O Vestido de Noiva

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Charlotte é dona de uma loja de vestidos de noiva elegante de Birmingham. Vestir noivas para o grande dia é o seu dom – e sua paixão. Mas, com o dia de seu próprio casamento se aproximando, por que ela não pode encontrar o vestido perfeito para ela – ou sentir-se segura para casar-se com Tim? Então ela compra um baú velho em um leilão em Red Mountain e descobre que dentro dele há um vestido antigo. Ele parece novo, brilhante, com pérolas e cetim; é costurado à mão e intemporal. Mas de onde ele vem? Quem o usou? Quem havia soldado a fechadura do baú? E quem é o misterioso homem de colete roxo que insiste que o vestido foi "redimido"? Ao pesquisar a história do vestido ela passa a conhecer as mulheres que o usaram, suas histórias de promessas, dor e destino. E cada uma com algo único para compartilhar. Entrelaçada na história do vestido de noiva de cem anos de idade está a verdade sobre a herança de Charlotte, o poder de coragem e fé, e a beleza de encontrar o amor verdadeiro.

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Rachel Hauck

São Paulo 2013

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Th e Wedding Dress

Copyright © 2013 by Ágape Editora

Copyright © 2012 by Rachel Hauck

All rights reserved

Th is licensed work published under license

Agente literária Silvia Bastos S.L.

Rights managed by Silvia Bastos S.L., agencia literária

Coordenação editorial: Ana Claudia de Mauro

Tradução: Cristina S. Boa

Diagramação: Selma Consoli – MTb 28.839

Capa: Monalisa Morato

Revisão: Jéssica Dametta

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da

Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção cristã : Literatura norte-americana

813

2013IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZILDIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À

NOVO SÉCULO EDITORA LTDACEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11º Andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville – SP

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Hauck, Rachel

O vestido de noiva / Rachel Hauck ; [tradução Cristina S. Boa]. -- São Paulo : Ágape, 2013.

Título original: Th e wedding dress.

1. Ficção cristã 2. Ficção norte-americana I. Título.

12-14786 CDD-813

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Para Jesus, o noivo glorioso.

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Capítulo Um

Charlotte14 de Abril

Foi a brisa, uma mudança invisível no ar, que a fez erguer os olhos e

passear por entre os carvalhos. Charlotte parou no gramado bem cuidado

da propriedade Ludlow para respirar o ar puro, observando os elementos

do dia – o céu azul, as árvores primaveris, a luz do sol refl etida no para-

-brisa do carro.

Naquela manhã, ela acordara com a necessidade de pensar, orar, chegar

mais perto do céu. Vestira seus shorts favoritos e dirigira até a montanha.

Porém, em vez da solidão que buscava, Charlotte encontrou seu peda-

cinho de Red Mountain muito movimentado e apinhado de compradores

e caçadores de pechinchas. O leilão anual Ludlow de antiguidades para

angariar fundos para caridade tomava conta dos jardins exuberantes da

propriedade.

Charlotte ergueu os óculos escuros e os apoiou no topo da cabeça,

ressentida da intrusão. Aquele era o seu refúgio pessoal, mesmo que o

resto do mundo não soubesse disso. Sua mãe costumava levá-la ali para

piqueniques, estacionando em uma estradinha de cascalho, e levando

Charlotte furtivamente até o perímetro da propriedade dos Ludlow, rin-

do e sussurrando “Psiu”, como se estivessem escapando ilesas de alguma

travessura cometida.

Ela sempre encontrava um bom lugar atrás de uma colina, onde esten-

dia um cobertor, abria um pote de frango frito ou um saco do McDonald’s

e, admirando Birmingham, a Cidade Mágica como era chamada, além do

vale, murmurava com um suspiro:

– Não é lindo?

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– Sim – Charlotte sempre respondia, embora seus olhos se mantives-

sem fi xos na mãe, e não nas luzes de Birmingham, pois era a mulher mais

linda que Charlotte já vira.

Agora, quase dezoito anos após sua morte, continuava sendo a mulher

mais linda que Charlotte já vira. Sua mãe tinha um jeito simples de ser, um

dom que não tivera tempo de transmitir à fi lha antes de morrer.

Gritos invadiram o momento de Charlotte com sua mãe. Compradores

e licitantes entravam e saíam da tenda armada no gramado lateral, onde

ocorria o leilão.

