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    Ocina

    Relaes tnico-Raciais

    Autora

    Prof. Sabrina Finamori

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    Ocina de Relaes tnico-Raciais

    SumrioAula-tema 01:A miscigenao tnico-racial e sua inuncia na construo social do Brasil

    Aula-tema 02:As denies tnico-raciais e as polticas de ao armativa

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    Introduo

    Caro(a) aluno(a),

    No Brasil, a questo tnico-racial tem estado em pauta, nos ltimos anos, em debates sobre

    polticas armativas, tais como as cotas para universitrios e as aes de combate ao preconceito racial.

    A primeira legislao especca de combate ao racismo tem, contudo, mais de cinquenta anos: trata-

    se da lei Afonso Arinos, de 1951, promulgada durante o governo Vargas, que tornava o racismo uma

    contraveno. Atualmente, a questo mais amplamente regulamentada pelo Estatuto da Igualdade

    Racial, de 2010, que trata ainda de polticas de educao, sade, cultura, esporte, lazer e trabalho. O

    crime de racismo , hoje em dia, especicado tambm para as relaes trabalhistas, sendo proibido

    o tratamento diferenciado no ambiente de trabalho e, em especco, o uso da raa ou da cor como

    critrios para justicar diferenas salariais ou para o processo de recrutamento. Apesar de o racismo

    ser crime, a desigualdade permanece na sociedade brasileira, combinando os aspectos tnicos (como

    cor ou raa) aos aspectos sociais relativos diviso de classes. As estatsticas tambm demonstram

    como a desigualdade persiste na prtica. De acordo com o Censo de 2010, por exemplo, os salrios dos

    brancos na regio Sudeste correspondiam a quase o dobro dos salrios de pretos e pardos (conforme a

    terminologia usada pelo IBGE). Essa desigualdade aparece tambm nos ndices de analfabetismo mais

    altos entre pretos e pardos e no nmero de inscritos em cursos universitrios, maior entre os brancos.

    Ao longo do sculo XX, contudo, o Brasil foi frequentemente descrito como o pas da democracia

    racial, no qual a miscigenao entre ndios, brancos e negros teria produzido uma convivncia pacca

    entre todos, independentemente de raa ou cor. Ento, como o pas da democracia racial apresenta

    estatsticas to desiguais em pleno sculo XXI?

    Para entendermos melhor as razes dessa questo, preciso retomar o debate sociolgico, da primeira

    metade do sculo XX, que tem como seu maior expoente, no Brasil, Gilberto Freyre. Nessas duas aulas,

    discutiremos, ento, as razes do mito da democracia racial e as questes mais atuais deste debate,como as polticas de cotas e a complexa denio de raa ou cor no Brasil.

    Aula-tema 01: A miscigenao tnico-racial e sua inuncia na construo social do Brasil

    Texto e Contexto

    A ideia de democracia racial

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    Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando no

    na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indgena ou do

    negro. (Gilberto Freyre, 1978, p. 283)

    Em 1933, publicado o livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre. A obra, que se

    tornaria um dos grandes clssicos da sociologia brasileira, rebatia as teorias, at ento dominantes,

    que apregoavam a inferioridade do mestio e justicavam cienticamente o racismo. As teorias

    raciais que adentraram o Brasil em meados do sculo XIX explicavam a desigualdade social entre

    brancos e negros como um fato dado pela natureza supostamente inferior dos negros. Por meio

    de medies de crnio e comparaes entre os diferentes fentipos, esses tericos armavam

    que haveria uma desigualdade biolgica entre as pessoas. Com o m da escravido (1888) e aproclamao da Repblica (1889), essas teorias seriam usadas politicamente para justicar as

    desigualdades sociais que continuaram a existir em relao aos escravos libertos. Ao mesmo

    tempo, o m da escravido no Brasil era visto como um processo mais brando do que ocorrera em

    outros pases, uma vez que aqui no teria sido implantada uma poltica ocial de segregao depois

    da Abolio.

    No Brasil, as teorias raciais nem sempre se opunham miscigenao. Ao contrrio, o

    incentivo imigrao europeia foi feito com o objetivo de branquear a populao. A cor brancapassa, assim, a ter um valor social mais elevado e os conitos no so tematizados em termos

    raciais. Na dcada de 1930, esse cenrio se altera de modo mais radical. A mestiagem deixa de

    ser vista como um meio para atingir o branqueamento e passa a ser considerada no s em termos

    biolgicos, mas tambm como uma mestiagem cultural. neste contexto, que Gilberto Freyre

    publica Casa-grande e senzala.

    Freyre, que estudou nos Estados Unidos com um dos precursores da antropologia

    americana moderna, Franz Boas, teceu sua interpretao a partir da perspectiva culturalista, que

    refutava o determinismo biolgico. Desse modo, na obra de Gilberto Freyre, a cultura brasileira

    tratada como uma totalidade na qual se integram os aspectos econmicos, o meio ambiente, a

    cozinha, as religies, os rituais e os comportamentos humanos. No Brasil, teria se dado, segundo

    ele, uma colonizao marcada pela miscigenao de portugueses, ndios e africanos, havendo

    uma interpenetrao dessas trs culturas, que teve como resultado uma formao nacional muito

    singular. Gilberto Freyre se contrape aos argumentos de muitos de seus contemporneos, que

    consideravam a mestiagem como causa para a misria e para a indolncia do povo brasileiro.

    Freyre destacar, ao contrrio, que muitos dos problemas seriam provenientes do prprio sistema

    escravocrata, marcado pela violncia e pelo sadismo contra os negros. O foco do autor se dirigia,

    principalmente, para as relaes privadas, do lar, destacando a tolerncia, a convivncia cultural e

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    a intimidade sexual.

    No trecho do documentrio Caf com leite (gua e azeite?), de

    Guiomar Ramos, voc pode aprofundar um pouco mais essa discusso

    sobre a ideia de democracia racial em Gilberto Freyre.

    A abordagem de Gilberto Freyre sobre a formao nacional

    teria implicaes no apenas no plano terico, uma vez que rebatia as

    justicativas cientcas daquela poca para o racismo, mas teria tambm consequncias no plano

    poltico. Neste sentido, a teoria fornecia uma nova autoimagem para os brasileiros, fundada numa

    valorizao da mestiagem. Mais que isso, essa armao de um Brasil mestio fundamentava a

    ideia de uma identidade nacional coesa, que seria a base de uma comunidade poltica bem integrada.

    Desse modo, o sentimento de pertencimento nacional assumia o primeiro plano, invisibilizando as

    diferenas, fossem elas tnicas, religiosas ou de idioma.

    A ideia de um Brasil mestio passa a fazer parte do discurso ocial a partir dos anos de 1930.

    Entre os elementos apropriados como parte de uma identidade nacional esto, por exemplo, a

    feijoada, a capoeira e o samba. A feijoada deixa de ser uma comida de escravos para se converter

    em um prato nacional. J a capoeira, que havia sido reprimida criminalmente at o sculo XIX,

    torna-se um esporte ocial em 1937. O samba, por sua vez, passa da represso exaltao,

    contando com patrocnios ociais tambm a partir desse perodo. Mesmo no campo religioso, aescolha de Nossa Senhora da Conceio Aparecida como padroeira nacional na dcada de 1930

    alimentava essa ideia de um Brasil mestio. Encontrada imersa no rio Paraba do Sul, a imagem

    escurecida da virgem tornava a santa meio branca meio negra, como os prprios brasileiros. Assim,

    muitos elementos associados s culturas africanas trazidas pelos escravos, que eram anteriormente

    reprimidos, passam a compor a denio do que seria a identidade nacional brasileira. A unidade

    dessa identidade era dada pelo pressuposto de que as diferenas raciais no seriam relevantes, j

    que o Brasil era uma nao que exaltava justamente sua mestiagem.

    Voc sabia que embora o termo

    democracia racial seja, em geral,

    associado obra de Gilberto Freyre,

    ele foi, na verdade, cunhado pelo

    mdico e antroplogo Arthur Ramos,

    um dos idealizadores do Projeto

    Unesco?

