O USO DE JOGOS E MATERIAIS DIDÁTICOS MANIPULÁVEIS NA SALA DE · Programa Sala de Apoio à...
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1Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná e participante do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE). 2Professora Orientadora. Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Maringá –
PR.
O USO DE JOGOS E MATERIAIS DIDÁTICOS MANIPULÁVEIS NA SALA DE
APOIO À APRENDIZAGEM
Cristina Verônica Tramontini1
Marcia Maioli2
Resumo
Este artigo é o resultado de um trabalho desenvolvido na Sala de Apoio à Aprendizagem, destinada aos alunos do 6º Ano do Ensino Fundamental com defasagem de aprendizagem em conteúdos básicos da Matemática, do Colégio Estadual Duque de Caxias – Ensino Fundamental e Médio, que teve como objetivo a construção de conceitos sobre o Sistema de Numeração Decimal e das Operações Fundamentais através do uso de jogos e materiais didáticos manipuláveis como recursos pedagógicos. Estes recursos apresentaram-se como uma forma alternativa para tornar o ensino da Matemática mais significativo e prazeroso, onde os alunos constroem seus conhecimentos através de atividades lúdicas, agindo diretamente com materiais didático pedagógicos.
Palavras-chave: Jogos. Matemática. Materiais Manipuláveis. Sala de Apoio à
Aprendizagem.
1. Introdução
Este artigo é o resultado de um estudo desenvolvido no Programa de
Desenvolvimento Educacional com a finalidade da produção de um trabalho que
viesse a contribuir para a superação das dificuldades apresentadas pelos alunos
que ingressam no 6º ano do Ensino Fundamental nos conteúdos referentes à
disciplina de Matemática.
Para a superação destas dificuldades esses alunos são encaminhados ao
Programa Sala de Apoio à Aprendizagem, em contraturno, com quatro (04) horas-
aulas semanais, onde foi aplicado este projeto. A necessidade de uma
metodologia de trabalho diferenciada que contribuísse para que esses alunos
apreendessem os conteúdos em que apresentavam defasagem foi o que motivou
a escolha de jogos e de materiais didáticos manipuláveis para o desenvolvimento
deste trabalho, considerando as dificuldades de aprendizagem apresentadas
pelos alunos.
Assim, foram selecionados jogos e materiais didáticos manipuláveis
envolvendo conceitos sobre o Sistema de Numeração Decimal e das quatro
operações fundamentais (adição, subtração, multiplicação e divisão) para compor
uma Unidade Didática, a ser implementada nesta turma, visto que os jogos e os
materiais didáticos pedagógicos promovem uma aprendizagem dinâmica e
significativa, onde o aluno tem a oportunidade de realizar observações, análise,
busca de soluções, criação e recriação de estratégias, questionamentos, cálculo
mental e organização, elementos indispensáveis para o desenvolvimento do
raciocínio lógico e da resolução de problemas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A necessidade de registrar informações sobre quantidades desafiou o
homem a criar mecanismos para expressá-las, surgindo assim os diversos
Sistemas de Numeração. Entre estes sistemas podemos destacar “os sumérios,
os babilônios, egípcios, gregos, romanos, hebreus, maias, chineses, indianos e
árabes” (PARANÁ, 2008, p.50).
Ainda de acordo com as Diretrizes Curriculares de Matemática para a
Educação Básica “O atual sistema de numeração, denominado indo-arábico,
configurou-se conforme a integração entre os povos do ocidente e do oriente,
sobretudo em atividades comerciais do século XIII” (PARANÁ, 2008, p.50).
Este sistema de numeração superou todos os modelos existentes, pois até
então o cálculo era realizado de forma mecânica, através do uso de algum
material de contagem.
