Objetivos gerais do currículo de enfermagem: Ponto de...

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Objetivos gerais do currículo de enfermagem: Ponto de vista do estudante DRA. GLETE DE ALCANTARA 1 SRA. NADYR VIANA LOMONACO 2 INTRODUCAO No Brasil, como em outros países, a importancia da participaaáo do estudante no estudo dos problemas relacionados com a educaaáo vem sendo reconhecida cada vez mais. Nos termos da Lei No. 5540, de 1968, peça básica da Reforma Universitária, a representaaáo estudantil nos órgáos colegiados das universidades e dos estabelecimentos isolados de ensino superior terá por objetivo a cooperaaáo entre administradores, professores e alunos, no trabalho universitário. Quanto aos outros países, inúmeros trabalhos e pesquisas sobre a opiniáo do estudante, publicados recentemente, revelam o interese crescente de diretores e professores em conhecer o ponto de vista do corpo discente sobre questóes relativas ao currículo. Ch. S. Davidson (1), da Universidade Harvard, considerando que os jovens de hoje ingressam nas faculdades de medicina com melhor prepa- raaáo, mais conscientes das condiçoes sociais que os rodeiam e da in- fluéncia destas sobre a prática médica, propós uma participaaáo maior dos estudantes no planejamento de currículos e na formulaaáo da polí- tica das escolas. C. Slater (2) apontou dois motivos pelos quais considera valiosa a participaaáo do aluno nas decisóes sobre o currículo. Primeiramente, por ser nela que se desenvolve o processo educativo, tal situaaáo lhe 1 Diretora da Escola de Enfermagem de Ribeirao Préto, Universidade de S5o Paulo. 2 Secretária da Escola. 30

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Objetivos gerais do currículo deenfermagem: Ponto de vistado estudante

DRA. GLETE DE ALCANTARA 1

SRA. NADYR VIANA LOMONACO 2

INTRODUCAO

No Brasil, como em outros países, a importancia da participaaáo doestudante no estudo dos problemas relacionados com a educaaáo vemsendo reconhecida cada vez mais. Nos termos da Lei No. 5540, de 1968,peça básica da Reforma Universitária, a representaaáo estudantil nosórgáos colegiados das universidades e dos estabelecimentos isolados deensino superior terá por objetivo a cooperaaáo entre administradores,professores e alunos, no trabalho universitário.

Quanto aos outros países, inúmeros trabalhos e pesquisas sobre aopiniáo do estudante, publicados recentemente, revelam o interesecrescente de diretores e professores em conhecer o ponto de vista docorpo discente sobre questóes relativas ao currículo.

Ch. S. Davidson (1), da Universidade Harvard, considerando que osjovens de hoje ingressam nas faculdades de medicina com melhor prepa-raaáo, mais conscientes das condiçoes sociais que os rodeiam e da in-fluéncia destas sobre a prática médica, propós uma participaaáo maiordos estudantes no planejamento de currículos e na formulaaáo da polí-tica das escolas.

C. Slater (2) apontou dois motivos pelos quais considera valiosa aparticipaaáo do aluno nas decisóes sobre o currículo. Primeiramente,por ser nela que se desenvolve o processo educativo, tal situaaáo lhe

1 Diretora da Escola de Enfermagem de Ribeirao Préto, Universidade de S5o Paulo.2 Secretária da Escola.

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permite perceber nao só o currículo como um todo, como tambéinsuas áreas de atrito. Em segundo lugar, as experiencias adquiridas nosserviços desenvolvem no aluno a consciencia dos problemas que recla-mam soluçao.

Conquanto os autores citados tenham-se referido aos estudantes demedicina, suas considerao5es podem ser estendidas aos que estudam en-fermagem. E foram essas consideraçoes que motivaram a realizaaáo deuma pesquisa de opiniáo dos estudantes sobre aspectos de currículo deenfermagem.