Protegendo os olhos da luz do sol, Charlotte fi cou ali parada, sentindo

a brisa na pele, observando e tentando decidir o que fazer. Voltar para casa

ou caminhar pela propriedade? Não precisava ou queria qualquer coisa

que pudesse estar debaixo da tenda. Não tinha dinheiro para comprar

nada, mesmo que quisesse.

O que precisava era refl etir, ou orar, sobre as difi culdades surgidas re-

centemente entre ela e a família de Tim. Mais especifi camente, Katherine,

a cunhada dele. Tudo aquilo a forçava a reconsiderar o grande passo que

estava prestes a dar.

Quando Charlotte se virou na direção de seu carro, o vento voltou a

atingi-la e ela olhou para trás. Através das árvores e além da tenda, as ja-

nelas do segundo andar da mansão Ludlow, construída de pedras e vidro,

refl etiam a luz dourada da manhã e pareciam observar os acontecimentos

nos jardins.

No momento em que o vento provocou o movimento na paisagem,

uma sombra passou pela janela, e a casa pareceu piscar para Charlotte.

Venha e veja...

– Olá – cumprimentou uma mulher de fi gura imponente. – Não está

indo embora tão cedo, está? – perguntou, aproximando-se com uma caixa

nas mãos.

Charlotte a reconheceu de pronto. Não pelo nome ou pelo rosto, mas

pela aura. Uma das clássicas mulheres sulistas que viviam em Birmingham,

de pele aveludada, calça com vinco, blusa de algodão, sempre usando um

discreto colar de pérolas. Ela parou diante de Charlotte, ofegante.

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– Você ainda nem foi à tenda do leilão. Vi quando estacionou, querida.

Ora, vamos, temos lindas peças este ano. É sua primeira vez aqui? – En-

fi ou a mão na caixa e retirou um catálogo. – Tive de correr até meu carro

para pegar mais. O movimento está enorme este ano. Bem, pode notar

pelo número de carros estacionados. Lembre-se de que toda a renda vai

para a Fundação Ludlow. Distribuímos milhões em concessões e bolsas

de estudo na cidade.

– Admiro a fundação há muito tempo – Charlotte replicou, folheando

o catálogo.

– Sou Cleo Favorite, presidente da Fundação Ludlow. – Estendeu a

mão. – Você é Charlotte Malone.

Charlotte observou Cleo por um momento, apertando sua mão de-

vagar.

– Devo me impressionar pelo fato de você me conhecer, ou seria me-

lhor sair correndo e gritando na direção do meu carro?

Cleo sorriu, exibindo dentes que combinavam com as pérolas.

– Minha sobrinha se casou no ano passado.

– Entendo. Ela comprou o vestido na minha loja?

– Sim, e, por algum tempo, achei que ela estava mais entusiasmada

em trabalhar com você na escolha do vestido do que em se casar com o

noivo. Você tem uma loja e tanto.

– Tive muita sorte. – Mais que qualquer menina órfã e pobre poderia

sonhar. – Quem é sua sobrinha?

– Elizabeth Gunter. Ela se casou com Dylan Huntington.

Cleo começou a caminhar na direção da tenda. Charlotte a acompa-

nhou para não parecer rude.

– É claro que me lembro de Elizabeth. Foi uma noiva linda.

– E queria que o mundo inteiro soubesse disso – Cleo acrescentou

com uma risada. – Ela quase levou meu irmão à falência, mas só se casa

uma vez, certo?

– Pelo que sei, a ideia é essa.

Com o polegar, Charlotte tocou seu anel de noivado, a razão de sua

ida até ali, e parou pouco antes da entrada da tenda.

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– Está procurando por algo específi co, Charlotte? Algo para sua loja?

– Cleo depositou a caixa de catálogos sobre uma mesa e seguiu pelo cor-

redor principal, como se esperasse que Charlotte a seguisse. – Temos belos

guarda-roupas. O catálogo informa o número do lote, o local e horário dos

lances. O leiloeiro vai até cada peça. Achamos que assim seria mais fácil...

Ora, o que importa? É um grande leilão e funciona muito bem. Diga-me

o que está procurando.

Cleo inclinou a cabeça para o lado e cruzou as mãos à altura da cintura.

Charlotte entrou na tenda.

– Na verdade, Cleo – vim até aqui para pensar –, minha loja de noivas

é estritamente contemporânea. Por outro lado, é sempre interessante dar

uma olhada.