    Essa imagem da democracia racial, que passa avigorar com grande fora, mostrava o Brasil como

    uma sociedade inclusiva capaz de integrar de

    modo harmonioso as diferenas. Esse mito foi,

    ainda, reforado pelo fato de no ter havido no

    pas o racismo institucionalizado, tal como houve

    nos Estados Unidos ou na frica do Sul, por

    exemplo. Como consequncia, durante muitas

    dcadas, a discusso sobre raa foi banida dos

    debates pblicos. Em termos tericos, o efeito

    positivo da adeso ideologia da mestiagem era

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    que ela punha m s justicativas cientcas para o racismo; por outro lado, contudo, isso no

    alterava o fato de que o preconceito racial permanecia na vida social brasileira.

    No incio dos anos de 1950, aps o m da Segunda Guerra Mundial e ainda sob o enorme

    impacto do genocdio nazista, a Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a

    Cultura (UNESCO) apoiou a realizao de uma srie de pesquisas sobre a questo racial. Depois

    das atrocidades cometidas na Alemanha em nome da superioridade racial, o objetivo da UNESCO

    era tomar o Brasil como o exemplo privilegiado, porque sua experincia em termos de miscigenao

    e assimilao era vista como um caso bem sucedido. As pesquisas foram realizadas no Nordeste e

    no Sudeste do pas por um conjunto de cientistas sociais, principalmente antroplogos e socilogos,

    que chegariam aos mais variados resultados. As concluses desses estudos convergiam, contudo,

    para a ideia de que a democracia racial brasileira era apenas um mito. Os dados sistematizados

    mostravam a correlao entre raa ou cor e diferenas socioeconmicas apontando para a existncia

    do preconceito e da discriminao racial no Brasil.

    Uma das obras mais relevantes, realizada no mbito do Projeto UNESCO, foi a de Florestan

    Fernandes, que correlacionava a questo racial s desigualdades sociais. Diferentemente da

    perspectiva culturalista, usada por Freyre, a base terica de Fernandes era sociolgica, centrada no

    questionamento sobre o processo de transio do tradicional para o moderno no Brasil. Florestan

    Fernandes colocava em questo se a ausncia de tenses e conitos seria mesmo um indicador derelaes raciais democrticas. O resultado a que ele chegou foi de que, no Brasil, haveria uma forma

    particular de racismo: o preconceito de ter preconceito. Em outras palavras, embora os brasileiros

    condenassem o racismo, eles continuavam a discriminar as pessoas com base em critrios raciais,

    ainda que de modo dissimulado. O autor mostrava, ainda, por meio dos dados do Censo de 1950,

    que as diferenas raciais se traduziam em desigualdades econmicas e sociais.

    Se no mbito acadmico, a ideia de democracia racial comea a ser posta em xeque nas

    dcadas de 1950 e 1960, na sociedade, de um modo mais amplo, essa mudana se intensicaespecialmente a partir da dcada de 1970, sendo tributria dos movimentos sociais, entre os quais

    o prprio movimento negro, mas tambm o movimento feminista e indgena. A partir de ento,

    tanto os intelectuais como os movimentos sociais passam a se referir

    questo como o mito da democracia racial brasileira. O movimento

    negro passa a reivindicar uma identidade baseada na autoconscincia

    das diferenas raciais. Desse modo, a categoria negro assumida

    em substituio a termos como preto, pardo ou mulato. Voc pode

    acompanhar mais um trecho do documentrio Caf com leite (gua e

    azeite?), que aprofunda esse debate.

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    Os estudos da dcada de 1950, promovidos pelo Projeto UNESCO, foram fundamentais ao

    questionarem o mito da democracia racial e tambm por colocarem em relevo as diferenas de

    classe entre negros e brancos como marcas de uma discriminao que se dava de modo camuado

    no cotidiano.

    At os dias atuais, h enormes desigualdades sociais entre brancos e negros, reetidas em

    diferenas salariais e no acesso educao. O grco abaixo, sobre a questo educacional, um

    bom exemplo disso. Note que, de acordo com o Censo de 2010, h uma proporo bem maior de

    brancos do que de pretos e pardos no ensino superior:

    Distribuio das pessoas de 15 anos a 24 anos de idade que frequentavam escola, por cor

    ou raa, segundo o nvel de ensino frequentado - Brasil - 2010

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfco 2010.

    Os estudos, apoiados pelo Projeto UNESCO, consideravam que a luta de classes era um

    problema de maior importncia no Brasil, antecedendo questo racial. A partir da dcada de 1980,

    contudo, outros estudos comeam a demonstrar que o preconceito de cor no estava associado

    apenas a questes socioeconmicas, uma vez que as prticas cotidianas discriminatrias no se

    dirigiam apenas aos economicamente desfavorecidos, mas a negros de todas as camadas sociais.

    H alguns anos, um caso de racismo ganhou o noticirio por envolver a lha de um governador,

    conforme o trecho da reportagem:

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    Se bem verdade que, no Brasil, as diferenas raciais se traduzem, muitas vezes, em desi-

    gualdades socioeconmicas, tambm verdade que o problema no se esgota a, uma vez que o

    racismo permeia a vida cotidiana e h, com frequncia, um desacordo entre discursos e prticas.

    Nas discusses acadmicas, essa especicidade tem sido estudada como um racismo brasilei-ra, conforme a expresso criada pelo antroplogo Roberto DaMatta, referindo-se ao preconceito

    velado dos brasileiros. J a ideia de democracia racial , atualmente, considerada pelos cientistas

    sociais um objeto de estudo mais do que um fator explicativo da realidade. Melhor dizendo, ainda

    que seja um consenso entre os estudiosos que a ideia de democracia racial apenas um mito, a

    anlise da construo desse mito ainda fundamental para se compreender o processo de forma-

    o nacional.

    Agora que voc j conhece um pouco das razes histricas do mito da democracia racial no

    Brasil, iremos, na prxima aula, discutir as questes mais atuais desse debate, como as polticas

    de ao armativa. O objetivo dessas polticas diminuir as desigualdades, pois, conforme vimos

    no incio do texto, o direito cidadania igualitrio, independentemente de questes tnicas. Na

    prtica, contudo, a desigualdade tem persistido, sendo facilmente demonstrvel pelas diferenas de

    renda, educao e por prticas cotidianas discriminatrias. Na prxima aula, discutiremos, ento,

    as polticas de ao armativa e as controvrsias que elas tm gerado em virtude da diculdade em

    se denir quem tm direito a elas no Brasil.

    Em junho de 1993, a estudante Ana Flvia Peanha de Azeredo, de 19 anos,

    entrou em desavena com a empresria Teresina Stange, na porta de um elevador

    social de um edifcio de luxo em Vitria, no Esprito Santo. Depois de duas frases

    rspidas, a empresria encerrou o dilogo: Cale a boca! Voc no passa de uma

    empregadinha. Para azar da empresria, Ana Flvia era lha do ento governador

    do Esprito Santo, Albuno Azeredo, um homem negro. Assistia-se ali a uma dupla

    manifestao de preconceito, contra negros e contra domsticas.

    Disponvel em: e, tambm, em:. Acessos

    em: 10 dez. 2012.

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    Conceitos Fundamentais

    Cor. No contexto do debate tnico-racial, o termo cor refere-se cor da pele, sendo usado comouma imagem gurada da raa. Por exemplo, a cor preta usada na classicao do IBGE como a

    imagem que representa a raa negra.

    Desigualdade. Modo no igualitrio de tratamento baseado em alguma diferena, como por

    exemplo, de raa ou de gnero.

    Diferena. Caracterstica que distingue uma coisa de outra. As diferenas podem ser consideradas

    naturais, mas podem tambm ser historicamente construdas. A diferena racial, embora primeiravista possa ser considerada natural, historicamente construda. No perodo colonial, a diferena

    categrica entre brancos e negros foi estabelecida pelos europeus, uma vez que os povos africanos

    no se enxergavam como uma unidade dada pela categoria negro, mas como pertencentes a

    diferentes grupos tnicos.

    Discriminao. Modo de abordar socialmente as diferenas, tratando-as com desigualdade.

    Pressupe a diviso dos grupos sociais com base em um aspecto, como, por exemplo, o racial. A

    discriminao culmina em tratamentos desiguais para diferentes grupos

    tnico. Relativo a um grupo associado a uma cultura, idioma ou costumes comuns.

    Antropologicamente, um grupo tnico tambm denido como uma organizao social em que os

    prprios membros reconhecem-se mutuamente como parte daquele grupo, dando-se prioridade

    autodenio mais do que s atribuies externas.