O sistema de numeração indo-arábico, criado pelos hindus e difundido pelos árabes, não visava a registrar quantidades como os sistemas dos romanos e dos gregos, mas também a suprir as necessidades do cálculo. Além disso, uma característica fundamental deste sistema é a noção de valor posicional, que já estava presente no ábaco, pois apenas com dez algarismos pode-se representar infinitas quantidades. Eles criaram também um símbolo para representar a coluna vazia do ábaco, símbolo este que gerou o que hoje se conhece como zero (PEIXOTO; SANTANA; CAZORLA, 2009, p.17).
O sistema de numeração decimal, utilizado por nós, é oriundo deste
modelo, que permitiu o cálculo por escrito, por meio de contas.
Dessa forma, compreender os princípios do Sistema de Numeração
Decimal é essencial para a compreensão dos procedimentos utilizados nas
operações fundamentais.
É necessário oferecer aos alunos um tempo maior de familiarização com o sistema de numeração decimal antes de iniciar os estudos com algoritmos das quatro operações com números naturais. Esse tempo que muitos professores podem imaginar como “perdido”, com certeza será recuperado na etapa da construção dos algoritmos (TOLEDO; TOLEDO, 1997, p.79).
Para Peixoto, Santana e Cazorla:
[...] Ensinar diretamente o algoritmo tem-se mostrado uma estratégia fadada ao fracasso e isto porque esse procedimento não valoriza as estratégias que os alunos conhecem e utilizam na resolução de
problemas enfrentados no seu cotidiano (PEIXOTO; SANTANA; CAZORLA, 2009, p. 05).
Quando o aluno apreende os princípios do Sistema de Numeração
Decimal, entende o porquê do “vai um” e do “empresta um”, usados no processo
de resolução das operações fundamentais, normalmente realizadas
mecanicamente e sem compreensão dos mecanismos de agrupamentos e trocas
acumulando deficiências na aprendizagem.
Professores habituados a trabalhar com crianças que apresentam dificuldade em “fazer contas” com os números naturais sabem que, na verdade, uma das principais causas está no aprendizado do sistema de numeração decimal (TOLEDO; TOLEDO, 1997, p.58).
Neste sentido, é preciso desenvolver estratégias que possibilitem ao aluno
entender o Sistema de Numeração Decimal e a sua relação com as operações,
pois
[...] acredita-se que, por mais desenvolvida que a sociedade fique, é preciso que o indivíduo entenda os mecanismos por trás dos algoritmos e, uma vez dominados, então sim, pode abolir contas feitas no papel e com o lápis e partir para a calculadora ou o computador, mas nunca antes, senão os indivíduos saberão apertar botões e dar comandos, mas serão incapazes de avaliar a plausibilidade das respostas. Hoje já não se visa à formação de calculistas e sim de cidadãos que usam a Matemática e compreendem o que usam (PEIXOTO; SANTANA; CAZORLA, 2009, p.05).
Portanto, oferecer ao aluno atividades pedagógicas diversificadas para a
compreensão do funcionamento do sistema de numeração decimal é uma
alternativa para a construção de conceitos que são importantes para a
aprendizagem das operações fundamentais.
OS JOGOS E OS MATERIAIS DIDÁTICOS MANIPULÁVEIS COMO RECURSOS
PEDAGÓGICOS
O uso de jogos no desenvolvimento de conteúdos não é um assunto novo
na escola, como também é conhecido o “[...] seu potencial para o ensino e
aprendizagem em muitas áreas do conhecimento” (SMOLE; DINIZ; MILANI, 2007,
p.09).
A opção pelo uso de jogos como recurso pedagógico, permite uma
mudança significativa na condução do processo de ensino e aprendizagem,
deixando de lado uma metodologia tradicional pautada no livro didático e na
resolução de listas de exercícios de fixação. Dessa forma,
O trabalho com jogos nas aulas de matemática, quando bem planejado e orientado, auxilia o desenvolvimento de habilidades como observação, análise, levantamento de hipóteses, busca de suposições, reflexão, tomada de decisão, argumentação e organização, as quais estão estreitamente relacionadas ao assim chamado raciocínio lógico (SMOLE; DINIZ; MILANI, 2007, p.09).
