OEIO MEU PATRÃO

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PEÇA DE TEATRO: “ODEIO MEU PATRÃO” ( Apresentada na escola Prof. José Fernandes Machado no encerramento do programa Trabalho, Justiça e Cidadania ) AUTOR: PROF. JONAS FLORIPE GINANI FILHO - NOVEMBRO/2012 CENA: MESA DE BAR COM 4 CADEIRAS E MÚSICA AMBIENTE PERSONAGENS: MARY – EMPREGADA DOMÉSTICA QUE SOFRE COM O ASSÉDIO SEXUAL E CONDIÇÕES DEGRADANTES DE TRABALHO; HENRY – TRABALHA E MORA NUMA LOJA, SEM CARTEIRA ASSINADA , EM CONDIÇÕES DEGRADANTES E SOFRE DISCRIMINAÇÃO SEXUAL; JOHN – TRABALHA NUMA LOJA ONDE SOFRE DISCRIMINAÇÃO RACIAL E SEXUAL ALÉM DE DESRESPEITO A CARGA HORÁRIA LEGAL; SUE – ADVOGADA QUE ORIENTA SOBRE OS DIREITOS DE CADA UM DOS INTEGRANTES DA MESA. KIKA – GARÇONETE DO BAR RAFA – DJ ATO ÚNICO: Abre as cortinas e os atores estão sentados na mesa do bar, quando se inicia a conversação. John: - Amigas eu proponho um tema para nossa reunião hoje: Odeio meu patrão! Henry: - Aprovado, embora eu acredite que ninguém aqui odeie mais o patrão do que eu. Mary: - Também aprovo o tema. E você Sue? ( olhando para Sue ) Sue: - Concordo com o tema já que posso aconselhar vocês com relação aos direitos do trabalhador, embora não tenha patrão, pois sou profissional liberal. Mary; - Pois amiga vamos começar comigo. Como vocês sabem trabalho como doméstica. Meu patrão e patroa são dois monstros. Obrigam-me a trabalhar até nos domingos e feriados e ainda sofro com as cantadas e alisadas do patrão. Outro dia me preparei para ir para casa já depois das 19 horas, pois ele cismou de arrumar um serviço para fazer no quarto dele, imagina só?!

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Peça de teatro relacionado com questões trabalhistas.

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Page 1: OEIO MEU PATRÃO

PEÇA DE TEATRO: “ODEIO MEU PATRÃO” ( Apresentada na escola Prof. José Fernandes Machado no

encerramento do programa Trabalho, Justiça e Cidadania )

AUTOR: PROF. JONAS FLORIPE GINANI FILHO - NOVEMBRO/2012

CENA: MESA DE BAR COM 4 CADEIRAS E MÚSICA AMBIENTE

PERSONAGENS:

MARY – EMPREGADA DOMÉSTICA QUE SOFRE COM O ASSÉDIO SEXUAL E CONDIÇÕES

DEGRADANTES DE TRABALHO;

HENRY – TRABALHA E MORA NUMA LOJA, SEM CARTEIRA ASSINADA , EM CONDIÇÕES

DEGRADANTES E SOFRE DISCRIMINAÇÃO SEXUAL;

JOHN – TRABALHA NUMA LOJA ONDE SOFRE DISCRIMINAÇÃO RACIAL E SEXUAL ALÉM

DE DESRESPEITO A CARGA HORÁRIA LEGAL;

SUE – ADVOGADA QUE ORIENTA SOBRE OS DIREITOS DE CADA UM DOS INTEGRANTES

DA MESA.

KIKA – GARÇONETE DO BAR

RAFA – DJ

ATO ÚNICO: Abre as cortinas e os atores estão sentados na mesa do bar, quando se inicia a

conversação.

John:

- Amigas eu proponho um tema para nossa reunião hoje: Odeio meu patrão!

Henry:

- Aprovado, embora eu acredite que ninguém aqui odeie mais o patrão do que eu.

Mary:

- Também aprovo o tema. E você Sue? ( olhando para Sue )

Sue:

- Concordo com o tema já que posso aconselhar vocês com relação aos direitos do

trabalhador, embora não tenha patrão, pois sou profissional liberal.

