ObsCídio - A Obsessão e o Suicídio
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OBSCÍDIO – a Obsessão e o Suicídio
ii
SUMÁRIO
1 A OBSESSÃO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita 1
1.1 A Obsessão na Sociedade – Um Flagelo Social e Espiritual 1
1.2 A Obsessão – O Que É 4 1.2.1 Domínio/Controle 4 1.2.2 Enfermidade Espiritual 6 1.2.3 Resgate/Provação/Expiação 9
1.3 A Obsessão – Causas Preponderantes 10 1.3.1 Débitos Cármicos 10 1.3.2 Indolência Física/Mental 13 1.3.3 Tendências Negativas 15
1.4 A Obsessão – Profilaxia/Tratamento 17 1.4.1 Autoconscientização 17 1.4.2 Reeducação Mental 19 1.4.3 A Prece/a Meditação 20 1.4.4 Ação Enobrecedora 22
2 O SUICÍDIO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita 24
2.1 Suicídio – E as Leis Espirituais 24
2.2 Suicídio – O que É 26
2.3 Suicídio – Causas Morais/Espirituais 32 2.3.1 Orgulho ferido/Perdas 33 2.3.2 Falta de Fé / Materialismo / Visão da Morte 35 2.3.3 Visão distorcida da Morte 39 2.3.4 Tendências Reincidentes 41 2.3.5 A Obsessão 44 2.3.6 Desordens Depressivas 47 2.3.7 Tédio da Vida 50 2.3.8 Conflitos Familiares 52 2.3.9 Isolamento Social/Solidão 54
3 O SUICÍDIO E A OBSESSÃO 56
3.1 O Suicídio por processo Obsessivo 56 3.1.1 Considerações Gerais 56 3.1.2 Profilaxia – Diretrizes Gerais 62
3.2 O Suicídio por processo Obsessivo – Infanto-Juvenil 64 3.2.1 Características Gerais 64 3.2.2 O Processo Obsessivo 67 3.2.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes 70
3.2.3.1. Sinais de Alerta 70 3.2.3.2. Fatores de Risco 72 3.2.3.3. Prevenção 74
iii
3.3 O Suicídio por processo Obsessivo - Na Terceira Idade 77 3.3.1 Características Gerais 77 3.3.2 O Processo Obsessivo 80 3.3.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes 93
3.2.3.1. Sinais de Alerta 93 3.2.3.2. Fatores de Risco 94 3.2.3.3. Prevenção 96
3.4 O Suicídio por processo Obsessivo – Especiais 98 3.4.1 Por implantação Perispiritual 98 3.4.2 Por Hipnose profunda 100 3.4.3 Por Envolvimento Sutil 105
3.5 O “Homicídio Espiritual” por processo Obsessivo 111
3.6 O Suicídio por processo Obsessivo – Depoimentos 116 3.6.1 Infanto-juvenil 116 3.6.2 Adulto/Terceira Idade 201
4 REFERÊNCIAS 288
iv
LISTA DE DEPOIMENTOS
Depoimentos de 1 à 22: Jovens Depoimentos de 23 à 40: Adultos/Terceira Idade
DEPOIMENTO 1 Hilda .................................................................................................................... 118
DEPOIMENTO 2 Fernanda Luiza Batista ........................................................................................ 121
DEPOIMENTO 3 H .......................................................................................................................... 124
DEPOIMENTO 4 Antônio Carlos Martins Coutinho ....................................................................... 129
DEPOIMENTO 5 Cláudia Pinheiro Galasse ..................................................................................... 131
DEPOIMENTO 6 Francisco Adonias Nogueira Filho ...................................................................... 133
DEPOIMENTO 7 José Teodoro Caldeira ......................................................................................... 135
DEPOIMENTO 8 Júlio César C. da Silveira .................................................................................... 138
DEPOIMENTO 9 Lincoln Prata Lóes ............................................................................................... 142
DEPOIMENTO 10 Marcos Emanuel Teixeira Santos ...................................................................... 144
DEPOIMENTO 11 Milton Higino de Oliveira ................................................................................. 147
DEPOIMENTO 12 Renata Zaccaro de Queiroz ................................................................................ 154
DEPOIMENTO 13 Selma Rodrigues Sanches .................................................................................. 157
DEPOIMENTO 14 Lucia Ferreira .................................................................................................... 160
DEPOIMENTO 15 Wladimir Cesar Ranieri ..................................................................................... 163
DEPOIMENTO 16 Décio Márcio Carvalho ..................................................................................... 166
DEPOIMENTO 17 Dimas Luiz Zornetta .......................................................................................... 170
DEPOIMENTO 18 João Alves de Sousa .......................................................................................... 173
DEPOIMENTO 19 Pedro Augusto Souza Gonçalves ....................................................................... 176
DEPOIMENTO 20 Maximiliano ....................................................................................................... 180
DEPOIMENTO 21 Francisco Ângelo de Souza ............................................................................... 184
DEPOIMENTO 22 Marcio Ricardo .................................................................................................. 186
v
DEPOIMENTO 23 Camilo Castelo Branco ...................................................................................... 202
DEPOIMENTO 24 Marilyn Monroe ................................................................................................. 207
DEPOIMENTO 25 Amílcar Rodrigues Passos ................................................................................. 213
DEPOIMENTO 26 Anônima ............................................................................................................ 217
DEPOIMENTO 27 Maria Cândida ................................................................................................... 222
DEPOIMENTO 28 Antero de Quental .............................................................................................. 225
DEPOIMENTO 29 Hermes Fontes ................................................................................................... 235
DEPOIMENTO 30 Francisca Júlia da Silva ..................................................................................... 238
DEPOIMENTO 31 Jorge ................................................................................................................... 240
DEPOIMENTO 32 Lima ................................................................................................................... 248
DEPOIMENTO 33 Luís Alves .......................................................................................................... 252
DEPOIMENTO 34 Entrevista com um Suicida ................................................................................ 255
DEPOIMENTO 35 Suicida da Samaritana ....................................................................................... 260
DEPOIMENTO 36 Alfred Leroy ...................................................................................................... 263
DEPOIMENTO 37 Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo ........................................................ 268
DEPOIMENTO 38 Raul Martins ...................................................................................................... 271
DEPOIMENTO 39 Joaquim Mousinho d'Albuquerque .................................................................... 273
DEPOIMENTO 40 Roberto Eduardo ................................................................................................ 281
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 1
1 A OBSESSÃO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita
1.1 A Obsessão na Sociedade – Um Flagelo Social e Espiritual A obsessão, mesmo nos dias de hoje, constitui tormentoso flagício social.
Está presente em toda parte, convidando o homem a sérios estudos.
As grandes conquistas contemporâneas não conseguiram ainda erradicá-la.
Ignorada propositadamente pela chamada Ciência Oficial, prossegue
colhendo nas suas malhas, diariamente, verdadeiras legiões de incautos que se
deixam arrastar a resvaladouros sombrios e truanescos, nos quais padecem
irremissivelmente, até à desencarnação lamentável, continuando, não raro,
mesmo após o traspasse...
Isto, porque a morte continua triunfando, ignorada, qual ponto de
interrogação cruel para muitas mentes e incontáveis corações.
As obsessões enxameiam por toda parte e os homens terminam por
conviver, infelizes, com essas psicopatologias para as quais, fugindo à sua
realidade, procuram as causas nos traumas, nos complexos, nos conflitos, nas
pressões sociais, familiares e econômicas, como mecanismo de fuga aos exames de
profundidade da gênese real de tão devastadora enfermidade.
Não negando a preponderância de todos esses fatores que desencadeiam
problemas de comportamento psicológico, afirmamos que eles, antes de
constituírem causa dos distúrbios, são, em si mesmos, efeito de atitudes transatas,
que o Espírito imprime na organização fisiopsíquica ao reencarnar-se,
porquanto é sempre colocado no grupo familiar com o qual se encontra enredado,
por impositivo de ressarcimento de dívidas, para o equilíbrio evolutivo.
Enquanto o homem não for estudado na sua realidade profunda -- ser
espiritual que é, preexistente ao corpo e a ele sobrevivente --, muito difíceis serão
os êxitos da ciência médica, na área da saúde mental.
As doenças psíquicas, entre as quais se destacam, pela alta incidência, as
obsessões, continuarão ainda a perseguir o homem.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 26 –
Fenômenos Obsessivos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 2
Ainda que no momento estejamos passando por um período de transição
planetária, no qual já se percebe fortes sinais indicativos de mudanças evolutivas
na humanidade terráquea, cujo planeta caminha para o estado de regeneração, a
Terra ainda é categorizada como mundo de expiação e provas, visto que o mal
predomina.
Neste sentido, a obsessão está caracterizada como epidemia antiga,
ocorrendo desde os tempos imemoriais, que alcança milhares e milhares de
pessoas em todas as partes da Terra.
É uma enfermidade que, para ser erradicada, necessita da melhoria humana,
especialmente a de cunho moral.
O ser humano moralizado ou que se empenha em se transformar em pessoa
de bem, neutraliza naturalmente as investidas dos Espíritos maus.
Marta Antunes de Moura – Site FEB – Obsessões Espirituais –
2018/03/08
Epidemia virulenta que grassa ininterruptamente a obsessão prolifera
na atualidade com vigoroso impacto que faz recordar as calamidades pestilenciais
de épocas transatas.
Apresenta-se sob disfarce de variada configuração, concitando psicólogos e
teólogos, filósofos e sociólogos interessados nos magnos assuntos do homem e da
coletividade ao estudo das suas causas, com o objetivo de combatê-la com a
eficiência necessária para estancar, em definitivo, a onda de sofrimentos que
produz, erradicando-a terminantemente ...
A Doutrina que estuda as obsessões, as suas causas preponderantes e
predisponentes – o Espiritismo –, possui os recursos excepcionais capazes de
vencer essa epidemia cruel que, generalizada, invade hoje a Terra em todos os
seus pontos.
Eurípedes Barsanulfo – Sementes de Vida Eterna – Cap. 50 – Tormentos da
Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 3
Pululam por toda parte os vinculados gravemente às Entidades
perturbadoras do Mundo Espiritual inferior.
Obsidiados, desse modo, sim, somos quase todos nós, em demorado
trânsito pelas faixas das fixações tormentosas do passado, donde vimos para as
sintonias superiores que buscamos.
Muito maior, portanto, do que se supõe, é o número dos que padecem
de obsessões, na Terra.
Lamentavelmente, esse grande flagelo espiritual que se abate sobre os
homens, e não apenas sobre eles, já que existem problemas obsessivos de várias
expressões, como os de um encarnado sobre outro, de um desencarnado sobre outro,
de um encarnado sobre um desencarnado e, genericamente, deste sobre aquele, não
tem merecido dos cientistas nem dos religiosos o cuidado, o estudo, o tratamento
que exige.
Obsessões e obsidiados são as grandes chagas morais dos tumultuados
dias da atualidade.
Todavia, a Doutrina Espírita, trazendo de volta a mensagem do Senhor, em
espírito e verdade, é o portal de luz por onde todos transitaremos no rumo da
felicidade real que nos aguarda, quando desejemos alcançá-la.
Manoel Philomeno de Miranda – Sementes de Vida Eterna – Cap. 30 –
Considerando a Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 4
1.2 A Obsessão – O Que É 1.2.1 Domínio/Controle
A obsessão é a ação persistente que o Espírito “ignorante” exerce sobre
um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência
moral, sem perceptíveis sinais exteriores até a perturbação completa do organismo
e das faculdades mentais”.
Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 28 – item 81 – Pelos
Obsidiados
A obsessão consiste no domínio que os maus Espíritos assumem sobre
certas pessoas, com o objetivo de as escravizar e submeter à vontade deles, pelo
prazer que experimentam em fazer o mal.
Quando um Espírito, bom ou mau, quer atuar sobre um indivíduo, envolve-
o, por assim dizer, no seu perispírito, como se fora um manto. Interpenetrando-se
os fluidos, os pensamentos e as vontades dos dois se confundem e o Espírito, então,
se serve do corpo do indivíduo, como se fosse seu, fazendo-o agir à sua vontade,
falar, escrever, desenhar, quais os médiuns.
Allan Kardec – Obras Póstumas – 1º Parte – Cap. 7 – Item 56 – Da Obsessão e
da Posessão
No número das dificuldades que a prática do Espiritismo apresenta é
necessário colocar a da obsessão em primeira linha.
Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas
pessoas.
São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não
exercem nenhum constrangimento.
Os bons aconselham, combatem a influência dos maus, e se não os escutam
preferem retirar-se.
Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegam
a dominar alguém, identificam-se com o Espírito da vítima e a conduzem: como se
faz com uma criança.
Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Cap. 23 – Item 237 – A Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 5
Obsessão é o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas
pessoas. Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a
Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 6
1.2.2 Enfermidade Espiritual
A obsessão, sob qualquer modalidade que se apresente, é enfermidade de
longo curso, exigindo terapia especializada de segura aplicação e de resultados que
não se fazem sentir apressadamente.
Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é síndrome
alarmante que denuncia enfermidade grave de erradicação difícil.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a
Obsessão
Os atos infelizes, deliberadamente praticados, em razão da força mental
de que necessitam, destroem os tecidos sutis do perispírito, os quais,
ressentindo-se do desconcerto, deixarão matrizes na futura forma física, em que se
manifestarão as deficiências purificadoras.
A queda do tom vibratório específico permitirá, então, que os envolvidos no
fato, no tempo e no espaço, próximos ou não, se vinculem pelo processo de uma
sintonia automática de que não se furtarão.
Estabelecem-se aí as enfermidades de qualquer porte.
Os fatores imunológicos do organismo, padecendo a disritmia vibratória que
os envolve, são vencidos por bactérias, vírus e toda a sorte de micróbios patogênicos
que logo se desenvolvem, dando gênese às doenças físicas.
O médico informou, ainda, que há casos em que a incidência do
pensamento maléfico, aceito pela mente culpada, destrambelha a intimidade da
célula, interferindo no seu núcleo, acelerando a sua reprodução e dando gênese
a neoplasias e cânceres de variadas expressões.
Por sua vez, na área mental, os conflitos, as mágoas, os ódios acerbos, as
ambições tresvariadas e os tormentosos delitos ocultos, quando da reencarnação,
por estarem ínsitos no Espírito endividado, respondem pelas distonias psíquicas e
alienações mais variadas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 7
Acrescente-se a isso a presença dos cobradores desencarnados, cuja ação
mental encontra perfeito acoplamento na paisagem psicológica daqueles a quem
perseguem, e teremos instalada a constrição obsessiva.
Eis porque é rara a enfermidade que não conte com a presença de um
componente espiritual, quando não seja diretamente o seu efeito.
Corpo e mente refletem a realidade espiritual de cada criatura.
Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 1 – Provação
Necessária
Esse distúrbio, o da obsessão, difere bastante daqueles de natureza orgânica,
que produzem a idiotia e a loucura.
Em todos esses casos, porém, encontram-se espíritos enfermos, aqueles que
estão reencarnados, endividados perante as Leis Cósmicas, em processos graves
de provações dolorosas ou expiações reeducativas.
Na obsessão, encontra-se atuante um agente espiritual que se faz
responsável pelo transtorno reversível; no entanto, nos casos em que o ser renasce
sob o estigma da idiotia ou chancelado pelos fatores que propiciam a loucura, os
seus débitos e gravames são de tal natureza grave, que imprimiram no corpo o
látego e o presídio necessários para a sua renovação moral.
Desde o momento da reencarnação, a consciência culpada e os sentimentos
em desordem imprimiram nos equipamentos orgânicos e cerebrais as deficiências
de que o endividado tem necessidade para reparar os males anteriormente
praticados, desde quando, portador de inteligência e mesmo de genialidade, delas
se utilizou para a alucinação no prazer exorbitante em prejuízo de grande número
de pessoas outras que lhe experimentaram a crueldade, a intemperança, a
indiferença...
Malbaratado o patrimônio superior que a vida lhe concedeu para multiplicar
os talentos de que dispunha, volta agora ao orbe terrestre para expiar, passando
pelos sítios tormentosos da falta de lucidez e com limitação mental, encarcerado em
equipamentos que são incapazes de lhe permitir a comunicação com o mundo
exterior.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 8
Sitiado em si mesmo, sofre as consequências da hediondez que se permitiu,
padecendo rudes aflições pela impossibilidade de agir com segurança e
desenvoltura.
O corpo, atingido pelos fatores endógenos — hereditariedade, sequelas de
enfermidades infectocontagiosas — de que se revestiu o espírito por sintonia
vibratória no momento da reencarnação, é resultado da utilização de genes com
características deformadas, não havendo possibilidade então de recomposição, de
restauração da saúde mental, de equilíbrio psíquico.
No entanto, resgatando os males ainda preponderantes na sua economia
moral, adquirirá a harmonia que lhe facultará futuros cometimentos felizes,
mediante os quais contribuirá em favor da ordem e do desenvolvimento intelectual,
moral e espiritual de si mesmo, assim como da sociedade.
(...) Quando as obsessões se fazem prolongadas e o paciente não se dispõe
à recuperação ou não a consegue, a incidência continuada dos fluidos deletérios
sobre os neurônios cerebrais termina por produzir afecções e distúrbios de grave
porte que se tornam irrecuperáveis.
Desse modo, as obsessões podem conduzir à loucura, à idiotia, e essas,
por sua vez, serão ampliadas por influências espirituais perniciosas, que são
realizadas pelos adversários do enfermo, que se utilizam da sua incapacidade de
autodefesa para os desforços infelizes, nos quais se comprometem, por sua vez, com
a própria consciência.
Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 5 –
Obsessão, Idiotia e Loucura
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 9
1.2.3 Resgate/Provação/Expiação
Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em consequência da
inferioridade moral de seus habitantes.
A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a
Humanidade se vê a braços neste mundo.
A obsessão, que é um dos efeitos de semelhante ação, como as
enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como
provação ou expiação e aceita com esse caráter.
Allan Kardec – A Gênese – Cap. 14 – Obsessões e Possessões
Em toda obsessão, mesmo nos casos mais simples, o encarnado conduz
em si mesmo os fatores predisponentes e preponderantes – os débitos morais a
resgatar – que facultam a alienação.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a
Obsessão
Desse modo, as obsessões, na sua fase inicial, antes da tragédia da
subjugação, de mais difícil reequilíbrio, têm caráter Provacional, enquanto que a
idiotia e a loucura estão incursas nas expiações redentoras, através das quais o
espírito calceta desperta para a compreensão dos valores da vida, enriquecendo-se
de sabedoria para os futuros comportamentos.
Assim mesmo, nos casos dessa ordem, a contribuição psicoterapêutica do
Espiritismo através da bioenergia, da água fluidificada, da doutrinação do paciente
e dos espíritos que, possivelmente, estarão complicando-lhe o processo de
desequilíbrio, a oração fraternal e intercessória são de inequívoco resultado
saudável, proporcionando o bem-estar possível e a diminuição de sofrimento do
paciente, a ambos encaminhando para a paz e a futura plenitude.
Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 5 –
Obsessão, Idiotia e Loucura
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 10
1.3 A Obsessão – Causas Preponderantes
A Doutrina que estuda as obsessões, as suas causas preponderantes e
predisponentes – o Espiritismo –, possui os recursos excepcionais capazes de
vencer essa epidemia cruel que, generalizada, invade hoje a Terra em todos os seus
pontos.
Eurípedes Barsanulfo – Sementes de Vida Eterna – Cap. 50 – Tormentos da
Obsessão
1.3.1 Débitos Cármicos
Com origem nos refolhos do espírito encarnado, obsessões há em escala
infinita e, consequentemente, obsidiados existem em infinita variedade, sendo a
etiopatogenia de tais desequilíbrios, genericamente denominada distúrbios mentais,
mais ampla do que a clássica apresentada, merecendo destaque aquela
denominação causa cármica.
Jornaleiro da Eternidade, o espírito conduz os germens cármicos que
facultam o convívio com os desafetos do pretérito, ensejando a comunhão nefasta.
Inicialmente o hospede espiritual (o obsessor), movido pela morbidez do
ódio ou do amor insano, ou por outros sentimentos, envolve a casa mental do
futuro parceiro (o obsedado) – a quem se encontra vinculado por compromissos
infelizes de outras vidas, o que lhe confere receptividade por parte deste,
mediante a consciência da culpa, o arrependimento desequilibrante, a afinidade nos
gostos e aspirações, por ser endividado – enviando-lhe mensagens persistentes, em
continuas tentativas telepáticas, até que sejam captadas as primeiras induções, que
abrirão o campo a incursões mais ousadas e vigorosas.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a
Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 11
Neste capítulo, o das culpas, origina-se o fator causal para a injunção
obsessiva; daí porque só existem obsidiados porque há dívidas a resgatar.
A culpa, consciente ou inconscientemente instalada na casa mental, emite
ondas que sintonizam com inteligências doentias, habilitando-se a in-
tercâmbios mórbidos.
A obsessão resulta de um conúbio por afinidade de ambos os parceiros.
O reflexo de uma ação gera reflexo equivalente.
Toda vez que uma atitude agride, recebe uma resposta de violência, tanto
quanto, se o endividado se apresenta forrado de sadias intenções para o
ressarcimento do débito, encontra benevolência e compreensão para recuperar-se.
Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Prefácio
Há muito mais obsessão, grassando na terra, do que se imagina e se crê.
Nos processos obsessivos, não deixemos de repeti-lo, estão incursas na Lei
as pessoas que constituem o grupo familiar e social do paciente, aí situado por
necessidade evolutiva e de resgate para todos.
Não se podem fugir à responsabilidade os que foram cúmplices ou co-
autores dos delitos, quando os infratores mais comprometidos são alcançados pela
justiça.
Reunidos pelo parentesco sanguíneo ou através de conjunturas da
afetividade, da afinidade, formam os grupos onde são alcançados pelos recursos
reeducativos, dentro dos objetivos do progresso.
A cruz da obsessão é peso que tomba sempre sobre os ombros das
consciências comprometidas.
Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. Análise
das Obsessões
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 12
A consciência culpada é sempre porta aberta à invasão da penalidade
justa ou arbitrária. E o remorso, que lhe constitui dura clave, faculta o surgimento
de idéias-fantasmas apavorantes que ensejam os processos obsessivos de resgate
das dívidas.
Invariavelmente, na obsessão, há sempre o aproveitamento da ideia
traumatizante – a presença do crime praticado –, que é utilizada pela mente que
se fez perseguidora revel, apressando o desdobramento das forças deprimentes em
latência, no devedor, as quais, desgovernadas, gravitam em torno de quem as
elabora, sendo consumido por elas mesmas, paulatinamente.
As idéias plasmadas e aceitas pelo cérebro, durante a jornada física, criam
nos painéis delicados do perispírito as imagens mais vitalizadas, de que se utilizam
os hipnotizadores espirituais para recompor o quadro apavorante, em cujas
malhas o imprevidente se vê colhido, derrapando para o desequilíbrio psíquico total
e deixando-se revestir por formas animalescas grotescas – que já se encontram
no subconsciente da própria vítima – e que estrugem, infelizes, como o látego da
justiça no necessitado de corretivo.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 4 –
Estudando o Hipnotismo
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 13
1.3.2 Indolência Física/Mental Os indivíduos tornam-se presas fáceis dos seus antigos comparsas,
tombando nos processos variados de alienações obsessivas, porque, além de se
descurarem da observância espiritual da existência, mediante atitudes salutares,
comportamento equilibrado e vida mental enriquecida pela prece, pela reflexão,
não se esforçam por libertar-se dos aborrecimentos e problemas desgastantes
do dia a dia, mediante a aplicação dos recursos físicos e especialmente os
mentais, por acomodação preguiçosa ou por uma dependência emotiva, infantil,
que sempre transfere responsabilidades para os outros e prazeres para si.
A preguiça mental é um polo de captação das induções obsessivas pelo
princípio de aceitação irracional de tudo quanto a atinge.
Cabe ao homem que pensa dar plasticidade ao raciocínio, ampliando o
campo das idéias e renovando-as com o aprimoramento da possibilidade de
absorver os elementos salutares que o enriquecem de sabedoria e de paz íntima.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a
Obsessão
Mentes viciadas com mais facilidade aceitam as sugestões morbíficas
que lhes são insufladas dentro do campo em que melhor se expressam:
desconfiança, ciúme, ódio, desvario sexual, dependência alcoólica ou toxicômana,
gula, maledicência...
Temperamentos arredios, suspeitosos, são mais acessíveis em razão de
melhor agasalharem as induções equivalentes, que se lhes associam em forma de
perfeita sintonia.
Caracteres violentos, apaixonados, mais fortemente se fazem maleáveis em
decorrência do espírito rebelde que nesse corpo habita, dissimulando as chispas que
lhes acendem as labaredas do incêndio interior, a exteriorizar-se como fogareis
destruidores...
Personalidades ociosas são mais susceptíveis em razão da mente vazia
sempre acolher o que lhe apraz, deixando-se conduzir pela personalidade dos seus
afins desencarnados.
Joanna de Ângelis – Alerta – Cap. 4 – Obsessão e Jesus
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 14
Mentes em vigorosas emissões conscientes ou não dardejam em todas as
direções.
Inapelavelmente, por um processo de sintonia na mesma faixa de frequência
de interesses, produzem intercâmbio salutar ou danoso, em processo de transmissão
e de recepção.
Se te elevas pelo pensamento, alcanças vibrações nobres; se te perturbas
e vulgarizas, registas as mais grosseiras.
Joanna de Angelis – Rumos Libertadores – Cap. 43 – Médiuns
Conscientes
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 15
1.3.3 Tendências Negativas Os espíritos perversos e infelizes sempre se utilizam das tendências
negativas daqueles a quem odeiam, para estimulá-las, desse modo levando-os
às situações penosas, perturbadoras. Se o homem se apoia nos recursos de
elevação, difícil se torna para os seus verdugos espirituais encontrar as brechas
pelas quais infiltram os seus pensamentos torpes, na sanha da perseguição em que
se comprazem.
Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 7 – Sementes da
Insensatez
Na Terra, igualmente, é muito grande o número de encarnados que se
convertem, por irresponsabilidade e invigilância, em obsessores de outros
encarnados, estabelecendo um consórcio de difícil erradicação e prolongada
duração, quase sempre em forma de vampirismo inconsciente e pertinaz.
São criaturas atormentadas, feridas nos seus anseios, invariavelmente
inferiores que, fixando aqueles que elegem gratuitamente como desafetos, os
perseguem em corpo astral, através dos processos de desdobramento
inconsciente, prendendo, muitas vezes, nas malhas bem urdidas da sua rede de
idiossincrasia, esses desassisados morais, que, então, se transformam em vítimas
portadoras de enfermidades complicadas e de origem clínica ignorada...
Outros, ainda, afervorados a esta ou àquela iniquidade, fixam-se,
mentalmente, a desencarnados que efetivamente se identificam e fazem-se
obsessores destes, amargurando-os e retendo-os às lembranças da vida física, em
lamentável comunhão espiritual degradante...
Além dessas formas diversificadas de obsessão, outras há, inconscientes ou
não, entre as quais, aquelas produzidas em nome do amor tiranizante aos que
se demoram nos invólucros carnais, atormentados por aqueles que partiram em
estado doloroso de perturbação e egocentrismo... ou entre encarnados que mantém
conúbio mental infeliz e demorado...
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a
Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 16
Todo desregramento ou abuso de que sejamos dispenseiros se faz utilizado
por mentes vigilantes e perversas do Mundo Espiritual, que açulam falsas
necessidades, estabelecendo comércio lamentável e doloroso, em cujo curso
surgem obsessões de consequências imprevisíveis, que se podem evitar antes, se
refugiados no uso correto das faculdades da existência e na utilização da oração,
forem aplicadas as horas na execução do programa de enobrecimento íntimo para o
qual nascemos e renascemos.
Marco Prisco – Sementeira da Fraternidade – Cap. 28 – Acessos à
Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 17
1.4 A Obsessão – Profilaxia/Tratamento 1.4.1 Autoconscientização
Portanto na terapia desobsessiva, o contributo do enfermo, tão logo
raciocine e entenda a assistência que se lhe ministra, é de vital importância,
porquanto, serão os seus pensamentos e atos que responderão pela sua
transformação moral para melhor. A evangelização do espírito desencarnado é de
suma importância, mas, igualmente, a da criatura humana que se emaranhou na
delinquência e ainda não se recuperou do delito praticado.
No campo das obsessões, não são poucos aqueles que, logo se melhoram,
abandonam as disposições de trabalho e progresso, para correrem precipites, de
retorno aos hábitos vulgares em que antes se compraziam...
É comum fazer-se o compromisso íntimo de renovação e trabalho, enquanto
perdura a doença, negociando-se com Deus a saúde que se deseja pelo que se
promete realizar, como se a pratica das virtudes do bem fosse útil ao Pai e não dever
de todos nós, que nos beneficia e felicita.
Em particular àqueles que frequentam as Instituições espíritas, portando
obsessões e não se recuperam, merece que se tenha em mente o fato de que a visão
do medicamento não propícia a saúde, senão a ingestão dele e a posterior dieta
conforme convém. A crença racional e o conhecimento são fatores muito
poderosos, quando o indivíduo que se habilita aos mesmos esta honestamente
resolvido a vivê-los.
Saber, apenas, não representa recurso de imunização, se aquele que
conhece não se resolve por aplicar, na vivência, as informações que possui.
Demais, nem todos os males devem ser solucionados conforme a óptica de
quem os padece, mas de acordo com os superiores programas que estabelecem
o que é melhor para a criatura.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 18
A função do Espiritismo é essencialmente a de iluminação da
consciência com a conseqüente orientação do comportamento, armando o seu
aprendiz com os recursos que o capacitem a vencer-se, superando as paixões
selvagens e sublimando as tendências inferiores mediante cujo procedimento se
eleva.
Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 24 – Obsessão
Sutil e Perigosa
Em qualquer problema de desobsessão, a parte mais importante e difícil
pertence ao paciente, que afinal de contas é o endividado.
A este compete o difícil recurso da insistência no bem, perseverando no
dever e fugindo a qualquer custo aos velhos cultos do "eu" enfermo, aos hábitos
infelizes, mediante os quais volta a sintonizar com os seus perseguidores que,
embora momentaneamente afastados, não estão convencidos da necessidade de os
libertar.
Oração, portanto, mas vigilância, também, conforme a recomendação
de Jesus. A prece oferece o tônico da resistência, e a vigilância o vigor da
dignidade. Armas para quaisquer situações, são o escudo e a armadura do cristão...
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 8 –
Processos Obsessivos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 19
1.4.2 Reeducação Mental
Como é compreensível, o vício mental decorrente da convivência com o hospede (o obsessor) gera ideoplastias perniciosas de que se alimenta psiquicamente o hospedeiro (o obsidiado). Mesmo quando afastado o fator obsessivo, permanecem, por largo tempo, os hábitos negativos, engendrando imagens prejudiciais que constituem a psicosfera doentia, na qual se movimenta o paciente.
Graças a tais fatores, nem sempre a cura da obsessão ocorre quando são afastados os pobres perseguidores, mas somente quando os seus companheiros de luta instalam no mundo intimo as bases do legitimo amor e do trabalho fraternal em favor do próximo, tanto quanto de si mesmos, através do reto cumprimento dos deveres.
Um dos mais severos esforços que os enfermos psíquicos por obsessão devem movimentar, é o da reeducação mental, adaptando-se às idéias otimistas, aos pensamentos sadios, às construções edificantes.
Por isso, a saúde mental que decorre da liberação das alienações obsessivas se faz difícil, porque ela depende, sobretudo, do enfermo, do seu esforço e não exclusivamente do afastamento do seu perturbador.
Não basta somente afastar os seus adversários, para que os obsidiados se recuperem... A transformação intima, que é mais importante, porque procede do âmago do indivíduo, deve ser trabalhada, insistentemente tentada, a fim de que se desfaçam os fatores propiciatórios, os motivos que levam às dores, liberando cada um, a consciência, de modo a não tombar nas auto-obsessões, mais graves e de curso mais demorado...
Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 31 – Gravames na Obsessão
Uma força existe capaz de produzir resultados junto aos perseguidores encarnados ou desencarnados, conscientes ou inconscientes: a que se deriva da conduta moral.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 20
1.4.3 A Prece/a Meditação A prece liberta a mente viciada dos seus clichês perniciosos e abre a
mente para a captação das energias inspiradoras, que fomentam o entusiasmo pelo
bem e a conquista da paz através do amor. Entretanto, a fim que se revista de força
desalienante, ela necessita do combustível da fé, sem a qual não passa de palavras
destituídas de compromisso emocional entre aquele que as enuncia e a Quem são
dirigidas.
Por vezes o obsidiado, em desespero, recorda-se da oração e da necessidade
de buscar os amigos, entretanto, nestes instantes muitas vezes a prece flui dos seus
lábios sem a tônica do amor, da fé e portanto, não se irradia, não sintoniza com
os Núcleos de captação de rogativas.
Tudo são vibrações em estados diferentes de energia, desde a pedra até o
pensamento que se exterioriza pela vontade. Captadas pelos Centros de registros
mentais e transmitidas aos sábios prepostos do Senhor, as nossas rogativas levam
cargas psíquicas que facilmente traduzem o significado real das nossas
aspirações, ao mesmo tempo, facultando-lhes ajuizar com presteza a respeito da
conveniência ou não, da justeza e oportunidade do pedido, assim facilitando o seu
deferimento.
A vontade disciplinada e o habito da concentração superior armam o homem
para, e contra mil vicissitudes que defronta na sua escalada evolutiva.
A concentração positiva libera a mente dos clichês viciosos, próprios ou
recebidos de outras mentes, como do meio onde vive, já que somos sensíveis ao
ambiente no qual nos movimentamos.
Por adaptação às ocorrências do dia-a-dia o homem se deixa arrastar meio
dormido pela correnteza dos acontecimentos, sem despertar o pensamento para que
a mente raciocine com objetividade e discernimento, estabelecendo parâmetros
do que deve e não deseja, ao que não deve, mas deseja fazer...
Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 12 – Providências
Inesperadas
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 21
Aliando o esforço que cada um deve envidar a benefício próprio, a prece é
fonte inexaurível que irriga o ser, renovando-o e aprimorando-o, ensejando
também, logo após depurar-se, a plainar além dos reveses e tropelias, arrastado
pelas sutis modulações das Esferas Superiores da Vida, onde haure vitalidade e
força para superar todos os empeços.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 6 – No
Anfiteatro
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 22
1.4.4 Ação Enobrecedora
Nos processos de obsessão de qualquer natureza, as conquistas morais do
paciente são-lhe o salvo-conduto para o trânsito sem problemas durante a sua
vilegiatura carnal. Isto porque, liberado da constrição afligente, começa-lhe o
período da recuperação dos débitos passados mediante outras provações de
que necessita e de testemunhos que lhe aferirão as novas disposições abrigadas
na alma.
O maior antídoto à obsessão, além da comunhão com Deus, nunca será
demasiado repeti-lo, é a ação enobrecedora. O trabalho edificante constitui força
de manutenção do equilíbrio, porquanto, desenvolvendo as atividades mentais, pela
concentração na responsabilidade e na preocupação para executar os deveres,
desconecta os plugs que se encaixam as matrizes psíquicas receptoras das
induções obsessivas. A oração, portanto, desdobrada na ação superior,
representa a psicoterapia anti-obsessiva mais relevante, que está ao alcance de
toda e qualquer pessoa responsável, de boa vontade.
Apoiem-se na oração e no trabalho. A paisagem mental luarizada pela prece
e o sentimento vinculado ao dever, no serviço, podem ser sitiados pelas forças da
obsessão, mas nunca tombarão nas mãos dos pertinazes perseguidores.
Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 32 – O Retorno
de Felipe
O conhecimento do Espiritismo realiza a melhor terapêutica para o espírito,
higienizando-lhe a mente, animando-o para o trabalho reto e atitudes corretas e
sobretudo dulcificando-o pelo exercício do amor e da caridade, como medidas
providenciais de reajustamento e equilíbrio. Não há força operante no mal que
consiga penetrar numa mente assepsiada pelas energias vitalizadoras do
otimismo, que se adquire pela irrestrita confiança em Deus e pela prática das ações
da solidariedade e da fraternidade.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 6 – No
Anfiteatro
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 23
Quando se lhe falam (aos homens) do recurso da oração – anestésico
sublime da dor, reage porque lhe desconhece a formula salutar.
Quando convidado à meditação – estimulante de efeito enérgico e
relevante, desconsidera-lhe o conteúdo porque se aclimatou … ociosidade mental
em termos de reflexão e disciplina.
Ao se lhe apresentarem uma leitura substanciosa – verdadeira
psicoterapia otimista, reivindica as páginas chocantes da licenciosidade, por achar
ingênuas aqueloutras, de significação ultrapassada.
Se chamado à beneficência mediante ação pessoal – praxiterapia
liberativa, apresenta escusa, por se acreditar sem condições.
Convidado ao exercício da caridade fraternal em morros e favelas,
palafitas e alagados – ginástica e ioga para o corpo, mente e espírito, prefere as
fugas espetaculares através do desculpismo insensato, taxando de pieguistas essas
realizações e atirando a responsabilidade desse mister a governos e organizações de
serviço social.
No entanto, o amor é melhor para quem ama e a ação dignificante eleva
e pacifica aquele que a executa.
Sem dúvida, a quimioterapia, a farmacopéia em geral dispõem de elevados
contributos para o homem, minimizando-lhe enfermidades, erradicando velhas e
calamitosas epidemias, ampliando as possibilidades da vida na terra.
Sem embargo, a terapia espiritual vazada no Evangelho e nos recursos
do Espiritismo é o maior antídoto ao desgaste, à excitação, ao cansaço, à
violência, à criminalidade e à miséria social dos momentos cruciais que estrugem
na Terra...
Carneiro de Campos – Sementes de Vida Eterna: Cap. 8 – Doença e
Terapêutica
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 24
2 O SUICÍDIO – Sob a perspectiva da Doutrina Espírita
2.1 Suicídio – E as Leis Espirituais
Tem o homem o direito de dispor da sua vida?
Não, só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário transforma‑se
numa transgressão desta lei.
Allan Kardec – Livros dos Espíritos – 4º Parte – Cap. 1 – item 6 – Perg.
944
Para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se
os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução
para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo,
abreviar pelo suicídio as suas misérias.
A calma e a resignação, adquiridas na forma de considerar a vida terrestre e
na fé no futuro, dão ao espírito uma serenidade que é a melhor defesa contra a
loucura e o suicídio.
Allan Kardec – O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. 5 – item 14 –
O Suicídio e a Loucura.
O suicídio não é uma lei, não sendo, por isso mesmo imposto a quem quer
que seja pela harmoniosa legislação divina, como o seriam, por exemplo, o resgate
e a reparação da prática de um ato mau ou a morte natural do corpo físico terreno.
Contrariamente, ele é ato reprovável pela mesma legislação, da inteira
responsabilidade de quem o pratica. E crede, meus amigos, conquanto o coeficiente
dos suicídios no vosso planeta se apresente calamitoso, os obreiros do Mundo
Invisível tudo tentam para dele desviarem os homens, fazendo-o com muito
enternecida boa vontade! Cumpre, no entanto, a estes cooperarem com aqueles a
fim de que tão complexo malefício, atestado deplorável da inferioridade humana,
seja definitivamente banido da sociedade terrena.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 25
O suicídio, como ninguém mais ignora, constitui para o Espírito, que a ele
se aventurou em tão adversa hora, um estado complexo de semiloucura, situação
crítica e lamentável de descontrole mental, forçando estudos e exames especiais
dentro da própria Revelação Espírita
Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – 1º Parte – Cap. 3/6
Os motivos de suicídio são de ordem passageira e humana; as razões de
viver são de ordem eterna e sobre-humana.
A vida, resultado de um passado completo, instrumento de futuro, é, para
cada um de nós, o que deve ser na balança infalível do destino. Aceitemos com
coragem suas vicissitudes, que são outros tantos remédios para as nossas
imperfeições, e saibamos esperar com paciência a hora fixada pela lei equitativa
para termo da nossa permanência na Terra.
Leon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor –1º Parte – Cap. 10 – A
Morte
Suicídio, não pense nisso
Tolera com paciência
Nem mesmo por brincadeira...
Qualquer problema ou pesar;
Um ato desses resulta
Não adianta morrer,
Na dor de uma vida inteira
Adianta é se melhorar
Cornélio Pires – Astronautas do Além – Cap. 3 – Suicídio
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 26
2.2 Suicídio – O que É
O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte
instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a
extinção das forças vitais.
Allan Kardec – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 5 – Suicidas
O suicídio é a culminância de um estado de alienação que se instala
sutilmente. O candidato não pensa com equilíbrio, não se dá conta dos males que o
seu gesto produz naqueles que o amam. Como perde a capacidade de discernimento,
apega-se-lhe como única solução, esquecido de que o tempo equaciona sempre
todos os problemas, não raro, melhor do que a precipitação. A pressa nervosa por
fugir, o desespero que se instala no íntimo, empurram o enfermo para a saída sem
retorno...
Manoel Philomeno de Miranda – Loucura e Obsessão – Cap. 24 – O Trágico
Desfecho
É atestado de fraqueza e descrença geral, de desânimo generalizado, de
covardia moral, terrível complexo que enreda a criatura num emaranhado de
situações anormais.
Charles – Recordações da Mediunidade – Cap. 6 – Testemunho
Na verdade, o suicídio é basicamente, uma fuga. O suicida quer fugir de
situações embaraçosas, de desgostos, de pessoas que detesta, de mágoas que não se
sente com forças para suportar, deseja, afinal de contas, fugir de si mesmo. É aí que
está a gênese de seu fatal desengano: não podemos, de maneira alguma, fugir de
nós próprios. Logo, o suicídio é o maior, o mais trágico e lamentável equívoco
que o ser humano pode cometer.
Hermínio de Miranda – Revista Reformador – 1993 – Novembro – Vale a pena
suicidar-se?
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 27
Termo suicídio define um comportamento ou ato que visa a antecipação da
própria morte.
Essencialmente, ele resulta de um processo em que a dor psicológica
intensa, consequência de acontecimentos que tornam a vida dolorosa e/ou
insuportável, em que deixam de existir quaisquer soluções que permitam escapar a
um processo de introspecção, que deixa como única solução a morte do próprio
indivíduo. Este processo desenvolve‑se, regra geral, gradualmente num sentido
negativo provocando um estado dicotômico em que passam a existir apenas duas
soluções possíveis para um problema ou situação: viver ou morrer.
Luís de Lamônica – Revista Espaço Espiritual – Setembro/2001–
https://espacoespiritual.wordpress.com/2011/09/18/o–suicidio-e-o-espiritismo/
É o desejo de morte acolitado por um desejo de vida. É um insistente apelo
mórbido dirigido ao próximo; é, também, um extenso pedido de socorro.
Neste desejo-de-morte há um desejo-de-outra-vida; existe uma busca,
embora doentia e destoante; traduz a condição psicopatológica em que se encontra,
procurando alcançar e ferir o próximo; em irreverente apelo, as emoções
destoantes e desorganizadas estão buscando, com a mais intensa ansiedade, o
socorro que não chegara.
Aqueles que mergulharam nas faixas do suicídio e que forma levados ao
gesto extremo estavam, sem sombras de dúvidas, envolvidos por processo
obsessivo; processo formado às custas de constantes atitudes negativas.
Jorge Andréa – Revista Presença Espírita – No 91 – 1981 – Dezembro –
Suicídio
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 28
Era do nosso hábito, no começo da obra, e particularmente nos anos 60,
passarmos o sábado ou o domingo em uma praia muito deserta, na periferia de
Salvador, que hoje se transformou em um lugar famoso.
Certo dia, um amigo que possuía uma propriedade ampla, onde estavam
plantados dez mil coqueiros, gentilmente, nos emprestou a chave da casa, para
irmos com as crianças e vivermos um pouco em contato com a Natureza.
Dois fatos, entre muitos que aconteceram, foram marcantes, na nossa
mediunidade, naquela época.
De uma feita, nós, que sabíamos o caminho como a palma da mão, erramos
a estrada. Maximiano, meu filho, ia dirigindo a kombi e por mais que tentássemos
encontrar o lugar não acertávamos.
Paramos numa venda, na estrada, e perguntamos onde ficava o local que
procurávamos. O vendedor respondeu que fôssemos em frente até encontrarmos o
rio Jacuípe, aí dobrássemos por outro trecho da estrada e sairíamos lá.
Nós achamos estranho, porque ficava no sentido oposto ao que pensávamos.
Mas fomos.
Chegamos a uma região de beleza invulgar. O rio desaguando no mar.
A paisagem de coqueiros, a areia alva. Éramos nove pessoas, Lygia, Ziza e
outras tias. Quando fizemos a volta, olhei na direção do mar e vi que uma pessoa
adentrava pelas águas, num lugar muito deserto.
Então ouvi uma voz que me disse:
— Salta, porque ela está tentando suicidar-se.
Pedi a Maximiano:
— Meu filho, pare o carro, aquela mulher vai-se matar!
Todos ficaram surpresos e acharam até absurdo. Mas eu saí correndo, mar a
dentro — não sei nadar — e peguei a senhora que estava numa crise de loucura.
Segurei-a, tirando-a da água; então chegaram os outros, Lygia, Ziza, Maria,
Carmem, e nós a arrastamos para a praia.
Ela teve uma crise de desespero muito grande e a custo conseguimos
acalmá-la.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 29
Levamo-la a uma casa que ficava a uns duzentos metros, onde ela residia.
Era uma casa muito modesta. Ali ela teve uma hemoptise muito forte,
sujando-me de sangue.
Quando conseguiu acalmar-se, fui buscar água, limpei a roupa e então
perguntei-lhe:
— Por que a senhora quis matar-se?
Ela contou uma história muito curiosa.
Era mãe de seis filhos e algum tempo atrás contrairá tuberculose pulmonar.
Com a doença, coincidentemente advirá uma nova concepção, que seria o sétimo
filho.
Naquele estado ela foi ao Quarto Centro de Saúde, na Calçada, em Salvador,
e o médico diagnosticou estar ela realmente grávida e tuberculosa.
Ele falou-lhe que naquele estado a gestação era um grande perigo, e o parto
um grande risco de vida, sugerindo-lhe o aborto. Mas o aborto também era um
grande risco de vida, e ela, uma pessoa muito pobre, muito necessitada, não tinha
como solucionar o problema.
Aí no posto, alguém aconselhou que fosse a um Centro Espírita que havia
nesse bairro.
Ela nada conhecia de Espiritismo, mas resolveu ir, naquela mesma noite,
que era uma quinta-feira. Ficou na cidade, pois morava a quarenta quilômetros de
distância.
À noite, foi ao Centro. Lá ouviu um homem moço falar muito sobre os
deveres perante a vida, a misericórdia de Deus, que Deus soluciona sempre todos
os problemas, etc.
Quando ele acabou de falar, ela quis tirar uma consulta e mandaram-na dar
o nome e o endereço na portaria para na terça-feira buscar a resposta. Ela assim o
fez, e viajou.
Mas, no sábado, que era o dia em que os Espíritos iriam atender a consulta,
o marido esteve lá, à tarde, bêbado.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 30
Já a havia abandonado, e deu-lhe uma surra muito grande. Ela ficou
desesperada.
No domingo pela manhã achou que a única solução para a sua vida era o
suicídio.
Naquela hora as crianças ficaram nervosas, começaram a chorar, e ela muito
desesperada saiu correndo para entrar pelo mar e matar-se. Foi no justo momento
em que nós passávamos.
Perguntei-lhe qual era o endereço do Centro e ela disse que era na rua Barão
de Cotegipe. Indaguei:
— Você se lembra do moço que estava falando?
— Não, senhor, porque o salão é muito grande e não o vi bem.
Tirei os óculos escuros e perguntei-lhe:
— Seria eu?
— Meu Deus.' Foi o senhor quem estava falando — disse, surpresa. — Mas,
como é que o senhor veio parar aqui?
Deve ler sido a Providência Divina — respondi-lhe, emocionado. — Você
pediu ajuda e eu vim, trazido pelos Espíritos.
Aplicamos-lhe um passe, fizemos um culto evangélico e tomamo-la sob a
nossa responsabilidade emocional.
— Na terça-feira — recomendei-lhe — você vai à reunião e vamos ver o
que os Espíritos aconselharam. Conversamos muito. Ela ficou mais consolada,
cotizamo-nos, arranjamos algum dinheiro para ela comprar qualquer coisa de
emergência e fomos para a tal praia.
Aí não erramos mais. Fomos direto, passamos o dia.
Mas eu fiquei com uma curiosidade de saber o que é que os Espíritos teriam
colocado na consulta, para nos desviarem da rota no momento próprio.
Quando chegamos a Salvador, eu fui à pasta de orientações espirituais, que
arquivamos em ordem alfabética e lá estava escrito exatamente assim:
"Receberá, no momento próprio, a solução para o magno problema da vida.
A sua vida é muito preciosa para você e a Divindade, e deve ser poupada.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 31
Siga a orientação médica e acrescente os seguintes remédios..."
Então vinham três remédios da Homeopatia, específicos para a tuberculose,
inclusive um chamado Pulmonina, do Laboratório Seabra.
Assim eu notei, uma vez mais, a interferência poderosa dos Espíritos e de
alguma forma o merecimento dessa senhora, porque nós erramos vinte e tantos
quilômetros de estrada num percurso que fazíamos a cada quinze dias.
Na terça-feira, quando ela chegou, mostramos-lhe o resultado da consulta e
conseguimos interná-la no Hospital Santa Terezinha, para tratamento especializado.
Ela ficou boa, recuperou-se completamente.
Nós ficamos com a criança que nasceu por último, pois ela não tinha a menor
condição de mantê-la; a criança era muito frágil.
Hoje está um adulto, já se emancipou.
Desejo anotar a interferência dos Espíritos, a claridade do fenômeno
mediúnico e também a lei do mérito, porquanto, se passássemos alguns segundos
antes ou depois, o suicídio teria sido consumado.
Isto foi em 1964.
Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 22 – A Moça da Praia
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 32
2.3 Suicídio – Causas Morais/Espirituais
Diversas podem ser as causas materiais, morais e espirituais do ato de
suicídio, dentre elas destacam-se:
• Desespero, o indivíduo se acha incapaz de arcar com os compromissos da vida.
(Dificuldades financeiras, endividamento, insolvência, desemprego: perda
abrupta ou continuada de recursos de manutenção)
• Visão Materialista da Vida (a busca do nada, da aniquilação - desconhecimento
da imortalidade do espírito).
• Falta de Fé (mesmo tendo uma religião formal).
• Orgulho Ferido (decepções/frustrações, diante de perdas amorosas,
profissionais, familiares).
• Tédio da Vida (solidão/tédio: ausência de objetivos existenciais, viuvez).
• Condições Patológicas (moléstias consideradas incuráveis: busca de “ida” para
um lugar sem dor).
• Desordens depressivas (autopiedade exacerbada do tipo –“todo mundo está
contra mim”).
• Psicoses (suicídio, como vingança, para fazer sofrer alguém “os que ficam”).
• Uso de drogas (vícios, alcoolismo/toxicomania/jogar compulsivamente, com
perdas irreparáveis).
• Influência Espiritual (obsessão/indução de terceiros, encarnados ou
desencarnados).
• Desestruturação familiar (lar desfeito na infância, conflitos familiares).
• Tendências Reincidentes (advindas de suicídios em vidas anteriores).
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 33
2.3.1 Orgulho ferido/Perdas
Quanto mais valorizamos algo, mais forte será o vínculo, e maior
consequentemente será o sofrimento ao perdê-lo.
A vida só nos tira o que não nos pertence e de que não mais precisamos,
ou que ainda necessitamos, mas não valorizamos; e esta última acontece para
assimilarmos a lição da valorização.
Altamir da Cunha – Revista Reformador – 2006 – Dezembro – Perdas,
Depressão e Suicídio
Por trás do desejo de antecipar o fim da vida, estão as perdas. Perda de
saúde, autonomia, produtividade, papéis sociais. Perda de cônjuges, amigos,
cuidadores e de outras pessoas nas quais eles depositam confiança.
A dependência é um dos maiores problemas que atinge a terceira idade. Para
o idoso, a perda da independência, não importa de que tipo seja, financeira, física,
psíquica, etc., significam perda de espaço, de valores, de autodeterminação.
O indivíduo dependente passa a ser invisível para uma sociedade que antes
o valorizava por ser ativo e produtivo. Geralmente, este mesmo indivíduo, é visto
desta mesma forma no seio familiar, que antes o tinha como provedor. Tal
invisibilidade pode tornar o idoso isolado socialmente e causar outro problema de
vital importância, a depressão.
Valdirene Alves de Lima – Suicídio na Terceira idade – Universidade
Católica de Brasília – 2010
Os conteúdos manifestos da fala dos idosos sobre a dimensão e o impacto
das perdas que sofreram no decorrer de sua existência estão muito presentes: a
morte de um ente querido, a inexistência de manifestações afetivas entre os
membros das famílias, a restrição de sua autonomia, o cerceamento paulatino de
sua liberdade e a usurpação financeira.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 34
Os lamentos e a tristeza são profundos em relação às mortes de familiares
significativos e do círculo social. Enquanto as de companheiros de trabalho e da
comunidade são sofridas como uma falta que faz parte da vida, as de um filho ou
uma filha são sentidas profundamente pela prematuridade.
Mas todas produzem uma sensação de acúmulo de perdas referenciais em
que fica comprometido o círculo das relações primárias.
Os processos migratórios também são mencionados como perdas, pois
geralmente, no momento da velhice, quando se reavivam as lembranças do passado,
sente-se mais falta dos que se distanciaram no tempo e da terra natal,
particularmente se, quando a solidão ocorre, é escasso o apoio social
Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos
familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência &
Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 35
2.3.2 Falta de Fé / Materialismo / Visão da Morte
A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as idéias materialistas,
em uma palavra, são os maiores incentivadores ao suicídio: elas produzem a
frouxidão moral. Quando vemos, pois, homens de ciência, que se apoiam na
autoridade do seu saber, esforçarem-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus
leitores que eles nada têm a esperar depois da morte, não os vemos tentando
convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é se matarem?
Que poderiam dizer para afastá-los dessa idéia?
Que compensação poderão oferecer-lhes?
Que esperanças poderão propor-lhes? Nada, além do nada! De onde é
forçoso concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva
possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que deixar para mais tarde, aumentando
assim o sofrimento.
A propagação das idéias materialistas é, portanto, o veneno que inocula em
muitos a idéia do suicídio, e os que se fazem seus apóstolos assumem uma terrível
responsabilidade.
Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão
da vida. O crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente para além do cúmulo,
mas em condições inteiramente novas. Daí, a paciência e a resignação, que muito
naturalmente afastam a idéia do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral.
Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 5 – Item 14 – O
Suicídio e a Loucura
O materialismo, que infelizmente grassa, sem qualquer disfarce, na
sociedade, coloca suas premissas no comportamento das pessoas e as propele para
a conquista hedonista, para o gozo material exclusivo, empurrando as suas vítimas
para as fugas alucinantes, quando os propósitos anelados não se fazem coroar pelos
resultados esperados.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 36
Desfilam os líderes da aberração nos carros do triunfo enganoso, e muitos
deles, não suportando a coroa pesada que os verga, são tragados pela overdose
das drogas do desespero, que os retira do corpo mais dementados e atônitos do
que antes se encontravam.
Noutros casos, esses lideres são consumidos pelas viroses irreversíveis,
especialmente pela Síndrome de imunodeficiência adquirida, que os exaure e
consome a pouco e pouco, tornando-os fantasmas desprezíveis e aparvalhantes
para aqueles mesmos que antes os endeusavam, imitavam e buscavam a sua
convivência a peso de ouro e de mil abjeções.
O adolescente, vivendo nesse clima de lutas acerbas e não havendo
recebido uma base moral de sustentação segura, na vida física vê somente a
superficialidade, o prazer mentiroso, a ilusão que comandam os
comportamentos de todos, em terríveis campeonatos de loucura.
Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o
suicídio
O suicídio é tema recorrente na maioria dos 12 volumes da Revista
Espírita, demonstrando que Kardec tinha uma grande preocupação com o
assunto.
Em julho de 1862, escreve um artigo intitulado Estatística dos
Suicídios, fazendo uma análise sobre o aumento dos suicídios na França, e
procurando apontar as causas, lamentando que não existam pesquisas a respeito.
Hoje, há essas pesquisas em todo mundo.
Entre as que Kardec reconhece em seu tempo estavam as doenças
mentais, problemas sociais, e sobretudo, o avanço do materialismo e a falta de
perspectiva existencial.
O artigo continua muito atual e revela bem como Kardec procurava
abordar as questões, abrangendo todos os seus aspectos e procurando soluções
educativas e preventivas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 37
Para ele, a maior prevenção possível para o suicídio seria o
conhecimento seguro e com contornos mais precisos da vida pós- morte,
que o Espiritismo nos dá. Demonstrada a imortalidade, de maneira clara e
racional, o suicídio perde sua razão de ser.
(...). Não poderia deixar de mencionar a educação, como a mais eficaz
prevenção em relação ao suicídio. Mas que educação? Não é certamente essa
que é dada nas escolas, que nem a função de instruir faz bem feita.
Mas sim uma educação que procure cercar o indivíduo de fortes e sólidos
afetos, de modo que ele nunca se sinta sozinho.
Uma educação que trabalhe sentido existencial, resiliência diante da
dor, projeto de vida...
E sobretudo, uma educação que cuide desde cedo da espiritualidade e
que abra uma perspectiva de eternidade e transcendência.
Dora Incontri – Suicídio, a visão espírita revisita – 21/Setembro/2015
Acreditamos, firmemente, que a falta de fé responde pela quase
totalidade dos suicídios.
A fé é o alimento espiritual que, fortalecendo a alma, põe-na em condições
de suportar os embates da existência, de modo a superá-los convenientemente.
Analisando as demais causas, observamos que todas elas tiveram por germe,
aqui e alhures, na Terra ou noutros mundos, nesta ou em encarnações pretéritas, a
ausência da fé.
O orgulho ferido é, também, falta de fé, porque a fé conduz à humildade
profunda, e esta é inimiga do orgulho.
É o seu melhor, o seu mais poderoso antídoto.
O orgulho ferido pode levar o homem a sérios desastres que se perpetuarão,
durante séculos, em seu carma.
