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6 MODELO PROPOSTO PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS BRASILEIROS 6.1 I NTRODUÇÃO A discussão quanto a que foco dar às avaliações de edifícios (avaliação ambiental ou avaliação de sustentabilidade) é vigorosa e com bons argumentos de ambos os lados (COLE; 1999; KÖHLER, 1999; COOPER, 1999). O principal argumento para a inexistência de avaliação de sustentabilidade de edifícios é a dificuldade em relacionar o progresso quanto a sustentabilidade do setor ou da nação com a escala do edifício, onde faria mais sentido se falar em avaliação ambiental (COLE; 1999). No entanto, este é um argumento frágil, pois é igualmente difícil relacionar o desempenho ambiental do edifício ao progresso em relação à sustentabilidade ambiental. A argumentação feita neste trabalho considera que a avaliação do desempenho ambiental do edifício é uma parte de um problema complexo, que pode ser mais ou menos significativa de acordo com o contexto específico da avaliação. A produção de edifícios tem desdobramentos sociais e econômicos claramente importantes, particularmente em países em desenvolvimento, que devem ser consideradas. O modelo de avaliação parte da premissa que construção sustentável significa atingir o desempenho requerido para edifício com o menor prejuízo ecológico possível, enquanto se promove melhoria social, cultural e econômica em nível local, regional e global. Propõe-se, então, avaliar não só o desempenho ambiental do edifício, mas, na extensão possível, a sua contribuição para um ambiente construído mais sustentável, através de incorporação de aspectos sócio-econômicos que possam ser relacionados à escala da produção e uso do edifício. 6.2 SOBRE A INCLUSÃO DA AVALIAÇÃO DE GESTÃO DO PROCESSO E DOS AGENTES ENVOLVIDOS Na agenda setorial discutida no Capítulo 5, a dimensão institucional relaciona-se à existência e ao nível de implementação de estratégias de sustentabilidade. Propõe-se aqui incluir a avaliação dos agentes envolvidos no processo para criar a cultura e o movimento consistente das práticas de mercado em direção a um patamar mais sustentável; e para

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6 MODELO PROPOSTO PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS BRASILEIROS

6.1 INTRODUÇÃO

A discussão quanto a que foco dar às avaliações de edifícios (avaliação ambiental ou

avaliação de sustentabilidade) é vigorosa e com bons argumentos de ambos os lados (COLE;

1999; KÖHLER, 1999; COOPER, 1999). O principal argumento para a inexistência de

avaliação de sustentabilidade de edifícios é a dificuldade em relacionar o progresso quanto a

sustentabilidade do setor ou da nação com a escala do edifício, onde faria mais sentido se

falar em avaliação ambiental (COLE; 1999).

No entanto, este é um argumento frágil, pois é igualmente difícil relacionar o desempenho

ambiental do edifício ao progresso em relação à sustentabilidade ambiental. A argumentação

feita neste trabalho considera que a avaliação do desempenho ambiental do edifício é uma

parte de um problema complexo, que pode ser mais ou menos significativa de acordo com o

contexto específico da avaliação. A produção de edifícios tem desdobramentos sociais e

econômicos claramente importantes, particularmente em países em desenvolvimento, que

devem ser consideradas.

O modelo de avaliação parte da premissa que construção sustentável significa atingir o

desempenho requerido para edifício com o menor prejuízo ecológico possível, enquanto se

promove melhoria social, cultural e econômica em nível local, regional e global. Propõe-se,

então, avaliar não só o desempenho ambiental do edifício, mas, na extensão possível, a sua

contribuição para um ambiente construído mais sustentável, através de incorporação de

aspectos sócio-econômicos que possam ser relacionados à escala da produção e uso do

edifício.

6.2 SOBRE A INCLUSÃO DA AVALIAÇÃO DE GESTÃO DO PROCESSO E DOS AGENTES ENVOLVIDOS

Na agenda setorial discutida no Capítulo 5, a dimensão institucional relaciona-se à

existência e ao nível de implementação de estratégias de sustentabilidade. Propõe-se aqui

incluir a avaliação dos agentes envolvidos no processo para criar a cultura e o movimento

consistente das práticas de mercado em direção a um patamar mais sustentável; e para

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 161

fazer a ligação, na escala do empreendimento, à dimensão institucional da agenda setorial,

através de indicadores de comprometimento que informem: (1) se há estratégia para

aumentar a sustentabilidade do empreendimento; (2) se ela esta implementada; e (3) o grau

de efetividade.

A adoção de práticas mais sustentáveis ao longo do ciclo de vida de edifícios é, antes de

tudo, uma questão de cultura e educação dos agentes envolvidos, incluindo usuários finais,

para que a consideração da sustentabilidade - e de seus benefícios – torne-se um dos

objetivos do empreendimento. Os clientes controlam a localização do empreendimento e o

que será construído. Clientes e empreendedores sensibilizados por preocupações ambientais

são a peça mais importante em termos de direcionamento físico do desenvolvimento e

alteração urbana e de conservação de biodiversidade e ecologia local; e podem ser uma

influência positiva na proteção, mitigação e melhoria de biodiversidade em sítios com algum

valor ecológico. Mais ainda: clientes e empreendedores criam a demanda e definem as

características dos novos empreendimentos, o desempenho esperado e quanto estão

dispostos a investir neles. Como mencionado no Capítulo 1, as maiores barreiras para se

fazer mais pela sustentabilidade dos edifícios são provavelmente de ordem comercial: se o

cliente não incluir sustentabilidade como prioridade, as possibilidades de ação pró-ativa de

projetistas e construtores quanto a sustentabilidade tornam-se limitadas e pouco prováveis.

As margens de lucro são limitadas na construção civil, e existe um receio generalizado do

mercado de envolver-se em ações que possam reduzi- las ainda mais.

Os projetistas influenciam a sustentabilidade do empreendimento ao tomar decisões quanto

à forma e a implantação do edifício, influenciando o grau em que o sítio original será

afetado ou que novos habitats possam ser criados. As decisões arquitetônicas têm ainda

grande impacto econômico e social, pela qualidade dos espaços criados e seu efeito na

saúde, conforto, satisfação e produtividade dos usuários. Os projetistas brasileiros ainda não

estão atentos aos aspectos ambientais da construção, ou às possibilidades de prover boa

qualidade do ambiente interno com baixo emprego de capital natural e financeiro. Como os

clientes, os projetistas tendem a pensar e atuar com base em empreendimentos individuais,

isto é: em um determinado projeto, em que aspectos ambientais se mostrem importantes,

eles tentam considerá- los adequadamente, desde que não haja implicações comerciais

onerosas nem objeções do cliente.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 162

Os construtores são os agentes mais visíveis no processo e, conseqüentemente, aqueles

normalmente culpados por prejuízo ou destruição ambiental. Na realidade, porém, salvo se

forem também os empreendedores, os construtores cumprem obrigações contratuais

definidas previamente por clientes e projetistas. Assim, quando o contrato de construção é

feito, já é normalmente tarde demais para se fazer alterações significativas do processo que

possam torná- lo mais sustentável. Por outro lado, como os construtores efetivamente

constroem o projeto, eles têm (diferentemente dos processos de planejamento, projeto e

gestão da operação do edifício) o poder de influenciar a maneira como o processo de

construção afeta não só o sitio original, mas a comunidade local, em termos ambientais,

econômicos e sociais. Adicionalmente, a etapa de construção encerra parte considerável do

impacto socia is e econômicos de todo o ciclo do empreendimento. A implementação de

políticas para sustentabilidade e de instrumentos de informação tem, portanto, no grupo de

construtores um dos maiores potenciais de benefício dentre os agentes envolvidos em todo o

ciclo, que provavelmente só encontra paralelo entre os projetistas1.

Finalmente, o desempenho do edifício em uso resulta da combinação do desempenho

potencial, esperado a partir das decisões de projeto e construção, e de padrões de

comportamento dos usuários, que podem diferir – positiva ou negativamente - das

expectativas assumidas nos defaults de projeto. O longo período de uso potencializa a

interferência dos usuários e gestores do edifício, mas em um momento em que há pouco o

que se fazer para obter melhoria significativa; na verdade, normalmente espera-se mais que

o usuário e o planejamento da gestão contribuam para manutenção do desempenho esperado

em projeto do que possam realmente vir a melhorá- lo.