Mary;

- Pois amiga vamos começar comigo. Como vocês sabem trabalho como doméstica.

Meu patrão e patroa são dois monstros. Obrigam-me a trabalhar até nos domingos e

feriados e ainda sofro com as cantadas e alisadas do patrão. Outro dia me preparei

para ir para casa já depois das 19 horas, pois ele cismou de arrumar um serviço para

fazer no quarto dele, imagina só?!

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Henry:

- E a patroa Mary?

Mary:

- Para ela o marido é um santo menina!! ( risos de todos)

- Então Sue, que conselho me dá?

Sue:

- Caramba Mary, que empregão heim?!

- Seu patrão está totalmente errado. Se ele não reconhecer você como trabalhadora do lar

deve arrumar algumas testemunhas de que trabalha na residência e requerer a assinatura de

sua carteira e mais o pagamento de horas extras. Esta parte deve ser resolvida pela Justiça do

Trabalho.

- Já o assédio sexual deve ser resolvido na Justiça Comum, após um boletim de ocorrência na

delegacia. É o caso de um pedido de indenização além da pena, mas você deve comprovar

este assédio, seja com testemunhas ou outro tipo de prova como filmagem, por exemplo. Em

ambos os casos você precisará de um advogado particular ou do sindicato. O Ministério

Público também pode entrar no caso.

- Na própria Justiça do Trabalho você pode fazer um acordo que compense estas suas

desventuras com seus patrões e não entrar na Justiça Comum, pois nesta as decisões são mais

demoradas.

John:

- Caramba Mary, vais ganhar uns trocados heim?!

Mary:

- Você aceitaria a causa Sue?

Sue:

- Mas claro que sim. Esta injustiça em teu trabalho não pode continuar. Conte comigo e com a

Justiça do Trabalho, amiga.

Henry:

- Puxa vida Sue, você foi um achado de ouro para nós. Quando nos conhecemos era apenas

uma balconista de loja, estudou e hoje é a nossa poderosa. Bate amiga ...

Mary:

- É verdade Sue, apesar das dificuldades na época, você conseguiu vencer e hoje nos orgulha

como exemplo.

Sue:

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- A minha vitória se deve muito ao apoio que vocês me deram. Não é a toa que nossa amizade

é sincera e bonita.

- Agora Henry, que tal nos contar sua história com o patrão?

Henry:

- É amiga, minha história não é muito agradável. O que me deixa ainda com esperança é o

apoio de vocês.

- Quando vim do interior, para esse emprego, achei que seria minha salvação, pois no interior

a discriminação contra os homossexuais ainda é muito forte. Ao chegar aqui, a situação ficou

pior. Agora além de discriminado sou também escravizado. Não dei cabo da minha vida porque

tive a felicidade de conhecer o John, esta bicha loca que levantou meu astral, e depois vocês

duas. ( John faz um afago em Henry )

- Minha situação é que quando cheguei aqui para trabalhar na loja, o patrão me ofereceu um

quarto na própria loja para morar e usa este motivo para me obrigar a trabalhar nos horários

após o expediente, inclusive nos domingos e feriados. Não assina minha carteira porque diz

que devo pagar primeiro minha dívida do aluguel, alimentação e da passagem que ele gastou

me trazendo para cá. Como se não bastasse isso, ele ainda fica me humilhando na frente dos

outros por minha homossexualidade e por trás fica me cantando para fazer coisas com ele. É

um bofe miserável meninas...

John:

- Ah, mas esta noite vamos tomar decisões certas para nosso futuro. O tema de nossa reunião

parece que caiu do céu. Temos nossa poderosa Sue aqui e a Justiça do Trabalho para resolver

nossos problemas com os patrões.

Sue:

- Puxa vida Henry, não sabia desta situação tão ruim no teu trabalho. Mas não se angustie,

estamos juntos nessa batalha e a Justiça do Trabalho vai cobrar deste mau patrão a reparação

devida.