O esgotamento nervoso, que poderia ser evitado, no seu começo, se
movimentados pudessem ter sido os recursos da “oração”, filha da fé”, pode
conduzir o ser humano, nessa altura já fortemente assediado por forças obsessoras,
ao extremo gesto.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 38
A loucura, por sua vez, responde por elevado número de deserções do
mundo. E o chamado “tédio da vida”?
Quantas cartas foram deixadas por suicidas referindo-se ao “cansaço da
vida” e implicações correlatas?
Por quê? Ausência de fé, evidentemente da fé que reside e brota dos
escaninhos mais sagrados e mais profundos da alma eterna.
Sim, há muita fé que existe, apenas, nos lábios.
A fé iluminada pela razão, que é a fé espírita, capaz de encarar o raciocínio
“face a face, em todas as épocas da humanidade”, suporta e vence, resiste e transpõe
os mais sérios obstáculos, inclusive os relacionados com uma existência dolorosa,
sob o aspecto moral ou físico, fértil em aflitivos problemas.
Quem tem fé não deserta da vida, pois sabe que os recursos divinos, de
socorro à humanidade são inesgotáveis.
Não esvaziam os mananciais da misericórdia de Deus!
Ante moléstia considerada incurável, procura o enfermo, algumas vezes, no
suicídio, a solução do seu problema.
Infeliz engano, pois a ninguém é lícito conhecer até onde chegam os
recursos curadores da Espiritualidade Superior, que é a representação da
Magnanimidade Divina.
Quantas vezes amigos de Mais Alto intervêm, prodigiosamente, quando a
Medicina, desalentada, já ensarilha as armas, por esgotamento dos próprios
recursos?!
Há outro tipo de suicídio, aquele que resulta da indução, sutil ou ostensiva,
de terceiros, encarnados ou desencarnados, especial e mais numerosamente dos
desencarnados, não sendo demais afirmar, por efeito de observação, que a quase
totalidade dos autoextermínios foi estimulada por entidades perversas, inimigas
ferrenhas do passado, que, ligando-se ao campo mental de quantos idealizam, em
momento infeliz, o suicídio, corporificam-lhe, na hora adequada, a sinistra ideia.
Julgamos ter analisado, com razoável acervo de exemplos, as causas mais
frequentes do suicídio.
Martins Peralva – O Pensamento de Emmanuel – Cap. 35 – Suicídio
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 39
2.3.3 Visão distorcida da Morte
A desinformação a respeito da imortalidade do ser e da reencarnação
responde pela correria alucinada na busca do suicídio.
(...) E essa falta de esclarecimento é maior no período infanto-juvenil, (...)
facultando a fuga hedionda da existência carnal.
Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o
suicídio
À hora do problema, não tendo, no lar, com quem falar, ele recorre a um
amigo que tem o mesmo problema. Quase sempre, aquele amigo-problema indu-
lo a uma solução-problema.
Naquele ambiente de jovens problematizados, sem diretrizes, o suicídio se
lhe afigura como uma solução, isto porque o lar, desestruturado cristãmente, não
lhe consolidou na alma juvenil a certeza da sobrevivência.
Divaldo Franco
A morte nenhum temor inspira ao justo, porque, com a fé, ele tem a
certeza do futuro; a esperança faz com que aguarde uma vida melhor e a caridade,
cuja lei praticou, dá-lhe a certeza de que, não encontrará no mundo onde vai entrar,
nenhum ser cujo olhar deva temer.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 941
961 – Qual o sentimento que domina a maioria dos homens no momento da
morte: a dúvida, o terror ou a esperança?
A dúvida nos céticos empedernidos; o temor, nos culpados; a esperança,
nos homens de bem.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 961
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 40
Prepare-se para a morte.
Desde hoje vença a dúvida, supere o temor, alente a esperança.
Ligado a Jesus-Cristo, o Protótipo da Idéia-Vida, renove-se hoje e sempre,
pensando no bem, a fim de que o Bem Inefável conduza os seus dias na Terra.
Marco Prisco – Legado Kardequiano – Cap. 56 – Ideia
Talvez seja esta a grande contribuição da Morte para nossa Vida: mostrar-
nos que devemos viver bem cada instante sem, contudo, apegarmo-nos a ele.
Quem vive a vida em plenitude tem a morte como algo natural e, mesmo
não a procurando ou desejando, aceita-a com tranquilidade quando chega ou
quando se manifesta próxima de si.
O Medo da Morte é o medo da Vida não vivida. É o medo dos muitos
débitos que temos para com nossa própria vida, e que a morte nos impedirá de
saldar.
Reafirmamos, então, que quem teme a morte teme a Vida. Em outras
palavras; quem não sabe Viver, certamente não saberá morrer.
Viver intensamente significa poder olhar para trás e sentir que não estamos
sofrendo, hoje, por aquilo que ontem nos deu algum prazer. O que é bom e correto
nunca se torna causa de sofrimento e dor.
Não sabemos quando virá nossa morte, nem a forma como ela virá. É
preferível então que estejamos sempre preparados para ela, aprendendo com isso
a viver melhor.
Evaldo D`Assumpção – Sobre o Viver e o Morrer – Introdução/Cap. 4/Cap.6
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 41
2.3.4 Tendências Reincidentes
Há adolescentes, contudo, que cometem o suicídio, não por falta de cuidados
dos genitores ou de uma educação familiar desatenta, mas em razão de dificuldades
próprias, evidenciadas no caráter e no comportamento, relacionadas a equívocos
cometidos perante a lei de Deus, em existências passadas.
Tais Espíritos sintonizam com Espíritos transviados, desde os primeiros
momentos da reencarnação, estabelecendo entre eles laços que favorecem acesso
ao sombrio mundo das viciações e de tantas outras perturbações.
Marta Antunes Moura – Revista Reformador – 2007 – Maio – Suicídio na
Adolescência
Grande número delas, suicidas do passado, renascem com as impressões
do gesto anterior, e porque desarmadas, na sua quase totalidade, de equilíbrio,
vendo, ouvindo e participando dos dramas em que se enleiam os adultos que as não
respeitam, antes considerando-as pesados ônus que devem pagar, repetem o ato
infeliz do suicídio, tombando nas refregas de dor, que posteriormente as trarão de
volta em expiações muito laceradoras.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 –
Suicídio solução insolvável
Entrevista com Chico Xavier relativa às causas dos Suicídios
– O suicídio é consequência de fatores psicológicos em desagregação ou de
influências espirituais em evolução?
Todos sabemos: cada espírito é senhor do seu próprio mundo individual.
Quando perpetramos a deserção voluntária dos nossos deveres, diante das leis que
nos governam, decerto que imprimimos determinadas deformidades no corpo
espiritual.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 42
Essas deformidades resultam das causas cármicas estabelecidas por nós
mesmos, pelas quais sempre recebemos de volta os efeitos das próprias ações.
Cometido o suicídio nessa ou naquela circunstância, geramos lesões e
problemas psicológicos na própria alma, dificuldades essas que seremos chamados
a debelar na próxima existência, ou nas próximas existências, segundo as
possibilidades ao nosso alcance.
Assim, formamos, com um suicídio, muitas tentações a suicídio no futuro,
porque em nos reencarnando, carregamos conosco tendências e inclinações, como
é óbvio, na recapitulação de nossas experiências na Terra.
Quando falamos “tentações” não nos referimos a esse tipo de tentações que
acreditamos provir de entidades positivamente infelizes, cristalizadas na
perseguição às criaturas humanas. Dizemos tentações oriundas de nossa própria
natureza.
Sabemos que a tentação em si, na verdadeira acepção da palavra, nasce
dentro de nós. Por isso mesmo poderíamos ilustrar semelhante argumento
lembrando um prato de milho e um brilhante de alto preço: levado o brilhante de
alto preço à percepção de um cavalo, por exemplo, é certo que o equino não
demonstraria a menor reação; mas em apresentando a ele o prato de milho,
fatalmente que ele reagirá, desejando absorver a merenda que lhe está sendo
apresentada.
Noutro ponto de vista, um homem não se interessaria por um prato de milho,
no entanto, se interessaria compreensivelmente pelo brilhante.
Justo lembrar que a tentação nasce dentro de nós. Quando cometemos
suicídio, plasmamos causas de sofrimento muito difíceis de serem definitivamente
extirpadas. Por isso, muitas vezes, os irmãos suicidas são repetentes na prova da
indução ao suicídio, descendo, desprevenidos, à consideração para consigo
próprios.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 43
Benfeitores da Vida Maior são unânimes em declarar que, em todas as
ocasiões nas quais sejamos impulsionados a desertar das experiências a que Deus
nos destinou na vida terrestre, devemos recorrer à oração, ao trabalho, aos métodos
de autodefesa e a todos os meios possíveis da reta consciência, em auxílio de nossa
fortaleza e tranquilidade, de modo a fugirmos de semelhante poço de angústia.
Francisco Cândido Xavier – A Terra e o Semeador – Perg. 136
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 44
2.3.5 A Obsessão Desde a morte do pobre Leonel, verificada, como sabes, por um suicídio em
tão trágicas condições, a família inteira sente ímpetos para o suicídio.
Não ignoras que sua filha Alcina suicidou-se também, dez meses depois
dele próprio. Agora é seu filho Orlando que deseja morrer, havendo já tentado
algumas vezes o ato terrível.
Trata-se de um caso de obsessão coletiva simples, meu caro irmão...
carente de intervenção imediata de socorro espiritual, a fim de que se evitem outros
suicídios na família....
(...)
O chefe da família, Leonel, pôs termo à existência terrena, desfechando um
tiro de revólver no ouvido direito, e que sua filha primogênita, jovem de vinte
primaveras, lhe imitou o gesto alguns meses depois, servindo-se, porém, de um
tóxico violento... O outro filho seu, de quinze anos de idade, tentou igualmente o
sinistro ato, salvando-se, no entanto, graças à ação prestimosa de amigos
agilíssimos, que evitaram fôsse ele colhido por um trem de ferro.
Vimos ambos os suicidas ainda retidos no próprio teatro dos
acontecimentos: Leonel, vagando, desolado e sofredor, a bradar por socorros
médicos, traindo nas próprias repercussões vibratórias o gênero da morte escolhida
sob pressões invisíveis... e Alcina, a filha, com o perispírito ainda em colapso,
desmaiada sob o choque violento do ato praticado.... Distinguimos também os
obsessores...
Yvonne Pereira – Dramas da Obsessão –1º Parte – Cap. 1 – Leonel e os Judeus
A obsessão na infância muitas vezes é continuidade da ocorrência
procedente da Erraticidade. Sem impedir o processo da reencarnação, essa
influencia perniciosa acompanha o período infantil de desenvolvimento, gerando
graves dificuldades no relacionamento entre filhos e pais, alunos e professores,
vida social saudável entre coleguinhas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 45
Irritação, agressividade, indiferença emocional, perversidade, obtusão
de raciocínio, enfermidades físicas e distúrbios psicológicos fazem parte das
síndromes perturbadoras da infância, que tem suas nascentes na interferência de
Espíritos perversos uns, traiçoeiros outros, vingativos todos eles...
Manoel Philomeno de Miranda – Sexo e Obsessão – Cap. 4 – O drama
da obsessão na infância
Certa criança de três anos e alguns meses vinha tentando o suicídio das
mais diferentes maneiras, o que lhe resultara, inclusive, ferimentos: um dia, jogou-
se na piscina; em outro, atirou-se do alto do telhado, na varanda de sua casa;
depois quis atirar-se do carro em movimento, o que levou os familiares a vigiá-
la dia e noite.
Seu comportamento, de súbito, tornou-se estranho, maltratando
especialmente a mãe, a quem dirigia palavras de baixo calão que os pais nunca
imaginaram ser do seu conhecimento.
Suely Caldas Schubert – Obsessão e Desobsessão – Cap. 12 – A criança
obsidiada
Obsidiada fui eu, é verdade.
Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a idéia
da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à
estrada primaveril.
Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela,
fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais
alto no presente.
Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos
familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço;
olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha
justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando
deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração
espiritual.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 46
Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma
porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.
E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se
reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo
infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.
(...). Em verdade, eu era obsidiada ...
Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição
que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.
(...) Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos
amigos encarnados a noção de «responsabilidade» e «consciência», no campo
das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me
consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total
da prova em que vim a desfalecer.
Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 47
2.3.6 Desordens Depressivas
Esta melancolia sistemática, atormentadora, vem-se aprofundando no teu
comportamento, de tal forma, que enveredas, sem dar-te conta, pelas vias torpes da
depressão de grave trato.
Essa tristeza que agasalhas, prejudicial e renitente, coloca a máscara de
dor na tua face, conduzindo-te, inadvertidamente, a uma neurose de lento curso com
todos os seus efeitos danosos.
Aquela fixação, que te vai dominando as paisagens mentais, substitui, a
pouco e pouco, a polivalência das idéias, alienando-se da sociedade onde te
encontras...
A marca do sofrimento reflete-se no teu rosto, qual se fosse feita por garras
devastadoras, que procedem, no entanto, do teu mundo íntimo, conspirando contra
o teu progresso.
A impressão do desgosto passou a compartir com as tuas alegrais,
diminuindo-as e empurrando-te sempre para os abismos da psicose maníaco-
depressiva.
O cultivo dos pensamentos deprimentes gera, na tua conduta, a destruição
dos ideais superiores, amargurando as horas que poderias fruir como estímulo para
o prosseguimento da tua jornada.
Joanna de Angelis – Revista Reformador – 1988 – Maio – Loucura e Suicídio
Frente a frente com esta realidade, que assusta e fere, vamos encontrar
jovens que procuram abrigo nos falsos refúgios da tristeza e da amargura.
Outros apelam para a rebeldia e para a agressividade. Buscam nesses meios
a forma de neutralizar os açoites psicológicos a que se vêem expostos,
ininterruptamente.
Ativando os mecanismos da defesa psíquica, muitos jovens alheiam-se da
realidade, aprisionando-se, lentamente, nas malhas da depressão.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 48
A depressão faz instalar no recôndito do ser desta jovem criatura uma
amargura profunda, uma dor infinita, uma tristeza sem-fim. O Espírito adoece,
passo a passo, chegando a ponto de ver na morte, no atentado à existência física,
a solução que lhe parece salvadora.
Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Agosto – Suicídio na
Adolescência
Induvidosamente, é esta a consequência mais terrível da depressão: o
suicídio.
Quando ele ocorre, deixa marcas profundas, dificilmente superáveis, nos
familiares e amigos. Estes, atravessarão largo período da existência se perguntando:
O aconteceu para que ele/ela fizesse isto? E agora, o que será de nosso ente querido?
Onde e como teremos falhado para com ele/ela?...
O suicídio, consoante magistério da Doutrina Espírita, pode ser
direto/indireto, ou consciente/inconsciente.
Suicídio indireto/inconsciente, como facilmente se compreende, é aquele
em que a morte não é buscada deliberadamente, num gesto precipitado, irreversível.
A pessoa, dominada por uma tristeza longamente agasalhada (para nos
referirmos somente à depressão), pouco e pouco vai se abatendo, entregando-se ao
desalento, consumindo as forças psíquicas e físicas, até que o corpo, perdidas todas
as resistências, não mais permite que a alma nele se mantenha, expulsando-a da
vida.
Nessa morte emocional a pessoa se nega a viver.
A tristeza longamente agasalhada, a mágoa conservada, a rebeldia
sistemática, a irritação constante, o desespero irrefreado, dentre outros estados
emocionais mórbidos, podem ser considerados suicídios indiretos/inconscientes,
cujos efeitos no além-túmulo, serão danosos para o espírito. Este, se não superada
a aflição enquanto no corpo, prosseguirá desditoso além da vida física, podendo
assim permanecer na Erraticidade até reencarnar trazendo, no bojo subconsciencial,
a depressão não superada.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 49
A depressão, portanto, pode ser comparada a um suicídio psicológico,
que se dá pela ausência de valor moral para o enfrentamento das vicissitudes.
O depressivo não faz a opção por si mesmo, optando pela derrocada e vendo
no fracasso algo natural ou inevitável.
Izaias Claro – Depressão Causas, Consequências e Tratamentos – Pag. 104
É possível que os distúrbios serotônicos respondam pelo ato alucinado,
muito embora não deixem de ser o resultado de agentes psicológicos mais sutis
e graves, como a angústia, a insegurança, os conturbadores fenômenos
psicossociais e econômicos, as enfermidades crucificadoras, o sentimento de
desamparo e de perda, todos com sede na alma imatura e ingrata, fraca de recursos
morais para sobrepô-los às contingências transitórias desses propelentes ao ato
extremo.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 –
Suicídio – solução insolvável
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 50
2.3.7 Tédio da Vida
Por outro lado, aparecem indivíduos que se aferram aos objetivos que se
lhes representam como vida: amar apaixonadamente alguém, cuidar de outrem,
dedicar-se a um labor, a uma tarefa artística ou não, a um ideal ou à abnegação, e
que, concluída a motivação, negam-se a viver, matando-se emocionalmente e
sucumbindo depois...
Joanna de Angelis – Momentos de Iluminação – Cap. Opção pela Vida
Preencha as horas vazias com trabalho útil.
A ferrugem sempre agride a ferramenta inativa.
(...)
Todos somos chamados à vida para glorifica-la no serviço do bem e no
aperfeiçoamento de nós mesmos.
Entretanto, se teimamos em marcar passo, rendendo culto sistemático ao
tédio, ninguém pode prever quantas vezes recomeçaremos.
André Luiz – Caderno de mensagens – Cap. 66 – Remédio contra o Tédio
Quando o tédio te procure, vai à escola da caridade… Ela te acordará para
as alegrias puras do bem e te fará luz no coração, livrando-te das trevas que
costumam descer sobre as horas vazias.
Emmanuel – Coragem – Cap. 1 – Quando o Tédio apareça
Trabalha constantemente
Se procuras luz e paz.
O tédio é a chaga invisível
Daquele que nada faz.
Casimiro Cunha – Gotas de Luz – Cap. 34 – Apartes
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 51
Quem sofra a prisão do tédio,
Se anseia libertação,
Use sempre este remédio:
— Trabalhar para ser são.
Orlando Candelária – Sorrir e Pensar – Cap. 13 – Temas da Obsessão
Gente que sofre de tédio
E a todo instante se enguiça,
Não se sabe se é doente
Ou se é caso de preguiça.
Cornélio Pires – Degraus da Vida – Cap. 9 – No abuso
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 52
2.3.8 Conflitos Familiares
O espetáculo trágico, todavia, assume gravidade e constrangimento
maiores, quando crianças -- que ainda não dispõem do discernimento -- optam
pela aberrante decisão.
Amadurecidas precipitadamente, em razão dos lares desajustados e das
famílias desorganizadas; atiradas à agressividade e aos jogos fortes com que a atual
sociedade lhes brinda, extirpando-lhes a infância não vivida, sobrecarregam-se de
angústias e frustrações que as desgastam, retirando-lhes da paisagem mental a
esperança e o amor.
Vazias, desprotegidas do afeto que alimenta os centros vitais de energia e
beleza, vêem-se sem rumo, fugindo, desditosas, pela porta mentirosa do suicídio.
Ademais, grande número delas, suicidas do passado, renascem com as
impressões do gesto anterior e, porque desarmadas, na sua quase totalidade, de
equilíbrio, vendo, ouvindo e participando dos dramas em que se enleiam os adultos
que não as respeitam, repetem o ato infeliz, tombando nas refregas da dor que
posteriormente as trarão de volta em expiações muito laceradoras.
Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 –
Suicídio solução insolvável
Uma outra reflexão, mais aprofundada, merece ser considerada por todas as
criaturas devotadas ao bem: trata-se do suicídio na puberdade e adolescência.
Jovens, apenas contando com poucos anos de experiência reencarnatória,
são conduzidos ao suicídio em decorrência de causas diversas, tais como: conflitos
familiares; fragilidade da estrutura moral própria do Espírito; dependência
de substâncias químicas que conduzem ao vício; obsessão.
Os conflitos familiares destacam-se em relação às demais causas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 53
Os contínuos choques dos embates domésticos, entre cônjuges e filhos,
produzem impactos de monta nas estruturas psíquicas dos envolvidos.
A desunião familiar, associada ao desamor, assemelha-se à ação dos tóxicos
que produzem alucinações na mente da criança e do jovem. A ausência do amor nas
relações familiares, manifestada sob a forma de comportamentos extremados de
abandono ou superproteção, infiltram ilusões perniciosas no psiquismo do
Espírito em processo de recomeço nas experiências do plano físico
Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Junho – Suicídio na Adolescência
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 54
2.3.9 Isolamento Social/Solidão
A família tem uma responsabilidade enorme nesse processo, afirma Denise
Machado Duran Gutierrez. “O velho não só sofre processo de migração, de
deslocamento”. Mas, também, muitas vezes na própria casa, perde o quarto
principal, vai para um quartinho de fundo.
Os filhos, quando o levam ao médico, falam por ele, o tratam como criança,
desautorizam no médico.
O idoso vai perdendo voz, “espaço”, acusa a especialista. Em uma pesquisa
sobre 51 casos de suicídio cometidos por pessoas com mais de 60 anos, a professora
da Universidade Federal do Amazonas identificou que o fator de maior frequência
por trás do ato foi o isolamento social: ao investigar com familiares das vítimas,
constatou que esse foi o motivo de 32,1% dos homens e 31,7% das mulheres.
Paloma Oliveto – Sem Forças – Correio Braziliense – 17/02/2017
A solidão pode ser considerada como uma das principais causas da
ocorrência do suicídio.
Na fase da velhice que a solidão se apresenta mais desesperadora, com
o passar dos anos, os sentimentos de solidão e vazio existencial tornam-se mais
consistentes e angustiantes.
Na velhice, ocorre um sentimento de abandono e este sentimento se mostra
real à medida que este velho se vê abandonado por uma sociedade que valoriza o
papel social produtivo, pela família que não o tem mais como sustentáculo, e enfim,
por ele mesmo que acaba sendo acometido por uma desesperança angustiante.
Frente a tanto descaso, se isola abraçando a solidão.
O idoso torna-se invisível, transparente, para a sociedade, para a família
e por vezes até para ele mesmo, e esse isolamento é um dos aspectos mais dolorosos
da condição humana.
A sociedade desvaloriza e marginaliza o idoso, fazendo com que este veja
na morte uma saída desesperada.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 55
A ausência de motivação, inapetência, indiferença intelectual, tédio,
sentimento de decadência, insegurança, dependência afetiva, ruptura de
comunicação, etc. são alguns aspectos psicológicos da velhice, que são reforçados
pela hostilidade da sociedade com relação aos velhos, ou pelos próprios velhos,
como defesa contra tal hostilidade.
Valdirene Alves de Lima – Suicídio na Terceira idade – Universidade
Católica de Brasília – 2010
Adicionalmente, existe muita dificuldade na comunicação no cotidiano, seja
porque, algumas vezes os familiares exigem determinado tipo de comportamento
da pessoa idosa, seja porque ela própria, acostumada a mandar, ordenar e ser
obedecida passa a ser comandada por outra família nuclear à qual se agrega.
Frequentemente o idoso não sabe lidar com essas novas situações, sente-se
tolhido em seus desejos e modo de pensar, o que lhe causa uma angústia
indescritível.
A falta de apoio familiar pode ser um fator preditivo para o comportamento
suicida dos idosos.
O empobrecimento das relações primárias se reflete na dinâmica cotidiana,
o que torna o ambiente de convivência insuportável.
O idoso se ressente quando filhos, netos, noras e genros não se entendem,
pois, isso o priva dos encontros com familiares queridos e o isola ainda mais. Por
se sentir sem amparo emocional ou por não ter o suporte adequado das pessoas a
quem ama, a pessoa idosa vai se desprendendo do elo com a vida e passa a deseja
antecipar seu fim.
Outro ponto de tensão é a inexistência de manifestações de afetos entre os
membros das famílias, a sensação de abandono dos familiares e amigos, e a falta de
apoio para lidar com as situações depressivas.
Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos
familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência &
Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 56
3 O SUICÍDIO E A OBSESSÃO
3.1 O Suicídio por processo Obsessivo 3.1.1 Considerações Gerais
O suicídio, como ninguém mais ignora, constitui para o Espírito, que a ele
se aventurou em tão adversa hora, um estado complexo de semiloucura, situação
crítica e lamentável de descontrole mental, forçando estudos e exames especiais
dentro da própria Revelação Espírita.
Entretanto, existem nele certos traços gerais, que convêm examinados ainda
uma vez:
— Os suicídios que tiveram por causa a obsessão de um Espírito perverso,
sobre o encarnado, apresentam certa parcela de atenuantes para a vítima e
agravantes para o algoz.
Existem suicidas que se viram sugestionados a cometerem o ato terrível,
através do sono de cada noite, por uma pressão obsessora do seu desafeto espiritual,
desafeto que poderá ser também um espírito encarnado, e à qual não se puderam
furtar, tal o paciente que, recebendo do seu magnetizador uma ordem durante o
transe sonambúlico, cumpre-a exatamente dentro do prazo determinado por este,
mesmo quando se passaram já muitos meses depois da experiência.
Outros existem que não querem absolutamente morrer, não desejam o
suicídio; que relutam mesmo contra a idéia por que se vêem atormentados e se
horrorizam ao compreender que algo desconhecido os arrasta para o abismo,
abismo esse que temem e ante o qual se apavoram.
Apesar disso, sucumbem, precipitam-se nele, uma vez que, deseducados da
luz das verdades eternas, desconhecedores do verdadeiro móvel da vida humana,
como da natureza espiritual do homem, não lograram forças nem elementos com
que se libertarem do jugo mental terrível e malfazejo, cujo acesso permitiram.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 57
Eles vêem junto a si antes de efetivado o ato, com impressionante segurança,
tais se materializados fossem diante dos seus olhos corporais, os quadros mentais
que o obsessor fornece através da telepatia ou da sugestão: — um receptáculo de
veneno ou substância corrosiva; um revólver engatilhado, que misteriosa mão
sustém, oferecendo-lhe; uma queda de grande altura, onde eles próprios se vêem
despenhando; um veículo em movimento, sob o qual se deverá arrojar, etc.
Sofrem assim, por vezes, durante meses consecutivos, sem ânimo para
confidenciarem com amigos, uma agonia moral extenuante e arrasadora, uma
angústia deprimente e inconsolável, que lhes agravam os males que já os
infelicitavam, angústia que nenhum vocábulo humano será eficiente para bem
traduzir.
Notemos, todavia, que tratamos tão somente da obsessão simples, ou seja,
daquela que é ignorada por todos, até mesmo pelo obsidiado, da que se não revela
ostensivamente, objetivando alteração das faculdades mentais, mas que, sutilmente,
ocultamente, através de sugestões lentas, sistemáticas, solapa as forças morais da
vítima, tornando-a, por assim dizer, incapaz de reações salvadoras.
Pouco a pouco, sob tão doentia pressão magnética, uma tristeza suprema e
avassalador desânimo comprometem as energias do assediado.
Aterrador alarme desorienta-o, todos os fatos da vida, mesmo os mais
vulgares, se lhe apresentam ao raciocínio contaminados pela infiltração obsessora,
dramáticos, maus, irremediáveis!
Esquece-se ele de tudo, até mesmo do seu Criador, ao qual, em verdade,
jamais considerou, mas em cujo amor encontraria proteção e forças para resistir à
tentação.
E somente se preocupa com o meio pelo qual se furtará aos males que o
afligem.
Então sucumbe sem apelação, curva-se à vontade que conseguiu dominar a
sua vontade, servindo-se da sua fraqueza de homem despreocupado das razões da
Vida e ignorante de si mesmo, que da existência só conheceu, muitas vezes, a feição
meramente animal.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 58
Daí se concluirá, então, da necessidade de os homens procurarem conhecer
a si mesmos, isto é, que possuem nos recessos da personalidade um sexto-sentido,
um dom natural capaz de permitir tais desastres, se se conservar ignorado, e se eles
próprios, os seus portadores, preferirem viver alheios às causas sérias e elevadas,
que lhes permitiriam a harmonização com estados psíquicos superiores, que de tudo
isso os eximiriam, uma vez que o obsidiado possuirá, forçosamente, para que se
torne obsidiado, os ditos dons mediúnicos, tal como toda a Humanidade os possui.
Ora, o suicídio, assim efetuado, transformou-se antes num assassínio
gravíssimo, contornado de agravantes, cometido pelo obsessor, que responderá pela
crueldade exercida, perante a justiça do Criador Supremo.
Quanto ao obsidiado, sua responsabilidade certamente foi profunda, em
razão de haver permitido acesso às arremetidas inferiores, por se conservar
igualmente inferior, não desejando o próprio progresso com a renovação dos
próprios valores morais à procura do ser espiritual e divino existente em si, não
tentando reações de ordem moral e mental para dignamente se equilibrar nos
deveres impostos pela existência.
Responderá, portanto, pela fraqueza e a descrença que testemunhou,
enfrentando, após o suicídio, momentos críticos, decepcionantes, da vida do Além,
e retornando à Terra para, em existência nova, terminar a que fora interrompida pela
fragilidade demonstrada ao entregar-se às mãos do algoz, sem tentar defender-se
com as devidas diligências, ou reações.
Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – Cap. 6
O suicídio alcança, na atualidade, cifras assustadoras, e, nas faixas extremas
da existência humana – juventude e velhice – revelam-se como sendo os níveis
de ocorrência acentuada. Homens e mulheres fogem dos problemas que lhes
martirizam a existência por atentados à própria vida, os quais lhes minam as forças
e lhes produzem sofrimentos maiores.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 59
As taxas de suicídio, aumentadas nas últimas décadas, revelam outro ponto
alarmante: o gênero de suicídio. Neste sentido, é significativo o número de pessoas
que retornam ao plano espiritual trazendo mutilações perispirituais severas em
razão das formas selecionadas para concretizar o atentado contra a vida.
Uma outra reflexão, mais aprofundada, merece ser considerada por todas as
criaturas devotadas ao bem: trata-se do suicídio na puberdade e adolescência.
Jovens, apenas contando com poucos anos de experiência reencarnatória,
são conduzidos ao suicídio em decorrência de causas diversas, tais como: conflitos
familiares; fragilidade da estrutura moral própria do Espírito; dependência
de substâncias químicas que conduzem ao vício; obsessão.
Os jovens que adotam comportamentos agressivos e ofensivos,
caracterizados por um estado de permanente rebeldia, revelam, na verdade, uma
forma de chamar a atenção daqueles que, intimamente, são por eles classificados
de seus prováveis homicidas, em razão da existência infeliz que lhes submetem.
A tragédia do suicídio na adolescência deve ser considerada com ênfase e
relevância nos programas e planejamentos da Casa Espírita, pois uma ação
conjunta, fundamentada no amor legítimo, pode reverter esse quadro doloroso.
Este é o apelo da nossa alma!
Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Junho – Suicídio na Adolescência
Em 1945, em Salvador/BA, praticamente um adolescente e recém chegado
de sua terra natal, Feira de Santana/BA, Divaldo conseguiu seu primeiro emprego
numa Seguradora, sendo admitido como datilógrafo.
Ele começou com entusiasmo, vindo do interior, mas após treze dias de
trabalho foi demitido pelas circunstâncias econômicas desfavoráveis do pós 2ª
Guerra Mundial.
Ele ficou muito abatido e parecia que o mundo iria desabar.
Os Espíritos infelizes se aproveitaram da situação para inspirá-lo a suicidar-
se, pois ele sofria muito, e deveria atirar-se do Elevador Lacerda.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 60
Quase numa euforia hipnótica, ele chegou a subir nesse Elevador e
preparava-se para saltar, quando teve a percepção do Espírito de uma irmã já
desencarnada, que lhe disse que não fizesse aquilo, pois o suicídio nada resolveria.
Divaldo teve uma forte emoção e desmaiou, servindo como primeiro aviso
para necessidade da vigilância.
Washington Luiz Nogueira Fernandes – Jornal Mundo Espírita – 2007 –
Agosto
Até onde vai a minha lembrança eu sempre detectava a presença de uma
Entidade, um sacerdote romano, respeitável, com ares adversários contra mim,
numa atitude agressiva, ameaçando-me, a princípio de forma educada e depois com
muita rispidez, e prometendo que, se eu não seguisse as suas diretrizes ele
terminaria por me destruir.
Mas eu era muito jovem para entender essas sutilezas da mediunidade.
Passaram-se os anos e, quando me tornei espírita, começando a exercer a
mediunidade, fui constatando, a pouco e pouco, que ser médium não é uma viagem
ao país da fantasia.
É uma tarefa muito séria e de alta responsabilidade.
Nesse ínterim, a Entidade começou a dar-me uma assistência negativa, pois,
à medida que se passava o tempo, mais eu me afeiçoava ao contexto do Espiritismo,
de tal forma que a sua atuação tornou-se muito dolorosa.
Nos momentos difíceis da minha vida ele esteve presente.
No rol das minhas lembranças, vem-me à mente uma tentativa malograda
de suicídio, quando eu contava dezenove anos, por afogamento, no mar.
Numa noite — eu tinha certas visões desagradáveis — então, sofri um
desses fenômenos e ouvi uma voz me chamando e me hipnotizando.
Dizia que a solução para mim — a única — seria destruir o corpo, porque,
na Terra, eu sofria muito, e, se destruísse o corpo, iria ser plenamente feliz, partiria
para o Mundo Espiritual, onde estavam as pessoas que me amavam, aquelas que
estão vinculadas a mim, e que já era tempo de me libertar dessa canga difícil, que
era a vida física.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 61
Morávamos perto da praia. Eu saltei a janela e fui sendo arrastado pela
indução hipnótica em direção ao mar.
Era madrugada e não havia ninguém por perto. Nilson, que é muito
vigilante, percebeu o que estava acontecendo e me acompanhou. Notou, quando eu
me lancei mar a dentro.
As primeiras ondas molharam-me os pés, mas eu prossegui.
(Até hoje eu não sei nadar). Fui entrando sob aquele fascínio, até que as
ondas bateram no meu rosto, provocando-me um choque e despertando-me. Ao dar-
me conta da situação, fiquei desesperado: ver-me com roupa dentro do mar, de
pijama e sem saber o que havia acontecido.
Nilson estava próximo, orando, porque ele conhecia a interferência Divina,
que nunca falta.
Nesse exato momento, quando ele me viu a debater e gritar, atirou-se às
ondas e me resgatou, trazendo-me para a praia.
Quando eu ia saindo das águas, amparado por ele, vi a Entidade, com
aspecto dominador, dizendo que me mataria, não adiantava recalcitrar: ou eu
abandonava o meu compromisso recebido com o Espiritismo ou ele me destruiria.
Repetia que eu tinha deveres para com a sua antiga doutrina e que a estava
conspurcando; que o meu labor era com a religião tradicional; que não tinha o
direito de me desviar dela, fosse qual fosse a justificativa.
Passaram-se os anos. Aquele foi um período amargo da minha vida; o dos
testemunhos. Esse Espírito criou-me injunções, as mais dolorosas.
Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de Ferro
Sairás da morte, tantas vezes quantas forem necessárias, mas da vida jamais.
Emmanuel – Recados do Além – Cap. 28 – Imortalidade
Aos irmãos quase suicidas
Esta nota breve e amarga:
Poderás largar o corpo
Mas a vida não te larga.
Arnold Souza – Rumos da vida — Cap. 2 – Vida diária
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 62
3.1.2 Profilaxia – Diretrizes Gerais 1. ORAR INSISTENTEMENTE
Ore, pedindo a Deus mais luz para vencer as sombras e romperás as
cadeias da aflição.
2. LEITURAS ELEVADAS
Leia uma página edificante, que lhe auxilie o raciocínio na mudança
construtiva de idéias.
3. CONVERSAÇÃO EDIFICANTE
Tente contato de pessoas, cuja conversação lhe melhore o clima
espiritual.
4. APRENDIZADO CONSTANTE
Procure um ambiente, no qual lhe seja possível ouvir palavras e instruções
que lhe enobreçam os pensamentos
5. TRABALHO FRATERNAL
Visite um enfermo, buscando reconforto naqueles que atravessam
dificuldades maiores que as suas.
6. DISTRAÇÃO POSITIVA
Ouça uma música enriquecedora, que te leve a reminiscências agradáveis
ou a planificações animadoras.
7. MEDITAÇÃO ADEQUADA
Pensa no teu futuro ditoso, que te aguarda.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 63
8. VIGIAR SENTIMENTOS
Vigie os seus sentimentos, pensamentos e palavras nas relações com os
outros. O que damos, recebemos de volta.
9. CONVIVÊNCIA HARMÔNICA
Você pode estar sendo algoz sem perceber. Pense nisso constantemente,
para melhorar as suas relações com os outros.
Joanna de Ângelis – Momentos de Saúde e de Consciência – Cap. 14 – Dias de
Sombras
Herculano Pires – Obsessão, Passe, e Doutrinação – 1º Parte – Cap. 8 – Roteiro
da Desobsessão
André Luiz – Busca e Acharás – Cap. 19 – Texto Antidepressivo
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 64
3.2 O Suicídio por processo Obsessivo – Infanto-Juvenil 3.2.1 Características Gerais
O suicídio alcança, na atualidade, cifras assustadoras, e, nas faixas extremas
da existência humana – juventude e velhice – revelam-se como sendo os níveis
de ocorrência acentuada. Homens e mulheres fogem dos problemas que lhes
martirizam a existência por atentados à própria vida, os quais lhes minam as forças
e lhes produzem sofrimentos maiores.
As taxas de suicídio, aumentadas nas últimas décadas, revelam outro ponto
alarmante: o gênero de suicídio. Neste sentido, é significativo o número de pessoas
que retornam ao plano espiritual trazendo mutilações perispirituais severas em
razão das formas selecionadas para concretizar o atentado contra a vida.
Uma outra reflexão, mais aprofundada, merece ser considerada por todas as
criaturas devotadas ao bem: trata-se do suicídio na puberdade e adolescência.
Jovens, apenas contando com poucos anos de experiência reencarnatória,
são conduzidos ao suicídio em decorrência de causas diversas, tais como: conflitos
familiares; fragilidade da estrutura moral própria do Espírito; dependência
de substâncias químicas que conduzem ao vício; obsessão.
Os jovens que adotam comportamentos agressivos e ofensivos,
caracterizados por um estado de permanente rebeldia, revelam, na verdade, uma
forma de chamar a atenção daqueles que, intimamente, são por eles classificados
de seus prováveis homicidas, em razão da existência infeliz que lhes submetem.
A tragédia do suicídio na adolescência deve ser considerada com ênfase e
relevância nos programas e planejamentos da Casa Espírita, pois uma ação
conjunta, fundamentada no amor legítimo, pode reverter esse quadro doloroso.
Este é o apelo da nossa alma!
Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Junho – Suicídio na Adolescência
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 65
Toda tentativa de suicídio de um adolescente é dirigida a alguém e
expressa a necessidade de afeto, de amor, de ser ouvido e reconhecido como
pessoa. Deve ser interpretada como uma pergunta que requer resposta.
Nos últimos anos tem havido um aumento na incidência de suicídios
entre os jovens de 15 a 24 anos de idade.
A saúde física dos jovens tem melhorado, mas aumenta a incidência de
transtornos de conduta, de conduta antissocial, de consumo de álcool e/ou
drogas e de condutas suicidas
A tentativa de suicídio: é um ato não fatal, incrementada nos últimos
tempos, sobretudo entre as mulheres adolescentes ou jovens. É impulsiva,
utilizando substâncias medicamentosas.
Acompanhando os adolescentes que tentaram o suicídio, observou-se
que 10% acabam se suicidando dentro de 10 anos do primeiro episódio.
Somente 1/4 dos que tentam suicidar-se procuram consulta médica, porque
acreditam que podem resolver seus problemas sem ajuda.
Edith Serfaty – psicóloga argentina – Suicídio na Adolescência/1998 –
SASIA–Sociedad Argentina de Salud Integral dei Adolescente–Revista
Adolescência Latino–americana – 1414– 7130/98/1–105–110.
A tentativa de suicídio entre jovens é, acima de tudo, um grito de dor, de
desespero e um pedido de ajuda.
Ghislaine Bouchard, psiquiatra canadense – O Suicídio na
Adolescência/2003 – <http://pt.scribd.com/doc/47618459/Suicidio-na-
adolescencia>.
A tentativa mostra muitas vezes que as crianças querem dizer que estão
muito bravas ou tristes, mas não sabem como articular isso. E muitas pesquisas
mostram que a maioria dos que tentam se suicidar acaba se arrependendo do ato.
Eileen Kennedy-Moore, psicóloga américa – autora de livros para pais,
crianças e profissionais de saúde mental/BBC Brasil– 07/08/2017/Número de
crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 66
Crianças também são capazes de compreender as situações de estresse
que cercam, e sofrer tão desesperadamente, que acabam cogitando tirar suas
curtas vidas para não mais encarar os problemas.
Elisa Seminotti, psicóloga brasileira, especialista em Saúde Pública –
UFRGS– Suicídio Infantil – Reflexões sobre o cuidado médico/2011
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 67
3.2.2 O Processo Obsessivo
A obsessão na infância muitas vezes é continuidade da ocorrência
procedente da Erraticidade. Sem impedir o processo da reencarnação, essa
influência perniciosa acompanha o período infantil de desenvolvimento, gerando
graves dificuldades no relacionamento entre filhos e pais, alunos e professores,
vida social saudável entre coleguinhas.
Irritação, agressividade, indiferença emocional, perversidade, obtusão
de raciocínio, enfermidades físicas e distúrbios psicológicos fazem parte das
síndromes perturbadoras da infância, que tem suas nascentes na interferência de
Espíritos perversos uns, traiçoeiros outros, vingativos todos eles...
Manoel Philomeno de Miranda – Sexo e Obsessão – Cap. 4 – O drama da
obsessão na infância
Certa criança de três anos e alguns meses vinha tentando o suicídio das
mais diferentes maneiras, o que lhe resultara, inclusive, ferimentos: um dia, jogou-
se na piscina; em outro, atirou-se do alto do telhado, na varanda de sua casa;
depois quis atirar-se do carro em movimento, o que levou os familiares a vigiá-
la dia e noite.
Seu comportamento, de súbito, tornou-se estranho, maltratando
especialmente a mãe, a quem dirigia palavras de baixo calão que os pais nunca
imaginaram ser do seu conhecimento.
Suely Caldas Schubert – Obsessão e Desobsessão – Cap. 12 – A criança
obsidiada
O chefe da família, Leonel, pôs termo à existência terrena, desfechando um
tiro de revólver no ouvido direito, e que sua filha primogênita, jovem de vinte
primaveras, lhe imitou o gesto alguns meses depois, servindo-se, porém, de um
tóxico violento...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 68
O outro filho seu, de quinze anos de idade, tentou igualmente o sinistro ato,
salvando-se, no entanto, graças à ação prestimosa de amigos agilíssimos, que
evitaram fôsse ele colhido por um trem de ferro.
Vimos ambos os suicidas ainda retidos no próprio teatro dos
acontecimentos: Leonel, vagando, desolado e sofredor, a bradar por socorros
médicos, traindo nas próprias repercussões vibratórias o gênero da morte escolhida
sob pressões invisíveis... e Alcina, a filha, com o perispírito ainda em colapso,
desmaiada sob o choque violento do ato praticado.... Distinguimos também os
obsessores...
Yvone Pereira – Dramas da Obsessao – 1º Parte – Cap. 1
Obsidiada fui eu, é verdade.
Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a idéia
da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à
estrada primaveril.
Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela,
fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais
alto no presente.
Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos
familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço;
olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha
justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando
deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração
espiritual.
Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma
porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.
E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se
reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo
infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.
(...). Em verdade, eu era obsidiada ...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 69
Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição
que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.
(...) Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos
amigos encarnados a noção de «responsabilidade» e «consciência», no campo
das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me
consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total
da prova em que vim a desfalecer.
Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão
Querida mamãe Aparecida, abençoe a sua filha, perdoando-me o
desequilíbrio a que me entreguei, sem pensar na dor que lançava em meu próprio
caminho.
Sou trazida até aqui pela vovó Maria Honorata porque por mim própria, não
conseguiria vir.
Sei que alterei a família toda com a resolução infeliz.
Querida mãezinha, você e o papai Mauro me perdoarão se procurei aquela
arma propositadamente. Aproveitei o ruído daquele mesmo aparelho de som que a
sua bondade me deu com sacrifício para liquidar comigo!
Ninguém conseguirá imaginar o sofrimento da infeliz menina que fui por
minha própria conta! Nada sabia da vida, nem guardava experiência alguma,
entretanto, a ideia de me ausentar do mundo me obcecava…
Não pensei no sofrimento dos meus e nem avaliei quanto me queriam todos
em casa. Um pequenino desgosto de criança rebelde e compliquei tanta gente…
Fernanda – Vida nossa Vida – Cap. 5 – Fernanda Luíza Batista dos
Santos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 70
3.2.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes
3.2.3.1. Sinais de Alerta
i. Agressividade e desesperança são os fatores mais comuns.
ii. Menor potencial para geração de soluções alternativas para situações
problemáticas interpessoais e menor flexibilidade para enfrentar situações
problemáticas.
iii. Estilo de atribuição disfuncional (considerar eventos negativos como de sua
responsabilidade, duradouros ou de impacto sobre todos os aspectos de sua
vida) – frequente associação com quadros depressivos de longa evolução.
iv. Impulsividade.
v. Humor deprimido.
vi. Queda do rendimento escolar.
vii. Aumento do isolamento social.
viii. Perda de interesse em atividades que antes davam prazer.
ix. Mudança na aparência (negligência ou desleixo aos cuidados pessoais).
x. Preocupação com temas relacionados a morte.
xi. Aumento da irritabilidade, crises explosivas de raiva.
xii. Alterações no comportamento.
xiii. Desfazer de pertences.
xiv. Uso de álcool ou drogas.
xv. Mudança no padrão do sono e/ou apetite.
xvi. Uso de expressões verbais “autodestrutivas”.
Márcio Candiani – Suicídio na Infância e Adolescência
Há uma pressão extrema sobre esse grupo por competição, ambições e
preocupações com o futuro.
Crises econômicas também têm impacto, uma vez que alguns jovens se
sentem um fardo para as famílias.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 71
Jogos, vídeos, TV e filmes também influenciam muito as mentes dos jovens.
Outra chave para a questão são outros suicídios a que esses jovens expostos. O
contágio do suicídio é real, e os jovens são particularmente sensíveis a ele.
Daniel J. Reidenberg, diretor do Conselho Nacional para Prevenção de
Suicídios (USA) – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas
por tentativa de suicídio dobrou nos EUA
Há muitas formas de o jovem expressar o seu desejo de suicídio de maneira
inconsciente, como se envolvendo em acidentes automobilísticos nos quais
começam de formas mais brandas; através da ingestão de pequenas quantidades
de comprimidos que podem evoluir em gravidade e em potencial causando a
morte; uso de armas de fogo e outros.
Na permanência desses comportamentos se faz necessário a participação
ativa da família, mudança no seu meio social, acompanhamento psicológico, e de
acordo com a gravidade, acompanhamento psiquiátrico com a parceria de
antidepressivos.
Ênio Resmini – Suicídio na Adolescência. Psichiatry on Line Brazil, Part
of The International Journal of Psychiatry – ISSN 1359 7620, v. 11, n. 1,
mar/2016
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 72
3.2.3.2. Fatores de Risco
i. 90% dos jovens apresentam algum transtorno mental no momento
do suicídio (e em 50% destes o transtorno mental já estava presente havia pelo
menos 2 anos);
ii. Problemas de rendimento e conduta escolar (cobrança dos
pais/bullings),
iii. Mudanças sociais abruptas;
iv. Acesso fácil a armas de fogo;
v. Problemas amorosos;
vi. Abuso físico ou sexual;
vii. Conduta suicida de familiares ou amigos e problemas familiares de
diversas naturezas;
viii. Separação dos pais;
ix. Ausência do pai ou da alguma figura parental;
x. Violência familiar;
xi. Conflitos diversificados (identidade sexual, relacionamento
interpessoal, autoimagem corporal, autoestima)
xii. Falta de comunicação entre os pais e filhos.
Márcio Candiani – Suicídio na Infância e Adolescência
A adolescência é um período do desenvolvimento marcado por diversas
modificações biológicas, psicológicas e sociais; e essas mudanças, geralmente, são
acompanhadas de conflitos e angústias.
Às vezes, quando expostos às intensas e prolongadas situações de
sofrimento e desorganização, os adolescentes podem desenvolver patologias e
tornar-se mais vulneráveis ao suicídio.
É, também, nesse período que tanto as ideações quanto às tentativas
ganham uma maior proporção, quando associadas ao quadro depressivo, embora
essa situação não se restrinja somente à adolescência.
Vivian Roxo Borges – Estudo de ideação suicida em adolescentes de 15 a
19 anos. Estudo de Psicologia (Natal) Vol. 11, n. 3, Natal, Set/Dez.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 73
Os dados apontados pelas pesquisas não devem ser ignorados pelos pais –
cujo maior erro costuma ser achar que histórias relativas a suicídio em jovens nunca
acontecerão com pessoas próximas.
As referências a suicídios no noticiário podem servir como oportunidade
para conversas sobre o tema entre pais e filhos.
Pergunte a eles por que acham que isso está acontecendo e se sentem algo
semelhante. Assim, você pode descobrir muito sobre o que eles ou seus amigos
estão vivendo.
A presença dos pais nas vidas das crianças e jovens é a estratégia mais
eficaz, segundo os entrevistados.
Muitas vezes, nós enchemos a agenda dos nossos filhos com atividades
porque pensamos que é saudável, quando seria melhor ter mais tempo com
relações humanas saudáveis e realmente gastar tempo em família com
qualidade, sem dispositivos eletrônicos
Lisa Elliott – psicóloga – Chefe da ala de saúde comportamental do
hospital pediátrico Cook Children's/ Texas/USA/BBC Brasil– 07/08/2017/Número
de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA
Detectado o risco, a primeira providência é conversar. Parece óbvio, mas
não é. Na maioria dos casos, os adultos acreditam que se fingirem que não
perceberam, a criança ou o adolescente pode mudar de ideia. Outros tantos acham
que falar em suicídio é uma ameaça típica da idade. Ambas as atitudes estão
erradas.
É preciso sempre levar a sério e acreditar no que a criança ou o
adolescente diz. É importante ter uma conversa, sem julgamentos, para que ele não
se sinta tolhido em falar
Karen Scavacini, mestre em saúde pública e especialista em prevenção ao
suicídio – Em dez anos, suicídio de crianças e pré-adolescentes cresceu 40% no
Brasil – http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-dez-anos-suicidio-de-
criancas-e-pre-adolescentes-cresceu-40-no-brasil.html
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 74
3.2.3.3. Prevenção
O lar, cristãmente organizado, é o maior antídoto para o autocídio, porque
conscientiza o jovem de que corpo é veste – despe-se a indumentária, mas não se
anula a vida, dando-lhe força moral para resistir às vicissitudes.
No lar, onde está acesa a lâmpada de Jesus, o suicídio passa à distancia,
desde que aí se aprende que um corpo, mesmo ultrajado pelas deformidades, e
um psiquismo dilacerado pelas injunções do passado, são bênçãos da
reencarnação.
O lar erguido sobre as bases do Evangelho, é a solução preventiva, a
terapêutica antecipada para a problemática do autocídio.
Através de uma visão correta sobre a realidade do ser, do seu destino,
dos seus objetivos na Terra, o adolescente aprenderá a esperar, semeando e
cuidando da gleba na qual prepara o futuro, a fim de colher os frutos especiais no
momento próprio, frutos esses que não lhe podem chegar antes do tempo.
Divaldo Franco/Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O
adolescente e o suicídio
Educa a mente no bem e disciplina o comportamento moral, jamais
oferecendo guarida às idéias suicidas.
Mentes desatreladas da matéria, em regime de ociosidade ou
vampirização, trabalham mediante hipnose persistente, inspirando estados de
alienação que culminam no suicídio.
Cultiva o hábito da prece e dá guarida aos pensamentos otimistas,
estimulando conversações edificantes, com que te desvencilharás dos cipós que
asfixiam, levando à autodestruição.
Trabalha pelo bem geral, liberando-te da presunção e do egoísmo, de mãos
dadas ao amor fraternal e o amor fraternal conduzir-te-á com segurança por todos
os dias até o término da tua vilegiatura física.
Viaja confiante no veículo do tempo.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 75
Dia chegará, se permaneceres na luta, em que considerarás as dificuldades
e aflições que parecem superlativas, como verdadeiras bagatelas de valor nenhum,
que superaste para o próprio bem.
Suicidar-te, jamais!
Nem através da atitude violenta, final, irreversível, nem pelos largos
métodos indiretos, elaborados pela insensatez e sustentados pelo materialismo.
Joanna de Ângelis – Luz Viva – Cap. 14 – Loucura Suicida
Valoriza o “Milagre das Horas”.
O que ora te falta, fruirás mais tarde;
A dor moral te espezinha agora, logo mais terá desaparecido;
O afeto que se foi além, abandonando-te com ingratidão, encontrarás
adiante;
A calúnia que padeces, depois será diluída;
A enfermidade difícil, que por enquanto te dilacera, cederá lugar à saúde
perfeita posteriormente;
A solidão aparente que te aturde nestes dias, será sucedida pelas companhias
abençoadas, se esperares.
... E em qualquer situação, segue Jesus, sustentado na fé imortalista,
guardando a certeza de que tudo quanto te aconteça ocorre sempre para o teu bem,
se te souberes conduzir na difícil circunstância.
Joanna de Ângelis – Alerta – Cap. 28 – Loucura Suicida
Não poderia deixar de mencionar a educação, como a mais eficaz
prevenção em relação ao suicídio. Mas que educação? Não é certamente essa
que é dada nas escolas, que nem a função de instruir faz bem feita.
Mas sim uma educação que procure cercar o indivíduo de fortes e sólidos
afetos, de modo que ele nunca se sinta sozinho.
Uma educação que trabalhe sentido existencial, resiliência diante da
dor, projeto de vida...
E sobretudo, uma educação que cuide desde cedo da espiritualidade e
que abra uma perspectiva de eternidade e transcendência.
Dora Incontri – Suicídio, a visão espírita revisita – 21/Setembro/2015
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 76
A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário
às leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de
abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por
que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos?
Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que
sucumbiram, que o suicídio não é uma falta, somente por constituir infração de
uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também
um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que
se dá, como no-lo ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as
vistas.
Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 957
1. Colocar-se mais próximo da pessoa, como verdadeiro amigo. 2. Fazê-la sentir-se amada. 3. Levantar sua autoestima através do elogio sincero às suas capacidades. 4. Dar a ela objetivos na vida. 5. Conscientizar a pessoa a respeito das consequências do ato, no além-
túmulo, e das dores que afligem os familiares. 6. Dialogar com bondade e paciência. 7. Sugerir-lhe dar-se um pouco mais de tempo para resolver seus problemas. 8. Evitar oferecer bases ilusórias para esperanças que o tempo desmancha. 9. Estimular a valorização pessoal. 10. Acender uma luz no túnel do seu desespero. 11. Exercer a oração. 12. Indicar leituras otimistas e espirituais. 13. Incentivar a frequência ao centro espírita com a terapêutica do passe e
da água fluidificada. 14. Mostrar que devemos aceitar as pessoas como elas são, sabendo
conviver com as diferenças. 15. Fazer com que a pessoa compreenda que devemos aceitar a vida como
ela se nos apresenta, fazendo tudo por melhorá-la incessantemente. Marcus Alberto de Mario – Prevenção do Suicídio – Revista Internacional de
Espiritismo
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 77
3.3 O Suicídio por processo Obsessivo - Na Terceira Idade 3.3.1 Características Gerais
Segundo a OMS os idosos são o grupo populacional de maior risco para
o suicídio. Apesar disto, este fenômeno ainda recebe pouca atenção das autoridades
da área de saúde pública, de pesquisadores e da mídia, os quais, em suas reflexões
e ações costumam priorizar os grupos populacionais mais jovens.
No Brasil, cerca de 1.200 pessoas com 60 anos ou mais morrem a cada
ano em decorrência de suicídio.
De acordo com a OMS, no mundo a taxa global de suicídio no ano 2005
entre homens com idade igual ou superior a 65 anos foi de 41 óbitos por 100 mil
habitantes.
Esta taxa é ainda maior se forem considerados apenas aqueles com idade
maior ou igual a 75 anos (50 óbitos/100 mil habitantes). Para as mulheres, as taxas
são usualmente mais baixas; na faixa de 75 anos ou mais a taxa global feminina
atinge o máximo de 15,8 óbitos por 100 mil habitantes.
Ainda segundo a OMS as taxas de suicídio (desconsiderando a questão da
faixa etária) aumentaram cerca de 60% nos últimos 45 anos.
Liana Wernersbach Pinto – Evolução temporal da mortalidade por
suicídio em pessoas com 60 anos ou mais nos estados brasileiros, 1980 a 2009 –
Rio de Janeiro: ABRASCO, v. 17, n. 8, ago. 2012
Outro aspecto importante sobre o suicídio de idosos se refere à relação entre
tentativas e óbitos consumados. Enquanto em outras faixas etárias essa relação fica
na faixa de 10 a 20 tentativas para uma morte consumada, nos idosos ela é de 2 a 3
tentativas para um óbito consumado. Assim, a presença prévia de tentativa é um
importante fator preditivo para o suicídio em idosos.
Os meios de perpetração do suicídio mais comumente utilizados em
inúmeros países são o enforcamento, o estrangulamento e a sufocação.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 78
Em alguns países há predomínio do uso de armas de fogo (Estados Unidos)
e intoxicações por pesticidas (China).
Homens tendem a utilizar meios mais agressivos. Estudos mostram que os
idosos tendem a usar métodos mais violentos e letais como o enforcamento e a
morte por uso de arma de fogo (este último especialmente entre homens), em
diferentes contextos culturais.
No período de 1996 a 2007 ocorreram 91.009 óbitos por suicídio em pessoas
com 10 anos ou mais de idade no País: em média 7.584 pessoas tiraram suas vidas
anualmente.
Deste total, 14,2% (12.913 óbitos) ocorreram em pessoas com 60 anos
ou mais (com média anual de 1.076 idosos).
De maneira geral, a mortalidade masculina por suicídio supera a feminina
tanto quando se considera a população acima de 10 anos (79,2% contra 20,8%),
tanto quando se foca naqueles com 60 anos ou mais (82,2% contra 17,8%).
Verificou-se que 3.039 municípios brasileiros têm registros de casos de
suicídio de pessoas com 60 anos ou mais em pelo menos um dos triênios analisados
(54,6% do total de municípios).