Essas habilidades desenvolvem-se porque o jogo além de gerar situação
problema, permite a investigação, a reflexão, a análise de regras e a construção
de novas estratégias para se chegar à solução do problema quando o caminho
tomado não foi o correto.
Neste sentido, Grando (apud RIBEIRO, 2009, p.20) diz que:
[...] ao observarmos o comportamento de uma criança em situações de brincadeira e/ou jogo, percebe-se o quanto ela desenvolve sua capacidade de fazer perguntas, buscar diferentes soluções, repensar situações, avaliar suas atitudes, encontrar e reestruturar novas relações, ou seja, resolver problemas.
Ribeiro destaca a importância dos jogos nas aulas de Matemática, “devido
a sua potencialidade para o desenvolvimento do pensar matemático” (RIBEIRO,
2009, p.13), mas salienta que neste contexto
[...] o papel do professor e a qualidade pedagógica das atividades propostas aparecem como elementos fundamentais para a constituição de experiências significativas de ensino e aprendizagem em Matemática. Isso conduz à ideia de que nem todo jogo configura-se como uma atividade de ensino significativa para as aulas de matemática, denotando a importância do aprofundamento teórico acerca de propostas que envolvam jogos matemáticos e, ainda, ampliando a importância das intervenções pedagógicas do professor no processo de ensinar e aprender pela via dos jogos (RIBEIRO, 2009, p.14).
Assim, é de suma importância o estudo detalhado do jogo a ser utilizado
como recurso pedagógico e das estratégias que serão adotadas, pois essa atitude
é fundamental para que o uso do jogo não se reduza a uma simples atividade
desconectada do processo de ensino e aprendizagem, ou considerada como um
modismo.
Ribeiro (2009) ainda destaca que a seriedade que deve permear o uso de
jogos nas aulas de Matemática, desmistificam a ideia de que promover atividades
com jogos, além da perda de tempo, não garantem a aprendizagem. Ideia que é
comum ser difundida pela falta de conhecimento sobre a potencialidade
pedagógica do trabalho com jogos.
O jogo, além de promover aprendizagem, também contribui para a
socialização dos alunos, estimulando a formação de atitudes pessoais. Nessa
perspectiva, Brito (2005) relata que durante o jogo, os sujeitos envolvidos estarão
propícios à ajuda mútua no processo educativo no contexto de sua interação
social. Além disso, no ato de jogar, os estudantes com dificuldades de
aprendizagem serão mais motivados e mais estimulados a participar.
Um jogo desenvolvido pelo professor pode contemplar diferentes objetivos em relação ao ensino de Matemática, dentre os quais se destacam: exercitar o domínio de determinados algoritmos, desenvolver habilidades de cálculo mental, construir determinadas ideias matemáticas bem como explorar dificuldades encontradas em conteúdos específicos. Paralelamente, o trabalho com o jogo pode estimular a formação de atitudes pessoais, tais como respeito aos colegas, cooperação e iniciativa (RIBEIRO, 2009, P.38).
Brito (2005), considera que o trabalho com jogos matemáticos pode ser
realizado com diversas intenções. Mas, quando se pensa em aquisição de
conhecimento deve-se ter bem claro que tipo de jogo usar, em qual momento
deve ser inserido na sala de aula e a maneira de fazer a intervenção.
Segundo Smole, Diniz e Milani (2007), um jogo pode ser escolhido para
que o aluno pense sobre um novo assunto, tenha um tempo maior para
desenvolver a compreensão sobre um conceito, para desenvolver estratégias de
resolução de problemas ou para adquirir habilidades necessárias para o processo
de ensino e aprendizagem.
A busca por um ensino que considere o aluno como sujeito do processo, que seja significativo para o aluno, que lhe proporcione um ambiente favorável à imaginação, à criação, à reflexão, enfim, à construção e que lhe possibilite um prazer em aprender, não pelo utilitarismo, mas pela investigação, ação e participação coletiva de um “todo” que constitui uma sociedade crítica e atuante, leva-nos a propor a inserção do jogo no ambiente educacional, de forma a conferir a esse ensino espaços lúdicos de aprendizagem (GRANDO, 2000, p.15).