PROBLEMA E PROPÓSITO

Interessava-nos averiguar se haviam sido melhorados determinadosaspectos. do currículo do Curso de Graduaaáo, apontados como defi-cientes pelo Relatório do Levantamento de Recursos e Necessidadesde Enfermagem: énfase na parte técnica da enfermagem, ensino focali-zado mais na doença do que na saúde, mais nas ciencias biológicas doque nas ciencias humanas. Esses aspectos revelavam traços marcada-mente tradicionais do currículo de enfermagem.

Desde a divulgaaáo dos resultados daquele estudo, há quase quinzeanos, tem havido muita preocupaçao em renovar o ensino de enferma-gem, segundo modernas teorias educacionais. Nesse sentido, podemoscitar o Quinto Relatório da Comissáo de Peritos em Enfermagem daOrganizaçao Mundial da Saúde (3) que ressaltou a necessidade de sedesenvolver no aluno de escola de enfermagem a capacidade de com-preender o comportamento humano, de se comunicar, de fazer julga-mentos corretos e tomar decisoes, com espírito inquiridor e de crítica,imaginaçao e capacidade criadora, e interesse em crescer profissional-mente. Ademais, considerou que muitos dos objetivos do ensino deenfermagem, tais como atender integralmente as necessidades de saúdedo paciente, tratá-lo como pessoa humana, e nao simplesmente comouma entidade patológica, contribuir para a promoaáo da saúde e pre-venaáo das doenças do paciente e sua família, ensinar os principiosbásicos da saúde a membros da comunidade, exigem que a enfermeirapossua amplos conhecimentos das ciencias humanas.

O propósito deste estudo foi verificar até que ponto a percepçao dosestudantes, relativa ao valor dos objetivos gerais do ensino de Funda-mentos de Enfermagem e de Enfermagem Médico-Cirúrgica, poderiaoferecer resposta á seguinte questao.

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Estaria o atual currículo do Curso de Graduaaáo desenvolvendo emseus estudantes: a) interesse pelos aspectos preventivos e sociais da en-fermagem? b) habilidades e atitudes consideradas indispensáveis paraa formacao profissional?

MÉTODO

A trabalho foi iniciado no fim do primeiro semestre de 1970. Oinstrumento para o coleta da dados foi uin questionário contendo 45objetivos gerais do ensino de fundamentos de enfermagem e de en-fermagem médico-cirúrgica. Os objetivos foram escolhidos levando-seem conta a importancia que representam para a reformulacao do cur-rículo e dos programas de ensino, uma vez que constituem os critériospara a determinacao do conteúdo das disciplinas, das técnicas e recursosdidáticos e para a preparacao de provas de avaliacao da aprendizagem.

Tendo em vista o propósito deste trabalho, dois tercos dos 45 obje-tivos selecionados referiam-se aos aspectos preventivos e sociais daenfermagem e ás habilidades e atitudes. Devendo ser alcançados portodas as disciplinas profissionais, foram estes considerados objetivosgerais do currículo. O terSo restante da lista de objetivos relacionava-secom os aspectos técnicos da enfermagem.

Na elaboracao do questionário, os objetivos foram distribuidos em3 grupos de 15; correspondendo a tres categorias: 1) conhecimentos;2) habilidades, e 3) atitudes. Como o processo de aprendizagem repre-senta as modificacoes no comportamento do educando que a escolapretende lograr, os 3 grupos de objetivos correspondem a novas formasde pensar, novas maneiras de agir e novas atitudes.

O questionário inicial, testado em um grupo de sete estudantes deenfermagem, pertencentes a duas escolas, foi modificado á vista dassugestoes apresentadas pelos próprios alunos.

Constou o questionário de duas partes distintas. A parte A, decaráter normativo, referia-se ao valor atribuido aos objetivos e foidividida em trés colunas: "Essencial", "Importante" e "Dispensável".A parte B, relativa is experiencias de aprendizagem proporcionadaspelas escolas para a consecucao de cada umn dos objetivos, foi divididaem 6 colunas, correspondendo cada uma a um tipo de experiencia, afim de expressar a realidade percebida pelos estudantes.

A populacao do estudo foi constituida de 164 estudantes do 3° anodo Curso de Graduaaáo em Enfermagem, de 6 escolas universitárias.