Em relação aos municípios nos quais foram registrados óbitos por suicídio
em pessoas com 60 anos ou mais nos quatro triênios de análise, 44,5% pertencem
a região Sul, 30,7% a região Sudeste, 13,3% a região Nordeste e 9,1% a região
Centro-oeste. O Norte perfaz apenas 2,5% dos municípios com casos nos quatro
triênios.
Em termos de unidade da federação, o Rio Grande do Sul concentra o maior
percentual de municípios com casos nos quatro triênios (27,3%), sendo seguido
pelos estados de São Paulo (17,4%) e Santa Catarina (9,1%).
Liana Wernersbach Pinto – Revista Ciência & Saúde Coletiva/2012
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 79
O suicídio entre pessoas idosas constitui hoje um grave problema para as
sociedades das mais diversas partes do mundo. Estudo realizado pelo WHO (Euro
Multicentre Study of Suicidal Behaviour) verificou que em 13 países europeus que
as taxas médias de suicídio entre pessoas com mais de 65 anos nessas sociedades
chegam a 29,3/100.000 e as de tentativas de suicídio, a 61,4/100.000.
Além de os dados sobre autodestruição em idosos serem muito elevados, a
razão entre tentativas e suicídios consumados é muito próxima, quase 2:1.
Um conjunto de pesquisas, no mesmo sentido, leva a concluir que, quando
uma pessoa idosa tenta se matar, há que se levar seu gesto muito a sério, pois
é provável que qualquer tentativa redunde no ato de dar cabo à própria vida.
Maria Cecília de Souza Minayo – Suicídio entre pessoas idosas: revisão
da literatura – Revista Saúde Pública 2010;44(4):750–7
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 80
3.3.2 O Processo Obsessivo
Acho-me em vésperas de colher mais dois em minhas redes, para atirá-los
ao báratro dos réprobos...
Tu conheces o báratro dos réprobos ?...
É horrível!
Hei visto por aí todos os baixos níveis da sordidez humana, dos sofrimentos
e depressões, mas nada se me afigurou mais sórdido do que a abjeção do suicida!
E nem ta poderei explicar, porque me faltariam palavras!
Os esgares que ele apresenta nas convulsões traumáticas, suas revoltas, suas
blasfêmias de demônio enlouquecido, sua pavorosa confusão, eternamente
envolvido em ânsias e sombras de pesadelo, suas diabólicas alucinações e seus
furores e raivas são inconcebíveis por um raciocínio normal...
Torná-los, a todos, suicidas! Eis o meu anelo supremo!
Estou desesperado! Porque não foram para o báratro ?...
Um Obsessor – Dramas da Obsessão – 1º Parte
A causa deste caso de obsessão está no passado, como acabo de dizer; o
próprio obsessor foi impelido ao suicídio por esse que acaba de fazer cair no
abismo.
Era sua mulher na existência precedente e tinha sofrido consideravelmente
com a devassidão e as brutalidades de seu marido.
Muito fraca para aceitar com resignação e coragem a situação que lhe era
dada, buscou na morte um refúgio contra seus males.
Vingou-se depois, e sabeis como. Entretanto, o ato desse infeliz não era
fatal; tinha aceito os riscos da tentação; esta era necessária ao seu adiantamento,
porque só ela podia fazer desaparecer a mancha que havia sujado sua existência
anterior.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 81
Aceitara seus riscos com a esperança de ser mais forte e se havia enganado:
sucumbiu.
Recomeçará mais tarde; resistirá? Isto dependerá dele.
Rogai a Deus por ele, a fim de que lhe dê a calma e a resignação de que
tanto necessita, a coragem e a força para não falir nas provas que tiver de suportar
mais tarde.
Louis Nivard – Revista Espírita – Janeiro 1869 – 9° Artigo – suicídio por
obsessão
Entidades obsessivas existem que habilmente mapeiam a organização física
e perispiritual de quem desejam dominar. Identificam, com precisão, os pontos
frágeis e fortes do cosmo orgânico.
Sabem aumentar ou diminuir a produção hormonal; influenciam no
sistema de absorção alimentar, segregando ou deletando proteínas, glicídios e
gorduras; apropriam-se de neurotransmissores, em nível de sistema nervoso
central, conduzindo o obsidiado a crises depressivas ou a idéias e tentativas de
suicídio; agem no centro da memória, pacientemente, manipulando a delicada
tessitura e os bloqueios naturais impostos pelo programa reencarnatório,
desativando mecanismos de proteção e, à semelhança de um ladrão inconsequente,
arrombam as portas que mantêm os arquivos de ações infelizes, ocorridas em vidas
pretéritas, sob parcial controle.
Apropriando-se dessas lembranças amargas, caracterizadas por experiências
de atentado à lei de Deus, conduzem-nas aos campos da memória recente,
provocando, no subjugado, angústias, sentimento de culpa e desespero.
Atrelando-se aos centros motores dos que se encontram sob o domínio
nefasto, produzem paralisias, fraquezas musculares e neurites.
Conhecendo as predisposições íntimas do dominado, seus sentimentos,
desejos e aptidões, atuam no centro cerebral do humor e da inteligência,
acelerando o metabolismo de íons que resultam na irritabilidade, na elevação
da pressão dos líquidos corporais, causando tonturas e cefaleias.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 82
Mantenhas-te atento, pois as somatizações são inevitáveis quando há
influência obsessiva. Transforma-te no bem para que possas neutralizar-lhe tais
ações, absorvendo energias superiores que do Alto se derramam sobre ti. As
ligações mentais inferiores ocorrem em razão da invigilância, da falta de fé, da
ausência de oração, da escassez da prática do bem.
Francisco M. Dias da Cruz – Revista Reformador – 2006 – Dezembro
Eu fui suicida. Querendo fugir à cegueira dos olhos, fui mergulhar-me na
cegueira da alma.
Pensando furtar-me à negrura que cobria o meu viver, fui viver na treva onde
os suicidas curtem raivas, sem repouso; e blasfemam quando suplicam.
(...)
Aceitem as dores, a cegueira, as deformações, as aberrações, o desespero,
as perseguições, a desgraça, a fome, a desonra, a degradação, a ignomínia, a lama,
tudo, tudo que de mau, de injusto, ou de rastejante em desprezo a Terra lhes possa
dar, que são ainda coisas excelentes em desiludida comparação ao que de melhor
possam chegar, pelo caminho do suicídio.
Camilo Castelo Branco – Do País da Luz – Vol. 4 – Cap. 42 – médium Fernando
de Lacerda – 1918
Um suicida não é mais do que tudo — um réprobo. E quase um réprobo de
Deus, se Deus não fosse o amor ilimitado e a piedade infinita.
Os infelizes conservam o pessimismo como alegria mórbida e quase sempre
esse fantasma terrificante se apodera dos fracos e dos descrentes, apaga-lhes a
derradeira centelha da fé e da esperança que lhes resta, e a noite impenetrável se faz
sentir nesses corações apavorados pela tortura; abismos tenebrosos abrem-se-lhes
sob os pés e as vítimas da cegueira, desamparadas e trémulas, são absorvidas nas
trevas fatais.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 83
Porque é necessário frisar que a cegueira dos olhos pouco representa em
face da cegueira do coração; os desiludidos se aproveitam das sombras para
efetivarem a sua criminosa evasão e, mal-avisados pela estultície, engazopados pela
solércia da Tentação, repelem as dores, fecundas de luminosidades desconhecidas,
para ingressar, surpreendidos, no detestável país onde os desesperançados rugem
de dor, estertorando-se sob as tenazes da amargura.
Camilo Castelo Branco – 1936 – médium Francisco Cândido Xavier – O
Martírio dos Suicidas (Almerindo Martins de Castro) – Pag. 44
Dentre os numerosos Espíritos de suicidas com quem mantive intercâmbio
através das faculdades mediúnicas de que disponho, um se destacou pela
assiduidade e simpatia com que sempre me honrou, e, principalmente, pelo nome
glorioso que deixou na literatura em língua portuguesa, pois tratava se de
romancista fecundo e talentoso, senhor de cultura tão vasta que até hoje de mim
mesma indago a razão por que me distinguiria com tanta afeição se, obscura,
trazendo bagagem intelectual reduzidíssima, somente possuía para oferecer ao seu
peregrino saber, como instrumentação, o coração respeitoso e a firmeza na
aceitação da Doutrina, porquanto, por aquele tempo, nem mesmo cultura
doutrinária eficiente eu possuía!
Chamar-lhe-emos nestas páginas – Camilo Cândido Botelho, contrariando,
todavia, seus próprios desejos de ser mencionado com a verdadeira identidade.
Esse nobre Espírito, a quem poderosas correntes afetivas espirituais me
ligavam, freqüentemente se tornava visível, satisfeito por se sentir bem querido e
aceito.
Até o ano de 1926, porém, só muito superficialmente ouvira falar em seu
nome. Não lhe conhecia sequer a bagagem literária, copiosa e erudita.
Não obstante, veio ele a descobrir me em uma mesa de sessão experimental,
realizada na fazenda do Coronel Cristiano José de Souza.
Yvonne Pereira – Memórias de um Suicida – Introdução – 1954
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 84
Desde os 40 anos que Camilo começara a sofrer de graves problemas visuais
(diplopia e cegueira noturna). Era um dos sintomas da temida neurosífilis, o estado
terciário da sífilis, que além de outros problemas neurológicos lhe provocava
uma cegueira, aflitivamente progressiva e crescente, que lhe ia atrofiando o nervo
óptico, impedindo-o de ler e de trabalhar capazmente, mergulhando-o cada vez mais
nas trevas e num desespero suicidário.
No dia 1 de Junho de 1890 após a visita do seu médico e quando sua esposa
Ana Plácido acompanhava o médico até à porta, eram três horas e um quarto da
tarde, sentado na sua cadeira de balanço, desenganado e completamente
desalentado, Camilo Castelo Branco disparou um tiro de revólver na têmpora
direita.
(...)
Um conformismo suicida que se denota na carta de 28 de Abril de 1856, a
José Barbosa e Silva: “Foi muito grave o prognóstico da minha doença de olhos;
Mas hoje está averiguado que é efeito de venéreo inveterado. Sofro há 4 meses uma
diplopia (vista dupla). É horrível para quem não tem outra distração além da
leitura”.
O suicídio passou a ser vulgar no pensamento de Camilo. Os amigos bem
tentaram dissuadi-lo da ideia, mas em vão. A ideia do suicídio caminhava cada vez
mais para uma certeza. É em 1887 que se prevê o ato como certo, tal é o teor da
carta a Francisco Martins Sarmento, de 12 de Outubro: “Eu bem queria poupar-me
ao suicídio; Mas desde os 18 anos que pressenti a necessidade dessa evasiva, sem
me lembrar que a cegueira seria o impulsor justificadíssimo da catástrofe”.
Universidade Nova Lisboa – CITI – O Suicídio de Camilo Castelo Branco
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 85
Divaguei pelo mundo em estertores
A ruminar atroz padecimento,
E via nada mais que meu tormento
Em raios desanimadores.
Busquei na morte o nada, um linimento,
Com que escapasse à sanha de agressores,
Acicates de sombras, fel e dores,
Sem recordar o Pai, por um momento
Fui um louco, entre tantos tresloucados;
Um solitário, em meio aos desolados,
Em rigoroso e atento masoquismo.
Hoje, na morte, abraço as leis da Vida
E esperançoso trago, enriquecida,
A consciência à luz do Espiritismo.
Antero de Quental – Seara da Esperança – Cap. 9 – Confissão
Aos 82 anos, Walmor vivia praticamente isolado em um sítio no interior de
São Paulo.
Enxergava mal, tinha dificuldades para andar, se alimentava pouco e
contava frequentemente com a ajuda de empregados para executar tarefas
cotidianas.
Um de seus amigos disse à imprensa que o artista teria comentado que
desejaria partir, caso se tornasse uma pessoa dependente.
Heloísa Noronha – Suicídio de Walmor Chagas serve de alerta para a
depressão na velhice – UOL–04/11/2015
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 86
O suicida é um espírito soberbo e calceta que, na impossibilidade de atingir
o fulcro da Divindade que lhe não permite continuar semeando destruição,
alucinado pelas ambições crescentes e selvagens, se destrói, tentando, desse modo,
alcançar o Sumo Espírito da Vida. Odiento e infeliz, arroja-se, porém, nos mais
fundos despenhadeiros, cujo anteparo não consegue encontrar, experimentando
inominável dor, enquanto perdurem as novas impressões que se lhe adicionam às
angústias das quais desejou fugir e que o enlouquecem, sem roubar-lhe a
consciência da própria insânia.
(...)
O suicida é o imaturo desajustado na escola da vida, fugindo da consciência
culpada para despertar de coração e mente estraçalhados.
Enquanto não rutilar a fé poderosa e pura, que traduza a verdade maior do
Amor no coração da Humanidade, o homem fugirá da vida para a Realidade,
afogando-se nos rios da Imortalidade, sem consumir-se no aniquilamento que tanto
persegue, não colimando o cobiçado objetivo.
A ética, que na Antiguidade oriental afirmava o “espírito e negava o
mundo”, renasceu no Cristianismo, oferecendo no pessimismo, em relação ao
imediato, o otimismo de referência à Imortalidade, com as credenciais da esperança
e da paz.
No Espiritismo, o mais eficiente antídoto contra o suicídio — suicídio em
cujo corpo sempre se encontram as fortes amarras da obsessão pertinaz, em conúbio
danoso, de consequências imprevisíveis —, o otimismo no tocante à vida real e
indestrutível estabelece uma ligação entre a cultura atual e as culturas pretéritas, em
perfeita sintonia de ideais, dos quais a técnica e as modernas conquistas podem
extrair os frutos opimos a benefício da Civilização contemporânea.
(...)
A liberdade humana num crescendo transformou-se em degradante
libertinagem, nos dias modernos, e fez-se fator preponderante para tornar o suicídio
uma solução, considerando que o desvitalizar da pujança do caráter faz que o
homem seja somente o seu exterior dourado e enganoso, não as suas qualidades
morais elevadas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 87
(...)
Enquanto o suor lhe escorria pelas mãos álgidas, pela face e por todo o
corpo, ao colocar a corda de nó corrediço no pescoço enlanguescido, com as artérias
intumescidas a se arrebentarem nas têmporas, sob o guante odiento dos sicários
implacáveis que o dominavam do Além-túmulo, não podia Girólamo ver nem sentir
a turba exaltada de Espíritos infelizes que o seguiam em desordem e vandalismo
hediondo, ávidos para se atirarem, tão logo fossem violentados os liâmes da vida
carnal, sobre a energia em desassociação nos despojos, quais abutres ou chacais que
apenas aguardam a morte do animal para roubar-lhe as expressões cadavéricas.
A situação ali não diferia muito. Espíritos em deformações apavorantes,
transformados em vampiros sugadores do fluido vital, em estado de incontida
volúpia, amedrontados ante a possibilidade de perderem a presa fácil, açulavam o
enfermo e transmitiam-lhe ideias desconexas e deprimentes, a fim de o tomarem
nas mãos.
Desse modo, logo o corpo se projetou no espaço e a constrição da corda
impediu a circulação sanguínea, através dos condutos arteriais, o espírito passou a
experimentar imensurável asfixia, que lhe chegava dos estertores orgânicos, e
enquanto se debatia no desespero de libertar-se da corda assassina, o suicida sentia
já o efeito medonho do crime que acabara de perpetrar. Era como alguém que
estivesse metido em roupa de ferro que possuísse a faculdade de encolher,
estraçalhando rítmica, contínua, inexoravelmente o corpo entanguido, dentro de
dimensões cada vez menores.
A impossibilidade de expulsar o gás carbônico dos pulmões e a ausência do
ar que lhe acionasse o aparelho respiratório produziam uma sensação animal de
angústia, como se fosse explodir numa imensa agonia que, a partir de então, não
chegaria ao fim, não se consumaria...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 88
A voz estrangulada na garganta, cujo pescoço estava quebrado; os olhos
abertos, sem qualquer visão; a dor na região precordial, como se estivesse com um
punhal transpassado, dilacerante; os músculos repuxados, a se deslocarem dos
invólucros, e os ossos desconjuntando-se, somavam descomunal intensidade de dor,
que o suicida não pôde suportar, sendo vencido, na superlativa desdita, por um
vágado, no qual perdeu a consciência de si e de tudo.
Logo depois, despertou, encontrando-se na mesma situação de angústia.
Sucederam-se os intérminos desmaios, sempre despertado de cada um deles
sob o guante do crescente horror, num mundo espectral de sombras espessas e de
frio indescritível, que martelava nos ossos, parecendo laminas finas e aguçadas a
cortarem cada tecido, cada fibra, cada órgão já agora em desconserto total.
Cessada a irrigação do cérebro pelo oxigênio que o mantém vivo,
começaram a morrer as células encarregadas do milagre da vida nos sentidos
físicos e psíquicos.
Os plexos, violentamente agredidos, arrebentaram-se e, parecendo flores
que desabrochassem intempestivamente, deixando escorrer inexorável o perfume,
perdendo o pólen e a seiva, simultaneamente exteriorizavam as forças criadoras da
vida, despejando as energias vitais de que se faziam depositários, atraindo a horda
de vândalos espirituais, que se atiraram vorazes, vampirizadores, desesperados,
sugando-as em inimaginável ferocidade.
Lobos esfaimados arrojavam-se uns sobre os outros, disputando o maior
quinhão, a quantidade mais expressiva, enquanto as amarras perispirituais resistiam
ao impacto do esfacelamento da vida física, sem desligar o espírito dos fortes
vínculos com o corpo.
As funções físicas e mentais ficaram lamentavelmente interrompidas,
advindo a morte da vida orgânica, nunca, porém, o desligamento espiritual, a
libertação do criminoso, que acompanharia, doravante, a desassociação celular
ergastulado no castelo de carne que desrespeitou: presídio, látego, túmulo a que se
fixaria por longo período...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 89
Nos sucessivos delíquios de que era vítima, o suicida não se apercebia do
que se tratava.
Turbilhonavam na mente avassalada pelo estupor crescente da loucura, na
qual não se apagara de todo a consciência, o desejo de morrer, que lhe armara as
mãos com o laço criminoso, e a voragem do bailado macabro, em visões
tormentosas, num crescendo aterrador, com dores superlativas.
Naquele martelar das impressões em atropelo sucessivo, supunha que se
houvesse arrebentado a corda, não obstante as dores da constrição no pescoço e a
asfixia... O sonhado esquecimento, que é o grande, o enorme engodo, não chegava.
Rebolcava-se, todavia, pendente no laço, sofrendo o enforcar sem limite, que não
atingia o fim.
Sob o impacto de tanto terror, não sentiu nem se apercebeu das ocorrências
que tumultuaram o solar, o desespero da esposa, a infrene gritaria dos servos
amedrontados, na noite tempestuosa, nem o ofício fúnebre, absolutamente inócuo,
que era celebrado em memória do seu espírito, mas que não significava senão vã
homenagem que se prestava aos despojos carnais em natural decomposição
orgânica.
(...)
A chusma de desencarnados em opressiva condição de miséria interior,
vândalos e escravos dos fluidos materiais, acompanhou o esquife à urna em que foi
depositado na capela da família, prosseguindo na sucção das energias que se
exteriorizavam pelo rompimento intempestivo do vaso carnal.
(...)
Nos suicídios, no entanto, que pressentem, pois que são atraídos pela mente
desvairada do desafortunado que o engendra, inevitavelmente associam-se para o
banquete hediondo da vampirização. O mesmo ocorre no homicídio, quando a
vítima desguarnecida dos recursos libertadores vincula-se, pelo ódio ou pelas
vibrações nefastas, ao que lhe arranca a vida, caindo nos círculos desses vândalos
desencarnados.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 90
Girólamo oferecera o corpo em estertores à chusma de vampiros, cujas
impressões dolorosas só mais tarde viriam atormentá-lo, adicionadas às supremas
aflições que já o laceravam.
Vivendo no trânsito entre o animal e o homem primário, jamais cuidara da
realidade do espírito, não produzindo qualquer fortaleza para agasalhar-se, além da
sepultura, dos tormentos gerados pela infame tragédia do suicídio em que se atirara.
Trasladou-se sem qualquer recurso de defesa ou título de merecimento que lhe
facultassem repouso. Consciência obliterada para as manifestações do belo, do
nobre e da virtude, despertava, agora, no país da realidade, com os destroços
acumulados na avareza e reunidos pela criminalidade.
Na sucessão de vágados em que, alucinado, caía em exaustão, para acordar
sob as mós das dores acumuladas, começou a sentir o cadáver no mausoléu em que
se desagregava, atado pelos laços poderosos que a rebeldia não conseguiu atingir.
Deu-se conta, então, a pouco e pouco, do grotesco infortúnio em cujo fosso se
arrojara irremediavelmente ...
Em bestial angústia, percebeu-se no desgaste orgânico que o afetava
cruelmente, sentindo os milhões e milhões de vibriões que lhe percorriam as
células, voluptuosos, como se estivessem na intimidade do espírito, e, por mais
desejasse evadir-se do local, era compelido a continuar sem o amparo de qualquer
lenitivo.
Simultaneamente, a sufocação, o enfraquecimento pela perda das energias
de sustentação das forças psíquicas vampirizadas, as dores na cabeça, que se
dilatava grotesca, pelo impedimento da circulação no cérebro, produziam-lhe
indizível sensação. Só então, (quanto tempo transcorrera!) experimentou nos
ouvidos, que pareciam destroçados por um petardo que espocasse dentro,
incessantemente, as objurgatórias, as acusações, a mofa, a zombaria infernal dos
que se nutriam da sua desdita.
— E agora, suicida? — interrogavam em zombaria desrespeitosa. —
Para onde vais? Que pretendes, miserável assassino, suicida cobarde?
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 91
— Eis aí a morte! Estamos todos mortos. Onde esconderás a vergonha,
o cinismo, a hediondez? Fala!
Gargalhadas de impiedade e cinismo explodiram, ensurdecedoras.
Pretendeu falar, furioso, açulado em toda a sua miséria, mas não pôde. Os
centros da fala haviam sido atingidos profundamente e ele sentiu-se impossibilitado
de pronunciar qualquer palavra.
A mente aturdida, no entanto, espicaçada pela gritaria, refletia: “Morto?!
Aquilo era a vida, não a morte. Fora, possivelmente, atirado a um cárcere imundo
e estava a apodrecer, ao abandono. Não sabia, no entanto, como tal acontecera. O
certo é que a Corda se partira...”
— Enganas-te, sicário dos outros. Morreste! Isto é a morte. Suicida,
suicida! Pagarás, agora, todos os teus monstruosos crimes contra a Humanidade.
Nada passa despercebido dos olhos vigilantes da vida. Aqui estamos. Somos
a consciência do mundo, em regime de justiça, colhendo os desgraçados como tu
para cobrar-lhes os crimes que têm passado impunes. Por que te apressaste em
regressar? Não sabias que cada minuto no corpo oferece ocasião de reparar os males
praticados? Agora, é tarde. Muito tarde!
Girólamo rebolcava-se, semi-obnubilado e semiconsciente, sem entender.
— Desperta para o resgate, infeliz, desnaturado que és, como nós.
Desperta para começar o martírio. Estás vivo e pagarás todos os teus crimes.
Muito lentamente, nas sombras densas passou a ver as figuras hediondas, as
formas grotescas e, dominado pelo estarrecimento, planejou fugir, arrancar em
disparada louca. Não pôde fazê-lo. As amarras que o jungiam, ao cadáver não o
permitiram. Os liâmes perispirituais restringiam-lhe os movimentos, impelindo-o à
participação consciente da responsabilidade. A justiça alcançava o criminoso
evadido da organização física, mas não da vida!...
A máscara de dor e ódio das personagens enfurecidas e descompostas
levam-no a demorado desmaio.
Tão pronto recobra a consciência naquele hórrido martírio, ouve com
infinito pavor:
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 92
Somos os teus atuais juízes, — diz-lhe o duque. — Serás julgado e
devidamente punido. Ainda não começaram os teus padecimentos. Disse-te que não
ficaria impune, miserável. Acorda, logo, para a recuperação. Seremos os teus
acusadores. Esperemos que se afrouxem mais os laços que te atam a esses restos,
após o que serás trasladado ao Tribunal. Não fugirás, pois não tens onde esconder-
te. Surpreendi-te, infame. Ninguém ou nada interferirá a teu favor, pois, além de
tudo, és suicida. Acorda para pagar!
Vitor Hugo – Párias em Redenção – 2º Parte – Cap. 1 – Infeliz despertar no
Além
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 93
3.3.3 Sinais de Alerta/Fatores de Risco/Prevenção – Diretrizes
3.2.3.1. Sinais de Alerta
Boa parte dos sintomas é a mesma dos casos de depressão em qualquer faixa etária: distúrbios do sono e do apetite, fadiga, tristeza, choro, dificuldade de concentração e memória falha. O que define a doença é a intensidade e a frequência desses sinais. Mas os idosos costumam se entregar com mais facilidade.
Os idosos têm sentimento de culpa e inutilidade. Dificilmente vão falar abertamente que querem morrer, porém começam a usar frases como: − "Seria melhor seu eu desaparecesse", − "Não queria dar tanto trabalho", − "Velho não serve para nada" etc.
A desesperança revelada por essas palavras é um caminho perigoso rumo ao suicídio.
Heloísa Noronha – Suicídio de Walmor Chagas serve de alerta para a depressão na velhice – UOL–04/11/2015
Pesquisas revelam que a tentativa de suicídio em idosos, tende a ser mais
eficaz do que em adultos e adolescentes, o que pode estar associado a uma menor probabilidade de socorro, diante do isolamento social.
Identificar pacientes com comportamento suicida é tarefa difícil, haja vista que vários fatores clínicos podem correlacionar, ou apenas estar associado, ao risco de suicídio.
(...) os sinais de alerta para tentativa de suicídio como: − A verbalização do desejo de morte, − A doação de bens, − Acumulação de medicamentos, − Falta de cuidados com a higiene, − Desinteresse em se alimentar e bem-estar diminuído, − Pedido de internação voluntária entre outros.
Ana Elisa Sena Klein Da Rosa – Suicídio e fragilidade social na velhice, uma triste realidade – Revista Portal de Divulgação, n.12, Julho/2011
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 94
3.2.3.2. Fatores de Risco
Outros relatos evidenciaram vários fatores de risco já conhecidos por
pessoas que estudam a relação entre os problemas familiares e o fenômeno do
suicídio das pessoas idosas:
− Retirada de sua autonomia para lidar com o próprio dinheiro;
− Subjugação aos adultos da família; obrigação de manter os filhos nessa altura
da vida quando lhes caberia merecido repouso;
− Isolamento em relação à vida comunitária e social;
− Cerceamento da liberdade ainda que em nome do cuidado e da proteção;
− Violência psicológica, negligências e maus tratos.
Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos
familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência &
Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015
Diante da nova representação da sociedade brasileira, observamos que ela
não está preparada para a mudança no perfil populacional, embora as pessoas
estejam vivendo mais, a qualidade de vida não acompanha essa evolução.
Gostaríamos de considerar que a fragilidade nessa faixa etária não é somente
resultado de limitações ou dependências instauradas pela condição física e
fisiológica, mas, também, por valores e práticas sociais pouco sensíveis à
diversidade.
Foram citados os fatores de risco para o fator suicida em idosos, como:
depressão, tentativas de suicídio anterior, dependência, isolamento social, doença
mental. As estatísticas apontam a necessidade de focar políticas públicas voltadas
ao suicídio e a face da fragilidade social na velhice.
Averiguamos que pouco se produz sobre os temas no Brasil. Sugerimos a
produção de estudos sobre a temática para que seja possível a diminuição dessa
ocorrência.
Para o idoso deprimido viver passa a ser desamparador.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 95
O idoso melancólico está sempre rodeado de sensações de medo e
desamparo. Viver em um estado melancólico faz com que o indivíduo se feche às
possibilidades do mundo, passando a pautar-se em desesperança, e que na
impossibilidade de direcionar sua libido a um objeto, volta-a para si, fantasiando
pensamentos autodestrutivos, podendo chegar ao suicídio.
Ana Elisa Sena Klein Da Rosa – Suicídio e fragilidade social na velhice,
uma triste realidade – Revista Portal de Divulgação No 12, Julho/ 2011
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 96
3.2.3.3. Prevenção
A depressão e as ideações suicidas são grandes fatores de risco que
justificam medidas preventivas e imediatas, tendo em vista que o idoso muito
rapidamente coloca em prática seu plano suicida.
Tudo isso desafia a saúde pública quanto à prevenção, sobretudo dos casos
de mais gravidade, o que demanda formas de suporte mais complexas, capazes de
dar conta das diferentes faces que o problema apresenta.
Fátima Gonçalves Cavalcante – Diferentes faces da depressão no suicídio em
idosos – Ciência & Saúde Coletiva, vol. 18, núm. 10, Outubro/2013.
Fazendo coro com experientes autores, pode-se considerar que as medidas
mais adequadas para redução do suicídio na população idosa são as estratégias
impeditivas do início do estado suicida.
Ana Elisa Bastos Figueiredo – Impacto do suicídio da pessoa idosa em
suas famílias
A maneira com que cada pessoa investe na qualidade de vida ao longo dos
anos tem tudo a ver com o que vai colher na terceira idade, obviamente.
Racionalmente, o que você faz hoje repercutirá no futuro, mas nem sempre as coisas
saem conforme o planejado.
E apesar do aumento da longevidade e dos avanços tecnológicos ninguém
pode nem deve contar com a garantia de que chegará aos 90, 100 anos, com saúde
e vigor.
Além dos medicamentos específicos e das sessões de psicoterapia, para
enfrentar a depressão é preciso coragem, motivação e vontade de se adaptar às
necessidades de mais uma fase do desenvolvimento humano.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 97
A família e os amigos têm papel fundamental para ajudar o idoso a
atravessar a doença, mas ele também tem de encontrar os próprios mecanismos de
defesa e procurar se manter ativo.
Seja na companhia de parentes, amigos ou em centros de convivência, é
fundamental não descuidar da socialização e cultivar algum hobby.
Se existe algum tipo de limitação, vale procurar outras formas de atividade.
Quem sempre adorou ler ou escrever, por exemplo, mas agora tem a visão
debilitada, pode gravar suas memórias ou narrá-las para alguém.
Lembrar acontecimentos antigos e contar histórias para a nova geração são
atitudes importantes, porém, o idoso não deve ficar preso somente ao passado. "Ter
objetivos é fundamental para ter disposição e mandar bem longe a impressão de
que o tempo está acabando".
Breno Rosostolato – Suicídio e Depressão, Conhecer Para Prevenir
Fórum Espirita
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 98
3.4 O Suicídio por processo Obsessivo – Especiais 3.4.1 Por implantação Perispiritual
Naquela noite, o primeiro caso seria o julgamento de José Marcondes
Effendi, 21 anos, ainda encarnado.
Uma testemunha historiou os acontecimentos.
Sessenta anos atrás, José tramara a morte da entidade que ali
comparecia como testemunha. O crime foi por motivo torpe. José, que na época
era uma mulher, combinou com seu amante a morte do próprio marido, um crime
que não foi descoberto pela justiça terrena.
Após muitos anos, a vítima se viu diante de um jovem de 10 anos
aproximadamente: era sua esposa reencarnada em corpo de homem.
O processo obsessivo começou ali e acabou gerando um doloroso caso de
homossexualismo, assim explicado pelo obsessor: Identificando nela (em corpo de
homem, agora) as tendências guardadas da vida anterior, em que as dissipações
atingiram o auge, seria fácil perturbar-lhe os centros genésicos, através da
perversão da mente inquieta, em processo de hipnose profunda, praticada por
técnicos desencarnados.
Com a ajuda de um hipnotizador indicado por Teofrastus, foi fácil
modificar-lhe o interesse e inclinar-lhe a libido em sentido oposto ao da lei natural,
já que o seu corpo era masculino, produzindo irreparável distonia nos centros da
emoção.
Daí por diante, o obsessor associou-se à sua organização física e psíquica,
experimentando as sensações que lhe eram agradáveis e criando um
condicionamento em que seus interesses passaram a ser comuns.
O ódio se converteu em estímulo de gozo, imanando-os em processo de
vampirização em que o espírito se locupleta e, ao mesmo tempo, destrói sua vítima,
atirando-a cada vez em charco mais vil, até que o suicídio seja sua única saída.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 99
O rapaz aprendeu a orar, fugindo à sua influência. Foi com a ajuda de
Teofrastus, que conseguiu induzi-lo a novos erros, que aconteceu o ensejo de
trazê-lo até o Anfiteatro naquela noite, onde seria realizada a intervenção
cirúrgica sugerida por Teofrastus.
"Iremos fazer uma implantação de pequena célula fotoelétrica gravada,
de material especial, nos centros da memória do paciente", explicou Teofrastus.
Operando sutilmente o perispírito, aquele pequeno dispositivo faria com
que uma voz lhe repetisse insistentemente a mesma ordem: "Você vai
enlouquecer! Suicide-se". Transcorridos dez minutos, a cirurgia estava concluída.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 8 –
Processos Obsessivos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 100
3.4.2 Por Hipnose profunda
Quando das suas graves intervenções no psiquismo dos seus hospedeiros,
suas energias deletérias provocam taxas mais elevadas de serotonina e
noradrenalina, produzidas pelos neurônios, que contribuem para o surgimento
do transtorno psicótico-maníaco-depressivo, responsável pela diminuição do
humor e desvitalização do paciente, que fica ainda mais à mercê do agressor.
É nessa fase que se dá a indução ao suicídio, através de hipnose contínua,
transformando-se em verdadeiro assassínio, sem que o enfermo se dê conta da
situação perigosa em que se encontra.
Sentindo-se vazio de objetivos existenciais, a morte se lhe apresenta como
solução para o mal-estar que experimenta, não percebendo a captação cruel da idéia
autocida que se lhe fixa na mente.
Não poucas vezes, quando incorre no crime infame da destruição do próprio
corpo, foi vitimado pela força da poderosa mentalização do adversário
desencarnado.
Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 4 – Novos
Descortinos
Os espíritos obsessores, muitos deles, são altamente treinados na técnica de
hipnotizar; quase sempre, eles hipnotizam as suas vítimas quando elas se retiram
do corpo, no momento do sono...
Por este motivo, muita gente acorda mal-humorada e violenta. Se
soubéssemos o que nos espera no Além, não dormiríamos sem recorrer aos
benefícios da prece.
Os espíritos nossos desafetos nos espreitam; se não tivermos defesa, eles
farão conosco o que bem entenderem... Há obsessões terríveis que são programadas
durante o sono; toda noite é uma sessão de hipnose...
De repente, é uma agressão violenta dentro de casa, um crime inexplicável...
Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 190
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 101
Reportamo-nos a semelhantes considerações para salientar o impositivo de
nossa vigilância em todos os estados passivos de nossa alma, porque, através da
meditação e do sono, nos identificamos, muita vez de modo imperceptível, com os
pensamentos que nos são sugeridos pelas Inteligências desencarnadas ou não,
que se afinam conosco e, se não nos guardamos na fortaleza das obrigações
retamente cumpridas, caímos sem dificuldade nas malhas da obsessão oculta,
transformando-nos em agentes da irresponsabilidade e da cegueira de espírito, por
despenhar-nos, inconscientemente, em desequilíbrios imanifestos, cujos resulta dos
somente se expressarão, mais tarde, pelos princípios de causa e efeito, nos
torturados labirintos da patogenia obscura, em nosso campo individual.
Lembremos-nos, assim, de que se o obsedado confesso é alguém armado
pela aflição e pelo sofrimento, para o combate às forças da treva, a vítima da
obsessão oculta, quase sempre, é a loucura mascarada de bom-senso,
acarretando, por onde passe, desastres e problemas morais para si e para os outros.
Francisco Dias da Cruz – Vozes do Grande Além – Cap. 24 – Obsessão
Oculta
Naquele transe, sob a indução cruel, que me houvera conduzido ao
transtorno psicótico-maniaco-depressivo, em uma noite de alucinação,
porquanto podia ver a mulher-verdugo de minha existência e os seus asseclas, fui
induzido a ingerir algumas drogas de sonífero, quase automaticamente, sem
qualquer reflexão, a fim de apagar da mente aqueles terríveis pesadelos e libertar-
me dos vergonhosos doestos que me atiravam a face, humilhando-me,
escarnecendo-me, e sempre mais ameaçando.
À medida que se as substâncias passaram a atuar no meu organismo, um
cruel torpor e enregelamento tomou-me todo, produzindo-me a parada cardíaca, e
a desencarnação.
Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 5 – Contato
Precioso
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 102
As ondas mentais exteriorizadas pelo cérebro mantêm firme intercâmbio em
todos os quadrantes da Terra e fora dela.
Pensamentos atuam sobre homens e mulheres desprevenidos, e a sugestão
campeia vitoriosa aliciando forças positivas ou negativas com as quais
sintonizam, em lacerantes conúbios dos quais nascem prisões e surgem alvarás de
liberdade, por onde transitam opiniões, aspirações, anseios...
Merece relembrado o conceito do Nazareno: “Onde estiver o tesouro aí o
homem terá o coração”, o que equivale dizer que cada ser respira o clima da
província em que situa os valores que lhe servem de retentiva na retaguarda ou que
se constituem asas de libertação para o futuro.
Pensamento e vontade — eis as duas alavancas de propulsão ao infinito e,
ao mesmo tempo, os dois elos de escravidão nos redutos infelizes e pestilenciais do
"inferno" das paixões.
Em todo processo hipnológico, pois, convém examinar a questão da sintonia
e da sugestão, com razões poderosas, senão imprescindíveis para a consecução dos
objetivos: a fixação da idéia invasora.
A sugestão é, portanto, a inspiração incidente, constante, que atua sobre a
mente, provocando a aceitação e a automática obediência.
No fenômeno hipnológico há outro fator de grande valia que é a
perseverança, a constância da idéia que se sugere naquele que a recebe. Lentamente
a princípio tem início a penetração da vontade que, se continuada, termina por
dominar a que se lhe submete.
Se o paciente é experimentado nas disciplinas morais, embora os
compromissos negativos de que padece, consegue, pela conquista de outros méritos,
senão contrabalançar as antigas dívidas pelo menos granjear recursos para resgatá-
las por outros processos que não os da obsessão.
As Leis Divinas são de justiça, indubitavelmente; no entanto, são também
de amor e misericórdia. O Senhor não deseja a punição do infrator, antes quer o seu
reajuste à ordem, ao dever, para a sua própria felicidade.
Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 4 –
Estudando o Hipnotismo
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 103
Nos primeiros tempos, como no caso do quase suicídio no mar, inexperiente
e pouco conhecedor da Doutrina e da mediunidade, Divaldo teve momentos de
cessão, de passividade ante o comando mental que o constringia.
A Mentora permite, a fim de fortalecê-lo, qual ocorre com os metais
preciosos, que se embelezam, após a moldagem sob altas temperaturas em que são
fundidos.
Posteriormente, já amadurecido e tarimbado na vivência mediúnica, não
mais se deixa influenciar, o que vai acirrar o ânimo do perseguidor que realiza
investidas e agressões cada vez mais dolorosas, objetivando atingi-lo através de
terceiros.
(...)
Jovem, inexperiente, desconhecendo a complexidade dos processos
obsessivos, carregando no imo da alma o traumático suicídio de sua irmã Nair, o
médium é quase levado também ao auto-extermínio.
O fato inicia-se com algumas visões, durante a noite, provocadas pelo
adversário espiritual, que se utiliza da hipnose, tentando assumir o comando da
mente de Divaldo.
É um momento dramático este. Pode-se imaginá-lo, frágil e quase indefeso,
vulnerável, de certa forma, pelas "matrizes” do passado, deixando-se, por
momentos, dominar mentalmente e obedecendo ao comando que o oprime.
Assim, levanta-se do leito, salta a janela e caminha para o mar. Nos ouvidos,
no cérebro, repercute a voz persuasiva indicando a morte como o melhor caminho
e solução para todos os problemas.
É madrugada. A praia está absolutamente deserta e ninguém poderia salvá-
lo. Molha os pés nas primeiras ondas a se quebrarem ao seu encontro, porém
continua andando, mar a dentro, atendendo à voz hipnótica.
Está escuro ainda e a água fria a envolvê-lo não o desperta.
Avança um pouco mais, quando, providencialmente, as ondas molham o seu
rosto, provocando-lhe um choque que o desperta afinal.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 104
Retoma o comando mental e, guiado pelo instinto de sobrevivência, entra
em desespero. Está no mar, em plena noite escura e não sabe nadar.
A agonia da situação é terrível e não entende, de pronto, como veio parar
ali. Mas, a Misericórdia Divina vela e protege. Nilson, o amigo, o irmão, o pai, o
anjo bom, está por perto. Vigia e ora, na certeza de que a Espiritualidade Maior não
desampara. Chegado o instante preciso atira-se às águas e resgata a quase vítima.
Já, na praia, Divaldo o vê. Dominador, frio, obstinado em seus propósitos,
por pouco não consegue consumar o trágico plano.
Ameaçando-o de morte, avisa-lhe que o seu compromisso com a Igreja
perdura. Que deve abandonar o Espiritismo e ingressar de novo nas hostes religiosas
a que juntos pertenceram.
O episódio marca profundamente a vida do médium, alertando-o para a
necessidade vital de uma vigilância incessante, a fim de não cair novamente nas
mãos de seu perseguidor.
Suely Caldas Schubert – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de
Ferro
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 105
3.4.3 Por Envolvimento Sutil
Desse modo, merece que sejam ampliadas as reflexões em torno da sutileza
das obsessões, a fim de que se possa entender-lhe os mecanismos delicados e
complexos.
Quando ocorram pensamentos repetitivos perturbadores, reduzindo a
polivalência dos mesmos, restritos a uma idéia que se destaca e predomina, eis que
se inicia o processo sombrio enfermiço.
Da mesma forma, quando os fenômenos da antipatia entre amigos ou
meramente conhecidos passem a crescer, gerando animosidade em instalação, sem
qualquer dúvida, além das barreiras carnais movimentam-se interesses perversos
administrando o raciocínio daquele que assim se comporta.
Sob outro aspecto, mesmo no culto de qualquer ideal, quando se apresentam
programas esdrúxulos ou úteis, mas não oportunos, com riscos de fazer soçobrar o
edifício do bem, há forças espirituais negativas conspirando, cruéis, para o
descrédito, a destruição do trabalho.
Toda vez quando os sentimentos se armem contra o próximo, ou se afeiçoem
em demasia, a ponto de perder a linha do equilíbrio, tenha-se certeza de que uma
obsessão sutil, em agravamento, encontra-se em instalação.
As fixações mentais que desestruturam o comportamento psicológico, além
do caráter de instabilidade emocional, tornam-se canais para interferências
negativas por parte de espíritos ociosos e doentios, que andam à espreita de campos
experimentais para o conúbio exploratório de energias físicas a que se imantam.
As obsessões sutis são perigosas, exatamente em razão da sua delicadeza
de estrutura, da maleabilidade com que se apresentam, sendo confundidas com
as naturais manifestações de conduta psicológica pertinente a cada indivíduo.
É necessário muito discernimento para distinguir, quando se expressam
desajustes emocionais, transtornos orgânicos que afetam a conduta psicológica e
influências espirituais perturbadoras.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 106
Tornar os ensinamentos cristãos parte da filosofia existencial diária constitui
um recurso valioso para a preservação da saúde sob quaisquer aspectos
considerados, e mesmo quando se manifestem enfermidades, na condição de terapia
psicológica e espiritual, capaz de manter o equilíbrio interior e a coragem para o
prosseguimento da luta até o momento da vitória.
Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 2o Parte – Cap. 2 –
Sutilezas da Obsessão
Os pensamentos negativos se fazem sentir como se fossem desenvolvidos
pela própria pessoa.
Quando o influenciador é consciente, a ocorrência é preparada com
antecedência e meticulosidade, às vezes, dias e semanas antes do sorrateiro assalto,
marcado para a oportunidade de encontro em perspectiva, conversação,
recebimento de carta, clímax de negócio ou crise imprevista de serviço.
Não se sabe o que tem causado maior dano à Humanidade: se as Obsessões
espetaculares, individuais e coletivas, que todos percebem e ajudam a desfazer ou
isolar, ou se essas meio-obsessões, de quase-obsidiados, despercebidas,
contudo, bem mais frequentes, que minam, as energias de uma só criatura incauta,
mas por vezes influenciando o roteiro de legiões de outras.
Quantas desavenças, separações e fracassos não surgem assim?
Estude em sua existência se nessa última quinzena você não esteve em
alguma circunstância com características de influenciação espiritual sutil. Estude e
ajude a você mesmo.
André Luiz – Estude e Viva – Cap. 35 – Influências Espirituais Sutis
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 107
A estes e a seus congêneres deve a sociedade do Rio de Janeiro grande
percentagem dos acidentes verificados diariamente nas vias públicas e pelos
domicílios particulares: atropelamentos, quedas, braços e pernas partidos,
queimaduras, suicídios, homicídios, brigas, escândalos, confusões domésticas,
assaltos, etc., etc.
E' a atmosfera. em que vivem e se agitam, porque já eram afins com ela
antes de passarem para a vida invisível.
É o que constantemente inspiram, sugerem e incitam, encontrando no
homem um colaborador passivo, que facilmente se deixa dominar por suas
terríveis seduções.
A infelicidade alheia é o seu espetáculo preferido: Provocam mil distúrbios
na sociedade e nos lares, pois se divertem com a prática de malefícios. Não
entendem a sublime significação dos vocábulos – amor, caridade, piedade,
fraternidade, honestidade! Não crêem em Deus nem têm religião. Odeiam o bem e
o belo com todas as forças vibratórias que possuem.
Odeiam os homens e os seguem, sorrateira e covardemente, porque
odiavam a própria sociedade, antes de morrerem, sabendo que não serão vistos
nem pressentidos. E a perseguição mental que lhes movem, aos homens, é
inveterada e implacável, afirmando eles que assim agem porque igualmente foram
perseguidos, quando homens, pela sociedade, que nunca os protegeu contra os
males com que tiveram de lutar: doenças, miséria, fome, falta de instrução,
orfandade, desemprego, delinquência, desesperos de mil e uma naturezas...
E muitos destes foram, com efeito, delinquentes que a sociedade perseguiu
e levou ao desespero, em vez de ajudá-los a se reeducarem para Deus... O resultado
de tal incúria por parte dos homens aí está: uma vez desaparecidos da vida
objetiva, pela chamada morte, infestam, como Espíritos, a sociedade, e
prejudicam-na, acobertados pelo segredo da morte...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 108
(...)
Em vez de “braço fraturado” ou “atropelamento”, suponhamos que
sugiram o suicídio, o homicídio, uma mesa de jogo, um conflito, uma rixa, um
adultério...
Suponhamos que, em vez de carregarem de vibrações pesadas um braço,
para que a vítima o suponha fraturado e sinta dores atrozes, carreguem a mente
com sugestões luxuriosas...
Aí teremos também a irremediável desonra, o vício, o desregramento
sexual...
Far-se-á maléfica a hipnose, e aquele que não teve forças morais e
vibratórias para se desvencilhar-se das teias em que se deixou envolver, submeter-
se-á a tudo...
Yvonne Pereira – Devassando o Invisível – Cap. 10 – Os Grandes segredos do
Além
O médium que se permite enovelar em problemas dessa natureza, torna-se
vítima de obsessões que culminam, quase sempre, na loucura, no suicídio ou no
assassinato... Os seus sicários utilizam-se das suas impulsividades e o arrojam aos
despenhadeiros da amargura de difícil retorno.
(...)
Impossibilitado, começou a agir psiquicamente no comportamento da
paciente, aumentando-lhe o arrependimento, exprobrando-lhe a conduta,
induzindo-a ao suicídio como solução para a desonra a que se entregara.
(...)
Uma cena confrangedora chamou a atenção de Miranda, no cemitério, logo
depois do atendimento prestado a Davi.
Em uma sepultura coberta de vasos floridos, um Espírito profundamente
triste, em pranto copioso, tocava violino, enquanto a seu lado, amargurada,
padecendo convulsões contínuas, jovem mulher gritava, alanceada: “Por que não
vieste comigo?
Deixaste-me morrer e fugiste? Para onde foste, desgraçado?!
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 109
Ai de mim, nesta noite fria e solitária!”
A jovem parava um pouco e repetia as mesmas perguntas, inspirando
compaixão.
O violinista, por sua vez, interrompia a música e, desesperado, interrogava:
“Martina, responde. Onde te ocultas?
Matei-me para estar contigo para sempre. Quem te arrebatou de mim?
Ouve, é para ti que toco...”
Sensibilizado pela cena comovedora, Miranda perguntou ao Mentor o que
poderia ser feito por eles. Dr. Carneiro deteve-se a observá-los e em seguida
respondeu: “Nossos irmãos aqui chegaram através do suicídio.
Pelo que consigo detectar, ele era professor de violino da jovem, mais velho
do que ela vinte e cinco anos. A música uniu-os e fez-se-lhes veículo de uma paixão
violenta.
Os pais da moça, informados do desenvolvimento do drama, repreenderam-
na, buscando dissuadi-la de uma união que, segundo eles, tinha tudo para ser um
fracasso. Interromperam as aulas e mandaram-na em viagem, o que, conforme
esperavam, lhe faria bem.
O professor descobriu e resolveu acompanhá-la sem que os genitores da diva
o soubessem. Descobertos, foram novamente separados sob ameaças.
Depois de demorada conversação marcada pela paixão compulsiva, em
desespero, optaram pelo suicídio duplo através de soníferos, simultaneamente...
O Benfeitor contou, então, que eles chegaram à vida post-mortem em
lamentável estado. Depois de sofrerem o torpor e a alucinação por mais de dez anos,
imantados pelo duplo crime, encontravam-se próximos, mas ainda não se viam,
nem se ouviam.
Era-lhes negado aquilo que desejaram recorrendo ao suicídio.
Vez por outra o desespero os alucinava, e partiam para a blasfêmia, as
acusações recíprocas, mas o arrependimento lhes era insuficiente para mudarem a
faixa psíquica, a sintonia em que se demoravam, e poderem receber desse modo
conveniente auxílio. Dr. Carneiro acrescentou, por fim, que, apesar de tudo, eles
não se encontravam abandonados.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 110
Com o amparo espiritual recebido, os vampiros não conseguiram arrancá-
los dali, onde acompanharam e sofreram a transformação celular. “Queriam matar-
se para estarem juntos, e se separaram porque se mataram”, acrescentou o Médico
baiano, lembrando que o suicídio é crime covarde que traz conseqüências duras e
imprevisíveis para todos aqueles que nele tombam.
Manoel Philomeno de Miranda – Trilhas da Libertação – Cap. 8/21/30
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 111
3.5 O “Homicídio Espiritual” por processo Obsessivo
Na verdade, em muitas situações, os crimes têm dois autores, um
encarnado(teleguiado) e outro desencarnado.
O que sabem somente aqueles que já tomaram conhecimento das profundas
relações entre os dois mundos, e por isso se cuidam.
Cláudio Bueno da Silva – O Consolador – Ano 7 – N° 333 – 13 de Outubro de
2013 – Homicídios Espirituais
Como os adversários espirituais se vinculavam a ambos, encontraram
campo vibratório propício para o assassinato de cunho espiritual.
Ante esse fato doloroso, em outras circunstâncias, sempre me perguntava,
como as leis terrenas julgariam os criminosos que houvessem sido vítimas dos seus
inimigos desencarnados?
Puniriam ao homicida visível que, por sua vez, se tornara vítima de outros
indigitados criminosos?
E como alcançar aqueles que se encontram além das sombras terrenas em
paisagens imortais excruciantes e permanecem odientos, se escasseiam recursos
próprios para a análise e penetração nessas regiões?
Eram essas interrogações que nos ficaram e permanecem interessando-nos
por conquistar as respostas, em razão da freqüente repetição de delitos dessa ordem
e crimes outros sob a inspiração de seres espirituais desencarnados.
Igualmente, podemos considerar aqueles suicídios, nos quais a insidiosa
presença e indução de algozes desencarnados responde pelo ato tormentoso,
que diariamente arrebata em todo o mundo grande parcela da sociedade...
Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 3 –
Reminiscências
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 112
O mesmo fenômeno ocorre quando se trata de determinados homicídios,
que são planejados no mundo espiritual, nos quais os algozes se utilizam de
enfermos por obsessão, armando-lhes as mãos para a consumpção dos nefastos
crimes.
Realizam o trabalho a longo prazo, interferindo na conduta mental e moral
do obsesso, a ponto de interromperem-lhe os fluxos do raciocínio e da lógica,
aturdindo-os e dominando-os.
Tão perversos se apresentam alguns desses perseguidores infelizes quão
desnaturados, que se utilizam da incapacidade de reação dos pacientes para os
incorporar, podendo saciar sua sede de vingança contra aqueles que lhes estão ao
alcance.
Utilizando-se do recurso da invisibilidade material, covardemente
descarregam a adaga do ódio nas vítimas inermes, tombando, mais tarde, na própria
armadilha, porquanto não fugirão da justiça divina instalada na própria consciência
e vibrando nas Leis cósmicas, que sempre alcançam a todos.
(...)
Todos esses criminosos espirituais, terminadas as batalhas em que se
empenham, passam a experimentar incomum frustração por haverem perdido as
metas que desapareceram e por darem-se conta dos tormentos íntimos em que
naufragam, descobrindo-se sem objetivo nem razão de continuar a viver...
E como não podem fugir da vida em que se encontram, são atraídos
compulsoriamente às reencarnações dolorosas, experimentando os efeitos das
hecatombes que ajudaram a ter lugar.
Mergulham, então, na grande noite terrestre do abandono, da loucura, das
anomalias, emparedados em enfermidades reparadoras, experimentando rudes
expiações, que lhes serão a abençoada oportunidade para reencontrar o caminho do
futuro...
Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 4 – Novos
Descortinos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 113
A obsessão merece maior atenção por parte dos estudiosos da doutrina.
Os processos obsessivos podem ser responsabilizados por grande parte da
violência praticada pelo homem...
Existem crimes tão estarrecedores, que, sem dúvida, não poderiam ser
praticados por uma só pessoa em ação; a gente fica com a nítida idéia de que foram
muitos os que agiram através do autor de determinada atitude de violência...
Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 222
Podemos chamar essa agressão como uma tentativa de homicídio
espiritual.
– Isso ocorre com freqüência? – interroguei-o, surpreso.
– Sim – esclareceu – com mais freqüência do que se imagina...
Nunca devemos esquecer-nos que este é o campo das causas, o mundo
espiritual, onde se originam as ações e feitos que se materializam na Terra. Fonte
de sublimes inspirações, também origina reações devastadoras, quando os seus
autores se encontram nas faixas primárias da evolução.
Em colônias de dor e de sombra, mentes perversas elaboram programações
desditosas que inspiram aos deambulantes carnais, insensibilizando-os e
auxiliando-os nas suas desvairadas aplicações.
Em parceria psíquica, hipnotizam aqueles com os quais conviveram na
esfera espiritual, esses desalmados perseguidores do Bem, e utilizam-nos com uma
frieza que nos choca, procedente, desse modo, das suas construções mentais
devastadoras.
Detido o Espírito encarnado nas malhas vibratórias dos seus desafetos, em
razão dos comprometimentos morais para com eles, torna-se sujeito à sua injunção
infame, experimentando dores acerbas que podem provocar no corpo desastres
orgânicos.
A mente é portadora das energias que se movimentam através da
aparelhagem carnal, e quando são deletérias produzem efeitos compatíveis.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 114
Da mesma forma que uma emoção forte, em estado de vigília danifica o
organismo e provoca distúrbios muito graves na maquinaria fisiológica, aquelas que
têm lugar durante o parcial desprendimento pelo sono, pelo coma ou situações
equivalentes, repercutem nas células, danificando-as ou harmonizando-as se
defluem das alegrias e bênçãos que se vivenciem.
Tudo quanto ocorre no soma procede da psique, portanto, do Espírito, que é
o condutor do carro material.
Manoel Philomeno de Miranda – A Transição Planetária – Cap. 11 –
Aprendizado Constante
O enfermo era austero administrador de serviços públicos que, incapaz de
usar o algodão da ternura em feridas alheias, adquiriu ódios gratuitos e silenciosas
perseguições, por tentar reajustar a concepção de funcionários relapsos.
Esses ódios lhe vergastavam a mente, sem cessar, havia muitos anos, com
perigosos reflexos no sistema circulatório -- a zona menos resistente do seu cosmos
físico --, no fígado e no baço, que se apresentavam em lamentáveis condições.
Seus perseguidores conseguiram insinuar nos médicos a necessidade de
uma intervenção na vesícula biliar, preparando-se-lhe com isso um choque
operatório e, por consequência, a inesperada morte do corpo.
André Luiz – Libertação – Cap. 11 – Valiosa Experiência
Educa a mente no bem e disciplina o comportamento moral, jamais
oferecendo guarida às idéias suicidas.
Mentes desatreladas da matéria, em regime de ociosidade ou vampirização,
trabalham mediante hipnose persistente, inspirando estados de alienação que
culminam no suicídio.
Cultiva o hábito da prece e dá guarida aos pensamentos otimistas,
estimulando conversações edificantes, com que te desvencilharás dos cipós que
asfixiam, levando à autodestruição.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 115
Trabalha pelo bem geral, liberando-te da presunção e do egoísmo, de mãos
dadas ao amor fraternal e o amor fraternal conduzir-te-á com segurança por todos
os dias até o término da tua vilegiatura física.