Neste sentido, os jogos podem ser utilizados nas aulas de matemática
como um caminho para a construção ou reconstrução de conceitos, de forma
significativa, possibilitando a melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem.
MATERIAIS DIDÁTICOS MANIPULÁVEIS
A abstração dos conteúdos matemáticos, pela falta de uma abordagem
concreta e problematização dos conceitos, pode acarretar dificuldades no
processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
Diante deste contexto é que “os materiais concretos se configuram em uma
possibilidade de recurso para ser inserido no currículo, criando o elo entre a
teoria/prática minimizando as rupturas da articulação do cotidiano para o saber
escolar” (NOVELLO et al., 2009, p.02).
Assim, podemos considerar como materiais manipuláveis todo tipo de
material destinado ao aprendizado matemático, fazendo com que o aluno foque
sua atenção e concentração ao conteúdo a ser desenvolvido. Estes materiais
podem ser manuseados ou, ainda, possibilitarem modificações em suas formas.
Nesse sentido, um material didático manipulável pode ser considerado
como um bom material quando pode ser utilizado para trabalhar com diversos
conceitos. Para Passos “essa diversidade de aplicações permite que os alunos
estabeleçam conexões entre os diversos conceitos intrínsecos à manipulação do
material” (PASSOS, 2010, p.87).
Para Jesus e Fini estes recursos “poderão atuar como catalisadores do
processo natural de aprendizagem, aumentando a motivação e estimulando o
aluno, de modo a aumentar a quantidade e a qualidade de seus estudos” (JESUS;
FINI, 2005, p.144).
[...] Montessori legou-nos inúmeros exemplos de materiais didáticos e atividades de ensino que valorizam a aprendizagem através dos sentidos, especialmente do tátil, enquanto que Piaget deixou claro que o conhecimento se dá pela ação refletida sobre o objeto; Vygotsky, na Rússia, e Bruner, nos Estados Unidos, concordaram que as experiências no mundo real constituem o caminho para a criança construir seu raciocínio. Enfim, cada educador, a seu modo, reconheceu que a ação do indivíduo sobre o objeto é básica para a aprendizagem. Em termos de sala de aula, durante a ação pedagógica esse reconhecimento evidencia o papel fundamental que o material didático pode desempenhar na aprendizagem (LORENZATO, 2010, p.04).
Porém, nenhum material didático é válido por si só, sua eficiência irá
depender do objetivo do seu uso e a sua correta utilização para o
desenvolvimento cognitivo e afetivo do aluno. Nesse sentido, o uso do material
didático “depende fortemente da concepção do professor a respeito da
matemática e da arte de ensinar” (LORENZATO, 2010, p.25).
Para Novello et al (2009), o material manipulável deixa de ser usado pela
falta de conhecimento, ou o seu uso se restringe a ludicidade, sem articulação
conceitual com a Matemática.
Neste mesmo sentido, se os materiais manipuláveis se constituirão como
facilitadores na relação entre professor, aluno e o conhecimento “vai depender da
forma como for utilizado, bem como das concepções pedagógicas do professor”
(NACARATO, 2005, p.06).
Para Lorenzato (2010, p.34), com o auxílio do material didático,
[...] o professor pode, se empregá-lo corretamente, conseguir uma aprendizagem com compreensão, que tenha significado para o aluno, diminuindo, assim, o risco de serem criadas ou reforçadas falsas crenças referentes à matemática, como a de ser ela uma disciplina “só para poucos privilegiados”, “pronta”, “muito difícil”, e outras semelhantes. Outra consequência provável se refere ao ambiente predominante durante as aulas de matemática, onde o temor, a ansiedade e a indiferença serão substituídos pela satisfação, pela alegria ou pelo prazer. Mas, talvez, o mais importante efeito será o aumento da autoconfiança e a melhoria da autoimagem do aluno.