6.3 DESCRIÇÃO SUCINTA DA PROPOSTA INICIAL DE AVALIAÇÃO

Como um primeiro passo, optou-se por iniciar a avaliação dos agentes pela avaliação da

empresa construtora. Esforços semelhantes para envolver os demais agentes envolvidos na

produção do empreendimento, principalmente os projetistas, seriam desenvolvidos

oportunamente. Parte dos itens avaliados refere-se à responsabilidade social corporativa,

mas a maioria deles relaciona-se à competitividade e permanência no mercado, num

mecanismo que tende a criar pressões para a busca de metas cada vez mais avançadas.

1 Ver SILVA et al. (2000b).

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 163

No modelo inicialmente idealizado, os indicadores foram organizados segundo uma

estrutura temática (Figura 12), considerada como pragmática e capaz de evidenciar a

efetividade e necessidade de melhoria de políticas e estratégias, aumentando o potencial de

planejamento, intervenção e gestão. Procurou-se manter como pano de fundo a reflexão

quanto a (1) prioridades destacadas na agenda setorial apresentada no Capítulo 5; (2) síntese

da discussão internacional em indicadores de sustentabilidade de edifícios, de empresas e

do setor de construção; e (3) as estruturas de métodos existentes para avaliação ambiental

de edifícios.

Em cada dimensão avaliada, os indicadores foram estruturados segundo a hierarquia :

temas>categorias>indicadores. Os indicadores ambientais foram agrupados numa

combinação de abordagem por meios2, LCA e, implicitamente, pressão-resposta (DSR3), em

que o uso de recursos e cargas ambientais são organizados segundo os componentes

ambientais principais. Os indicadores sociais foram relacionados às partes interessadas

afetadas: operários (durante a execução), usuários (durante o uso), clientes, e sociedade em

geral (durante todo o ciclo)4. Os indicadores econômicos destacavam as informações

relativas aos custos previstos para o empreendimento ao longo de seu ciclo de vida; aos

investimentos feitos para aumentar a sustentabilidade; e aos benefícios deles resultantes.

Esta estrutura analítica era flexível o suficiente para ser amplamente utilizada e interpretada

ao longo do espectro de empresas e empreendimentos de construção, reconhecendo a sua

diversidade e, ao mesmo tempo, fornecendo uma base comum de definições, princípios e

indicadores. A pontuação dos itens seria atribuída dentro da escala linear de desempenho

mostrada na Figura 2.

2 A abordagem por meios organiza os temas ambientais a partir da perspectiva dos componentes ambientais principais (ar,

solo, água...). A abordagem pressão-resposta concentra-se nos impactos das atividades humanas no ambiente e sua transformação subseqüente.

3 DSR - Estrutura de organização de indicadores segundo força indutora-estado-resposta (Driving force-State-Response)

4 Divergindo, portanto, da organização sugerida pela ISO AWI 21932 (ISO TC59/SC3/N469). 2002c - Sustainability

indicators, que não considera a etapa de construção (os indicadores sociais são organizados em termos de saúde e produtividade (do usuário), segurança (do usuário), acessibilidade (do usuário) e herança cultural (sociedade).

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 164

Figura 1 - Estrutura temática com blocos de avaliação do edifício e da empresa

construtora.

Uso de recursos Energia, água, solo (e ecologia local), materiais (e resíduos)

Cargas ambientais Proatividade egestão ambiental/qualidade

Impactos sobre os operários (execução) Saúde, segurança, treinamento e ambiente de trabalho

Impacto sobre os usuários Qualidade ambiente interno Qualidade dos serviços (amenidades e acessibilidade)

Impacto sobre a sociedade Relacionamento com a comunidade

Análise de custos no ciclo de vida (LCC*) Investimento em sustentabilidade Benefício financeiro (sustentabilidade)

Aumento de produtividade usuários Velocidade de venda e valorização do imóvel Imagem corporativa etc

Indicadores edifício

ambientais

sociais

econômicos

quantitativos e qualitativos

Sustentabilidade como prioridade corporativa Adoção de práticas de liderança Construção/operação sustentável do portfolio Monitoramento e relato do progresso

Eco-eficiência da empresa Uso de recursos Cargas ambientais

Impactos sobre os funcionários/operários Saúde, segurança, treinamento e ambiente de trabalho

Impacto sobre a sociedade Relacionamento com a comunidade

Aumento de produtividade (empresa) Investimentos e benefícios sustentabilidade Melhoria do produto oferecido

Categorias Temas

Indicadores empresa

ambientais

sociais

econômicos

quantitativos e qualitativos

comprometimento

*LCC – life-cycle cost analysis

DF DF R

S/R S/R S/R

S S S

R R R R

DF

S S

R R DF

DSR

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 165

Figura 2 – Escala linear de avaliação de desempenho.

Os valores extremos da escala foram fixados em -2 e +5 para assegurar consistência com a

escala do GBC, de onde propunha-se adaptar parte do módulo de avaliação ambiental do

edifício. Os intervalos da escala representavam:

-2 – desempenho inferior ao desempenho de referência (benchmark). O valor negativo poderia ocorrer por exemplo, quando, diante da ausência de normas, o benchmark fosse definido a partir de práticas típicas.

Zero – desempenho de referência (benchmark), com descrição clara do critério para seleção do valor do benchmark.

+1 a +4 – níveis intermediários de desempenho, em que a nota +1 representava uma pequena melhora em relação ao benchmark definido; e a nota +3 representava uma melhora significativa em relação ao benchmark;

+5 – meta de desempenho consideravelmente avançada em relação à prática atual, definida de forma que possa ser potencialmente alcançada através das tecnologias e práticas existentes, desconsiderando, porém, a magnitude do investimento necessário.

As informações qualitativas que não pudessem ser diretamente quantificadas seriam

avaliadas através de descrições verbais associadas aos intervalos da escala de desempenho

(Figura 3).

Valor do indicador

item avaliado

0 (benchmark)

-2

+5

-2

Desempenho máximo

Esc

ala

de d

esem

penh

o

pontuação item

Desempenho insuficiente

Desempenho de referência

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 166

Pró-atividade empresa - Auditoria ambiental de projetos

+5 Sistema de auditoria da companhia em conformidade com ISO 14001, com revisões regulares e auditoria independente, vinculados a revisão do plano de ação

+4 Todos os projetos são auditados e relatados. Resultados retro-alimentam clientes e cadeia de fornecedores

+3 Principais projetos auditados para avaliar desempenho com base em metas definidas com clientes. Resultados relatados à alta administração da empresa

+2

+1 Auditorias ocasionais de projetos quanto a aspectos ambientais e regulatórios, sem quantificação de custos e impactos e sem acompanhamento subseqüente

0 Não há auditorias de desempenho

-1

-2

Figura 3 - Exemplo de definição de escala de desempenho para aspecto qualitativo.

A pontuação obtida no nível hierárquico mais baixo seria agregada sucessivamente até se

obter uma nota para o edifício e outra para a construtora. A declaração explícita do critério

de ponderação e dos intervalos da escala de desempenho alinhava-se à exigência da ISO CD

21931 de possibilitar rastreamento de resultados em relação aos dados que alimentaram a

avaliação.

A avaliação seria complementada por um sistema de classificação de desempenho (Figura

4). De um lado, as faixas correspondentes aos níveis de classificação de desempenho eram

desenhadas para enfatizar a pontuação obtida pelo edifício. Por outro lado, os dois níveis

mais altos de classificação de desempenho (níveis A e B) seriam atingidos apenas se a

empresa de construção pudesse demonstrar os níveis mínimos de comprometimento com a

sustentabilidade por eles exigidos.

