O vazio das bibliotecas

5
O Vazio das Bibliotecas Localizada no quinto andar da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) enquanto sua sede está em reforma, a Biblioteca Pública Estadual (BPE) recebeu 29 mil visitantes em 2011. Em Florianópolis, cidade que tem apenas 30% da população de Porto Alegre, a Biblioteca Pública de Santa Catarina registrou 42 mil visitas, quase 50% mais. E, em Curitiba, a Biblioteca Pública do Paraná contou 616 mil no mesmo período. A falta de interesse reflete o pouco investimento dos governos estadual e municipal. No Rio Grande do Sul, apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado à cultura, que abrange a manutenção dos acervos. Além da frequência limitada, a diretora da biblioteca gaúcha Morgana Malcon conta que, desde 1992, não são realizados concursos públicos para bibliotecários no Estado, deixando precário o atendimento. Outro problema para a BPE é a falta de espaço. Como a obra no prédio histórico da biblioteca, na Rua Riachuelo, se prolonga desde 2009, parte do acervo foi transferido para a CCMQ. Porém, o local não tem espaço para abrigar todos os 240 mil livros. Para Morgana, uma das razões deste comportamento é a presença das novas plataformas de leitura online, relegando a produção em papel ao segundo plano. “As pessoas não frequentam bibliotecas porque elas realmente não são atraentes”, admite a diretora. Reforçando a tese, uma pesquisa do Instituto Pró-Livro revela que cerca de 75% da população brasileira jamais foi a uma biblioteca. Para movimentar o lugar, Morgana criou o Clube de Leitura, com reuniões quinzenais para discutir livros. Também é realizada, ocasionalmente, uma feira de troca de livros. Segundo a diretora, as duas ações têm bom público. Para o final do ano está prevista a abertura de um andar do prédio da BPE, mas a obra deve ser concluída daqui a dois anos. Segundo a coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Estado, Rosana de Lemos Vasques, ainda neste ano haverá concurso para bibliotecários. Ela promete que todas as instituições serão modernizadas, e explica que o governo lança

description

As bibliotecas não são valorizadas pelo público ou pelo governo. Enquanto o primeiro não as vista, o segundo concede uma porcentagem muito pequnena de investimento.

Transcript of O vazio das bibliotecas

O Vazio das Bibliotecas

Localizada no quinto andar da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) enquanto sua

sede está em reforma, a Biblioteca Pública Estadual (BPE) recebeu 29 mil visitantes em

2011. Em Florianópolis, cidade que tem apenas 30% da população de Porto Alegre, a

Biblioteca Pública de Santa Catarina registrou 42 mil visitas, quase 50% mais. E, em

Curitiba, a Biblioteca Pública do Paraná contou 616 mil no mesmo período. A falta de

interesse reflete o pouco investimento dos governos estadual e municipal. No Rio

Grande do Sul, apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado à cultura, que

abrange a manutenção dos acervos.

Além da frequência limitada, a diretora da biblioteca gaúcha Morgana Malcon conta

que, desde 1992, não são realizados concursos públicos para bibliotecários no Estado,

deixando precário o atendimento. Outro problema para a BPE é a falta de espaço. Como

a obra no prédio histórico da biblioteca, na Rua Riachuelo, se prolonga desde 2009,

parte do acervo foi transferido para a CCMQ. Porém, o local não tem espaço para

abrigar todos os 240 mil livros.

Para Morgana, uma das razões deste comportamento é a presença das novas plataformas

de leitura online, relegando a produção em papel ao segundo plano. “As pessoas não

frequentam bibliotecas porque elas realmente não são atraentes”, admite a diretora.

Reforçando a tese, uma pesquisa do Instituto Pró-Livro revela que cerca de 75% da

população brasileira jamais foi a uma biblioteca.

Para movimentar o lugar, Morgana criou o Clube de Leitura, com reuniões quinzenais

para discutir livros. Também é realizada, ocasionalmente, uma feira de troca de livros.

Segundo a diretora, as duas ações têm bom público. Para o final do ano está prevista a

abertura de um andar do prédio da BPE, mas a obra deve ser concluída daqui a dois

anos.

Segundo a coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Estado,

Rosana de Lemos Vasques, ainda neste ano haverá concurso para bibliotecários. Ela

promete que todas as instituições serão modernizadas, e explica que o governo lança

editais para premiar projetos propostos pelas bibliotecas. “O objetivo é fazer com que

elas se empenhem”, afirma. No entanto, do total de 531, apenas cerca de 80 instituições

apresentaram projetos.

Romano Reif Pessoas cadastradas: 6.233

Frequência média por dia: 50 a 70 pessoas

Frequentaram no último ano: sem dados

Acervo da biblioteca: 22,5 mil obras

Faixa etária do público: 20-70 anos

A Biblioteca Estadual Romano Reif dispõe de três computadores antigos que, segundo a

funcionária Ana Paula Oliveira, não estão em condições de funcionamento. Atualmente,

a biblioteca tem um salão multiuso ocupado pela administração do Parque Alim Pedro

para atividades como dança e ginástica voltadas à terceira idade. A bibliotecária Édina

Fell conta que diversas atividades culturais eram realizadas na Romano Reif, mas

cessaram quando a funcionária responsável pelas promoções foi transferida. “O pessoal

adorava a hora do conto, até porque tem muitas creches aqui perto. Em torno de 30 a 40

crianças vinham quando esses eventos eram realizados”, relata. A biblioteca tem

projetos para cursos, palestras e seminários, porém sem previsão de realização.