Joanna de Angelis – Alerta – Cap.28 – Loucura Suicida
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 116
3.6 O Suicídio por processo Obsessivo – Depoimentos 3.6.1 Infanto-juvenil
Os seguintes depoimentos de jovens, com idade até 25 anos, obtidos via
comunicação mediúnica, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, Fernando
de Lacerda, Divaldo Franco, e outros médiuns são apresentados nas próximas
páginas:
# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao
desencarne
(anos)
Tempo após o
desencarne da
comunicação
Depoimentos de Jovens
1. Hilda Envenenamento ? ?
2. Fernanda Luiza Batista Arma de fogo 13 6 meses
3. H Envenenamento ? > 20 anos
4. Antônio Carlos Martins Coutinho ? 20 3 anos
5. Cláudia Pinheiro Galasse Arma de fogo 18 1 ano
6. Francisco Adonias Nogueira Enforcamento 18 4 anos
7. José Teodoro Caldeira Explosão ? 5 meses
8. Júlio Cesar da Silveira Arma de fogo 17 2 anos
9. Lincoln Prata Lóes Arma de fogo 17 1 mês
10. Marcos Emanuel Teixeira Santos Arma de fogo 23 4 anos
11. Milton Higino de Oliveira Arma de fogo 25 6 anos
12. Renata Zaccaro de Queiroz Saltar de altura 18 8 meses
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 117
# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao
desencarne
(anos)
Tempo após o
desencarne da
comunicação
13. Selma Rodrigues Sanches Arma de fogo 16 1 mês
14. Lucia Ferreira Envenenamento 16 1 ano
15. Wladimir Cesar Ranieri Arma de fogo 24 ?
16. Décio Márcio Carvalho Arma de fogo 25 4 meses
17. Dimas Luiz Zornetta Arma de fogo 25 8 meses
18. João Alves de Souza ? 24 ?
19. Pedro Augusto Souza Gonçalves Arma de fogo 22 3 meses
20. Maximiliano Enforcamento 12 4 dias
21. Francisco Ângelo de Souza Drogas 23 ?
22. Marcio Ricardo 16 1 ano
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 118
DEPOIMENTO 1 Hilda
Há duas palavras com significação muito diferente na Terra e na Vida
Espiritual.
Uma delas é "consciência", a outra é "responsabilidade".
No plano físico, muitas vezes conseguimos sufocar a primeira e iludir a
segunda temporariamente, mas, no campo das Verdades Eternas, não será possível
adormecer ou enganar uma e outra.
A consciência revela-nos tais quais somos, seja onde for, e a
responsabilidade marca-nos a fronte com os nossos merecimentos, culpas ou
compromissos.
Enquanto desfrutais o aprendizado na experiência humana, acautelai-vos na
conceituação dessas duas forças, porque o pensamento é a energia coagulante de
nossas aspirações e desejos.
Por isso, não fugiremos aos resultados da própria ação.
Fala-vos humilde companheira que ainda sofre, depois de aflitiva tragédia
no suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade na queda a que se
arrojou, infeliz.
O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que
colocamos na casa de nossa mente.
De instante a instante, a corrupção se dilata e atraímos em nosso desfavor
todos aqueles elementos que se afinam com a nossa invigilância e que se sentem
garantidos por nossa incúria, presidindo-nos a perturbação que fatalmente nos
arrasta a grande perda.
Obsidiada fui eu, é verdade.
Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a
idéia da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me
concedera à estrada primaveril.
Acalentei a idéia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela,
fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava
mais alto no presente.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 119
Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos
familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço;
olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha
justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando
deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração
espiritual.
Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma
porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.
E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se
reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo
infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.
Refiro-me a essa hora terrível e inolvidável, para fortalecer em vosso
espírito a responsabilidade do pensamento criado, alimentado, e vivido ...
No momento cruel, um raio de luz clareou-me por dentro! ...
Eu não deveria morrer assim – comecei a pensar. Cabia-me guardar nos
ombros, por título de glória, a cruz que o Senhor me confiara! ...
Imensa repugnância pela deserção, de súbito, iluminou-me a alma;
entretanto, na penumbra do quarto, rostos sinistros se materializaram de leve e
braços hirsutos me rodearam.
Vozes inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor,
exclamando: – «É preciso beber.»
A bênção do socorro celeste fora como que abafada por todas as
correntes de treva que eu mesma nutrira.
Debalde minha mão trêmula ansiou desfazer-se do líquido fatal.
Esvaíram-se-me as forças.
Senti-me desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu gesto,
sorvi, quase sem querer, a poção com que meu corpo se rendeu ao sepulcro.
Em verdade, eu era obsidiada ...
Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição
que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 120
Corporificara, imprevidente, todas as forças que, na extrema hora, me
facilitaram a queda.
Conservando a idéia lamentável, acabei lamentando a minha própria
ruína.
Em razão disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que podem
rebaixar a mulher indefesa ...
Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos
amigos encarnados a noção de «responsabilidade» e «consciência», no campo
das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me
consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total
da prova em que vim a desfalecer.
É por essa razão que terminamos as nossas frases despretensiosas,
lembrando a vós outros que o pensamento deplorável, na vida Íntima, é assim
como o detrito que guardamos irrefletidamente em nosso templo doméstico.
Se somos atenciosos para com a higiene exterior, usando desinfetantes e
instrumento de limpeza, assegurando a saúde e a tranqüilidade, movimentemos
também o trabalho, a bondade e o estudo, contra a dominação do pensamento
infeliz, logo que o pensamento infeliz se esboce levemente na tela de nossos desejos
imanifestos.
Cumpramos nossas obrigações, visitemos o amigo enfermo, atendamos à
criança desventurada, procuremos a execução de nossas tarefas, busquemos o
convívio do livro nobre, tentemos a conversação robusta e edificante,
refugiemo-nos no santuário da prece e devotemo-nos à felicidade do próximo,
instalando-nos sob a tutela do bem e agindo sempre contra o pensamento insensato,
porque, através dele, a obsessão se insinua, a perseguição se materializa, e, quando
acordamos, diante da própria responsabilidade, muitas vezes a nossa consciência
chora tarde demais.
Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão Nota: Comunicação recebida no dia 15 de março de 1956 – Grupo Meimei – Pedro Leopoldo/MG
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 121
DEPOIMENTO 2 Fernanda Luiza Batista
A jovem, quase adolescente, Fernanda Luíza Batista dos Santos nasceu em
Franca, SP, a 3 de junho de 1967, aí desencarnando com 13 anos, no anoitecer de
29 de outubro de 1980 – mensagem de 1981/abril.
Querida mamãe Aparecida, abençoe a sua filha, perdoando-me o
desequilíbrio a que me entreguei, sem pensar na dor que lançava em meu próprio
caminho.
Sou trazida até aqui pela vovó Maria Honorata porque por mim própria, não
conseguiria vir.
Sei que alterei a família toda com a resolução infeliz.
Querida mãezinha, você e o papai Mauro me perdoarão se procurei aquela
arma propositadamente. Aproveitei o ruído daquele mesmo aparelho de som que a
sua bondade me deu com sacrifício para liquidar comigo!
Ninguém conseguirá imaginar o sofrimento da infeliz menina que fui por
minha própria conta! Nada sabia da vida, nem guardava experiência alguma,
entretanto, a ideia de me ausentar do mundo me obcecava…
Não pensei no sofrimento dos meus e nem avaliei quanto me queriam todos
em casa. Um pequenino desgosto de criança rebelde e compliquei tanta gente…
Pobre Sam! Um amigo que nem podia tomar conhecimento de minha
presença e eu a dramatizar o inexistente!
Querida mãezinha, reconheço que aos pais não é preciso rogar desculpas,
no entanto, sinto-me de joelhos a lhes pedir para que me auxiliem, esquecendo-me
o gesto alucinado…
Não sei de todo o que se passou… Lia com interesse a tudo quanto se
referisse aos casos de amor e paixão e, antes de me formar na fé, acreditei-me
pessoa adulta quando não passava da menina que se afundou voluntariamente num
poço de lágrimas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 122
Tenho recebido o socorro de vários parentes, dentre os quais me sinto mais
ligada à vovó Honorata, porque ainda não saí da posição de doente grave.
Tenho o coração doendo e a cabeça ainda bastante desorientada.
A senhora, meu pai, o Walter João e as irmãs compreenderão que não pode
ser de outra maneira.
Não tenho palavras para descrever o meu arrependimento, no entanto,
deixaram-me escrever-lhes estas notícias para que me alivie, desinibindo os meus
sentimentos sufocados.
Rogo à Anita, à Aparecida Helena e à Glória para me perdoarem.
Quando me lembrem, por favor, não me recordem como sendo o retrato de
uma criança enlouquecida de arma na mão.
Recordem-me nos momentos em que, despreocupada, não me intoxicara,
ainda, com ideias de autodestruição.
Preciso refazer a minha própria imagem. A vó Luíza e a irmã Ana a que veio
até a minha pobre presença, a pedido de nosso Carlos, muito me amparam.
Envergonho-me, porém, de receber tantas bênçãos, quando errei
calculadamente, conquanto sem conhecimento antecipado do que fazia.
Agradeço as nossas amizades que, até hoje, me reconfortam com orações.
A nossa benfeitora Maria Conceição de Barros, n a quem o seu carinho
rogou por mim, estendeu-me as mãos e um médico de nome Doutor Ulysses,
também de Franca, se compadeceu de mim por intercessão dela.
Como vê, não estou desvalida, porque a Infinita Bondade de Deus não nos
abandona. Apenas ignoro como conseguirei rearticular o meu organismo agora
dilapidado. A vovó Honorata me consola e busca reanimar-me.
Querida mamãe Cida, perdoe-me e aceite-me por sua filha outra vez…
Creia, mamãe, só a cabeça perturbada e doente me faria agir contra mim
própria e contra a felicidade dos que mais amo.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 123
Não posso continuar, porque o pranto não escreve e as lágrimas me asfixiam
os pensamentos com que eu desejava formar as palavras de súplica à família toda
para que me recebam novamente no coração, tal qual fui antes de minha resolução
infeliz.
Deus nos proteja e me auxilie a retomar a tranquilidade que ainda não tenho.
O papai e todos os meus me perdoarão com o seu apoio de mãe e eu lhe
rogo, querida mamãe, para que o seu sorriso brilhe de novo para mim, a fim de que
eu possa recomeçara minha caminhada de esperança.
Perdoe-me e receba em seu colo a sua filha que é hoje a sua criança doente.
Ensina-me outra vez a pronunciar o nome de Deus com a fé que o seu
carinho me transmitiu; cante outra vez para que tanta dor me permita dormir e
receba muitos beijos de sua filha ainda errada e sofrida, mas sempre sua filha do
coração por ser agora a mais necessitada de todas.
Sempre a sua,
Fernanda Luiza Batista – Vida nossa Vida – Cap. 5 – Fernanda Luiza Batista
dos Santos
25 de abril de 1981
Livro: Vida nossa vida – Familiares diversos – Capítulo 5 – Fernanda Luíza
Batista dos Santos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 124
DEPOIMENTO 3 H
Os Espíritos que se santificaram na compaixão e na caridade trouxeram-me
para que eu narre a minha desventura, após ter sido socorrida quando por primeira
vez aqui estive.
Sou suicida; uma infeliz que trucidou todas as oportunidades próximas de
ventura e felicidade com as próprias mãos; rebelde que desagregou a sublime
construção da vida; ingrata que recusou o vinagre da experiência para sorver a água
pestilencial do charco de inenarrável aflição...
Católica desde muito cedo atingi a adolescência fantasiada pelas ambições
da educação em regime de futilidade.
Meus pais, embora bons, preocupavam-se mais com a estética do corpo e
com os triunfos da carne do que com as bases morais e espirituais dos filhos.
Fiz-me, assim, atleta da natação, pagando um alto preço pelas minhas
incursões ao mar, sendo vítima de lamentável acidente que me desfigurou a perna,
deixando-me, além disso, um profundo trauma interior.
Ambiciosa e atormentada, confundi amor com desejo, escolhendo para amar
um moço que estava longe de corresponder as aspirações dos meus sentimentos de
menina-moça que sonhava com um lar...
Noivos, senti-me traída, percebendo-o distante e frio, sem a necessária
dignidade para desfazer o compromisso que assumira espontaneamente.
Numa manhã de loucura, após uma noite interminável de conflitos, sorvi,
desesperada, alta dose de tóxico letal que me venceu o corpo sem me destruir a
vida.
Antes, porém, redigira uma carta, grafada com o suor da alma, suplicando
perdão aos meus pais...
O que aconteceu depois daquele torpor que me levou ao copo não posso
descrever. Tive a impressão que despertei, subitamente, desacorrentando-me dos
grilhões que me arrastaram até o gesto de loucura.
Ao dar-me conta do que fizera, desejei recuar.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 125
Era tarde! Já estertorava, padecendo convulsões lancinantes.
Pensei em suplicar por socorro, mas, o turbilhão em que me debatia, não me
permitiu fazê-lo.
Digo melhor: a garganta em brasa viva não atendia ao desespero do meu
arrependimento. Tentei erguer-me e tombei desgovernada, sem qualquer controle,
comburida pela substância que ingerira.
Ó, meu Deus! As labaredas que ardiam desde o estômago ao cérebro
fizeram-me dormir ou desmaiar momentaneamente, num sono agitado...
Logo, porém, despertei para um inferno que nenhuma palavra na Terra pode
definir, inferno que se alonga até hoje, mais de vinte anos transcorridos, conforme
fui informada, diminuindo de intensidade uma que outra vez, para logo recomeçar...
Dizer o que é o sofrimento de quem tripudia sobre as dádivas da vida é tarefa
quase impossível mesmo para as f inteligências mais lúcidas.
Sei que gritei, rasgando as vestes, que me atirei sobre as paredes e móveis,
em desespero de fera, não conseguindo diminuir a agonia que me devorava
interiormente, sem cessar. Debati-me até a perda da consciência, a fim de despertar
com as dores ora aumentadas pela violência dos impactos novos que me aplicava
no desespero de animal ferido, irracional.
Sem ter ideia exata do que me acontecera, saí em desabalada correria pela
rua imensa sem nada distinguir, como se a Terra estivesse envolta num eclipse e o
céu sem estrelas, sem luar, atropelando tudo e todos, deixando-me, também,
atropelar...
O tempo aqui é medido pela extensão da dor. Assim senti subitamente que
uma força terrível me arrastava Dara uma furna escura e lodosa com matéria em
decomposição, constatando, depois de inauditos esforços, que aquele era o meu
corpo a confundir-se com a lama...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 126
Percebi-me, então, estupidificada, numa forma brutal, absolutamente igual
ao modelo que se desfigurava, através da qual sentia e experimentava a invasão dos
vermes que se locupletavam, invadindo-me todas as células, da cabeça aos pés,
enquanto por dentro a labareda do veneno continuava queimando-me as vísceras
interminavelmente.
Eu era como uma fornalha de aço derretido. Assim, mesmo, sentia-me sem
forças para gritar, traduzindo a sensação terrível da asfixia, na cova onde estava,
acompanhando o nefasto banquete da minha ruína.
Como é possível sofrer-se tão variadas dores, não sei dizê-lo!
Quanto durou tudo isto, não recordo.
Mil vezes acordei para dores maiores, sem o direito de um repouso,
porquanto, o sono ligeiro era feito de pesadelos, em que monstros desfigurados se
me apresentavam, afirmando-me ser aquilo a morte que eu queria, embora sentindo-
me viva. E ameaçavam: “Isto é a morte dos réprobos e dos covardes.”
Munidos de tridentes, como se fossem figuras da Mitologia do horror,
cravavam meu corpo, infinitamente dorido, banqueteando-se nos tecidos em
desorganização como se estivessem num lupanar de loucos, enquanto gargalhadas
inesquecíveis estrugiam no ar. Assim era o sono a que eu tinha direito, acordando,
exausta, numa realidade muito pior do que o pesadelo da minha alucinação.
Ó, meu Deus! meu Deus! Se eu pudesse gritar para os que esperam encontrar
no suicídio a porta do repouso sem fim e do esquecimento sem cansaço!... Se me
fora dado bradar para o Mundo, o que é o suicídio e se as pessoas do mundo
quisessem parar para ouvir-me e conhecer a tragédia dos suicidas!... Não sei, não
sei!...
Eu também ouvira falar de Deus e do que significa o hediondo crime do
auto-aniquilamento, no entanto, perpetrara-o, dizendo fazê-lo por amor...
Como se todas essas dores não bastassem, consegui evadir-me da prisão
tumular e volver, agônica, sem saber como, a minha casa, a minha família.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 127
Quanta desolação! Havia muito ressentimento por parte de meus pais contra
mim; meus irmãos se esforçavam por esquecer-me e a vergonha que eu lhes
impusera. Os meus retratos haviam sido arrancados das molduras e destruídos, bem
como tudo o que me dizia respeito ali não mais tinha lugar.
Meus pais proibiram que se pronunciasse meu nome em casa.
Tentei falar-lhes, suplicar-lhes, senão perdão, pelo menos piedade...
Ninguém me ouvia ou sentia...
Subitamente desgarrei-me dali, acionada por força cruel, violenta,
deparando-me noutro lar: Era a residência atual do meu antigo noivo. Por pouco
não o reconheci.
Consorciara-se com a outra, ora infeliz, pois brindara a pobre companheira
com o seu caráter infame, levando-a a sórdidos desesperos, que a têm aniquilado
no vórtice de decepções sem nome.
Esqueceu-me o ingrato. Descobri-o, ébrio, vulgar. E pensar, que, por ele,
destruí a minha vida louça, mergulhando neste labirinto sem saída, neste pântano
sem terra firme, entregue pelas minhas próprias mãos a bandos infernais de
salteadores desencarnados que me venceram as últimas energias!
O rio das lágrimas que me chegavam aos olhos por fim secou, como lava
que sê fizesse pedra. Os últimos vislumbres de esperança se apagaram e a débil
crença em Deus não me pôde dar paz, naquele pandemônio...
Um dia, não sei quando, alguém lembrou-se de mim, chamando-me pelo
nome, com unção e ternura que me alcançaram. Senti como uma breve aragem
rociar-me.
Desde então, de quando em quando, essa doce voz intercede, rogando a
Deus por mim, aliviando-me a agonia sem limite.
Descobri que era a minha santa avozinha falecida, que orava por mim e
oportunamente aqui me trouxe para o mergulho nas forças do médium, que me
renovaram, enquanto, apesar do meu desespero incessante, por primeira vez, me
senti lenida e calma, escutando as palavras de alento e compaixão...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 128
Foi o início do meu longo e delicado tratamento, que não sei quando
terminará.
O que importa, porém, é que, agora, raciocino e suplico misericórdia ao Pai
Amantíssimo, preparando-me em demorado curso para a recuperação.
Claro que as minhas aflições não cessaram... Sofro-as, porém, em outras
condições de ânimo.
Já não padeço a escravidão subjugadora dos meus adversários, os que,
utilizando-se da minha fraqueza, em processo de bem urdida indução hipnótica, me
levaram ao suicídio, deixando-me entregue a mim mesma, após a consumação do
gesto...
Adiantaria, algo, dizer que o suicida não resolve? Pois bem, almas sofridas
e combalidas, haja o que houver,
por pior que se apresente a vida, em dores e provações, bom ânimo; suicídio,
jamais!
Estou rogando a Jesus no sentido de que alguém consiga ouvir as minhas
palavras, nelas meditar, advertido de que o suicídio é a desgraça do espírito.
É tudo o que eu consigo dizer.
H – Depoimentos Vivos – Cap. 32 – Amarga Experiência
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 129
DEPOIMENTO 4 Antônio Carlos Martins Coutinho
Querida mamãe Djanira, peço me abençoe.
Apesar do tempo transcorrido ainda me vejo um tanto abatido.
A vovó Carolina n me trouxe para dizer-lhe que estou melhorando. Não
creias que haja feito o que fiz por vontade própria. Uma força esquisita se impunha
ao meu pensamento e, a falar a verdade, somente aqui, na Vida Espiritual tomei
conhecimento do meu gesto infeliz.
Mãe, perdoe-me se a feri. Não me cabia fugir da tarefa quando o seu coração
mais necessitava de assistência e compreensão.
Peço-lhe dizer ao papai para que me desculpe.
Tantas vezes sinto os pensamentos dele a me buscarem com grande aflição
para saber…
Saber o porquê da ocorrência.
Diga-lhe, mãezinha, que ninguém teve culpa; minha fraqueza se viu
subjugada repentinamente por forças que visavam a nossa separação sem que me
assista o direito de acusar a ninguém e tudo se esfacelou em torno de nós.
Sei que o papai espera alguma palavra, e se posso pronunciá-la, essa palavra
é perdão — perdão para mim que necessito refazer minha própria segurança.
Tenho a esperança de ver o nosso lar novamente feliz. O meu irmão e a
nossa querida Sônia são filhos dedicados e admiráveis e farão por mim a alegria
que não consegui construir em favor dos queridos pais.
Nossa fé não desapareceu, não obstante as sombras que o meu gesto
lamentável espalhou sobre nós, e com fé estou recuperando a edificação de nossa
paz.
Mãezinha querida, perdoe-me se não posso escrever mais.
O tempo está esgotado e faltam-me forças, embora a minha vontade de
reconstrução do próprio caminho esteja forte e cada vez mais viva por dentro de
mim.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 130
Deus sustentará o seu coração querido nesta jornada em que seguimos
sempre unidos, apesar da ideia de separação estar agora a nos obscurecer a visão da
frente.
Jesus, porém, nos guiará e venceremos.
Quando puder, envie minhas palavras de filho a Paranavaí e abrace os
irmãos queridos, com a pérola que já nasceu na família para a nossa felicidade.
Receba, querida mãezinha Djanira, o reconhecimento e o amor incessante
de seu filho, ainda sofredor, mas sempre seu filho do coração,
Antônio Carlos Martins Coutinho – Reencontros – Cap. 6 – Regresso
Inesperado
Livro: Reencontros – Familiares diversos – Capítulo 6 – Regresso
inesperado de Antônio Carlos Martins Coutinho
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 131
DEPOIMENTO 5 Cláudia Pinheiro Galasse
Querida mãezinha Dorothy e querido papai Toninho, abençoem-me.
Estou melhor e mais calma, conquanto ainda seja portadora de algumas das
consequências tristes de meu gesto. Sei que hoje passaram o dia revivendo o
episódio que tanto estimaríamos ser apenas um sonho.
Também eu com a Vovó Rosa, atravessei as horas deste nove de setembro
que já está passando a recordar o desalento que me tomou de assalto.
Tudo se me refez na memória. Um telefonema que me deixou indisposta e
a ideia que eu nunca deveria ter alimentado chegando, aos poucos, a me repletar o
cérebro de resoluções lamentáveis.
Dez minutos para as três horas da tarde, procurei certificar-me de que
poderia agir sem a presença de quem quer que fosse e, como que amedrontada,
diante de mim mesma, consegui a chave que me daria acesso à arma com a qual me
anulei no quarto.
Não sei até hoje que forças desumanas teriam posseado o meu ser…
Recordo-me que chegava a sentir pesada mão sobre a minha para que o
gatilho não falhasse.
Caí, descontrolada, mas ainda escutava os rumores de casa, quando ouvi as
vozes da Mônica…
Compreendo que a nossa dor ficou sendo realmente nossa, porque o meu
gesto passou a ferir os pais queridos e a todos os nossos.
É preciso que lhes diga que, embora me sentisse envolvida por forças que
me perturbavam a alma, grande foi o meu sofrimento, mas as preces da mãezinha
Dorothy e do papai Toninho, as orações da vovó Gu e do avô Amé, com as petições
de socorro que foram enviadas por meus afetos do mundo físico e da vida espiritual,
me enlaçavam à maneira de bálsamos sobre a minha cabeça e depois de muito
esforço da vovó Rosa consegui o sono que parecia me recusar…
Desde então, venho melhorando, depois de imensa dor que eu mesma
desencadeei sobre mim.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 132
Queridos pais, agora preciso tanto da paz de todos. A paz que me faça forte,
a paz que devo levantar de novo sobre o meu coração.
Peço perdão a todos, novamente, e que esta rogativa me traduza a sede de
serenidade para que me sinta renovada perante Deus e perante a vida. Quero paz
em todos, conquanto houvesse destruído essa harmonia por dentro de nosso lar.
Quero paz em favor de meus amigos e de minhas amigas.
E se a estimada irmã Vivi aparecer em nossa casa, rogo para que ela também
nos receba as vibrações de carinho e de paz. Querida mamãe Dorothy, ninguém me
fez mal.
Acontece que uma sombra me tomou os pensamentos e aquilo tomou a
forma de uma nuvem que eu não sabia se eu era a nuvem ou se a nuvem era uma
parte de mim mesma a requisitar moradia em meu coração doente sem razão.
Perdoem-me se foi assim. Não tive forças.
Apareceu-me um estranho desinteresse por mim própria e fiz o que não
deveria fazer.
Um ano passou... Parece-me um século. Os que choram, suportam mais peso
na carga das horas. Apesar de tudo, continuo melhorando e peço-lhes não se aflijam
se acaso estiver dizendo de minha parte, alguma palavra ou lembrança
inconveniente.
Muitas saudades com agradecimentos aos meus irmãos e aos avós queridos.
Sabendo que ambos me perdoam e me retomam na posição de uma criança
ferida que se deixou perturbar por momentos, criando-lhes tanta dor, peço para que
recebam muitos beijos orvalhados de lágrimas e iluminados de esperança da filha
que deseja tanto ter sido melhor e que, um dia, se fará melhor para merecer o carinho
de que sempre me enriqueceram as horas.
Sempre a filha que lhes pertence com todo o coração.
Cláudia Pinheiro Galasse – Amor e saudade – Cap. 6 – Cláudia Pinheiro
Galasse
Livro: Amor e saudade – Familiares diversos – Capítulo 6 – Cláudia
Pinheiro Galasse
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 133
DEPOIMENTO 6 Francisco Adonias Nogueira Filho
Querida mamãe Evangelina e querida vovó Ester, estou aqui, na condição
do filho que volta, a fim de lhes pedir perdão.
Vovó querida, desculpe-me pelo que fiz em Cratéus, quando a sua bondade
estava pronta, a fim de me defender e proteger constantemente.
Não sei porque a ausência de meu pai me conturbou tanto…
Pensava, pensava e não me vinha uma saída ao pensamento. Fiquei sem
coragem, vencido.
A vida me pareceu vazia, sem sentido, quando a mãezinha Evangelina e a
vovó Ester esperavam tanto de mim.
Ignoro que forças indomáveis me fizeram aceitar a ideia de uma corda que
me pendurasse o corpo, a fim de que tudo acabasse para mim.
A verdade é que a vida não me deixou e sofri o indescritível para aprender
a veneração que me cabia dedicar ao corpo que Deus me dera, através de meus pais.
Não sei de onde me veio o impulso temerário. Senti que o meu corpo
balançava no espaço e que eu caía numa tremenda escuridão.
O que se passou, não tenho vocábulos para contar. Quanto tempo me arrastei
naquelas sombras densas, arrependido e infeliz, não sei dizer.
Depois de um tempo que para mim teve a duração de séculos, uma voz me
veio atender aos gritos de socorro…
Chorei mais ainda, ao verificar que alguém acertara comigo naquela
imensidão de escuro em que me debatia. A voz me pediu paciência e oração e me
afirmou que era das vovós Evangelina e Tertinha a me buscarem.
Desde então, fui hospitalizado para tratamento; no entanto, reconheço que a
minha coluna se desajustou. Já comigo vêm pessoas e conversam, mas a figura da
mamãe Evangelina, a sofrer por minha causa, não me sai da cabeça.
Mãe, perdoe-me. E não desanime com os meus irmãos. O José melhorará, o
Marco Antônio ficará bom. E a Lívia será o nosso apoio.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 134
Perdoe a fraqueza de seu filho, que, num momento infeliz, cedeu à sugestão
do mal. Somente posso interpretar assim o que me aconteceu, porque a intenção de
suicídio não me cozinhava os miolos.
Tive medo da vida, sem a presença de meu pai, mas o medo era o que eu
sentia e não aquela temeridade que acabou por me perder.
Espero melhorar e auxiliar a mamãe Evangelina e apoiar os meus irmãos.
Deus nunca está pobre de misericórdia e eu espero um novo dia, no qual a
minha consciência de rapaz amanheça pacificada.
Querida vovó Ester, o tio José Cardoso alcançará as melhoras precisas.
Confiemos em Deus. Agora aguardemos um tempo novo.
Ainda chegarei a Fortaleza preparado para ajudar a mamãe, reparando as
minhas faltas. Estou, agora, no fim de minha oportunidade para lhes deixar esta
carta e ser reconduzido à instituição a que me recolheram.
Querida vó Ester e querida mamãe Evangelina, perdoem ao filho ingrato que
um dia se restabelecerá para viver novamente, respeitando as Leis de Deus e
amando-as cada vez mais.
Francisco Adonias Nogueira Filho – Entes queridos – Cap. 5 – Francisco
Adonias Nogueira Filho
15 de janeiro de 1982.
Livro: Entes queridos – Familiares diversos – Capítulo 5 – Francisco
Adonias Nogueira Filho
Fortaleza (CE) — 21 de abril de 1960.
Crateús (CE) — 15 de agosto de 1978.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 135
DEPOIMENTO 7 José Teodoro Caldeira
Uberaba, 8 de agosto de 1969.
Minha querida mãe, lance sobre mim a sua bênção e ajude seu filho sofredor.
Estou aqui. De que modo não sei. Trazido como um doente que
enlouquecesse e foi recolhido à cela de tratamento obrigatório, mas trazido pelo seu
carinho e pelo de minha outra mãe, a querida tia Tereza, por minutos a fim de rogar
perdão e paciência.
Desde o dia 16 de março entrei num martírio sem saber que tempo estou.
Escuto apenas a explosão, como se eu mesmo destruísse o mundo — o
mundo que Deus me deu no corpo que eu tinha.
Terrível o suicídio, dura lição, horrível prova, mas não estou aqui para fazê-
las chorar e, sim, para dizer-lhes que vivam.
Não queiram morrer, não queiram uma despedida forçada, ninguém morre.
Pensei erradamente. Loucura de rapaz inconformado, sem disposição para
trabalho e sacrifício.
Não julguem que alguém me tenha ferido. Foi só o medo de viver que me
acovardou.
Carregava conflitos do sentimento que supus tão grandes quando eram
somente pequeninas alfinetadas que me ajudariam a progredir.
Rebelei-me mãezinha, até contra … Deus, rebelando-me contra a vida e
pago muito caro a decisão de criança irrefletida.
Muitos disseram que havia-me rendido à tentação, porque a senhora, com
tanta razão, se casou de novo. Isso não é verdade. A senhora fez o que devia.
Procurou em nosso Moacir um companheiro e um protetor para a travessia
do mundo. E encontrei nele o pai que cedo me faltou.
Não, mãezinha. Até mesmo o pai Ademar ajudou a senhora a tomar nova
companhia. E graças a Deus, vejo-a feliz.
O que sucedeu é que seu filho enlouqueceu, de repente.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 136
Quando a aconselhei com carinho a tomar nova fé, pressentia que essa fé
me transformaria, afastando-me à vocação do suicídio, e fugia — fugia de tudo o
que me pudesse salvar.
A responsabilidade, mãezinha, me pertence por inteiro, mas se a senhora e
a tia Tereza ficarem conformadas, terei forças novas.
Meu pai Ademar e vovó Iracema são aqui meus novos pais. Ampararam-me
e estão comigo no sanatório de onde vim por momentos para trazer-lhes a certeza
de que vocês duas precisam e devem viver.
Temos tanta gente sofrendo mais, muito mais do que nós. Por que não vi
antes? Simplesmente porque a rebeldia me tomara de assalto.
Ah! Mãezinha, fique tranquila e esqueça. Abrace vida nova e trabalhe. Faça
seus estudos do Espiritismo e ampare os filhos das outras mães! Quantos deles se
encontram entre a penúria e o desequilíbrio!
A senhora e tia Tereza queriam que eu estudasse mais, que não
permanecesse tão só no laboratório, entretanto, contrariei-as para meu sofrimento
próprio.
De agora em diante, porém, serei outro. E logo que o barulho me deixar a
cabeça e asserenar o coração, serei de novo, seu filho.
Caminharei ao seu lado, lembrando as preces que a sua ternura e o carinho
de minha querida tia me puseram nos lábios, ensinando-me a esperar por Deus de
mãos postas.
Serei um novo homem. Cuidarei do futuro e saberei sofrer, sem revolta, em
meu próprio proveito.
Perdoem-me se lhes trago lágrimas novas. Elas são diferentes, choro
também aqui, mas de espírito aliviado, aguardando a bênção com que me
consolarei.
Trabalhem. Façam por mim o que ainda não posso fazer.
Ensinem que o suicídio é um despenhadeiro nas trevas e digam a quantos
sofram no mundo que a dor é bendita e que a vida se aperfeiçoa por ela em nome
de Deus.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 137
Os amigos que me trouxeram não me permitem escrever mais. Orem por
mim, mas confiem no filho que o sofrimento está renovando.
E se posso trazer algo a vocês — minhas duas mães do coração — se posso
oferecer-lhes alguma cousa, ofereço a promessa de ser melhor amanhã.
Recebam todo o carinho e arrependimento, com muito amor e confiança do
filho reconhecido.
José Teodoro Caldeira – Presença de Chico Xavier – Cap. 14 – Carta de um
suicida à sua mãe.
Publicada em “O Triângulo Espírita” Uberaba, Ano 3, nº 27, 15 de Março
de 1970, sob o título “Jovem suicida dá interessante comunicação”.
Livro Presença de Chico Xavier – Depoimentos diversos e Mensagens
familiares – Capítulo 14 – Carta de um suicida à sua mãe
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 138
DEPOIMENTO 8 Júlio César C. da Silveira
Assim, ao pôr termo à vida física, com um projétil de revólver, em 24 de
junho de 1986, poucos dias depois de completar 17 anos, surpreendeu
profundamente toda a família e seus amigos.
Quase dois anos após esse doloroso acontecimento, Júlio César voltou a
dialogar, em esclarecedora e amorosa mensagem psicográfica, com sua progenitora,
que comparecia, na noite de 27 fevereiro de 1988.
Querida mamãe Arina. Peço-lhe me abençoe.
Ainda me vejo no centro dos resultados infelizes do gesto com que me retirei
da vida física, sem esperar pelos Desígnios de Deus.
Depois daquele fim de junho em que a imaturidade me tomou o espírito,
armando-me com o projétil que usei contra mim próprio, não sei dizer a extensão
de minhas ansiedades.
Estava, de minha parte, na condição do rapaz-menino, derrotado pelo
sofrimento; e associando-me à sua dor de mãe que indagava o porquê do meu gesto
desesperado, os meus conflitos eram visões arrasadoras.
Ah! Mamãe Arina, perdoe-me.
Ninguém precisa reprovar a criatura que se mergulha nas sombras do
suicídio, porque essa criatura já possui, por si mesma, um monte de amarguras para
se sentir nos caminhos dolorosos da corrigenda, com o remorso a lhe pesar na
consciência.
O que sofri, logo após o meu desenlace, é alguma coisa que me escapa ao
propósito de interpretação.
Tomei conhecimento de mim próprio, depois de longos pesadelos em que
me mantinha no comportamento dos loucos.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 139
Um dia, não sei depois de quantos dias, senti que a minha consciência
despertava, talvez mais viva.
Pude, no entanto, ouvir aquela alma santa que se me deu a conhecer por
Tereza, a minha bisavó, hoje minha benfeitora e enfermeira a fazer-me reconhecer
que Deus existe nos corações afeiçoados na abnegação e no sofrimento.
Venho até aqui em companhia dela, pedir o seu perdão para minha falta
grave.
Sei que entidades infelizes tiveram muita participação em meu problema
triste, mas não desejo inculpar senão a mim mesmo, porque a vida é uma bênção de
Deus, e nos cabe a obrigação de esperar por Deus para deslocá-la de uma situação
para outra.
Peço-lhe perdão, sem me esquecer de fazer idêntica rogativa ao meu pai
amigo Alvim e aos meus irmãos Andrée Rodrigo. Se pudesse desejaria pedir a todos
os amigos, e até mesmo aos objetos de nossa casa, me desculparem o erro cometido.
Rogo ao seu carinho de mãe, conversar com a nossa Ângela, dizendo-lhe
que não a esqueço e lastimo a compulsão de que fui vítima, num momento em que
eu tanto precisava continuar vivendo em minha existência de menino.
Querida mamãe, agradeço o seu auxílio, amparando-me indiretamente ao
fixar-se no trabalho de assistência da Seara de Jesus que, em Criciúma, é a presença
de Cristo, tomando-nos pelas mãos a fim de guiar-nos na direção dos asilos da paz.
Sei que errei e compreendo que sou punido por mim próprio, mas não estou
sem esperança. Deus retira novos rebentos das árvores decepadas e faz nascer, no
pântano, os lírios que enfeitam a lama com a brancura dos lírios de neve.
Mãe querida, não me pergunte a razão do ato tresloucado a que me
entreguei. Ainda não tenho os pensamentos equilibrados a fim de estudar o meu
próprio flagelo íntimo. E creia que a Ângela não terá sido a causa do meu
desequilíbrio.
Por muitos dias, senti-me dominado por uma vontade muito superior à
minha, e tudo planejei precipitadamente para não adiar e nem falhar naquele gesto
infeliz.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 140
Mãe Arina, perdoe-me se não procurei ver os seus exemplos de paciência e
coragem diante da vida. Graças a Deus, sinto-a sob o amparo de nosso Alvim, a
quem amo qual se fosse meu próprio pai, e peço a Deus para que os meus irmãos
André e Rodrigo não me sigam na estrada espinhosa na qual eu me debato.
Embora as minhas tribulações, lembro-me de que o aniversário do Rodrigo
está próximo, e rogo à sua bondade abraçar por mim o querido irmão.
Venho melhorando em meus conhecimentos nas suas horas de dedicação
aos necessitados na Seara. Que eu possa ampliar as minhas experiências e aprender
a servir como devo.
Estou ainda nas forças de minha bisavó Tereza e não sei onde estarão as
minhas, porque, desde a minha conscientização, estou um bagaço de fraqueza e
sofrimento.
Peço ao seu carinho continuar amparando-me em suas orações, porque as
orações das mães crucificadas pelos filhos no madeiro da provação, através da
imensidão do Espaço, chegam a Deus para que a misericórdia do Pai, de Infinita
Bondade; recolha em seu manto de luz os filhos ingratos que não souberam ou não
quiseram viver.
Mãe querida, estas são as minhas palavras. Se puder servir como súplica de
um filho transviado, receba o cálice de fel que lhe trago, com a esperança de que
Deus me restaurará o coração para aceitar a obediência e o arrependimento na
condição de agentes de minha própria renovação.
Quisera escrever muito ainda, mas, apenas diria mais amplamente a dor que
ainda me faz tão desvalido de qualquer recurso que signifique encorajamento ou
consolação.
Mãe Arina, meu abraço ao meu segundo pai e a meus irmãos. E colocando-
me de joelhos para rogar-lhe perdão por minha falta, espero, um dia, ser novamente
digno de seu carinho e dedicação.
Isto é tudo o que posso dizer, entregando-lhe o coração de seu filho que a
dor vem burilando para que eu seja realmente o seu filho da alma, sempre o seu
Júlio César
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 141
Júlio César C. da Silveira, porque este é o nome verdadeiro que me vai no
coração.
Escrevo assim, mas nada tenho contra o pai Moretti que é também filho de
Deus, como nos acontece.
Júlio César C. da Silveira – Gratidão e Paz – Cap. 13 – Júlio César C. da
Silveira
Livro Gratidão e paz – Familiares diversos – Capítulo 13 – Júlio César C.
da Silveira
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 142
DEPOIMENTO 9 Lincoln Prata Lóes
Mamãe Sylvia, meu pai, estou aqui, pedindo lhes para que me abençoem,
perdoando o desgosto que lhes dei.
Sou amparado pelo tio Antônio Bernardino e por minha avó Nelly para
dizer-lhes que estou melhorando, mas ainda me sinto vago, entontecido…
Não julguem que tivesse usado minhas mãos no suicídio. Havia tido
contratempos de namoro, mas isso não era bastante para que me arrojasse a esse
gesto infeliz.
Sentira, na antevéspera do dia 4, uma grande dor de cabeça e quis afogar em
alívio o meu pensamento com alguns comprimidos, que não mais me lembro quanto
ao nome.
Minhas ideias estavam embaralhadas… Parecia estar numa nuvem que me
transportava para lugar nenhum…
Não sei como foram alteradas as minhas ideias… No quarto, li cadernos ou
tentei ler alguma coisa de que não sabia o sentido…
As horas estavam diferentes para mim… Um impulso, que não compreendo
até hoje, me levou a encontrar a arma, com a qual fiquei refletindo na vida e na
morte…
Seria aquele objeto um portador da morte em si? Perguntava a mim
mesmo…
Sem avaliar o perigo em que me achava, recordei os casos das roletas russas
assim chamadas…
Haveria uma bala determinada para cada pessoa em casos desses?
Desconheço porque levei a arma a altura da cabeça, sem qualquer ideia de
fugir da vida…
Os pensamentos faziam um turbilhão no meu cérebro…Sentia-me tonto,
descontrolado…
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 143
Não tenho a ideia de haver puxado o gatilho, mas a verdade é que caí
desamparado, acometido me absorvi de todo, e quando acordei, foi aquele mesmo
choro que, soube, de pronto, num espanto de que não conseguia sair…
Um sono mais esquisito de que fora estar em nossa casa… Vi meu avô
Sinhozinho, meu tio Humberto, perto de mim.
O assombro foi tão grande, que não tive outro recurso senão estirar-me no
leito a que me haviam conduzido e no qual havia despertado.
Minha avó Nelly não crê que eu possa escrever muito, mas desejo pedir-lhes
perdão pela minha falta que não nasceu de minha própria vontade, e pedir para
pensarmos que precisamos cuidar com muito amor do Álvaro e de Nelly, pois não
desejo ver meus pais queridos desanimados.
Estou ainda sem força... Caindo facilmente.
Escrevo com as mãos do tio Antônio Bernardino firmando o meu pulso. Um
dia em que eu puder, voltarei às notícias. Perdoem-me, peço-lhes. Vou melhorar e
ser mais cauteloso para conseguir auxiliá-los.
Rogo a Deus nos proteja a todos, e peço para que me lembrem nas orações
para que me sinta abençoado, e mais corajoso, para sustentar as dificuldades que
devo por fim vencer em mim mesmo.
Um abraço de respeitoso amor e de muita gratidão do filho doente, mas
sempre agradecido,
Lincoln Prata Lóes – Claramente vivos – Cap. 3 – Não julguem que tivesse
usado minhas mãos no suicídio
Mensagem a que demos o título de “Não julguem que tivesse usado minhas
mãos no suicídio”, foi recebida pelo médium Xavier, ao final da reunião do Grupo
Espírita da Prece, em Uberaba, na noite de 22 de setembro de 1978.
Lincoln nasceu em Uberaba, Minas Gerais, a 14 de outubro de 1961, e
desencarnou em São Paulo, Capital, antes de se submeter a uma segunda
intervenção cirúrgica, a 4 de agosto de 1978
Livro Claramente vivos – Familiares diversos – Capítulo 3 – Não julguem
que tivesse usado minhas mãos no suicídio
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 144
DEPOIMENTO 10 Marcos Emanuel Teixeira Santos
Desde a desencarnação inesperada de Marcos Emanuel Teixeira Santos,
jovem de 23 anos, em final de curso de Engenharia Química, ocorrida em 12 de
setembro de 1982.
A dúvida, que se arrastava há quase quatro anos, só foi desfeita
recentemente, aos 7 de fevereiro de 1986, quando o médium Chico Xavier
psicografou esclarecedora carta do jovem, em reunião pública do Grupo Espírita da
Prece.
Querida mãezinha Edite e meu querido pai José Nunes, abençoem-me
perdoando o trabalho que lhes dei.
Não devo pormenorizar a minha situação, diz a vovó Severina, que está em
minha companhia, para não reavivar a ferida mental que está cicatrizada, mas
cicatrizada levemente.
A solidão daquela noite triste talvez tenha colaborado para que eu caísse na
cilada armada por mim mesmo.
Quando recebi o recado que me enviaram do Recife para lhes enviar a
encomenda que haviam esquecido no quarto, decidi-me verificar o material que me
competia despachar e encontrei o revólver que jazia entre os pertences que
passariam à minha responsabilidade.
Tomei a arma com o intuito de estudá-la porque já ouvira diversos colegas
falar em roleta russa em Campina Grande.
Com o revólver na mão direita, fitei o retrato da noiva, com quem havia
desmanchado os meus compromissos numa hora de conflito entre nós e o quarto
me pareceu tão grande que me parecia o mundo grande a que supus não mais
pertencer.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 145
Naquele silêncio de Arcoverde, para evitar o desejo de morrer, que estava
começando dentro de mim, pensei em tomar qualquer condução para Caruaru ou
para Campina Grande, na ideia de fugir de mim mesmo.
O revólver, porém, me fascinava. Não queria praticar o suicídio,
sinceramente digo isso, mas perguntava a mim próprio como seria o suicídio se
viesse a praticá-lo.
Deitado, encostei o cano da arma em meu ouvido, mas notei que a peça me
dobrara a orelha e procurei fazer o movimento preciso para recolocar a minha orelha
em posição natural; entretanto, nisso aconteceu o inesperado. Ao voltar-se o
pavilhão de meu ouvido para a condição natural, o gatilho sensível funcionou de
repente e o projétil me atravessou a cabeça.
Num gesto quase desesperado para pedir socorro a quem me pudesse
escutar, não mais encontrei a palavra ao meu dispor e, na tentativa de soerguer-me,
o revólver caiu de leve de minha mão para acolher-se entre as minhas pernas.
Esta é a realidade do que me sucedeu. Lamento a minha intenção indébita
de conhecer a arma encostada em minha cabeça, mas não estou racionalizando e
sim expondo a verdade aos queridos pais.
A polícia poderá reconstituir o que me aconteceu e verificará que a arma
descera de leve da mão para o corpo que não mais conseguiu se levantar.
Encontrei em minha avó Severina uma benfeitora maternal e peço me
perdoarem a leviandade de rapaz sob o desapontamento de uma ligação desfeita.
Envio abraços aos meus irmãos e agradeço à mãezinha Edite quanto vem
fazendo para auxiliar-me em espírito.
Estou na posição de um convalescente que se encontra na Vida Espiritual,
fichado na posição de vítima da imprudência.
Daqui para diante, dar-me-á Jesus o amparo que eu preciso na correção do
que fiz por merecer.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 146
Envio muitas lembranças para Leninha e peço aos queridos pais José Nunes
e Edite perdoarem o filho que lhes promete trabalhar para lhes receber a bênção,
com mais esperança, no entanto, com o amor sempre maior de meu coração.
Sempre o filho reconhecido,
Marcos Emanuel Teixeira Santos – Vozes da Outra Margem – Familiares
diversos – Capítulo 10 – Vítima da imprudência
Livro Vozes da Outra Margem – Familiares diversos – Capítulo 10 – Vítima
da imprudência – Marcos Emanuel Teixeira Santos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 147
DEPOIMENTO 11 Milton Higino de Oliveira
A mensagem de 1000ton, recebida em sessão íntima, na noite de 1º de
agosto de 1978, que enuncia detalhes, passagens e nomes absolutamente
desconhecidos do médium, ostentando, por isso mesmo, o seu cunho de
autenticidade, é, do ponto de vista doutrinário, muito importante, porque vem
confirmar os itens 14 a 17 do Cap. V de O Evangelho segundo o Espiritismo.
Milton Higino de Oliveira, que sempre assinava 1000ton em seus bilhetes,
inclusive no que deixou como despedida para os pais, nasceu e desencarnou em
Uberaba, respectivamente, a 21 de fevereiro de 1947 e 30 de julho de1972. Seis
meses antes da ocorrência, trabalhava numa casa de peças para tratores
Nunca demonstrou, ostensivamente, qualquer tendência para o suicídio.
Ora, o que podemos concluir de tudo isso?
Que a Milton faltou a resistência espiritual conforme ele próprio
reconheceu, valida a opinião materna a seu respeito, nos últimos momentos do
corpo físico.
Que todos os pais de família, portanto, procurem combater a propagação das
ideias materialistas — “o veneno que inocula num grande número de pessoas o
pensamento de suicídio” —, com a divulgação da verdade espírita, através de
mensagens volantes, do livro e do próprio exemplo.
Elias Barbosa – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta
Mãe querida, meu Pai, peço para que me abençoem.
Tudo está claro diante da memória. Havia regressado do Clube, sem haver
cometido qualquer extravagância. Estava sóbrio, pensando, pensando…
A noite de alegria não me alcançara o espírito e retirei-me de volta à casa.
Queria descanso, paz.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 148
O cérebro era um turbilhão de sombras, como se essas sombras estivessem
esbraseadas por chamas de ideias contraditórias que me turvavam o discernimento.
Muitas vezes, nos dias que antecederam o meu gesto impensado, imaginara
que a vida não era um campo adequado para mim.
As lições dos tempos de menino me freavam os impulsos. O anseio do fim
para os meus conflitos de rapaz chegara, naquela noite, ao ponto mais alto. Queria
companheiros e sentia sede de solidão ao mesmo tempo.
Voltei, com a certeza de que mantinha o controle de meus próprios
pensamentos, ignorando que forças diferentes se impunham ao meu cérebro. Não
quero dizer que me via sem responsabilidade, à maneira de um barco sem remo e
sem direção.
Minha parte de recursos mentais em qualquer decisão era uma faixa muito
grande que poderia movimentar, em meu próprio auxílio. Mas exagerava os meus
obstáculos de rapaz inexperiente e isso punha em risco o governo da minha própria
vontade.
Entrando em casa, lembro-me perfeitamente que a televisão apresentava
outra festa. Era um concurso de misses, que interessava à nossa querida Ipe. Eu que
saíra de um ambiente de alegria calma, encontrava outro de carinho tranquilo, em
que o tom festivo comandava as manifestações.
Pensei na senhora, mamãe, refleti no papai, meditei na vida e somei todas
as minhas inquietações, conseguindo certa média errada.
Não coloquei as bênçãos que eu possuía na conta em que me isolava por
dentro de mim mesmo; agi, como quem, num abençoado carinho, não visse o céu,
nem sentisse o ar puro, não admirasse a Natureza e nem guardasse qualquer ideia
dos tesouros de afeto que Deus me concedia no lar, detendo-me, unicamente, a
enfileirar poeira e lama, pedras e espinhos da estrada para retirar uma equação
positivamente falsa das parcelas infelizes que ajuntava e, desmemoriado, a deixar
me influir por inteligências estranhas à minha faculdade de julgar e de observar, por
mim próprio, esqueci momentaneamente quanto devia aos familiares e amigos
queridos, e penetrei o quarto, decidido a perpetrar o meu engano derradeiro…
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 149
Superexcitado, recordo que em luta com as forças que me oprimiam, ainda
me restava um recanto de compreensão na cabeça e escrevi qualquer cousa, para
retirar dos meus qualquer noção de culpa, e de mão suplementada por mãos
invisíveis, disparei o gatilho.
Tudo, num instante, baqueou diante de mim, sem entender que eu mesmo é
quem baqueava…
Quis gritar por seu carinho, querida mãe, no entanto, o sangue me invadia
todos os agentes de comunicação, à maneira das águas repentinamente desatadas
numa represa longamente fortalecida.
Alguns minutos, estive eu mesmo, a sós comigo, vendo e ouvindo o que se
passava. Não sei bem se foi a Ipe que se aproximou primeiramente de mim, mas
ouvi as suas palavras, mamãe, quando as suas mãos estenderam para as minhas.
Nunca me senti tão fraco e tão longe dos seus exemplos de fortaleza e
entendimento da vida, como naqueles minutos inesquecíveis, em que me
reconhecia, realmente, iludido e covarde.
Perdoe, mamãe, se me lembro dessa palavra “covarde”. Realmente, me
reconhecia covarde, sem desculpa, sem justificação.
Uma ânsia temível de voltar no tempo se apoderou de mim... Queria
novamente falar com a senhora e com meu pai, desabafar o coração, despreocupar-
me da arma e conversar sobre o que me levava às perturbações de que me via
possuído, entretanto, era muito tarde…
Notei que braços fortes me transportavam para fora. Ouvi vozes que me
pareceram do meu tio Arnaldo, do Nelson, do Carlinhos…
A dor se aliava com a aflição, em meu cérebro, e não consegui ver mais nada
desde que me observei colocado quase inerte num carro…
Os movimentos do auto com que me sacudiam, e perdi a noção de mim
mesmo... Despertar foi um sofrimento muito mais agudo… O sangue não
esgotara…
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 150
Só muito depois, vim a saber que os filetes de sangue que me desciam da
ferida feita por mim mesmo, tinham a vida de meu próprio arrependimento,
estampado na memória.
Muito a custo, percebi, entre os que me tratavam, na casa de socorro, em
que me supunha vivo em meu corpo físico, tanto quanto antes da triste ocorrência,
a presença de vovó Hipólita e do meu avô Manoel, que me cercaram de atenções.
Envergonhado, não conseguia fitar-lhes a face protetora, porque eu não
sabia se chorava ou se devia dar vazão aos gritos de minha angústia, porque as dores
da cabeça eram tão vivas como se eu estivesse em nossa casa mesmo.
Recebi o amparo de muitos amigos, mas, sem que eu saiba, a extensão do
tempo em que perdurou a minha perturbação, passei ao domínio de mim próprio,
quando um médico de minha nova vida veio ao meu encontro, evidentemente
atendendo às rogativas de minha avó Hipólita, que é hoje para mim outra mãe.
Ela me disseque esse benfeitor é o Dr. José Ferreira que, por sua vez, me
perguntou se eu era filho de João Ponciano... Esforcei-me para coordenar os
pensamentos, e recordei Oliveira do papai.
Tudo ficou esclarecido e comecei a melhorar, mas não posso ainda me fixar
em excesso nas lembranças que estou relacionando, porque uma sensação de queda
me vem de imediato à vida mental e confesso que, há mais de um ano, estou me
preparando a fim de escrever esta carta.
Mamãe querida, querido papai, perdoem-me. Recebi tanto e peço mais.
Rogo para que me esqueçam a falta cometida, e cometida sem razões justas,
porque bastaria que eu tivesse suficiente coragem para me afastar de certos
relacionamentos e de certos anseios de rapaz mentalmente despreparado para
aguentar determinadas lutas íntimas, e teria vencido em mim mesmo as influências
nocivas que me atacavam…
Aqui nestas linhas, escrevo com minhas próprias lágrimas em forma de
letras…
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 151
Desculpem o filho fraco e sem memória que fui, e lembrem-se de que os
amo, de que nunca me esqueci das bênçãos que recolhi de casa e do imenso carinho
com que me enriqueceram a vida.
Mãe, não pense que as suas recomendações houvessem sido demasiado
severas para mim. Suas opiniões foram sempre a lógica iluminada do coração
materno, quando enraizado na fé em Deus.
Todos os seus conselhos visavam à nossa paz. A senhora e meu pai a tudo
renunciaram na vida para que nós, os filhos, fôssemos felizes.
Ah! ninguém por aí consegue imaginar como dói o remorso de não
havermos valorizado a dedicação dos que nos amam, quando já não dispomos de
meios para retificar os nossos próprios gestos. Nossa casa nunca foi tão rica e tão
feliz para mim como agora, em que a deixei.
Mas a Bondade de Deus me permite dizer isto aqui, de modo a confirmar-
lhes que melhorei para ser quem devo ser. Perdoem se me confundi em tantos
espinheiros de incompreensão, dos quais devia ter afastado os meus pés.
Compromissos que não podia assumir para comigo mesmo se enrolaram de
tal maneira por dentro de mim que, embora eu tivesse todos os recursos à minha
disposição para o retorno à tranquilidade, não consegui evitar a queda, em que me
projetei num círculo de conflitos maiores, muito maiores do que aqueles que eu
imaginava na Terra não conseguir suportar.
Pouco a pouco, vou melhorando. Agradeço todo o amor com que me
recordam.
Aquelas preces e aquelas flores no ponto em que ficaram minhas derradeiras
lembranças são semelhantes a estações de um telégrafo pelo qual me enviam as
mensagens e orações que me endereçam.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 152
Escorado no carinho dos pais queridos é que vou encontrando novas razões
para reaprender ensinamentos de que, por minha infelicidade, cheguei a esquecer.
Sempre compareço com outros amigos às horas de comunhão simples em
que nós achamos, uns à frente dos outros.
Quando visitarem o lugar de recordações a que me refiro, coloquem, por
favor, a luz de uma prece pelos irmãos Ernesto e Antônio Augusto, que deixaram
as suas próprias lembranças ao lado das minhas.
A vida na morte não é a morte na vida e sim mais vida, a desafiar-nos para
viver intensamente.
Mãe, peço ao seu carinho zelar por nosso querido Nelson, como se ele fosse
o meu substituto real em tudo, nos assuntos da vida e da família. Hoje, aprendo de
novo a tomar contato e rogo a Deus para que ele e Ipe estejam livres das influências
que pesaram tanto sobre mim.
À nossa querida Madalena, que até hoje me recorda nas orações, o
agradecimento de quem é agora para ela um irmão reconhecido.
Estimaria recordar todos os amigos e todas as amigas com as minhas notas
de alegria, como de outras vezes, mas ainda não consigo disposição para falar em
bom humor, quando tanto trabalho espiritual por dentro de mim está me compelindo
a uma longa revisão de meus próprios assuntos.
Se alguma de minhas amizades se referir a qualquer nota de receio quanto à
minha volta, em espírito, de vez que com muita gente brinquei afirmando que
retornaria da morte para dar-lhes sinais, peço seja dito para que não se preocupem.
Aqui, nos ensinaram os nossos verdadeiros amigos que não se deve sacudir
ninguém à força para a Verdade, porque os sinais da verdade alcançarão a todos,
algum dia.
Ainda assim, quando puderem ver o nosso estimado Gão, rogo digam a ele
que tomei o ônibus errado e que ele me represente, junto das nossas afeições,
afirmando que estou formulando votos pela felicidade de todos.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 153
Pai, o vovô Manoel está presente com um amigo que nos dedica especial
atenção. Atende esse benfeitor pelo nome de Donato Cicci, e creio que o senhor
poderá recordá-lo.
Deixo aqui para a tia Carmen, para o tio Antônio, para a vovó Dolores, vovô
Higino e vovó Otávia, e para com todos os nossos familiares, um grande abraço que
procuro centralizar na pessoa de nosso Eurípedes, que hoje estou compreendendo
melhor. Agradeço aos amigos que viera morar conosco.
Mamãe sabe que eu estava aguardando a minha própria maturação para
aproximar-me dessa bendita Doutrina que aí mesmo no mundo, nos ensina a tratar
com a vida e com a morte, em termos de segurança.
Muito carinho ao Nelson e Maria Eurípedes, de que sou grato às preces e
bons pensamentos de todos os amigos em meu favor.
E agora, querida mãe, chegou o instante do “até depois”.
Receba com papai todo o amor do filho que lhes roga perdão, com a certeza
de que já me desculparam e sempre me protegerão na caminhada para a frente.
