O uso da folkcomunicação como ferramenta pedagógica e institucional no ... · No Carnaval deste...
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O uso da folkcomunicação como ferramenta pedagógica e institucional no combate à
violência contra a mulher no Carnaval de Recife em 20171
Allan Nunes de Brito OLIVEIRA2
Maria Clara Rezende COSTA3
Andréa Karinne Albuquerque MAIA4
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB
RESUMO
No Carnaval deste ano a Prefeitura de Recife lançou, em sua página do Facebook, o “Pequeno
manual prático de como não ser um babaca no Carnaval – Edição 2 - para os que ainda não
entenderam”. O objetivo deste artigo é estudar o uso da folkcomunicação e do folkmarketing
como ferramenta pedagógica e de comunicação institucional no combate à violência contra a
mulher nos dias dessa festa, por meio da análise de quatro das peças divulgadas.
PALAVRAS-CHAVE: carnaval de Recife; folkcomunicação; folkmarketing; mulher.
INTRODUÇÃO
O Carnaval brasileiro, mais precisamente o de Recife, é representado por uma vasta
combinação de traços culturais, dos mais variados interesses, e, em razão disso, atrai milhares
de pessoas durante os dias de folia. Conhecido na linguagem popular por ser o carnaval mais
democrático do país, todos os foliões buscam possuir uma maior liberdade em suas
comemorações, mas existem casos em que determinados grupos não conseguem usufruir
plenamente disso durante a festa, como é o caso das mulheres.
Visando combater e colocar em discussão essa grande problemática no Carnaval, a
Prefeitura do Recife criou um manual, no ano de 2016, e atualizado no ano de 2017,
“ensinando” como os homens devem respeitar o espaço das mulheres e não ser
invasivos, inconvenientes ou, até mesmo, violentos.
Com uma linguagem bem local - com uso de gírias e letras de músicas de bandas
recifenses - além do uso de tons vibrantes, essas peças publicitárias chamaram a atenção do
público e tornaram-se um sucesso no Facebook, rede social em que foram publicadas, obtendo
mais de mil curtidas em cada uma das ilustrações.
O maior destaque dessa campanha é tentar modificar uma conduta machista que
permanece na sociedade até hoje: a de que uma mulher desacompanhada ou sem a presença
1 Trabalho apresentado no IJ – 8 Estudos Interdisciplinares do XIX Congresso de Ciências da Comunicação da Região
Nordeste, realizado de 29 de junho a 1 de julho de 2017.
2 Estudante de Graduação 3º. semestre do curso de Jornalismo da UFPB, email: [email protected].
3 Estudante de Graduação 3º. Semestre do curso de Jornalismo da UFPB, email: [email protected].
4 Orientadora do trabalho. Professora do curso de Relações Públicas da UFPB, email: [email protected].
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de alguém do gênero masculino ao seu lado, permite que um homem possa invadir o seu
espaço com carícias inconvenientes, olhares indiscretos, palavras indecentes e perseguições,
principalmente em grandes festejos, como é o caso do Carnaval.
Apoiado nas caracterizações de folkcomunicação e folkmarketing, a análise das quatro
peças é levada em consideração por terem uma maior afinidade com o local, fazendo entender
qual a motivação na escolha das cores, imagens, palavras e o poder de persuasão, levando o
público-alvo à conscientização da gravidade da violência contra a mulher, representada de
várias formas, a exemplo do assédio moral e sexual.
Grandes teóricos contribuem para fundamentação desse artigo, como Maria (1998) e
Lucena Filho (1998), com a descrição do carnaval de Recife e a comunicação institucional,
Burke (1998) e sua análise acerca da liberdade que acontece durante o carnaval, Simson
(1992) descrevendo o papel da mulher nessa festividade, Beltrão (1980) e sua classificação do
que é folkcomunicação, Kunsch (1997), Oliveira e Carine (2004) evidenciando a contribuição
do folkmarketing na construção da comunicação institucional, Silveira (2007) e a sua
definição do termo hibridismo cultural.
A estrutura do artigo está organizada da seguinte maneira: uma apresentação histórica
com os principais pontos de construção do carnaval de Recife; as relações existentes da
mulher com o carnaval e o seu papel durante a festa; definições de folkcomunicação,
folkmarketing e comunicação institucional com caráter pedagógico, detalhando um modelo de
interpretação da campanha publicitária; os procedimentos metodológicos levados em
consideração para a análise das quatros peças escolhidas e o estudo interpretativo dessas, por
meio dos termos apresentados, além da conclusão do trabalho.