    Fentipo. Manifestao visvel de caractersticas genticas, como, por exemplo, cor da pele ou

    formato do nariz.

    Genocdio. Extermnio de um grupo tnico ou racial.

    Mito. Narrativa simblica que explica a origem de um fenmeno. A expresso mito da democracia

    racial pode ser usada para explicitar que a ideia de democracia racial falsa e impede a ao

    poltica antirracista. A expresso pode, contudo, tambm ser usada para destacar que o mito

    um conjunto de ideias que, mesmo no tendo correspondente na realidade, tm efeitos prticos

    importantes.

    Raa. Do ponto de vista antropolgico, raa no se refere a uma diferena biolgica, mas a uma

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    naturalizao das diferenas sociais. Historicamente, o termo j foi usado para agregar indivduos

    com base em idioma, costumes, fentipo ou mesmo religio. Ao longo deste texto, usamos este e

    outros termos a ele associados (como cor, tnico, branco, preto, pardo) em itlico para destacar a

    controvrsia em torno de seu signicado.

    Racismo. Preconceito baseado na hierarquizao das pessoas em termos de raa ou etnia.

    tambm uma forma de explicar as diferenas sociais e culturais a partir de diferenas tomadas

    como naturais.

    Referncias

    BARROS, Jos DAssuno. Igualdade, desigualdade e diferena: em torno de trs noes. Anlise Social. Julho; v. 40, n. 175, p.: 345-366, 2005. Disponvel em:. Acesso em: 10 dez. 2012.

    FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formao da famlia brasileira sob o regime patriarcal. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1978 [1933].

    GOMES, Mrcio Pereira. Antropologia. Cincia do homem. Filosofa da cultura. So Paulo: Contexto, 2010.

    GUIMARES, Antonio Srgio. Democracia racial: o ideal, o pacto e o mito. Novos Estudos Cebrap, So Paulo, n. 61, p.147-162, 2001.

    MAIO, Marcos Chor. O Projeto Unesco e a agenda das cincias sociais no Brasil dos anos 40 e 50. Revista Brasileira de Cincias Sociais, So Paulo, v. 14, n. 41, p.141-158, 1999.

    SANTIAGO, Gabriel Lomba. Trs leituras bsicas para entender a cultura brasileira. Campinas: Editora Alnea, 2001.

    SCHWARCZ, Lilia. Nem preto nem branco, muito pelo contrrio: cor e raa na intimidade. In. SCHWARCRZ, L. M. (org.). Histria da Vida Privada no Brasil:contrastes da intimidade contempornea. So Paulo: Cia. das Letras, 1998.

    Web Aula

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    Atividade de Autodesenvolvimento

    Esta atividade tem como objetivo proporcionar a voc um aprofundamento da reexo sobreo mito da democracia racial brasileira a partir da discusso terica sobre o tema e das opinies que

    os brasileiros expressam cotidianamente sobre a questo racial.

    Passo 1: Assista ao vdeo disponvel em: . Acesso em: 10 dez. 2012, que apresenta um trecho do documentrio Caf

    com leite (gua e azeite?), dirigido, produzido e escrito por Guiomar Ramos.

    Passo 2: Com suas palavras e em no mximo 15 linhas, explique o mito da democracia racial a

    partir dos depoimentos dos entrevistados que aparecem no vdeo.

    Questes para Acompanhamento da Aprendizagem

    QUESTO 01

    Leia o trecho da reportagem, publicada na Folha de So Paulo em 23/11/2008:

    Embora o preconceito aberto seja assumido por apenas 3% dos entrevistados, os

    brasileiros continuam a se ver como uma sociedade racista. Para 91%, os brancos

    tm preconceito de cor em relao aos negros.

    Considere as armaes a seguir:

    I. A reportagem apresenta um bom exemplo de que a democracia racial apenas um mito.

    II. O preconceito, entre os brasileiros, majoritariamente velado.III. A maioria dos brasileiros expressa abertamente que racista.

    IV. Os brasileiros admitem, com maior frequncia, que o preconceito existe, embora poucas pes-

    soas admitam ser racistas.

    V. A minoria dos entrevistados admite ser racista.

    Esto corretas as armaes:

    a) III.

    b) I e III.

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    c) III e IV.

    d) I, II, IV e V.

    e) Todas esto corretas.

    QUESTO 02

    Sobre o Projeto UNESCO, correto armar que seu objetivo inicial era:

    a) negar a existncia da democracia racial no Brasil.

    b) instituir o apartheid racial.

    c) banir as ideias de Gilberto Freyre.

    d) entender a experincia brasileira de miscigenao e assimilao.

    e) nenhuma das demais alternativas.

    QUESTO 03

    Os resultados do Projeto UNESCO demonstraram que:

    a) o pas era uma democracia racial.

    b) existia preconceito e discriminao racial no Brasil.c) o Brasil era um exemplo de incluso indgena.

    d) os negros tinham melhores condies de vida que os brancos.

    e) o pas era igualitrio em termos econmicos e raciais.

    QUESTO 04

    Assista ao vdeo, disponvel em: . Acesso em: 10 dez. 2012.

    O vdeo exemplica:

    a) a inexistncia de preconceito racial no Brasil.

    b) as leis brasileiras que instituem a segregao racial.

    c) situaes cotidianas em que os negros sofrem preconceito racial.

    d) o fato de que o Brasil , de fato, uma democracia racial.e) a igualdade de tratamento social, independentemente de raa ou cor.

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    QUESTO 05

    No mbito do projeto UNESCO, os trabalhos de Florestan Fernandes mostraram que:

    a) as desigualdades sociais estavam correlacionadas questo racial.

    b) a democracia racial era, de fato, comprovvel.

    c) a questo racial no era relevante para pensar as desigualdades sociais.

    d) os ndios tinham os maiores salrios do pas.

    e) o racismo era explcito no Brasil.

    QUESTO 06

    Do ponto de vista poltico, a abordagem de Gilberto Freyre sobre a formao nacional teve como

    consequncia:

    I. A difuso da ideia de uma identidade nacional coesa.

    II. Fundamentar as divises polticas do pas com base no critrio racial.

    III. Uma nova autoimagem nacional fundada na mestiagem.

    IV. O fortalecimento do sentimento de pertencimento nacional.V. A validao da segregao racial estabelecida ocialmente pelo governo.

    Esto corretas:

    I. I e III.

    II. I, III e IV.

    III. III, IV e V.

    IV. I, II, III e IV.

    V. Todas esto corretas.

    QUESTO 07

    Observe o grco abaixo sobre rendimento, de acordo com o nvel de escolaridade, em Salvador

    e assinale a alternativa correta:

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    a) O rendimento de negros e no-negros igual independentemente do nvel de escolaridade.

    b) Com nveis de escolaridade iguais, negros e no-negros tm idnticos rendimentos.

    c) No-negros tm rendimentos maiores que os dos negros com o mesmo nvel de escolaridade.

    d) O nvel de escolaridade no altera os rendimentos.

    e) Quanto menor a escolaridade, maior os rendimentos mdios por hora.

    Saiba Mais

    Seguem algumas dicas que podem auxiliar voc a aprofundar as temticas tratadas!

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    Dicas de Livros

    Gilberto Freyre e os grandes desaos do sculo XXAutor: Manuel Correia de Andrade.

    Editora: Vozes

    Um ensaio em que o autor procura examinar a posio do socilogo pernambu-

    cano frente a uma srie de temas polmicos que foram formulados e discutidos

    no sculo XX, quando os estudiosos do Brasil procuravam caracterizar a identi-

    dade, ou as identidades do pas.

    A inveno das raas

    Autor: Guido Barbujani

    Editora: Contexto

    Barbujani, um dos mais importantes geneticistas contemporneos, argumenta

    nesta obra que o conceito de raa uma construo social, no um dado bio-

    lgico. O livro demonstra que h uma nica raa humana. O autor sai a campo

    para demonstrar que, embora discriminar as pessoas por conta da cor da pele,

    da lngua, da religio ou at do passaporte tenha se tornado um hbito neste mundo globalizado,

    isso no tem nenhuma base cientca.

    Racismo e discurso na Amrica Latina

    Autor: Teun Dijk

    Editora: Contexto

    O discurso racista embutido e disfarado na prtica social brasileira e de outrospases do nosso continente o tema central desta obra. Camuado por eufe-

    mismos sutis, o termo racismo considerado inapropriado por aqueles que

    procuram escond-lo sob o fenmeno da desigualdade social.