Recebam meus queridos velhos sempre mais moços pelo coração, toda a
vida repleta de carinho e esperança do filho que os ama cada vez mais,
1000ton
Milton Higino de Oliveira – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 154
DEPOIMENTO 12 Renata Zaccaro de Queiroz
Querida mãezinha, abençoe-me.
Imagino o papai Antônio Carlos ao nosso lado para rogar também a ele para
que me queira bem e me perdoe.
Mãezinha, a sua dor se confunde com a minha. Ainda não sei que força me
tomou naquela quarta-feira.
Tive a ideia de que uma ventania me abraçava e me atirava fora pela janela.
Certamente devia mobilizar minha vontade e impedir que o absurdo daquele
momento me enlouquecesse.
Obedecia maquinalmente àquela voz que me ordenava projetar-me no
vácuo. Quis recuar, mudar o sentido da situação, não consegui.
Nunca imaginaria que tanto sofrimento se seguiria ao meu gesto.
Não desejo fugir às responsabilidades e inventar desculpas que não teriam
razão de ser. O que sei é que agi na condição de uma rã que uma serpente atraísse…
Mãezinha, que páginas de angústia e que culpa teria eu escrito em outros
lugares para ser assim arremessada no ar com o meu próprio consentimento
vencido?
Não senti qualquer dor quando meu corpo registrou o impacto do encontro
com o piso do prédio.
Senti que alguém me recolhia com as mãos repletas de amor. Não me achava
em condições de ver ou de ouvir.
Tudo em mim era um redemoinho qual se tivesse arrancada de casa, assim
como a tempestade desloca para longe uma árvore forte com suas próprias raízes.
Um esmorecimento como se eu estivesse quebrada, sem dor localizável, me
possuiu de todo e nada mais vi senão aquele branco da memória, quando cai no
sono sem sonhos.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 155
Somente depois, vim a saber que a vovó Rosa me apanhara carinhosamente,
sem permitir que o sofrimento me atingisse.
Mãezinha, peço-lhe que me perdoe. Sei que arrastarei as consequências da
minha passividade diante da força que me dominou, mas espero que a bondade de
Deus me conceda forças para refazer-me de todo, tanto quanto desejo…
Agora, o que sinto é a necessidade de colocar em suas mãos em forma de
lágrimas o arrependimento que me assombra.
Receba-me em seu coração, como nos tempos de criança rebelde. Auxilie-
me com as suas preces e com os seus pensamentos de amor e perdão.
Estou melhorando, se bem que me veja na posição de alguém com
necessidade de muito socorro ortopédico, mas os nossos onde estou são todos
tolerantes e generosos para comigo.
Meu avô Antônio me recomendou não procurar qualquer investigação de
retaguarda, afirmando-me que ele também sofreu muito com processos ocultos de
hipnose destrutiva. Compreendo e obedeço.
Mas não estou impedida de rogar o seu amparo em meu benefício e de rogar
ao papai e aos queridos irmãos Antônio e Ricardo esquecerem o que fiz ou o que
fizeram comigo, para que os quadros de setembro desapareçam.
Mãezinha, desculpe-me de me demorar a escrever tudo o que sinto. A vovó
Rosa me trouxe para dizer-lhe que tive culpa e não a tive totalmente.
Uma vertigem, um pensamento desorientado, uma compulsão louca e perdi
tantas riquezas do coração e do lar.
Mamãe, Deus nos auxiliará na recuperação de que preciso.
Rogo ao papai esqueça o meu gesto infeliz para ficar tranquilo.
Tenho em mim que ele ainda não se harmonizou com a vida, depois da triste
ocorrência de que me fiz o centro de dor.
Apesar de tudo, não quero perder a esperança e confiarei no socorro do amor
Divino.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 156
Mãezinha, a todos de nosso ambiente os meus pensamentos de gratidão, e
para você o coração e a dor, a esperança e o reconhecimento de sua
Renata Zaccaro de Queiroz – Vitória – Cap. 17 – Auxilie-me com as suas preces
e com os seus pensamentos de amor e perdão
Livro Vitória – Familiares diversos – Capítulo 17 – Auxilie-me com as suas
preces e com os seus pensamentos de amor e perdão / Anuário Espirita 1987.
Recebida pelo médium Xavier, na noite de 18 de abril de 1980
Nasceu em São Paulo, Capital, a 16 de julho de1961, filha de Antônio Carlos
Bruschini e de D. Marusa Zaccaro de Queiroz, e aí desencarnou, em consequência
de suicídio, jogando-se de grande altura, através de uma janela, a 5 de setembro de
1979.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 157
DEPOIMENTO 13 Selma Rodrigues Sanches
Mãezinha Júlia, abençoe-me.
Eu não saberia descrever as minhas impressões de horror, depois de haver
feito levianamente a tentativa de tiro com a arma que me desapropriou a existência
terrestre.
Estou aqui, acompanhada pela tia Amália Sanches que vem assumindo
diante de mim o papel de generosa mãe, suportando sem qualquer censura a
inconsequência do meu gesto.
Acontece que naquele dia infeliz comecei a pensar no casamento da Telma
e deixei que a melancolia se me apossasse do íntimo.
Senti o gosto amargo da solidão antecipadamente e perdi grandes
oportunidades de aprendizado, aqui com a agravante de adquirir o remorso que me
encegueceu para a trilha da aurora.
De que modo me descartarei dos sofrimentos que eu própria,
impensadamente, instalei por dentro de minh’alma, ainda, creio, não sei como fazer.
O Eduardo não teve qualquer culpa. Eu própria vasculhei recantos e gavetas,
até encontrar a arma que me pareceu uma joia admiravelmente talhada.
Experimentá-la foi o meu grande desastre e desconheço de que maneira
iniciarei o meu esforço de rearticular o meu próprio controle.
Pedi perdão aos queridos pais, à irmãzinha e ao nosso amigo que nos honra
a família, a meu ver, é a primeira medida para expungir a sombra que se condensou
por dentro.
Preciso pensar nas causas de minha tristeza congênita, de meu desinteresse
pela existência, o que significa, aos meus olhos, desrespeito às Leis de Deus.
Não tenho ainda visão ampla, capaz de senhorear os quadros que me cercam.
A querida tia Amália Sanches é que se me fez o guia para movimentar-me.
Perdoe, mãezinha Júlia, a sua filha que se deixou dominar pelas influências
infelizes que me rodearam, como que me impelindo ao gesto fatal.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 158
Sofro muito, em consequência de minha inadaptação à vida. E a verdade é
que a vida na Terra era a melhor escola de que poderia dispor, a fim de chegar aqui
sem os problemas constrangedores que me arrasam as energias.
O suicídio é uma calamidade para quem o pratica, de vez que suscitado por
nossas próprias mãos o processo de sofrimento, não conseguimos prever o ciclo de
provações a que teremos todos os sentimentos aprisionados numa rotina em que,
diariamente, se nos refaz o martírio.
Perdoem-me em casa se lhes falo com esta linguagem de angústia. Não
tenho outra para expor o meu íntimo carregado de frustrações. Ainda assim, espero
em Jesus que jamais nos abandona.
Agora que me entrego à oração com todas as minhas forças, reconheço que
recusar a vida que Deus nos concede, é uma lesão da própria vida em nós e isso me
aflige e quase me faz desesperar ao mesmo tempo.
Mãe, a tia Amália Sanches tem me falado de obsessões que nos seguem
através de longas fases de nosso caminho e compreendo que fui vítima da cilada
que me armaram, mas não quero isentar-me da culpa que se faz em mim complicado
processo de perturbação e dor.
Peço-lhes vibrações de paz, a fim de que me tranquilize, tanto quanto
possível, para refletir em recomeço do meu adestramento em resistência espiritual,
porque já entendo que regressarei à Terra para transitar em caminhos iguais à
estrada que abandonei indevidamente.
Em suma, desejo ao seu coração querido e a todos os nossos entes amados
a felicidade que ainda não tenho para mim e compareço ante a família que me deu
tanto amor, à feição da mendiga de afeto e compreensão em que presentemente me
tornei. Espero melhorar-me. Deus, que a ninguém menospreza, me renovará as
energias para que me reencontre.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 159
Muito amor para Telma. Meus pensamentos de ternura e carinho para o
Marcelo que se me faz agora um credor de minha mais alta gratidão.
Muitas lembranças para a nossa casa que tornei quase infeliz e, agradecendo
a sua bênção que me refaz a esperança de melhores dias, sou, com meu pai, como
sempre, a sua filha, mais sua por ser aqui o coração desolado que lhe pede continuar,
sempre, nas orações da necessária renovação.
Selma Rodrigues Sanches – Corações Renovados – Cap. 3 – Família Sanches /
Intercâmbio do bem – Cap. 14 – Selma Rodrigues Sanches
Essa mensagem foi publicada originalmente em 1986 pela editora GEEM e
é a 14ª lição do livro “Intercâmbio do bem”
Livro Corações renovados – Familiares diversos – Capítulo 3 – Família
Sanches
Selma Rodrigues Sanches: Nascimento: 04 de março de 1969 —
Desencarnação: 07 de abril de 1985 —Idade: 16 anos
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 160
DEPOIMENTO 14 Lucia Ferreira
Querida mamãe, estou pedindo o seu perdão e a sua bênção.
Mais de um ano passou, mas a minha saudade e o meu sofrimento ainda não
passaram.
Não chore mais, mãezinha. Sei que a minha ingratidão foi grande demais.
Compreendi tudo, mas era tarde.
Creia que amanheci naquela terça-feira, quatro de maio, pensando em
descobrir como iria encontrar um presente para o seu carinho no Dia das Mães.
Pensava nas aulas, em minha professora Juvercídia e procurava concentrar-
me nos livros para estudar; entretanto, quando vi o veneno, uma força estranha me
tomou o pensamento.
Avancei para o suicídio quase sem conhecimento, embora muitas vezes não
ocultasse o desejo de morrer. Tudo sem motivo, sem base.
A senhora me deu tudo — amor, segurança, tranquilidade, proteção. Não
julgue que me faltasse isso ou aquilo.
O que eu sentia era uma tristeza que só aqui, no Plano Espiritual, vim a
entender…
O assunto é tão longo e o tempo é tão curto.
Se pudesse, desejava formar as minhas letras com lágrimas para que a
senhora me perdoasse pelo arrependimento que trago.
Não sei, mamãe, não sei ainda. A princípio, me vi numa nuvem com a
garganta em fogo e uma dor que não parecia ter fim.
Talvez exagerasse as cousas que eu sentia, talvez guardasse impressões da
vida que eu não devia guardar.
O que é mais doloroso é que provoquei a morte do corpo, sem razão.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 161
Sofrimentos no mundo são problemas de todos. E por isso quando me vi na
sombra que me envolvia toda, vozes me perguntavam porque, porque fizera aquilo
se eu estava consciente de que a morte não mata ninguém…
Chorei muito, mais do que choro hoje, até que me vi no regaço de uma
senhora que me disse ser a vovó Ana. Ela me ensinou a orar de novo, porque a dor
não me deixava trabalhar com a memória.
Amparou-me e como que me limpou os olhos para que eu enxergasse a luz
do dia. Então reconheci que as trevas estavam em mim e não fora de mim.
Fui internada numa escola-hospital, onde muitas crianças estão sob a
vigilância daquele amigo que nos deu nome à casa de ensino Jerônimo Carlos
Prado, — e com a bênção dos muitos amigos que encontrei aqui, vou melhorando.
Faltava-me vir até o seu coração e rogar a sua tolerância de mãe. Venho
pedir-lhe para que não deseje morrer. Viva, mamãe, e viva tranquila.
As lutas da vida são lições. Creio saber que a senhora já sofreu muito. Sofra
agora com a sua filha a pena de não ter sabido esperar.
Para mim, a sua paz será a minha paz. Nós duas éramos as companheiras
uma da outra.
Sei que Teodoro, Divino, Adelícia e os outros corações queridos são todos
seus filhos abençoados, mas eu, mamãe, não sei porque, fiquei aflita para que o
tempo passasse e caí pela rebeldia.
Não soube guardar a fé, mas a sua bondade fará o que não fiz. Terá a senhora
paciência bastante para tudo tolerar e compreender.
Agradeço as suas preces e as orações das amiguinhas que não me
esqueceram. Agradeça por mim a Santa Terezinha e a todas as irmãs o amparo que
me enviaram e ainda me enviam.
Por enquanto, trago comigo a faculdade de ouvir todas as repreensões e
queixas, perguntas e comentários em torno de mim.
E, particularmente, ouço a senhora constantemente a falar que perdeu o
gosto de continuar a viver. Ajude-me. Não pense assim. Dê-me os seus
pensamentos de paz e de alegria.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 162
Preciso de você, mamãe, como a senhora não pode imaginar.
Aqui é um lugar que pode ser distante, mas há um processo de intercâmbio,
pelo qual ainda estamos juntas. Ampare-me, amparando a senhora mesma.
Os Benfeitores daqui me aliviam e me abençoam, mas estou nas
dificuldades que criei. Deus, porém, nos sustentará para que, um dia, eu possa ser
útil ao seu carinho.
Mamãe, receba o meu coração de filha faltosa e abençoe-me. Sua paciência
e seu amor são bênçãos que chegam até aqui.
Ore por sua filha e compadeça-se. Amanhã, serei melhor. Até lá, preciso de
você e de seu amparo, como o faminto sente necessidade de pão.
Não posso escrever mais. Os amigos que me socorrem e guiam me dizem
que é preciso terminar.
Mãezinha, ame-me ainda. Sou mais necessitada agora doque antes. E guarde
o coração de sua filha faltosa e reconhecida,
Lúcia Ferreira – Entre duas Vidas – Cap. 4 – Jovem Suicida
(Uberaba, 12 de junho de 1972)
Livro Entre duas vidas – Familiares diversos – Capítulo 4 – Jovem suicida
– Lúcia
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 163
DEPOIMENTO 15 Wladimir Cesar Ranieri
Querida mamãe Dalva e querido papai Francisco, peço-lhes me perdoem,
abençoando-me como sou, em meus resgates do gesto infeliz daquela terça-feira de
desequilíbrio, em que me entreguei ao pior que me poderia acontecer.
Mãe querida, não se sinta culpada em lembrança alguma. A sua voz apenas
me convidava ao trabalho junto de meu pai, na mais santa das intenções.
Não creia que eu tivesse ouvido qualquer acusação de preguiça na
modulação de sua palavra.
O que se verificou foi a hipnose por parte de criaturas desencarnadas que
me seguiam e junto das quais não me furto às responsabilidades do meu gesto
infeliz.
A minha vontade era uma alavanca de Deus em minhas mãos.
Poderia facilmente escutar os convites injustos e rechaçá-los com o meu
livre arbítrio, mas a minha fraqueza foi o que me perdeu.
Reconstituirei o nosso quadro de maio para que os pais queridos se
reconheçam totalmente livres de culpa.
O Wagner estava impossibilitado de agir com mais vigor, em vista do
tratamento e porque a mãezinha Dalva me soubesse disponível, acercou-se de mim
e pediu-me para que fosse auxiliar ao papai.
Senti que realmente aquilo era obrigação minha. Levantei-me mal-
humorado, ao refletir, que andava sem serviço certo e muito longe de melindrar-me
com a solicitação da mamãe, segui para o serviço.
Ideias lamentáveis pareciam maribondos em meu cérebro, sugerindo-me
pusesse termo à existência de rapaz errante, em busca de um emprego que não
aparecia.
Deixei-me invadir por aqueles pensamentos amargos, quando me falaram
de almoço. Antes que me retirasse do trabalho, alvejei o meu próprio coração com
um tiro certo.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 164
Lembro-me de que o papai correu para mim estirado no piso e, na suposição
de que me faria viver, fez a respiração boca-à-boca, recebendo o meu próprio
sangue que lhe atingiu a garganta.
Arrependi-me de tanto mal praticado contra mim, no entanto era tarde.
Aquele gesto de meu pai me mostrava quanto amor dispunha eu no coração
de meu pai e de minha mãe, porém, foi em vão que desejei levantar os braços para
ser um menino de novo naquele colo paternal de homem bom que não vacilava em
livrar-me de qualquer sufocação, trazendo para a boca que me beijara tantas vezes
em criança, o sangue do filho crescido que se fizera ingrato perante aqueles que
mais me queriam na Terra.
Sei que entrei num pesadelo em que via o meu próprio sangue a rolar do
peito como se aquele filete rubro não tivesse recursos de terminar.
Despertei num hospital, onde me encontro até agora, em tratamento e sou
trazido pela vovó Verônica que se compadeceu de mim, de mim que me ajoelho
em espírito diante da mãezinha Dalva para rogar-lhe o perdão que não mereço.
Queridos pais, rogo me desculparem e viver muito, sempre tranquilos,
embora a saudade se interponha agora entre nós à feição de uma sentinela do meu
arrependimento.
O suicida é um detento sem grades.
Admito que os irmãos com problemas semelhantes aos meus se reconhecem
presos sem algemas e sem cárcere, porque ninguém foge de si mesmo.
Peço-lhes para que vivam, porque no Wagner, o Wallace, a Valéria e o
Wanderley, sou amado ainda.
Graças a Deus, melhorei da hemorragia incessante que me enlouquecia.
Depois de algumas semanas de aflição, um médico apareceu com uma boa
nova.
Ele me disse que as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea
que doei ao Banco de Olhos se haviam transformado para mim num pequeno
tampão que colocado sobre o meu peito no lugar que o projétil atingira, fez cessar
o fluxo do sangue imediatamente.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 165
Eu, que não fizera bem aos outros, que me omiti sempre na hora de servir,
compreendi que o bem mesmo feito involuntariamente por uma pessoa morta é
capaz de revigorar-nos as forças da existência.
Com essas lições vou seguindo à frente e com a proteção de Deus e a bênção
dos pais queridos espero vencer-me, vencendo as dificuldades que me cercam para
ser o filho e o irmão, o amigo e o companheiro que devo ser.
Aqui termino agradecendo-lhes tudo o que fizeram a meu favor e desejando-
lhes a felicidade que bem merecem.
Quanto ao filho triste que ainda sou, reconheço que o Sol nos cobre a todos,
em nome de Deus. Haverá um outro dia também para mim.
Surgirão outras horas em me lembrarem sempre com o amor que não fiz por
merecer e prometo que não mais serei cego para o amor com que tenho sido amado
e com o qual arrancará de mim mesmo para que, um dia eu lhes possa trazer a
alegria e o reconhecimento do filho feliz que já começa a ser.
Muito carinho e esperança do filho que apesar de sofredor, continua sendo
muito grato.
Wladimir Cesar Ranieri – Amor e saudade – Cap. 10 – Wladimir Cesar
Ranieri
Livro Amor e saudade – Familiares diversos – Capítulo 10 – Wladimir
Cesar Ranieri.
NASC.: 23.05.1956 — DESENC.: 12.05.1981
Wladimir cresceu com a orientação evangélica espírita, demonstrada em
diversas preces escritas por esse moço, de moral elevada, sem preconceitos e que
gostava de se expressar na pintura.
Wladimir deixou a Terra num gesto de infelicidade. Disparou um tiro de
revólver contra o peito. Reconheceu no seu gesto infeliz estar envolvido em hipnose
por parte de criaturas espirituais e entende sua responsabilidade, considerada pelo
livre arbítrio.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 166
DEPOIMENTO 16 Décio Márcio Carvalho
Querida mãezinha Alda e querida Rosele, estou presente e escrevo, mas
escrevo sob a mão vigorosa da vovó Maria Rezende, e com a assistência do meu
pai Antônio Batista.
Assim é porque estou aqui sem possibilidade de vê-las e nem de ver os
amigos que me recebem. Custa-me confessar-lhes que estou cego.
Até hoje não sei que forças entraram em meu Espírito, impelindo-me ao
suicídio.
Se eu pudesse tomar a postura mais cabível para mim, estaria de joelhos a
fim de lhes pedir perdão. Eu não sabia que a vida continuava e que não nos
transfiguramos de um momento para outro.
Mãezinha, perdoe-me a leviandade a que me entreguei, sabendo que o meu
filhinho já estava aí no mundo a pedir-me amparo sem palavras. Devia, de minha
parte, mostrar mais compreensão e mais maturidade acerca de nossa vida.
Rosele, você igualmente me desculpe se a deixei tão só com o nosso filho.
Tantos ideais caíram por terra, à maneira de monumentos roídos por insetos
daninhos.
Mamãe, o seu coração me compreenda e me auxilie como sempre.
Naquele dia fatal, ergui-me como quem transportava a morte no próprio
corpo. Tivera uma das minhas rusgas com a nossa querida Rosele, uma rusga sem
importância da qual dei conhecimento à minha irmã Eliana, e que foi a chamada
gota d’água no cântaro de minhas queixas.
Tudo me parecia perseguição e suplício. Até mesmo a minha sogra, Dª
Dagmar, está no meu arquivo de amarguras injustificáveis. Se ela, por vezes,
implicava comigo, era por mim, não por ela.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 167
Mãezinha, você sabe que, às vezes, parava aqui ou ali para uns momentos
de cerveja, ou mesmo de agentes mais fortes; entretanto, não admitia conselhos de
ninguém.
Minha sogra queria que eu fosse perfeito, mas muito depressa se convenceu
de que consertar-me seria impossível. E eu não queria que a minha esposa, a sua
filha Rosele, viesse a sofrer qualquer desfeita em casa, em razão de algum deslize
meu.
Pensei muito e resolvi acabar com meu corpo. Não queria dar ao meu
filhinho qualquer exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo.
Porque foi tudo assim, ainda não sei, mas parecia que um inferno de fogo se
me implantou na cabeça, e sentindo que a sogra, embora muito digna pessoa, não
me suportaria em tempo algum, deliberei acabar com tudo aquilo que nos cabia
suportar com união.
Mãezinha, quando a vi chegando à porta de nossa casa, temi as suas
repreensões chamando-me à realidade, e antes que pudéssemos entrar num diálogo
pacífico, acionei o gatilho contra a minha cabeça.
Sei que caí num lago de sangue, enquanto o seu amor, em aflição, fazia
preces por mim, encomendando-me a Deus.
Escutava o que seus lábios me diziam, mas não compreendia as minudências
do que se passava.
Em breve tempo, os homens do rabecão entraram a socorrer-me por
imposição, porque me sabiam desencarnado, e até hoje a sua dor de mãe se me
insinuou no coração à maneira de um tormento de que não consegui me
desvencilhar, e aqui estou incapaz de controlar os meus impulsos, controlados por
meu pai Antônio Batista, que se compadeceu de mim para liberar-me da condição
deprimente a que fui levado por mim próprio.
Não sei explicar o fenômeno que se passa comigo, porque vejo apenas os
quadros de dor em que adquiri minha culpa maior, mas espero voltar numa
apresentação menos infeliz.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 168
Querida Rosele, se você puder, dê ao nosso filhinho a saúde e a paz de que
ele necessita. Peça à minha sogra para criá-lo qual se fosse o próprio filho.
Este é um pedido arrojado, de minha parte, a quem reconheço não haver
conquistado o mínimo grau de simpatia, mas uma petição de um homem que
atravessou as portas do suicídio achará eco não somente no amor de Dª Dagmar,
mas, também, no coração de qualquer pessoa que procure penetrar nos sentimentos
de uma criancinha.
Quanto a mim, querida mamãe e querida Rosele, seguirei como a Lei de
Deus determina, tentando a minha recuperação que não sei quando surgirá. Os
fracos de vontade são iguais a mim: indecisos e omissos.
Querida mãezinha e querida Rosele, isso é tudo que lhes pode dizer o filho
e companheiro infeliz.
Orem por mim.
A prece, em casos dolorosos, tanto quanto o meu, constitui valioso
tranquilizante para a alma cansada de pensar.
Não as vejo, mas sinto-as aqui, sem possibilidade de localizá-las.
Compadeçam-se de mim, perdoem-me e ajudem-me.
O meu beijo de pai no nosso pequenino que parece residir em meu coração,
e recebam todo o arrependimento e toda a dor, mas não sem esperança e sem fé em
Deus, do filho e companheiro sofredor e reconhecido,
Décio Marcio de Carvalho – Porto de alegria – Cap. 9 – Custa-me confessar-
lhes que estou cego.
Mesmo com o nascimento do primogênito, não houve melhora no
relacionamento do casal Décio e Rosele, residente em Uberaba, Minas.
Aliás, no relacionamento de Décio com todos os seus íntimos, em face de
seu comportamento, sempre muito prejudicado pelo uso abusivo de alcoólicos.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 169
E apenas três meses após o nascimento do garoto, a 27 de novembro de
1985, Décio Márcio Carvalho, de 25 anos, pôs fim à vida física utilizando-se de um
revólver.
“Não queria que a minha esposa viesse a sofrer qualquer desfeita em casa,
em razão de algum deslize meu. (…) Não queria dar ao meu filhinho qualquer
exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo.” Estas foram as justificativas
do ato extremo que ele mesmo, em Espírito, relacionou em sua carta mediúnica de
14 de março de 1986, sentindo-se, na época do fato, derrotado diante do vício.
Também revela-se, na mensagem, profundamente arrependido, e esclarece
que encontra-se doente, ao exclamar: “Custa-me confessar-lhes que estou cego.”
Sua carta trouxe muita tranquilidade à família, pois, além de mostrar que ele
está bem amparado no Plano Espiritual, desfez dúvidas quanto ao desenrolar dos
fatos que antecederam o doloroso acontecimento.
Livro Porto de alegria – Familiares diversos – Capítulo 9 – Custa-me
confessar-lhes que estou cego
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 170
DEPOIMENTO 17 Dimas Luiz Zornetta
Querida mamãe Lourdes, peço-lhe a bênção. Vejo a senhora com o nosso
Valdo neste recinto de paz, mas não consigo enxergar as pessoas que nos cercam.
Sei que dois amigos me trazem até aqui, mas ignoro quem sejam.
Mamãe, seu filho pede perdão pelo que fez, conquanto saiba que agiu sob a
pressão de inimigos invisíveis que lhe golpearam a mente.
Eu não queria, mãe, não queria cometer aquele ato impensado, mas uma
vontade muito forte me absorvia e parece-me que fui um simples autômato para
aquele ou aqueles que me indicavam o suicídio como sendo o melhor a fazer.
Tinha um monte de desculpas dentro de mim. Saudades de meu irmão
Domingos, n as dificuldades da vida e a luta constante por melhorar-me, sem poder
fazer isso.
Andei por diversas ruas, pedi o socorro de Jesus por toda parte, mas aquelas
mãos enormes e duras pesavam nas minhas.
Sei que não tenho desculpas e que devo assumir os meus próprios atos, mas
a senhora não imagina como sofro…
Por vezes, via o meu pai Abílio de relance, como a solicitar-me juízo e
calma, entretanto, as outras vozes eram mais poderosas e mais fortes.
No dia sete tomei alguns tragos para ganhar coragem, sem saber o que
oferecia aos meus infelizes agressores e no dia oito, pela manhã, já me achava
transformado.
A nossa Maria me pedia paciência. Aleguei dor de cabeça e mal-estar. Ela
arranjou algumas gotas de um calmante cujo nome não me lembro, mas recusei
aquele auxílio, abrindo a camisa e mostrando-lhe a arma que eu trazia no cinturão.
A esposa não acreditou que eu fosse capaz do gesto desesperado, mas sem
esperar que ela viesse impedir-me os movimentos, levei a arma à altura da cabeça
e acionei o gatilho.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 171
Ela gritou e eu, a esgotar-me na perda de forças, lembrei-me, de repente, dos
seus sacrifícios de mãe por nós. Entretanto, não tive tempo de recuar do mal que
fizera a mim mesmo.
Amigos chegaram atendendo aos gritos de Maria e correram comigo para o
hospital. No entanto ainda ouvi o médico, se não me engano o Dr. Pedro, a dizer:
“é tudo inútil”.
Compreendi que a hora havia chegado e pedi socorro ao irmão Domingos e
a meu pai Abílio, mas em vão…
Os lamentos de quantos me rodeavam desapareceram de meus ouvidos e me
vi sozinho, num pesadelo terrível, em que tentava, debalde, retomar o meu corpo
sem vida; e nesse pesadelo estive muitas semanas, até que escutei vozes amigas a
me convidarem para segui-las na direção do socorro de urgência.
Eu estava cego e deixei-me conduzir para tratamento. Nesse tratamento
estou, e, hoje, essas vozes me convidaram a vir vê-la.
Como se estivesse beneficiado por um prodígio que não sei esclarecer, vi a
senhora com o nosso Demevaldo. E chorei, arrependido por tudo o que fiz,
irrefletidamente.
Querida mãezinha Lourdes, perdoe-me — a mim que caí num sofrimento
assim tão grande! Fito a sua face e a esperança me retoma o coração.
Lembro-me de seus dias de aflição em nossa casa e envergonho-me de
pedir-lhe perdão e bondade que não fiz por merecer.
Mamãe Lourdes, dê-me as suas orações de paz e diga que me desculpa. Farei
o possível para retomar-me do sofrimento em que ainda me encontro, a fim de lhe
ser útil e à nossa Maria.
Sei que Deus nunca se empobrece de compaixão.
Quanto mais infeliz está o homem, mais ampla se faz a bondade do Pai
Celestial.
Ele me levantará por dentro de mim e concederá forças para ser seu filho
outra vez, porque presentemente sou um trapo de dor e arrependimento.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 172
Querida mãezinha Lourdes e querido Valdo, Deus nos proteja!
É tudo o que por agora posso rogar em minha condição de penúria espiritual,
mas mesmo nessa penúria, querida mãe, sinto-me ainda seu filho e conto com o seu
perdão para a minha falta… Não posso escrever mais.
Querida mãe Lourdes receba as lágrimas que me ficam por dentro da própria
alma, incapaz que me sinto de prosseguir escrevendo e lembre-se de que seu filho
espera, do seu amor, tudo aquilo que hoje não mais tem.
Todo o carinho com as saudades imensas do seu filho
Dimas Luiz Zornetta – Assuntos da vida e da morte – Cap. 2 – Dimas Luiz
Zornetta
07.09.1984
19.04.1958, São Carlos, SP — 08.01.1984, São Carlos, SP
Cioso das suas obrigações, sempre exerceu com dedicação sua profissão de
marceneiro, cuja formação obteve no SENAI.
Casou ainda jovem com a Sra. Maria Benedita Claudino. Não teve filhos.
Deixa-nos em suas mensagens psicografadas por Chico Xavier a certeza de
que o livre arbítrio é inviolável, e cada Espírito tem de buscar o seu próprio caminho
rumo da Espiritualidade Maior.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 173
DEPOIMENTO 18 João Alves de Sousa
Querida mamãe Rodolfina. Abençoe seu filho que ainda sofre.
Venho com a vovó Ana até aqui, na posição de um enfermo que se retira
momentaneamente da casa de tratamento e socorro na qual foi asilado, a fim de
pedir o seu perdão.
Mamãe, eu vivi cego nos tempos últimos! Enxergava nos outros o que estava
dentro de mim. Fitava na vida a minha própria imagem e, por isso mesmo,
enlouqueci.
Seu filho não conseguiu enxergar os seus sacrifícios para que ele fosse
gente. É por isso que sem a treva que me inibia a visão, sou trazido até aqui para
reafirmar-lhe que eu nunca poderia encontrar mãe mais dedicada e mais amorosa
do que a que Deus me deu em seu coração de paz e carinho.
Mamãe, as chamadas injustiças sociais que alegava em minhas convicções
erradas não eram outra bênção senão aquela de que eu mais necessitava a fim de
melhorar os sentimentos que eu trazia…
Penso que o seu carinho me perdoará como sempre. Sofro as consequências
de meu gesto infeliz, mas no miolo dessa angústia, está o remorso de haver
menosprezado a melhor mãezinha que o Céu me poderia confiar.
Agora, tudo passa de novo em minha lembrança, como se eu assistisse a um
filme incessante por dentro de mim mesmo. Seu esforço e sua luta…
Você com Deus a trabalhar por nós, você calando aflições para não
incomodar-nos, você a se privar na mesa do que fosse melhor para que seu filho se
alimentasse como um príncipe, você a derramar suor e lágrimas para que eu
estudasse e, na cegueira que me tomou o coração, a revolta injustificável contra a
vida não me permitiu oferecer-lhe migalha de qualquer agradecimento…
Pudesse eu tornar atrás, ainda que fosse para arrastar-me pelo resto da vida
em seus passos e me sentiria a mais feliz das criaturas de Deus, porque estaria
acompanhando o anjo que o Céu nos deu e à família em forma de mulher para ser
minha mãe!
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 174
Nem pude ver os seus exemplos de amor para com a vovó Benedita a quem
a sua dedicação tudo oferta em assistência e ternura…
Mãezinha, considere-me por um rapaz que se perturbou, acreditando
raciocinar sobre sociedade e justiça. O meu gesto foi um punhal em seus
sentimentos, mas, pode crer que a ferida está sangrando muito mais em mim
mesmo…
Pedi à vovó Ana me trouxesse até você, quando escutei as suas palavras
decidindo-se a tentar algum intercâmbio com o seu rapaz ingrato e infeliz. Eu não
descansaria enquanto não lhe mostrasse a minha dor, pedindo-lhe esquecimento de
minha falta.
Enquanto escrevo e choro começo a sentir-me aliviado e espero que, com a
bênção de Deus e com o tempo, consiga ser o filho que os seus braços sempre
aguardaram inutilmente.
Mamãe, por que me vi ferido por mim mesmo, de modo tão cruel ao feri-la?
E pode guardar a certeza que nunca a vi tão bela e tão alta quanto agora em
que a fé brilha em seu sofrimento de que fui o causador…
Perdoe-me mãezinha querida, e saiba que a amo cada vez mais.
Conte à Vera Lúcia o que me acontece em matéria de arrependimento para
que a irmãzinha no lar nunca se lembre de imitar o que fiz.
A vida e a justiça procedem de Deus e somente agora consigo ver a
realidade. Foi preciso que a morte me abrisse no peito uma torrente de lágrimas
para que o pranto me lavasse os olhos que a rebeldia obscurecera. Oh! Deus, cujo
infinito amor nunca falha.
Deus, mamãe, abençoará nossa dor e fará com que seu filho se recupere da
enfermidade espiritual que me atacou em forma de rebelião contra tudo o que o
mundo nos oferece de melhor.
Confio em Deus e trago ao seu colo esse pequeno raio de fé para dizer-lhe
que estou melhorando…
A provação que eu mesmo procurei tentando aniquilar a própria vida, é a
força que me retira das sombras para o regresso à claridade.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 175
Mãe querida, abençoe-me. Não sofra se choro e nem se aflija se ainda lhe
revelo o lado amargo do gesto que cometi… Isso é também recurso em meu
benefício.
Abençoe-me e auxilie-me com as suas lembranças em prece e, desejando
que o seu coração permaneça forte e tranquilo na caminhada do bem para o Alto
em que sempre a vi e continuo a vê-la.
Tome entre as suas mãos a cabeça ainda amargurada de seu filho que lhe
pede perdão de joelhos e diga-me querida mãezinha, que o seu coração me acolhe
de novo e me perdoará como sempre.
Um beijo molhado de lágrimas do seu filho, sempre seu filho do coração.
João Alves de Souza – Vivendo sempre – Cap. 10 – João Alves de Sousa
Livro Vivendo sempre – Familiares diversos – Capítulo 10 – João Alves de
Sousa
João Alves de Sousa Reis Filho – apresentou a mesma necessidade de
João Alves de Sousa Reis, também suicida, aos 24 anos, falando, comovido, ao
coração materno :
Penso que o seu carinho me perdoará coma sempre.
Sofro as consequências de meu gesto infeliz, mas no miolo dessa angústia
está o remorso de haver menosprezado a melhor mãezinha que o céu me poderia
confiar.
Como vemos, as consequências do suicídio costumam ser profundamente
dolorosas, causando distúrbios por muito tempo.
Marlene Nobre – Nossa Vida no Além – Cap. 9 – Adaptação à Vida Nova –
Casos Especiais
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 176
DEPOIMENTO 19 Pedro Augusto Souza Gonçalves
Querida mãezinha Elza e meu pai João. Estou informado de que pude vir até
aqui, trazer-lhes as minhas notícias, pela concessão de amigos que consideraram o
merecimento dos pais queridos, porque, de mim mesmo, ainda me encontro nas
faixas de severo tratamento.
Perdoem-me a tribulação que lhes causei com a minha deserção da vida.
Confesso-lhes que tudo fiz para evitar aquele amargo desfecho de minhas
inquietações. Nervos doentes substituindo a fé que me cabia acalentar, a fim de
vencer em minha provação.
Estava longe de compreender que todas as criaturas suportam o fardo de que
precisarão se desvencilhar, um dia, para se encontrarem consigo mesmas.
Mãezinha Elza, lutei muito. Assim pensei, admitindo erroneamente que
milhares de pessoas não sofriam muito mais do que eu mesmo. Detinha a vantagem
de viver ao lado dos familiares queridos e parecia cego para não reconhecer que
nada me faltava para ser tranquilo e feliz.
Um ponto, porém, me atormentava o pensamento. Cedo reconheci que eu
não poderia constituir uma família como desejava e deixei-me iludir com isso,
quando há tantas crianças doentes e desajustadas esperando o amparo de alguém
que lhes tutele a existência infortunada.
Esqueci-me de que eu poderia incorporar-me no trabalho de uma instituição
das muitas que amparam os pequeninos sofredores… E, porque não me seria
possível uma vida igual à vida de outros rapazes, a ideia de revolta contra a vida se
apoderou de mim.
Estou aqui nesta mesma sala onde estive um dia, buscando orientação e
esclarecimento, e se não me foi possível a demora de mais alguns dias para ouvir
os amigos que me reconfortariam, explicando-me o que seja a provação na vida de
alguém, agora vejo todos e ouço a todos os que trocam opiniões, reconhecendo que
me seria tão fácil suportar a carência de meus recursos genésicos, abraçando a vida
que a Divina Providência me reservara.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 177
Penso, atualmente, na legião de jovens aos quais algumas frases bastariam
para esclarecê-los e traçar-lhes novos rumos!
Não sei explicar-lhes o conflito que passou a possuir-me, desde que alguns
companheiros me informaram de que as minhas dificuldades orgânicas eram
irreversíveis! Criando nomes supostos para disfarçar-me, tentei ouvir muitos
médicos ou acadêmicos de Medicina que me ouviam com atenção. Todos eram
unânimes na opinião de que eu era vítima de problema sem solução.
Ao mesmo tempo, inflamava-me com o propósito de casar-me e ser feliz
num lar, em que pudesse usufruir a vida de um homem comum. No entanto, a
depressão, de que me vi acometido, ganhou todas as minhas resistências e
entreguei-me à desencarnação voluntária, ignorando que a vida continuava.
Não tenho recursos para evadir-me da realidade e, por isso, preciso assumir
o meu gesto infeliz. Sou claro em minhas afirmativas porque estou diante dos pais
queridos aos quais não posso enganar, conquanto reconheça que me competia uma
entrevista com ambos na intimidade da família, e com isso, talvez, conseguisse um
caminho para a minha própria libertação.
Pais queridos, perdoem-me aquele projétil que eu devia ter evitado,
perdoem-me a ingratidão a que me entreguei quase inconscientemente, e continuem
nas orações por mim, de vez que me envergonho de expor aqui a minha fragilidade.
No instante terrível em que me vi arrasado pelas próprias mãos encontrei
rente comigo aquele benfeitor, que ainda me segue as experiências, fornecendo-me
as chaves do conhecimento superior — esse amigo humanitário e abnegado que me
colheu nos braços, quando já não possuía qualquer recurso de auto-sustentação.
Ele me solicitou chamá-lo pelo nome de vovô Francisco, e me abençoa e
socorre em todos os meus obstáculos, e me afirma que Deus tem caminhos para
todos os filhos extraviados. Estou consolado com a possibilidade de dizer-lhes isso.
Estou melhorando, porque os meus primeiros dias, aqui na Vida Espiritual,
foram momentos do alucinado que já deixei de ser.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 178
Muito grato por virem até aqui, na ideia de que colheriam alguma notícia do
filho devedor que sou eu, sensibilizando-me com a decisão de romperem com os
empeços da viagem, a fim de que eu pudesse rogar-lhes a bênção.
Pais queridos, do meu amanhã ainda nada sei, mas a confiança em Deus está
novamente comigo e, com isso, compreendo que todas as minhas lutas serão
superadas sem que eu, por enquanto, saiba como. Peço-lhes desculparem o filho
infeliz que era tão feliz em nossa família e não sabia.
Deus me favorecerá com oportunidades de trabalho para que me sinta
reposto no caminho da segurança e do bem. Sofri muito e ainda sofro, mas a
esperança já está em meu coração e sei que aprenderei a viver e a servir.
Não posso continuar porque a emoção me constringe a garganta e o
pensamento, mas seguirei adiante com a certeza de que me desculparam a
leviandade e a doença, e me amam com o mesmo carinho dos dias passados.
Mãezinha Elza, as suas lágrimas me lavaram a alma, e com o seu amor me
sinto à frente de novo dia.
Pais queridos, a todos os nossos entreguem as minhas lembranças, e
recebam o coração do filho que não soube compreendê-los, mas que os ama com
todas as forças da própria vida.
Até que eu volte melhor amanhã do que hoje me sinto, guardem as saudades
e o imenso carinho do filho sempre mais reconhecido,
Pedro Augusto Souza Gonçalves – Porto de alegria – Cap. 4 – Deus tem
caminhos para todos os filhos extraviados
Livro Porto de alegria – Familiares diversos – Capítulo 4 – Deus tem
caminhos para todos os filhos extraviados – Pedro Augusto
Pedro Augusto Souza Gonçalves, jovem de 22 anos, inconformado com sua
moléstia crônica — sofrendo desde os 8 anos de idade, com certa frequência, de
fortes convulsões epilépticas, resistentes a tratamento médico constante —, pôs um
ponto final em sua vida física, com certeiro projétil, a 7 de junho de 1988.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 179
Residia no Rio de Janeiro, RJ, sua terra natal, com seus pais João Francisco
Gonçalves Netto e Elza Souza Gonçalves, em Copacabana, à Avenida Atlântica,
4022/502.
Porém, apenas três meses após o lamentável episódio, Pedro Augusto, em
Uberaba, comunicou-se novamente com seus queridos progenitores, em longa e
confortadora mensagem, “relatando fatos de que apenas ele, seus pais e irmãos
tinham conhecimento”, conforme esclarecimento de seu pai.
Agora, mais consciente de sua provação terrena, ele sofre, submetendo-se a
“severo tratamento”, e sente-se profundamente arrependido, mas otimista diante do
futuro, ao afirmar que “a esperança já está em meu coração” e “Deus tem caminhos
para todos os filhos extraviados.”
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 180
DEPOIMENTO 20 Maximiliano
Lê-se no Siècle de 13 de janeiro de 1862:
“Maximiliano V.., rapazola de doze anos, morava com os pais à Rua des
Cordiers e estava empregado como aprendiz numa tapeçaria.
Esta criança tinha o hábito de ler romances-folhetins. Todos os momentos
que podia escapulir do trabalho ele os dedicava à leitura, que lhe superexcitava a
imaginação e lhe inspirava ideias acima de sua idade.
Assim, imaginou sentir paixão por uma criatura que teve ocasião de ver
algumas vezes, a qual estava longe de pensar que tivesse inspirado um tal
sentimento.
Desesperado por não ver a realização dos sonhos provocados por suas
leituras, resolveu matar-se.
Ontem, o porteiro da casa que o empregava encontrou-o sem vida num
gabinete do terceiro andar, onde trabalhava sozinho. Enforcara-se numa corda que
prendera numa viga com um enorme prego.”
As circunstâncias dessa morte, numa idade tão pouco avançada, deram a
pensar que a evocação dessa criança poderia fornecer assunto para um ensino útil.
Ela foi feita em sessão da Sociedade, ocorrida em 24 de janeiro último.
(Médium: Sr. E. Vézy)
Nesse fato há um difícil problema de moral, quase impossível de resolver
pelos argumentos da filosofia ordinária e, ainda menos, da filosofia materialista.
Pensam ter tudo explicado dizendo que era uma criança precoce. Mas isto
não explica nada; é absolutamente como se dissessem que é dia, porque o Sol se
levantou.
De onde vem tal precocidade? Por que certas crianças ultrapassam a idade
normal para o desenvolvimento das paixões e da inteligência?
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 181
Eis uma das dificuldades contra as quais vêm se chocar todas as filosofias,
porque suas soluções sempre deixam uma questão não resolvida e podemos sempre
indagar o porquê do por quê.
Admiti a preexistência da alma e o desenvolvimento anterior e tudo se
explica da maneira mais natural. Com este princípio remontais à causae à fonte de
tudo.
[Evocação de Maximiliano.]
1. (Ao guia espiritual do médium.) Poderíeis dizer-nos se podemos evocar
o Espírito da criança a que nos referimos há pouco?
Resposta. – Sim; eu o conduzirei, porque está sofrendo. Que a sua aparição
em vosso meio sirva de exemplo e seja uma lição.
2. (A Maximiliano.) Tendes consciência de vossa situação?
Resposta. – Ainda não posso definir bem onde estou; há como que um véu
sombrio à minha frente; falo, mas não sei como me ouvem e como falo. Contudo,
já vejo aquilo que até há pouco era obscuro; sofria, mas desde agora me sinto
aliviado.
3. Lembrai-vos bem das circunstâncias da vossa morte?
Resposta. – Parecem muito vagas. Sei que me suicidava sem motivo.
Entretanto, poeta numa outra encarnação, tinha uma espécie de intuição de minha
vida passada; criava sonhos, quimeras; enfim, eu amava.
4. Como pudestes chegar a tal extremo?
Resposta. – Acabo de responder.
5. É singular que uma criança de doze anos seja levada ao suicídio,
sobretudo por um motivo como esse que vos impeliu.
Resposta. – Sois extraordinários! Já não vos disse que, poeta numa outra
encarnação, minhas faculdades tinham ficado mais amplas e mais desenvolvidas
que nos outros?
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 182
Oh! ainda na noite em que me encontro agora vejo passar essa sílfide de
meus sonhos na Terra, e é isto o castigo que Deus me inflige, de a ver bela e leviana
como sempre, passar diante de mim e eu, ébrio de loucura e de amor, quero me
atirar… mas, ah! é como se estivesse preso a um anel de ferro… Chamo… mas em
vão; ela nem sequer vira a cabeça… Oh! como sofro então!
6. Poderíeis descrever a sensação que experimentastes quando vos
reconhecestes no mundo dos Espíritos?
Resposta. – Oh! sim, agora que estou em contato convosco. Meu corpo lá
estava, inerte e frio e eu planava à sua volta; desfazia-me em lágrimas.
Estais admirados das lágrimas de uma alma. Ah! como são intensas e
abrasadoras! Sim, eu chorava, porque acabava de reconhecer a enormidade de
minha falta e a grandeza de Deus!… E, contudo, não tinha certeza de minha morte;
pensava que meus olhos fossem abrir-se… Elvira! Chamava eu… supondo vê-la…
Ah! É que a amo desde muito tempo; amá-la-ei sempre… Que importa, se tiver de
sofrer por toda a eternidade, se puder um dia possuí-la em outra encarnação!
7. Que sensação experimentais por estar aqui?
Resposta. – Faz-me bem e mal ao mesmo tempo. Bem, porque sei que
compartilhais de meu sofrimento; mal, porque, apesar de toda a vontade que tenho
de vos agradar, aceitando as vossas preces, não posso, porque então deveria seguir
um outro caminho, diferente daquele de meus sonhos.
8. Que podemos fazer que vos seja útil?
Resposta. – Orar, visto que a prece é o orvalho divino que nos refresca o
coração, a nós, pobres almas em pena e em sofrimento.
Orar. No entanto, parece que se me arrancásseis do coração o próprio amor
e o substituísseis pelo amor divino, então!… não sei… creio!… Vede! Neste
instante eu choro… pois bem!… pois bem!… orai por mim!
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 183
9. (Ao guia do médium). Qual o grau de punição para este Espírito por se
haver suicidado? Levando-se em conta sua idade, sua ação é tão condenável quanto
a dos outros suicidas?
Resposta. – A punição será terrível, porque foi mais culpado que os outros.
Já possuía grandes faculdades: a força de amar a Deus de maneira poderosa e de
fazer o bem. Os suicidas sofrem longos castigos e Deus pune ainda mais os que se
matam com grandes ideias na mente e no coração.
10. Dissestes que a punição de Maximiliano V… será terrível. Poderíeis
dizer em que consistirá? Parece que ela já começou. Ser-lhe-á reservado mais do
que já experimenta?
Resposta. – Sem dúvida, pois sofre um fogo que o consome e o devora e que
só cessará pelos esforços da prece e do arrependimento.
11. Há possibilidade de ser atenuada a sua punição?
Resposta. – Sim: orando-se por ele, principalmente se Maximiliano se unir
às vossas preces.
Maximiliano – Revista Espírita – Maio 1862 – 3° Artigo – Um Paixão de Além-
Túmulo
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 184
DEPOIMENTO 21 Francisco Ângelo de Souza
Não sei qual seria a maneira correta de introduzir-me nesta reunião.
Na impossibilidade de agir como exige a tradição, eu saúdo a todos, pedindo
a Deus misericórdia para os infelizes.
Meus pais, aflitos, pedem notícias de mim, procuram-me por toda parte,
exigem que eu lhes comunique como estou passando, desejam uma evidência da
continuação da minha vida.
Desesperam-se, porque tardam as minhas cartas. . .
Esperam que a morte seja um trampolim para um mundo estranho, abstrato,
talvez sobrenatural. Não se dão conta, como também não me dei, de que morrer é
pegar um veículo em desabalada correria que nos arroja de chofre noutro
lugar, sem nos arrancar da vida, atirando-nos numa dimensão poderosa e diferente
que a mente antes não pôde conceber, mas que a defrontando não pode negar.
Pedem-me que lhes diga se é verdade que eu prossigo vivendo e gostariam
que eu retornasse como um anjo para lhes incensar as vaidades pessoais, tornando-
os privilegiados, diminuindo-lhes a responsabilidade no insucesso de que fui
vítima.
Reconheço a minha imprudência, constato a minha miséria, mas não
posso descartar que tenho sido vítima educação e do meio onde vivi.
Meus pais deram-me tudo. Educação bem cuidada, liberdade, amigos e
dinheiro, só não foram Pais... Eu pude desfrutar de regalias, mas não pude
desfrutar de uma família.
De cedo, os vícios e as dissipações sociais que eu encontrei em casa
passaram a tomar parte nas minhas horas. Como os vícios sociais constituem motivo
de projeção na comunidade, eu projetei-me. Mas, aos vinte e três anos minha
projeção se apagou no acidente de um “porche” depois de uma ingestão de drogas
além da dose habitual.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 185
Que notícias eu posso dar? Dizer que despertei como um sátrapa,
recolhido a um hospital onde a dor, nivelando os Espíritos, era também o meu
quinhão da vida?
Relatar o que tem sido este tempo sem tempo que o calendário da Terra não
pode representar?
O arrependimento toma uma dimensão que se perde nas medidas habituais.
Por isso, o vulgo diz que, se o “arrependimento matasse". . . No entanto, a muitos
aniquila o corpo, a outros tantos apaga a lucidez.
Eu diria a todos os pais, a todos aqueles que sentem saudade dos que
viajaram para cá, que há um padrão de avaliação de como se encontram os que a
morte conduziu para a realidade da vida. A conduta que tinham, as ações que
praticaram, o comportamento que se permitiram – eis os documentos de
identificação para receber aval para a felicidade ou algema para a desdita.
Muda-se de lugar, porém, não se muda de estado íntimo.
E porque se encontram pessoas queridas que nos aguardam com lágrimas de
júbilos quando aportamos no Mundo Espiritual, de maneira nenhuma este amor
modifica a paisagem em sombra de quem enxergou o bem pelas lentes do mal, ou
perdeu a oportunidade de agir corretamente. Não há critério de exceção, nem
regimes de privilégios.
Todos nós despertamos, no Mundo dos Espíritos, com o cabedal que
trouxemos do mundo dos homens. Somente a conduta bem vivida e as ações bem
delineadas constituem o patrimônio de felicidade para os que a morte não consumiu.
Sem desejar enviar uma mensagem de desencanto, eu gostaria de dizer aos
meus pais e a quantos esperam a prevalência de novidades e a caracterização de
júbilos infindáveis pelos que morreram, que se resguardem no discernimento e no
equilíbrio, e, meditando sobre o que foram os seus amores, compreendam que
permanecem iguais no esforço por melhorar-se, se se encontram lúcidos, e na
redenção por evoluir, se se encontram agoniados sob os látegos das próprias
aflições. . .
Francisco Ângelo de Souza – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 5 – Notícias do
Além
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 186
DEPOIMENTO 22 Marcio Ricardo
Márcio Ricardo Pinto nasceu no dia cinco de maio de 1972, na cidade de
Jundiaí, SP, sendo filho do Sr. Marco Antônio Pinto e de Dona Maria de Lurdes
Borin Pinto.
Sem motivo aparente, tentou suicidar-se no dia vinte e três de março do ano
de 1988, através de um projétil de revólver, vindo a desencarnar no dia vinte e sete
do mesmo mês, havendo deixado uma carta dirigida aos seus pais.
1º Mensagem – 1989 – Março - 15/03/1989
Meu querido paizinho, encontro-me em torvelinho de emoções neste
momento.
Há quase um ano (1) a dor se abateu sobre nosso lar e quase nos destroçou...
Inconscientemente eu fui o instrumento das aflições pesadas que ainda nos
fazem chorar. Todavia, o seu filho não tinha intenção de despedaçar o seu e o
coração da mãezinha querida.
Tudo aconteceu de repente.
A idéia me fulminou o cérebro, por primeira vez, em dias passados (2) e
depois permaneceu qual parafuso que mãos inclementes insistissem em cravar com
força.
Por fim, a gota d’água aconteceu, naquele terrível domingo, dia 27 de março
do ano passado. (3)
É impossível descrever o que se passou em mim, o quanto sofri e tenho
chorado, o arrependimento que me angustia e todas as recordações que não me dão
repouso.
No entanto, a misericórdia de Deus igualmente não me tem desamparado.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 187
Graças a ela encontro-me internado para refazimento, sob o carinho paternal
do nosso amado Dr. Bezerra de Menezes (4), que se revelou um anjo de ternura e
devotamento desde as primeiras horas do infortúnio que eu buscara na minha
alucinação juvenil.
Meu amado paizinho, seu filho aqui vem trazido, com o fim de acalmá-lo e
dizer à amada mamãe, à querida Flávia (5), que agora tudo ficará bem.
Recebo as suas preces e ajuda espiritual.
O pensamento do lar me chega como ondas de ternura e de felicidade
acalmando as dores do coração e diminuindo as angústias da alma arrependida.
Suplico que você e mamãe me perdoem, desculpando-me o fardo de dores
que lhes trouxe.
Um dia, quando as circunstâncias o permitirem e eu estiver melhor,
poderemos conversar mais demoradamente.
Este é um bilhete do coração ao seu sentimento, suplicando-lhe coragem e
fé. Você é homem de bem e tem sabido superar as dificuldades.
O nosso amor prossegue e agora passo a sentir algum alívio.
Abençoe o seu filho que o ama e buscará reabilitar-se.
Rogo a mamãe ter-me no coração com lembranças felizes, e beijando a
Flávia e você, sou o filho em recuperação.
(1) Há quase um ano - Dado exato.
(2) A idéia me fulminou o cérebro, por primeira vez, em dias passados -
Márcio deixou uma carta sobre o assunto.
(3) Domingo, dia 27 de março do ano passado – Confirmado pelo pai.
(4) Carinho paternal do nosso amado Dr. Bezerra de Menezes - O missivista
conhecia a história do grande Missionário espiritual.
(5) Á querida Flávia - Nome da irmã.
Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 59
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 188
2º Mensagem – 1989 – Dezembro - 16/12/1989
Meu querido pai: (1) os dias da saudade são longos, assinalados pelas
meditações, nas quais encontro forças para acarinhar a esperança.
Cada dia mais se agiganta no meu coração o amor por você e pela querida
mãe que eu não soube honrar.
Repasso pelo pensamento todas as horas e compreendo quanto fui egoísta e
ingrato, não sabendo digerir os acontecimentos domésticos, os problemas da
juventude.
Não desejo me justificar, no entanto, gostaria de recordar que os amo e
somente não tive forças para vencer a impetuosidade, a imaturidade.
Mais de uma vez a idéia sinistra me passou pela cabeça (2) qual se uma força
poderosa me comandasse o pensamento, terminando na fuga de que me arrependo
e tudo faria para evitar. (3)
Retorno ao pedido de perdão. A arma (4), se não fosse aquela, não evitaria
a consumação da tragédia, pois que outro seria o meio para a consumação infeliz e
tresloucada.
Hoje me dou conta que fatores espirituais poderosos (5), que nos
precederam ao berço, influenciaram terrivelmente a desditosa decisão.
Jamais desejei, em sã consciência, magoar você, a mãe, a Flávia, aos quais
tanto amo.
Tenho procurado recuperar-me pelo sofrimento, buscando crescer no amor,
aprendendo o valor da paciência e do bem.
Ainda me encontro internado sob cuidadoso tratamento físico e mental (6),
recuperando as forças.
Já posso vislumbrar possibilidades futuras de redenção, pelo estudo e
renovação moral.
Visito, vez que outra, nossa casa, sob o amparo da "vó" Lázara (6), que tem
sido o anjo bom das nossas vidas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 189
O futuro nos acena paz e bênção.
Ouço os seus pensamentos, da mãezinha e dos nossos, que oram por mim.
Sou a todos muito agradecido.
Após esta noite longa, amanhece um dia de realizações para o porvir.
Ouvindo a lição e os comentários deste momento, que o Evangelho nos dá,
comovo-me mais e suplico a Deus que abençoe com sabedoria todos os infelizes
filhos ingratos do mundo.
Nas recordações festivas do nosso afeto e ante o Natal que se aproxima,
desejo, meu paizinho, rogar a Jesus que lhe conceda, à mãezinha Lurdes, à Flávia
(7) e a nossa família, festas de alegria e esperança, bem diferentes daquela noite
natalina do ano passado.
Agradeço todo o bem que fazem, pensando em mim.
Joanna pede-me para encerrar a presente.
É com emoção filial e reconhecimento que lhe beijo as mãos generosas e
abraço, beijando, a mãezinha, a Flávia e os nossos, suplicando a Deus que nos
ampare sempre.