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Antes da coleta de dados, iniciada em fins de junho e terminada emoutubro, explicou-se aos estudantes de cada escola, reunidos em salade aula, que as informaçoes a serem obtidas seriam utilizadas para umtrabalho de investigaaáo, que as respostas náo seriam consideradascertas nem erradas e que o interesse do estudo era conhecer o ponto devista do estudante. Finalmente, foi-lhes dito que se esperava que osresultados do trabalho traduzissem a sua opiniáo. Para fins de análisedos dados, foi pedido que os alunos apenas indicassem o nome daescola na primeira página do questionário, uma vez que este seriaanónimo. Solicitou-se que assinalassem todos os itens da parte A,porém apenas uma vez; quanto á parte B, cada item poderia ser assi-nalado quantas vezes julgassem necessário, podendo mesmo ser deixadoem branco, de acordo com a opiniáo de cada um. Convém mencionarque este trabalho limitou-se ás informacoes obtidas em 6 escolas deenfermagem, dentre as 34 existentes no país. A escassez de tempo dis-ponível impediu que a investigaaáo abrangesse todas as escolas, comoseria desejável.

RESULTADOS

Nao nos foi possível examinar exaustivamente os achados como pre-tendíamos. O reduzido tempo decorrido entre o término da coleta dedados e a apresentacao deste trabalho, náo permitiu análise aprofun-dada dos resultados obtidos.

A tabela 1 mostra que, dos 30 objetivos considerados "Dispensáveis",21 foram assinalados por menos de 1% da populaaáo e os 9 restantespor menos de 5%. Destes últimos, trés objetivos-o No. 1, "filosofia efinalidade da escola de enfermagem"; o n ° 11, "diagnóstico de enfer-magem", e o No. 27, "planejar seu trabalho em situaaáo de stress ouemergéncia"-foram os que apresentaram percentual mais alto nacoluna "dispensável", respectivamente 4,9, 4,3 e 4,9.

Tendo em vista que na elaboraaáo do instrumento, 30 (66,6%) dosobjetivos selecionados referiam-se ás áreas de saúde e ciencias humanas,os resultados apresentados pela tabela 1 poderiam ser interpretados, aprimeira vista, como indicativos de mudanças favoráveis ocorridas nocurrículo, dada a percentagem inexpressiva dos individuos que deramresposta "dispensável". Entretanto, os dados da tabela 2 náo con-firmaram tal interpretacao.

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Tabela 1. Valor atribuido aos objetivos gerais dos programas de fundamentosde enfermagem e enfermagem médico-cirúrgica, por categorias.

Valor atribuido

ObjetivosEssen- Impor- Dispen- Sem

cial tante sável resposta

Conhecimentos

1. Filosofia e finalidade da escola de enfermagem 42,1 53,0 4,92. Papel que a enfermeira desempenha nos servi-

ços de saúde 79,3 20,7 -3. Formagao do profissional de enfermagem 73,8 25,6 - 0,64. Método científico e sua aplicaçgo no campo da

enfermagem 75,6 24,4 -5. Importáncia dos fatores ambientais para a

manutengáo da saúde 65,2 34,8 -6. Recursos existentes na comunidade para pro-

tegáo da saúde, tratamento e reabilitagáodos doentes 57,3 42,1 0,6 -

7. Principais funçóes da equipe de enfermagem 73,8 25,0 1,2 -8. Caracteristicas do homem sao e suas necessi-

dades básicas 54,5 43,3 0,6 0,69. Principais problemas de saúde da comunidade 53,7 45,7 0,6

10. Doenças e suas principais manifestaçóes nohomem 70,7 28,7 0,6 -

11. Diagnóstico de enfermagem 60,4 34,1 4,3 1,212. Cuidados gerais de enfermagem que os doentes

comumente necessitam 84,1 15,9 - -13. Etiologia, sintomas, evolugço, tratamento,

controle e prevengao das doengas maiscomuns em adultos 71,4 28,0 0,6

14. Influencia dos fatores sócio-economicos eculturais na causa da doença, no tratamentoe reabilitaçao do doente 48,2 51,8 -