    O que pode ser observado atualmente que o racismo existe e muito de seus preconceitos e ide-

    ologias subjacentes so adquiridos, conrmados e exercidos pelo discurso. Em um momento em

    que se discute a incorporao de parcelas importantes da populao por meio da escola, torna-se

    essencial decodicar as barreiras que dicultam essa incluso.

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    Racismo e antirracismo no Brasil

    Autor:Antonio Srgio Alfredo Guimares

    Editora: 34Partindo da ideia de que as normas e leis deste pas tm sido baseadas em

    uma suposta igualdade entre indivduos a qual, na verdade, nunca existiu -

    o autor procura analisar os desaos da sociologia brasileira diante dos con-

    ceitos de racismo e antirracismo, como, por exemplo, na questo da discrimi-

    nao positiva.

    Guerra e Paz. Casa-Grande e Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos

    anos 30

    Autor: Ricardo Benzaquen de Arajo

    Editora: 34

    O livro se dedica analise de Casa - Grande e Senzala de Gilberto Freyre.

    Guerra e Paz discute tambm, de forma complementar, outros textos publi-

    cados pelo autor na dcada de 30.

    Casa-Grande e Senzala

    Autor: Gilberto Freyre

    Editora: Global

    Publicado originalmente em dezembro de 1933, Casa-Grande & Senzala

    teve enorme repercusso junto ao pblico. uma obra indispensvel para a

    compreenso da identidade do Brasil moderno.

    Dicas de Filmes

    Casa-Grande & Senzala.

    Direo: Nelson Pereira dos Santos, 2000.

    Documentrio sobre a obra Casa Grande & Senzala de Gilberto Freyre dividi-

    do em quatro episdios: Gilberto Freyre, o Cabral moderno; A cunh, me da famlia brasileira; O

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    portugus, colonizador dos trpicos; e O escravo negro na vida sexual e da famlia do brasileiro.

    A negao do BrasilDireo: Joel Zito Arajo, 2000.

    O documentrio uma viagem na histria da telenovela no Brasil e particularmen-

    te uma anlise do papel nelas atribudo aos atores negros, que sempre represen-

    tam personagens mais estereotipados e negativos. Baseado em suas memrias e

    em fortes evidncias de pesquisas, o diretor aponta as inuncias das telenovelas nos processos

    de identidade tnica dos afro-brasileiros e faz um manifesto pela incorporao positiva do negro

    nas imagens televisivas do pas.

    Quando o crioulo dana.

    Direo: Dilma Los, 1989.

    O lme mescla imagens de movimentos negros e protestos no Brasil

    com pequenos trechos ccionais. Estas lacunas ccionais na evo-

    luo do lme servem como uma analogia com a gura do negro

    no Brasil. O objetivo do lme mostrar, atravs de imagens de arquivo e dramatizao, as vrias

    formas de racismo presentes na sociedade brasileira.

    Dicas de Site

    Biblioteca Virtual Gilberto Freyre

    Portal que rene dados sobre a vida e obra do autor, anlises e crticas feitas sobre sua obra,

    documentos pessoais, fotos e vdeos. Disponvel em: .

    Acesso em: 10 dez. 2012.

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    Aula-tema 02: As denies tnico-raciais e as polticas de ao armativa

    Texto e Contexto

    Nesta segunda aula sobre o debate tnico-racial, discutiremos um vis do tema que tem

    causado muita polmica e sido intensamente debatido pela sociedade brasileira nos ltimos anos, a

    saber: as polticas de ao armativa. Iniciaremos essa discusso trazendo alguns elementos para

    pensar a complexa denio de raa, core grupo tnico.

    Na ltima aula, vimos que, no Brasil, as diferenas de raa ou corse traduzem, muitas

    vezes, em desigualdades sociais. Desse modo, as polticas de ao armativa implementadas pelo

    governo ou pelas empresas tm o objetivo de promover condies de acesso a oportunidades de

    ensino e de trabalho mais igualitrias para todos. A inteno dessas polticas de que, depois de

    um determinado perodo de sua aplicao, as desigualdades sociais e raciais histricas sejam

    eliminadas. As aes armativas podem ter por base tanto critrios raciais como tambm sociais, de

    gnero, de orientao sexual ou decincia fsica. A grande polmica atual diz respeito, contudo,

    implantao de cotas raciais. Nesta aula, apresentaremos a fundamentao terica dessa discusso

    e as opinies que tm sido expressas nos debates pblicos, esperando, desse modo, enriquecer

    sua reexo sobre o tema.

    Raa, core grupo tnico

    Quando se pensa na implementao de polticas de ao armativa baseadas em critrios

    raciais, um dos primeiros problemas enfrentados estabelecer como raa, corou grupo tnicoso denidos. Voc j deve ter ouvido algum dizer que, no Brasil, o preconceito no de origem,

    como nos Estados Unidos, mas de corou marca. Essa ideia no nova. Na dcada de 1950, o

    antroplogo brasileiro Oracy Nogueira desenvolveu o tema no artigo preconceito racial de marca

    e preconceito racial de origem. Ele armava que, nos Estados Unidos, a discriminao se dava

    com base em argumentos biolgicos. Isto , uma pessoa considerada negra porque descende de

    uma famlia negra. No Brasil, ao contrrio, a denio de uma pessoa como negra relaciona-se

    sua aparncia, principalmente a caractersticas fenotpicas, tais como o formato do nariz, o tipo de

    cabelo e a corda pele. Assim, quanto mais a pessoa se aproxima da branquitude, menos associada

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    ela raa negra e, por isso, tambm menos discriminada.

    O preconceito de marca ou de cor, ento, baseado na aparncia das pessoas, enquanto opreconceito de origem se fundamenta na ideia de sangue. Essa diferena teria levado a constituies

    bastante distintas do debate racialno Brasil e nos Estados Unidos. Oracy Nogueira destacava

    que, nos Estados Unidos, havia uma diviso binria entre negros e brancos, cada um com uma

    conscincia prpria e uma solidariedade dentro desses grupos raciais. No Brasil, de modo distinto,

    os indivduos se deniam por meio de um amplo espectro relacionado aparncia raciale as

    reaes ao preconceito tendiam a ser individuais. O antroplogo destacava ainda que, no pas,

    outros elementos atuariam nessa classicao, como a questo de classe. Por exemplo, o mesmo

    sujeito poderia ser denido como branco ou como mulato mais claro ou maisescuro de acordo com

    sua situao de classe. Assim,quanto maior o grau de instruo e a condio econmica de um

    indivduo, de acordo com Oracy Nogueira, mais ele se aproximaria da branquitude,nesse amplo

    espectro de cor.

    Esse modo especco pelo qual os brasileiros denem a prpria corou raa caria patente

    na Pesquisa por Amostra Nacional de Domiclios, a PNAD, de 1976. Ao contrrio do Censo, em

    que a corse restringe a preto, branco, amarelo, pardo e indgena, naquela PNAD foi solicitadoque os entrevistados descrevessem sua corou raa em seus prprios termos. O resultado foi

    surpreendente. Os brasileiros se classicariam em 136 cores diferentes, que incluam, alm das

    categorias censitrias, as cores: acastanhada, azul-marinho, bem branca, queimada-de-sol, verde,

    loira, caf, branquinha, chocolate, turva, trigo, roxa, mestia, branca-sardenta, sarar, puxa-pra-

    branca, cobre, galega, morena entre muitas outras. A pesquisa conrmava o que Oracy Nogueira

    havia descrito a respeito da raa no Brasil como uma questo de marca mais do que de origem.