Ela poderia refl etir e orar enquanto caminhava pelos corredores, certo?

– Sim, claro. E pode até encontrar algo que a agrade, enquanto... estiver

olhando – Cleo comentou com uma piscadela. – Funciona melhor se você

se permite gastar um pouco do seu dinheiro suado.

– Tentarei me lembrar disso.

Cleo se afastou, e Charlotte escolheu um corredor lateral para percor-

rer, examinando as peças como se as respostas que procurava pudessem

estar escondidas entre as antiguidades.

Talvez ouvisse: “Ele é o homem certo”, ao passar por um armário ou

guarda-roupa do século XX.

Mas, provavelmente, não. Suas respostas não costumavam aparecer

simplesmente, vindas do reino dos céus. Nem surgir diante dela de re-

pente. Charlotte tinha de se esforçar para obter as respostas em sua vida.

Arregaçava as mangas, avaliava a situação, calculava os custos e tomava

sua decisão. Jamais teria aberto sua loja, Malone & Co., se não tivesse

agido assim.

Parou diante de uma mesinha para vestíbulo e deslizou os dedos pela

madeira escura. Gert uma tinha igual no vestíbulo de sua casa. O que te-

ria acontecido com o móvel? Charlotte se curvou para verifi car se o lado

debaixo fora marcado com pincel atômico vermelho.

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Não fora. Charlotte seguiu adiante. Aquela não era a mesa de Gert. Ah,

ela havia fi cado tão furiosa quando descobrira as travessuras de Charlotte

com o pincel atômico.

No fi nal do corredor, parou com um suspiro. Deveria voltar para a

cidade. Afi nal, tinha hora marcada no cabeleireiro um pouco mais tarde.

No entanto, seguiu pelo corredor ao lado, deixando os pensamentos

se concentrarem em Tim e no confl ito em seu coração.

Quatro meses antes, ela estivera perfeitamente acomodada em sua

vida constante, previsível e confortável. Então, o empreiteiro que reformara

sua loja a persuadira a aceitar um convite para o jantar de fi m de ano em

sua casa. E a fi zera sentar-se ao lado de Tim Rose, o que havia mudado a

vida de Charlotte.

Uma escrivaninha velha e opaca chamou sua atenção. Charlotte parou

diante dela e deslizou a mão pela superfície. Se a madeira pudesse falar,

que histórias contaria?

De um marido calculando as fi nanças da família? Ou de uma criança

resolvendo um problema de matemática? De uma esposa escrevendo uma

carta para seus pais?

Quantos homens e mulheres haviam se sentado diante daquela escri-

vaninha? Um ou centenas? Quais eram seus sonhos e esperanças?

Uma peça de mobília sobrevivendo ao tempo. Era isso o que ela queria?

Sobreviver, ser parte de algo importante?

Queria sentir que fazia parte da família Rose. Katherine, certamente,

não fazia Charlotte sentir-se parte da coleção gregária de irmãos, tias, tios,

primos e amigos de uma vida inteira.

Quando Tim contou a Charlotte, na primeira vez em que saíram juntos,

que tinha quatro irmãos, ela sequer fazia ideia de como era viver assim.

Parecia excitante. Ela o enchera de perguntas. Charlotte só tivera sua mãe.

E a velha Gert quando sua mãe morrera.

Nunca tivera um irmão ou irmã, quanto menos quatro. E, um menino?

Teria sido por esse motivo que aceitara o pedido de casamento de Tim

Rose depois de quatro meses de namoro? No momento, não tinha certeza

de que seu motivo era amor. Nem sabia ao certo se era o desejo de fazer

parte de uma família grande.

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Charlotte olhou para o anel de noivado de platina e um diamante de

um quilate, que pertencera à avó de Tim.

Mas o anel não tinha respostas. Ela não tinha respostas.

– Charlotte Malone? – Uma mulher roliça, de aparência simpática,

aproximou-se pelo outro lado de uma mesa de jantar. – Li sobre você na

revista Southern Weddings. É igualzinha à foto que publicaram.

– Espero que isso seja bom – Charlotte replicou com um sorriso.

– Ah, é, sim. Sua loja parece ser mágica. Fez com que eu desejasse

estar me casando outra vez.

– Tivemos muita sorte por publicarem aquela matéria.