15. Cuidados específicos de enfermagem aos paci-entes médico-cirúrgicos 80,5 19,0 0,5 -

Habilidades

16. Expressar seu pensamento com sequencialógica, de forma clara e correta 60,4 39,0 0,6 -

17. Observar o paciente e interpretar sinais esintomas observados 82,3 17,7 -

18. Identificar e utilizar principios das ciencias bio-lógicas, sociais e médicas na prática de enfer-magem 61,6 37,2 1,2 -

19. Ouvir com atengao o paciente ou familia no quediz respeito aos seus problemas de saúde 51,8 48,2

20. Utilizar todos os recursos disponiveis paraobter informao6es sobre paciente ou familia 34,1 62,2 3,7 -

21. Elaborar e executar plano de trabalho paraatendimento das necessidades de enfermagemdo paciente ou familia 65,3 34,1 0,6

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Tabela 1 (cont.)

Valor atribuido

ObjetivosEssen- Impor- Dispen- Sem

cial tante sável resposta

22. Aproveitar todas as oportunidades encontradaspara a educaçao do paciente ou familia 41,5 57,3 1,2

23. Estabelecer relaçoes de cooperaçao com paci-entes, familias e membros de equipe de saúde 48,8 49,4 1,8

24. Identificar fatores emocionais que interferemna recuperaçgo do paciente 58,5 40,9 0,6

25. Utilizar os recursos disponíveis para reduzir ainterferencia dos fatores emocionais narecuperaçao do paciente 50,0 49,4 0,6

26. Identificar as alterao5es de estado do pacienteque demandam atendimento rápido 79,3 19,5 1,2

27. Planejar seu trabalho em situaçao de stressou emergencia 62,2 32,9 4,9

28. Utilizar os recursos da comunidade que possamauxiliar o paciente ou familia a solucionarseus problemas de saúde 34,8 64,0 1,2

29. Obter a participaçao do paciente e da familiapara a execuçao de plano de cuidados médi-cos e de enfermagem 47,0 50,0 3,0

30. Avaliar os resultados positivos e negativos deseu plano individualizado de trabalho 48,8 51,2 -

A titudes

31. Consciencia de suas limitaçoes 65,9 33,5 0,632. Honestidade intelectual 71,4 27,4 0,6 0,633. Espirito de crítica 45,8 51,8 2,4 -34. Espirito de iniciativa 75,6 23,2 - 1,235. Julgamento das situaçges baseando-se em dados

objetivos 53,0 45,2 1,8 -36. Atividade criadora 35,4 59,2 3,0 2,437. Reconhecimento do paciente como pessoa

humana, membro de uma família e de umacomunidade 85,0 13,4 - 0,6

38. Satisfagáo em desempenhar atividades deenfermagem junto aos pacientes 68,3 31,1 0,6 -

39. Curiosidade intelectual 38,4 61,6 - -40. Interesse em superar suas deficiencias culturais

e profissionais 60,4 37,8 1,241. Interesse em assumir responsabilidade pela

sua pr6pria aprendizagem 65,2 34,842. Interesse em assumir responsabilidade como

membro da equipe de saúde 65,9 33,5 0,643. Reconhecimento do direito do paciente de

receber explicaçoes sobre seu tratamento 40,9 58,5 0,644. Respeito pelas opini5es diferentes de suas

próprias 39,0 61,0 -45. Espírito de cooperacao 68,9 31,1 -

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Tabela 2. Objetivos, por categorias, que receberam resposta "essencial"acima de 70%.