    Depois de Oracy Nogueira, muitos cientistas sociais estudaram a denio tnico-raciale,

    at hoje, essa questo fundamental para se compreender as relaes raciais no Brasil e o debate

    que perpassa as polticas armativas. Outras pesquisas sociolgicas mostrariam que a denio

    racialpode ser contextual, isto , dependente da posio social dos envolvidos, de onde, por quem

    e para quem a raa ou corso denidas. No trecho a seguir, a antroploga Lilia Schwarcz d alguns

    exemplos interessantes a esse respeito:

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    Ficou famoso o caso de uma professora de losoa da USP que, respondendo ao

    censo, disse que sua cor era negra. Foi, ento, prontamente contrariada pelo seuentrevistador, que reagiu: - ora, muito bem a senhora professora universitria oumuito bem negra. Os dois juntos... no pode ser! Dizem que no Brasil a riquezaembranquece, assim como o poder e a ascenso na hierarquia social. Essa histriaseria muito repetida, com os inmeros casos de polticos branqueados em suasfotos, vestes e atos; jogadores de futebol, que se entendem mais claros conformesobem nos holofotes, ou meros populares. Ronaldinho, conhecido jogador defutebol, quando indagado sobre sua cor reagiu: Quero crer que sou negro. E logoseu pai brincou com o titubeio do lho com a expresso: - Larga de ser besta,Ronaldinho.

    (SCHWARCZ, 2012, p. 49)

    Como vimos na aula anterior, o uso da terminologia negro na denio da prpria corou raa

    cresceu com a atuao do movimento que reivindicava uma unidade identitria e um fortalecimento

    da autoestima. No Censo de 2010, essa tendncia foi consolidada. Os pesquisadores perceberam

    um aumento no nmero de entrevistados que se autodeclararam como negros (ou melhor,pretos e

    pardos, conforme a terminologia do IBGE). A cada novo censo, o IBGE tem vericado um aumento

    na porcentagem de negros, o que demonstra a valorizao dessa classicao tnico-racial. Alguns

    movimentos sociais passaram tambm a usar o termo afrodescendente, que remete mais questo

    da origem do que marca ou core se aproxima da denio racialtal qual praticada nos Estados

    Unidos, onde as classicaes intermedirias, como mulato ou mestio, no so usadas.

    Os estudos da gentica demonstram, atualmente, que, do ponto de vista biolgico, o conceito

    de raa no aplicvel aos humanos. Da perspectiva scio-antropolgica, contudo, a questo racial

    no se refere a uma realidade biolgica, mas a uma construo histrica que tende a naturalizaras diferenas sociais, produzindo consequncias importantes, como o racismo. As classicaes

    tnico-raciais no so feitas, desse modo, com base em diferenas biolgicas intrnsecas, mas

    podem ter um fundamento poltico e ideolgico. Assim, o modo como as pessoas se autoclassicam

    num grupo tnico-racial(ou mesmo a recusa a essa classicao) representa, muitas vezes, um

    modo de se posicionar politicamente.

    Em um trecho do documentrio Caf com leite (gua e azeite?), de Guiomar Ramos, voc

    acompanha algumas opinies que falam da importncia da autoclassicao tnico-racialcomo um

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    posicionamento poltico cotidiano Assista!

    Quando nos remetemos ao debate tnico-racial, a associaomais frequente a relao entre brancos e negros. A questo indgena

    , contudo, fundamental no Brasil. Desse modo, antes de avanarmos

    para as polticas de cotas, vamos conhecer um pouco mais sobre a

    questo indgena.

    A questo dos ndios e a deniode grupo tnico

    De modo semelhante ao que vm ocorrendo em relao s polticas de cotas para negros, as

    discusses sobre demarcao de terras indgenas estiveram tambm pautadas na questo de se

    denir quem ndio no Brasil. No senso comum est frequentemente presente a ideia de que ndio

    uma categoria tnico-racialpura. Isto , os grupos tnicos indgenas seriam os descendentes

    diretos das populaes pr-colombianas, que para serem denidos como ndios deveriam apresentar

    um modo de vida e uma cultura tradicional. Contudo, nenhum grupo humano se reproduz sem

    nenhum tipo de miscigenao.

    Na histria do Brasil, a miscigenao de ndios e portugueses foi, em determinados perodos,

    at mesmo estimulada pelas administraes coloniais. Ao mesmo tempo, alguns elementos culturais,

    como a lngua, a vestimenta ou a religio, tambm sofreram intervenes externas. Do ponto de

    vista antropolgico, contudo, no h cultura esttica. Por exemplo, nenhum de ns fala, age ou se

    veste de modo idntico aos nossos antepassados de quinhentos anos atrs. Ento, como denir

    quem ndio no Brasil?

    Atualmente, o critrio mais bem aceito pelos antroplogos se remete denio de grupo

    tnico, que seria uma forma de organizao social em que os prprios membros reconhecem-se

    mutuamente como parte daquele grupo. Isto , ao invs de se denir um determinado grupo como

    indgena por meio dos traos culturais que ele exibe, d-se prioridade autodenio dos membros

    desse grupo. Desse modo, ndio que aquele se considera como tal e assim visto pelo seu grupo

    bem como pela sociedade que o circunda.

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    A identidade tnica , assim, construda

    quando as diferenas se tornam

    conscientes, podendo ser acionada parademarcar o grupo e para as lutas por

    direitos. Nessa direo, vale lembrarmos

    que, de modo semelhante, a categoria

    negro foi reivindicada pelo movimento

    negro visando autoconscincia de

    grupo. Embora a questo indgena seja

    um vis muito particular desse debate,

    ela traz um elemento fundamental ao

    enfatizar a importncia da autodenio

    e da autoatribuio tnico-racial, uma

    questo que ser essencial na discusso

    das polticas de ao armativa.

    As cotas raciais

    Conforme vimos ao longo destas duas aulas, um dos problemas ao tratarmos das cotas

    raciais denir quem tm direito a elas. Essa questo est relacionada prpria constituio do

    debate tnico-racialno Brasil e ao modo como, ao longo da histria, as denies raciais usaram

    aspectos mais uidos e descritivos, que se remetiam mais cordo que a divises categricas das

    pessoas em grupos raciais bem denidos.

    O debate em torno do uso do conceito de raa nas polticas armativas tem se constitudo

    como um campo de disputas. Muitos dos que se posicionam contra as polticas de cotas argumentam

    que para esse sistema existir necessrio um posicionamento racialno qual as pessoas, querendo

    ou no, seriam obrigadas a escolher um grupo de corou raa, o que levaria a uma diviso mais

    radical da sociedade. Aqueles que argumentam em favor das cotas, consideram-nas, contudo,

    uma medida emergencial, de carter transitrio e reparador, que visa a equalizar as condies de

    acesso educao, trabalho e renda, que so, ainda, muito desiguais.

    Nos ltimos anos, algumas universidades instituram o sistema de cotas raciais e os debates

    sobre o tema foram muito intensos e polmicos. A poltica de cotas instituda pela Universidade de

    Braslia (UnB), em 2004, estava entre essas iniciativas que estiveram no centro dos holofotes. Umadas crticas mais veementes feitas naquela ocasio dirigia-se ao fato de a Universidade no ter por

    No bojo do debate sobre a questo indgena,

    h tambm uma importante discusso sobre

    meio-ambiente e sustentabilidade. No vdeo a

    seguir, pode voc conhecer um pouco mais sobre

    a importncia dos conhecimentos tradicionais

    indgenas para a

    sustentabilidade

    do planeta.

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    critrio nico a autoatribuio tnico-racial.Ao contrrio, os candidatos tinham tambm que passar

    por uma banca de peritos, cuja funo era aprovar ou no a declarao racialcom base na anlise de

    uma fotograa. Segundo a Universidade, o mecanismo visava a evitar fraudes. Em 2007, a polmica

    foi, ainda, alimentada quando a banca decidiu de modo distinto em relao a dois irmos, gmeos

    idnticos. Enquanto um havia sido aprovado como candidato cota, o outro havia sido reprovado.

    A banca de peritos, instituda pela UnB, que chegou a ser denominada nos debates pblicos como

    um tribunal racial, foi intensamente criticada, uma vez que a maior parte das polticas armativas

    so baseadas em autodeclarao,

    no em avaliaes externas sobre a

    denio tnico-racial.

    Atualmente, o governo federal props

    um sistema misto de cotas, que

    mistura critrios sociais e raciais

    para o ingresso nas universidades

    federais de todo pas. A lei, lanada

    em 2012, prope uma implantao

    gradativa dessa poltica at que 50%

    das vagas sejam destinadas a alunos

    provenientes de escolas pblicas.Dentro destes 50%, uma parcela ser

    destinada aos de menor renda e outra

    porcentagem direcionada, ainda, a

    p r e t o s ,

    pardos e

    indgenas.O critrio para a denio racial apenas o da autoatribuio

    e o programa proposto dever ser revisto depois de dez anos de sua

    aplicao. Um vdeo foi veiculado pelo Ministrio da Educao, na

    poca da promulgao da lei, explicando melhor seu funcionamento.