Endereço: Praça Largo da Bandeira, 64 – Bairro IAPI

Leopoldo Boeck Pessoas cadastradas: 3,3 mil

Frequência média por dia: 15 pessoas

Frequentaram no último ano: sem dados

Acervo da biblioteca: 16 mil obras

Faixa etária do público: todas as idades

A Biblioteca Estadual Leopoldo Boeck está equipada com dois computadores sem

acesso à internet. Costumava ser bastante frequentada quando promovia eventos como

palestras e horas do conto. Entretanto, desde que a funcionária Idione Demarchi ficou

sozinha para cuidar do local, a programação foi suspensa. Ela afirma que trabalhou sem

ajuda por três anos e, mesmo agora, com novas funcionárias para auxiliá-la, as

atividades não foram retomadas.

Endereço: Rua República do Peru, 398 – bairro Jardim Sabará

Josué Guimarães Pessoas cadastradas: 3.518

Frequência média por dia: 40 pessoas

Frequentaram no último ano: 2 mil

Acervo da biblioteca: 30 mil obras

Faixa etária: adulto

A Bilbioteca Municipal Josué Guimarães é a única informatizada com código de barra

nas carteiras de associados e está em boas condições. A prefeitura libera uma verba

anual de R$ 8 mil para a compra de livros e disponibiliza funcionários, como eletricistas

e engenheiros, para a manutenção do prédio. Carmem Thober, bibliotecária e diretora

do espaço, conta que o acervo recebe livros, jornais e revistas de associados e outros

colaboradores. Assim que novos livros chegam, obras repetidas ou em mau estado são

doados para bibliotecas de bairros. Em 2006, foi enviado à Secretária Municipal de

Cultura um plano de modernização. As solicitações para instalar rampa de acesso,

câmeras de segurança e um catálogo on-line não foram atendidas. Segundo a diretora, o

catálogo aproximaria o público, pois a divulgação atual se dá por meio de folhetos.

Endereço: Avenida Erico Verissimo, 307 – bairro Menino Deus. Localizada no Centro

Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues

Ramal 1 Restinga Pessoas cadastradas: 1 mil

Frequência média por dia: 20 pessoas

Frequentaram no último ano: sem dados

Acervo da biblioteca: 7 mil obras

Faixa etária do público: todas as idades

Inaugurada em 2001, a Biblioteca Municipal Josué Guimarães – Ramal 1 Restinga

atende a população adulta e infantil do bairro. Conta com poucos leitores cadastrados e

consegue atender seu público, basicamente, por meio de doações. Durante o período

letivo, a movimentação é mais intensa.

Endereço: Rua Antônio Rocha Meirelles Leite, 50 – bairro Restinga Nova

Lucília Minssen Pessoas cadastradas: 905

Frequência média por dia: sem dados

Frequentaram no último ano: sem dados

Acervo da biblioteca: 20.987 obras

Faixa etária: infantil

Destinado ao público infantil e situado no terceiro andar da Casa de Cultura Mario

Quintana (CCMQ), o espaço tem como objetivo proporcionar um ambiente lúdico em

que as crianças possam entrar em contato com os livros desde cedo. A diretora Marília

Sauer relata que há uma desatualização do acervo, restringindo-o a clássicos literários.

Novas obras são adquiridas somente por meio da Associação de Amigos da biblioteca,

composta majoritariamente pelos pais das crianças que a frequentam. A BLM promove,

anualmente, concursos de contadores de histórias, festivais de poemas infantis e

diversas atividades culturais. No mês de outubro, período em que se realizam estes

eventos, mil crianças, em média, visitam o local.

Endereço: Rua dos Andradas, 726, 5° andar da CCMQ – Centro

Lígia Meurer Pessoas cadastradas: 11.257

Frequência média por dia: 20 pessoas

Frequentaram no último ano: sem dados

Acervo da biblioteca: 27.880 obras

Faixa etária do público: 60 anos

A Biblioteca Estadual Lígia Meurer já teve uma média diária de 200 leitores, quando

estava situada na rua Félix da Cunha, em um prédio da Universidade Luterana do Brasil

(Ulbra). Porém, a universidade solicitou o prédio de volta ao governo do Estado.

Comovida com a situação, a Associação Cristóvão Colombo emprestou parte de seu

prédio em 2002. Localizada neste espaço desde então, o local mais se assemelha a um

“galpão”, segundo a bibliotecária Flávia Faccio. A biblioteca conta apenas com cerca de

20 frequentadores por dia e amplia seu acervo por meio de doações de livros, revistas e

jornais. O que não é aproveitado pelos leitores é vendido para empresas de reciclagem

ou a um comerciante que revende o material no Mercado Público. Com o valor

arrecadado, novas obras são compradas em sebos. A instituição tem um computador,

mas sem acesso à internet.

Endereço: Rua Câncio Gomes, 786 – bairro Floresta