Esta estratégia visava estimular a conscientização para a sustentabilidade em nível

estratégico - em vez da pulverização isolada de edifícios certificados – sem, com isso,

impedir o reconhecimento das práticas de sustentabilidade empregadas em um determinado

projeto.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 167

Figura 4 - Fluxograma do processo de avaliação e classificação de desempenho quanto a sustentabilidade.

Os resultados dos itens dentro das categorias seriam então agregados por ponderação, para

se obter a pontuação da categoria. Por sua vez, as pontuações das categorias seriam

agregadas para formar um índice de desempenho. Nos dois casos,os pesos seriam

determinados por consulta a um painel de especialistas e partes interessadas da construção

civil, utilizando auxiliados por uma ferramenta de processo de análise hierárquica (AHP)

semelhante à desenvolvida para o estudo exploratório, descrito no Capítulo 4.

Reconhecendo-se a vantagem de comunicação e comparação direta oferecida pelos índices

únicos, mas lembrando que um mesmo número pode descrever um amplo espectro de

desempenho de edifícios, os resultados seriam apresentados tanto na forma de um perfil de

desempenho, quanto dos índices obtidos pelo edifício e pela empresa avaliados. A Figura 5

ilustra um formato possível de saída de resultados, incluindo os perfis de desempenho nos

níveis hierárquicos mais altos e a classificação do desempenho de um caso hipotético.

Gráficos de colunas ou radar fariam o detalhamento da pontuação nos níveis hierárquicos

inferiores.

Atende pontuação mínima?

Classifica (A,B,C ou D)

Não classifica

econômico

ambiental

social

não

sim comprometimento

ambiental

social

econômico

Avalia empresa

Avalia edifício

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 168

Figura 5 - Comunicação gráfica de resultados da avaliação, congregando perfis de desempenho e desempenho global do edifício e da empresa construtora, posicionados em relação às classes de desempenho previstas e práticas típicas hipotéticas (como ilustração).

Este conceito geral e uma lista preliminar de indicadores foram submetidos a consulta às

partes interessadas na construção civil do estado de São Paulo. Por ser um momento de

grande sensibilidade das construtoras em relação a questões de certificação, em reunião de

Empresa

Comprometimento

Dimensão ambiental

Dimensão econômica

Dimensão social

Edifício

Dimensão ambiental

Dimensão econômica

Dimensão social

2,7

2,1

0 +5

Classificação de desempenho

0 +5

Ed

ifíc

io

Empresa 0 5

5

D

C

Desempenho mínimo (> 40% edifício)

Caso hipotético

A B

Prática típica

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 169

preparação para o workshop optou-se estrategicamente por manter o foco no

empreendimento e mesclar as avaliações da construtora e do edifício (Figura 12). A lista de

indicadores apresentada no Apêndice 7 já incorpora esta modificação. As próximas sessões

tratam da realização desta consulta e das modificações que resultaram no modelo

simplificado e na estratégia proposta para implementação.

6.4 REALIZAÇÃO DE CONSULTA ÀS PARTES INTERESSADAS

Uma consulta às partes interessadas na construção civil no Estado de São Paulo ocorreu no

dia 17 de junho de 2003, na forma do II Workshop Construção Sustentável, promovido

conjuntamente pelo DAC/UNICAMP; pelo PCC.USP e pelo Sinduscon-SP. Os participantes

foram selecionados de forma a constituir um grupo representativo das partes interessadas na

construção civil, inc luindo a administração municipal e agência ambiental estadual, o

segmento imobiliário, fabricantes e fornecedores, construtores, projetistas, agências de

financiamento, entidades profissionais, instituições certificadoras, e academia e institutos de

pesquisa. Trinta e sete pessoas efetivamente participaram da etapa de julgamento e análise.

6.4.1 DINÂMICA UTILIZADA NA CONSULTA

Com base na estrutura de avaliação apresentada anteriormente neste Capítulo, foram

fornecidos aos participantes (1) uma lista exaustiva de indicadores (Apêndice 7), (2) um

conjunto de matrizes de comparação para derivação de pesos para os temas e categorias

através de AHP (Apêndice 8); e (3) uma planilha de percepção de relevância, onde os

votantes indicaram os itens essenciais, relevantes ou pouco importantes dentro do módulo

de avaliação ambiental do edifício (Apêndice 9).

Após palestras de nivelamento no tema, os trabalhos foram iniciados pelo preenchimento da

matriz de percepção de relevância, que seguia um padrão utilizado em outros países, para

permitir comparação das prioridades percebidas em diferentes contextos.

A seguir, os participantes da consulta foram divididos em três grupos de trabalho: materiais

e desperdício; qualidade do ambiente interno e uso de água e de energia; e gestão. A cada

GT foram designadas duas tarefas: (1) análise da viabilidade de emprego dos indicadores

propostos e, quando oportuno, sugestão de outras métricas com base em indicadores já

implementados nas empresas; (2) realização dos julgamentos de importância relativa com

base nas matrizes de comparação fornecidas.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 170

Não foi possível que nenhum dos grupos de trabalho chegasse à discussão de metas de

desempenho, e um novo workshop será realizado em agosto de 2003. As contribuições

concentraram-se, então, em ajustes de terminologia e, principalmente, na manifestação das

partes interessadas quanto à viabilidade de realizar as medidas sugeridas e de serem

avaliadas através delas.

6.4.2 RESULTADOS OBTIDOS

6.4.2.1 QUANTO À LISTA PRELIMINAR DE INDICADORES

A consulta às partes interessadas não demandou alterações da estrutura de avaliação, que foi

considerada abrangente e correta, mas do status de pontuação de determinados indicadores.

Em linhas gerais, as principais contribuições em relação à lista preliminar de indicadores

podem ser sumarizadas como:

Grupo de materiais e desperdício

• Consenso quanto à impossibilidade de emprego de dados de LCA, incluindo energia incorporada par avaliar o uso de materiais. Foram mantidos os itens de avaliação do uso responsável dos materiais, como uso de materiais locais, recicláveis, renováveis e com incorporação de resíduos;

• A mensuração de perdas foi considerada difícil e cara. Nesta tipologia de edifício, as perdas não são significativas e este item foi considerado complexo, e sem solução para implementação no momento. O mais fácil seria medir a massa de resíduos gerados, mas não necessariamente seria o melhor indicador, pois os resíduos referem-se a soma das perdas e desperdício 5. Com a segregação do material perdido, existe dificuldade para estabelecer uma unidade única para mensuração de perdas, que é agravada pelo fato de alguns sub-empreiteiros venderem serviços (sistemas fechados) e serem responsáveis pelos próprios resíduos e perdas;

• Incluir banimento do uso de determinados produtos, como: asbestos, isolantes (e componentes contendo isolantes) que liberem CFC durante a produção; madeiras na lista de espécies ameaçadas descritas na Portaria IBAMA 37N (IBAMA,1992); e

• Medir resíduos em massa.

Grupo de uso de água e energia, e conforto ambiental

• O grupo concentrou-se no preenchimento das matrizes de julgamento, de forma que os indicadores foram analisados apenas até a sessão de qualidade do ambiente interno (não analisada). De modo geral, foram feitas alterações de terminologia e

5 Perda física é a diferença entre a quantidade (massa ou volume) de material prevista no projeto idealizado e a

efetivamente consumida; inclui perdas diretas, que saem da obra na forma de entulho, e indiretas, entendidas como aqueles desnecessariamente incorporados aos serviços. Desperdício físico é a parcela das perdas totais que poderia ser evitada de maneira economicamente viável (AGOPYAN et al., 1998)

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 171

remanejamento de itens difíceis de se obter para esta tipologia, mas incluídos para bônus para estimular a consideração/adoção, particularmente os referentes à reutilização de água (cinza e da chuva); e

• Substituição do emprego do termo “energia primária” (que inclui as perdas de transmissão e impactos correspondentes) por “energia secundária” (na ponta de consumo, prontamente disponível por leitura do medidor).