Seu filho, arrependido e afetuoso
(1) Meu querido pai - A caligrafia é semelhante àquela que possuía na Terra.
(2) Mais de uma vez a idéia sinistra me passou pela cabeça - Aclara melhor
a colocação feita na carta anterior.
(3) ... uma força poderosa me comandasse o pensamento, terminando na
fuga de que me arrependo e tudo faria para evitar - Aqui se confirma a interferência
de perseguidor desencarnado em processo de obsessão cruel com o paciente.
(4) A arma - um revólver de propriedade do pai, que se afligia por havê-lo
possuído para defesa pessoal, por residir em um sítio fora da cidade.
(5) ... fatores espirituais - Conclui o missivista pela obsessão de que foi
vítima, tendo-se-lhe atenuadas as dores por esta razão.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 190
(6) . . . tratamento fisico e mental - O perispírito atingido permanece sob as
rudes conjunturas do acontecimento infeliz, requerendo tratamento especializado
pelos Mentores.
(7) "Vó " Lázara - Bisavó paterna.
(8) Mãezinha Lurdes, à Flávia - Grafia correta do nome da genitora e da
irmã.
(9) Márcio Ricardo - Nome correto do missivista com assinatura semelhante
à que possuía.
Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 62
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 191
3º Mensagem – 1990 – Maio – 06/05/1990
Meu querido pai:(1) estou ajoelhado como na época infantil para rogar a
Deus que nos abençoe e nos dê forças para prosseguir na jornada.
Eu acreditava na imortalidade da alma, como é do seu conhecimento (2),
porque hauria a certeza no convívio da família, buscando algumas vezes, consolar
amigos (3) que haviam passado pela provação de verem partir pessoas amadas.
Mesmo quando optei pela fuga, na minha imaturidade, eu supunha que seria
fácil me comunicar com você (4) e a família, esquecido das grandes
responsabilidades que decorrem do suicídio.
Naquela semana eu me encontrava anestesiado.
A mente, que era lúcida, parecia que estava envolvida por uma densa névoa,
que dificultava o meu raciocínio.
As idéias eram confusas e a única saída (5) que me parecia feliz, para a
minha realização, seria a morte.
Eu temia ficar em coma ou em vida vegetativa, caso falhasse o meu gesto,
tal o desejo de libertar-me do corpo.
No íntimo eu sabia que morrer não era o fim, mas não tinha dimensão do
que me aguardava ...
Só mais tarde eu vim a ser informado que havia caído numa trama cruel de
antigos inimigos que me desejavam infelicitar, o que, de certo modo, conseguiram.
Sofri muito e ainda experimento remorso e aflição reparadora, a fim de
aprender a respeitar as Leis de Deus.
Eu me sentia diferente, insatisfeito, desajustado, e na minha angústia eu
queria que tudo fosse a meu modo.
Esqueci-me que eu me deveria ajustar ao mundo e às suas circunstâncias, ao
invés de querer que tudo e todos se adaptassem a mim.
Quanto o lamento! Eu estava, é certo, hipnotizado, na minha juventude
invigilante.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 192
Não desejo arrolar recordações tristes que deveremos esquecer.
Se o faço, é para demonstrar-lhe e aos familiares que eu sou o único
responsável, e que se não fora com o revólver, seria de mil outras formas como
ocorre diariamente.
Amo você, pai, e amo imensamente a mãe e a Flávia.
Vocês não imaginam o quanto me doem as ocorrências atuais, que tudo faria
para evitar.
A Flávia é muito jovem e imatura. Nada justifica o seu raciocínio, e a
mãezinha assume uma grande responsabilidade.
Eu sei que sou o autor dos efeitos que hoje abalam nossa família.
Todos, porém, podemos errar, mas temos o direito de reparar os equívocos,
especialmente os que produzem danos nas pessoas amadas.
Peço à mãezinha que pense mais e sem receio, antes de uma decisão final.
A vida é muito complexa.
Eu reconheço que não posso aconselhar. Todavia, porque me enganei é que
me preocupo ante a possibilidade de algum futuro sofrimento em nossa família.
Como eu daria tudo, se pudesse recuar no tempo e evitar a catástrofe ...
Rogo à querida Flávia que pense em Deus e peça-Lhe para ajudá-la,
impedindo-lhe reações e pensamentos infelizes.
É necessário que seja forte, porquanto, mesmo tendo, como é o caso de
nossa família, recursos materiais, há necessidades morais que não podem ser
solucionadas, senão através dos valores morais.
Os pais exigentes, eu sei, desagradam os filhos, que, só depois os
compreendem e os valorizam. No entanto é melhor que sejam assim, a tornarem-se
omissos e coniventes, ante os desafios que vêm à família a cada passo.
Querido pai, não poderia deixar de vir agradecer-lhe pela lembrança querida
do 5 de maio. (6)
Você esperava que o seu pobre filho viesse trazer-lhe notícias, falar-lhe do
processo de restauração interior. Sim, eu estou melhor, aprendendo com os
Benfeitores Espirituais.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 193
O Dr. Bezerra, a irmã Joanna, têm sido incansáveis. Eu estou ainda em
tratamento adequado, preparando-me para crescer no futuro.
Agradeço-lhe, paizinho, tudo de bom que me oferece e rogo que não deixe
de interceder por mim em suas orações e ações de caridade.
O mesmo solicito à mãezinha, aos tios e aos avós de Santo André e de
Jundiaí.
Beijo você, a mãezinha, a Flávia, a todos, e repito que eu os amo muito,
suplicando mais uma vez que me perdoem.
Com um carinho enorme, desejando que tudo se regularize em paz e
bondade, beija-o, o filho reconhecido.
(1) Meu querido pai - Repete-se a caligrafia de Márcio, muito diferente da
letra do médium, e conforme escrevia quando reencarnado.
(2) Eu acreditava na imortalidade da alma - Fato confirmado. Márcio
conhecia algo sobre a vida no Além-túmulo.
(3) Buscando, algumas vezes consolar amigos - Havia escrito uma carta
comovedora a um amigo que passara pela provação da morte do genitor.
(4) ... seria fácil me comunicar com você - Na carta despedida, ele promete
voltar logo, olvidando-se da gravidade do suicídio ...
(5) . . . única saída... seria a morte - Visão distorcida e perturbadora dos que
estão hipnotizados pela idéia infeliz do suicídio.
(6) Cinco de maio - Data aniversária do Márcio.
Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 65
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 194
4º Mensagem – 1990 – Dezembro – 26/12/1990
Meu querido pai, retorno à nossa correspondência, trazendo um ânimo novo
que me sustenta as aspirações futuras.
O silêncio aparente não tem sido proposital, antes necessário para o meu
soerguimento moral e espiritual.
Hoje posso avaliar melhor os acontecimentos lamentáveis que sucederam à
minha desencarnação.
Não apenas sofri o esfacelamento dos órgãos físicos, mas, em profundidade,
provoquei lesões que ainda não cicatrizaram.
Como descrevê-las?
Despertei em estado de alucinação dolorosa, sem dar-me conta da extensão
da tragédia.
Tudo aconteceu de forma cruel e se prolongou até o momento em que a
misericórdia de Deus, através dos Bons Espíritos, modificou o meu quadro de
sofrimento, conduzindo-me a tratamento adequado, como você sabe.
As suas preces e as de minha mãe, como outras tantas, alcançaram-me
naqueles primeiros dias mais rudes e ajudaram-me, qual acontece ainda hoje,
diminuindo-me as angústias.
Já posso raciocinar com mais clareza, anotar recordações e a memória
funciona com equilíbrio.
Reincidente no ato suicida, os pobres antigos verdugos trabalharam em
favor do desfecho.
A minha fragilidade emocional é a única responsável pelo que ocorreu.
Vez que outra, não nego, pensava na morte.
Sentia-me fracassado em relação aos dias passados e sem coragem para
enfrentar o futuro.
Sentia-me diferente das demais pessoas e doía-me a hipocrisia, sem que eu
procurasse compreender que somos quase todos doentes espirituais.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 195
Sitiado pelos inimigos, a fuga foi a alternativa que me empurrou ao fosso do
erro ...
Isto, porém, já vai longe, embora no calendário humano se haja passado há
pouco tempo.
Eu amo você, meu pai, como a minha mãe, a Flávia. São a minha família, o
meu coração.
Lamento haver sido, de alguma forma, responsável pelo que sucedeu depois,
em nosso lar, envolvendo vocês três.
Agora, que a consciência me liberta das algemas do remorso, oro a Deus em
favor de todos nós e me esforço para crescer e recuperar-me, prometendo a mim
mesmo que me erguerei do abismo e um dia me transformarei em uma estrela.
Há esperança no meu coração, após muito sofrimento, e amadureço na
fixação do bem que está ao nosso alcance.
Internado, em tratamento, também estudo, e se desenha uma possibilidade,
ainda remota, para que eu transforme a minha experiência em contribuição para
outros jovens, a fim de que o meu grito-advertência os ajude nos transes e desafios
da idade de incertezas.
A vida espiritual, agora que me encontro em melhor condição mental, é um
calidoscópio de surpresas.
Certo dia recebi a visita de um senhor, que me veio confortar. E porque eu
não o conhecesse, ele me afirmou ser pai do Fábio, que havia desencarnado em
1985 (1) de acidente automobilístico. Ele desejava agradecer a carta que eu fizera
ao filho, confortando-o (2).
Havia sido verdade. O Fábio, até que parecia não ir muito com a minha cara.
Mas, quando soube, no colégio, do que havia acontecido com o seu pai, eu lhe
escrevi, falando da morte e da sobrevivência, bem como da melhor maneira dele se
comportar para não dificultar a situação do ser querido.
Todo bem que se faz, sempre se transforma em conquista para o doador.
Repasso, pela memória, nossos dias, nossas conversas, nossas
discordâncias. Você fez o melhor para mim, meu pai.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 196
Aprendi muito com você e com o seu exemplo, com o carinho da minha
mãe...
Eu tive a felicidade de ser acarinhado por uma família bondosa, que se
empenhava em dar-me ternura e até mesmo excesso. Recordo-me do carinho dos
meus avós Olga e Antônio (3), da assistência e dedicação dos avós Dionísio Luiz e
Maria (4), dos tios de ambos os lados, particularmente do tio Luiz, parecendo-me
ainda ouvi-lo chamar-me com imenso carinho, "rato", "alemão" e outros nomes,
com o jeito todo dele ... (5)
Sempre me vêm à memória, nos últimos tempos, os assuntos e conversas
com o tio Sérgio (6) e todos os demais familiares, as primas por parte da tia Sandra
e tio Luiz, a tia Maria Helena (7) e as visitas à sua casa, enfim, são tantos corações
queridos!...
As brincadeiras com os parentes em nossa propriedade da família, com
Tadeu e Tiago (8), e o amor pela irmã Flávia.
Como eu gostaria de falar-lhe de forma que ela amadureça e seja feliz.
Confio em Deus que ela crescerá para a paz e a plenitude que merece.
Tenho recebido as visitas dos bivós Bueno, Lázara e Mentori Rossi (9) que
me constituem motivo de encorajamento.
Também vários amigos que vieram para cá em acidentes de moto e carro
são lições vivas, porque um e outro são considerados suicidas indiretos, por causa
da imprudência e desequilíbrio que lhes motivaram a morte ...
Você lutou pai, para que eu não morresse de moto, enfrentou a avó Maria e
me resguardou como pôde. É como se você adivinhasse o meu breve retorno e se
acautelasse, defendendo-me.
Graças a Deus, a visão clara da vida e ajuda dos Bons Espíritos, do Dr.
Bezerra de Menezes e de Joanna de Ângelis, posso sentir-me outro e confio no
futuro com festa nos sentimentos.
Hoje as minhas dores são morais, com alguns remanescentes no perispírito,
que eu hei de superar.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 197
Viva, meu pai, e cresça. Não tenho condições de sugerir-lhe nada. No
entanto, em razão de encontrar-me na realidade maior é que o conclamo à luta mais
intensa, sem amarra com os dias que passaram, e somente com as perspectivas do
futuro.
Caminharemos juntos. Ajude-me ainda um pouco mais.
Sinto saudades dos nossos papos, lavando o carro, e noutras ocasiões.
Amo minha mãe e agradeço-lhe o envolvimento de ternura que me concede.
Amo a Flávia e desejo-lhe progresso, discernimento antes das atitudes, para
que não se precipite.
Amo os nossos familiares.
Amo vocês.
Até breve, meu paizinho. Despeço-me emocionado e agradecido.
Assino como antigamente (10) e peço a Deus que tome conta de nós.
Seu filho de sempre, devotado e afetuoso.
(1) ... pai de Fábio, que havia desencarnado em 1985 – Dado confirmado
pelo pai.
(2) ... agradecer a carta - Igualmente confirmado.
(3) Olga e Antônio - Nomes dos avós paternos.
(4) Dionísio Luiz e Maria - Nomes dos avós matemos.
(5) Tio Luiz . . . rato, alemão - Informação exata.
(6) Tio Sérgio - Igualmente confirmado.
(7) Tia Sandra e tio Luiz, a tia Maria Helena – Nomes confirmados.
(8) Tadeu e Tiago - Primos do missivista.
(9) ... bivás Bueno, Lázara e Mentori Rossi - Nomes corretos.
Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 69
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 198
5º Mensagem – 1991 – Agosto – 17/08/1991
Querido pai, a saudade é uma ponte colocada entre o passado e o presente,
falando das nossas experiências e do nosso afeto.
Ela nos traz o filme dos acontecimentos que se desenrolam com freqüência,
fazendo-nos fixar as cenas mais marcantes, às vezes, ao contributo das lágrimas.
Seu filho prossegue na busca do equilíbrio, lutando com decisão, a fim de
reencontrar-se.
A aprendizagem é longa e feita vagarosamente, em particular para mim, que
abusei da concessão do corpo ...
Não me têm faltado o carinho nem a misericórdia de Deus, ao lado da
assistência dos Bons Espíritos que, com os nossos familiares, têm-me socorrido
com verdadeiro desvelo.
Dentre estes, a bisavó Lázara tem-se constituído o anjo bom do carinho,
preenchendo a lacuna da mãe querida Lurdes, que me envolve nas suas preciosas
vibrações de amor e de saudade.
Visito nossa casa com relativa freqüência e demoro-me na saleta (1) que o
carinho da mãezinha adornou de afeto, em favor da memória do filho egoísta e
sofrido.
Como tudo é diferente do que eu pensava!
Eu supunha ser fácil retomar com brevidade, manter os contatos com o seu
e os corações queridos. Agora constato que a vida é, não como gostaríamos todos
que fosse, no modelo de cada qual.
Estou quase refeito, na aparência, dos danos causados pelo método que
escolhi para o retomo. Começo a pôr em ordem, calmamente - o nosso tempo tem
a mesma dimensão do terreno, em razão da proximidade vibratória com o nosso
planeta - a casa mental, e, embora em prolongado tratamento, continuo estudando
com os olhos postos no futuro.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 199
Tenho estado também no seu novo lar e acompanho-o, quanto me é possível,
haurindo paz nas suas forças.
Recordo-me de tudo quanto fazíamos juntos e comovo-me ante a lembrança
de quando lavávamos o carro e ouvíamos gravações ... (2) Eram dias de felicidade,
cuja evocação me concede alegria, repouso.
Procuro recordar todas as ocorrências felizes, assim diminuindo a ferida
provocada pela última fase, de forma que logo cicatrize ...
Tenho estado com a Flávia e espero em Deus que ela seja muito feliz,
conseguindo as vitórias que merece. A querida irmã é dotada de muitos valores e
sistema nervoso delicado, aliás, uma característica da nossa família.
Tenho estado no mesmo grupo de estudos com o Reginaldo e outros amigos.
Sou mais feliz do que mereço, pois não caí nos umbrais e não permaneci
vitimado pelos irmãos impiedosos, que me haviam iludido, graças à minha
inexperiência e rebeldia.
Meu querido pai, avance no rumo certo para Deus e para o bem, que são os
valores mais poderosos, como é do seu conhecimento.
Tenho ouvido muito, durante esta semana. A irmã Joanna trouxe-nos, a mim
e a um grupo de Espíritos necessitados, para que participássemos desta semana de
festas espirituais, e todos temos aproveitado muito bem.
Agradeço-lhe, pai, todo o carinho e dedicação, sua forma de ser que, às
vezes, eu não compreendia, sentindo-me reconhecido a Deus pela nossa família.
Beijo a mãezinha querida, a Flávia, os quatro avós, os tios e primos.
O bivô Mentori, comigo aqui, representa os nossos, e a bisa Lázara suplica
a Deus paz para todos nós.
Meu querido pai, receba o abraço de seu filho renovado, no caminho da
redenção.
Amo você e todos os nossos.
Seu filho,
(l) ... saleta - D. Lurdes reservou uma sala para orar em favor do filho.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 200
(2) ... ouvíamos gravações - Confirmado pelo pai.
(3) Reginaldo - Nome de amigo de Márcio que desencarnou antes.
Márcio Ricardo Pinto - Exaltação à Vida - Pag. 75
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 201
3.6.2 Adulto/Terceira Idade
Os seguintes depoimentos de adultos/Terceira Idade, obtidos via
comunicação mediúnica, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, Fernando
de Lacerda, Divaldo Franco, e outros médiuns são apresentados nas próximas
páginas:
# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao
desencarne
(anos)
Tempo após o
desencarne da
comunicação
Depoimentos – Adultos/Terceira Idade
23. Camilo Castelo Branco Arma de fogo 65 28 anos
24. Marilyn Monroe Soníferos 36 4 anos
25. Amilcar Rodrigues Passos Envenenamento 30 ?
26. Anônima Envenenamento ? ?
27. Maria Cândida Envenenamento ? 12 anos
28. Antero de Quental Arma de fogo 49 27 anos
29. Hermes Fontes Arma de fogo 42 4 anos
30. Francisca Júlia da Silva Sonífero 49 35 anos
31. Jorge Arma de fogo ? 5 anos
32. Lima ? ? 5 anos
33. Luís Alves Arma de fogo 30 26 anos
34. Entrevista com uma Suicida Envenenamento 32 14 anos
35. Suicida Da Samaritana Corte da Jugular 50 6 dias
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 202
# Comunicação Tipo de Suicídio Idade ao
desencarne
(anos)
Tempo após o
desencarne da
comunicação
36. Alfred Leroy Enforcamento 50 6 dias
37. Luís Fernando Botelho de Moraes Arma de fogo 29 6 meses
38. Raul Martins Envenenamento 47 3 anos
39. Joaquim Mousinho Arma de fogo 49 4 anos
40. Roberto Eduardo Saltar de Altura 26 4 meses
DEPOIMENTO 23 Camilo Castelo Branco
Muito tempo depois, mais de quatro lustros decorridos, solicitado a dizer
sobre o suicídio, eis o que seu Espírito transmitiu a um médium seu patrício:
Equivale a pedirem-me sinistra sinfonia para a ópera do Horrível.
Não sei dizer quanto é preciso; e tudo que disser não será, por assaz
deficiente, a sombra da verdade necessária. Mas não recuso o meu contingente, nem
quero perder a ocasião, que me oferecem, de mais uma vez bradar aos incautos que
se defendam de cair no abismo em que me precipitei, em aziaga hora.
Supõe-se aí que o suicídio é a morte.
Alguns creem que na devolução das carnes verminadas à podridão, está a
extinção da vida e do sofrimento.
Para esses é a libertação, a quebra da grilheta chumbada ao artelho de
forçado do martírio; como para outros é só remédio pronto a embaraços
inextricáveis de momento.
Há quem o creia cômodo fecho a uma vida de angústias; como há quem nele
veja fácil alçapão por onde se pode fugir às chicotadas do Destino.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 203
Para uns é cura radical de dores; para outros astuciosa maneira de fugir à
sorte adversa.
Alguns o têm como remate forçado e benemérito de desilusões; outros o
buscam como portaria franca para a região da Esperança.
Aos descrentes é finalização lógica para dificuldades e desgostos; aos
infelizes recurso último do desespero acovardado.
Uns creem conquistar com ele a eterna paz do Nada: o sono tranquilo de que
não se acorda mais; outros imaginam-no alavanca irresistível para forçar a porta do
Esquecimento.
Querem uns, com ele, esmagar remorsos de justiceiro pungir; querem
outros, com ele, escalar mais rapidamente o Céu.
E a todos enganam as tredas e alucinadoras miragens da Tentação.
Não é morte; não dá libertação; não constitui remédio.
Não extingue angústias, nem abre caminho à fuga redentora das açoitadas
do destino vingador.
Não sara dores, nem acaudilha deserções.
Não põe fim às desilusões da alma, nem encaminha visionários às sonhadas
bandas da Esperança.
Não dá, para os descrentes, razão à sua estultícia; nem aos infelizes,
consolações permeadoras do seu desespero pusilânime.
Não conduz o mísero à suprema paz do Nada, nem o acalenta no eterno sono
inacordável.
Não abre aos tristes a letárgica região do Olvido; não dá aos remorseados
mordaça para calar a grita da consciência; nem ajuda os crentes a tomar de assalto
o Céu.
Para todos o suicídio é o desengano.
Simulando defender do infortúnio, impele violentamente ao salto-mortal
para o Horror.
Não sei de nada que lhe seja comparável.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 204
Nem a blasfêmia, que eu suponho a suprema ofensa à Razão; nem o
fratricídio, que eu acredito a suprema ofensa à Humanidade; nem o matricídio, que
eu presumo a suprema ofensa à Natureza.
O suicídio é a suprema ofensa a Deus.
Nele, as dores redobram de intensidade; a alma impregna-se de desesperos,
que parecem infindáveis no tempo e na angústia.
Constitui a cristalização da Dor; a aflição da ansiedade que nada satisfaz; a
dentada triturante e perene do Remorso.
Eu fui suicida. Querendo fugir à cegueira dos olhos, fui mergulhar-me na
cegueira da alma.
Pensando furtar-me à negrura que cobria o meu viver, fui viver na treva
onde os suicidas curtem raivas, sem repouso; e blasfemam quando suplicam.
Fui viver na pávida região onde os réprobos se mordem e agatanham; onde
gargalham, de olhares em fogo e rangendo os dentes, os furiosos com juízo.
Aonde o suicídio arroja os seus mártires, num repelão brutal de louco, não
penetra a Luz de Deus, nem a carícia da Esperança.
Lá, ruge-se, geme-se, chora-se, soluça-se, ulula-se, blasfema-se, pragueja-
se e maldiz-se. Não existe paz; não se sabe, nem se pode orar.
– É a caverna do Sofrimento, de que Dante só vislumbrou o portal.
Sei que rábicas convulsões lá me sacudiram; que lágrimas ferventes
queimaram meus olhos cegos; mas não adrega dizê-las.
As dores descomunais não se descrevem. Sentem-se, no seu ecúleo titânico,
mas não se definem. Entram pelo infinito; são o inenarrável; são o incompreensível.
Quando o suicida supõe trancar, com a morte, a porta da Agonia, abre a do
ciclo infernal do Desespero.
Matando-se, não aniquila a vida; destrói, só num ato de inepta rebeldia, o
meio eficaz e providencial do seu progresso; e recua, voluntariamente, a hora
desejada da sua felicidade.
A vida, além do suicídio, pertence à fase humana que os homens da Terra
não conhecem, para que não têm ideias apropriadas, e a que a necessidade não criou
ainda palavras representativas. De umas e outras, todas as que aí mais dolorida,
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 205
mais trágica e mais sugestivamente pintem o aspecto do Horrível, não dão a
impressão esfumada dos tormentos que o suicida entra a curtir, quando, por ingênua
ou velhaca presunção, supõe conquistar, por uma violência da sua vontade, o termo
do seu sofrer.
Isto é assim. É bom? É mau? É assim. É como é, e, como é, temos de aceitá-
lo.
É possível que por aí haja quem fizesse coisa mais de perfeição; mas Deus
esqueceu-se, lamentavelmente, de os consultar antes de completar a sua obra.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 206
Foi uma falta grave; mas já vem tarde a grita indignada dos mestres desse
mundo, para remediá-la.
Ponham de lado prosápias de emendar o que está feito.
Guardem as sabedorias, que podem melhor servir para adubar manhas e
poucas-vergonhas nos conclaves palreiros da asnice em que aí pontificam.
Conjuro os que me lerem a que me creiam sem experimentar.
O desastre será irremediável, se não o fizerem.
Aceitem, aceitem o fato tal ele é.
Aceitem a vida como a puderem fazer. Corrijam-na, corrigindo-se.
Amoldem-se às situações, ainda as mais desesperadoras.
A tudo mais Deus prove de remédio; mas Ele é que é o juiz da oportunidade
de aplicá-lo.
Aceitem as dores, a cegueira, as deformações, as aberrações, o desespero,
as perseguições, a desgraça, a fome, a desonra, a degradação, a ignomínia, a lama,
tudo, tudo que de mau, de injusto, ou de rastejante em desprezo a Terra lhes possa
dar, que são ainda coisas excelentes em desiludida comparação ao que de melhor
possam chegar, pelo caminho do suicídio.
Camilo Castelo Branco – Do País da Luz – Vol. 4 – Cap. 42 – Camilo
Castelo Branco (médium Fernando de Lacerda – 1918)
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 207
DEPOIMENTO 24 Marilyn Monroe
A revista "Reformador" de julho de 1966, páginas 147148, na matéria
intitulada "Entrevista com o Além", narra o emocionante encontro de Humberto de
Campos com Marilyn Monroe, onde o Espírito Marilyn Monroe relata uma pouco
sobre sua "morte".
O cenário do referido encontro é o tranqüilo Memorial Park Cemetery em
Hollywood, e a comunicação foi recebida por Chico Xavier na noite de 29/04/1966,
em Los Angeles, ao tempo em que andou pelos Estados Unidos, em companhia de
Waldo Vieira.
Humberto de Campos caminhava com alguns amigos pelo local, quando
descobriu o túmulo da atriz que, aliás, encontrava-se ali mesmo, a uns poucos
passos, ainda evidentemente enferma, repousando no colo de uma senhora.
Um dos amigos presentes, fez as apresentações de praxe. Veja abaixo a
narrativa do próprio Humberto de Campos:
Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire
Boulevard, em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do
“Memoriam Park Cemetery”, entre o nosso caminho e os jardins de Glendon
Avenue.
A formosa mansão dos mortos mostrava grande movimentação de Espíritos
libertos da experiência física, e entramos.
Tudo, no interior, tranqüilidade e alegria.
Os túmulos simples pareciam monumentos erguidos à paz, induzindo à
oração.
Entre as árvores que a primavera pintara de verde novo, numerosas
entidades iam e vinham, muitas delas escoradas umas nas outras, à feição de
convalescentes, sustentadas por enfermeiros em pátio de hospital agradável e
extenso.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 208
Numa esquina que se alteava com o terreno, duas laranjeiras ornamentais
guardavam o acesso para o interior de pequena construção que hospedava as cinzas
de muitas personalidades que demandaram o Além, sob o apreço do mundo.
A um canto, li a inscrição: “Marilyn Monroe – 1926–1962.”
Surpreendido, perguntei a Clinton, um dos amigos que nos acompanhavam:
– Estão aqui os restos de Marilyn, a estrela do cinema, cuja história chegou
até mesmo ao conhecimento de nós outros, os desencarnados de longo tempo no
Mundo Espiritual?
– Sim – respondeu ele, e acentuou com expressão significativa – não se
detenha, porém, a tatear-lhe a legenda mortuária...Ela está viva e você pode
encontrá-la, aqui e agora...
– Como?
O amigo indicou frondoso olmo chinês, cuja galharia compõe esmeraldino
refúgio no largo recinto, e falou:
– Ei-la que descansa, decerto em visita de reconforto e reminiscência...
A poucos passos de nós, uma jovem desencarnada, mas ainda evidentemente
enferma, repousava a cabeça loura no colo de simpática senhora que a tutelava.
Marilyn Monroe, pois era ela, exibia a face desfigurada e os olhos tristes.
Informados de que nos seria lícito abordá-la, para alguns momentos de conversa,
aproximamo-nos, respeitosos.
Clinton fez a apresentação e aduzi:
– Sou um amigo do Brasil que deseja ouvi-la.
– Um brasileiro a procurar-me, depois da morte?
– Sim, e porque não? – acrescentei – a sua experiência pessoal interessa a
milhões de pessoas no mundo inteiro...
E o diálogo prosseguiu:
– Uma experiência fracassada...
– Uma lição talvez.
– Em que lhe poderia ser útil?
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 209
– A sua vida influenciou muitas vidas e estimaríamos receber ainda que
fosse um pequeno recado de sua parte para aqueles que lhe admiram os filmes e que
lhe recordam no mundo a presença marcante ...
– Quem gostaria de acolher um grito de dor?
– A dor instrui...
– Fui mulher como tantas outras e não tive tempo e nem disposição para
cogitar de filosofia.
– Mas fale mesmo assim...
– Bem, diga então às mulheres que não se iludam a respeito de beleza e
fortuna, emancipação e sucesso...Isso dá popularidade e a popularidade é um
trapézio no qual raras criaturas conseguem dar espetáculos de grandeza moral,
incessantemente, no circo do cotidiano.
– Admite, desse modo, que a mulher deve permanecer no lar, de maneira
exclusiva?
– Não tanto. O lar é uma instituição que pertence à responsabilidade tanto
da mulher quanto do homem. Quero dizer que a mulher lutou durante séculos para
obter a liberdade...
Agora que a possui nas nações progressistas, é necessário aprender a
controlá-la.
A liberdade é um bem que reclama senso de administração, como acontece
ao poder, ao dinheiro, à inteligência...
Pensei alguns momentos na fama daquela jovem que se apresentara à Terra
inteira, dali mesmo, em Hollywood, e ajuntei:
– Miss Monroe, quando se refere à liberdade da mulher, você quer
mencionar a liberdade do sexo?
– Especialmente.
– Porquê?
– Concorrendo sem qualquer obstáculo ao trabalho do homem, a mulher, de
modo geral, se julga com direito a qualquer tipo de experiência e, com isso, na
maioria das vezes, compromete as bases da vida.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 210
Agora que regressei à Espiritualidade, compreendo que a reencarnação é
uma escola com muita dificuldade de funcionar para o bem; toda vez que a mulher
foge à obrigação de amar, nos filhos, a edificação moral a que é chamada.
– Deseja dizer que o sexo...
– Pode ser comparado à porta da vida terrestre, canal de renascimento e
renovação, capaz de ser guiado para a luz ou para as trevas, conforme o rumo que
se lhe dê.
– Ser-lhe-ia possível clarear um pouco mais este assunto?
– Não tenho expressões para falar sobre isso com o esclarecimento
necessário; no entanto, proponho-me a afirmar que o sexo é uma espécie de
caminho sublime para a manifestação do amor criativo, no campo das formas físicas
e na esfera das obras espirituais, e, se não for respeitado por uma sensata
administração dos valores de que se constitui, vem a ser naturalmente tumultuado
pelas inteligências animalizadas que ainda se encontram nos níveis mais baixos da
evolução.
– Miss Monroe – considerei, encantado, em lhe ouvir os conceitos – devo
asseverar-lhe, não sem profunda estima por sua pessoa, que o suicídio não lhe
alterou a lucidez.
– A tese do suicídio não é verdadeira como foi comentada – acentuou ela
sorrindo.
Os vivos falam acerca dos mortos o que lhes vem à cabeça, sem que os
mortos lhes possam dar a resposta devida, ignorando que eles mesmos, os vivos, se
encontrarão, mais tarde, diante desse mesmo problema...
A desencarnação me alcançou através de tremendo processo obsessivo.
Em verdade, na época, me achava sob profunda depressão.
Desde menina, sofri altos e baixos, em matéria de sentimento, por não saber
governar a minha liberdade...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 211
Depois de noites horríveis, nas quais me sentia desvairar, por falta de
orientação e de fé, ingeri, quase semi-inconsciente, os elementos mortíferos que me
expulsaram do corpo, na suposição de que tomava uma simples dose de pílulas
mensageiras do sono...
– Conseguiu dormir na grande transição?
– De modo algum. Quando minha governanta bateu à porta do quarto,
inquieta ao ver a luz acesa, acordei às súbitas da sonolência a que me confiara,
sentindo-me duas pessoas a um só tempo...
Gritei apavorada, sem saber, de imediato, identificar-me, porque lograva
mover-me e falar, ao lado daquela outra forma, a vestimenta carnal que eu largara...
Infelizmente para mim, o aposento abrigava alguns malfeitores
desencarnados que, mais tarde, vim a saber, me dilapidavam as energias.
Acompanhei, com indescritível angústia, o que se seguiu com o meu corpo
inerme; entretanto, isso faz parte de um capítulo do meu sofrimento que lhe peço
permissão para não relembrar...
– Ser-lhe-á possível explicar-nos porque terá experimentado essa agudeza
de percepção, justamente no instante em que a morte, de modo comum, traz
anestesia e repouso?
– Efetivamente, não tive a intenção de fugir da existência, mas, no fundo,
estava incursa no suicídio indireto.
Malbaratara minhas forças, em nome da arte, entregara-me a excessos que
me arrasaram as oportunidades de elevação...
Ultimamente fui informada por amigos daqui de que não me foi possível
descansar, após a desencarnação, enquanto não me desvencilhei da influência
perniciosa de Espíritos vampirizadores a cujos propósitos eu aderira, por falta de
discernimento quanto às leis que regem o equilíbrio da alma.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 212
– Compreendo que dispõe agora de valiosos conhecimentos, em torno da
obsessão... – Sim, creio hoje que a obsessão, entre as criaturas humanas, é um
flagelo muito pior que o câncer. Peçamos a Deus que a ciência do mundo se decida
a estudar-lhe os problemas e resolve-los...
Humberto de Campos – Estante da vida – Cap. 1 – Encontro em Hollywood /
Revista Reformador – 1966 – Julho – Pag. 147 – Entrevista com o Além. Nota:
As circunstâncias de sua morte indicam para uma overdose de barbitúricos,
e têm sido objeto de especulação.
Embora oficialmente classificado como um "provável suicídio", a
possibilidade de uma overdose acidental, bem como de homicídio, não foram
descartadas.
Wikipedia – Marylin Monroe
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 213
DEPOIMENTO 25 Amílcar Rodrigues Passos
Suicidei-me para não sofrer e sofro porque me suicidei.
Tentei fugir da vida para ser livre e encontro-me encarcerado porque
busquei a liberdade de mentira.
Procurei diminuir o meu prazo de desdita e alarguei os anos de infortúnio.
Sou o exemplo vivo do paradoxo humano. No entanto, o drama que
culminou numa tragédia sem limite teve aí somente o desfecho de uma vida
arbitrária que, ao longo dos anos se caracterizou por pequenas paixões, todas
assinaladas por inumeráveis cometimentos de egoísmo e de prepotência.
Quando jovem, fui vítima de tuberculose na coluna óssea, conhecida como
Mal de Pott. A marca que me afeava o corpo não ficou somente na forma física,
mas assinalou-me profundamente a alma. Alma que, por sua vez, era a geradora da
anomalia externa, em razão de delitos muito graves que, à época, eu ignorava,
porque escondidos pelo véu da reencarnação.
Arrastei-me, no mundo, qual moderno Quasímodo, jugulado a uma surda.
revolta contra aqueles que apresentavam uma boa anatomia movimentando-se com
agilidade e esbelteza.
Ruminando a amargura que construí em torno de um fenômeno natural e
dando-lhe uma dimensão que, em verdade, não possuía, porque não me era escassa
a ternura que me envolvia, na família, quanto não me fora negado o amor, que é um
luar para todos que têm necessidade de refrigério ...
Acreditei que era mais infeliz do que todo mundo, assim tornando-me
rebelde natural e amargo em relação a todas as pessoas e coisas.
Transferia da desdita em que me situei por vontade própria – necessidade
de evolução – para os outros, numa ironia mordaz, todo o fel que me comprazia
acumular.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 214
Cheguei aos trinta anos pela misericórdia divina, que eu não suspeitava,
quando fui acometido de insuficiência cardíaca, efeito natural do problema que
agora mais me afetava, por desorganização dos ossos, a bomba generosa do
coração.
As longas dispnéias, martirizando-me noites e dias, fizeram-me procurar,
apesar do conhecimento cristão, a solução mentirosa do suicídio.
Suicídio que, em verdade, jazia latente em mim desde os anos verdes da
adolescência, quando a enfermidade me surpreendeu.
Atenazado pelas minhas debilidades, planejei, num golpe de audácia, uma
partida que não me tornasse mais desventurado nem a ninguém fizesse mais infeliz.
Submetido a cuidadoso tratamento e sob disciplina medicamentosa rígida
adicionei, propositadamente, substância corrosiva que eu sabia possuidora de
efeitos letais imediatos, a uma dose que deveria ingerir no silêncio da noite,
mergulhando, então, no abismo da própria loucura.
Sem de nada suspeitar, face ao meu estado, o médico ingênuo atestou morte
natural.
Mas eu sabia do crime perpetrado, e o fato da consciência saber é o pior
instrumento de castigo para o trânsfuga.
As exéquias fúnebres, as preces de saudade da família, ao invés de me
lenirem a aflição, mais me atormentavam.
Os comentários entretecidos em torno da minha vida, ao reverso de me
ajudarem, mais infelicidade me impunham, porque agora a máscara da hipocrisia
tombara e eu me via como sou: mesquinho, ingrato, perverso e, sobretudo, déspota,
em relação à vida e à misericórdia de Deus.
Acompanhei, alucinado, a decomposição cadavérica, em um estado que a
verbalização dos conceitos não pode expressar.
O desejo de morrer, mas um morrer que fosse o apagar da consciência,
violentava-me ao ponto da exaustão, sem sossego e sem trégua.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 215
A dispnéia cruel, a dor insuportável da coluna e os vibriões no corpo a
devorarem-me, sandeus, as carnes putrefatas, eram-me uma terapia singela diante
da dor moral derivada das presenças cruéis de seres que gargalhavam de mim,
dilapidando-me os sentimentos mais caros e ofendendo-me; apontavam-me o corpo
de que eu me quisera libertar, sofrendo-o por desejá-lo destruir.
Quando me pude evadir do cemitério e busquei correr sob a terrível
respiração difícil num corpo alquebrado, aquele corpo em decomposição
acompanhava-me, arrastado na minha fuga ...
A loucura é uma palavra muito frágil para definir o tormento de uma
consciência culpada.
Não sei o tempo em que assim estive.
Os epítetos infamantes, a chalaça deprimente, os doestos afligentes e as
agressões tripudiando sobre mim, que chegavam de toda parte, longe de qualquer
compaixão, eram apenas a aduana de um inferno ilimitado ao qual me precipitaria
logo mais, quando tombei nas mãos dessa imensa e alucinada súcia de seres
vampirescos que me conduziram a região muito dolorosa, onde tenho purgado,
como se fora uma animália desprezível, até que a dor, espezinhando-me ao infinito,
fez que a consciência subjugada e o orgulho ralado imprecassem socorro à divina
misericórdia de Deus, facultando que minha mãe fosse buscar-me, trazendo-me até
aqui, onde estou em repouso há pouco tempo, em estágio de renovação, para ser
transferido para tratamento hospitalar.
Convidado a depor nesta confraria, como se fosse cirurgiado de um câncer
que libera o carnicão e as putrefações, sinto a alma aliviada, mais ainda por poder
dizer do bem-estar que agora me domina.
Sobre o recinto que me agasalha e a muitos outros doentes que aqui se
albergam por nímia misericórdia do amor, suplicamos que Deus mantenha este
hospital de almas, para a consolação e amparo dos infelizes, onde nos acolhemos.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 216
Tende cuidado com o orgulho, esse amor-próprio que é um cáustico
destruindo a vida; combatei-o com vigor, sob a luz do amor de Deus que tudo
corrige, sem a necessidade da interferência humana malévola, e tudo opera
mediante as sábias leis da misericórdia e do bem.
Rogo perdão por ser tão desditoso e suplico orações para as necessidades
imensas dos suicidas, que somos todos os rebeldes das leis de Deus.
Amílcar Rodrigues Passos – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 8 – Fuga
Desastrosa
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 217
DEPOIMENTO 26 Anônima
Sou uma náufraga recolhida por mãos misericordiosas, que tateia em densa
treva, na praia em que se depara. Embora socorrida não me lampeja luz alguma,
nem sinto se acalmarem as rudes agonias que trovejam, sem cessar, no meu espírito
vencido por mil dilacerações contínuas...
Somente a pouco e pouco dou-me conta da situação em que bracejo,
exausta.
Fugi da ilusão que supunha realidade e encontrei-me na realidade que
acreditava não passasse de ilusão...
Em báratro infeliz, a mente não me responde as indagações, assoberbada
pelas surpresas incessantes em que me enovelo, desditosa...
Saí da vida procurando a morte e a morte me prendeu a vida que não cessa,
desmoralizando a extinção da morte...
Busquei lenitivo para uma ferida moral, e, desatenta, coloquei ácido na
ulceração, que, desde então, queima e requeima sem trégua...
Desejei destruir o corpo e o carrego esfacelado como carga em
apodrecimento sem fim, de que me não consigo desobrigar...
Amei ou supus amar e tudo não passava de alucinação e desejo, que converti
em ódio devorador, característico da minha loucura inominável.
Tudo foi rápido, mas se transformou num inferno de que não posso fugir...
Lembro-me, sim, das razões da minha desgraça superlativa e as recordações
são chapas ardentes sobre o cérebro, a devorarem as lembranças...
Aparecem em imagens vivas e mergulham em densas, tenebrosas trevas ...
... Concluíra a guerra e se aguardava a chegada dos pracinhas brasileiros
entre expectativas e júbilos.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 218
A noite estava abafada e a minha cabeça estourava.
Tranquei-me no banheiro. Houvera planejado o ato da vingança e o
momento chegara (Oh! desdita dos infelizes que só pensam em si mesmos, no
vórtice da loucura que os domina!).
Repassei os acontecimentos e as lágrimas espocavam, abundantes,
escorrendo-me dos olhos sem aplacarem ó incêndio da alma, nem amortecerem o
tropel convulsionado da agonia que me matava demoradamente...
Parecia-me o suicídio a única solução. Era grave demais o meu erro e
descomunal minha dor. Acabar com tudo e libertar-me de tudo — pensava,
desvairada...
Tremiam-me todas as fibras — como agora, a lembrança da tragédia — e
estava transtornada. Experimentava a sensação, no dédalo em que me debatia, de
que mãos vigorosas me seguravam e ruído ensurdecedor me dificultava o raciocínio
entorpecido.
Estava a sós, e, no entanto, tinha a impressão de que me encontrava numa
arena referta de expectadores alucinados...
Repassei os fatos: o homem a quem amara e jurara amar-me, abandonara-
me. Sabendo-me fecundada e descobrindo-se pai, informado de que eu já não podia
ocultar as aparências, descartara-se, dizendo-me que era meu o problema...
Afinal — asseverara — nunca me amara. Constatava que mantivéramos
momentos agradáveis... nada mais. Não podia prender a sua vida a minha. Eram
diferentes as nossas posições sociais e financeiras...
Tudo estava, pois, acabado... Lamentava, apenas. Nada mais... e se foi.
Não há como dizer o que me veio depois. O fogo devorador do desespero e
do ódio. Só então pensei na vergonha sobre mim e minha extremada mãe viúva, que
tudo fazia pela minha ventura, acarinhando um sonho de felicidade futura, agora
impossível. Com inauditos sacrifícios fizera-me estudar e sorria na esperança de um
amanhã ditoso...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 219
Não haverá punição para o homem desnaturado? — perguntava-me.
Só a mulher deve pagar o preço da sua loucura? Ela cai ou vai derrubada?
Onde Deus e a justiça? O violador caminha ditoso e a desgraçada deve carregar por
todo o sempre a desventura de um momento de ludibrio e obsessão? (Enganava-
me, então, no exame da Consciência Universal, e desvairava.)
Os raciocínios egoístas, através dos quais exigia a reparação de outrem e
não a minha, esgotaram-me as poucas reservas de forças morais por me faltar apoio
de uma fé religiosa relevante, embora houvesse as nobres soluções...
Ingeri, então, o tóxico. Foi repentino, e, no entanto, dura uma eternidade.
Aguardei o sono, que jamais chegou, o esquecimento e o fim que nunca me
alcançaram...
Passados os primeiros momentos, experimentei a ação do veneno e quis
gritar. As dores eram superlativas... Dei-me consciência do que fizera e o
arrependimento feriu-me, impondo-me a necessidade de retroceder. Tarde demais.
Quanto consegui foram contorções, convulsões violentas, impossibilitada de
controlar os membros, os órgãos, agora em combustão e dor animal...
Sentia-me expulsar do corpo sem dele sair...
... Enlouqueci literalmente quando percebi que me iam sepultar, sentindo-
me viva e desejando informar que não morrera; o horror obnubilou-me a réstia de
razão e desfaleci; 'estarrecida, as primeiras pás de terra sobre o caixão abafado,
dentro do qual me agitava, sem poder evadir-me ...
O tempo e a realidade converteram-se num pandemônio insuportável...
Perdi todos os contatos com o raciocínio, acompanhando as ocorrências em abismos
de crescente desesperação, como se fora possível sofrer-se mais, além da minha
aflição...
E chegavam-me maiores angústias e pesadelos...
Acompanhei a decomposição cadavérica, sentindo-lhe a degeneração nas
fibras da alma, sem desamarrar-me dos tecidos...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 220
Um dia, ou melhor, uma noite, porquanto sempre era noite, horrorosa e fria,
fui assaltada por “animais” que me arrancaram da tumba e me conduziram a sítios
hediondos, onde viviam, furnas soturnas, pestosas, e ali submeteram-me a
inqualificável julgamento, tornando-me sua escrava, subjugada e servil as suas
paixões...
Sempre ignorando o tempo, fui informada de que minha mãe morrera de
angústia após o meu gesto e adicionei esse novo martírio a todos os que me faziam
sucumbir, sem morrer... Como aspirava a morte, o repouso, o esquecimento!
Impossível! Verdadeiros cães nos vigiavam, a mim e a outros tantos desditosos que
vivíamos em magotes.
E como se não bastasse toda essa dor, passei a ouvir o choro, na minha
consciência, do ser que morrera comigo, no ventre, quando me flagelara com o
suicídio. (Meus Deus, piedade!)
As ideias foram-me voltando é das dores físicas lancinantes passei, também,
as dores morais que, então, me visitavam. Amiúde passei a comburir-me na caldeira
infernal em que vivia sem, contudo, morrer ...
Voltei-me mentalmente contra o meu sedutor e o ódio fez-me descobrir que
se eu não me extinguira ao matar-me, a vida prossegue para todos, após a morte e
ele pagaria, também, a seu turno...
Realmente, sem que eu saiba explicar, encontrei-o lá...
Apareceu-me atoleimado e a minha horrenda visão despertou... Desejei
esganá-lo e não pude fazê-lo...
...Compreendi a Justiça de Deus que a todos alcança e constatei que a desdita
dele não diminuía a minha...
Comecei a pensar em Deus, lembrei-me da prece... Sonhei com minha mãe,
numa breve pausa em que desfalecera, sentindo-a libertar-me...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 221
Era realidade, porém, não sonho.
Minha santa mãezinha rogara a Deus pela filha desventurada e lograra do
Céu a ventura de conseguir libertar-me.
Após fazer-me repousar, amparada por um anjo de amor, trouxeram-me
aqui, a fim de vos relatar minha experiência infeliz e rogar-vos intercederdes por
mim...
Estou cansada...
Ajudai-me!... Sinto sono!... Adeus!...
Anônima – Depoimentos Vivos – Cap. 12 – Suicida
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 222
DEPOIMENTO 27 Maria Cândida
Amigos da Caridade, rogai a Deus pelos desgraçados como eu, os que
buscamos voluntariamente a morte, a fuga a responsabilidade e encontramos a vida
como flagelo punitivo a rude cobardia em que nos ocultávamos.
Sou suicida e não tenho palavras com que traduza o meu relato.
Amei, na Terra, ou supus amar.
Hoje eu sei que o sentimento de que fui vítima não era o do amor na sua
plenitude, mas sim de paixão animal. Ferida nos meus brios de mulher preferi
desertar pela porta mentirosa do autocídio a enfrentar os dissabores e a realidade
que me ensejavam elevação espiritual, caso confiasse no bálsamo do tempo que
cicatriza todas as feridas, mas que, também, úlcera as que os desvairados produzem
na alma, quando tentam desvencilhar-se traiçoeiramente dos grilhões materiais a
que estão jugulado por outros erros pregressos...
Matei-me e, no entanto, o corpo se negou libertar-me da vida...
Quis fugir e fui condenada a demorar-me prisioneira, exatamente porque
desejei ludibriar as Leis da Justiça Divina...
Casada, surpreendi meu esposo, que era fraco de caráter, com outra mulher
e, incapaz de compreender-lhe a debilidade moral, deixei-me alucinar pelo ciúme
doentio que alimentava, desgraçando-me irreparavelmente.
Ingeri um pesticida em moda, por ódio, porque o suicídio é a forma de os
fracos se vingarem de quem os feriu ou supõem por eles terem sido atingidos.
Antes, porém, que se consumasse o apagar da consciência, desejei recuar,
em face as dores que me dilaceravam o aparelho digestivo, produzindo-me asfixia,
insuportável angústia. Todavia, desta viagem não se retorna com a facilidade com
que se inicia.
Ouvia os gritos dos meus filhinhos, via o desespero estampado nas suas
faces enquanto eu própria experimentava dilacerantes dores e alucinações. ..
Os primeiros socorros foram inúteis, tendo a sensação de que minha cabeça
se transformava num vulcão com todo o corpo a arder em chamas devoradoras.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 223
Como se não bastasse, acompanhei o corpo a autópsia, sentindo-me viva e
experimentando as incursões dos bisturis e instrumentos que me cortavam o corpo.
Não, não há termos para descrever o que eu supunha ser um pesadelo e, no
entanto, era apenas o início das dores...
Após um tempo sem fim, despertei. Estava encarcerada no túmulo com o
corpo em decomposição e não posso traduzir o horror que de mim novamente se
apossou.
Experimentei a presença dos vibriões nos meus tecidos, enquanto,
simultaneamente, desejando morrer, sentia-me presa por tenazes que me
amarravam ao cadáver apodrecido e eram mais poderosas do que a vontade débil e
vacilante.
Não sei quanto tempo penei entre morrendo e vivendo, sem saber
exatamente o que acontecia, escutando os gritos que me eram punhais afiados nas
carnes doridas da alma...
As vozes dos meus filhos chamavam-me sem que eu pudesse fazer por eles
qualquer coisa. É isto um sofrimento selvagem, inenarrável.
Depois, quando me consegui libertar dos despojos carnais que me pareciam
assumir a forma de um perseguidor inclemente, caí em mãos criminosas de
vagabundos, que eram comparsas do mesmo crime.
Arrastaram-me como um trapo, entregando-me exausta a uma súcia de
malfeitores que me vilipendiaram a dignidade de mulher e me execraram até o
último grau, reprochando-me o gesto tresloucado e dizendo-me que aquilo era a
morte que eu escolhera...
Em vingança contínua, incessante, levaram-me ao lar por várias vezes, a fim
de que eu visse o resultado da minha sandice.
Eu que me matara para não suportar a ideia de saber o meu esposo com
outra, agora, no lar que um dia me pertencera, encontrava a punição de vê-lo casado
com aquela que fora o motivo indireto da minha desgraça.
Oh! quantas punições horrendas!
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 224
Meus filhos, nas mãos da outra, constituíam o látego que eu me aplicava,
vendo-a maltratá-los, por ser ela uma mulher que desejava apenas o conforto e a
irresponsabilidade, não as tarefas que o matrimônio naquelas circunstâncias lhe
impunha.
. . .E eu era a culpada de todas as lágrimas dos frágeis filhinhos deixados em
plano secundário. Não mais os suportando, após algum tempo, intimou-os a força
numa Casa pia quando estava ela própria tornando-se mãe.
O remorso, o desespero, numa eternidade, jugularam-me a um fardo de dor
incomparável, despertando-me tarde demais.
Agora medito no que fiz e tudo quanto minha imprevidência produziu.
Eu me permitira ser materialista, intelectual, vazia e fofa, devorada pela
trêfega vaidade do nada.
Deparo-me, assim desarmada, nesta conjuntura inominável.
Minha mãe que a tudo acompanhava do além rogou misericórdia para mim...
E eu que debandara do lar e da vida, que odiara, que desprezara a existência por
capricho e vilania devo, agora, voltar aos braços da mulher odiada como sua filha,
pelo processo redentor da reencarnação...
Sofrida, marcada, recomeçarei a reparar ao seu lado o meu e o seu crime, na
expectativa de, no seu regaço materno, perdoá-la e, junto ao esposo atormentado,
conceder-lhe como filha e receber-lhe o indispensável perdão. Na condição de irmã
dos meus filhos, com debilidade orgânica e padecendo as dores que me infligi,
suplicar-lhes em silêncio, misericórdia e compaixão nas condições lamentáveis em
que devo recomeçar...
Passaram-se já doze anos desde aquele dia. Logo mais começará para nós
um novo dia...
Ninguém foge a verdade nem ludibria a consciência: é código da Divina Lei.
Antes de mergulhar no corpo, aqui venho suplicar que oreis por mim e por
todos nós, os que preferimos a loucura a esperança e a deserção ao dever.
Deus nos abençoe!
Cândida Maria – Depoimentos Vivos – Cap. 44 – Fuga e Realidade
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 225
DEPOIMENTO 28 Antero de Quental
Nascido na ilha de S. Miguel, nos Açores, em 1842 e desencarnado por
suicídio em 1891.
DEPOIS DA MORTE Apenas dor no mundo inteiro eu via, E tanto a vi amarga e inconsolável, Que num véu de tristeza impenetrável Multiplicava as dores que eu sofria. Se vislumbrava o riso da alegria, Fora dessa amargura inalterável, Esse prazer só era decifrável Sob a ilusão da eterna fantasia. Ao meu olhar de triste e de descrente, Olhar de pensador amargurado, Só existia a dor, ela somente. O gozo era a mentira dum momento, Os prazeres, o engano imaginado Para aumentar a mágoa e o sofrimento O REMORSO Quando fugi da dor, fugindo ao mundo, Divisei aos meus pés, de mim diante, A medonha figura de gigante Do Remorso, de olhar grave e profundo.
Era de ouvir-lhe o grito gemebundo, Sua voz cavernosa e soluçante!… Aproximei-me dele, suplicante, Dizendo-lhe, cansado e moribundo: — «Que fazes ao meu lado, corvo horrendo, Se enlouqueci no meu degredo estranho, Acordando-me em lágrimas, gemendo?» Ele riu-se e clamou para meus ais: «Companheiro na dor, eu te acompanho, Nunca mais te abandono! Nunca mais!»
Antero de Quental – Parnaso de Além-Túmulo – Cap. 10 – Antero de Quental
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 226
CONFISSÃO Divaguei pelo mundo em estertores A ruminar atroz padecimento, E via nada mais que meu tormento Em raciocínios desanimadores. Busquei na morte o nada, um linimento, Com que escapasse à sanha de agressores, Acicates de sombras, fel e dores, Sem recordar o Pai, por um momento... Fui um louco, entre tantos tresloucados; Um solitário, em meio aos desolados, Em rigoroso e atento masoquismo. Hoje, na morte, abraço as leis da Vida E esperançoso trago, enriquecida, A consciência à luz do Espiritismo.
Antero de Quental – Seara da Esperança – Cap. 9 – Confissão
Nota:
Portador de distúrbio bipolar, nesse momento o seu estado de depressão era
permanente. Após um mês, em junho de 1891, regressou a Ponta Delgada,
cometendo suicídio no dia 11 de setembro de 1891, com dois tiros, num banco de
jardim junto ao Convento de Nossa Senhora da Esperança, onde está na parede a
palavra "Esperança", no Campo de São Francisco, cerca das 20:00 horas.
Wikipedia – Antero de Quental
Venho cumprir a minha promessa. Muito gosto sinto nisso. Cumpro assim
uma obrigação, espontaneamente tomada, e tento levar aos tristes da Terra um
pouco da experiência por mim adquirida à custa de tanto sofrimento.
É do suicídio que vou falar.
Há pessoas aí para quem o suicídio constitui uma libertação aparente.
Sentindo-se vítimas de enfermidades que reputam incuráveis, ou de
desgostos que crêem sem consolação, começam a odiar a vida e a senti-la como um
fardo pesadíssimo que as esmaga.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 227
Anseiam pela morte.
Se crêem em Deus, pedem-lha, de preferência a pedirem o alívio dos seus
sofrimentos. Se não crêem, maldizem a Natureza ou a fatalidade das coisas, que se
conserva indiferente ao seu martírio, e lhes não traz, presto, o termo dele.
Não procuram pelos meios naturais, contidos em si próprios, combater o
enervamento, a apatia sofredora e fatalista em que se mergulham.
Parece que sentem um doloroso prazer em avolumar em si próprios as
causas do seu penar, inventando novos motivos de dor, agrandando os existentes,
exprimindo a sua fraqueza por lamentos e queixumes amargurados e permanentes,
criando em volta da sua personalidade uma atmosfera de tristeza, que realmente
parece não poder romper-se senão pela morte.
Quando um sofredor chega a pensar no suicídio, esse ato maldito fica desde
logo suspenso sobre a sua cabeça, como recurso derradeiro, como esperança
sorridente!
Não se pensa mais na libertação da desgraça pelos meios humanos, como a
paciência, a resignação, a conformidade, a reação, a força de vontade, a luta
encarniçada contra as causas reais ou presumidas do seu sofrer, a lembrança das
pessoas queridas, que fazem sofrer também, e que, por amizade, abnegação ou
dever, eram obrigados a respeitar e afastar da sua própria mágoa enfim, nem mesmo
pela dignidade própria, pela valentia, e ainda pelo medo que a morte, o
desconhecido, exerce sobre todas as criaturas terrenas.
Nada disso lhes acode no seu desalento.
Pensam logo no recurso extremo que está na sua mão, mas não lhes
pertence: — o suprimirem a vida, que involuntariamente possuem.
Nós, os tendenciosos ao suicídio, desprezamos os vastíssimos recursos que
Deus nos forneceu para podermos sair triunfantes da adversidade e da tentação; e
recorremos só àquele que Ele não nos permite usar.
A tentação ao suicídio é um pesadelo em que nos envolvemos e de que
somos tomados, acordados.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 228
Apossa-se de nós, revolve-nos em si, domina-nos, sem nos deixar fazer o
mais ligeiro esforço para o afastar.