O telefonema da editora no outono anterior fora mais uma onda em

uma maré de sorte na vida de Charlotte.

– Sou casada há 32 anos e leio Southern Weddings tão religiosamente

quanto a Bíblia. Adoro casamentos. E você?

– Adoro vestidos de noiva, com certeza – disse Charlotte.

– Imagino.

O riso da mulher ainda ecoava no ar quando ela se despediu e seguiu

adiante, tocando de leve o braço de Charlotte ao passar por ela.

Charlotte realmente amava vestidos de noiva. Desde garotinha, o bri-

lho dos vestidos brancos a deixava atordoada. Adorava a maneira como

o semblante de uma noiva mudava quando ela experimentava o vestido

perfeito, como suas esperanças e seus sonhos se refl etiam em seu olhar.

Na verdade, estava prestes a sofrer a mesma transformação: a prova

do vestido perfeito, o brilho das esperanças e sonhos em seu olhar.

Mas, então, qual era o problema? Por que a hesitação? Havia conside-

rado quinze vestidos, mas não provara nenhum. O dia 23 de junho estava

chegando.

Em fevereiro do ano anterior, Charlotte mal conseguia se sustentar,

investindo todo o seu capital em estoque e fazendo apenas os reparos in-

dispensáveis para manter de pé sua loja, que funcionava em uma casinha

construída em 1920, em Mountain Brook.

Fora então que ocorrera o depósito de um cheque anônimo no valor

de cem mil dólares em sua conta bancária. Depois de algumas semanas

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de pânico e euforia na tentativa de descobrir quem poderia ter lhe dado

tanto dinheiro, Charlotte resgatara seu presente e, fi nalmente, reformara

sua loja. E tudo havia mudado.

Tawny Boswell, Miss Alabama, tornou-se sua cliente e Charlotte fi cou

famosa. A editora da Southern Weddings telefonou. E, para fechar o ano

com chave de ouro, Charlotte foi ao jantar de fi m de ano e se sentou ao

lado de um homem atraente, que encantou a todos os convidados. Quan-

do Charlotte tomou a última colherada da sopa de ostras servida como

entrada, Tim Rose já havia conquistado seu coração também.

O toque suave do destino provocou um arrepio em sua alma quando

ela sentiu a brisa que soprava na montanha acariciar suas pernas. Estaria

sentindo cheiro de chuva? Inclinando a cabeça para enxergar além da

borda da tenda, Charlotte não viu nada além do sol glorioso iluminando

o céu azul cristalino. Não havia uma nuvem sequer à vista.

Passou para o corredor seguinte e seu telefone vibrou no bolso da

calça jeans. Dixie.

– Ei, Dix, tudo em ordem na loja?

– Sossegado, mas Tawny ligou. Quer encontrar você amanhã, às três.

Domingo?

– Está tudo certo? Ela pareceu bem ao telefone? Como se ainda esti-

vesse satisfeita conosco?

Charlotte passara meses tentando encontrar o vestido de noiva per-

feito para Miss Alabama, passando noites inteiras acordada na cama,

murmurando orações ao Deus do amor, pedindo que a ajudasse a realizar

os sonhos de Tawny.

Então, descobrira uma pequena e nova grife de Paris e concluíra que

havia descoberto uma mina de ouro em forma de seda branca.

– Ligue de volta para ela e confi rme o encontro para amanhã. Temos

queijo e torradas sufi cientes? Café, chá, água e refrigerantes?

– Estamos bem abastecidas. Tawny parecia entusiasmada, e não acho

que vá dizer que pretende mudar de loja.

– Há quanto tempo trabalhamos juntas no ramo de vestidos de noiva,

Dix?

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– Cinco anos, desde que você abriu a loja. – Dix, sempre calma e

pragmática.

– E quantas vezes perdemos uma cliente no último instante? – Mesmo

depois de incontáveis horas de pesquisa junto a grifes para encontrar o

vestido perfeito.

– Não sabíamos o que estávamos fazendo naquela época. Somos es-

pecialistas agora – Dixie afi rmou.

– Você sabe muito bem que não tem nada a ver conosco. Escute, vou

ligar para Tawny e dizer a ela que teremos prazer em recebê-la amanhã.

– Já fi z isso. Não achei que você pensaria em recusar o pedido dela. – A

voz de Dixie sempre carregava o peso da confi ança. Ela era um presente

dos céus. Uma viga de sustentação para o sonho de Charlotte. – Onde

você está, afi nal, Char?