Grupo de gestão

• Sugestão de alterações no status de itens a avaliar, com eliminação de poucos itens e, principalmente, encaminhamento de itens para pontuação extra (bônus), com base em critérios de viabilidade de mensuração; disponibilidade (atual ou no curto prazo) dos dados necessários; e valor da informação que seria agregada para a empresa avaliada;

• Sugestão de separação de itens a avaliar segundo (1) as etapas pertinentes do empreendimento e (2) níveis evolutivos, conforme o grau de dificuldade em atender aos requisitos avaliados.

6.4.2.2 QUANTO AOS PESOS OBTIDOS E AO EMPREGO DE AHP NO PROCESSO

As matrizes de julgamento de todos os votantes foram tabuladas e realizados testes de

consistência utilizando o software ExpertChoice. Julgamentos incompletos ou com

inconsistência superior a 0,16 foram descartados do cálculo das médias da amostra.

Não houve diferença significativa entre os resultados obtidos na consulta pública para os

temas no nível hierárquico mais elevado (Figura 6). Um dos resultados mais interessantes da

análise dos julgamentos realizados foi o reconhecimento da importância dos aspectos sociais

(17%) e do comprometimento e pró-atividade da empresa construtora (18%). O desempenho

ambiental (21%) foi equilibradamente valorizado com o desempenho econômico (22%) e, as

práticas de gestão adotadas durante o processo (23%).

O detalhamento dos pesos resultantes dos julgamentos dos participantes da consulta é

mostrado na Tabela 1. Estes valores demonstram que todos os itens propostos para avaliação

foram considerados relevantes7.

6 O critério de corte adotado foi inconsistência (CR) >0,1, como definido no Capítulo 5.

7 A situação contrária seria indicada pela proliferação de pesos inferiores a 10%, em julgamentos envolvendo poucas

comparações. Na amostra coletada, pesos menores ou próximos de 10% ocorreram apenas nos julgamentos envolvendo muitas comparações (8 e 10 pares).

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 172

23%21%

17%

22%18%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

G. Gestão do processo A. Desempenho ambiental S. Desempenho social E. Desempenho econômico B. Comprometimento eproatividade

Figura 6 – Pesos obtidos em consulta pública consulta pública realizada em 17 de junho de 2003 (nível hierárquico mais elevado).

Tabela 1 – Pesos obtidos em consulta pública realizada em 17 de junho de 2003.

Temas e categorias Pesos G. Gestão do processo 23%

G.1 Integração de gestão ambiental ao planejamento do processo 56%

G1.1. Implantação de práticas de controle de qualidade e melhoria ambiental do

projeto 26%

G1.2. Implantação de práticas de gestão ambiental no canteiro 17%

G1.3. Implantação de práticas de gestão resíduos de uso 18%

G1.4. Sistema de gestão de uso de água implantado 21%

G1.5. Sistema de gestão de uso de energia implantado 18%

G.2 Integração de práticas de controle de qualidade ao processo 44%

G2.1 Controle de qualidade do projeto 33%

G2.2. Controle de qualidade no canteiro 22%

G2.3. Planejamento da operação e manutenção do edifício 25%

G2.4. Ajuste de desempenho pré-entrega 20%

A. Desempenho ambiental 21%

A1 Consumo de recursos ao longo do ciclo de vida do edifício 52%

A1.1. Uso do solo e alteração da ecologia e biodiversidade locais 20%

A1.2. Uso de energia ao longo do ciclo de vida 15%

A1.3. Consumo de água e gestão efluentes ao longo do ciclo de vida 21%

A1.4. Consumo de materiais de construção 14%

A1.5. Responsabilidade no uso de materiais de construção 15%

A1.6. Perdas registradas nos serviços principais 14%

A 2 Cargas ambientais geradas ao longo do ciclo de vida do edifício , por ano do ciclo de vida 48%

A2.1. Emissão de substâncias causadoras de Efeito Estufa (GHGs) 13%

A2.2. Emissão de substâncias que provocam Dano à Camada de Ozônio (ODS) 13%

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 173

Temas e categorias Pesos A2.3. Emissão causadora de acidificação 10%

A2.4. Emissão formadora de foto-oxidantes (formação de ozônio fotoquímico) 11%

A2.5. Emissão com potencial de eutroficação 11%

A2.6. Emissão de substâncias carcinogênicas (dano à saúde humana) 18%

A2.7. Resíduos sólidos 12%

A2.8. Efluentes 12%

S. Desempenho social 17%

S1. Impactos sobre os operários 30%

S1.1. Situação empregatícia 28%

S1.2. Satisfação dos funcionários 33%

S1.3. Saúde ocupacional, segurança e local de trabalho 39%

S2. Impactos sobre os usuários do edifício 33%

S2.1. Qualidade do ambiente interno 41%

S2.2. Qualidade do ambiente externo 26%

S2.3. Qualidade dos serviços 32%

S3. Impactos sobre a sociedade 35%

S3.1. Relacionamento com a comunidade local 33%

S3.2.Relacionamento com clientes e usuários finais 40%

S3.3. Relacionamento com fornecedores 26%

E. Desempenho econômico 22%

E1. Produtividade 31%

E2. Melhoria no produto oferecido 35%

E2.1. Processo de projeto/construção 50%

E2.2. Aumento da satisfação, bem -estar e valor para usuários finais e vizinhança 50%

E3. Investimento, agregação de valor e benefícios recebidos 34%

E3.1. Valor agregado e retorno de capital 38%

E3.2. Investimentos diretos e indiretos 28%

E 3.3. Benefícios resultantes de investimento em sustentabilidade 34%

B. Comprometimento e proatividade 18%

BC1. Sustentabilidade como prioridade corporativa 23%

BC1.1. A empresa possui um sistema de gestão ambiental implantado? 43%

BC1.7. A empresa publica um relatório anual de sustentabilidade verificado por parte independente? 26%

BC1.8. A empresa identificou indicadores próprios de desempenho em relação a sustentabilidade? 31%

BC2. Proatividade em sustentabilidade 20%

BC2.1. A empresa investe na melhoria do seu desempenho em relação a sustentabilidade? 10%

BC2.2. Aplicação de conceitos de construção e operação sustentável no portfolio da empresa 9%

BC2.3. A empresa conduz sistematicamente o acompanhamento ambiental do ciclo de vida 10%

BC2.4. A empresa definiu uma política sustentável de compras e de uso responsável de materiais de construção 10%

BC2.5. A empresa desenvolveu e implementou um Plano de Gestão de Resíduos 11%

BC2.6. A empresa implementa sistemas para compartilhar boas práticas entre departamentos, fornecedores, projetistas, canteiros de obras e projetos? 10%

BC2.7. A empresa implementa um programa interno de educação e treinamento 11%

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 174

Temas e categorias Pesos de empregados para sustentabilidade?

BC2.8. A empresa definiu e implementa um sistema de gestão da sustentabilidade da cadeia de fornecedores? 9%

BC2.9. Proatividade no preenchimento de lacunas identificadas para a implementação de medidas sustentáveis 9%

BC2.10. Proatividade em proteção de biodiversidade e em medidas para evitar poluição 11%

BS1. Valorização e investimento em recursos humanos 21%

BS1.1. Treinamento técnico/profissional de pessoal (projeto, construção e operação) 30%

BS1.2. Treinamento ambiental de pessoal (projeto, construção e operação) 25%

BS1.3. A empresa estabeleceu e mantém procedimentos para a identificação das necessidades de treinamento 26%

BS1.4. A empresa possui programa para reduzir a rotatividade de operários? 20%

BS2. Contribuição para a construção de comunidades estáveis 19%

BS2.1 A empresa definiu e publicou padrões de responsabilidade social 15%

BS2.2 A empresa está ativamente envolvida em projetos locais de regeneração da comunidade? 17%

BS2.3 A empresa busca localmente seus suprimentos e serviços sempre que possível 17%

BS2.4. A empresa é participante de programa de recrutamento de mão-de-obra? 16%

BS2.5. A empresa adota esquema estruturado de capacitação e treinamento permanentes de RH? 19%

BS2.6. A empresa possui programa para melhorar a empregabilidade de (ex)funcionários 15%

BS3. Relacionamento com a sociedade 17%

BS3.1. Benefício indireto à comunidade 31%

BS3.2. Estabelecimento de parcerias para exercício de cidadania corporativa 35%

BS3.3 Estabelecimento de parcerias com a comunidade no entorno imediato 34%

Os participantes do processo de julgamento tiveram dificuldades para a realização dos

julgamentos. Isto era esperado diante da grande multi-disciplinaridade e conhecimento

pouco profundo dos temas, e, principalmente, da complexidade intrínseca de fazer distinções

dentro de um conjunto de temas relevantes.