Portanto, é pertinente a reflexão sobre a importância da forma de utilização
dos materiais didáticos para o ensino da Matemática bem como “a atenção para
alguns equívocos que podem ocorrer quando não se tem clareza das
possibilidades e dos limites dos materiais utilizados” (NACARATO, 2005, p.05).
Dessa forma, a utilização de materiais didáticos no ensino da Matemática,
desde que bem planejado, possibilita um aprendizado mais prazeroso,
estimulando o aluno a aprender de forma mais criativa e dinâmica.
3. METODOLOGIA
Para a implementação do projeto, em sala de aula, foram utilizados os
jogos: nunca dez com Material Dourado e com o Ábaco, bingo do Sistema de
Numeração Decimal, cubra os pontos, resto zero, jogo do retirar, operando com a
multiplicação, jogando com o resto, jogo da velha com as operações
fundamentais e os materiais manipuláveis: sobrepondo quantias, caixa das
transformações e trabalho de pedreiro. Foi tomado o cuidado de conhecer
previamente esses recursos, procurando explorar todas as possibilidades que
eles ofereciam para a apreensão dos conceitos que se desejava trabalhar.
Em toda atividade desenvolvida, foi apresentado o material manipulável ou
o jogo aos alunos, deixando, primeiramente, que eles manipulassem livremente
este material, para então realizar questionamentos sobre se eles já conheciam o
material e como eles achavam que esse material seria utilizado. Com o Material
Dourado, se eles tinham conhecimento de cada peça que compunha esse
material e o seu respectivo valor.
No caso dos jogos, era entregue as regras impressas para cada grupo.
Primeiramente, pedia-se para que lessem essas regras e depois se discutia sobre
elas, bem como eram feitos os acordos necessários para a realização do jogo,
como: quem iniciaria o jogo; quantidade de rodadas necessárias para ter um
ganhador; para ganhar o jogo, qual a pontuação que o jogador deveria ter. Ao
final de cada atividade era realizada uma conversa sobre o jogo e nesse
momento, observam-se os avanços e dificuldades encontradas pelos alunos para
apreender os conceitos matemáticos desenvolvidos no jogo e, logo após, eram
aplicadas atividades referentes aos conceitos trabalhados.
A primeira atividade desenvolvida foi o Jogo do Nunca Dez com Material
Dourado cujo objetivo era contribuir para a compreensão de agrupamentos e
trocas e estimular o cálculo mental. No início, os alunos encontraram um pouco
de dificuldade para realizar as trocas, mas após algumas jogadas foram se
familiarizando com o material e jogo transcorreu com mais facilidade. Após o
término do jogo, realizaram as atividades propostas. Aqueles alunos que, no início
do jogo, demoravam a realizar o cálculo mental, no desenvolvimento do jogo já
conseguiam realizar esses cálculos com facilidade, o que agilizava o jogo e as
partidas passavam a ser mais rápidas.
A segunda atividade foi o Jogo do Nunca Dez com Ábaco, com o objetivo
da construção do significado do Sistema de Numeração Decimal e a
compreensão e uso do valor posicional dos algarismos. A maioria dos alunos teve
mais dificuldade em realizar as trocas e entender como fazê-las com o uso do
ábaco do que com o material dourado, usado anteriormente, que eles gostaram
mais. Ao fazer a representação de quantidades no ábaco, eles começaram a se
familiarizar com o material e realizaram essas atividades com maior facilidade e
foi possível perceber que eles já haviam começado a compreender o valor
posicional do algarismo.
A terceira atividade desenvolvida foi “Sobrepondo Quantias”, que é um
material manipulável, que consiste em fichas numeradas do 0 ao 9, de 10 em 10
até 90, de 100 em 100 até 900 e de 1000 em 1000 até 5000, cujo objetivo é
trabalhar a relação entre a escrita de um número no Sistema de Numeração
Decimal e sua decomposição nas ordens do sistema. Esse material foi essencial
para que os alunos fossem capazes de visualizar a composição e a
decomposição do número nas diversas ordens, através da sobreposição das
fichas, o que facilitou muito o desenvolvimento das atividades previstas. Quando
surgiam dúvidas, os alunos recorriam ao material para saná-las.