– Em Red Mountain, na propriedade Ludlow. Vim até aqui para pensar,

mas me deparei com a multidão do leilão anual. Estou passeando entre as

antiguidades enquanto conversamos.

– Está se referindo às coisas ou às pessoas?

Charlotte sorriu, observando as cabeças grisalhas que pontilhavam

os corredores.

– Um pouco dos dois – respondeu.

Parou diante de uma vitrine fechada, repleta de joias. Peças exclusivas

eram complementos perfeitos para suas noivas. Charlotte mantinha um

estoque de colares, brincos, pulseiras e tiaras, todos exclusivos. Eram as

pequenas coisas que a ajudavam a manter seu sucesso.

– Falando em casamentos – Dixie murmurou em voz baixa e lenta.

– Era disso que falávamos?

– Não é do que falamos sempre? Os convites do seu casamento con-

tinuam sobre a mesa da sala de estoque, Charlotte. Quer que eu os leve

para casa esta noite?

Dix e o marido, Jared, que ela chamava de Dr. Gostosão, moravam em

Homewood, no apartamento vizinho ao de Charlotte.

– Espere... jura? Ainda estão na sala de estoque? Pensei que já os tinha

levado para casa.

– Se levou, eles voltaram andando.

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– Ha, ha, como você é engraçadinha, Dixie. Sim, claro, leve-os para

casa. Posso começar a cuidar deles amanhã, quando voltar da igreja. Preciso

perguntar à Sra. Rose se ela já fez a lista de convidados do lado de Tim...

– Vai encontrar Tawny às três.

– Certo, bem, depois do encontro com ela. Ou, talvez, eu cuide deles

na segunda-feira à noite. Acho que não tenho nada marcado para segunda

à noite.

– Charlotte, posso fazer uma pergunta?

– Não...

– Vai se casar dentro de dois meses e...

– Tenho estado muito ocupada, Dixie, só isso. – Charlotte sabia onde

a amiga pretendia chegar. Estivera fazendo as mesmas perguntas a si mes-

ma havia semanas, e a necessidade de encontrar respostas a levara até a

montanha naquela manhã de sábado. – Ainda há tempo.

– Mas seu tempo está se esgotando.

Ela sabia. Ela sabia.

– Deveríamos ter marcado o casamento no outono. Noivado rápido,

casamento rápido... está me deixando atordoada.

– Tim é um homem incrível, Charlotte.

Ela sabia. Ela sabia. Mas era incrível para ela?

– Escute, preciso ir. Preciso descer a montanha dentro de poucos

minutos para ir ao cabeleireiro. Ligo para você mais tarde.

– Divirta-se esta noite, Charlote. Não deixe Katherine aborrecê-la.

Diga a ela que te deixe em paz. Esteja lá, simplesmente, junto de Tim.

Lembre-se de porquê você se apaixonou.

– Vou tentar.

Charlotte desligou, enquanto o conselho de Dixie ecoava em sua mente.

“Lembre-se de porquê você se apaixonou.”

Fora tudo muito romântico, de fazer disparar o coração. Charlotte

não estava certa de que seria capaz de identifi car uma razão real e sólida

em meio ao turbilhão. Quando percorria o corredor para deixar a tenda,

descobriu-se sendo praticamente arrastada para um lado, por uma pequena

multidão que se formava.

Sorriu para o homem ao seu lado e tentou desviar dele.

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– Com licença – murmurou.

Ele não se moveu, permanecendo plantado no lugar, olhando fi xa-

mente para a peça a ser leiloada.

– Desculpe, mas se me der licença, sairei do seu caminho. Vai fazer um

lance por aquele... – Charlotte olhou por cima do ombro. – Baú? – Aquele

baú horroroso?

– Aproximem-se todos – anunciou o leiloeiro, subindo no pequeno

patamar posicionado ao lado do baú.

O grupo de quinze ou vinte pessoas se adiantou, levando Charlotte

consigo. Ela tropeçou e perdeu um sapato.

– Logo daremos início aos lances – acrescentou o leiloeiro.

Tentando sem sucesso localizar o sapato perdido, Charlotte acabou

por decidir esperar para procurar melhor. Os interessados naquela peça

pareciam muito determinados. Quanto tempo poderia demorar o leilão?