O CARNAVAL DE RECIFE Até meados de 1850 o Carnaval de Recife era comemorado por meio de entrudos5,
trazidos por colonizadores portugueses. Sua comemoração era dividida em dois modos
distintos: o das elites, realizado em espaços privados, e o do povo, nos espaços públicos.
Durante esse festejo as pessoas simulavam um combate e utilizavam farinha e água como
alguns dos principais elementos de confronto.
Após esse período, surgem os bailes de máscaras, com o objetivo de civilizar a festa, o
que não ocorre plenamente. Com a abolição da escravatura, em 1888, aumenta o número de
clubes e, consequentemente, a realização desses festejos.
5 Os três dias que antecedem a entrada da quaresma.
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O espírito do folião recifense, traço forte de sua cultura, sempre dominou
todas as camadas sociais. Cada bairro tinha seus bailes também animados,
realizados na sede dos clubes mais modestos. Até mesmo na residência dos
foliões mais entusiastas dançava-se até o dia amanhecer. (MARIA, 1998, p.
58)
No início do século XX, o carnaval começou a passar por um processo de
regulamentação e organização. A criação do Primeiro Congresso Carnavalesco em
Pernambuco, no ano de 1910, Maria (1998), foi fruto de uma aliança entre polícia,
representantes da imprensa, governantes e dos clubes carnavalescos, um instrumento para
legitimação popular desses setores.
[…] o carnaval tornou-se de fato uma festa eminentemente popular. As elites
e os setores da classe média urbana praticamente haviam se retirado das ruas
e se recolhido aos salões e aos seus automóveis. O povo conquistou o espaço
público e, da cidade ao ar livre, passou a ocupar o centro da festa e vivenciá-
la em toda sua plenitude. (MARIA, 1998, p. 61)
Hoje, o Carnaval de Recife é reconhecido internacionalmente por ser uma festa
multicultural que, anualmente, atrai milhares de foliões. Na edição deste ano (2017) - de
acordo com a página do Carnaval de Recife6 - 1,3 milhão de pessoas passaram por essa
Região Metropolitana e acompanharam diversas apresentações e blocos carnavalescos em
diferentes polos descentralizados.
A MULHER E O CARNAVAL O papel da mulher na sociedade é constantemente colocado em segundo plano, quando
relacionado ao do homem. Por vários séculos, esse gênero foi isolado no interior das casas e
no ambiente familiar, sempre dependente de alguma força masculina. No entanto, atualmente,
as mulheres têm alcançado maior espaço nos âmbitos externos ao lar, contudo, a sua
objetificação e sexualização continuam presentes.
Desde a antiguidade o carnaval é visto como um momento que possibilita a subversão
de papeis e a permissividade. Sendo assim, muitas vezes, as pessoas utilizam esse período
para extravasar e podem, por ventura, cometer delitos e abusos. Segundo Burke (1998, p.
225). “O uso de máscaras ajudava as pessoas a se libertarem dos seus eus cotidianos,
6 Disponível em: <http://site.carnavalrecife.com/2017/03/01/balanco-carnaval-atraiu-13-milhao-de-pessoas-que-conferiram-
mais-de-duas-mil-apresentacoes/>. Acesso em: 23 abr. 2017.
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conferindo a todos um senso de impunidade como o manto da invisibilidade dos contos
folclóricos”.
Todavia, embora as mulheres tivessem participação ativa em alguns momentos da
folia, por muitas vezes, apenas exerciam a função de espectadoras, enquanto os homens
podiam aproveitar os quatro dias de Momo.
Tanto nos desfiles processionais [...] como nos animados bailes de máscaras
as mulheres de família não podiam tomar parte ativa, ficando restritas à
situação de espectadoras da folia de Momo. Postadas nas janelas dos grandes
sobrados ou nos camarotes dos teatros para "assistir ao carnaval" recebiam
flores, doces, confeitos, homenagens e bilhetinhos, mas não podiam
participar ativamente da folia; foram convertidas em elementos de
embelezamento do cenário, foco de endeusamento por parte dos membros
masculinos das associações, mas não tinham chance de se tornar "partners"
ativas nas mascaradas. (SIMSON, 1992, p. 12).