Convém ressaltar que o papel do AHP na derivação dos pesos não é tornar a decisão mais

fácil, mas sim esclarecer o problema de decisão e documentar o processo através do qual se

chegou aos valores obtidos. Do ponto de vista metodológico, o uso do AHP é, portanto,

apropriado e reprodutível, pois o processo de consulta pode ser repetido para que

ponderações sejam derivadas para diferentes contextos e situações no setor de construção.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 175

6.4.2.3 QUANTO À PERCEPÇÃO DE RELEVÂNCIA DOS ITENS NO MÓDULO AMBIENTAL DE

AVALIAÇÃO

A Tabela 2 mostra os resultados da pesquisa de percepção de relevância dos itens

padronizados apresentados aos participantes da consulta. Conforme o número de votos

“essenciais”, em relação ao total de votantes, os itens foram separados em faixas delimitadas

por 25%, 50% e 75% dos votos totais. De forma geral, a votação foi equilibrada: não houve

itens no quartil acima de 75%, e apenas os itens utilização da água da chuva e

desconstrução/desmontagem situaram-se no quartil abaixo de 25%. , um resultado que

sinaliza que eles poderiam constar como bônus ou, eventualmente, ser eliminados do

módulo de avaliação ambiental de edifícios de escritórios brasileiros.

Tabela 2 - Itens apresentados em planilha padronizadas para classificação da relevância na composição do módulo de avaliação ambiental do edifício. Os itens estão aqui ordenados de acordo com a porcentagem de votos na categoria “essencial”.

Percepção de relevância

Item essencial relevante dispensável sem

opinião Dispositivos/sistemas economizadores de água 70,9% 29,1% 0,0% 0,0%

Impacto dos materiais de construção na saúde humana 65,5% 30,9% 1,8% 1,8%

Controle de ruído 63,6% 36,4% 0,0% 0,0%

Gestão /disposição de resíduos 63,6% 34,5% 0,0% 1,8%

Custos das medidas ambientalmente responsáveis 56,4% 38,2% 1,8% 3,6%

Manutenção e simplicidade de reparo 56,4% 41,8% 0,0% 1,8%

50% Estrutura/orientação do edifício 50,9% 45,5% 1,8% 1,8%

Pavimentação do solo/infiltração 49,1% 43,6% 3,6% 3,6%

Uso de energia renovável 43,6% 49,1% 1,8% 5,5%

Isolamento térmico 41,8% 41,8% 16,4% 0,0%

Qualidade ambiental dos materiais de construção 41,8% 56,4% 1,8% 0,0%

Sistema de condicionamento artificial 38,2% 49,1% 9,1% 3,6%

Reutilização de materiais e componentes 36,4% 49,1% 14,5% 0,0%

Integração urbana 36,4% 52,7% 9,1% 1,8%

Previsão de vida útil 34,5% 60,0% 3,6% 1,8%

Composição dos materiais de construção 34,5% 54,5% 3,6% 7,3%

Adaptabilidade do layout/flexibilidade de uso 34,5% 49,1% 10,9% 5,5% Custo fabril de materiais de construção 30,9% 50,9% 5,5% 12,7%

Uso de materiais reciclados 30,9% 58,2% 9,1% 1,8%

25%

Vegetação no edifício e arredores 30,9% 56,4% 7,3% 5,5%

Informação para desconstrução/desmontagem 16,4% 43,6% 29,1% 10,9%

Utilização de água da chuva 12,7% 65,5% 16,4% 5,5%

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 176

Estes dados são apresentados graficamente na (Figura 7) para facilitar a comparação com

resultados obtidos em pesquisa equivalente na Alemanha (Figura 8). Ressalta-se que, de um

país a outro, muda o ordenamento dos itens segundo sua relevância, num reflexo dos

problemas encontrados e prioridades determinadas para cada contexto específico. No Brasil,

particularmente em São Paulo, a conservação de água, redução de resíduos e o controle de

ruído são primordiais. O peso do custo das soluções foi naturalmente muito mais enfatizado,

e atribuiu-se importância elevada quanto aos efeitos dos materiais de construção na saúde

humana. No julgamento feito na Alemanha, prevaleceram os itens impostos pelo clima frio

(isolamento e condicionamento artificial), pela ação governamental para melhoria da matriz

energética e pelos efeitos dos materiais de construção no ambiente externo, além da saúde

humana.

A Figura 9 ilustra como as agendas ambientais variam entre os dois países, seja por razões

essencialmente climáticas, pela existência de legislação mais restritiva ou pela

conscientização do setor e dos usuários de edifícios. Os círculos na Figura 9 indicam a

diferença na percepção de relevância para cada item comparado (para diferenças acima de

10%). As maiores diferenças de percepção referem-se a itens relacionados ao clima

(isolamento térmico (~40%), e sistema de condicionamento artificial (~50%)); a utilização

de água da chuva (~50%), a qualidade ambiental dos materiais de construção (~40%); ao

uso de energia renovável (~20%) e à previsão de vida útil (20%). Os demais itens podem ser

considerados como igualmente relevantes nos dois países.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 177

Figura 7 – Resultados de consulta de percepção de relevância de itens a compor o módulo de avaliação ambiental de edifícios no Brasil. Os itens aparecem em ordem do número de votantes que os considerou “essenciais”. A coluna de números à esquerda indicam a ordem de relevância obtida em pesquisa equivalente na Alemanha.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Dispositivos/sistemas economizadores de água

Impacto dos materiais de construção na saúde humana

Controle de ruído

Gestão /disposição de resíduos

Custos das medidas ambientalmente responsáveis

Manutenção e simplicidade de reparo

Estrutura/orientação do edifício

Pavimentação do solo/infiltração

Uso de energia renovável

Isolamento térmico

Qualidade ambiental dos materiais de construção

Sistema de condicionamento artificial

Reutilização de materiais e componentes

Integração urbana

Previsão de vida útil

Composição dos materiais de construção

Adaptabilidade do layout/flexibilidade de uso

Custo fabril de materiais de construção

Uso de materiais reciclados

Vegetação no edifício e arredores

Informação para descontrução/desmontagem

Utilização de água da chuva

essencialrelevantedispensávelsem opinião

>50%

>25%

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 178

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Isolamento térmicoSistema de condicionamento artificial

Qualidade ambiental dos materiais de construção

Impacto dos materiais de construção na saúde humana

Uso de energia renovável

Dispositivos/sistemas economizadores de água

Estrutura/orientação do edifícioUtilização de água da chuva

Custos das medidas ambientalmente responsáveis

Controle de ruído

Manutenção e simplicidade de reparo

Previsão de vida útilComposição dos materiais de construção

Gestão /disposição de resíduos

Pavimentação do solo/infiltração

Adaptabilidade do layout/flexibilidade de uso

Custo fabril de materiais de construção

Uso de materiais recicladosReutilização de materiais e componentes

Vegetação no edifício e arredores

Integração urbana

Informação para descontrução/desmontagem

essencialrelevantedispensávelsem opinião

Figura 8 – Percepção de relevância de itens a compor um sistema de avaliação ambiental de edifícios, segundo pesquisa equivalente realizada na Alemanha (dados de BLUM et al. apud OECD (2003).