Dez minutos? Talvez fosse divertido acompanhar o processo de perto.

Vinte dólares. O baú não parecia valer mais do que isso. Charlotte

olhou em volta para ver quem, em sua opinião, estaria disposto a desem-

bolsar dinheiro por uma caixa de madeira feia, velha e coberta de marcas,

com alças desgastadas de couro ressecado.

O leiloeiro era um homem sem qualquer traço distinto. Estatura e

peso medianos. Cabelos que, um dia, poderiam ter sido castanhos, mas

agora eram... grisalhos? Cor de cinzas?

No entanto, vestia uma camisa púrpura brilhante, enfi ada dentro da

calça cinza chumbo presa por suspensórios de couro. Subiu no patamar

com seus tênis Nike muito brancos e limpos.

Charlotte sorriu. Gostou dele, embora quando ele a encarasse, o fogo

azul em seus olhos fi zesse o espírito dela se agitar. Ela deu um passo para

trás, mas permaneceu ilhada por todos os lados.

– Este é o lote número zero – ele informou com uma voz profunda

que envolveu Charlotte.

Lote número zero? Ela folheou o catálogo. Não havia lote número zero.

Consultou a lista alfabética na última página, mas não encontrou nenhum

baú, arca ou bagagem.

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– Esta peça foi resgatada de uma casa poucos minutos antes de sua

demolição. Foi feito em 1912. – Ele se inclinou para o grupo. – Foi feito

para uma noiva.

Seu olhar se fi xou em Charlotte, que teve um sobressalto. Por que ele

a estava encarando? Tratou de esconder a mão com o anel de noivado

atrás das costas.

– Tem cem anos de idade. Um século. A madeira e o couro são ori-

ginais, e a peça inteira se encontra em boa condição, apesar de um tanto

ressecada.

– O que aconteceu com o fecho? – O homem à esquerda de Charlotte

apontou com o catálogo para o latão retorcido que mantinha a tampa

fechada.

– Bem, essa é uma história à parte. O fecho foi soldado. – O leiloeiro

voltou a se inclinar para a audiência. Mais uma vez, seus olhos azuis pe-

netrantes pararam em Charlotte. Ele arqueou as sobrancelhas num gesto

teatral. – Por uma garota de coração partido.

As mulheres do grupo murmuraram “Oh” e se puseram na ponta dos

pés para ver melhor o baú, enquanto Charlotte recuava mais um passo. Por

que ele dirigia sua atenção a ela? Pressionou a mão contra o calor intenso

que se acendeu em seu peito.

– Mas para quem se dispuser a abri-lo, há um grande tesouro dentro

do baú.

Estudou a audiência, que parecia aumentar, e piscou. Muitos riram, e o

leiloeiro se mostrou satisfeito por ter conseguido atrair a atenção de todos.

Muito bem, Charlotte fi nalmente compreendeu. Não havia, de fato,

nenhum grande tesouro dentro do baú. Ele só queria que as pessoas acre-

ditassem que poderia haver. Era um vendedor e tanto. Parabéns!

– Iniciaremos os lances em 5 – ele decretou.

Várias pessoas se afastaram, aliviando a pressão que Charlotte sentia,

como se estivesse presa ali. O ar fresco se movimentando em torno de

suas pernas era agradável.

– Alguém dá 5? – perguntou novamente.

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Charlotte estudou os semblantes dos interessados. Ora, vamos, alguém

tem de oferecer cinco dólares. Agora que o baú tinha um preço e havia

sido alvo do riso alheio, sua simpatia despertara. E ouvir um pouco de

sua história alterava sua aparência insignifi cante.

Todas as pessoas, todas as coisas, precisam de amor.

Mais cinco segundos se passaram. Por favor, alguém, faça um lance.

– Dou 5 – Charlotte anunciou, erguendo seu catálogo.

Doaria o baú para a igreja. Estavam sempre precisando de peças onde

pudessem guardar brinquedos para as crianças da creche, ou onde levar

os itens necessários às viagens missionárias.

– Tenho 500 dólares. – O leiloeiro ergueu a mão, agitando os dedos.

– Alguém dá 550?

– Espere... 550? – ela repetiu, chocada. – Não, não, ofereci 5 dólares.

– Mas o lance inicial era 500, cinco notas de 100 – ele esclareceu. –

Deve sempre considerar o custo, moça. Agora, sabe o preço. Quem dá 550?