    Anlise esse material!

    O debate sobre o tema est longe de atingir um consenso. Conhec-lo , contudo, fundamental

    para uma anlise mais profunda sobre as polticas pblicas baseadas em critrios tnico-raciais. Ao

    longo dessas duas aulas, buscamos oferecer os elementos histricos do debate scio-antropolgico,

    que fundamenta essa discusso, esperando, desse modo, enriquecer sua reexo sobre a questotnico-racial, to complexa quanto fundamental para a sociedade brasileira.

    No trecho do documentrio Raa Humana, dirigido

    por Dulce Queiroz, voc pode acompanhar parte

    da polmica e do debate, ainda em curso, sobre as

    cotas raciais. Tendo por pano de fundo a votao

    do Estatuto da Igualdade Racial no Congresso

    Nacional e o julgamento da constitucionalidade

    das cotas no Supremo Tribunal Federal, o

    d o c u m e n t r i o

    acompanha a

    implantao das cotasna UnB.

    Para saber mais:

    Assista o vdeo.

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    Conceitos Fundamentais

    Cotas. As cotas so uma das formas de aplicao das polticas de ao armativa que funcionampor meio da reserva de uma porcentagem das vagas para determinados grupos sociais em univer-

    sidades, empresas, rgos pblicos ou mesmo em campanhas publicitrias.

    Polticas de ao armativa. Por meio do tratamento diferenciado para determinados grupos so-

    ciais (cujo recorte pode ser de raa, gnero, orientao sexual, condio socioeconmica ou deci-

    ncia fsica), essas polticas visam a compensar as desvantagens e o preconceito histrico sofrido

    por esses grupos, com a expectativa de que, depois de um determinado perodo de sua aplicao,as condies de acesso a oportunidades de ensino ou trabalho sejam mais igualitrias. Elas podem

    ser aplicadas por meio das cotas, dos grupos de conscincia e atravs de outras medidas de inclu-

    so, tais como a implantao, em empresas, de programas que invistam na formao e promoo

    de determinados grupos sociais.

    Preconceito racial de marca ou cor. Expresso usada para denir o preconceito racial baseado

    em caractersticas fenotpicas, como, por exemplo, cor da pele, formato do nariz, tipo de cabelo.

    Preconceito racial de origem. Expresso usada para denir o preconceito que se fundamenta na

    ideia de sangue ou ascendncia, independentemente das caractersticas fenotpicas. Por exemplo,

    este tipo de preconceito pode ser direcionado tanto a pessoas de pele escura como a pessoas de

    pele clara que tenham ascendentes (como pais, avs, bisavs) negros.

    Populaes pr-colombianas. Refere-se, de um modo genrico, aos povos nativos das Amricas

    antes da chegada de Cristovo Colombo.

    Referncias

    GOMES, Mrcio Pereira. Antropologia. Cincia do homem. Filosofa da cultura. So Paulo: Contexto, 2010.

    NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem - sugesto de um quadro de referncia para a interpretao do material sobrerelaes raciais no Brasil. Tempo social. Vol. 19, n. 1, 2007 [1955], p. 287-308. Disponvel em: e, tambm,em: . Acessos em: 10 dez. 2012.

    SCHWARCZ, Lilia Moritz. Do preto, do branco e do amarelo: sobre o mito nacional de um Brasil (bem) mestiado. Cincia e Cultura. So Paulo, v. 64, n. 1,2012, p. 48-55. Disponvel em: e, tambm, em: . Acessos em: 10 dez. 2012.

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    Web Aula

    Atividade de Autodesenvolvimento

    Esta atividade tem como objetivo proporcionar a voc uma reexo sobre as autoatribuies

    tnico-raciais.

    Passo1:Assista ao trecho do documentrio Preto contra branco, dirigido por Wagner Morales sobre

    uma clssica partida de futebol de vrzea realizada anualmente, desde 1972, na periferia de So

    Paulo. Disponvel em: .

    Acesso em: 10 dez. 2012

    Passo 2: Tendo em vista os materiais da aula e o vdeo assistido, discuta as autoatribuies tnico-

    raciais vistas no vdeo recuperando a discusso de Oracy Nogueira sobre a distino entre marca

    e origem racial.

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    Questes para Acompanhamento da Aprendizagem

    QUESTO 01

    De acordo com o antroplogo Oracy Nogueira:

    a) no Brasil, o preconceito racial , principalmente, baseado na origem dos indivduos.

    b) o preconceito de origem se fundamenta apenas nas caractersticas fenotpicas de um indivduo.

    c) no Brasil, o preconceito racial , principalmente, de marca ou de cor.

    d) nos Estados Unidos, o preconceito racial , principalmente, baseado na aparncia dos indivduos.

    e) os Estados Unidos so um exemplo de democracia racial

    QUESTO 02

    Tendo em vista os materiais da aula, analise a charge abaixo, do cartunista Maurcio Pestana:

    A charge representa uma opinio segundo a qual:

    a) no Brasil, no h desigualdades sociais.

    b) as cotas tm o propsito de promover condies mais igualitrias de acesso universidade a

    grupos sociais desfavorecidos.

    c) os alunos cotistas no estudam nem trabalham.

    d) no Brasil, vigora uma democracia racial.

    e) os alunos cotistas no enfrentam nenhuma diculdade para chegar universidade.

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    QUESTO 03

    De acordo com as diferenciaes propostas, na dcada de 1950, por Oracy Nogueira acerca das

    diferenas entre o racismo praticado no Brasil e nos Estados Unidos, podemos dizer que:

    I. Nos Estados Unidos o preconceito racial baseado na origem e, no Brasil, na marca ou cor dos

    indivduos.

    II. No Brasil, a denio racial , frequentemente, feita de modo descritivo por meio de um amplo

    espectro de cores.

    III. Nos Estados Unidos, a discriminao se d com base em argumentos biolgicos.

    IV. Nos Estados Unidos nunca houve preconceito racial contra negros.

    V. No Brasil, a condio social de um indivduo inui no modo como ele racialmente denido.

    Esto corretas as armaes:

    a) IV.

    b) II e IV.

    c) II, IV e V.

    d) I, II, III e V.

    e) Todas esto corretas.

    QUESTO 04

    De acordo com a denio antropolgica de grupo tnico, correto dizer:

    a) os ndios brasileiros no so uma categoria tnica legtima.

    b) a autoatribuio tnica um elemento fundamental para se denir um grupo tnico.

    c) para ser reconhecido como parte de um grupo tnico indgena, um indivduo deve apresentar um

    modo de vida igual ao das populaes pr-colombianas.

    d) um grupo tnico denido apenas pelo conjunto de traos culturais que ele exibe.e) os ndios que apresentam um modo de vida ocidentalizado no podem ser denidos como um

    grupo tnico indgena.

    QUESTO 05

    TRECHO 1

    O que salta aos olhos de qualquer observador mais atento ao que se passa

    no mundo que as cotas raciais vieram para refazer o nosso sistema de

    classicao racial. Como instituir cotas raciais sem antes classicar

    rigidamente aqueles que tm direito e os que no tm? Todos os pases que

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    implantaram essa poltica ou j possuam um sistema rgido de classicao

    racial ou tiveram que cri-lo.

    (MAGGIE, Yvonne. Polticas de cotas e o vestibular da UnB ou a marca que

    cria sociedades divididas. Horizontes Antropolgicos, vol. 11, no 23, Jun.

    2005, p. 288).

    TRECHO 2

    Desde 1996 me posicionei a favor de aes armativas para negros na

    sociedade brasileira. Vieram as cotas e as apoiei, como continuo fazendo,

    porque acho que vo na direo certa incluir socialmente os setores menos

    competitivos embora saiba que o problema muito maior e mais amplo.

    (Antonio Sergio Guimares em entrevista ao Boletim de Ao Educativa,

    em 18/09/2007. Disponvel em: . Acesso em 12/11/2012).

    Tendo como base os dois trechos acima, analise as armaes:

    I. O trecho 1 exemplica um dos argumentos dos que so contrrios s cotas, ao assinalar que para

    elas existirem necessrio classicar racialmente a populao, o que poderia levar a uma diviso

    da sociedade.