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 179

Figura 9 – Comparação de pesquisas de percepção de relevância realizadas na Alemanha (dados de BLUM et al. apud OECD (2003) e no

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Isolamento térmico - AL BR

Sistema de condicionamento artificial - AL BR

Qualidade ambiental dos materiais de construção - AL BR

Impacto dos materiais de construção na saúde humana - AL BR

Uso de energia renovável - AL BR

Dispositivos/sistemas economizadores de água - AL BR

Estrutura/orientação do edifício - AL BR

Utilização de água da chuva - AL BR

Custos das medidas ambientalmente responsáveis - AL BRControle de ruído - AL

BRManutenção e simplicidade de reparo - AL

BRPrevisão de vida útil - AL

BRComposição dos materiais de construção - AL

BRGestão /disposição de resíduos - AL

BRPavimentação do solo/infiltração - AL

BRAdaptabilidade do layout/flexibilidade de uso - AL

BRCusto fabril de materiais de construção - AL

BRUso de materiais reciclados - AL

BRReutilização de materiais e componentes - AL

BRVegetação no edifício e arredores - AL

BR

Integração urbana - AL BR

Informação para descontrução/desmontagem - AL BR

essencialrelevantedispensávelsem opinião

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 180

Brasil. Os círculos indicam a diferença porcentual (leitura no eixo horizontal), quando estas forem superiores a 10%.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 181

6.5 MODELO MODIFICADO APÓS A CONSULTA (SIMPLIFICADO)

O modelo de avaliação proposto com base nas diretrizes apresentadas neste trabalho e na

consulta às partes interessadas está sumarizado na Tabela 3. A coluna “pontos críticos”

identifica barreiras a serem superadas para atingir condições ideais de implementação.

O modelo proposto é pautado por dez princípios básicos:

1. Adesão voluntária: entra no processo quem deseja fazer melhor, estimulado por vantagens potenciais como: acesso facilitado a financiamentos; melhoria da imagem/reconhecimento pelo mercado; acessos a novos mercados ou fortalecimento do nicho atual; perspectiva de negócios no médio e longo prazo;

2. Reconhecimento das melhores práticas, com premiação de quem faz melhor;

3. Foco no empreendimento, compreendendo a avaliação tanto do edifício (produto) quanto dos agentes envolvidos (processo);

4. Auto-avaliação, para incentivar o uso do método e internalização dos conceitos na prática cotidiana. No caso de desejo de classificação, a auto-avaliação deverá ser acrescida de evidência de desempenho, a ser revisada por avaliadores credenciados;

5. Avaliação por etapas do ciclo do empreendimento, com identificação de pontos críticos com desempenho a ser melhorado. O critério de elegibilidade para classificação de desempenho é a obtenção de ao menos 50% dos pontos possíveis em cada fase;

6. Aplicação de ponderação apenas no nível hierárquico mais alto (desempenho ambiental x social x econômico x gestão);

7. Mescla de pontos por desempenho e pontos prescritivos, utilizados onde a avaliação de desempenho não é possível neste momento;

8. Pontuação evolutiva e estratégia de implementação gradual: diante da dificuldade de implementação imediata de um sistema de avaliação detalhado, optou-se por uma implementação gradual, com base no cenário imediato e em projeção futura. Desta forma, prevê-se a (1) migração de um método híbrido para um método totalmente orientado a desempenho e que utilize a análise de ciclo de vida na avaliação do uso de recursos e cargas ambientais envolvidos; e (2) evolução do nível de exigência (bônus tornam-se créditos, que se tornam pré-requisitos) para o refinamento e melhoria contínuos do sistema de avaliação, enquanto se mantém a aderência com a realidade de mercado.

9. Utilização de níveis de classificação de desempenho: o modelo de avaliação idealizado é complementado por um sistema de classificação de desempenho composto por três níveis: A, B e C.

10. Revisão periódica do sistema de avaliação, anualmente nos primeiros 5 anos; depois, a cada 2 anos; e revisão anual da classificação do edifício, com base na revisão do da avaliação da etapa de operação (módulo específico a ser desenvolvido).

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 182

Tabela 3 - Modelo de avaliação proposto para edifícios brasileiros.

Diretrizes Implementação

Aspectos metodológicos

Cenário imediato Cenário futuro (projeção 5 anos)

Pontos críticos

Escopo da avaliação

Sustentabilidade (aspectos ambientais, sociais e econômicos)

Aplicação Classificação de desempenho

Foco no empreendimento (produto e processo) Limites do sistema

Edifício e agentes (principalmente construtora), considerando as etapas de planejamento, projeto, construção e gestão

Limites do sistema envolvendo todos os atores e etapas do ciclo do empreendimento

Sensibilização dos agentes

envolvidos no ciclo do

empreendimento

O q

ue a

valia

r?

Estrutura de avaliação

§ Aspectos ambientais

§ Aspectos sociais

§ Aspectos econômicos

§ Gestão e comprometimento com sustentabilidade

Abordagem adotada: Itens a avaliar e respectivos indicadores definidos com base em agenda setorial , diretrizes da UN CSD, da GRI e da CIRIA; análise dos métodos de avaliação existentes e consulta às partes interessadas

Sistema de pontuação

Híbrido: critérios orientados a dispositivos + orientação a desempenho onde possível

Pontuação evolutiva (Preq+Créditos+Bônus)

Orientado a desempenho (ideal)

Falta de dados, de normas e de cultura de avaliar por desempenho

Necessidade de sensibilização (o método tem papel educativo importante)

Uso de LCA Não. Metas empíricas para uso de materiais, água e energia.

Sim, onde aplicável Inventário de ciclo de vida de materiais principais, fornecimento de água e energia

Necessita pesquisa adicional.

Explícita, com pesos declarados

Com

o av

alia

r?

Ponderação

apenas no nível hierárquico mais alto (ambiental x social x econômico x gestão).

em vários níveis hierárquicos

Definição do critério de ponderação

Abordagem adotada: emprego de processo de análise hierárquica (AHP)

Escala de desempenho

Metas empíricas, a serem posteriormente validadas e periodicamente revistas, definem escala de desempenho a partir de referências da prática típica e da prática de excelência

Necessita coleta de dados para caracterização do desempenho de referência e definição de metas.

Abordagem proposta: estudo piloto, com um ano de duração

Critério a ser revisado periodicamente

Critério de elegibilidade: >50% dos pontos em cada etapa Q

uant

o at

ingi

r?

Pontuação mínima

Classifica a partir de 50% do total de pontos ponderados

A revisão das metas necessita coleta de dados

Abordagem proposta: estudo piloto, com um ano de duração

Co

mo

com

unic

ar o

re

sulta

do o

btid

o? Comunicação de

resultados Comunicação numérica:

3 classes de desempenho e índices de sustentabilidade (1 a 5), em função da pontuação

1 a 5 as, em função dos bônus

Comunicação gráfica:

Discos de sustentabilidade (perfis de desempenho)

A linha de pensamento que orientou a discussão dos sistemas existentes (Capítulo 3) e a

proposição de diretrizes (Capítulo 5) foi mantida na descrição do método a seguir,

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 183

estruturada de forma a responder às questões metodológicas “o que avaliar?”, “como

avaliar?”, “quanto atingir?”.

6.5.1 O QUE AVALIAR?

6.5.1.1 USO PREVISTO

Este modelo de avaliação destina-se a avaliar e classificar o desempenho potencial de

edifícios de escritórios, ao longo de seu ciclo de vida, em relação a metas de

sustentabilidade (trecho sombreado da Figura 10), com base em informações de gestão do

processo, do projeto, e do monitoramento do processo de construção e de um período

determinado da etapa de uso. Não é objetivo deste trabalho desenhar uma ferramenta para

orientar desenvolvimento de projeto ou gestão da operação segundo princípios de

sustentabilidade. A estrutura de itens a avaliar é, no entanto, suficientemente abrangente

para ser conservada no desenvolvimento posterior de ferramentas específicas para aplicação

nestas etapas, como previsto para a continuidade da pesquisa (Capítulo 7). Neste ínterim,

tanto projetistas quanto gestores poderem utilizar os itens avaliados e as metas propostas

como apoio para tomada de decisões.