Objetivos, por categorias %

Conhecimentos

12. Cuidados gerais de enfermagem que os doentes comumente necessitam 84.115. Cuidados específicos de enfermagem aos pacientes médico-cirúrgicos 80,5

2. Papel que a enfermeira desempenha nos serviços de saúde 79.34. Método científico e sua aplicaçáo no campo da enfermagem 75,63. Formaçao do profissional de enfermagem 73,8

13. Etiologia, sintomas, evoluçáo, tratamento, controle e prevenaáo dasdoenças mais comuns em adultos 71,4

10. Doenças e suas principais manifestaoSes no homem 70,4

Habilidades

17. Observar o paciente e interpretar sinais e sintomas observados 82,326. Identificar as alteraçoes do estado do paciente que ,emandam atendimento

rápido 79,3

A titudes

37. Reconhecimento do paciente como pessoa humana, membro de umafamília e de uma comunidade 86,0

32. Honestidade intelectual 71,434. Espírito de iniciativa 75,6

Seis dos sete objetivos da primeira categoria e dois da segunda cate-

goria, que receberam resposta "essencial" acima de 70%, dizem res-peito aos aspectos técnicos da enfermagem. Embora nao houvessedúvida de que todos sáo essenciais, esperava-se que todos os que serelacionam com os aspectos preventivos e sociais da enfermagem fossemigualmente percebidos pelos estudantes corno essenciais á sua formaaáo.

O objetivo No. 4 "método científico e sua aplicaaáo no campo da

enfermagem", assinalado como "essencial" por 75,6% dos estudantes,conduz a duas interpretao5es. A primeira é de que as escolas estaorealmente preocupadas em despertar em seus alunos o interesse pelautilizaaáo do método científico em seus trabalhos. A segunda baseia-seno fato de, atualmente, os estudantes ingressarem no Curso de Gradua-

aáo mais bem preparados, e portanto mais conscientes de importanciado método científico.

Quanto á terceira categoria, apenas tres objetivos tiveram respostas

acima de 70%. 0 No. 37, "reconhecimento do paciente como pessoa

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humana, membro de uma família e de uma comunidade", foi o maisvalorizado (86,0%). É significativo observar que este, tal como foiexpresso, figura desde muitos anos em trabalhos apresentados em con-gressos de enfermagem e nos objetivos de programas de ensino de en-fermagem.

Constituiu una surpresa a alta percentagem atribuída a "honestidadeintelectual", porquanto, ao preencher o questionário, dois alunos, deduas escolas, perguntaram qual era sua significaçao, o que lhes foiexplicado.

Das trés categorias de objetivos, a correspondente aos conhecimentosrecebeu maior percentual de respostas na coluna "essencial" por maisde dois terços dos estudantes, revelando a importancia que estesatribuem as informaçoes adquiridas (tabela 3).

Quanto as categorias habilidades e atitudes, náo houve distanciamuito grande entre os percentuais das colunas "essencial" e "impor-tante", indicando ausencia de consenso do grupo sobre o valor destasno currículo do Curso de Graduaaáo em Enfermagem.

A percepçao da importancia das aulas teóricas, como a experienciade aprendizagem que mais contribui para a aquisiaáo de conheci-mentos, por parte dos estudantes, náo surpreendeu a nihguém, pois, atéhá bem pouco tempo, o método expositivo era predominante em todosos níveis de ensino. Todavia, foi surpreendente que 76,9% dos estu-dantes tenham assinalado que as aulas teóricas foram utilizadas para odesenvolvimento de habilidades, com percentagem praticamente idén-tica á atribuída aos estágios em hospitais e serviços de saúde pública(tabela 4).

Quanto á área das atitudes, as "aulas teóricas" ocupam o segundolugar, depois dos "estágios", quando, na realidade, náo é em salas deaula que sao desenvolvidas. Duas estudantes, de escolas diferentes,comentaram, na última página do questionário, que haviam assinaladoa coluna "aulas teóricas" porque a importancia das atitudes havia sido

Tabela 3. Valor atribuido aos objetivos, distribuidos pelas tres categorias.

Categorias Essencial Importante Dispensável Sem resposta

Conhecimentos 66,1 32,8 0,9 0,2Habilidades 55,1 43,5 1,4Atitudes 58,6 40,2 0,8 0,4

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Tabela 4. Percepçao dos estudantes das experiencias de aprendizagenlproporcionadas pelas escolas para a consecuçao dos objetivos

Experiencias de aprendizagem

Categorias dos Simpósios Estágios Avaliaçao Orien-objetivos Aulas e grupos Entrevista em hosp.- contímua taçáo aos

teóricas de dis- individual e serv. de trabalhoscussao saúde atividades discentes

pública discentes

Conhecimentos 88,5 65,5 33,3 65,5 44,0 46,7Habilidades 76,9 43,3 41,1 77,9 42,5 45,8Atitudes 53,7 33,7 35,7 61,7 38,3 35,6

abordada teoricamente. Uma aluna, pertencente a outra escola, pro-curou justificar-se dizendo que o valor de algumas das atitudes rela-cionadas havia sido ressaltado somente em teoria.

