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O USO DE SILVERCEL ® NON-ADHERENT EM QUEIMADURAS: SÉRIE DE CASOS JACKY EDWARDS Enfermeira Especialista em Queimaduras, Manchester Método Silvercel® Non-Adherent (Systagenix) pertence a uma nova geração de coberturas antimicrobianas especificamente concebidas para minimizar a dor e o trauma que muitas vezes estão associados às trocas de curativos. Silvercel® Non-Adherent contém prata elementar a 111 mg/100cm² e é indicado para o tratamento de feridas infectadas ou feridas em que um elevado risco de infecção. Especificamente, é uma cobertura de não tecido, composta por alginato G (ácido gulurônico), carboximetilcelulose (CMC) e fibras de nylon cobertas com prata elementar (metálica) com uma camada de contato não aderente, que é um filme de precisão perfurado composto de acrilato de metil etileno (EMA). A cobertura foi avaliada em alguns estudos de caso. Discussão O uso de antimicrobianos é fundamental para prevenir infecções em queimaduras profundas e/ou superficiais considerando que a colonização bacteriana pode atrasar a cura da ferida. Herndon (2007) sugere que a manutenção de feridas em níveis baixos de colonização pode diminuir a frequência e duração de episódios de septicemia causados pela flora bacteriana da ferida. Dado o aumento da resistência microbiana a antibióticos, o uso de coberturas antimicrobianas para prevenir a progressão da infecção ou re-infecção poderia diminuir significativamente a necessidade de tratamento com antibióticos sistêmicos. Conclusão Silvercel® Non-Adherent parece oferecer as mesmas propriedades de outras coberturas compostas de prata elementar em termos da sua eficácia, sem apresentar os problemas de ressecamento e aderência, o que é comum em coberturas desse segmento. Observamos a resolução de infecção em queimaduras agudas, e melhoria na aparência em algumas queimaduras estáticas, e essa série de casos demonstra que essa cobertura tem potencial para substituir a nossa prática em utilizar o Acticoat. No entanto, será necessária uma análise mais estruturada da eficácia da cobertura antes que esta pode ser introduzida como tratamento de primeira linha para queimaduras com celulites. Caso 3 Um paciente Z., do sexo masculino, de 43 anos, teve seu antebraço esquerdo atingido por uma chama, em junho de 2011. Isso aconteceu quando ele estava usando um amolador em cima de uma esteira encharcada com gasolina. Uma faísca fez com que o colchonete e as roupas do paciente pegassem fogo, causando uma queimadura profunda em seu braço (Fig 9). Inicialmente foi tratado com as coberturas convencionais de Flamazine e Atrauman. No entanto, infelizmente, a ferida foi infectada com Staphylococcus aureus após 2 semanas, e então foi adotado o tratamento com a cobertura Silvercel® Non-Adherent. Caso 1 A paciente X. tem 88 anos de idade e vive em uma casa de repouso. Em junho de 2011 ela caiu contra um radiador e sofreu uma queimadura profunda do lado direito das costas (Fig 1). A ferida foi inicialmente tratada convencionalmente, usando Flamazine e Mepilex Border. Caso 2 A paciente Y., de 42 anos, possui epilepsia e queimou inicialmente ambos os pés ao derramar água fervente sobre eles em março de 2010. A maior parte das áreas feridas foi curada, mas ela ficou com uma ulceração crônica em seu pé esquerdo. Ele foi tratado com uma variedade de coberturas, mas a cura total da ferida nunca aconteceu. Em junho de 2011, ela fez um enxerto utilizando Matriderm, um substituto dérmico que foi coberto com um enxerto de pele. Inicialmente, houve um bom resultado do enxerto, mas em seguida, ocorreu a perda do mesmo (Fig 5). Fig 1 No entanto, até setembro de 2011 a ferida permaneceu aberta, e então foi decidido tentar o tratamento com Silvercel® Non- Adherent (Fig 2). A ferida respondeu bem ao tratamento após uma semana (Fig 3). Fig 2 Em outubro de 2011 a ferida já estava praticamente curada (Fig 4). A paciente não apresentou nenhum problema com a cobertura, ela achou confortável de usar e não aderiu ou causou trauma na remoção. Fig 4 Após 1 semana de tratamento com Silvercel® Non-Adherent (Fig. 6). Fig 5 Após 3 semanas de tratamento (Fig 7). Fig 6 Após 5 semanas de tratamento, a ferida estava totalmente fechada (Fig 8). A paciente achou o uso da cobertura confortável, permitiu que ela se movimentasse facilmente e foi removida sem causar dor ou trauma. Fig 1 Fig 2 Fig 3 Fig 5 Fig 6 Fig 7 Fig 8 Fig 9 Início com Silvercel® Non-Adherent. Após 7 dias de tratamento. Após 10 dias de tratamento. Após 17 dias de tratamento, ferida quase totalmente fechada. O paciente achou que a cobertura reduziu sua dor, foi confortável de usar e foi removida facilmente sem causar dor ou trauma (Fig 13). Referências Salas Campos L, Fernandes Mansilla M, Martinez de la Chica AM. Topical chemotherapy for the treatment of burns. Rev Enferm 2005;28(5):6770. Best Practice Statement (2011) The use of topical antiseptic/antimicrobial agents in wound management. Wounds UK, London. Herndon, D. (2007). Total Burn Care, Saunders, Philadelphia. Fig 4 Introdução A ferida causada por uma queimadura pode ser definida como um dano tecidual local causado pela lesão da queimadura com os resultados associados de inflamações, regeneração e reparação. É um ambiente dinâmico e mutável, que ao mesmo tempo se mostra sensível e responsável pelos distúrbios sistêmicos que caracterizam uma queimadura. O objetivo final dos cuidados e tratamento das queimaduras é a cicatrização e epitelização, o quanto antes, a fim de prevenir a infecção e reduzir seqüelas funcionais e estéticas (Salas et al, 2005). Infecções em queimaduras são uma das complicações mais importantes e potencialmente graves que ocorrem no período agudo após a lesão. As características dos pacientes mais importantes que influenciam a morbidade e mortalidade em queimaduras infectadas e septicemia incluem feridas com grande área de superfície corporal queimada (>30%), quantidade significativa de feridas com espessura total, feridas que aprofundaram ou que tiveram os primeiros cuidados tardios. Vários fatores contribuem para a infecção em queimaduras, como a destruição da barreira da pele, a presença de necrose, exsudato sero-sanguinolento e imunidade comprometida. Os riscos são proporcionais à profundidade e extensão da queimadura, perfusão local do tecido, saúde e idade do paciente e da utilização de antibióticos sistêmicos. Como a escara da queimadura pode estar a certa distância da vascularização, agentes sistêmicos (antibióticos orais e parenterais) provavelmente não atingem o local da queimadura em níveis terapêuticos, enquanto que os agentes aplicados topicamente, se dosados corretamente, podem alcançar um controle eficaz da carga bacteriana (Best Practice Statement, 2011). Uma prática clínica atual é o uso de Flamazine como primeira linha de terapia antimicrobiana, mudando apenas para Acticoat (S&N) se a ferida for infectada ou se os pacientes forem encaminhados com feridas com celulites. No entanto, o problema com Acticoat, em todas suas apresentações, é que ele adere ao leito da ferida, tornando a remoção da cobertura dolorosa e traumática.