A quarta atividade foi o Bingo do Sistema de Numeração Decimal, que
tinha por objetivo trabalhar a composição dos números no Sistema de Numeração
Decimal. No início, os alunos tiveram um pouco de dificuldade em realizar a
composição dos números, mesmo utilizando um rascunho (quadro posicional
impresso). Então, foi combinado que seria feita a representação do número no
quadro, coletivamente, para que fossem marcando nas cartelas. Após algumas
rodadas, eles já conseguiam marcar os números sem precisar da representação
no quadro.
A quinta atividade desenvolvida foi o Jogo Cubra os Pontos, cujo objetivo
era desenvolver o cálculo mental, o raciocínio lógico e estimular o aluno a realizar
somas com duas ou mais parcelas. No início da atividade os alunos tiveram um
pouco de dificuldade em entender como marcar os resultados no tabuleiro. Após
algumas jogadas eles já caminharam sozinhos. Alguns alunos realizavam os
cálculos mentalmente, outros precisaram fazer os cálculos no papel, outros
contavam nos dedos, outros pediam ajuda ao colega, mas todos participaram.
Logo após, eles resolveram atividades propostas de acordo com o conteúdo
explorado no jogo. Foi possível observar que quando eles entendem o jogo, se
concentram e a sala fica muito silenciosa.
A sexta atividade desenvolvida foi a “Caixa das Transformações" que
envolve a resolução de situações problema utilizando estratégias diferenciadas. A
turma foi dividida por grupo de trabalho e disponibilizado material para que cada
grupo criasse situações problema para que a turma fosse solucionando-as. Eles
gostaram muito. Todos participaram e quiseram realizar essas situações várias
vezes. Apesar das situações problema serem criadas por eles, foi possível
perceber que a maioria da turma não utilizava estratégias diferenciadas para
chegar à solução. A utilização do material de apoio foi essencial para a
compreensão da atividade proposta.
A sétima atividade desenvolvida foi o Jogo Resto Zero, que tem por
objetivo estimular o aluno a resolver situações que envolvam a subtração. Eles
não tiveram dificuldade em realizar esta atividade. Utilizaram rascunhos para
fazer as operações. Alguns alunos precisavam de apoio de material para realizar
as subtrações, outros já conseguiam realizar o cálculo mentalmente.
A oitava atividade trabalhada foi o Jogo do Retirar, que tinha como objetivo
a compreensão do mecanismo do “empresta um” nas subtrações com recurso e
estimulação do cálculo mental. Foi possível observar, nesta atividade, que os
alunos não percebiam que para efetuar a subtração precisavam realizar a troca
da dezena pelas unidades. Então, foi necessário realizar questionamentos como:
dá para retirar 8 cubinhos de 4 cubinhos? Então, o que eu posso fazer? Mesmo
realizando vários questionamentos, só um aluno percebeu que deveria realizar a
troca de uma dezena por unidades e, assim, efetuar a subtração. Após discussão
coletiva, o restante do grupo entendeu o que era para fazer. Depois de algumas
rodadas, as operações realizadas e os resultados foram anotados numa tabela
desenhada no quadro. Os alunos foram percebendo que essa troca correspondia
ao "emprestar”. Assim, sempre que eles diziam "empresta um", logo corrigiam e
falavam "troca uma dezena por" ou "troca uma centena por".
Na nona atividade desenvolvida foi trabalhado o conceito de multiplicação
através do Jogo Operando com a Multiplicação. No início, os alunos tiveram
dificuldade em associar o produto com a operação apresentada na sua cartela.
Após algumas rodadas, foram se familiarizando com o jogo e conseguiram
realizar as jogadas sem necessitar de ajuda.