    II. O trecho 2 demonstra o argumento daqueles que so favorveis s cotas raciais, assinalando

    que elas so uma forma de diminuir as desigualdades sociais.

    III. O trecho 1 traz discusso um dos problemas que tm sido levantados com as polticas de cotas

    de raciais, que diz respeito classicao racial.

    IV. Os dois trechos discutem elementos importantes do polmico debate sobre cotas, sendo que

    o primeiro trecho se concentra nos problemas de sua aplicao e o segundo em seus benefcios.

    V. O primeiro trecho claramente favorvel aplicao das cotas raciais, enquanto o segundo tre-cho claramente contrrio.

    Esto corretas as armaes:

    a) V, apenas.

    b) III e V.

    c) I, IV e V.

    d) I, II, III e IV.e) Todas esto corretas.

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    ofcina

    QUESTO 06

    Tendo em vista o contedo estudado, analise o trecho abaixo, parte da letra da msica Razes

    (Toaster Roots 2), de Rappin Hood:

    De um jeito diferente, eu vou chegando razes (razes)

    o que estou cantando...

    frica (frica) de onde viemos construmos o

    brasil(il), que hoje temos

    Gratido(o)... certamente no existe... nem por isso

    irmo, eu vou car triste

    Sou negro(o)... e j falei a vocs vamos nos

    unir(ir), pois essa nossa vez de mostrar

    nossa capacidade, inteligncia, falar a verdade..

    Na jamaia (jamaica) vemos a unio... dos pretos lutando

    todos num s corao e

    mesmo na misria... a alegria, que encantam o seu

    rapper noite e dia.

    Ela representa um ponto de vista segundo o qual:

    a) s havia negros no Brasil durante o perodo em que vigorou a escravido.

    b) o fortalecimento da autoestima tnico-racial dos negros importante para a mobilizao por

    direitos.

    c) o Brasil vive numa democracia racial desde o Perodo Colonial.

    d) a autoatribuio da categoria negro levaria diviso social.

    e) os negros deveriam usar categorias de autoatribuiao nitco-raciais mais claras.

    QUESTO 07

    Em 2004, a Universidade de Braslia implementou um sistema de cotas raciais. Os candidatos

    que desejassem se inscrever por meio das cotas deviam se autodeclarar como negros e tirar uma

    fotograa que seria submetida anlise de um comit cuja funo era garantir a veracidade da

    declarao. Os dois trechos abaixo so comentrios de cientistas sociais sobre a controvrsia que

    esse mtodo de seleo gerou:

    Eu, muito a favor destas medidas de ao armativa, proponho que elas

    funcionem na base da autodeclarao sabendo que haver algum abuso,mas que a presso moral para que as pessoas no se digam negras sabendo

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    de no s-lo funcionar como um eciente desincentivo. Isso dito, me preocupa

    o tom deste nosso debate, quase sempre solicitado por quem contrrio s

    quotas, no sentido de descartar a ao armativa em si, em lugar de propor

    justas melhoras ou outras formas de combater as desigualdades.

    (SANSONE, Lvio. O beb e a gua do banho - a ao armativa continua

    importante, no obstante os erros da UnB! Horizontes Antropolgicos, vol. 11,

    n. 23, 2005, p. 252).

    Na luta antirracista, em que se considera raa como uma construo social

    e como um instrumento de libertao da opresso racial, sob o aval da ao

    estatal, corre-se o perigo de se enveredar pela construo de categorias

    essencializadas, xas, prprias ao poder normativo das leis, aos desgnios

    das polticas pblicas.

    (MAIO, Marcos Chor e SANTOS, Ricardo Ventura. Poltica de cotas raciais,

    os olhos da sociedade e os usos da antropologia: o caso do vestibular da

    Universidade de Braslia (UnB). Horizontes Antropolgicos, vol. 11, n. 23,

    2005, p. 207).

    Tendo em vista os trechos acima e o contedo estudado, analise as armaes:

    I. O primeiro trecho ressalta uma postura segundo a qual as cotas so uma ao poltica importante

    apesar dos problemas em se denir quem tm direito a elas.

    II. Os dois trechos discutem a poltica de cotas, mas enquanto o primeiro favorvel a elas, o

    segundo apresenta os problemas que as acompanham.

    III. O segundo trecho ressalta uma postura segundo a qual um dos problemas da implementao

    das polticas de cotas a essencializao da categoria raa.IV. O primeiro trecho ressalta uma postura segundo a qual as cotas raciais constituem uma poltica

    inadequada por acionarem a categoria raa.

    V. O segundo trecho mostra uma posio que salienta os problemas em se combater o racismo

    usando a categoria raa.

    Esto corretas:

    a) IV, apenas.

    b) III e IV.

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    c) III, IV e V.

    d) I, II, III e V.

    e) Todas esto corretas.

    Saiba Mais

    Seguem algumas dicas que podem auxiliar voc a aprofundar as temticas tratadas!

    Dicas de Livros

    Aes armativas. Promoo da cidadania empresarial

    Autora: Simone Aparecida Barbosa Mastrantonio

    Editora: Juru

    A presente obra versa sobre a ao armativa como forma de promover a

    cidadania no mbito empresarial. O objetivo do estudo analisar as possi-

    bilidades de incluso de grupos vulnerveis existentes na sociedade, por

    meio da implementao de polticas de discriminao positiva que promova

    o acesso ao emprego, garantindo cidadania aos indivduos marginalizados

    e exaltando os direitos humanos e os direitos fundamentais. O trabalho avalia os indicadores de

    sustentabilidade e as medidas positivas que vm sendo utilizadas pelas empresas, bem como a va-

    lorizao da diversidade no ambiente de trabalho. Trata, tambm, da tutela inibitria como medida

    de proteo prtica de condutas discriminatrias, avaliando a postura tica empresarial inclusiva

    que, de modo efetivo, atenda aos anseios da sociedade moderna.

    A discriminao negativaAutor: Robert Castel

    Editora: Vozes.

    A obra analisa os mecanismos de discriminao negativa dos jovens com

    origem imigrante residentes nos subrbios franceses. A discriminao ne-

    gativa no consiste somente em dar mais queles que tm menos; ela, ao

    contrrio, marca seu portador com um defeito quase indelvel. Ser discrimi-

    nado negativamente signica ser associado a um destino embasado numa

    caracterstica que no se escolhe, mas que os outros nos incutem como uma espcie de estigma.

    A discriminao negativa a instrumentalizao da alteridade, constituda em fator de excluso.

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    Criminologia e racismo

    Autor: Evandro Charles Piza Duarte

    Editora: JuruNo livro Criminologia & Racismo, o autor, aponta a marca racial dos ex-

    cludos como estratgia de nosso controle social e denunciando o discurso

    cientco que sustentou o racismo no Brasil. um desao para os juristas

    que tentam superar a criminologia tradicional e os limites do discurso liberal.

    Dicas de Filmes

    Raa humana

    Direo: Dulce Queiroz, 1998.

    Documentrio produzido pela TV Cmara. Durante trs meses, a equipe

    que trabalhou no documentrio acompanhou a rotina de uma das maio-

    res universidades do pas: a Universidade de Braslia-UnB, que adotou o

    sistema de reserva de vagas com recorte racial. No documentrio, alunos cotistas e no-cotistas,professores, movimentos organizados, partidos polticos e representantes da instituio falam aber-

    tamente sobre as cotas raciais, seja defendendo ou condenando o sistema. Ao mesmo tempo, o

    documentrio mostra aes externas universidade que permeiam ou inuenciam a discusso,

    como a votao do Estatuto da Igualdade Racial, na poca em tramitao no Congresso - tambm

    cercada de muita polmica, protestos e impasses. Disponvel em: . Acesso em 01/12/2012.

    Preto contra branco

    Direo: Wagner Morales, 2004.

    Uma tradio de trs dcadas o ponto de partida do documentrio Preto con-

    tra Branco. O lme discute o preconceito racial no Brasil, usando como refern-

    cia um clssico do futebol de vrzea entre moradores de dois bairros perifri-

    cos de So Paulo. Desde 1972, um grupo de moradores do bairro de So Joo

    Clmaco e de Helipolis, maior favela da Amrica Latina, organiza um jogo de futebol de brancos

    contra pretos no nal de semana que antecede o Natal. Em uma comunidade altamente miscigena-

    da, composta basicamente por mulatos, a peculiaridade da partida a autoatribuio da raa pelo

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    participante. Cada jogador se declara negro ou branco e escolhe seu time.