Todo esse contexto histórico, associado aos artifícios utilizados pela mídia para vender
a ideia do carnaval, contribuem para a construção de uma figura feminina objetificada, que
pode ser vendida e, aqueles que comprarem a ideia da festa devem ter, supostamente, livre
acesso a esse “produto”.
Um exame mais cuidadoso das publicações atuais da grande imprensa
brasileira que cobrem os festejos carnavalescos põe imediatamente em
relêvo uma visão da mulher como objeto sexual [...]. Esse fato vem reforçar
a visão do carnaval brasileiro como uma festa em que reinaria um clima de
grande permissividade sexual, aspecto esse muito enfatizado lambem pelas
coberturas televisivas veiculadas internacionalmente, as quais tem como
principal objetivo atrair turistas para virem participar do carnaval em nosso
país. (SIMSON, 1992, p. 7).
FOLKMARKETING: O USO DA FOLKCOMUNICAÇÃO, SEU CARÁTER
PEDAGÓGICO E A COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL A folkcomunicação estuda os processos comunicacionais que ocorrem através da
cultura popular de um determinado povo. Essa comunidade apresenta agentes sociais, os
folkcomunicadores, que são responsáveis por decodificar e recodificar as informações
passadas pelos meios massivos de comunicação e pela própria sociedade.
Em outras palavras, a folkcomunicação é, por natureza e estrutura, um
processo artesanal e horizontal, semelhante em essência aos tipos de
comunicação interpessoal já que suas mensagens são elaboradas,
codificadas e transmitidas em linguagem e canais familiares à audiência,
por sua vez conhecida psicológica e vivencialmente pelo comunicador,
ainda que dispersa. (BELTRÃO, 1980, p. 28).
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A mídia e as instituições, públicas e privadas, podem se apropriar de expressões da
folkcomunicação para aproximar-se mais do público e facilitar a compreensão da mensagem
e, consequentemente, por meio do folkmarketing, vender seu serviço, ideia ou produto, mas
também construir a sua identidade junto ao público.
[…] a comunicação integrada passa a ser uma arma estratégica para a
sobrevivência e o desempenho de uma organização em uma realidade
complexa e que se altera de forma muito rápida. Hoje em dia, não é possível
mais pensar, por exemplo, em realizar uma brilhante assessoria de imprensa,
criar campanhas retumbantes ou produzir peças publicitárias impactantes de
forma isolada, sem o envolvimento de todas as subáreas da comunicação
organizacional. (KUNSCH, 1997. p. 149).
Além disso, o folkmarketing também é uma ferramenta utilizada pelas organizações
para - de acordo com suas necessidades e interesses - construir, atualizar e modificar sentidos
e concepções já estabelecidos em uma realidade.
Podemos entender também que, nesse processo comunicativo, há abertura
para ressignificações de novos sentidos que se atualizam – ou não – a partir
das relações entre interlocutores que, localizados em determinados contextos
e dotados de certas intencionalidades negociam e dialogam no
encaminhamento de suas questões. (OLIVEIRA; CARINE, 2008, p. 92 - 93).
E atualmente essas mesmas instituições tanto do campo governamental, como do
privado, inserem as ideias, por novas plataformas comunicacionais, se beneficiando através da
velocidade em que as notícias se expandem na internet, assim atendendo suas exigências e
propensões organizacionais.
PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS O material empírico é parte do “Pequeno manual prático de como não ser um babaca
no Carnaval – Edição 2 - para os que ainda não entenderam”, divulgado na página do
Facebook da Prefeitura de Recife. As peças fazem parte de uma campanha de conscientização
contra abusos, assédios e agressões sofridas por mulheres, durante essa época do ano.
A presença do Hibridismo Cultural nas 4 peças selecionadas é explicita, pois existe a
flexibilização dos mais variados estilos numa mesma ilustração, demonstrando a mistura do
carnaval multicultural. Silveira (2007, p. 146 - 147) caracteriza “ [...] a expressão “hibridismo
cultural” (assim como seus congêneres) tenta referir à impossibilidade de pensarmos os
produtos da cultura contemporânea com categorias muito rígidas e acabadas”.