O desenvolvimento nos estudantes de atitudes imprescindíveis aodesempenho de seus futuros papéis sociais nao tem merecido a devidaatenaáo das escolas. Pesquisas e trabalhos publicados ultimamente emrevistas de educaaáo tém ressaltado essa lacuna dos currículos.

Segundo Bridge (4), os professores geralmente preocupam-se maiscom os conhecimentos e a destreza dos estudantes do que com o desen-volvimento de suas atitudes, talvez pelo fato de nao ser possível ensinarestas últimas de forma direta e sistematizada.

Cada vez se reconhece mais a importancia de levar o estudante aassumir responsabilidade por sua própria aprendizagem, a buscarsoluaáo para as situaaáo-problemas que lhe sáo apresentadas, ao invésde exigir dele memorizaaáo de uma massa de informaçoes facilmenteesquecidas após os exames.

E através da assisténcia contínua prestada aos alunos, seja orien-tando seus trabalhos, seja avaliando as suas atividades, que os pro-fessores poderao influir sobre o desenvolvimento das atitudes. Poroutro lado, é igualmente importante lembrar que o desenvolvimentode atitudes se processa muitas vezes mais em torno do que o professoré (seu exemplo) do que de suas palavras.

CONCLUSÓES

Nao sáo definitivas as conclus6es do presente trabalho, porquantoo instrumento mostrou-se inadequado para a coleta de dados referentes

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as experiencias de aprendizagem. Mesmo assim, seus resultados apresen-taram um aspecto positivo, ou seja, estimular trabalhos de investigaáaona área dos objetivos.

Embora nao sejam definitivas, as conclusoes deste estudo foram asseguintes:

1. A percepcao dos estudantes, relativamente ao valor dos objetivosgerais, revelou que o atual currículo ainda se encontra mais voltadopara a parte técnica da enfermagem do que para seus aspectos preven-tivos e sociais.

2. A opiniáo dos estudantes sobre habilidades e atitudes consideradasindispensáveis para a formaaáo profissional mostrou que esse aspectodo currículo nao tem recebido a devida atencáo das escolas de enferma-gem.

RESUMO

A importancia cada vez mais reconhecida da participacao do alunono planejamento curricular das escolas superiores foi a motivacao deuma pesquisa em que 164 estudantes do 30 ano de seis escolas de en-fermagem brasileiras manifestaram sua opiniao sobre os objetivos geraisdo ensino. A pesquisa se fez com uso de um questionário em duaspartes, a primeira das guair dividida em trés categorias: conhecimentos(novas formas de pensar), habilidades (novas maneiras de agir) e atitudes(novas concepçoes). Cada categoria abrangeu 15 objetivos, classificadospelos respondentes como "essenciais", "importantes" e "dispensáveis".A segunda parte destinou-se a apurar a percepaáo, por parte dos estu-dantes, de seis diferentes modalidades de experiencias de aprendizagem,em relaaáo as trés mencionadas categorias de objetivos.

O presente trabalho, que náo constitui uma análise exaustiva domaterial, indica que os principais objetivos considerados "essenciais"(com tabulaçoes superiores a 70%) foram os referentes, na categoria deconhecimentos, a cuidados gerais e específicos de enfermagem aos pa-cientes, papel da enfermeira, método científico e sua aplicacáo nocampo da enfermagem, formaaáo profissional, doenças e suas manifesta-coes, e etiologia, sintomas, evoluaáo, tratamento, controle e prevenáaode doenças; na categoria de habilidades, observacao e interpretaáaode sinais e sintomas, e identificaaáo de alteraçoes do estado do pacienteque demandam atendimento rápido; e, na categoria de atitudes, re-

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conhecimento do paciente como ser humano, honestidade intelectual eespirito de iniciativa.