- Henry, você precisa arrumar alguma prova, seja de documentos ou pessoas, que testemunhe

o assédio sexual e a discriminação. Com relação ao trabalho escravo e degradante a que você

está submetido, teremos que denunciar ao Ministério Público do Trabalho, para que eles

façam o flagrante na loja. A Justiça do Trabalho é bem dura nestes casos e a reparação cobrada

do patrão amenizará um pouco teu sofrimento, fora a cadeia que ele poderá pegar por este

tratamento desumano.

Mary:

- Agora é a sua vez John, mas antes vamos fazer um brinde à Justiça do Trabalho e a nossa

poderosa Sue. ( todos enchem os copos e brindam, bebendo em seguida )

John:

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- Bom, agora é a minha história. ( pausa para tomar um gole da bebida )

- Minha história com minha patroa não é muito diferente da de Mary e Henry. Apesar de ter

carteira assinada, trabalho muitas vezes fora do expediente normal sem qualquer

compensação. Quando reclamo ela diz que compensa depois. Só que este depois nunca chega.

Ela tem uma boca ferina amigas. Preta nojenta e bicha preta são nada comparado com o que

ela diz quando está com TPM. Às vezes me pergunto se ela teve algum trauma com

homossexuais negros... Não sei.

- O pior Sue é que este tratamento se dirige apenas para mim. Com os outros empregados,

alguns bem menos competentes do que eu, são muitos elogios e palavras amenas.

Mary:

- Ahh, mas eu adoro minha bichinha preta. ( abraça e beija o rosto de John )

( risos da turma )

Sue:

- John, teu caso também é de documentar as agressões verbais seja com testemunhas entre

seus colegas ou filmagens ... ( John interrompe Sue )

John:

- Tentei conversar com alguns colegas Sue, mas nenhum quer se meter na história. Dizem que

precisam do emprego para pagar as contas no final do mês.

Sue:

- Então John use o celular para gravar algumas dessas situações constrangedoras. Você vive

nos ensinando a mexer no celular, pode fazer isso não?

John:

- Sim, vou tentar fazer isso.

Sue:

- As questões das horas extras podem ser cobradas na Justiça do trabalho, de forma que a

patroa pague o que lhe é devido. ( uma pausa para tomar um gole da bebida )

- Agora vocês devem saber que ao entrar na Justiça do Trabalho contra seus patrões, a chance

de continuar no emprego é mínima. Vocês irão receber todos os direitos trabalhistas como:

dias trabalhados, horas extras, aviso prévio, férias e décimo terceiro devidos, terço de férias e

FGTS. Dará um bom montante para possibilitar a vocês tranquilidade na busca de um novo

emprego, agora com as carteiras devidamente assinadas durante o período trabalhado.

Mary:

- Eu receberei também o FGTS?

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Sue:

- No teu caso Mary, o patrão não é obrigado a recolher o FGTS, portanto você não o irá

receber, mas os demais direitos sim. Mesmo sem receber o FGTS, em minha opinião, ainda

compensará entrar na Justiça do Trabalho.

John:

- Estamos todos de acordo em procurar a Justiça do trabalho?

Henry:

- Eu estou nesta, claro!

Mary:

- Eu também.

John:

- Muito bem Sue, estamos decididos.

Sue:

- Vocês já sabem o que devem arrumar para podermos dar entrada na Justiça do trabalho.

Qualquer problema pode ligar para mim, combinado? ( todos balançam afirmativamente a

cabeça, olhando uns para os outros )

Henry:

- Amigas vamos comemorar agora nossa redenção soltando a franga. ( chama a garçonete )

- Kika! kika!

Kika:

- Oi Henry, o que vai ser?

Henry:

- Peça para o DJ tocar aaaquela música menina, pois a gente está comemorando a liberdade.

Kika:

- Deixa comigo. Como gosto de vocês, vou trazer mais uma rodada de chope para valorizar a

liberdade desta turma chique. ( todos levantam as taças fazendo um brinde para Kika )

Kika: ( gritando para o DJ )

- Rafa manda ver a música especial do Henry, Mary e John! ( o som começa, a turma levanta e

começa a dançar )

( após alguns segundos se fecha a cortina )

Page 6: OEIO MEU PATRÃO

( abre-se a cortina e a turma agradece à plateia )

FINAL