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Na análise foram levados em conta os seguintes aspectos: a linguagem utilizada – com
expressões locais e regionais, a escolha de cores, as formas, as relações entre palavra e
imagem, o poder apelativo, a unidade entre as diferentes peças, as formas de distribuição dos
elementos e o público-alvo.
A pesquisa é focada em quatro peças: “A boyzinha não gostou da tua pala? Fala que
nem o príncipe do brega: ‘perdoa-me! ’”; “Tua boyzinha usa a fantasia que ela quiser. Ruim é
a tua, de donzelo. ”; “Não arrete, não! Deixe a boyzinha na dela. ”; “Passo a passo da paquera:
- me olhou – te olhei -paquerou – paquerei – daí então bateu a química. Se não for assim, é
assédio. ”
Na rede social, as imagens estavam acompanhadas por um texto formulado pela
Prefeitura, com orientações complementares ao manual.
Vamo desenhar de novo o manual?! Pra quem ainda não entendeu, hein?
Brinque o Carnaval com respeito. A Central da Mulher estará na Rua do
Observatório, oferecendo orientação e atendimentos a mulheres que estão
em situação de violência, com uma equipe formada por psicólogas,
advogadas e assistentes sociais. Em caso de dúvidas, é só ligar para o Liga,
Mulher, o disque orientação do Clarice Lispector: 0800 281 0107.
(FACEBOOK, 2017)7.
ANÁLISE DAS PEÇAS Todas as peças analisadas apresentam o logotipo do Carnaval de Recife, centralizado
na parte superior das imagens, e são compostas por algumas cores da bandeira de
Pernambuco.
7 Disponível em:
<https://www.facebook.com/carnavaldorecifeoficial/photos/a.1113242782119076.1073741871.315883798521649/11132430
72119047/?type=3&theater>. Acesso em: 23 abr. 2017.
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Figura 1 – A Boyzinha
Fonte: Facebook, 20178
A palavra “boyzinha” é um estrangeirismo e neologismo, fruto da junção da palavra
“boy”, que significa menino, em inglês, e o sufixo “zinha” para aludir à palavra “menininha”.
Essa gíria é bastante utilizada na cidade do Recife, principalmente pela camada mais jovem da
sociedade. Já a expressão “pala” remete a uma conversa - nesse contexto com o intuito de
conquistar, flertar, realizar o famoso “jogo da conquista”.
O termo príncipe do brega refere-se a Kelvis Duran, conhecido na Região
Metropolitana de Recife por suas músicas inspiradas no tecnobrega9, que atraem públicos de
diversas classes sociais. O trecho “perdoa-me”, utilizado em seguida para composição da
peça, é o nome de uma de suas músicas mais conhecidas, que narra a tentativa do homem para
retomar seu relacionamento com a amada após ter cometido um erro, no entanto, ela rejeita
seu pedido de imediato.
As principais cores utilizadas são amarelo, branco, vermelho, preto e azul, todas fortes,
remetendo ao carnaval. Além disso, na parte inferior da arte, duas ilustrações representam as
figuras folclóricas nordestinas do “bumba-meu-boi”, presentes nas manifestações culturais da
região nesse período e um sol desenhado lembra do fervor desse festejo, juntamente com as
serpentinas representadas no canto superior da imagem.
8 Disponível em: <https://www.facebook.com/carnavaldorecifeoficial/photos/a.1113242782119076.1073741871.315883798521649/11132430
25452385/?type=3&theater>. Acesso em: 23 de abr. 2017. 9 Estilo musical característico do Recife.
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O poder apelativo da figura consiste no uso de uma música e de expressões locais para
criticar a insistência masculina ao paquerar as folionas e como isso pode se tornar
inconveniente, caso ela não tenha interesse nele.
Figura 2 – O Donzelo
Fonte: Facebook, 201710
A expressão boyzinha se repete na Figura 2. Já a palavra “donzelo” se refere a um
homem casto, que não teve relações sexuais, mas também aquele que é controlador e
“abestalhado”, que permanece sempre ao lado da namorada ou “ficante”, com o objetivo de
interferir nas suas ações.
As cores predominantes são vermelho, branco, verde, azul, amarelo e preto. A figura
ao centro, no inferior da imagem, ilustra um homem com a boca cheia de argumentos vazios e
olhos aparentemente irritados, ou seja, o acompanhante ciumento. Já os dois cachorros nos
cantos inferiores, aludem ao cão de guarda, que fica à espreita esperando algum indivíduo
estranho se aproximar, no caso, o homem que vigia sua companheira.