A décima atividade desenvolvida foi o "Trabalho de Pedreiro", que é um
material manipulável envolvendo o campo multiplicativo. Os alunos
representavam com tampinhas, em bandejas de ovos, quantidades estabelecidas
(exemplo: 4 colunas com 2 tampinhas cada, 6 colunas com 3 tampinhas cada) e
depois calculavam a quantidade de tampinhas que eram utilizadas para cobrir
essas áreas. Muitos alunos apresentavam dificuldade para entender essa
representação. Após algumas representações, começaram a entender esse
processo. Foi questionado se era possível encontrar a quantidade total de
tampinhas sem precisar contar uma a uma. Alguns alunos já tinham percebido
que bastava multiplicar as colunas pela quantidade de tampinhas que havia em
cada uma para encontrar o resultado. Foi possível observar que eles já
relacionavam essa atividade com a multiplicação, que era o objetivo do uso desse
material.
A décima primeira atividade desenvolvida foi o Jogo Avançando com o
Resto, para estimular o aluno a realizar cálculos mentais com a operação de
divisão. O material teve que ser modificado ao nível da turma, pois os alunos
apresentavam dificuldade na operação de divisão. Os alunos realizavam as
operações utilizando rascunhos. Aqueles alunos, que não estavam com
dificuldade no início, com o desenvolver do jogo conseguiam realizar as
operações corretamente.
Na última atividade foi trabalhado o Jogo da Velha com as quatro
operações, com o objetivo de exercitar o cálculo das quatro operações
matemáticas básicas com números naturais. A maioria dos alunos já conhecia o
"jogo da velha" tradicional e sabia como jogar, mas eles tiveram um pouco de
dificuldade, no início do jogo, para entender que deveriam realizar as quatro
operações com os valores que "caíam" nos dados para, então, marcar esses
resultados na tabela. Após algumas rodadas, eles pediram para modificar a regra,
como: utilizar só uma das operações em cada rodada ou a adição com a
subtração. Para tanto, tinham que escolher as fichas com os resultados, para
colocar na tabela, de acordo com a operação escolhida.
Para acompanhar o desenvolvimento da turma, após a aplicação de cada
jogo ou utilização dos materiais didáticos manipuláveis, era realizado um
mapeamento, através de uma tabela onde eram transcritos os resultados obtidos
após o término da aplicação de cada atividade. Esse mapeamento foi utilizado
para a comparação entre o resultado que aluno obteve na avaliação utilizada para
o seu ingresso na Sala de Apoio à Aprendizagem e a apreensão dos conceitos
após o trabalho realizado com os materiais didático pedagógicos. Realizar essa
comparação de resultados através de um mapeamento foi uma sugestão dada
por professores do Grupo de Trabalho em Rede (GTR).
Por isso, considero a participação no GTR, importantíssima, pois possibilita
compartilhar nosso trabalho com outros professores da rede. As considerações de
cada professor cursista, materiais de pesquisa e as sugestões de atividades
contribuem para a complementação do nosso trabalho.
4. RESULTADOS OBTIDOS
Com a implementação foi possível perceber a necessidade do apoio de
materiais didáticos diferenciados para que os alunos cheguem à apreensão dos
conceitos matemáticos. O aprender mecânico ocasiona muitas lacunas que
prejudicam o avanço do aluno, principalmente quando falamos de interpretação
de situações problema. O aluno, muitas vezes, resolve mecanicamente as
operações, mas não consegue resolver as situações problema que envolvem
essas mesmas operações, fato que foi possível perceber com um dos alunos da
turma, que só estava freqüentando esse projeto porque não conseguia interpretar
situações problema e o trabalho com o campo aditivo e multiplicativo foi essencial
para que ele avançasse na sua aprendizagem.