Aquele que quiser reagir, acordará desse pesadelo e reagirá. Não é preciso
muita energia. Basta um pouco de vontade e de bom senso.
Às vezes, um ligeiro acidente na nossa vida, um acréscimo de dor, ou um
simples prazer, inesperadamente vindo, ocasiona a reação. Bastava que tomássemos
essa reação como a deveríamos tomar, e persistíssemos nela para nos libertarmos,
de vez, da obsessão que nos arrasta ao suicídio.
Se nesses momentos de tréguas a razão fosse auxiliada pela vontade, o fraco,
que só pensa em abandonar a luta, como um desertor covarde abandona o seu posto
de honra, não mais pensaria na fuga; e alma nova viria enrijar a sua fibra dessorada
e fortalecer o seu Espírito abatido.
A curto trecho os seus sofrimentos, reais ou imaginários, desapareceriam,
ou, quando menos, aligeirar-se-iam, por modo que já não se fariam sentir com
dureza; e raiaria nova aurora de paz e de alegria para o desgraçado que, pouco antes,
supusera sem remédio a sua dor e sem fim o seu martírio.
Quantos, ao lerem-me agora, sentirão na sua alma feliz a profundeza desta
verdade? Quantos elevarão a Deus uma prece de conforto próprio, e de louvor a
Ele, ao reconhecerem que foi assim que se libertaram dos tentáculos da monstruosa
"pieuvre", bem mais terrível que a de Victor Hugo?
E ainda não sonham o horror de que se libertaram a tempo!
Infelizmente, quando um lampejo da razão ilumina o nosso cérebro,
entenebrecido pelo desalento, nós deixamo-lo fugir, como se fosse um relâmpago
que nos surpreendesse, perdidos, em noite de pavorosa tempestade.
Ao clarão desse relâmpago, vê-se a paisagem negra e desolada, cheia de
precipícios, de torrentes caudalosas; mas não procuramos orientar-nos, para não nos
perdermos, despenhados ou envolvidos nas torrentes.
A luz deslumbrou-nos, e a nossa razão não a soube aproveitar a tempo para
orientar-se.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 229
E lá voltamos a caminhar, às cegas, transidos de sofrimento e de desespero,
maldizendo tudo, ansiados pelo termo da jornada, e blasfemando contra quem
mandou o escuro, o vento e a água, e contra nós próprios, porque, não tendo podido
adivinhar a tempestade, a tempo de impedir a viagem, nos sentimos tomados e
acossados por ela.
Quem há que, depois de uma noite assim tempestuosa, que chegou quase a
supor não ter fim, ou, pelo menos, em que esperou não acabar com a vida, não ria,
ao ver despontar a manhã tranquila e luminosa, dos pavores e dos receios de que se
sentiu presa durante aquele tempo?
As recordações desses momentos eternos de desespero ficam constituindo
fatos inapagáveis na sua memória, e são perene motivo para intimamente louvar-se
da sua coragem, se foi pela luta que se lhes escapou; da sua sabedoria, se foi pela
prudência; da sua fé, se foi pela paciência em esperar a passagem da tormenta; e
servem para citar como exemplo e conselho àqueles que se vejam em transes
semelhantes.
O suicida é o desgraçado que, surpreendido pela tempestade, se toma de
espanto, e desespera do fim preferindo deixar-se arrastar às brenhas em que se
precipita voluntariamente, procurando ser esmagado.
Para esse não raia a manhã, que vem próxima; e não raia, não porque ela
não venha, imutável, serena e clara; mas porque ele não soube encher-se de coragem
para esperar, e esqueceu-se de que ela viria, fatalmente, a despeito de tudo.
Um pouco mais de constância e firmeza, e a luz de Deus, o bálsamo
suavíssimo de tanta dor quase infinita, viria espancar as trevas e os terrores
apocalípticos que lhes desvairavam a imaginação, fazendo-lhes ver monstros
fabulosos nas coisas em que a claridade lhes deixa ver árvores cheias de flor e fruto,
rochas lavadas e claras, assentes nos seus eternos troncos graníticos, que os séculos
edificaram, e só os séculos derruirão.
Eu fui destes, e ter-me-ia sido bem fácil ser dos primeiros.
O meu Espírito fraco, porém, não se sentia com fôlego para prolongar a
resistência.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 230
A tristeza, feição natural do meu organismo, vinha pouco a pouco fazendo
esboroar o pedestal de energia em que a minha razão e a minha vontade assentavam.
Cada desilusão nova criava um elo para a cadeia infernal que me acorrentava
à dor e me puxava para o suicídio.
Por fim, já não carecia de motivos exteriores; eu mesmo os inventava, numa
ânsia desesperada de torturar-me.
A tristura em que me envolvia não me tornava revoltado; fazia-me, antes,
um resignado à fatalidade, à morte. E daí esse eterno aspecto melancólico e passivo,
que me granjeou a consideração de santo.
Em minha consciência não protesto contra aquela consideração, porque
alguma coisa de real nela existia, que me valeu a tempo.
Nunca soube protestar, nem maldizer.
Sentia-me morrer na morte das ilusões e esperanças que tive, como têm
todos na infância.
Parecia que a fatalidade invencível pesava sobre o meu organismo moral, a
esmagar-me, sem esperança de alívio; mas, tudo isso não me impelia à raiva, nem
à blasfêmia.
Intimamente sentia bem que Deus existia.
Que eu não podia ter nascido só para vítima do atroz sofrimento em que era
dilacerado; e que alguma coisa mais do que aquilo que os homens conheciam
haveria para além desse mundo, onde me supunha enteado.
Essa crença mais me desvairava a razão, por não compreender como sofria
tanto sem achar em mim justificação para isso; e, sem idéia blasfema ou irreverente,
nos largos momentos de meditação, admirava-me de que o Deus em que eu cria, e
que acreditava de bondade, de justiça e de amor, me deixasse só, entregue ao meu
desespero e à minha angústia, sem vir em meu socorro, reanimando as esperanças
que caíam, fortalecendo ou substituindo a saúde que desaparecia.
E queria, no meu cérebro finito, que alguns centímetros mede e alguns
gramas pesa, compreender e julgar o infinito, o incomensurável!
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 231
O não ter encontrado nunca a mais racional solução para este problema não
me derrubou dá minha íntima crença espiritual, tanto mais mística e serena quanto
mais me aproximava do fim, que a tentação fazia antever, à minha ânsia de
liberdade; mas aproximava-me mais deste fim, não sei bem se pelo desejo de lhe
conhecer o "depois", se pelo anseio de lhe pôr termo, confiado em que a vida, que
esperava ver surgir, me compensaria.
À proporção que ia afrouxando na resistência, ia-me familiarizando com a
idéia da morte; e esta familiaridade concluía por achar coisa natural que, não vindo
ela buscar-me, eu fosse em sua procura.
Alguns rebates de medo peias consequências, que me faziam, às vezes,
estremecer a consciência, foram desaparecendo, ou, pelo menos, foram diminuindo
de valor, pelo hábito de os sentir.
Não compreendia, confesso, esses rebates, ante a sorridente esperança,
única que tinha, da libertação pela morte; como, às vezes, me surpreendia também,
sem grande motivo próximo, em grave aflição num grande desejo de morrer e num
deliberado propósito de suicidar-me.
Essa surpresa e essa descoberta lançavam, sem eu saber, os clarões que eu
desprezava!
Achava estranho que isso sucedesse em momentos em que tinha de me
confessar mais livre de motivos reais de sofrimento; como achava igualmente
estranho que, nas ocasiões mais torturantes, e em que o suicídio devia vir como
derradeiro libertador, fosse quando sentia mais inflamados os rebates de horror por
esse suicídio.
Na minha ânsia de explicar tudo, eu buscava logo as razões desses fatos; e
dava-me por satisfeito ao reconhecer que, no primeiro caso, devia ser a minha dor
que acordava de um adormecimento passageiro e distraído; e, no segundo, era o
instinto de conservação a reagir contra a idéia da morte.
Procurava sempre a causal de tudo, exclusivamente em mim.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 232
A minha educação positiva, o modo de ser para mim, por mim próprio
criado, reagiam contra a idéia, possível e por outros preconizada, de que alguma
coisa poderia vir de fora influir em nós.
Se pudesse ou devesse vir, teria vindo, fatalmente, o auxílio de Deus, tanta
vez pedido para beneficiar-me, nos momentos em que me sentia livre de culpa e
quase cria sem razão o meu martírio.
Logo que esse auxílio não vinha da única fonte que tinha poder para mo
ministrar, nada mais podia servir de agente exterior para acionar os nossos
sentimentos íntimos.
Era este o derradeiro argumento com que o meu positivismo adquirido e
sistemático vencia a sentimentalidade e a crença modestíssima, nascidas e vindas
da minha infância, e acalentadas na minha idiossincrasia de triste.
Assim, mal aparelhado para a resistência, tinha de cair, como caí.
A minha concentração natural avolumava, no meu íntimo, as causas
apreciáveis de desgosto, e impedia que aqueles que me cercavam pudessem influir
na sua destruição.
Procurava ocultar de todos o meu desígnio como um avaro procura ocultar
o seu tesouro.
Receava que mo arrancassem pela persuasão!
Enquanto poderia desejar que a persuasão e a lógica me destruíssem o
desígnio do suicídio, não tomava este bastantemente a sério, nem o sentia tão
próximo, que pudesse ou devesse manifestar a alguém tão condenável e
desarrazoado propósito; quando o tomei a sério bastantemente, para o considerar
como coisa deliberada, esta mesma deliberação impedia que eu pudesse manifestá-
lo, com receio de que mo obstassem.
Era o sentir-me bem na torrente maldita que me levaria ao despenhadeiro,
em vez de lutar pela vida, agarrando-me aos ramos, na aflição desesperada que leva
um náufrago a agarrar-se numa navalha de barba, se lha estendessem!
Vencido, aniquilado, tomado da máxima covardia, cedi.
E dizem, às vezes, que o suicídio não é uma corvadia!
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 233
Que faz quem se suicida?
Foge. Que é quem foge? Um covarde.
E não se diga que para buscar a morte é preciso coragem. Não. A morte, que
se busca pelo suicídio, não é a morte, é a libertação de um sofrimento que nos
tortura, e a que não temos força para resistir; é a fuga duma luta a que não sabemos
ser superiores, ou que não temos a energia para sustentar.
O suicida não procura a morte a sangue frio, para se entregar a ela; procura
a como um bem; busca-a como a um refúgio, a um prazer.
Não a teme, estima-a.
É o local onde supõe esconder-se de um inimigo que o persegue, e a que se
não sente com valor para fazer frente; é o sítio roto e sem vigilância por onde supõe
evadir-se de um lugar, que crê intolerável prisão. Na sua ação não há um átomo de
valor; há o egoísmo mais condenável; o abandono do seu posto na peleja; o
esquecimento dos sentimentos de brio que o deviam animar na solidariedade da
vida para com os outros, e o desprezo dos sentimentos de interesse que essa mesma
solidariedade levou outros a lhe prodigalizarem.
É uma completa defecção moral e material. É a confissão absoluta e eterna
da sua covardia, da sua inópia, da sua pusilanimidade e do seu desrespeito a Deus,
que lhe deu essa vida, e a todas as noções de pundonor e de coragem, que o deveriam
levar a manter intacto um depósito que lhe fizeram, e a conservar um lugar que lhe
destinaram.
Suprema fraqueza, suprema covardia!
Eu cedi a essa covardia. Tenho que expiá-la.
Compreendi, então já tarde, a razão dos debates da consciência contra o
suicídio, e daqueles solilóquios fúnebres em que me surpreendia, enaltecendo a
idéia de suicidar-me, como que prelibando o prazer que pela morte me viria.
Era que a tentação demoníaca da lenda não constitui uma palavra vã, nem o
amparo do anjo de guarda é uma ficção de velhas beatas e de dogmas religiosos.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 234
O demônio da tentação é que pode não ser a lendária figura da Idade Média,
mas, criaturas perversas, filhas de Deus como eu e tu, vivendo no mal e do mal
agentes, que vêm pôr à prova a nossa constância, a nossa firmeza, a nossa fé; e os
pretensos anjos de guarda, aquelas santas individualidades que souberam resistir à
tentação, conformar-se na adversidade e praticar e amar o bem, que, ao vernos
baquear, tombar para o abismo, tentam advertir-nos ou susternos na queda...
Ah! que se soubessem por que preço pagamos a libertação, pelo suicídio,
ninguém se suicidaria!
Os maiores martírios da Terra são doces consolações em comparação com
os mais suaves sofrimentos de um suicida!
E é porque Deus castigue? Não; é porque tem de ser.
É da lei. É fatal, como é da lei girar a Terra no seu eixo, e as estrelas na sua
órbita.
Esse sofrimento não é cego e igual. É harmônico, equitativo, justo, como é
justo, equitativo e harmônico tudo que obedece à lei imutável do Universo, que
Deus firmou com a sua vontade e perfeição.
E nós, aí na Terra, a querermos apreciar com a nossa inteligência
microscópica a grandeza do Infinito!
É querermos iluminar o mundo, na treva de uma noite, com a luz de uma
lamparina!
Avalias tu, ou alguém, que é o Infinito?
Se avaliares, terás apreciado Deus e a sua obra.
Antero de Quental – O Martírio dos Suicidas – Cap. 4 – O Problema
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 235
DEPOIMENTO 29 Hermes Fontes
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes (Boquim, 28 de
agosto de 1888 – Rio de Janeiro, a 26 de dezembro de 1930) foi um compositor e
poeta brasileiro.
Suicidou-se com um tiro na cabeça em sua casa, em Ipanema, dias depois
de confessar aos amigos que estava amargurado com as situações em que se
envolvera por apoiar a Revolução de 1930.
Wikipedia – Hermes Fontes
I
Antes a nossa vida terminasse
No turbilhão de pó da sepultura;
Antes a morte fosse a noite escura
Onde o ser nunca mais se despertasse.
Ah! se a nossa existência se acabasse
Cessaria decerto a desventura!
Contudo a vida é o bem, que se procura,
Morrer é ver a vida face a face.
Todavia se sofro, ó Deus clemente,
É que sou o criminoso, o delinquente
E o enfermo sem paz e sem saúde.
Perdoai à minh’alma se blasfemo,
Ponde em meu coração o dom supremo
Da humildade que é a auréola da virtude.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 236
II
Um dia eu me senti como se fora
O infeliz Ashaverus legendário
E andei no mundo, triste e solitário,
Sentindo frio n’alma sofredora,
Sonhei na morte a estrada salvadora,
Ao meu grande martírio imaginário
E sem notar meu trágico desvario
Afundei-me na treva aterradora.
Tanta vez a minh’alma enferma e aflita,
Sonhou a paz nirvânica, infinita,
E apenas tenho a dor que me devora!
Ó Senhor, abrandai as minhas penas,
Inda sou entre as lágrimas terrenas,
Uma lama imortal que sofre e chora!
Hermes Fontes – Chico Xavier – O Primeiro Livro – 3ª Parte – Cap. 20 – Vozes
do sofrimento (Na sessão do dia 28–02–1934)
Tragou-me a voragem do Desconhecido...
Isolei-me demasiadamente da vida, e ao meu recolhimento profundo, fatal,
só a Dor me acompanhou.
Eu não soube integrar-me nela. E, tomando vulto os espectros interiores dos
meus próprios pesadelos, das minhas íntimas dúvidas, para escapar-me aos seus
tentáculos atrozes, sonhei e arquitetei a volúpia do aniquilamento.
A vida impõe o intercâmbio das emoções: o interior e exterior devem casar-
se, sem que os vultos funestos do desânimo e da morte se apossem da nossa
individualidade.
É na integração do homem na vida que reside a Felicidade.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 237
Quem se isola do mundo, e procura só no interior desempenhar a vida, sofre
a asfixia dos seus sonhos e das suas esperanças.
A morte tem, para os desiludidos, a aparência fulgurante de uma Canaã.
O último sonho dos derrotados é a Morte...
Mas, ó almas desiludidas, volvei para outros horizontes o olhar das vossas
esperanças!
Não há morte! Ninguém pode eliminar de si próprio a vida, que é imortal!
Romper o equilíbrio orgânico da matéria é somente provocar um estado de
vida em que os erros são mais nítidos ao Espírito, e as dores doem muito mais!
Não vos seduza, desiludidos, a miragem da morte!
Ela não é a Canaã dos vossos sonhos; não é a tranquilidade que ambicionais;
não é o aniquilamento que vos seduz, como me seduziu a mim...
É, apenas, a porta tumular que conduz à consciência da nossa própria dor!
Se quereis o remédio para a vossa desilusão, para a vossa mágoa, para a
vossa dor — amai-as.
O único meio de vencer os espectros do aniquilamento, os vultos fatais da
Sombra — é aceitá-los e amá-los.
São estágios precisos à evolução da nossa vida! Não há morte! O suicídio
agrava e acentua a vida!"
Hermes Fontes – O Martírio dos Suicidas – Cap. 1 – Ilusões Funestas
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 238
DEPOIMENTO 30 Francisca Júlia da Silva
Por mais vos fira o sonho, a rajada violenta Do temporal de fel que enlouquece e vergasta, Suportai, com denodo, a fúria iconoclasta E o granizo cruel da lúrida tormenta. Carreia a dor consigo a beleza opulenta Da verdade suprema, eternamente casta; Recebei-lhe o aguilhão que nos lacera e arrasta, Ouvindo a voz da fé que vos guarda e apascenta. De alma erguida ao Senhor varai a sombra fria!... Por mais horrenda noite, há sempre um novo dia, Ao calor da esperança – a luz que nos enleva... A aflição sem revolta é paz que nos redime, Não olvideis na cruz redentora e sublime Que a fuga para a morte é um salto para a treva.
Francisca Júlia da Silva – Vozes do Grande Além – Cap. 18 – Suicídio (13/10/1955)
Na agonia da luz o astro-rei purpurina... Leves tarjas de noite a manchar o horizonte... Uma estrela a piscar remove a névoa fina E espelha-se, feliz, no regato defronte... Soluça um pombo além e se alteia e se inclina E voa sem que o Sol novo rumo lhe aponte... Humilde rola chora a gemer na campina, Alheia ao prado em flor e à carícia da fonte... Chega a sombra afinal... Aparece a tristeza No arrulho que ficou por gemidos em bando, Quais cordas a estalar numa lira retesa... Assim, num dia assim, a morrer sem alarde, Chorando eu disse adeus e ele partiu chorando, A renascer na Terra onde estarei mais tarde...
Francisca Julia – Antologia dos Imortais – Cap. 28 – Adeus (1962)
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 239
Francisca Julia César da Silva Münster (Xiririca, 31 de agosto de 1871 –
São Paulo, 1 de novembro de 1920) foi uma poetisa brasileira. Nasceu em Xiririca,
hoje Eldorado Paulista
(...)
Casa-se, em 1909, com Filadelfo Edmundo Munster (1865–1920),
telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Foi padrinho de seu casamento o
poeta e amigo Vicente de Carvalho. Nessa época já estava compenetrada em
pensamentos místicos. Isola-se e vive para o lar, recebendo visitas esporádicas de
jornalistas que publicam ainda poesias suas.
Em 1912 sai seu último livro, Alma Infantil, em parceria com o irmão Júlio
César da Silva, que alcança notável repercussão nas escolas do Estado quando
grande parte da edição é adquirida pelo Secretário do Interior, na época, Altino
Arantes.
Passa a explorar temas como a caridade, a fé, vida após a morte,
reencarnação e ideologias orientais diversas (budismo). Descobre, em 1916, a
doença do marido (tuberculose) e mergulha numa depressão profunda, diz ter
visões, que está para morrer e tem alucinações provenientes da intoxicação do ácido
úrico.
Com o passar dos anos a situação se agrava, suas poesias – as poucas que
ainda escreve – retratam a vontade de uma mulher que almeja a paz espiritual fora
do plano terrestre. Diz, em entrevista a Correia Junior, que sua "vida encurta-se
hora a hora". Mesmo assim volta a escrever para A Cigarra e promete um livro de
poesias chamado Versos Áureos.
Em 1920, Filadelfo, desenganado pelos médicos, vem a falecer no dia 31 de
outubro.
Horas depois do cortejo, no dia seguinte, Francisca Júlia vai para o quarto
repousar e suicida-se ao ingerir excessiva dose de narcóticos, vindo a falecer na
manhã de 1 de novembro de 1920.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 240
DEPOIMENTO 31 Jorge
Quem agradece com sinceridade traz aos benfeitores aquilo de melhor que
possui.
Sou pobre vítima do crime e do suicídio que vem depositarem vossas preces
uma singela flor de gratidão.
No entanto, para comentar o favor recebido, peço permissão para que
minhas lembranças recuem no tempo.
Corria o ano de 1917 e sentia-me um homem feliz entre os mais felizes. Era
moço, otimista e robusto.
Avizinhava-me dos trinta anos e sonhava a organização de meu próprio
santuário doméstico. Anita era minha noiva.
Aqueles que amaram profundamente, guardando, inalteráveis, no peito, a
primavera das primeiras aspirações, poderão compreender a floração de esperança
que brilhava em minha alma.
A escolhida de minha mocidade encarnava para mim o ideal da perfeita
mulher.
Preparávamos o futuro, quando um primo, de nome Cláudio, veio viver em
nossa casa no Rio, à caça de estabilidade profissional para a juventude, necessitada
de maiores experiências.
Acolhido carinhosamente por meus pais e por mim, e mais moço que eu
próprio, passou a ser meu companheiro e meu irmão.
O infortúnio, porém, como que me espreitava de perto, porque Cláudio e
Anita, ao primeiro contato, pareceram-me transfundidos na ventura de velho
conhecimento.
Pouco a pouco, reconheci que a criatura querida me escapava dos braços e,
mais que isso, notei que o amigo se erguia em meu adversário, porque blasonava
de minha perda, ironizando-me a inferioridade física.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 241
No decurso de alguns meses, por mais tentasse distanciá-los discretamente,
Cláudio e Anita estreitavam os laços da intimidade afetiva, até que fui apeado de
meu projeto risonho — tudo quanto a Terra e a vida me ofereciam de melhor.
Instado para entendimento pela antiga noiva, dela recolhi observações
inesperadas. Nosso compromisso era apenas ilusão…
Andara mal inspirada… Eu não representava para ela, em verdade, o tipo
ideal do companheiro… Não seríamos felizes… Melhor desfazer a aliança amorosa,
enquanto o tempo nos favorecia visão justa…
Senti-me desfalecer. Preferia a morte à renúncia. Entretanto, era preciso
sufocar o brio humilhado, asfixiar o coração e viver…
Para vós outros, semelhantes confidências podem constituir uma confissão
demasiado infantil, todavia, dela necessito para salientar o benefício recolhido em
nossas preces.
Recalquei o sofrimento moral. Escoaram-se os dias.
Cláudio era filho adotivo de nossa casa, comensal de nossa mesa. Sentindo-
se meu irmão, não suspeitava que um ódio terrível se me desenvolvia no coração
invigilante.
Meses transcorreram e a gripe, em 1918, castigava acidade. Estendera-se a
epidemia e Cláudio não lhe resistiu ao assalto. Caiu sob invencível abatimento. Fui-
lhe o enfermeiro desvelado, no entanto, mal podia suportar o devotamento de que
o via objeto, por parte da mulher que eu amava.
Não compreendia por que se confiara ela a tamanha versatilidade, e,
observando-a, firme e abnegada, em torno do rapaz, entreguei-me gradativamente
à ideia do crime.
Numa noite de febre alta, em que o doente reclamava maiores
demonstrações de paciência e carinho e em que Anita, fatigada, obtivera, enfim,
alguns momentos de sono, eliminei todas as dúvidas. A guisa de remédio,
administrei ao enfermo o veneno que o afastaria para sempre de nós.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 242
Na manhã imediata, um cadáver representava a resposta de meu despeito às
esperanças da mulher que me preterira.
A morte, contudo, não conseguiu desuni-los, porque Anita, embora afagada
por mim, fez-se arredia e desconfiada. Parecia procurar em meus olhos a sombra
do remorso que passara a flagelar-me o coração.
E, apática, desalentada, renunciando ao porvir, rendeu-se à depressão
orgânica, que, aos poucos, lhe abriu caminho para o sepulcro.
Revelava-se contente por entregar ao polvo invisível da tuberculose a taça
do próprio corpo.
Quando me vi sozinho, sem os dois, mergulhei no desânimo e no
arrependimento.
E entre a silenciosa interrogação de meus pais e a tortura interior que passou
a possuir-me, escutava-lhes a voz, desafiando-me em cada canto:
— Jorge! Jorge! que fizeste? que fizeste de nós? Jorge! Jorge! Pagarás,
pagarás!…
Os dois fantasmas inexoráveis impeliam-me à morte. Inútil tentar
resistência. Percebia-os em toda parte, fosse em casa, na via pública ou dentro de
mim…
E o desejo de minha própria exterminação começou a empolgar-me… Em
dado instante, resolvi não mais me opor à tentação.
Meus pais eram bons, carinhosos e devotados. Não lhes podia dar o
espetáculo de um suicídio aberto.
Na manhã fatídica, porém, notifiquei à minha mãe que faria a limpeza na
arma de um amigo. Ela pediu-me cuidado.
Contemplei-a enternecidamente pela última vez. Aqueles cabelos brancos
rogavam-me que eu vivesse!…
Fixei a mesa de escritório em que meu pai, ausente, costumava trabalhar, e
a figura dele visitou-me a imaginação, induzindo-me à calma e ao respeito à vida…
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 243
Hesitei. Não seria mais justo continuar sofrendo no mundo para, com mais
segurança, reparar meus erros? Entretanto, as acusações, em voz inarticulada,
martelavam-me o cérebro.
— Jorge, covarde! que fizeste de nós?!…
Decidi-me sem detença. Demandei o quarto de dormir e com o revólver
emprestado espatifei meu crânio.
Ah! desde então suspirei por morar no inferno de fogo terrestre que seria
benigno comparado ao tormento que passei a experimentar!…
Creio hoje que as grandes culpas nos transformam o espírito numa esfera
impermeável, em cujo bojo de trevas sofremos irremediável soledade, punidos por
nossa própria desesperação.
Tenho a ideia de que todos os padecimentos se congregavam em mim.
Desejava ver, possuía olhos, e não via.
Propunha-me ouvir qualquer voz familiar, identificava meus ouvidos, e não
ouvia.
Queria movimentar as mãos e, sentindo-as embora, não conseguia acioná-
las.
Meus pés! Possuía-os, intactos, entretanto, não podia movê-los.
Achava-me na condição dos mutilados que prosseguem assinalando a
presença dos membros que a cirurgia lhes arrancou.
Comigo uma vida nova de fome, sede, amargura e remorso passou a
desdobrar-se…
O estampido não tinha fim. Sempre a bala aniquilando-me a cabeça…
Depois de largo tempo, cuja duração não me é possível precisar, notei que
vozes sinistras imprecavam contra mim… Pareciam nascer de furnas sombrias
situadas em minha alma…
E sempre envolto na sombra sibilante, sentia um fogo diferente daquele que
conhecemos na Terra, uma espécie de lava comburente e incessante, vertendo
chamas vivas, ase entornarem de minha cabeça sobre o corpo…
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 244
Debalde acariciava o anseio de dormir. Torturava-me a fome, sem que eu
pudesse alimentar-me.
Algumas vezes, pressentia que nuvens do céu se transformavam em
temporal… Guardava a impressão de arrastar-me dificilmente sobre o pó, tentando
recolher algumas gotas de chuva que me pudessem dessedentar…
Mas, como se eu estivesse vivendo num cárcere inteiriço, sabia que a chuva
rumorejava por fora sem que eu lograsse uma gota sequer do precioso líquido.
E, em meio aos tormentos inomináveis, sofria mordidelas e alfinetadas,
quais se vermes devoradores me atingissem o crânio, carcomendo-me todo o corpo,
a partir da planta dos pés.
Em muitas ocasiões, monstros horripilantes descerravam-me as pálpebras
que eu não conseguia reerguer e, como se me falassem através de pavorosas janelas,
gritavam sarcasmos e palavrões, deixando-me mais desesperado e abatido.
Sempre aquela sensação da cabeça a esmigalhar-se, dos ossos a se
desconjuntarem e da mente a obstruir-se, sob o império de forças tremendas que,
nem de leve, até hoje, minha inteligência poderia definir ou compreender…
De nada me valiam lágrimas, petitórios, lamentações…
Ansiava pela felicidade de tocar algum móvel de substância material…
Clamava pela bênção de poder transformar as mãos numa concha simples,
a fim de recolher algo do pó terrestre e localizar-me por fim…
Assim vivi na condição de um peregrino enovelado nas trevas, até que
alguém me trouxe ao vosso templo de orações. Agora que recuperei a noção do
tempo, digo-vos que isso aconteceu precisamente há um ano…
Pude conversar convosco, ouvir-vos a voz. O médium que me acolheu, à
maneira de mãe asilando um filho, era um ímã refrigerante.
Transfundir-me nas sensações de um corpo físico, de que me utilizava
transitoriamente embora, deu-me a ideia deque eu era uma lâmpada apagada,
buscando reanimar-me na chama viva da existência que me fora habitual e cujo
calor buscava reaver desesperadamente.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 245
Depois de semelhante transfusão de forças, observei que energias novas
fixavam-se-me no espírito, refazendo-me os sentidos normais e, então, pude
gemer…
Tive a felicidade de gemer como antigamente, de chorar como se chora no
mundo…
Conduzido a um hospital, recebi tratamento. Decorridos dois meses, passei
a frequentar-vos o ambiente.
Aprendi a encontrar o socorro da oração e, mais consciente de mim,
indaguei por Cláudio e Anita. Obtive a permissão de revê-los.
Oh! prodígio! reencontrei-os enlaçados num lar feliz, tão jovens quanto
antes… Recém-casados, desfrutavam aventura merecida… Marido e mulher,
haviam reconstituído a união que eu furtara…
Aproximei-me deles com imensa emoção. A noite avançava plena…
Extático, rememorando o pretérito, reconheci que os dois haviam entrado
nas vibrações radiosas da prece, passando, logo após, ao sono doce e tranquilo.
Minha surpresa fez-se mais bela. Afastando-se suavemente do corpo físico,
ambos estenderam-me os braços, em sinal de perdão e de amor…
E, enquanto me entregava ao pranto de gratidão, alguém que está convosco
(Meimei), e é para todos nós uma irmã devotada e infatigável, anunciou-me aos
ouvidos:
— Jorge, o novo dia espera por você. Cláudio e Anita, hoje reencarnados,
oferecem-lhe ao coração a bênção de novo abrigo!…
Em verdade, você receberá um corpo castigado, um instrumento
experimental em que se lançará à recuperação da harmonia…
A fim de restaurar-se, sofrerá você como é justo, mas todos nós, na ascensão
para Deus, não prescindiremos do concurso da dor, a divina instrutora das almas…
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 246
Regozije-se, ainda assim, porque, neste santuário de esperança e ternura,
será você amanhã o filho abençoado e querido!…
Despedi-me, radiante. E agora, tomado de fé viva, trago-vos a mensagem de
meu reconhecimento.
Oxalá possa eu merecer a graça de um corpo torturado e doente, em que,
padecendo, me refaça e em que, chorando, me reconforte…
Sei que, para as minhas vítimas do passado e benfeitores do presente, serei
ainda um fardo de incerteza e lágrimas, contudo, pelo trabalho e pela oração,
encontraremos, enfim, o manancial do amor puro que nos guardará em sublime
comunhão para sempre.
Amigos, recebei minha ventura! Para exprimir-vos gratidão nada tenho…
Mas, um dia, estaremos todos juntos na Vida Eterna e, com o amparo divino,
repetirei convosco a inesquecível invocação desta hora: — “Que Deus nos
abençoe!…”
Jorge – Instruções Psicofônicas – Cap. 18 – Drama na sombra
Nota:
No encerramento de nossas atividades na noite de 9 de julho de 1954,
tivemos a presença de Jorge, um irmão que nos era desconhecido e com quem
tomáramos o primeiro contato um ano antes.
Mobilizando as faculdades psicofônicas do médium, relatou-nos o seu
“drama na sombra”, oferecendo-nos com ele preciosos elementos de estudo.
Ouvindo-o, lembramos-lhe a primeira manifestação, em julho de 1953,
quando foi auxiliado por nossos Benfeitores Espirituais, através de nosso Grupo.
Apresentara-se como um louco. Sustentava a cabeça entre as mãos,
queixando-se desesperadamente, e alegando que trazia o crânio estilhaçado pela
bala de revólver com que exterminara o próprio corpo e cujo estampido parecia
eternizar-se dentro de seu cérebro.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 247
Regressando ao nosso Grupo com o presente relato, mostra como age sobre
nós a Lei de Causa e Efeito.
Homicida direta e indiretamente e suicida, torna-se obsidiado pelas suas
vítimas, após o crime em que se comprometeu na existência da carne, fazendo-se
presa de Espíritos infernais nas regiões inferiores a que desceu pelo suicídio e
somente consegue reequilibrar-se, assimilando com boa vontade o auxílio que lhe
foi prestado pelos Espíritos Benevolentes e Amigos.
Importante notar que as suas vítimas com delitos menores, voltam à
reencarnação antes dele e ser-lhe-ão pais terrestres, em futuro próximo, para que
dentro do “carma” elaborado pelo trio, possam os três caminhar unidos nas
provações expiatórias com que se redimirão diante da Lei.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 248
DEPOIMENTO 32 Lima
Venho da escura região dos mortos-vivos, à maneira de muitos vivos-mortos
que se agitam na Terra.
O Espiritismo foi minha grande oportunidade. Fui médium.
Doutrinei.
Contribuí para que irmãos sofredores e transviados recebessem uma luz para
o caminho.
Recolhi as instruções dos mestres da sabedoria e tentei acomodar-me com
as verdades que são hoje o vosso mais alto patrimônio espiritual.
Fui consolado e consolei.
Doentes, enfraquecidos, desesperados, tristes, fracassados, desanimados,
derrotados da sorte, muitas vezes se reuniam junto de nós e junto de mim…
Através da oração, colaborei para que se lhes efetivasse o reerguimento.
Mas, no círculo de minhas atividades, a dúvida era como que um nevoeiro
a entontecer-me o espírito e, pouco apouco, deixei-me enredar nas malhas de velhos
inimigos ame acenarem do pretérito — do pretérito que guarda sobreo nosso
presente uma atuação demasiado poderosa para que lhe possamos entender, de
pronto, a evidência…
E esses adversários sutilmente me impuseram à lembrança o passado que se
desenovelou, dentro de mim, fustigando-me os germes de boa vontade e fé, assim
como a ventania forte castiga a erva tenra.
Enquanto a vida foi árdua, sob provações aflitivas, o trabalho era meu
refúgio. No entanto, à medida que o tempo funcionava como calmante celeste sobre
as minhas feridas, adoçando-me as penas, o repouso conquistado como que se
infiltrou em minha vida por venenoso anestésico, através do qual as forças
perturbadoras me alcançaram o mundo íntimo.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 249
E, desse modo, a ideia da autodestruição avassalou-me o pensamento.
Relutei muito, até que, em dado instante, minha fraqueza transformou-se em
derrota.
Dizer o que foi o suicídio para um aprendiz da fé que abraçamos, ou
relacionar o tormento de um Espírito consciente da própria responsabilidade é tarefa
que escapa aos meus recursos.
Sei somente que, desprezando o meu corpo de carne, senti-me sozinho e
desventurado.
Perambulei nas sombras de mim mesmo, qual se estivera amarrado a
madeiro de fogo, lambido pelas chamas do remorso.
Após muito tempo de agoniada contrição, percebi que o alívio celeste me
visitava. Senti-me mais sereno, mais lúcido…
Desde então, porém, estou na condição daquele rico da parábola evangélica,
porque muitos dos encarnados e desencarnados que recebiam junto de mim as
migalhas que nos sobravam à mesa surgem agora, ante a minha visão, vitoriosos é
felizes, enquanto me sinto queimar na labareda invisível do arrependimento,
ouvindo a própria consciência a execrar-me, gritando:
— Resigna-te ao sofrimento expiatório! Quando te regalavas no banquete
da luz, os lázaros da sombra, hoje triunfantes, apenas conheceram amarguras e
lágrimas!…
Imponho-me, assim, o dever de clamar a todos os companheiros quanto aos
impositivos do serviço constante.
A ação infatigável no bem é semelhante à luz do Sol, a refletir-se no espelho
de nossa mente e a projetar-se de nós sobre a estrada alheia.
Contudo, no descanso além do necessário, nossa vida interior passa a retratar
as imagens obscuras de nossas existências passadas, de que se aproveitam antigos
desafetos, arruinando-nos os propósitos de regeneração.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 250
Comunicando-me convosco, associo-me às vossas preces. Sou o vosso
Irmão Lima, companheiro de jornada, médium que, por vários anos, guardou nas
mãos o archote da verdade, sem saber iluminar a si próprio.
Creio que um mendigo ulcerado e faminto à vossa porta não vos inspiraria
maior compaixão.
Cortei o fio de minha responsabilidade…
Amigos generosos estendem-me aqui os braços, no entanto, vejo-me na
posição do sentenciado que condena a si mesmo, porquanto a minha consciência
não consegue perdoar-se.
Sinto-me intimado ao retorno…
A experiência carnal compele-me à volta.
Antes, porém, da provação necessária, visito, quanto possível, os ambientes
familiares de nossa fé, buscando mostrar aos irmãos espiritistas que a nossa mesa
de fraternidade e oração simboliza o altar do amor universal de Jesus-Cristo.
Temos conosco aquele cenáculo simples, em que o Senhor se reuniu aos
companheiros de sublime apostolado…
De todas as religiões, o Espiritismo é a mais bela, por facultar-nos a prece
pura e livre, em torno desse lenho sagrado, como sacerdotes de nós mesmos, à
procura da inspiração divina que jamais é negada aos corações humildes, que
aceitam a dor e a luta por elementos básicos da própria redenção.
Estou suplicando ao Senhor me conceda, oportunamente, a graça de
reencarnar-me num bordel. Isso por haver desdenhado o lar que era meu templo…
Indispensável que eu sofra, para redimir-me, diante de mim mesmo.
Não mereço agora o sorriso e os braços abertos de nossos benfeitores,
perante o libelo de meu próprio juízo.
Cabia-me aproveitar o tesouro da amizade, enquanto o dia era claro e
quando o corpo carnal — enxada divina — estava jungido à minha existência como
instrumento capaz de operar-me a renovação.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 251
Ah! meus amigos, que as minhas lágrimas a todos sirvam de exemplo!…
Sou o trabalhador que abandonou o campo antes da hora justa…
O tormento da deserção dói muito mais que o martírio da derrota.
Devo regressar…
Reentrarei pela porta da angústia.
Serei enjeitado, porque enjeitei…
Serei desprezado, por haver desprezado sem consideração…
E, mais tarde, encadear-me-ei, de novo, aos velhos adversários. Sem a forja
da tentação, não chegaremos ao reajuste.
Rogo, pois, a Deus para que o trabalho não se afaste de minhas mãos e para
que a aflição não me abandone…
Que a carência de tudo seja socorro espiritual em meu benefício e, se for
necessário, que a lepra me cubra e proteja para que eu possa finalmente vencer.
Não me olvideis nas vibrações de amizade e que Jesus nos abençoe.
Lima – Instruções psicofônicas – Cap. 23 – Companheiro em luta
Nota:
A fase terminal de nossas tarefas, na noite de 12 de agosto de 1954, trouxe-
nos à presença antigo companheiro de lides espíritas em Belo Horizonte, que
passaremos a nomear simplesmente por Irmão Lima, já que o respeito fraternal nos
impede identificá-lo plenamente.
Lima, que era pai de família exemplar, desfrutava excelente posição social
e, por muitos anos, exerceu os dons mediúnicos de que era portador em ambientes
íntimos.
Em 1949, como que minado por invencível esgotamento, suicidou-se sem
razões plausíveis, trazendo, com isso, dolorosa surpresa a todos os seus amigos.
Na noite a que nos referimos, naturalmente trazido por Amigos Espirituais,
utilizou-se das faculdades psicofônicas do médium e ofertou-nos o relato de sua
história comovente, que constitui para nós todos uma advertência preciosa.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 252
DEPOIMENTO 33 Luís Alves
Meus amigos:
Chamo-me Luís Alves, e, trazido ao recinto por devotados instrutores,
recomendam que eu vos fale alguma coisa acerca de meu caso, que,
indiscutivelmente, se partisse de outra criatura, talvez não me recebesse crédito
algum, na hipótese de encontrar-me ainda encarnado entre os homens.
Tão triste quão bizarra, minha história provoca impressões diversas, desde
a agonia ao riso franco, fazendo de mim um sofredor e um truão.
Muitas almas aparecem no berço, a fim de lutar. E muitas se escondem no
sepulcro, para aprender.
Nasci na Terra para cumprir determinada tarefa no socorro aos doentes, sob
o signo da solidão individual, para que mais eficiente se tornasse meu concurso a
benefício dos outros, porém, em chegando aos trinta de idade, e vendo-me pobre e
sozinho, apesar dos múltiplos trabalhos de enfermagem que me angariavam larga
soma de afetos, entreguei-me, acovardado, ao desespero e, com um tiro no coração,
aniquilei meu corpo.
Ah! Meus amigos, desde esse instante, começou a minha odisseia singular,
porque me reconheci muito mais vivo doque antes, continuando ligado à minha
carcaça inerte.
Não dispunha de parentes ou de amigos que me solicitassem os despojos.
Entregue a uma escola de Medicina, chumbado ao meu corpo, passei a servir
em demonstrações anatômicas.
Completamente anestesiado, ignorava as dores físicas, não obstante cortado
de muitos modos; contudo, se tentava afastar-me da múmia que passara a ser minha
sombra, o terrível sofrimento, a expressar-se por inigualável angústia, me
constringia o peito, compelindo-me a voltar.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 253
Dezenas de médicos jovens estudavam em minhas vísceras os problemas
operatórios que lhes inquietavam a mente indecisa, alegando que meus tecidos
cadavéricos eram sempre mais vivos e mais consistentes, mal sabendo que aminha
presença constante lhes mantinha a coesão.
Ninguém na Terra, enquanto no corpo denso, pode calcular o martírio de
um Espírito desencarnado, indefinidamente jungido aos próprios restos.
Minha aflição parecia não ter fim. Chorava, gritava, reclamava… mas, por
resposta da vida, era objeto diário da atenção dos estudantes de cirurgia, que
procuravam em mim o auxílio indireto para a solução de enigmas profissionais, a
favor de numerosos doentes.
Ouvia a meu respeito incessantes observações que variavam do carinho ao
sarcasmo e do ridículo à compaixão.
Muitos me fitavam com piedoso olhar, mas muitos outros me sacudiam de
vergonha e de sofrimento, através dos pensamentos e das palavras com que me
feriam e ofendiam a dolorosa nudez.
Com o transcurso do tempo, desgastou-se-me a vestimenta de carne nas
atividades de cobaia, mas, ainda assim, professores e médicos afeiçoaram-se-me ao
esqueleto, que diziam original e bem-posto, e prossegui em meu cárcere oculto.
Habitualmente assediado por aprendizes e estudiosos diversos, suportava,
além disso, constante visitação de almas desencarnadas, viciosas e vagabundas, que
me atiravam em rosto gargalhadas estridentes e frases vis.
Vinte e seis anos decorreram sobre meu inominável infortúnio, quando,
certo dia, a desfazer-me em pranto, recordei velho amigo — o nosso Mitter.
Bastou isso e ele me apareceu eufórico e juvenil, como nos tempos da
mocidade primeira.
Compadecido, ouviu-me a horrenda história e, aplicando as mãos sobre
mim, conseguiu libertar-me dos ossos, trazendo-me a vossa casa.
Respirei aliviado.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 254
Como que a refundir-me num corpo diferente do meu, que ele designou
como sendo “um instrumento mediúnico”, consegui, enfim, chorar e clamar por
socorro.
Vossas palavras e vossas preces, ao influxo dos benfeitores que nos
assistem, operaram em mim o inesperado milagre…
Reconfortei-me, reaqueci-me...
De volta ao meu domicílio, depois de passar por algumas horas em vosso
templo de caridade, vim a saber que, graças a Deus, apesar do suicídio, em meu
tremendo suplício moral conseguira cumprir a tarefa de amparo aos enfermos
durante o tempo previsto.
De regresso a casa, oh! grande felicidade!…
Doutor Mitter e eu observamos que com a minha ausência o velho
arcabouço, apesar de protegido com segurança, se arrojara ao piso da sala, partindo-
se-lhe a grande coluna.
Meu coração pulsava de alegria, porque a minha insubmissão não
conseguira modificar o aresto justo da Lei…
E naquela hora meu júbilo acentuara-se, porque à maneirado pássaro, agora
livre, fitava feliz a gaiola desfeita.
Banhava-se a paisagem no sol de rutilante manhã. Um velho professor
penetrou o recinto, sendo abraçado por nosso amigo, que lhe segredou algo,
confidencialmente, aos ouvidos.
O encanecido preceptor não nos viu e nem ouviu com os sentidos corpóreos,
mas registrando a palavra do benfeitor, em forma de intuição, ordenou que os meus
velhos ossos fossem queimados como resíduo inútil.
Desde então, livre e calmo, consagrei-me a vida nova e, visitando-vos na
noite de hoje, para exprimir-vos júbilos a gratidão, ofereço-vos meu caso, não para
que venhamos a rir ou a chorar, mas simplesmente a pensar.
Luís Alves – Vozes do Grande Além – Cap. 26 – Um caso singular
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 255
DEPOIMENTO 34 Entrevista com um Suicida
Aqui vai, meu amigo, a entrevista rápida que você solicitou ao velho
jornalista desencarnado com uma suicida comum.
Sabe você, quanto eu, que não existem casos absolutamente iguais. Cada um
de nós é um mundo por si. Para nosso esclarecimento, porém, devo dizer-lhe que
se trata de jovem senhora que, há precisamente catorze anos, largou o corpo físico,
por deliberação própria, ingerindo formicida.
Mais alguns apontamentos, já que não podemos transformar o doloroso
assunto em novela de grande porte. Ela se envenenou no Rio, aos trinta e dois de
idade, deixando o esposo e um filhinho em casa; não era pessoa de cultura
excepcional, do ponto de vista do cérebro, mas caracterizava-se, na Terra, por
nobres qualidades morais, moça tímida, honesta, operosa, de instrução regular e
extremamente devotada aos deveres de esposa e mãe.
Passamos, no entanto, às suas onze questões e vejamos as respostas que ela
nos deu e que transcrevo, na íntegra:
A irmã possuía alguma fé religiosa, que lhe desse convicção na vida depois
da morte?
Seguia a fé religiosa, como acontece a muita gente que acompanha os outros
no jeito de crer, na mesma situação com que se atende aos caprichos da moda.
Para ser sincera, não admitia fosse encontrar a vida aqui, como a vejo, tão
cheia de problemas ou, talvez, mais cheia de problemas que a minha existência no
mundo.
Quando sobreveio a morte do corpo, ficou inconsciente ou consciente?
Não conseguia sequer mover um dedo, mas, por motivos que ainda não sei
explicar, permaneci completamente lúcida e por muito tempo.
Quais as suas primeiras impressões ao verificar-se desencarnada?
Ao lado de terríveis sofrimentos, um remorso indefinível tomou conta de
mim. Ouvia os lamentos de meu marido e de meu filho pequenino, debalde gritando
também, a suplicar socorro.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 256
Quando o rabecão me arrebatou o corpo imóvel, tentei ficar em casa mas
não pude. Tinha a impressão de que eu jazia amarrada ao meu próprio cadáver pelos
nós de uma corda grossa.
Sentia em mim, num fenômeno de repercussão que não sei definir, todos os
baques do corpo no veículo em correria; atirada com ele a um compartimento do
necrotério, chorava de enlouquecer.
Depois de poucas horas, notei que alguém me carregava para a mesa de
exame. Vi-me desnuda de chofre e tremi de vergonha. Mas a vergonha fundiu-se
no terror que passei a experimentar ao ver que dois homens moços me abriam o
ventre sem nenhuma cerimônia, embora o respeitoso silêncio com que se davam à
pavorosa tarefa.
Não sei o que me doía mais, se a dignidade feminina retalhada aos meus
olhos, ou se a dor indescritível que me percorria a forma, em meu novo estado de
ser, quando os golpes do instrumento cortante me rasgavam a carne.
Mas o martírio no conforto de meu leito doméstico, tive de aguentar duchas
de água fria nas vísceras expostas, como se eu fosse um animal dos que eu vira
morrer, quando menina, no sítio de meu pai…
Então, clamei ainda mais por socorro, mas ninguém me escutava, nem via…
Recorreu à prece no sofrimento?
Sim, mas orava, à maneira dos loucos desesperados, sem qualquer noção de
Deus…
Achava-me em franco delírio de angústia, atormentada por dores físicas e
morais…
Além disso, para salvar o corpo que eu mesma destruíra, a oração era um
recurso de que lançava mão, muito tarde.
Encontrou amigos ou parentes desencarnados, em suas primeiras horas no
Plano espiritual?
Hoje sei que muitos deles procuravam auxiliar-me, mas inutilmente, porque
a minha condição de suicida me punha em plenitude de forças físicas.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 257
As energias do corpo abandonado como que me eram devolvidas por ele e
me achava tão materializada em minha forma espiritual quanto na forma terrestre.
Sentia-me completamente sozinha, desamparada…
Assistiu ao seu próprio enterro?
Com o terror que o meu amigo é capaz de imaginar.
Não havia Espíritos benfeitores no cemitério?
Sim, mas não poderia vê-los. Estava mentalmente cega de dor. Senti-me sob
a terra, sempre ligada ao corpo, como alguém a se debater num quarto abafado,
lodoso e escuro…
Que aconteceu em seguida?
Até agora, não consigo saber quanto tempo estive na cela do sepulcro,
seguindo, hora a hora, a decomposição de meus restos…
Houve, porém, um instante em que a corda magnética cedeu e me vi
libertada. Pus-me de pé sobre acova. Reconhecia-me fraca, faminta, sedenta,
dilacerada…
Não havia tomado posse de meus próprios raciocínios, quando me vi
cercada por uma turma de homens que, mais tarde, vim a saber serem obsessores
cruéis.
Deram-me voz de prisão.
Um deles me notificou que o suicídio era falta grave, que eu seria julgada
em corte de justiça e que não me restava outra saída, senão acompanhá-los ao
Tribunal.
Obedeci e, para logo, fui por eles encarcerada em tenebrosa furna, onde pude
ouvir o choro de muitas outras vítimas. Esses malfeitores me guardaram em
cativeiro e abusaram da minha condição de mulher, sem qualquer noção de respeito
ou misericórdia…
Somente após muito tempo de oração e remorso, obtive o socorro de
Espíritos missionários, que me retiraram do cárcere, depois de enormes
dificuldades, a fim de me internarem num campo de tratamento.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 258
Por que razão decidiu matar-se?
Ciúmes de meu esposo, que passara a simpatizar com outra mulher.
Julga que a sua atitude lhe trouxe algum benefício?
Apenas complicações. Após seis anos de ausência, ferida por terríveis
saudades, obtive permissão para visitar a residência que eu julgava como sendo
minha casa no Rio.
Tremenda surpresa!… Em nada adiantara o suplício. Meu esposo, moço
ainda, necessitava de companhia e escolhera para segunda esposa a rival que eu
abominava…
Ele e meu filho estavam sob os cuidados da mulher que me suscitava ódio e
revolta…
Sofri muito em meu orgulho abatido. Desesperei-me. Auxiliada
pacientemente, contudo, por instrutores caridosos, adquiri novos princípios de
compreensão e conduta…
Estou aprendendo agora a converter aversão em amor. Comecei procedendo
assim por devotamento ao meu filho, a quem ansiava estender as mãos, e só possuía,
no lar, as mãos dela, habilitadas a me prestarem semelhante favor…
A pouco e pouco, notei-lhe as qualidades nobres de caráter e coração e hoje
a amo, deveras, por irmã de minhalma…
Como pode observar, o suicídio me intensificou a luta íntima e me impôs,
de imediato, duras obrigações.
Que aguarda para a futuro?
Tenho fome de esquecimento e de paz.
Trabalho de boa vontade em meu próprio burilamento e qualquer que seja
aprovação que me espere, nas corrigendas que mereço, rogo à Compaixão Divina
me permita nascer na Terra, outra vez, quando então conto retomar o ponto de
evolução em que estacionei, para consertar as terríveis consequências do erro que
cometi.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 259
Aqui, meu caro, termina o curioso depoimento em que figurei na posição de
seu secretário.
Sinceramente, não sei porque você deseja semelhante entrevista com tanto
empenho. Se é para curar doentia ansiedade em pessoa querida, inclinada a matar-
se, é possível que você alcance o objetivo almejado.
Quem sabe? O amor tem força para convencer e instruir. Mas se você supõe
que esta mensagem pode servir de instrumento para alguma transformação na
sociedade terrena, sobre os alicerces da verdade espiritual, não estou muito certo
quanto ao êxito do tentame.
Digo isso, porque, se estivesse aí, no meu corpo de carne, entre o frango
assado e o café quente, e se alguém me trouxesse a ler a presente documentação,
sem dúvida que eu julgaria tratar-se de uma história da carochinha.
Humberto de Campos – Estante da Vida – Cap. 2 – Entrevista com uma Suicida
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 260
DEPOIMENTO 35 Suicida da Samaritana
Recentemente os jornais relataram o seguinte fato: “Ontem (7 de abril de
1858), pelas sete horas da noite um homem de cerca de cinquenta anos e
decentemente trajado, apresentou-se no estabelecimento da Samaritana, em Paris, e
mandou que lhe preparassem um banho.
Decorridas cerca de duas horas, o criado de serviço, admirado pelo silêncio
do freguês, resolveu entrar no seu gabinete, a fim de verificar o que ocorria.
Deparou-se-lhe então um quadro horroroso: o infeliz degolara-se com uma
navalha e todo o seu sangue misturava-se à água da banheira.
E, como a identidade do suicida não pôde ser averiguada, foi o cadáver
removido para o necrotério.
Pensamos que poderíamos haurir um ensinamento útil à nossa instrução, da
conversa com o Espírito desse homem. Evocamo-lo, pois, no dia 13 de abril,
consequentemente seis dias apenas depois de sua morte.
Rogo a Deus Todo-Poderoso permitir ao Espírito do indivíduo que se
suicidou no dia 7 de abril de 1858, nos banhos da Samaritana, que se comunique
conosco.
Resposta. – Espere… (Após alguns segundos) Ei-lo aqui.
Onde vos achais hoje?
Resposta. – Não sei… dizei-mo.
Na Galeria Valois, Palais-Royal, n° 35, numa reunião de pessoas que
estudam o Espiritismo e que são benévolas para convosco.
Resposta. – Dizei-me se vivo… Eu sufoco no caixão.
Quem vos impeliu a vir aqui?
Resposta. – Sinto-me aliviado.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 261
Qual o motivo que vos arrastou ao suicídio?
Resposta. – Morto? Eu? Não… que habito o meu corpo…Não sabeis como
sofro!… Sufoco-me… Oxalá que mão compassiva me aniquilasse de vez!
Observação. – Sua alma, posto que separada do corpo, está ainda
completamente imersa no que poderia chamar-se o turbilhão da matéria corporal;
vivazes lhe são as ideias terrenas, a ponto de se acreditar encarnado.
Por que não deixastes indícios que pudessem tornar-vos reconhecível?
Resposta. – Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à
tortura.
Tendes ainda os mesmos motivos para ficar incógnito?
Resposta. – Sim; não revolvais com ferro candente a ferida que sangra.
Podereis dar-nos o vosso nome, idade, profissão e domicílio?
Resposta. – Absolutamente não.
Tínheis família, mulher, filhos?
Resposta. – Eu era um desprezado; ninguém me amava.
E que fizestes para ser assim repudiado?
Resposta. – Quantos o são como eu!… Um homem pode viver abandonado
no seio da família, quando ninguém o preza.
No momento de vos suicidardes não experimentastes qualquer hesitação?
Resposta. – Ansiava pela morte… Esperava repousar.
Como é que a ideia do futuro não vos fez renunciar a um tal projeto?
Resposta. – Não acreditava nele, absolutamente. Era um desiludido. O
futuro é a esperança.
Que reflexões vos ocorreram ao sentirdes a extinção da vida?
Resposta. – Não refleti, senti… Mas a vida não se me extinguiu… minha
alma está ligada ao corpo… não estou morto… e, no entanto, sinto os vermes a me
corroerem.
Que sensação experimentastes no momento decisivo da morte?
Resposta. – Pois ela se completou?
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 262
Foi doloroso o momento em que a vida se vos extinguiu?
Resposta. – Menos doloroso que depois. Só o corpo sofreu. (São Luís
continua): “O Espírito descarregou o fardo que o oprimia; ressentia a volúpia da
dor.”
(A São Luís): Tal estado sobrevém sempre ao suicídio?
Resposta. – Sim. O Espírito do suicida fica ligado ao corpo até o termo dessa
vida. A morte natural é a libertação da vida: o suicídio a rompe por completo.
Dar-se-á o mesmo nas mortes acidentais, embora involuntárias, mas que
abreviam a existência?
Resposta. – Não. Que entendeis por suicídio? O Espírito só responde pelos
seus atos.
Observação. – Havíamos preparado uma série de perguntas que nos
propúnhamos a dirigir ao Espírito desse homem sobre sua nova existência; diante
das respostas, se tornaram sem objetivo; para nós, era evidente que ele não tinha
nenhuma consciência de sua situação; seu sofrimento foi a única coisa que nos pôde
descrever.
Allan Kardec – Revista Espírita — Junho 1858 — 3° Artigo – O Suicida da
Samaritana / O Céu e o Inferno – 2ª Parte – Capítulo 5 – Exemplo 1
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 263
DEPOIMENTO 36 Alfred Leroy
O Siècle de 2 de março de 1861 relata o seguinte fato:
Num terreno baldio, no ângulo do caminho dito da Arcada, que conduz de
Conflans a Charenton, operários que iam ao trabalho, ontem pela manhã,
encontraram enforcado num pinheiro muito alto um indivíduo que cessara de viver.
Prevenido do fato, o comissário de polícia de Charenton dirigiu-se ao local,
acompanhado pelo Dr. Josias e procedeu às comprovações.