A peça tem o intuito de conscientizar os homens de que suas namoradas não são suas
propriedades, sendo assim, elas devem poder vestir as fantasias que quiserem, independente
da vontade ou autorização de seus companheiros.
10 Disponível em:
<https://www.facebook.com/carnavaldorecifeoficial/photos/a.1113242782119076.1073741871.315883798521649/11132428
78785733/?type=3&theater>. Acesso em: 23 de abr. 2017.
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Figura 3 – Não Arrete
Fonte: Facebook, 201711
A expressão "arrete" é conhecida e falada em grande parte da região nordeste e
significa irritar, "mexer com". No caso da figura 3, ela também pode adquirir o significado de
assédio.
As cores que mais se repetem aqui são as mesmas das outras peças. As ilustrações
principais representam uma passista de frevo, com uma sombrinha na mão, apontando para a
frase. Além disso, nos cantos superiores há dois corações enfeitados e com olhos.
Visando conscientizar os homens a respeito do incômodo causado por uma
aproximação, um assédio constante às mulheres que vão para as festas de carnaval, a peça
utiliza esses diversos recursos gráficos para enfatizar a mensagem a ser passada.
11 Disponível em:
<https://www.facebook.com/carnavaldorecifeoficial/photos/a.1113242782119076.1073741871.315883798521649/11132429
25452395/?type=3&theater>. Acesso em: 23 de abr. 2017.
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Figura 4 – A Paquera
Fonte: Facebook, 201712
Essa arte traz um trecho da música "Bateu a química", da banda recifense, Sedutora,
conhecida também por seus sucessos no campo do tecnobrega e suas letras românticas. O
trecho apresentado traz o que seria o "passo a passo da paquera".
A imagem traz uma mulher aparentemente empoderada e independente, que tem um
homem na palma de sua mão e manda um beijo para ele. O rapaz, em um tamanho bem menor
que a moça, segura seu próprio coração em suas mãos e o oferece para ela. A cor
predominante é o vermelho, que remete à paixão.
O propósito da Figura 4 é falar que, caso o "jogo da conquista" não dê certo, ele não
deve forçar a mulher a ficar com ele, pois, caso algo aconteça, o consentimento deve ser
mútuo. No entanto, se não for assim, é caracterizado como assédio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS No transcorrer das elucidações e investigações executadas neste artigo, observamos
que a partir da análise da cada uma das peças publicitárias, com todo o aporte teórico da
folkcomunicação, folkmarketing e comunicação institucional, podemos observar os
propósitos que as imagens desejavam transmitir.
O primeiro tema de observação, é a tentativa de ruptura com todos os padrões
determinados por uma sociedade abundantemente machista e segregacionista, em que o
homem centralizado, com status de poder e liderança, enquanto a mulher permanece em
12 Disponível em:
<https://www.facebook.com/carnavaldorecifeoficial/photos/a.1113242782119076.1073741871.315883798521649/11132430
25452385/?type=3&theater>. Acesso em: 23 de abr. 2017.
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segundo plano, marginalizada. Assim, as peças ofertam uma nova visão à população, do
empoderamento feminino, sem necessariamente depender do masculino para apreciar o
carnaval.
O segundo ponto presente nas ilustrações, é associado ao campo institucional, pois a
Prefeitura da Cidade do Recife exibe sua marca, num processo de afirmação com as pessoas
presentes nos 4 dias de festa, por meio de se fazer presente, comprovar sua preocupação e
transmitir a mensagem de empenho na redução dos crimes contra as mulheres, durante as
comemorações carnavalescas.
E, para facilitar a transmissão das mensagens observamos que, ao aplicar as gírias
locais, letras de brega, cores extravagantes e animações, as unidades publicitárias se
aproximam da população, por ter uma linguagem verbal e visual de fácil assimilação,
valorizando aspectos específicos da região.
Para concluir, consideramos ter cooperado para o folkmarketing, tendo em vista que
indagamos e promovemos um estudo sobre a relação do folclore local com aspectos
organizacionais e a utilização deles em conjunto, com o mesmo objetivo, acreditando sempre
na valorização do particular, tendo em vista a sua consolidação na cultura.
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