Por favor, alguém, ofereça 550. Como podia ter sido tão estúpida? A

cena do velhinho inocente a enganara direitinho.

O homem ao lado de Charlotte ergueu o catálogo.

– Dou 550.

Charlotte suspirou, pressionando a mão contra o peito. Obrigada, caro

senhor. Voltou a folhear o catálogo à procura de uma descrição, alguma

informação, qualquer coisa sobre o baú, mas, defi nitivamente, ele não

constava da lista.

– Tenho 550, alguém dá 600?

Os olhos azuis do leiloeiro brilhavam animados, suas faces estavam

coradas. O ar da montanha debaixo da tenda era quente para abril.

A mulher mais próxima de Charlotte ergueu a mão.

– Dou 600.

Três pessoas se afastaram. Charlotte estreitou os olhos e examinou o

baú, pensando que deveria aproveitar a oportunidade e se retirar também.

Sua experiência no processo do leilão até aquele momento já era mais que

sufi ciente.

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Além disso, queria almoçar antes de ir para o cabeleireiro. Quando

saísse do salão, teria tempo apenas de voltar para casa e se trocar, antes

que Tim fosse buscá-la às seis.

– Tenho 600, alguém dá 650? – A cabeça do leiloeiro balançava a cada

sílaba.

– Dou 650. – O homem à esquerda de Charlotte. – Poderei desmontá-

-lo e usar as partes em uma caldeira que estou restaurando.

– Dou 700 – disse Charlotte, as palavras explodindo em seus lábios.

Limpou a garganta e encarou o leiloeiro. Desmontá-lo? Nunca. Algo den-

tro dela se rebelou diante da ideia de destruir o baú. – Este baú merece

cuidados e atenção.

– Sem dúvida, minha jovem. Eu mesmo o resgatei. E o que eu resgato

nunca é destruído. – Os olhos do leiloeiro brilhavam a cada palavra, pro-

vocando arrepios em Charlotte. – Alguém dá 750?

A mulher ao lado dela ergueu a mão.

– Dou 8. – Charlotte disparou, sem nem sequer esperar que o lance

fosse aumentado. – Dou 800.

Corra! Vá embora! Charlotte tentou se virar, mas suas pernas se recu-

saram a obedecer, e seus pés continuaram plantados no gramado Ludlow.

Um sopro de brisa refrescou o suor em sua testa.

Ela não queria o baú. Não precisava dele. Seu apartamento era con-

temporâneo, pequeno e, até agora, bem organizado. Exatamente como

ela gostava.

Malone & Co. era uma loja requintada, elegante e sofi sticadamente

contemporânea. Onde ela colocaria um baú velho? E havia, ainda, o fato

de ela ter gasto todo o seu dinheiro na reforma. Até o último centavo. E

sua conta bancária pessoal tinha apenas o sufi ciente para arcar com as

despesas de uma pequena cerimônia de casamento. Oitocentos dólares

por um baú não fazia parte do orçamento. Se tivesse de gastar todo aquele

dinheiro, compraria um par de sapatos Christian Louboutin.

– Ele te chama, não é mesmo? – indagou o homem de camisa púrpura,

inclinando-se na direção de Charlotte e erguendo as sobrancelhas espessas.

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– Infelizmente, sim – ela respondeu, pensando que Tim teria um ataque

se ela levasse aquela coisa para casa.

Charlotte voltou a estudar o baú. Quem seria o homem ou a mulher

que o possuíra no passado? E quanto à noiva de 1912 que o leiloeiro men-

cionara? Ela não desejaria que seu baú velho e desgastado tivesse um lar?

– Dou 850 – ofereceu outro homem.

– Mil dólares – Charlotte falou e, imediatamente, cobriu os lábios

com a mão.

Porém, era tarde demais. O lance estava feito.

Ah, teria de se explicar com Tim.

– Vendido – o leiloeiro declarou, espalmando as mãos uma contra a

outra e retirando um papel do bolso. – O baú pertence à senhorita.

Charlotte leu o papel impresso. “Redimido. $1.000”. Virou-se para o

leiloeiro.

– Espere, senhor, desculpe, mas como sabia...

Ele se fora. Juntamente com o restante do grupo e o burburinho de

vozes. Charlotte encontrava-se completamente sozinha, exceto pelo baú

velho e uma leve agitação no ar fresco.

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