Diz o Droit que o suicida era um homem de cerca de cinquenta anos, de
fisionomia distinta, vestido de maneira conveniente. De um de seus bolsos retiraram
um bilhete a lápis, assim redigido: “Onze horas e três quartos da noite; subo ao
suplício. Deus me perdoará os erros.”
O bolso encerrava ainda uma carta sem endereço e sema ssinatura, cujo
conteúdo é o seguinte:
“Sim, lutei até o último extremo! Promessas, garantias, tudo me faltou. Eu
podia chegar; tinha tudo a crer, tudo a esperar; uma falta de palavra me mata; não
posso mais lutar. Abandono esta existência, desde algum tempo tão dolorosa. Cheio
de força e de energia, sou obrigado a recorrer ao suicídio. Tomo Deus por
testemunha, eu tinha o maior desejo de me desobrigar para com os que me haviam
auxiliado no infortúnio; a fatalidade me esmaga: tudo se contrapõe a mim.
Abandonado subitamente por aqueles que representei, sofro a minha sorte.
Confesso que morro sem fel; mas, por mais que digam, a calúnia não impedirá que
nos últimos momentos eu não atraia nobres simpatias. Insultar o homem que se
reduziu à última das resoluções seria uma infâmia. É muito tê-lo reduzido a isto.
Avergonha não será toda minha; o egoísmo me terá matado.”
Conforme outros papéis, o suicida era um tal Alfred Leroy, de cinquenta
anos, originário de Vimoutiers (Orne).
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 264
A profissão e o domicílio são desconhecidos e, depois das formalidades
ordinárias, o corpo, que ninguém reclamou, foi para o necrotério.
[Evocação de Alfred Leroy, suicida.]
1. Evocação.
Resposta. – Não venho como supliciado; estou salvo! Alfred.
Observação. – As palavras: Estou salvo! surpreenderam a maioria dos
assistentes. Sua explicação foi pedida no desenrolar da conversa.
2. Soubemos pelos jornais do ato de desespero pelo qual sucumbistes e,
embora não vos conheçamos, vos lamentamos, pois a religião exige que
compartilhemos dador de todos os nossos irmãos infelizes; e é para vos
testemunhar simpatia que vos chamamos.
Resposta. – Devo calar os motivos que me impeliram a esse ato de
desespero. Agradeço o que fazeis por mim; é uma felicidade, uma esperança a mais;
obrigado!
3. Podeis dizer, primeiramente, se tendes consciência de vossa situação
atual?
Resposta. – Perfeita. Sou relativamente feliz; não me suicidei por causas
puramente materiais; crede que havia mais, como o demonstraram as minhas
últimas palavras. Foi uma mão-de-ferro que me agarrou. Quando encarnei na Terra,
vi o suicídio no meu futuro. Era a prova contra a qual tinha de lutar. Quis ser mais
forte que a fatalidade e sucumbi.
Observação. – Ver-se-á logo que esse Espírito não escapa à sorte dos
suicidas, malgrado o que acaba de dizer. Quanto à palavra fatalidade, é evidente
que nele é uma lembrança das ideias terrenas; põe-se à conta da fatalidade todas as
desgraças que não se podem evitar. Para ele o suicídio era aprova contra a qual tinha
de lutar; cedeu ao arrastamento ao invés de resistir, em virtude de seu livre-arbítrio,
e acreditou que estivesse em seu destino.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 265
4. Quisestes escapar a uma situação deplorável pelo suicídio; ganhastes
alguma coisa com isto?
Resposta. – Aí está o meu castigo: a vergonha do meu orgulho e a
consciência da minha fraqueza.
5. Segundo a carta encontrada convosco, parece que a dureza dos homens
e uma falta de palavra vos conduziram à própria destruição. Que sentimento
experimentais agora pelos que foram a causa dessa resolução funesta?
Resposta. – Oh! não me tenteis, não me tenteis, eu vos suplico!
Observação. – Esta resposta é admirável; pinta a situação do Espírito
lutando contra o desejo de odiar aqueles que lhe fizeram mal, e o sentimento do
bem, que o impele a perdoar. Receia que esta pergunta provoque uma resposta que
a sua consciência reprova.
6. Lamentais o que fizestes?
Resposta. – Eu já vos disse que meu orgulho e minha fraqueza são a sua
causa.
7. Quando vivo acreditáveis em Deus e na vida futura?
Resposta. – Minhas últimas palavras o provam; marcho para o suplício.
Observação. – Ele começa a compreender sua posição, sobre a qual a
princípio pôde ter uma ilusão, porque não podia ser salvo e marchar para o suplício.
8. Tomando essa resolução, que pensáveis que vos aconteceria?
Resposta. – Eu tinha bastante consciência da justiça para compreender o que
agora me faz sofrer. Por um momento tive a ideia do nada, mas a repeli bem
depressa. Não meteria matado se tivesse tal ideia; primeiro me haveria vingado.
Observação. – Esta resposta é, ao mesmo tempo, muitológica e muito
profunda. Se ele acreditasse no nada após a morte, em vez de se matar ter-se-ia
vingado ou, pelo menos, teria começado por se vingar. A ideia do futuro o impediu
de cometer um duplo crime; com a do nada, o que teria a temer, se quisesse tirar a
própria vida? Não mais temia a justiça dos homens e teria o prazer da vingança.
Tala consequência das doutrinas materialistas que certos sábios se esforçam em
propagar.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 266
9. Se estivésseis bem convencido de que as mais cruéis vicissitudes da vida
são provas muito curtas em face da eternidade, teríeis sucumbido?
Resposta. – Muito curtas, eu o sabia, mas o desespero não pode raciocinar.
Rogamos a Deus que vos perdoe e em vosso favor lhe dirigimos esta prece,
à qual todos nós associamos:
“Deus todo-poderoso, sabemos a sorte reservada aos que abreviam os seus
dias e não podemos entravar a vossa justiça. Mas sabemos também que a vossa
misericórdia é infinita. Possa ela estender-se sobre a alma de Alfred Leroy! Possam
também nossas preces, mostrando-lhe que há na Terra seres que se interessam por
sua sorte, aliviar os sofrimentos que suporta por não ter tido a coragem de resistir
às vicissitudes da vida!
“Bons Espíritos, cuja missão é aliviar os infelizes, tomai-o sob vossa
proteção; inspirai-lhe o pesar pelo que fez e o desejo de progredir por novas provas,
que saberá suportar melhor.”
Resposta. – Esta prece me faz chorar e, por isso, sou feliz.
11. Dissestes no início: agora estou salvo. Como conciliar estas palavras
com o que dissestes depois: Marcho para o suplício?
Resposta. – E como entendeis a bondade divina? Eu não podia viver; era
impossível. Credes que Deus não veja o impossível neste caso?
Observação. – Em meio a algumas respostas notavelmente sensatas, há
outras – e esta é de seu número – que denotam neste Espírito uma ideia imperfeita
de sua situação. Isto nada tem de extraordinário, se pensarmos que ele morreu há
poucos dias.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 267
12. (A São Luís) Podeis dizer a sorte do infeliz que acabamos de invocar?
Resposta. – A expiação e o sofrimento. Não, não há contradição entre as
primeiras palavras desse infortunado e suas dores. Ele se diz feliz; feliz pela
cessação da vida. E como ainda está preso aos laços terrenos, sente apenas a
ausência do mal terreno; mas quando seu Espírito elevar-se, os horizontes da dor,
da expiação lenta e terrível desenrolar-se-ão diante dele e o conhecimento do
infinito, ainda velado aos seus olhos, ser-lhe-á o suplício que entreviu.
13. Que diferença estabeleceis entre este suicida e o da Samaritana? Ambos
se mataram de desespero e, no entanto, sua situação é bem diferente; este se
reconhece perfeitamente; fala com lucidez e ainda não sofre, ao passo que o outro
não acreditava estar morto e desde os primeiros instantes sofria um suplício cruel,
o de ter a impressão de sentir seu corpo em decomposição.
Resposta. – Uma imensa diferença. O suplício de cada um desses homens
reveste o caráter próprio de seu progresso moral. O último, alma fraca e alquebrada,
suportou tanto quanto creu. Duvidou de sua força, da bondade de Deus, mas nem
blasfemou nem amaldiçoou; seu suplício interior, lento e profundo, terá a mesma
intensidade da dor que sentiu o primeiro suicida. Apenas não é uniforme a lei de
expiação.
Nota. – A narrativa do suicida da Samaritana foi publicada no fascículo de
junho de 1858.
14. Aos olhos de Deus qual o mais culpado e qual o que sofrerá o grande
castigo: este que sucumbiu à sua fraqueza ou aquele que, por sua dureza, foi levado
ao desespero?
Resposta. – Seguramente o que sucumbiu pela tentação.
15. A prece que por ele dirigimos a Deus lhe será útil?
Resposta. – Sim, a prece é um orvalho benfazejo.
Allan Kardec – Revista Espírita — Abril 1861 — 3° Artigo — Alfred Leroy
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 268
DEPOIMENTO 37 Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo
Querida mãezinha Dalila e meu pai Carlos, peço-lhes para que me abençoem
junto com meus irmãos José Carlos e o querido irmão caçula, e rogo a Jesus
fortalecer-nos a união.
Mãe querida, peço-lhe não chorar com tanto desespero.
Recebo suas aflições tentando decifrar os enigmas que nos induziram ao
desligamento do corpo físico. Entreguemos os nossos problemas a Jesus que nos
clareará o entendimento.
Estou bem, não obstante compreender que caí na armadilhado mal.
Refiro-me ao meu infortúnio supondo que a vida terminasse com a morte.
Estava consciente quando atirei sobre mim mesmo. Perdoem-me o gesto de
loucura.
Acordei aqui dentro de uma névoa densa que ainda não se desfez.
Estou bem porque confio na bondade de Deus e prometi a mim próprio que
não atrairia em minha cabeça qualquer pensamento de revolta, confiando-me ao
Amado Jesus que veneramos tanto, sem traduzir o nosso reconhecimento em
trabalho que signifique a nossa fé.
A minha luta ainda é muito grande. A primeira concessão que estou
recebendo é a de vir até aqui, perante uma assembleia que não conheço, no entanto
constituída por pessoas amigas que não me recusam o acesso.
Querida mãezinha, sou eu quem pergunto: Onde está Rosângela?
Como dialogar com Heliana sobre as nossas provações?
Como reaver o sorriso de Mariana, de nossa menina inesquecível?
Estou cansado e doente ainda.
O projétil me desequilibrou a vida mas não encontrei pessoa alguma, das
muitas que me cercam aqui, capaz de condenar-me.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 269
Rogo a meu pai e aos irmãos queridos que me auxiliem, reconhecendo que
a vida harmônica não está na morte provocada e espero que todos não deem a si
mesmos a ideia de suicídio.
Vivam, trabalhando confiantes em Deus e sempre mais felizes. Ainda não
recuperei toda a minha capacidade de lucidez e sigo adiante em meu tratamento, na
certeza deque Deus, nosso Pai, a ninguém abandona.
Agradeço-lhes o que puderem fazer em benefício de nossa Mariana que
desejo possa crescer sem ódio e sem mágoa, e sei que mãezinha atenderá no que
estou pedindo. Por enquanto, meu cérebro está atormentado pelo desejo de
encontrar os que amo.
Creio que isso nos tomará tempo e aprenderei com paciência a reconstrução
da minha própria existência, que eu mesmo danifiquei num momento de insânia.
Minha grande decepção ao chegar aqui, foi a verificação de que a morte não
existe como pensamos; isso me doeu profundamente ao orgulho de homem que
conhece tão pouco da verdadeira vida.
Fui socorrido por um benfeitor que me recomendou chamá-lo por irmão
Botelho, acentuando que fora no mundo o meu bisavô. Como podem imaginar,
estou necessitado de todos os recursos elementares da vida física que destruí em
mim próprio.
Não me faltam proteção e auxílio, embora saiba que nada fiz ainda para
merecê-los.
Mãezinha, rogo à sua fortaleza não valorizar os comentários negativos em
torno de meu gesto infeliz. Se alguém me acusar, rogo-lhe com humildade
esclarecer que estamos implorando uma oração em nosso favor e que, conquanto
eu mereça censura, não estou desligado da fé em Deus.
Não posso escrever mais, porque estou numa faixa de tempo que a
generosidade do irmão Botelho conseguiu em meu benefício.
Mãezinha, tranquilize o seu amoroso coração e recorde que as suas preces
em meu amparo foram as primeiras luzes que me retiraram da sombra.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 270
O que foi feito dos meus companheiros de provação, nada sei ainda. Estou
a encontrar comigo, pouco a pouco.
Quando estiver na condição de auxiliar, tomarei junto de meu coração a
nossa querida Mariana, compreendendo que ela nada fez para receber a triste
ocorrência que está ainda no meu pensamento.
Mãezinha, ore por mim sem desespero. Vou melhorar e creia que seu filho
se fará digno do amor de seus pais.
Estou reaprendendo as preces que o seu carinho de mãe nos ensinava,
quando éramos crianças em suas queridas mãos: “Pai nosso que estás nos Céus…”
Essas palavras estão incrustadas em minha memória”.
Abraço aos queridos irmãos e ao meu pai que tudo fizeram por ajudar-me e
rogo a sua bondade receber no coração as lágrimas de reconhecimento e de amor
do seu filho, que cresceu entre os meus dois irmãos, perdoando-me a frustração e
amparando-me nas orações, na certeza de que seu filho não morreu e trabalhará para
refazer-se e tornar-se digno do seu beijo de luz.
Sempre o seu filho reconhecido,
Luís Fernando – A volta – Cap. 13 – Mensagem de Luís Fernando Botelho de
Moraes Toledo
(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião
pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 13/4/91, em Uberaba, MG.)
Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo
Nascimento: 21/8/1961
Desencarnação: 29/10/1990
Livro A volta – Familiares diversos – Capítulo 13 – Mensagem de Luís Fernando
Botelho de Moraes Toledo
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 271
DEPOIMENTO 38 Raul Martins
Nada poderá suceder de mais funesto ao homem do que o suicídio.
Dessa desgraça inominável já houve verdadeiras epidemias nos tempos
ominosos do materialismo romano.
Nas modernas sociedades, múltiplos são os seus fatores. Sob diversos
aspectos e formas, o suicídio contribui com enorme porcentagem para o obituário
em geral, ora determinado pelas obsessões dolorosas, ora pelas dificuldades e
desalentos da vida terrena.
Suicídio supõe sempre a ilusão, de que se acha o candidato possuído, de se
libertar da insuportável carga de dores e tristezas que o acabrunham e lhe
envenenam a vida.
Todavia, que funesta ilusão!
Fala-vos quem, sob as torturas de uma dolorosíssima opressão moral,
também cedeu à atração do abismo e supôs libertar-se da conta que, de muito, lhe
estava assinada, interrompendo o curso da existência.
Enganei-me, meus caros irmãos.
Longe de extinguir o sofrimento, este recrudesceu e se tornou mais íntimo e
profundo aqui no Espaço, onde não há noite, nem sono, e parece eterna a provação
da alma.
Cedi à vaidade mundana da honra e do prestígio.
E, no entanto, vejo agora, no meu mal sem remédio, que bem melhor fora
abstrair dessas futilidades para cuidar do que é eterno e imorredouro: a existência
do ser e seu progresso através das etapas do Universo.
Contam-se por milhões os desgraçados que, como eu, se debatem na treva
depois de terem sido pasto da ignorância e do orgulho.
Se eu tivesse podido saber que todos os ouropéis da vida terrena não valem
uma só das verdades que aqui constatais diariamente, teria certamente evitado, por
um ato de coragem e resignação, esta horrível geena em que agora me debato.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 272
O suicídio é a maior desgraça que pode suceder ao Espírito.
Ato de rebeldia insensata contra os desígnios da Providência, encarna o
desespero do réu que se quer libertar, por fraqueza, do compromisso anterior que
assumiu por seus erros.
É uma afronta à Divindade, inútil e covarde.
Inútil, porque jamais poderá o ser aniquilar-se, visto que ele é eterno qual o
próprio Pai e Senhor de quem emana.
Vede agora a triste situação em que se encontra o suicida ao desprender-se
do corpo; mais vivo do que nunca, sobrevêm ao pungente padecer a surpresa
alucinante de se ver indestrutível, incapaz de sofrer no Espaço as consequências do
seu orgulho, com a obrigação de voltar à matéria para terminar a missão que tão
loucamente interrompera!
Sede fortes, vós que me ledes, quando vos assaltar o sofrimento.
Afugentai, com todas as forças da vossa alma, a negra visão do suicídio,
porque, desventurados, se nele cairdes, se cederdes às suas tenebrosas sugestões,
então se abrirá para vós o verdadeiro inferno, aquele em que, sem metáfora, mas
real e dolorosamente, há choro e ranger de dentes.
No suicídio se nivelam todas as dores, porque ele determina o maior e mais
desesperado de todos os sofrimentos.
A dor, a negra, a profunda dor, dentro da tremenda impressão de que não
haverá misericórdia, nem remissão para o réprobo, o covarde, o trânsfuga, que
jogou à face da Justiça do Divino Pai o saldo da sua conta.
Pensai nisto e jamais admiti, nas vossas amarguras, a idéia desse terrível
tentador — o suicídio.
Raul Martins – O Martírio dos Suicidas – Cap. 3 – As Tragédias
Nota:
Raul de Souza Martins – Juiz Federal da 1º Vara do Rio de Janeiro
Desencarne: 21 de Novembro de 1920 – Rio de Janeiro
Nascimento; 4 de Outubro de 1873 – Maranhão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 273
DEPOIMENTO 39 Joaquim Mousinho d'Albuquerque
Quem promete constitui dívida. Prometi que também te daria uma
comunicação. Constituí-me, também nisso, teu devedor. Vou pagar para não
acumular na minha dívida mais esta fração. Que não solva para contigo o que não
posso, terá desculpa; agora que me faça insolvente até naquilo em que me é tão fácil
e até tão aprazível satisfazer, é que nada desculpará.
Entre muitos assuntos, que disputam a minha atenção, quero escolher um
que tenha alguma coisa de útil e de produtivo.
Banal é tudo quanto se passa no mundo e com aqueles que ainda nele se
encontram, para que os que já dele não são, venham com banalidades e bagatelas.
A emancipação pela morte a brenos vastos e infinitos horizontes novos, ao
mesmo tempo que limita, e cerra até, pontos de vista que supúnhamos de uma
vastidão sem fim e de uma grandeza absoluta.
É que o nosso modo de ver na Terra é tudo quanto há de mais falso e
convencional.
Não temos idéias absolutas. São tudo coisas relativas e pequenas. Tudo
fantástico, como as vistas de um teatro.
Olhadas a distância, semelham castelos, jardins, mares sem fim, palácios
encantados, dando-nos a sensação da maravilha e da verdade.
Examinadas, tateadas de perto, enchem-nos de desolação e de tristeza, por
conhecermos que são tudo míseras telas de papel ou de aniagem mal borradas de
tintas grosseiras.
Fui um dos loucos, dos visionários, a quem a luz demasiada da ambição e
da glória deslumbrou, provocando a fantástica ilusão da miragem. Desorientou-me
e ceguei.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 274
Tudo que me cercava, tudo que via e ouvia, tudo que sonhava e a que
aspirava era ilusório e falso, como ouropéis de histrião; e eu — ai de mim! —
tomava tudo por verdadeiro e de valor real.
Quando supus despertar do delicioso sonho em que o meu orgulho e a minha
vaidade me embalavam, senti-me pequeno e perdido.
Então todo o meu ser se revoltou. Achei fementido o riso da mulher em que
supunha amor; achei banal a honra e o galardão em que distinguiam o ato da loucura
generosa que me celebrizou; achei falsa a amizade dos que me estendiam os braços
e me enalteciam o valor; reconheci a inveja e a intriga contra mim daqueles que,
aparentemente, me lisonjeavam; e vi a fragilidade do amparo, que eu supunha
sólido e eterno, para os momentos dolorosos da tempestade, começada já a
desencadear-se.
E no meu íntimo senti uma grande onda de tédio pela vida, e por tudo de
que ela se compõe. Tédio e pavor.
Ao mesmo tempo que me entediei, afligi-me por ver cair, em minha volta,
tudo que me seduziu, tudo que amei, tudo que supunha me era devido por direito
de conquista, e por direito da força.
Eu, que não tremi, quando no Kraal do Gungunhana vi milhares de
guerreiros, a quem um aceno faria precipitar sobre mim e sobre os meus queridos
companheiros de glória ou de morte; eu, que nunca soube o que era medo em frente
das carabinas e das azagaias das "mangas" de guerreiros africanos, senti-me covarde
e fraco para me segurar no terreno escorregadio e falso, ricamente alcatifado, que
pisava, e para arrostar com as frases dúbias, os sorrisos equívocos, as manifestações
misteriosas e significativamente desdenhosas daqueles que pouco antes eram
vulgares aduladores, ou, quem sabe, sinceros e amistosos admiradores meus.
Quis fugir. O ciúme, a inveja, a fraqueza, torturavam-me. O meu cérebro, a
despeito da minha aparente serenidade, era um inferno!
A cada momento surgia um expediente, um projeto, que era logo
abandonado e substituído por outro ineficaz como ele.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 275
Em todos pensava, todos tentava, para evitar a deserção derradeira pela
morte voluntária.
Nenhum, porém, encontrei que me parecesse mais digno e mais forte.
Via que o meu ocaso chegava aceleradamente, e não me sentia com forças
para encarar com sangue frio e coragem a minha derrota.
A audácia, que foi durante muito tempo a minha estrela, desaparecera.
Atemorizei-me feito uma criança.
O meu colossal orgulho apontava-me a Rocha Tarpéia em que ia tombar do
Capitólio; e toda a minha força restante, reunida, atingiu só a soma de energia
necessária para liquidar, logicamente, uma situação angustiosa para mim, e que
estava sendo embaraçosa, e talvez embaraçosíssima, para alguém mais.
Na minha saída inopinada do mundo, libertando-me de um sofrimento, que
se me ia tornando intolerável, prestava ainda um serviço àquelas pessoas que, por
bem justa gratidão, me mereciam esse derradeiro serviço.
Nem sempre vi como agora vejo.
Já depois da minha morte terrena, fui gravemente injusto e mau para quem
só reconhecimento me merece.
Disto me penitencio, especialmente perante aqueles diante de quem disse
coisas bem condenáveis e bem dignas de execração!...(1)
Eram filhas da turbação e da dor!...
Mas, prosseguindo, direi que a morte violenta se me antolhava como
liquidação forçada e única para passar à inatividade absoluta.
(1) Alusão a coisas que, por outros médiuns, disse em presença de muitas
pessoas. (Nota do médium Fernando de Lacerda.)
Dentro do meu íntimo, eu não acreditava na sobrevivência à morte, de
qualquer parcela do meu ser.
Matéria, só matéria, supunha eu; e à matéria volveria com uns gramas de
chumbo através do meu cérebro.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 276
Pus por obra este meu último plano de ataque; e, por bem ou mal meu, mais
uma vez o êxito coroou a minha ação. Pum! Um tiro, e ficaria encerrada a página
última do livro da minha vida.
Supremo engano! Essa página voltava-se simplesmente; e, na página
seguinte, encontravam-se as coisas mais pavorosas que imaginação alguma pode
conceber!
E eu, que queria desertar da refrega, ia cair em pleno arraial inimigo, cheio
de mutilações e de sofrimentos horrorosos.
Quando supunha chegar para mim o descanso, a morte trouxe-me o martírio
indizível da prolongação da vida, na sua manifestação mais tormentosa!
Apossou-se de mim o remorso mais terrível; e parece que todos os tormentos
de ordem moral, consequência de uma vida de orgulho, de vaidade, de
desregramento e de íntima negação vieram, como demônios fabulosos, gritar
permanentemente, nas minhas malditas recordações, a inanidade da minha vontade,
a improficuidade da minha ação; o erro da minha descrença e a loucura do meu
suicídio, ao mesmo tempo que a sensação da dor física da hora extrema se aferrava,
aferrava persistentemente ao meu cérebro, como se a bala que o atravessara não
acabasse nunca a sua trajetória destruidora e terrível.
Então eu, que queria fugir pela deserção da morte, do campo de batalha,
onde me sentia vencido, entrava apavorado em fabuloso campo de desespero, para
mim inteiramente inesperado; e no meu ser, que eu sentia uno, íntegro e perfeito,
revoluteavam todas as dores morais que me haviam conduzido àquele ato de
rematada loucura, agravadas pelo remorso do passado, com a aflição pelo
desconhecido que via abrir-se diante de mim.
Remorso do passado, de que supunha afastar-me e que, entretanto,
continuava a queimar-me com ferro candente; aflição pelo que o meu juízo
entenebrecido antolhava para o meu futuro.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 277
Todos esses tormentos eram requintadamente aumentados com o fato
absolutamente inconcebível de eu continuar a sentir todos os sentimentos,
absolutamente todos, que a loucura e a perversão haviam aninhado no meu coração
em vida; e agora, sem a mais ligeira sombra de esperança na misericórdia e no
perdão de quem eu quisesse ou pudesse ofender, ou tivesse ofendido.
E, morto, assistia ao fragor que a minha morte causou.
Dava-me a impressão material do eco, infinitamente aumentado, a repercutir
a detonação do tiro que aniquilaria a minha vida carnal.
Desvairado, perdido, aproveitando uma leveza e uma celeridade indizíveis
e desconhecidas, corria vários sítios, apresentando-me, gritando aflito:
— Estou vivo e sofro; perdão, perdão!
Mas ninguém me ouvia, e creio que ninguém me via.
A aflição não podia ser maior, nem mais infernal!
Sentia-me precito, perdido para sempre!
Piedosas criaturas procuravam serenar-me, chamar-me à razão e ao
arrependimento.
Eu blasfemava então como doido varrido.
Maldizia todos. Crivava de pragas horrorosas aqueles a quem a minha fúria
insensata culpava do suicídio, que me perdia sem remédio.
Desconhecia ou queria desconhecer que o culpado fora só eu,
exclusivamente eu. Deixara-me dominar pelo orgulho e pela vaidade, obedecendo,
cega e passivamente, a todas as sugestões que eles imprimiam no meu cérebro, de
natural leviano e impressionável.
Não tinha tido a fé e a paciência dos justos, que permitiria encarar
resignadamente todos os acidentes que poderiam ter acontecido, mas que também
era provável não se terem dado nunca; e, por virtude disso, sentindo-me fraquejar,
na convicção íntima do aniquilamento, preferi atirar-me cegamente para a escura
garganta da morte, por modo tão trágico e tão romântico, como traço derradeiro e
acentuadíssimo da minha personalidade terrena.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 278
Tudo isso eu via e sentia; tudo isso aparecia e desaparecia constantemente
ante o meu juízo e o meu olhar espantado, enquanto a bala perfurava o meu cérebro
dolorosamente, sem terminação, sem desfalecimento, sem uma suspensão de
hostilidade e de martírio.
Para mim, não havia esperança de perdão, nem consolação possível.
Assim passei eternidades, até que à Misericórdia Divina aprouve deixar
entrar a luz do arrependimento e da resignação em minha alma denegrida; e a calma,
o sossego, foram entrando em mim como a claridade entra em um recinto escuro,
filtrada por um interstício mal vedado.
E na altura em que te falo, o Mousinho, o "grande" Mousinho, já não é o
último dos sofredores.
É uma criatura conformada e humilde, sinceramente arrependida; quase
curado dos corrosivos estragos feitos pelos ruins sentimentos que o animavam na
Terra, e inteiramente curado da ferida que a maldita bala fazia pavorosa e
permanente.
Sereno te falo, amigo querido, a quem nem de vista conheci na Terra; sereno
te falo, e bem sabes como o que te digo é verdade.
Esta serenidade, depois de tão prodigioso sofrimento, e ainda mais
prodigiosa e milagrosamente aliviado do que era merecido, habilita-me a dizer a
todos os cérebros onde ainda possa caber um vislumbre de reflexão — Acautelai-
vos contra o orgulho. Ele faz amar a vaidade, a lisonja e a maldade; ele faz supor a
um pigmeu que é um titã fabuloso; e, depois de ter conduzido aí a vida humana por
veredas coalhadas de espinhos e de amarguras, precipita-a no Inferno, e não raro
pela porta derradeira e mais tormentosa dessa pavorosa estância de Aquém Morte:
— a do suicídio.
Pior do que o suicídio, friamente meditado como uma fuga covarde, há só
uma coisa: — o suicídio friamente meditado como uma fuga covarde.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 279
É possível que outras haja que o igualem na escala da maldade e do
sofrimento; é possível; mas contra esta que bem conheço e que me perdeu, é que eu
desejo pôr em defensiva quem tenha olhos para ver e alma para sentir, e possa pré
adivinhar quanta verdade e quanta mágoa existe no que deixo dito.
Abram bem os seus olhos, como se diz na obra de Júlio Verne; abram bem
os seus olhos!
Hesitas em se deves publicar isto. É da minha vontade que seja publicado.
Os que acreditarem que é meu, compadecer-se-ão de mim.
Os que não acreditarem, dirão: — podia bem ser dele... E isto basta. É a
dúvida nestes espíritos; é o interstício, mal vedado, que deixará entrar a luz possível
na escuridão das suas almas.
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque – Do País da Luz – 1º Volume –
Cap. 34
(28 de novembro de 1906)
Nota:
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque (Quinta da Várzea, 11 de
Novembro de 1855 – Lisboa, 8 de Janeiro de 1902)
Foi um Oficial de Cavalaria português que ganhou grande fama em
Portugal por ter protagonizado a captura do
Imperador Nguni Gungunhana em Chaimite (1895)
Assim como pela condução da subsequente campanha de pacificação das
populações locais à administração colonial portuguesa, ou da sua conquista e
subjugação, no território que viria a constituir o atual Moçambique, e entre outras
coisas uma das mais brilhantes figuras militares portuguesas, herói de Chaimite e
de Gaza, durante as gloriosas campanhas de África (1894-1895), e um dos mais
notáveis administradores coloniais.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 280
(...)
Incapaz de, pela sua própria formação militar rígida e pelo feitio, resistir ao
clima de intriga acerca do seu comportamento em África, Mouzinho de
Albuquerque preparou minuciosamente a sua morte, suicidando-se no interior de
um coupé, na Estrada das Laranjeiras no dia 8 de Janeiro de 1902
Wikipedia – Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 281
DEPOIMENTO 40 Roberto Eduardo
Roberto Eduardo Magnavita de Menezes, nasceu no dia 04.05.60 na cidade
de Ilhéus (BA), desencarnando em Salvador (BA), no dia 14.02.86, com 25 anos de
idade, por suicídio, atirando-se da janela do edifício onde residia, no 7º andar.
(...)
No sábado, 14 de junho de 1986, Divaldo encontrava-se em Salvador e
participou da reunião doutrinária do Centro Espírita “Caminho da Redenção". _
O tema da noite, inspirado na Caridade, abordava a virtude por excelência,
enquanto sucessivas ondas de paz e amor dominavam o auditório atento.
Divaldo psicografava, visivelmente comovido, percebendo-se que o
missivista do Além chorava através do médium, à medida que mandava as suas
notícias aos familiares queridos.
Concluída a escrita, para surpresa e emoção geral, Roberto nos trouxe esta
bela e oportuna lição, na qual nos demonstra a interferência obsessiva no suicídio,
chegando o seu drama a ser o de um assassinato espiritual.
1º Mensagem – 1986 – Junho – 14/06/1986
Mãezinha querida:
Seu filho está chorando de felicidade, embora o infortúnio que desabou
sobre nós.
Não tem sido fácil para você, nem para mim, a vida nestes últimos tempos.
Só a confiança em Deus nos dá coragem para vencer cada dia, esperando o
amanhã, que há de ser melhor do que o ontem e o hoje.
Venho escrever-lhe, a fim de asserenar-lhe a alma sofrida.
À medida que o tempo transcorre, mais você sofre, e eu participo das suas
agonias ...
Ouço o seu pensamento, vejo as suas lágrimas e tenho mágoa de ser o
responsável por este estado de agonia, que eu nunca imaginei iria acontecer.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 282
Eu sabia que você me amava, pois era a mãe confidente do filho inquieto e
inseguro. Todavia, você me ama além do que eu imaginava. Só o amor materno é
capaz de tanta doação, que eu não consigo avaliar.
Sempre instável, eu era um sofredor. O medo me perseguia sempre. Eu
procurava disfarçar, sem conseguir êxito. Procurava vencer, sem ter forças.
Buscava amparo sem crer nele. Tudo me era mais difícil do que se possa
imaginar.
Que me recorde, tudo começou ou se foi agravando, ainda quando
morávamos em Ilhéus (1), logo que nos mudamos para cá... as dúvidas e incertezas
a respeito de mim mesmo assaltavam-me e eu me atormentava entre a agressividade
e a depressão, tentando fugir, consumir-me.
Você tentou, todos tentaram ajudar-me sem resultado.
Eu não conseguia ajudar-me. E isto foi a minha ruína.
Hoje é dia de recordações. Ouvi você em casa lembrando-se de mim, como
tem feito todos os dias; pior, quando retornou do Rio, e não me encontrou, nos dias
de jogos do Brasil, sem o seu Roberto, e mais particularmente, neste dia 14, que
recorda aquele dia 14 de fevereiro ... Noite cruel, madrugada dolorosa. (2)
É corno se tudo estivesse programado, para acontecer o drama trágico.
Antes, um pouco, depois de um dia amargo e deprimente, eu me sentia
regularmente... O telefone tocou, chamando-me.
Não sei se você se recorda. Eu não queria sair, mas, a insistência foi tal que
resolvi atender. (3)
Retomei tarde. Eu me recordo que eram quase três horas da manhã. Ainda
tentei manter-me calmo.
Eu estava num turbilhão. Tomei banho. Nova crise, sem saber por que ou
como, uma força terrível levou-me ao gesto de loucura.
Conscientemente eu não queria atirar-me lá em baixo. Eu sabia que não
tinha este direito. Eu não podia fazer aquilo, porque iria ferir você, toda a família ...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 283
Dominado por uma ação maior do que as minhas resistências, impulsionou-
me ao salto no espaço.
Quis gritar e a voz morreu na garganta. Quis recuar e era tarde. Foi rápido
demais. (4)
É certo que, de quando em quando, eu pensava no suicídio.
No íntimo, porém, eu queria viver, necessitava de viver ...
Faltava-me alegria, equilíbrio.
Você recorda que eu não conseguia levar nada adiante: nem estudos, nem
trabalhos, nem amigos ... (5)
Agora são dolorosas recordações e muito sofrimento.
Não lhe oculto o quanto sofri e prossigo experimentando como é natural.
Foi num momento impossível de descrever, que vovó me apareceu,
amparando-me, em nome de Deus ...
Adormeci, sem ter paz. Pesadelos terríveis me assaltavam.
A queda no espaço, o arrependimento, o desespero se afiguravam corno
horror infernal.
Eu me recordo que ouvi uma voz me chamando. Ao despertar, apesar do
torpor, vi um sacerdote vestido de cor clara, que me disse: "Roberto, eu sou
Eduardo, que antes fui bispo em Ilhéus e venho dizer-lhe que tudo está bem." (6)
Senti uma grande calma e então, consegui adormecer novamente ...
Não posso reunir todas as lembranças para narrar aqui.
O que desejo dizer-lhe é que não sofra mais. O seu sofrimento me perturba.
Acalme-se e aceite esta dolorosa realidade, confiando no tempo. Amanhã
será um outro dia para nós.
A irmã Joanna de Angelis, que me ajuda nesta carta, pede-me encorajá-la, a
fim de que sejamos felizes.
Deus não nos abandona e estou aprendendo a crer, a entender.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 284
Eu prossigo internado em um verdadeiro hospital para suicidas como sou
considerado, apesar dos atenuantes que me concedem a caridade de sofrer menos...
Peço perdão ao "velho" pai Elsito (7), que agora valorizo e procuro melhor
compreender. Cumpridor dos seus deveres, eu reconheço, ele estava cansado de
mim. Eu não fazia o necessário para agradá-lo.
Agradeço com carinho o Mimo com quem eu implicava, às vezes, até sem
querer, a Nena e a Liana (8), pedindo-lhes que me recordem aos familiares dos seus
corações.
Sempre será 4 de maio (9) para nossos corações.
Nestes 26 anos de vida física (10), interrompidos naquele 14 de fevereiro,
eu não pude crescer para Deus, nem para você, nem para ninguém.
Confio que agora será melhor para nós.
Prometa-me, mãezinha querida, que você se acalmará e viverá mais feliz,
com isso ajudando o seu filho que prossegue necessitando do seu carinho, das suas
orações, das suas ações do bem.
Altere meu quarto. Desfaça de muita coisa, agora sem sentido e que poderá
ser útil aos desafortunados, em memória de mim.
Não me é permitido alongar-me por mais tempo. Quando Deus permitir,
voltarei a dar-lhe notícias.
Esteja tranqüila e perseverante no Bem.
Com saudades e carinho a você e aos nossos, o filho sofredor e agradecido,
sempre afetuoso e necessitado, que a beija, rogando a Deus por nós,
Roberto Eduardo – Vitória da Vida – Pag. 115
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 285
2º Mensagem – 1986 – Dezembro – 20/12/1986
Meu querido pai Elsito, minha querida mãezinha Lêda, estou aqui, rogando
a Deus que nos abençoe!
Aguardei este momento com crescente ansiedade, receando não merecer a
oportunidade.
Informado, há pouco, de que me fora concedido o ensejo, encontro-me
emocionado e sob a direção da Benfeitora Joanna de Ângelis, tomo do lápis
mediúnico para esta breve carta do coração.
Tudo é alegria em mim, porque, lúcido, adquiro responsabilidade e
compreendo melhor a vida.
O sofrimento é fenômeno normal e não punição, ensinando-me a valorizar
as dádivas de Deus que não soube ou não quis considerar, quando no corpo, mas,
que agora me significam muito.
Lentamente vou superando-me, porque não penso no passado em termos de
recordações infelizes, senão, como lições que me empurram para o futuro
promissor.
Repasso as lembranças positivas e bendigo-as, considerando aquelas
amargas, como necessárias para o meu progresso.
A terra não dilacerada pelo arado, jamais produz, realizando o mister, para
o qual está destinada. Assim, também, é a criatura...
Hoje, ainda prossigo sob carinhoso tratamento espiritual, mesmo após estes
10 meses (11), que não significam muito, em nossa área de movimentação, nesta
esfera da vida.
Apesar disso, para os sentimentos de saudade, representam um século de
separação...
É tão difícil dizer o essencial quando o tempo está sob controle e o que nos
cumpre esclarecer se encontra sob orientação!
Acompanho os dias da mãezinha, com os seus altibaixos e participo das suas
preocupações ...
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 286
O seu pensamento me alcança com todas as interrogações que lhe pesam,
no momento, na alma.
Gostaria de poder respondê-las todas, mas o tempo e os deveres novos não
me permitem.
Estou feliz pelo Mimo com a sua viagem aos Estados Unidos. (12)
Perseverante ele conseguiu e eu sorrio de alegria, recordando-me das minhas
implicâncias com o querido irmão, que, certamente, já me perdoou.
Estive no seu aniversário, mãezinha, no dia 3 de novembro, (13) e desejei
falar-lhe, a fim de tranqüilizá-la. Não me foi possível.
A correspondência, daqui, para aí, não é fácil e exige que muitos fatores se
conjuguem, para que tudo resulte favorável.
Acompanho os passos da Nena e da Liana participando, de maneira
diferente, do que lhes acontece no lar ou nas ansiedades da alma.
Peço a Deus que as acompanhe.
Meus queridos pais, este é um presente de Natal, que me pareceu
significativo para oferecer-lhes hoje, agradecendo-lhes tudo quanto fizeram por
mim e ainda o fazem.
Estou incumbido de dizer a D. Sónia (14), que o seu filho aqui presente,
pede-me para dizer-lhe que, amanhã, celebrará o segundo aniversário da sua
libertação ao seu lado (15) e que se sente muito feliz, profundamente reconhecido
ao seu amor, beijando-a, afetuosamente.
Não me posso alongar mais. O essencial está apresentado.
Guardem-me nas suas preces.
... E, na noite do aniversário de Jesus estarei visitando nossa Casa, dizendo-
lhes, desde já: Deus os faça felizes, meus pais, e perdoem o seu filho insensato!
Com o carinho pela família querida, que brota do coração, o filho
arrependido, que luta pela redenção e os ama, sempre reconhecido.
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 287
(1) - Ilhéus (BA) - Cidade onde nasceu e viveu o missivista desencarnado.
(2) - Estas informações são extraordinárias, pois que se referem a
ocorrências reais, confirmadas pela genitora O dia 14, que recorda aquele dia 14 de
fevereiro ... Noite cruel, madrugada dolorosa, constitui a recordação do suicídio,
naquela oportunidade, quando Roberto atirou-se pela janela do 7º andar do prédio
onde residia
(3) - Este detalhe foi igualmente confirmado.
(4) - Referência à força espiritual adversária que o levou ao suicídio.
(5) - O missivista, realmente, padecia destas alternâncias de comportamento.
(6) - Dom Eduardo, foi um missionário amoroso, que viveu em Ilhéus e goza
de muito carinho pelos seus feitos antes e depois da desencarnação.
(7) - Sr. Elsito - Genitor de Roberto.
(8) - Mimo, Liana e Nena - Irmãos de Roberto. Os primeiros são jovens e
solteiros. Nena é casada e mãe.
(9) - Sempre será 4 de maio - Data de aniversário do missivista.
(10) - Vinte e seis anos de vida física - Informação confirmada
(11) - Realmente transcorreram 10 meses desde o dia da desencarnação do
jovem.
(12) - Dado exato - Viagem do Mimo aos Estados Unidos.
(13) - Data correta, 3 de novembro.
(14) – D. Sónia - Mãe de outro jovem que desencarnou em acidente e se
encontrava presente à reunião.
(15) - O filho de D. Sônia desencarnou há dois anos, na data referida,
conforme elucidação da mesma senhora.
Roberto Eduardo – Vitória da Vida – Pag. 123
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 288
4 REFERÊNCIAS
Esta relação bibliográfica não está, intencionalmente, seguindo os padrões
usuais – está numa forma mais sintética, fazendo uma correlação direta entre o texto
do trabalho e os livros/mensagens.
Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 1 Allan Kardec – A Gênese – Cap. 14 – Obsessões e Possessões
2 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 941
3 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 957
4 Allan Kardec – Livro dos Espíritos – Perg. 961
5 Allan Kardec – Livros dos Espíritos – 4º Parte – Cap. 1 – item 6 – Perg. 944
6 Allan Kardec – O Céu e o Inferno – 2º Parte – Cap. 5 – Suicidas
7 Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 28 – item 81 – Pelos Obsidiados
8 Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 5 – Item 14 – O Suicídio e a Loucura
9 Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – Cap. 23 – Item 237 – A Obsessão
10 Allan Kardec – Obras Póstumas – 1º Parte – Cap. 7 – Item 56 – Da Obsessão e da Possessão
11 Allan Kardec – Revista Espírita — Abril 1861 — 3° Artigo — Alfred Leroy
12 Allan Kardec – Revista Espírita — Junho 1858 — 3° Artigo – O Suicida da Samaritana / O Céu e o Inferno – 2ª Parte – Capítulo 5 – Exemplo 1
13 Altamir da Cunha – Revista Reformador – 2006 – Dezembro – Perdas, Depressão e Suicídio
14 Amílcar Rodrigues Passos – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 8 – Fuga Desastrosa
15 Ana Elisa Bastos Figueiredo – Impacto do suicídio da pessoa idosa em suas famílias
16 Ana Elisa Sena Klein Da Rosa – Suicídio e fragilidade social na velhice, uma triste realidade – Revista Portal de Divulgação No 12, Julho/ 2011
17 André Luiz – Busca e Acharás – Cap. 19 – Texto Antidepressivo
18 André Luiz – Caderno de mensagens – Cap. 66 – Remédio contra o Tédio
19 André Luiz – Estude e Viva – Cap. 35 – Influências Espirituais Sutis
20 André Luiz – Libertação – Cap. 11 – Valiosa Experiência
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 289
Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 21 Anônima – Depoimentos Vivos – Cap. 12 – Suicida
22 Antero de Quental – O Martírio dos Suicidas – Cap. 4 – O Problema
23 Antero de Quental – Parnaso de Além-Túmulo – Cap. 10 – Antero de Quental
24 Antero de Quental – Seara da Esperança – Cap. 9 – Confissão
25 Antônio Carlos Martins Coutinho – Reencontros – Cap. 6 – Regresso Inesperado
26 Arnold Souza – Rumos da vida — Cap. 2 – Vida diária
27 Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – 1º Parte – Cap. 3/6
28 Bezerra de Meneses – Dramas da Obsessão – Cap. 6
29 Breno Rosostolato – Suicídio e Depressão, Conhecer Para Prevenir Fórum Espirita
30 Camilo Castelo Branco – 1936 – médium Francisco Cândido Xavier – O Martírio dos Suicidas (Almerindo Martins de Castro) – Pag. 44
31 Camilo Castelo Branco – Do País da Luz – Vol. 4 – Cap. 42 – médium Fernando de Lacerda – 1918
32 Cândida Maria – Depoimentos Vivos – Cap. 44 – Fuga e Realidade
33 Carneiro de Campos – Sementes de Vida Eterna: Cap. 8 – Doença e Terapêutica
34 Casimiro Cunha – Gotas de Luz – Cap. 34 – Apartes
35 Charles – Recordações da Mediunidade – Cap. 6 – Testemunho
36 Cláudia Pinheiro Galasse – Amor e saudade – Cap. 6 – Cláudia Pinheiro Galasse
37 Cláudio Bueno da Silva – O Consolador – Ano 7 – N° 333 – 13 de Outubro de 2013 – Homicídios Espirituais
38 Cornélio Pires – Astronautas do Além – Cap. 3 – Suicídio
39 Cornélio Pires – Degraus da Vida – Cap. 9 – No abuso
40 Daniel J. Reidenberg, diretor do Conselho Nacional para Prevenção de Suicídios (USA) – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA
41 Décio Marcio de Carvalho – Porto de alegria – Cap. 9 – Custa-me confessar-lhes que estou cego
42 Dias da Cruz – Revista Reformador – 2005 – Agosto – Suicídio na Adolescência
43 Dimas Luiz Zornetta – Assuntos da vida e da morte – Cap. 2 – Dimas Luiz Zornetta
44 Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de Ferro
45 Divaldo Franco – O Semeador de Estrelas – Cap. 22 – A Moça da Praia
46 Divaldo Franco/Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o suicídio
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 290
Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 47 Dora Incontri – Suicídio, a visão espírita revisita – 21/Setembro/2015
48 Edith Serfaty – Suicídio na Adolescência/1998 – SASIA–Sociedad Argentina de Salud Integral dei Adolescente–Revista Adolescência Latino–americana – 1414– 7130/98/1–105–110
49 Eileen Kennedy-Moore – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA
50 Elias Barbosa – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta
51 Elisa Seminotti, psicóloga brasileira, especialista em Saúde Pública – UFRGS– Suicídio Infantil – Reflexões sobre o cuidado médico/2011
52 Emmanuel – Coragem – Cap. 1 – Quando o Tédio apareça
53 Emmanuel – Recados do Além – Cap. 28 – Imortalidade
54 Ênio Resmini – Suicídio na Adolescência. Psichiatry on Line Brazil, Part of The International Journal of Psychiatry – ISSN 1359 7620, v. 11, n. 1, mar/2016
55 Eurípedes Barsanulfo – Sementes de Vida Eterna – Cap. 50 – Tormentos da Obsessão
56 Evaldo D`Assumpção – Sobre o Viver e o Morrer – Introdução/Cap. 4/Cap.6
57 Fátima Gonçalves Cavalcante – Diferentes faces da depressão no suicídio em idosos – Ciência & Saúde Coletiva, vol. 18, núm. 10, Outubro/2013
58 Fernanda Luiza Batista – Vida nossa Vida – Cap. 5 – Fernanda Luiza Batista dos Santos
59 Francisca Julia – Antologia dos Imortais – Cap. 28 – Adeus
60 Francisca Júlia da Silva – Vozes do Grande Além – Cap. 18 – Suicídio
61 Francisco Adonias Nogueira Filho – Entes queridos – Cap. 5 – Francisco Adonias Nogueira Filho
62 Francisco Ângelo de Souza – Depois da Vida – 2º Parte – Cap. 5 – Notícias do Além
63 Francisco Cândido Xavier – A Terra e o Semeador – Perg. 136
64 Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 190
65 Francisco Cândido Xavier – O Evangelho de Chico Xavier – Item 222
66 Francisco Dias da Cruz – Vozes do Grande Além – Cap. 24 – Obsessão Oculta
67 Francisco M. Dias da Cruz – Revista Reformador – 2006 – Dezembro
68 Ghislaine Bouchard, psiquiatra canadense – O Suicídio na Adolescência/2003
69 H – Depoimentos Vivos – Cap. 32 – Amarga Experiência
70 Heloísa Noronha – Suicídio de Walmor Chagas serve de alerta para a depressão na velhice – UOL–04/11/2015
71 Herculano Pires – Obsessão, Passe, e Doutrinação – 1º Parte – Cap. 8 – Roteiro da Desobsessão
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 291
Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 72 Hermes Fontes – Chico Xavier – O Primeiro Livro – 3ª Parte – Cap. 20 – Vozes
do sofrimento
73 Hermes Fontes – O Martírio dos Suicidas – Cap. 1 – Ilusões Funestas
74 Hermínio de Miranda – Revista Reformador – 1993 – Novembro – Vale a pena suicidar-se?
75 Hilda – Vozes do Grande Além – Cap. 40 – Suicídio e Obsessão
76 Humberto de Campos – Estante da vida – Cap. 1 – Encontro em Hollywood / Revista Reformador – 1966 – Julho – Pag. 147 – Entrevista com o Além
77 Humberto de Campos – Estante da Vida – Cap. 2 – Entrevista com uma Suicida
78 Izaias Claro – Depressão Causas, Consequências e Tratamentos – Pag. 104
79 Joanna de Angelis – Adolescência e Vida – Cap. 25 – O adolescente e o suicídio
80 Joanna de Ângelis – Alerta – Cap. 4 – Obsessão e Jesus
81 Joanna de Angelis – Alerta – Cap.28 – Loucura Suicida
82 Joanna de Ângelis – Luz Viva – Cap. 14 – Loucura Suicida
83 Joanna de Angelis – Momentos de Iluminação – Cap. Opção pela Vida
84 Joanna de Ângelis – Momentos de Saúde e de Consciência – Cap. 14 – Dias de Sombras
85 Joanna de Angelis – Revista Reformador – 1988 – Maio – Loucura e Suicídio
86 Joanna de Angelis – Rumos Libertadores – Cap. 43 – Médiuns Conscientes
87 João Alves de Souza – Vivendo sempre – Cap. 10 – João Alves de Sousa
88 Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque – Do País da Luz – 1º Volume – Cap. 34
89 Jorge – Instruções Psicofônicas – Cap. 18 – Drama na sombra
90 Jorge Andréa – Revista Presença Espírita – No 91 – 1981 – Dezembro – Suicídio
91 José Teodoro Caldeira – Presença de Chico Xavier – Cap. 14 – Carta de um suicida à sua mãe
92 Júlio César C. da Silveira – Gratidão e Paz – Cap. 13 – Júlio César C. da Silveira
93 Karen Scavacini, – Em dez anos, suicídio de crianças e pré-adolescentes cresceu 40% no Brasil – http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-dez-anos-suicidio-de-criancas-e-pre-adolescentes-cresceu-40-no-brasil.html
94 Leon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor –1º Parte – Cap. 10 – A Morte
95 Liana Wernersbach Pinto – Evolução temporal da mortalidade por suicídio em pessoas com 60 anos ou mais nos estados brasileiros, 1980 a 2009 – Rio de Janeiro: ABRASCO, v. 17, n. 8, ago. 2012
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 292
Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 96 Liana Wernersbach Pinto – Revista Ciência & Saúde Coletiva/2012
97 Lima – Instruções psicofônicas – Cap. 23 – Companheiro em luta
98 Lincoln Prata Lóes – Claramente vivos – Cap. 3 – Não julguem que tivesse usado minhas mãos no suicídio
99 Lisa Elliott – BBC Brasil– 07/08/2017/Número de crianças hospitalizadas por tentativa de suicídio dobrou nos EUA
100 Louis Nivard – Revista Espírita – Janeiro 1869 – 9° Artigo – suicídio por obsessão
101 Lúcia Ferreira – Entre duas Vidas – Cap. 4 – Jovem Suicida
102 Luís Alves – Vozes do Grande Além – Cap. 26 – Um caso singular
103 Luís de Lamônica – Revista Espaço Espiritual – Setembro/2001
104 Luís Fernando – A volta – Cap. 13 – Mensagem de Luís Fernando Botelho de Moraes Toledo
105 Manoel Philomeno de Miranda – A Transição Planetária – Cap. 11 – Aprendizado Constante
106 Manoel Philomeno de Miranda – Loucura e Obsessão – Cap. 24 – O Trágico Desfecho
107 Manoel Philomeno de Miranda – Nas Fronteiras da Loucura – Cap. Análise das Obsessões
108 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 4 – Estudando o Hipnotismo
109 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 6 – No Anfiteatro
110 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Cap. 8 – Processos Obsessivos
111 Manoel Philomeno de Miranda – Nos Bastidores da Obsessão – Examinando a Obsessão
112 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 1 – Provação Necessária
113 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 12 – Providências Inesperadas
114 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 24 – Obsessão Sutil e Perigosa
115 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 31 – Gravames na Obsessão
116 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 32 – O Retorno de Felipe
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 293
Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 117 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Cap. 7 – Sementes da
Insensatez
118 Manoel Philomeno de Miranda – Painéis da Obsessão – Prefácio
119 Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 1o Parte – Cap. 5 – Obsessão, Idiotia e Loucura
120 Manoel Philomeno de Miranda – Reencontro com a Vida – 2o Parte – Cap. 2 – Sutilezas da Obsessão
121 Manoel Philomeno de Miranda – Sementes de Vida Eterna – Cap. 30 – Considerando a Obsessão
122 Manoel Philomeno de Miranda – Sexo e Obsessão – Cap. 4 – O drama da obsessão na infância
123 Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 17 – Suicídio solução insolvável
124 Manoel Philomeno de Miranda – Temas da Vida e da Morte – Cap. 26 – Fenômenos Obsessivos
125 Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 3 – Reminiscências
126 Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 4 – Novos Descortinos
127 Manoel Philomeno de Miranda – Tormentos da Obsessão – Cap. 5 – Contato Precioso
128 Manoel Philomeno de Miranda – Trilhas da Libertação – Cap. 8/21/30
129 Márcio Candiani – Suicídio na Infância e Adolescência
130 Marcio Ricardo
131 Marco Prisco – Legado Kardequiano – Cap. 56 – Ideia
132 Marco Prisco – Sementeira da Fraternidade – Cap. 28 – Acessos à Obsessão
133 Marcos Emanuel Teixeira Santos – Vozes da Outra Margem – Familiares diversos – Capítulo 10 – Vítima da imprudência
134 Marcus Alberto de Mario – Prevenção do Suicídio – Revista Internacional de Espiritismo
135 Maria Cecília de Souza Minayo – Suicídio entre pessoas idosas: revisão da literatura – Revista Saúde Pública 2010;44(4):750–7
136 Marlene Nobre – Nossa Vida no Além – Cap. 9 – Adaptação à Vida Nova – Casos Especiais
137 Marta Antunes de Moura – Site FEB – Obsessões Espirituais – 2018/03/08
138 Marta Antunes Moura – Revista Reformador – 2007 – Maio – Suicídio na Adolescência
139 Martins Peralva – O Pensamento de Emmanuel – Cap. 35 – Suicídio
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 294
Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título 140 Maximiliano – Revista Espírita – Maio 1862 – 3° Artigo – Um Paixão de Além-
Túmulo
141 Milton Higino de Oliveira – Claramente Vivos – Cap. 8 – Filho de Volta
142 Orlando Candelária – Sorrir e Pensar – Cap. 13 – Temas da Obsessão
143 Paloma Oliveto – Sem Forças – Correio Braziliense – 17/02/2017
144 Pedro Augusto Souza Gonçalves – Porto de alegria – Cap. 4 – Deus tem caminhos para todos os filhos extraviados
145 Raimunda Magalhães da Silva – Influências dos problemas e conflitos familiares nas ideações e tentativas de suicídio de pessoas idosas – Ciência & Saúde Coletiva, vol. 20, núm. 6, Junho/2015
146 Raul Martins – O Martírio dos Suicidas – Cap. 3 – As Tragédias
147 Renata Zaccaro de Queiroz – Vitória – Cap. 17 – Auxilie-me com as suas preces e com os seus pensamentos de amor e perdão
148 Roberto Eduardo – Vitória da Vida – Pag. 31 –
149 Selma Rodrigues Sanches – Corações Renovados – Cap. 3 – Família Sanches / Intercâmbio do bem – Cap. 14 – Selma Rodrigues Sanches
150 Suely Caldas Schubert – O Semeador de Estrelas – Cap. 13 – O Máscara de Ferro
151 Suely Caldas Schubert – Obsessão e Desobsessão – Cap. 12 – A criança obsidiada
152 Universidade Nova Lisboa – CITI – O Suicídio de Camilo Castelo Branco
153 Valdirene Alves de Lima – Suicídio na Terceira idade – Universidade Católica de Brasília – 2010
154 Vitor Hugo – Párias em Redenção – 2º Parte – Cap. 1 – Infeliz despertar no Além
155 Vivian Roxo Borges – Estudo de ideação suicida em adolescentes de 15 a 19 anos. Estudo de Psicologia (Natal) Vol. 11, n. 3, Natal, Set/Dez.
156 Washington Luiz Nogueira Fernandes – Jornal Mundo Espírita – 2007 – Agosto
157 Wladimir Cesar Ranieri – Amor e saudade – Cap. 10 – Wladimir Cesar Ranieri
158 Yvone Pereira – Dramas da Obsessao – 1º Parte – Cap. 1
159 Yvonne Pereira – Devassando o Invisível – Cap. 10 – Os Grandes segredos do Além
160 Yvonne Pereira – Dramas da Obsessão –1º Parte – Cap. 1 – Leonel e os Judeus
161 Yvonne Pereira – Memórias de um Suicida – Introdução – 1954
ObsCídio – A Obsessão e o Suicídio 295
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