trabalho da alma
de Cristo. Isto Ele faz por meio do Evangelho pelo
ministério escrito e oral da Escritura, pois a
Palavra de Deus é o único instrumento que ele
emprega ou usa. A Palavra de Deus é "a palavra
da vida" (Filipenses 2:16) - mas ela só se torna tal
na experiência da alma individual pela operação e
aplicação imediata do Espírito de Deus. Como
Paulo escreveu aos santos de Tessalônica: "Pois
nosso Evangelho não veio a vós apenas em
palavras, mas também em poder e no Espírito
Santo." (1 Tessalonicenses 1: 5). Isto não é negar
a eficácia da própria Palavra, mas é insistir que a
agência direta do Espírito no coração é
absolutamente necessária para a recepção da
Palavra. A Palavra é uma lâmpada para o nosso
caminho, mas deve haver uma abertura dos olhos
de nossos entendimentos pelo Espírito, antes que
possamos ver sua luz.
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A salvação dos eleitos de Deus foi proposital,
planejada e provida por Deus Pai antes da
fundação do mundo. Foi adquirida e assegurada
pela encarnação, obediência, morte e ressurreição
de Deus Filho. É divulgada, aplicada e forjada nos
crentes por Deus Espírito Santo. Assim, "A
salvação é do Senhor" (Jonas 2: 9), e o homem não
tem parte nela em qualquer ponto quanto ao seu
planejamento, propósito e provisão. O filho de
Deus não é o ganhador da salvação, mas o
destinatário dela. A fé não é uma condição que o
eleito pecador deve cumprir para obter a salvação,
mas é o meio e o canal através dos quais ele
pessoalmente desfruta da salvação do Deus
Triúno.
(Nota do Tradutor: Não poderíamos deixar de
fazer um fechamento deste trabalho, sem dizer
que há uma diferença essencial entre a Lei de
Deus e o Evangelho. Ambos são a boa, perfeita,
santa e agradável vontade de Deus revelada, mas
o Evangelho é tudo aquilo que foi provido em
Cristo, e que é operado pelo Espírito Santo, para
que sejamos livrados da condenação eterna, por
termos nossos pecados perdoados, para sermos
justificados por Deus e regenerados pelo Espírito.
Daí, ser o significado da palavra Evangelho, uma
proclamação de boas notícias, as boas notícias de
Deus para o pecador de que há uma salvação em
Cristo disponível para ele. A Lei, revela a nossa
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condição caída e a consequente necessidade de
um Salvador capaz de nos libertar da citada
condição. Ela também revela qual é o caráter de
Deus, o qual nos convém imitar, pela aplicação do
mesmo pelo Espírito Santo às nossas vidas. É com
um Deus santo que temos que lidar. Um Deus
justo que não inocenta o culpado, mas que pode
perdoá-lo, caso se arrependa e aceite o castigo e a
condenação de Cristo na cruz, em seu lugar, como
sendo o castigo que lhe era devido e não a Ele,
para que uma vez absolvido da condenação do
pecado, possa servir a Deus em novidade de vida,
já não mais governado pelo pecado, mas pela
graça de Jesus.
Como tudo na salvação é por Cristo, e para Cristo,
então, podemos entender que ninguém poderá
entrar no reino do Céu sem que tenha humildade
de espírito, sem que lamente por ser pecador, sem
que se disponha a suportar perseguições e
injustiças por causa do Seu amor a Cristo, sem que
seja um promotor da paz do evangelho pelo seu
testemunho a outros, sem ser misericordioso com
a mesma misericórdia que recebeu da parte de
Deus na sua salvação, sem que seja submisso à
vontade de Deus com longanimidade e mansidão,
sabendo que não pode ser ou ter tudo isto sem que
haja um trabalho do Espírito Santo na sua
regeneração e santificação.)