No que diz respeito á percepaáo das experiencias de aprendizagemcomo meios de alcanrar aqueles objetivos, foi surpreendente verificarque 76,9% atribuíram as aulas teóricas o mesmo percentual atribuidoaos estágios em hospitais e servi5os de saúde pública como meio dedesenvolvimento de habilidades. Na área das atitudes, as aulas teóricasficaram em segundo lugar, depois dos "estágios". A pesquisa indicoutambém reduzida atenaáo curricular para o desenvolvimento de ati-tudes necessárias ao desempenho de papéis sociais pertinentes á profissáo.

REFERENCIAS

(1) Davidson, Ch.S. In: Trends in New Medical Schools. A Mount Sinai HospitalMonograph. Edited by H. Poper et al. Grune and Stratton. Nova York eLondres, 1967.

(2) Slater, Carl. "Student Participation in Curriculum Planning and Evaluation."J Med Ed 44(8): 676, 1969.

(3) World Health Organization. Expert Committee on Nursing-Fifth Report.Geneva, 1966, pág. 18.

(4) Bridge, Edward M. Pedagogía médica. Washington, D.C. Organizaçáo Pan-Ameri-cana de Saúde. PublicaCáo Científica 122, 1967, pág. 100.

OBJETIVOS GENERALES DEL PLAN I)E ESTUDIOS DEENFERMERIA: EL PUNTO DE VISTA DEL ESTUDIANTE (Resumen)

La creciente importancia que se atribuye a la participación del alumnoen la planificación de los planes de estudio de las escuelas superiores motivóuna investigación en la cual 164 estudiantes del tercer año de seis escuelasde enfermería del Brasil manifestaron su opinión respecto de los objetivosgenerales de enseñanza. La investigación utilizó un cuestionario de dospartes, la primera de las cuales estaba dividida en tres categorías, a saber,conocimientos (nuevas formas de pensar), aptitudes (nuevas maneras deactuar) y actitudes (nuevas concepciones). Cada categoría comprendía15 objetivos clasificados por los encuestados como "esenciales", importantes"y "prescindibles". La segunda parte se destinó a' averiguar la percepciónde los estudiantes respecto de seis distintas modalidades de experiencia deaprendizaje en relación con las tres categorias de objetivos mencionadas.

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Este trabajo, que no constituye un análisis exhaustivo de esas comproba-ciones, pone de manifiesto que los principales objetivos considerados "esen-ciales" (con tabulaciones superiores al 70%) fueron los concernientes, enla categoría de conocimientos, a los cuidados generales y específicos deenfermería de los pacientes, el papel de la enfermera, el método científicoy su aplicación en la esfera de la enfermería, la formación profesional, lasenfermedades y sus manifestaciones, y la etiología, síntomas, evolución,tratamiento, control y prevención de las enfermedades; en la categoría deaptitudes, la observación e interpretación de signos y síntomas y la identifi-cación de alteraciones del paciente que requieren atención rápida; en lacategoría de actitudes el reconocimiento del paciente como ser humano,la honestidad intelectual y el espíritu de iniciativa.

Respecto de la percepción de las experiencias de aprendizaje, comomedios para alcanzar aquellos objetivos, fue sorprendente verificar que el76.9% atribuyó a las clases teóricas el mismo porcentaje que a la prácticaen los hospitales y servicios de salud pública como medio de adquisiciónde aptitudes. En la esfera de las actitudes las clases teóricas se ubicaron ensegundo lugar, después de las "pasantías". La investigación indicó, asimismo,que en los planes de estudios se presta escasa atención al desenvolvimiento delas actitudes necesarias para el desempeño de las funciones sociales perti-nentes a la profesión.