Estágio do ciclo de vida do edifício Grupos de usuários e beneficiários Planejamento

Estudo preliminar Projeto detalhado

Construção Uso, operação e

manutenção

Clientes/Proprietários Empreendedores/Investidores Projetistas Fornecedores Construtores

Orientação de projeto para sustentabilidade Comparação de alternativas de projeto Avaliação em relação às metas estabelecidas Comunicação entre clientes e projetistas

Clientes/Proprietários Empreendedores/Investidores Projetistas Fornecedores Construtores Agentes imobiliários

Classificação do desempenho (quanto a sustentabilidade) de um edifício construído Comunicação entre as partes interessadas em investir no edifício

Clientes/Proprietários Agentes imobiliários Gerentes de operação (facilidades) Ocupantes

Orientação de uso/gestão operação para sustentabilidade Comunicação entre as partes interessadas na operação do edifício

Uso

pre

vist

o p

ara

o m

étod

o d

e av

alia

ção

Figura 10 -Posicionamento do modelo proposto (trecho sombreado) em relação aos usuários potenciais e aplicações de métodos de avaliação (modificado de ISO, 2003b).

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 184

A avaliação de edifícios não concluídos poderá ser realizada em fases, na medida em que as

informações necessárias tornarem-se disponíveis. Neste caso, uma primeira avaliação será

feita com base nas informações referentes ao planejamento inicial do empreendimento; que

serão oportunamente complementadas por informações do projeto executivo - incluindo

especificações, memoriais e cadernos técnicos, e, se for o caso, resultados de simulações de

consumo de água e de energia; pelo monitoramento das atividades de construção; e pela

ratificação (ou não) dos dados simulados quando confrontados a dados reais do edifício em

uso.

6.5.1.2 ESCOPO DA AVALIAÇÃO E LIMITES DO SISTEMA

Por premissa do escopo desta pesquisa de doutoramento, o modelo proposto refere-se a

edifícios de escritórios. A limitação do tempo de uso de edifício (entre 1 e 3 anos, com

ocupação acima de 80%) é feita para assumir que o desempenho estimado na avaliação não

tenha sido afetado por eventual perda de eficiência ao longo do tempo, e permitir o uso de

dados do consumo de água e energia coletados das contas emitidas pelas concessionárias de

fornecimento de água e energia.

Propõe-se avaliar não só o desempenho ambiental do edifício, mas a sua contribuição para

um ambiente construído mais sustentável, através da consideração de aspectos sócio-

econômicos que possam ser relacionados à escala do edifício, e sua produção e operação. Os

limites do sistema (Figura 11) foram definidos para manter o foco no empreendimento, de

modo a avaliar produto e processo, e (1) enfatizar as etapas de construção e uso inicial de

edifícios de escritórios; alguns aspectos de planejamento e projeto são também

considerados, porém não no mesmo nível de detalhamento; e (2) incluir a avaliação dos

agentes envolvidos no ciclo do empreendimento, iniciando pela empresa construtora.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 185

Figura 11 -Limite do sistema no modelo de avaliação proposto.

6.5.1.3 ESTRUTURA DA AVALIAÇÃO

A análise dos métodos existentes apontou as categorias essenciais do módulo de avaliação

de desempenho ambiental. O módulo de avaliação de desempenho social foi organizado

conforme os impactos sobre as partes interessadas: clientes/investidores/empreendedores,

fornecedores, operários, usuários do edifício e a sociedade em geral. O módulo de avaliação

de desempenho econômico, por sua vez, procura identificar os fluxos monetários

relacionados a custos de produção, de operação e de implementação de medidas para

aumentar a sustentabilidade do empreendimento, assim como os benefícios financeiros a

elas associados. Um módulo de Gestão do Processo permeia os três módulos anteriores.

Ciclo do empreendimento

Limites do sistema

Gestor Investidor/Incorporador

Fo

rnec

edo

res

Fim da vida Planejamento

Construtora

Edifício de escritórios

Construção Projeto Uso/Operação

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 186

Figura 12 - Estrutura temática para organização dos indicadores (quantitativos e qualitativos) propostos.

6.5.2 COMO AVALIAR?

O sistema de pontuação adotado é caracterizado por:

• mescla de itens prescritivos (dispositivos e estratégias) e de desempenho. A maior parte dos pontos é prescritiva. Onde cabível, foi utilizada uma escala de pontuação definida com base em requisitos de métodos existentes e nos resultados do estudo exploratório; nos casos em que não havia metas claras disponíveis, adotou-se uma escala percentual com cinco intervalos iguais;

Gestão do processo

Integração de gestão ambiental ao planejamento do processo Integração de práticas de controle de qualidade ao processo

Comprometimento e proatividade (bônus)

Sustentabilidade como prioridade corporativa Proatividade em sustentabilidade Valorização e investimento em recursos humanos Contribuição para construção de comunidades estáveis Relacionamento com a sociedade

sociais

econômicos

ambientais

Indicadores empreendimento

Uso de recursos energia, água, uso do solo e alteração da ecologia local, materiais

Cargas ambientais resíduos de construção/demolição e efluentes

Impactos sobre os operários satisfação operários saúde, segurança e ambiente de trabalho

Impacto sobre os usuários Qualidade ambiente interno Qualidade do ambiente externo (amenidades e acessibilidade, contexto de transporte) Qualidade dos serviços (manutenção do desempenho, flexibilidade e adaptabilidade, controlabilidade dos sistemas e impactos nos sítios adjacentes)

Impacto sobre a sociedade Relacionamento com a comunidade, clientes e usuários finais e fornecedores

Produtividade no canteiro Melhoria do produto oferecido/custos ciclo vida investimentos, agregação de valor e benefícios

Categorias Temas

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 187

• pontuação evolutiva, no formato "pré-requisitos + créditos + bônus" (Figura 13), para que revisões regulares possam incluir novos itens a avaliar e converter gradativamente os bônus em créditos e créditos em pré-requisitos, permitindo o a atualização contínua de requisitos e metas de desempenho.

Créditos de incentivo à adoção de boas práticas (como o uso de simuladores como ferramenta de projeto) e de práticas inovadoras de projeto, construção e gestão; assim como itens que expressem um alto comprometimento com a sustentabilidade ou sejam considerados difíceis de serem alcançados, ou que necessitem de tempo para serem incorporados às práticas de mercado foram inseridos como bônus. Desta forma, mantém-se o caráter orientativo do método e encoraja-se a adoção das práticas nos empreendimentos que assim o permitam, sem prejudicar aqueles sujeitos a maiores limitações.

O total de pontos pode ser personalizado para refletir as oportunidades e limitações de cada empreendimento. Isto é feito assinalando-se os itens não aplicáveis ao empreendimento em questão, que são, então, excluídos da soma de pontos possíveis. A designação não aplicável refere-se apenas a itens não pertinentes ao caso avaliado (como por exemplo perturbação em habitats e biodiversidade em um sítio com baixo ou nenhum valor ecológico), e não a itens que apresentem custo elevado para implementação ou falta de dados para embasar a avaliação.

Figura 13 – Formato de pontuação evolutivo.

• avaliação por etapas do ciclo do empreendimento: a divisão dos itens de avaliação nas etapas do ciclo do empreendimento é um elemento facilitador, pois quem insere as informações é realmente quem as detém em cada fase, além de permitir a comparação de resultados globais ou por etapas específicas.

Pré-requisitos

Créditos

Bônus Atu

aliz

ação

co

ntí

nu

a (p

resc

riti

va +

des

emp

enh

o)

Banimento de materiais/substâncias reconhecidamente danosos

Qualidade da implantação Eficiência no uso de recursos Saúde e segurança no trabalho Qualidade do ambiente interno Impacto sobre comunidades locais Melhoria no produto oferecido Custo/benefício sustentabilidade Gestão ambiental e da qualidade

Soluções inovadoras Proatividade ambiental Proatividade social Gestão e comprometimento

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 188

Adicionalmente, a avaliação independente de etapas específicas pode ser preferida em situações onde um resultado negativo em uma fase possa desmotivar a realização de esforços nas etapas seguintes ou empalidecer bons desempenhos anteriores.