    A equipe do documentrio passou uma semana entrevistando personagens, acompanhando o

    dia-a-dia dos bairros, em um processo que culmina no jogo. Trata-se de um verdadeiro ritual, nosentido antropolgico, que serve para atenuar as tenses raciais locais ao mesmo tempo em que

    acaba por revel-las.

    Dicas de Sites

    Secretria de Promoo de Polticas de Igualdade Racial (SPPIR)

    Portal do governo federal da SPPIR. Rene informaes sobre as polticas pblicas que visam

    promover a igualdade racial.

    Disponvel em: . Acesso em: 11 dez. 2012.

    NEINB - Ncleo de apoio pesquisa em estudos Interdisciplinares sobre o negro brasileiro

    Site da Universidade de So Paulo que rene estudiosos, pesquisadores, docentes da USP e de

    outras instituies interessadas nas questes relacionadas ao segmento negro da sociedade brasi-

    leira. Disponibiliza, ainda, artigos e materiais didticos para download. Disponvel em: . Acesso em: 11 dez. 2012.

    Entrevistas na ntegra

    DURHAM, Eunice Ribeiro. Polticas armativas; cotas raciais. Entrevista concedida a Maiara Lima.

    Produo Regina Martins. So Paulo: Anhanguera, 2013. (Clique Aqui)

    MACEDO, Antnio Roberto. Percepes sobre o racismo. Entrevista concedida a Maiara Lima.

    Produo Regina Martins. So Paulo: Anhanguera, 2013. (Clique Aqui)

    MONTEIRO, John Manuel. Debate tnico-racial: questes indgenas. Entrevista concedida a Maia-

    ra Lima. Produo Regina Martins. So Paulo: Anhanguera, 2013. (Clique Aqui)

    MUNANGA, Kabengele. Polticas armativas; cotas raciais. Entrevista concedida a Luciana Corra.

    Produo a Luciana Corra. So Paulo: Anhanguera, 2013. (Clique Aqui)

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    OLIVEIRA, Emanuela. Oracy Nogueira e as denies de preconceito racial de marca e de origem.

    Entrevista concedida a Maiara Lima. Produo Regina Martins. So Paulo: Anhanguera, 2013.

    (Clique Aqui)

    TUNA, Gustavo Henrique. Gilberto Freyre e a sua obra Casa Grande & Senzala. Entrevista conce-

    dida a Maiara Lima. Produo Regina Martins. So Paulo: Anhanguera, 2013. (Clique Aqui)

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    Indicativos para Gabarito das Atividades de Autodesenvolvimento

    Aula-tema 01: A miscigenao tnico-racial e sua inuncia na construo social do Brasil

    Elementos que devem ser mencionados na resposta:

    As explicaes sobre a denio de democracia racial, que no senso comum est

    relacionada aparente inexistncia do racismo e noo de que o Brasil um parasoracial. Destacar, ainda, que a democracia racial um mito fundante da nao brasileira.

    Descrever os episdios de discriminao direta ou velada que os entrevistados relatam

    para exemplicar que a democracia racial apenas um mito.

    Discutir as opinies expressas pelos alunos da faculdade no nal do vdeo, que de-

    monstram como o preconceito racial negado pelos entrevistados.

    Aula-tema 02: As denies tnico-raciais e as polticas de ao armativa

    Pontos que devem ser ressaltados na resposta:

    Mencionar o modo como as pessoas se autodenem racialmente usando uma mirade

    de cores e de possibilidades descritivas, que nem sempre correspondem s classica-

    es do IBGE.

    A partir de Oracy Nogueira assinalar que, no Brasil, a raa , em geral, denida com

    base na marca ou cor dos indivduos. As caractersticas fenotpicas, como formato do

    nariz, tipo do cabelo ou cor da pele, so, assim, acionadas para denir a raa de um in-

    divduo. Apontar, ainda, que a denio racial contextualmente denida e que a classe

    social e o grau de instruo inuenciam tambm nessa denio, de modo que h um

    embranquecimento dos indivduos mais ricos e bem formados.

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    Mencionar a diferena na atribuio tnico-racial no Brasil e nos Estados Unidos a partir

    de Oracy Nogueira. Enquanto no Brasil, essa atribuio seria baseada em marca, nos

    Estados Unidos seria baseada em origem, ou seja, na descendncia das pessoas.

    Gabaritos e Feedbacks das

    Questes para Acompanhamento da Aprendizagem

    Aula-tema 01: A miscigenao tnico-racial e sua inuncia na construo social do Brasil

    QUESTO 01

    Resposta correta: I, II, IV e V.

    Comentrio: O texto da reportagem demonstra que a minoria dos brasileiros expressa abertamen-

    te que racista.

    QUESTO 02

    Resposta correta: entender a experincia brasileira de miscigenao e assimilao.

    Comentrio: O objetivo inicial do Projeto UNESCO era propor uma srie de pesquisas que ajudas-

    sem a entender a particularidade da experincia racial brasileira de miscigenao e assimilao.

    QUESTO 03

    Resposta Correta: existia preconceito e discriminao racial no Brasil.

    Comentrio: Os dados sistematizados pelas pesquisas encomendadas pelo Projeto UNESCO de-

    monstraram a existncia de preconceito e discriminao racial no Brasil.

    QUESTO 04

    Resposta Correta: situaes cotidianas em que os negros sofrem preconceito racial.Comentrio: O vdeo exemplica, por meio de depoimentos, as situaes sociais em que h pre-

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    conceito e discriminao racial.

    QUESTO 05Resposta correta: as desigualdades sociais estavam correlacionadas questo racial.

    Comentrio:As pesquisas de Florestan Fernandes mostravam que as diferenas raciais se tradu-

    ziam em desigualdades sociais.

    QUESTO 06

    Resposta correta: I, III e IV.

    Comentrio:As consequncias polticas da abordagem de Gilberto Freyre sobre a formao na-

    cional teve como consequncias: a difuso da ideia de uma identidade nacional coesa, uma nova

    autoimagem nacional fundada na mestiagem e o fortalecimento do sentimento de pertencimento

    nacional.

    QUESTO 07

    Resposta correta: No-negros tm rendimentos maiores que os dos negros com o mesmo nvel

    de escolaridade.

    Comentrio: O rendimento mdio por hora trabalhada maior entre no-negros em relao a ne-gros com o mesmo nvel de escolaridade.

    Aula-tema 02: As denies tnico-raciais e as polticas de ao armativa

    QUESTO 01

    Resposta correta: no Brasil, o preconceito racial , principalmente, de marca ou de cor.

    Comentrio: De acordo com Oracy Nogueira, no Brasil o preconceito racial principalmente de

    marca ou cor. Isto , o preconceito mais baseado na aparncia das pessoas do que na origem.

    QUESTO 02

    Resposta correta: as cotas tm o propsito de promover condies mais igualitrias de acesso

    universidade a grupos sociais desfavorecidos.

    Comentrio:A charge representa a postura de que as cotas tm por objetivo tornar mais igualit-

    rias as condies de acesso universidade.

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    QUESTO 03

    Resposta correta: I, II, III e V.

    Comentrio: Nos Estados Unidos havia, sim, preconceito racial, descrito por Oracy Nogueira comoum racismo baseado na origem dos indivduos.

    QUESTO 04

    Resposta Correta: a autoatribuio um elemento fundamental para se denir um grupo tnico.

    Comentrio: Pela denio antropolgica, grupo tnico uma forma de organizao social na qual

    a autoatribuio tnica um elemento central para sua denio.

    QUESTO 05

    Resposta Correta: I, II, III e IV.

    Comentrio: O primeiro trecho levanta os problemas relacionados aplicao das cotas raciais e

    o segundo trecho demonstra uma opinio favorvel a sua aplicao.

    QUESTO 06

    Resposta correta: o fortalecimento da autoestima tnico-racial dos negros importante para a

    mobilizao por direitos.Comentrio: O ponto de vista expresso na letra representa uma defesa de que o fortalecimento da

    autoestima tnico-racial dos negros importante para a mobilizao por direitos.

    QUESTO 07

    Resposta correta: I, II, III e V.

    Comentrio: O primeiro trecho favorvel s cotas e defende que elas sejam aplicadas por meio

    da autoatribuio racial.

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