GENERAL OBJECTIVES OF THE NURSING CURRICULUM: THESTUDENTS' POINT OF VIEW (Summary)

The increasing awareness of the importance of student participation inplanning the curricula of schools of higher education led to the organiza-tion of a survey in which 164 third-year students in six Brazilian schoolsof nursing expressed their views on the general aims of the teaching pro-gram. A two-part questionnaire was used in the survey. The first part wasdivided into three sections: knowledge (new ways of thinking), skills (newways of acting), and attitudes (new concepts). Each section containedquestions on 15 objectives, which the respondents were asked to rate as"essential," "important," or "unimportant."

The second part was designed to learn the students' views on six differentkinds of learning experience as applied to the three categories of objectives.

The article, which does not pretend to be an exhaustive analysis of thesubject, reports that the following objectives were rated as "essential"(with scores of 70 per cent or higher): in the knowledge category, general

and specific patient care procedures, the role of the nurse, the scientific

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method and its application to the nursing field, professional training, dis-eases and their manifestations, and the etiology, symptoms, evolution, treat-ment, control, and prevention of diseases; in the skills category, observationand interpretation of signs and symptoms and identification of changes inthe patient's condition which require prompt attention; and, in the attitudescategory, recognition of the patient as a human being, intellectual honesty,and a spirit of initiative. With respect to the student's views on the dif-ferent learning experiences as means of attaining these objectives, it wasfound, surprisingly, that 76.9 per cent gave the same rating 'to theoreticalclassroom work as to practical inservice training in hospitals and publichealth agencies as a means of developing skills. In the area of attitudes,theoretical classroom work ranked second, after practical inservice training.The survey also indicates that the respondents felt the curriculum wasgiving little attention to the development of attitudes needed for the per-formance of social roles related to the profession.

OBJECTIFS GÉNÉRAUX DU PROGRAMME D'ENSEIGNEMENT

INFIRMIER: POINT DE VUE DE L'ÉLEVE (Résumé)

La prise de conscience de plus en plus nette de l'importance de la partici-pation de l'éleve á la planification du programme d'études des écoles supé-rieures a éte a la base d'une enquéte au cours de laquelle 164 éleves de 3eannée de 6 écoles d'infirmiéres ont exprimé leurs vues sur les objectifs gé-néraux du programme d'enseignement. A cette fin, on a utilisé un question-naire en deux parties dont la premiere était répartie en trois catégories: con-naissances (nouvelle formes de penser), aptitudes (nouvelles maniéres d'agir)et attitudes (nouvelles conceptions). Chaque catégorie comprend 15 objec-tifs que les éléves estiment "essentiels", "importants" ou "peu importants".La seconde partie avait pour objets de connaitre les vues des éléves surleurs différentes sortes d'expériences acquises au cours de leur apprentis-sage par rapport aux trois catégories d'objectifs mentionnées.

Le présent document, qui ne prétend pas ,étre une étude complete de laquestion, signale que les principaux objectifs considérés comme "essentiels"(plus de 70% des réponses) dans la catégorie des connaissances sont les

soins généraux et particuliers des malades, le róle de l'infirmiére, la méthodescientifique et son application dans le domaine des soins infirmiers, la forma-tion professionnelle, les maladies et leurs manifestations, et l'étiologie, lessymptomes, l'évolution, le traitement, la lutte contre les maladies et leurprévention; dans la catégorie des aptitudes, l'observation et l'interprétationdes signes et symptómes, et le dépistage des changements dans l'état du

Currículo de enfermagem: Ponto de vista do estudante / 43

malade qui nécessitent des soins immédiats; enfin, dans la catégorie desattitudes, acceptation du malade comme un étre humain, l'honnetetéintellectuelle et l'esprit d'initiative.

En ce qui concerne les vues des éleves sur les expériences acquises enmatiére d'apprentissage en tant que moyen permettant d'atteindre cesobjectifs, il a été surprenant de constater que 76,9% ont attribué aux coursthéoriques le méme pourcentage qu'aux stages pratiques dans les hópitauxet services de santé publique comme moyen de développer les aptitudes.Dans le domaine des attitudes, les cours théoriques viennent en deuxiémeplace apres les "stages". I1 ressort également de l'enquéte que le programmed'enseignement ne voue que peu d'attention au développement des attitudesnécessaires pour remplir le role social qui incombe a la profession.