Também foi possível observar que os jogos e os materiais didáticos
manipuláveis despertam a curiosidade dos alunos e a aprendizagem, pois eles
querem entender a jogada realizada pelo colega de grupo. Um exemplo foi o que
aconteceu durante o desenvolvimento do trabalho com o “jogo do nunca dez com
material dourado”, os alunos que já dominavam situações de agrupamentos e
trocas percebiam que bastava pegar da quantidade sorteada o que faltava para
completar a dezena ou a centena e realizar a troca, sem ter que ficar juntando
sempre a quantidade que tinham com a que foi sorteada. Os outros colegas de
jogo começaram a observar a forma como era realizada essa jogada, o que
acabou por despertar neles o interesse por aprender novas formas de realizar as
trocas e agrupamentos contribuindo para a apreensão dos conceitos trabalhados
e esse fato ocorreu, também, em outros momentos de jogo.
Outro ponto positivo do uso do jogo, em sala de aula, é a socialização e a
ajuda mútua, pois os alunos, mesmo sendo “adversários” ajudavam um ao outro
quando encontravam dificuldades nas jogadas, fosse essa dificuldade relacionada
ao uso de estratégias como também na resolução de operações necessárias para
o desenvolvimento do jogo.
A freqüência dos alunos no Programa Sala de Apoio à Aprendizagem,
sempre foi considerada um dos problemas para o seu êxito e percebeu-se uma
melhora significativa com o trabalho desenvolvido com os jogos e os materiais
didáticos manipuláveis.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todo o trabalho realizado neste PDE, começando pelo Projeto até se
chegar à implementação da Produção Didático Pedagógica na escola, foram de
suma importância para o desenvolvimento e aplicação deste projeto, que teve
como objetivo a melhoria da qualidade do ensino dos alunos que chegam ao 6º
ano do Ensino Fundamental com defasagem de aprendizagem nos conteúdos
básicos da Matemática, neste caso, os conteúdos selecionados foram o Sistema
de Numeração Decimal e as quatro operações fundamentais.
Foi possível observar que um trabalho desenvolvido dentro de uma
metodologia que envolve jogos e materiais didáticos manipuláveis, além de tornar
as aulas mais atrativas e prazerosas, pode contribuir significativamente para que
os alunos superem as suas dificuldades, pois eles se veem envolvidos em
situações concretas de aprendizagem, para então, chegar à abstração. Pode-se
observar esta situação no conceito do “empresta” nas operações de subtração,
quando os alunos apreenderam o conceito e deixaram de utilizar o termo
“empresta” passando a utilizar “troca-se”, demonstrando domínio do conceito
trabalhado. Já na operação de divisão, percebeu-se a necessidade de um tempo
maior para o trabalho, retomando este conteúdo, para que o aluno chegue a sua
apreensão.
Assim, apesar de se constatar a melhoria na aprendizagem e na freqüência
dos alunos, o interesse pelas atividades desenvolvidas, a concentração, a
percepção, o desenvolvimento do cálculo mental e a socialização, é preciso
salientar que esses recursos didático-pedagógicos devem ser utilizados levando-
se em consideração o nível da turma que se está trabalhando e tendo sempre
objetivos claros, que levem o aluno à apreensão de conceitos e que eles sejam
capazes de utilizar esses conceitos na resolução de situações problema.
Desenvolver este projeto foi uma experiência muito enriquecedora e
gratificante, pois pude colocar em prática uma ideia que eu acreditava que fosse
trazer bons resultados para o processo de ensino e aprendizagem. Toda a
trajetória neste Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), desde a
construção do projeto até a sua implementação, através da Unidade Didática,
contribuiu para o meu crescimento pessoal e profissional, pois pude me dedicar a
um projeto que eu acreditava ser possível, tendo suporte e tempo para
desenvolver um bom trabalho, além da oportunidade de conviver com pessoas e
realidades distintas da minha, mas com os mesmos anseios e expectativas.
REFERÊNCIAS
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Insular, 2005. p.129-146. LORENZATO, Sergio. O Laboratório de Ensino de Matemática na Formação de Professores. 3ª ed. São Paulo: Autores Associados, 2010.
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