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O USO DE SILVERCEL® NON-ADHERENT EM QUEIMADURAS:

SÉRIE DE CASOS JACKY EDWARDS Enfermeira Especialista em Queimaduras, Manchester

Método Silvercel® Non-Adherent (Systagenix) pertence

a uma nova geração de coberturas

antimicrobianas especificamente concebidas

para minimizar a dor e o trauma que muitas

vezes estão associados às trocas de curativos.

Silvercel® Non-Adherent contém prata

elementar a 111 mg/100cm² e é indicado para o

tratamento de feridas infectadas ou feridas em

que há um elevado risco de infecção.

Especificamente, é uma cobertura de não

tecido, composta por alginato G (ácido

gulurônico), carboximetilcelulose (CMC) e fibras

de nylon cobertas com prata elementar

(metálica) com uma camada de contato não

aderente, que é um filme de precisão perfurado

composto de acrilato de metil etileno (EMA). A

cobertura foi avaliada em alguns estudos de

caso.

Discussão O uso de antimicrobianos é fundamental para

prevenir infecções em queimaduras profundas

e/ou superficiais considerando que a

colonização bacteriana pode atrasar a cura da

ferida. Herndon (2007) sugere que a

manutenção de feridas em níveis baixos de

colonização pode diminuir a frequência e

duração de episódios de septicemia causados

pela flora bacteriana da ferida. Dado o aumento

da resistência microbiana a antibióticos, o uso

de coberturas antimicrobianas para prevenir a

progressão da infecção ou re-infecção poderia

diminuir significativamente a necessidade de

tratamento com antibióticos sistêmicos.

Conclusão Silvercel® Non-Adherent parece oferecer as

mesmas propriedades de outras coberturas

compostas de prata elementar em termos da

sua eficácia, sem apresentar os problemas de

ressecamento e aderência, o que é comum em

coberturas desse segmento. Observamos a

resolução de infecção em queimaduras agudas,

e melhoria na aparência em algumas

queimaduras estáticas, e essa série de casos

demonstra que essa cobertura tem potencial

para substituir a nossa prática em utilizar o

Acticoat. No entanto, será necessária uma

análise mais estruturada da eficácia da

cobertura antes que esta pode ser introduzida

como tratamento de primeira linha para

queimaduras com celulites.

Caso 3 Um paciente Z., do sexo masculino, de 43

anos, teve seu antebraço esquerdo atingido por

uma chama, em junho de 2011. Isso aconteceu

quando ele estava usando um amolador em

cima de uma esteira encharcada com gasolina.