• aplicação de ponderação apenas no nível hierárquico mais alto: Na versão para implementação no curto prazo, a ponderação foi mantida apenas no nível hierárquico mais alto (ambiental x social x econômico x gestão). Devido às alterações resultantes da revisão dos indicadores, os pesos deverão ser derivados a partir de nova consulta às partes interessadas. Aplicar ponderação nos níveis inferiores é um requinte de detalhamento que não se alinha com a necessidade de simplificação apontada na consulta às partes interessadas. Com a absorção do método pelo mercado, desenvolvimentos futuros poderão retomar a ponderação em todos os níveis, repetindo o processo de consulta, com base nos indicadores que forem validados praticamente.

6.5.3 QUANTO DEVERÁ SER ATINGIDO?

O modelo de avaliação é complementado por um sistema de classificação de desempenho,

composto por três níveis:

• >90% dos pontos totais possíveis - Nível A • 71-90% dos pontos totais possíveis - Nível B • 50-70% dos pontos totais possíveis - Nível C

A classificação de desempenho será sempre atribuída com base no desempenho ao longo de

todo o ciclo de vida, isto é: com base no total de pontos obtido. O atendimento do

desempenho mínimo em cada etapa (>50%) será o critério eliminatório. Os pontos de bônus

serão contabilizados à parte, pela adição de até 5 estrelas à classe de desempenho obtida,

segundo a escala na Tabela 4.

Tabela 4 - Escala para atribuição de estrelas, conforme pontuação de bônus obtida.

Faixas de pontos de bônus >80%

61-80% 41-60% 21-40% 1-20%

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 189

Analogamente, índices de sustentabilidade, entre 1 e 5, são atribuídos conforme a pontuação

individualmente obtida em cada tema avaliado e a pontuação global (ponderada) e, segundo

a escala indicada na Tabela 5.

Tabela 5 - Escala para atribuição de Índices de Sustentabilidade , conforme pontuação obtida.

Faixas de pontos Índices de Sustentabilidade (IS)

Classes de desempenho

>90% 5 Classe A

81-90% 4

71-80% 3

Classe B

61-70% 2

50-60% 1

Classe C

6.5.3.1 COMUNICAÇÃO DE RESULTADOS

Os resultados da avaliação serão expressos como mostrado na Figura 14. Discos de

sustentabilidade posicionam o empreendimento avaliado (perfis de sustentabilidade) em

relação ao critério de elegibilidade para classificação. A linha branca detalha o perfil de

sustentabilidade do edifício em relação a todos os temas e sub-temas avaliados. O polígono

vermelho representa o desempenho obtido para os quatro temas principais: se o critério de

elegibilidade for atendido (>50% dos pontos em cada etapa), os vértices do polígono estarão

fora ou, no máximo, sobre as arestas do quadrado amarelo no centro do disco. A pontuação

total ponderada então relacionará o empreendimento a uma das três classes de desempenho

previstas.

Na parte superior da Figura 14, discos de sustentabilidade destacam o perfil de desempenho

(esquerda) e o desempenho por tema (direita). Na parte inferior, da esquerda para a direita, é

feita a indicação de: (1) classe de desempenho (“C”); (2) pontuação de bônus (2 estrelas

indicam obtenção entre 21 e 40% dos pontos de bônus); (3) pontuação global ponderada

(“55%”); (4) índice de sustentabilidade global (“1”), em função da pontuação ponderada;

(5) índices de sustentabilidade por tema (“1”,“2”,“1” e “2”), em função da pontuação

obtida em cada um deles antes da ponderação (“50%”;“62%”;“57%”;“67%”); (6) pesos

utilizados (“26%”;“21%”;“26%”;“27%”) para a obtenção da pontuação global .

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 190

Figura 14 - Formato de saída gráfica de resultados de uma avaliação hipotética.

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 191

6.5.4 PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO

Pretende-se que a avaliação seja feita em duas etapas:

1) auto-avaliação: preenchimento dos formulários de avaliação pelos interessados (projetistas, empreendedores, construtores, gestores/administradores de condomínio...); e

2) revisão da auto-avaliação (caso se deseje a classificação do desempenho), feita por avaliadores credenciados e homologação dos resultados, com base em documentação e evidências de desempenho anexadas.

Imagina-se que o sistema de avaliação será gerenciado por uma parte isenta e sem fins

lucrativos. A auto-avaliação é aqui encorajada por ser extremamente positiva enquanto

instrumento de aprendizagem e auxílio à tomada de decisões. Como é feita pelos próprios

interessados, a auto-avaliação será gratuita ou, no máximo, demandará uma taxa mínima de

manutenção. Já o direito de publicar os resultados será necessariamente condicionado à

revisão por avaliadores credenciados, e inevitavelmente envolverá algum custo, pois será

provavelmente a única fonte de recursos para a manutenção do sistema em funcionamento.

6.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO

Neste trabalho, avançou-se até a Etapa 2 (definição de como avaliar, incluindo resultado de

consulta pública) das diretrizes propostas no Capítulo 5.

A realização da consulta às partes interessadas na construção civil do Estado de São Paulo

levou a algumas conc lusões fundamentais:

• A estrutura de avaliação proposta é suficientemente abrangente, e pode ser mantida nos desenvolvimentos posteriores do método.

Ressaltou-se o despreparo do mercado em conduzir avaliações detalhadas e que, no curto prazo, é necessário iniciar com um modelo simplificado de avaliação.

O mercado ou não dispõe de dados para avaliar grande parte dos indicadores de sustentabilidade propostos inicialmente ou necessita de tempo para preparar-se para ser avaliado em relação a alguns deles. Os indicadores enquadrados no primeiro caso foram incluídos como itens não pontuados, para iniciar o acúmulo de dados que permitirá a sua avaliação no futuro. Aqueles que se enquadram no segundo caso, foram remanejados para o status de pontos extra (bônus). Desta forma, potencializa-se o caráter motivador e educativo do método de avaliação pela combinação de itens prescritivos e pontuação evolutiva, com bônus indicando o caminho para melhoria;

• A divisão dos indicadores em etapas do ciclo de empreendimento (plane jamento, projeto, execução e uso/operação do edifício) é uma medida didática, que evidencia

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Capítulo 6 – Modelo proposto para avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros 192

responsabilidades e estimula o planejamento do empreendimento a partir de uma reflexão no longo prazo.

• A consulta pública forneceu uma primeira idéia de pesos, que foi considerada juntamente com a percepção de relevância dos itens a compor o método, e a sugestão de status de pontuação aderente à realidade do mercado.

Os limites do sistema foram definidos para abranger a etapa de construção e uso do edifício.

Iniciou-se a avaliação dos agentes do processo pela empresa construtora, mas cada agente do

processo tem papel fundamental no aumento da sustentabilidade da produção de edifícios.

Cabe aos clientes e incorporadores criar a demanda por empreendimentos mais sustentáveis;

aos investidores, valorizar e criar oportunidades de financiamento; aos projetistas, adotar

estratégias que resultem em projetos mais sustentáveis ambientalmente e que ofereçam

melhor qualidade de vida aos ocupantes; e aos fornecedores, investir em tecnologias de

produção mais limpas e relações de trabalho mais justas. Abordagens posteriores para

ampliação incremental destes limites para englobar mais agentes e etapas do ciclo do

empreendimento são, portanto, encorajadas.

A sugestão originalmente feita na consulta pública foi fazer uma divisão dos indicadores,

nas etapas pertinentes do ciclo do empreendimento, com o intuito de deixar claro quem

deveria prover cada informação. Na consulta ficou claro, porém, que o próprio mercado

sentia falta de ferramentas de orientação para as outras etapas, principalmente para a etapa

de projeto.

Iniciou-se o desenvolvimento da interface de avaliação simplesmente pela distribuição

cronológica dos indicadores, em etapas de planejamento, projeto, construção e

uso/operação. A interface ainda está em construção. Em seu estado atual (Apêndice 10), ela

já vai além dos indicadores da lista revisada após a consulta pública (assinalados pelos

mesmos índices utilizados no Apêndice 7) e acrescenta uma série de outros para as etapas de

planejamento e projeto, mas o detalhamento que realmente caracterizará uma ferramenta de

avaliação da sustentabilidade do projeto será objeto de continuidade do trabalho.