Uma faísca fez com que o colchonete e as

roupas do paciente pegassem fogo, causando

uma queimadura profunda em seu braço (Fig

9). Inicialmente foi tratado com as coberturas

convencionais de Flamazine e Atrauman. No

entanto, infelizmente, a ferida foi infectada com

Staphylococcus aureus após 2 semanas, e

então foi adotado o tratamento com a cobertura

Silvercel® Non-Adherent.

Caso 1 A paciente X. tem 88 anos de idade e vive em

uma casa de repouso. Em junho de 2011 ela caiu

contra um radiador e sofreu uma queimadura

profunda do lado direito das costas (Fig 1). A

ferida foi inicialmente tratada convencionalmente,

usando Flamazine e Mepilex Border.

Caso 2 A paciente Y., de 42 anos, possui epilepsia e

queimou inicialmente ambos os pés ao derramar

água fervente sobre eles em março de 2010. A

maior parte das áreas feridas foi curada, mas ela

ficou com uma ulceração crônica em seu pé

esquerdo. Ele foi tratado com uma variedade de

coberturas, mas a cura total da ferida nunca

aconteceu. Em junho de 2011, ela fez um enxerto

utilizando Matriderm, um substituto dérmico que foi

coberto com um enxerto de pele. Inicialmente,

houve um bom resultado do enxerto, mas em

seguida, ocorreu a perda do mesmo (Fig 5).

Fig 1

No entanto, até setembro de 2011 a ferida

permaneceu aberta, e então foi decidido

tentar o tratamento com Silvercel® Non-

Adherent (Fig 2).

A ferida respondeu bem ao tratamento

após uma semana (Fig 3).

Fig 2

Em outubro de 2011 a ferida já estava

praticamente curada (Fig 4). A paciente

não apresentou nenhum problema com

a cobertura, ela achou confortável de

usar e não aderiu ou causou trauma na

remoção.

Fig 4

Após 1 semana de tratamento com

Silvercel® Non-Adherent (Fig. 6).

Fig 5

Após 3 semanas de tratamento (Fig 7).

Fig 6

Após 5 semanas de tratamento, a ferida

estava totalmente fechada (Fig 8).

A paciente achou o uso da cobertura

confortável, permitiu que ela se

movimentasse facilmente e foi removida

sem causar dor ou trauma.

Fig 1

Fig 2

Fig 3

Fig 5

Fig 6

Fig 7

Fig 8

Fig 9

Início com Silvercel® Non-Adherent.

Após 7 dias de tratamento.

Após 10 dias de tratamento.

Após 17 dias de tratamento, ferida quase

totalmente fechada.

O paciente achou que a cobertura reduziu

sua dor, foi confortável de usar e foi

removida facilmente sem causar dor ou

trauma (Fig 13). Referências

Salas Campos L, Fernandes Mansilla M, Martinez de la Chica AM. Topical chemotherapy for the treatment of burns. Rev Enferm 2005;28(5):67–70.

Best Practice Statement (2011) The use of topical antiseptic/antimicrobial agents in wound management. Wounds UK, London.

Herndon, D. (2007). Total Burn Care, Saunders, Philadelphia.

Fig 4

Introdução

A ferida causada por uma queimadura

pode ser definida como um dano tecidual

local causado pela lesão da queimadura com

os resultados associados de inflamações,

regeneração e reparação. É um ambiente

dinâmico e mutável, que ao mesmo tempo se

mostra sensível e responsável pelos

distúrbios sistêmicos que caracterizam uma

queimadura. O objetivo final dos cuidados e

tratamento das queimaduras é a cicatrização

e epitelização, o quanto antes, a fim de

prevenir a infecção e reduzir seqüelas

funcionais e estéticas (Salas et al, 2005).

Infecções em queimaduras são uma das

complicações mais importantes e

potencialmente graves que ocorrem no

período agudo após a lesão. As

características dos pacientes mais

importantes que influenciam a morbidade e

mortalidade em queimaduras infectadas e

septicemia incluem feridas com grande área

de superfície corporal queimada (>30%),

quantidade significativa de feridas com

espessura total, feridas que aprofundaram ou

que tiveram os primeiros cuidados tardios.

Vários fatores contribuem para a

infecção em queimaduras, como a destruição

da barreira da pele, a presença de necrose,

exsudato sero-sanguinolento e imunidade

comprometida. Os riscos são proporcionais à

profundidade e extensão da queimadura,

perfusão local do tecido, saúde e idade do

paciente e da utilização de antibióticos

sistêmicos. Como a escara da queimadura

pode estar a certa distância da

vascularização, agentes sistêmicos

(antibióticos orais e parenterais)

provavelmente não atingem o local da

queimadura em níveis terapêuticos, enquanto

que os agentes aplicados topicamente, se

dosados corretamente, podem alcançar um

controle eficaz da carga bacteriana (Best

Practice Statement, 2011).

Uma prática clínica atual é o uso de

Flamazine como primeira linha de terapia

antimicrobiana, mudando apenas para

Acticoat (S&N) se a ferida for infectada ou se

os pacientes forem encaminhados com

feridas com celulites. No entanto, o problema

com Acticoat, em todas suas apresentações,

é que ele adere ao leito da ferida, tornando a

remoção da cobertura dolorosa e traumática.